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Música q.b.

AFICION. Vila Franca volta a viver a paixão pelos touros

Toiros regressam às ruas de Vila Franca para a festa do Colete Encarnado Apesar da crise a câmara não poupou na preparação do evento que atrai milhares de visitantes à cidade. A festa do Colete Encarnado vai voltar a animar as ruas de Vila Franca de Xira de 1 a 3 de Julho. Três largadas de toiros, uma garraiada e duas corridas integram o programa. Apesar da crise Vila Franca de Xira não se poupou na organização do evento que atrai todos os anos milhares de pessoas à cidade.

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s toiros regressam às ruas de Vila Franca de Xira para a festa do Colete Encarnado que decorre na cidade de 1 a 3 de Julho. A primeira espera de toiros, seguida de largada, está marcada para as 17h00 de sexta-feira, 1 de Julho. A Missa Rociera na Igreja Matriz de Vila Franca de Xira inicia-se às 20h30. Será presidida pelo Padre Ezequiel e contará com a participação do Coro Rociero “Amigos de Triana”. Segue-se a actuação dos fadistas de Vila Franca, na escadaria da Igreja. Sábado, 2 de Julho, às 10h00, tem lugar a concentração de campinos e deposição de uma coroa de flores no Monumento ao Campino, seguida de corridas de campinos, às 10h30, na Praça de Toiros Palha Blanco. A homenagem ao campino, no Largo da Câmara, que inclui desfile, está mar-

cada para as 16h00. Segue-se uma nova espera e largada de toiros às 18h30 nas ruas da cidade. A noite da sardinha assada começa às 22h30. Os postos públicos estarão distribuídos pela cidade. O caldo verde começa a ser distribuído às 3h30 da madrugada. No domingo a espera de toiros seguida de largada acontece às 10h30. Durante a manhã, a partir das 9h00, decorrerá a 6ª maratona de cycling do Colete Encarnado. No mesmo dia parte a IX Regata Vila Franca de Xira - Moita. Apesar do período de contenção económica a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira não fez grandes restrições na preparação da festa do Colete Encarnado, como garantiu a presidente da autarquia, Maria da Luz Rosinha, na apresentação

do programa da festa, que inclui ainda duas corridas de toiros e uma garraiada (ver texto ao lado). “O colete traz milhares e milhares de pessoas a Vila Franca. A festa brava é uma componente importante do desenvolvimento económico do país, sendo a seguir ao futebol o espectáculo mais visto”, relembrou a presidente. Maria da Luz Rosinha aproveitou ainda para referir que muitas vezes a imagem do toiro escolhido, o que é feito por pessoas entendidas na área, nem sempre corresponde ao comportamento que tem na arena. “Todos os artistas gostariam de ter toiros nobres. Os toiros têm boa imagem mas por vezes não correspondem ao que se espera”, admitiu.

A animação itinerante com “Acordeões Folearte”, às 11h00 de sexta-feira, 1 de Julho, no mercado municipal e no largo da câmara, abre o programa musical da festa do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira. Às 23h00 inicia-se o concerto com a Banda Lucky Duckies “Glamour e Nostalgia” na Avenida Pedro Victor. “Sonido Andaluz” vai ouvir-se no Largo da Misericórdia. Pela noite dentro actuam os “Sigma Jogral Band”. O concerto com a banda do Ateneu Artístico Vilafranquense está marcado para sábado, às 10h30, no largo da câmara. Às 11h45 sai à rua a animação itinerante com a bandinha “Amigos da Música” no mercado municipal e largo da câmara. A animação prossegue no palco do mártir santo, às 22h30, com fado, grupo musical “Melrinho Cantante” e “Quim Botas Trio Soft Band”. Às 23h30 há concerto com a banda “Baile Popular” na Avenida Pedro Victor e “Sevilhanas e Fado” no Largo da Misericórdia. A banda “Fúria do Açúcar” actua às 1h15, na Avenida Pedro Victor. No domingo, às 10h00, actua nas ruas a banda “Xirabrass”. A partir das 18h00 a tarde será dedicada ao folclore. Às 22h00 decorre o espectáculo de fado com “José Perdigão e outros Fados”. Para a meia noite de domingo está marcado o lançamento do fogo de artifício no rio Tejo.


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Nuno Casquinha é estrela da corrida mista de domingo Duas corridas de toiros e uma garraiada no Colete Encarnado

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novo matador de toiros de Vila Franca de Xira, Nuno Casquinha, que tirou a alternativa em Espanha a 29 de Maio deste ano, é uma das atracções da corrida de toiros de domingo, 3 de Julho, no âmbito da festa do Colete Encarnado. O espectáculo está marcado para as 18h00, na Praça de Toiros Palha Blanco, em Vila Franca de Xira. O cartel inclui ainda o matador de toiros José Ignacio Uceda Leal, o cavaleiro João Salgueiro e o cavaleiro praticante Salgueiro da Costa. As pegas estarão a cargo dos Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, liderados pelo cabo Ricardo Castelo. Os toiros são da ganadaria “Oliveira, Irmãos”. Para sexta-feira, 1 de Julho, às 22h15, está marcada a I Corrida de Toiros das Tertúlias com os cavaleiros António Telles, Rui Fernandes e Pedro Salvador. As pegas estarão a cargo dos amadores de Vila Franca e Coruche. Os toiros são da ganadaria de Vale Sorraia. O espectáculo terá transmissão televisiva. Na tradicional Garraiada da Sardinha

Para sexta-feira, 1 de Julho, às 22h15, está marcada a I Corrida de Toiros das Tertúlias com os cavaleiros António Telles, Rui Fernandes e Pedro Salvador. As pegas estarão a cargo dos amadores de Vila Franca e Coruche. Os toiros são da ganadaria de Vale Sorraia. O espectáculo terá transmissão televisiva. Assada marcada para as 2h00 de sábado (madrugada de domingo) actuam os cavaleiros José Carlos Portugal, Rubén Inácio, David Oliveira (cavaleiro praticante) e Jacobo Botero. Participa ainda o bezerrista Tiago Santos, bem como os forcados amadores de Vila Franca. Os novilhos são de Manuel Dias. No final haverá um toiro para os curiosos. Existem bilhetes desde os 10 euros para os espectáculos. As reservas podem ser feitas através dos números 969924734 e 968669090.


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24 | COLETE ENCARNADO Tinha 14 anos quando foi trabalhar como cocheiro em Alpompé e foi nesta altura que começou a lidar com o gado acompanhando a tralhoada e os campinos da casa às festas e feiras onde os seus préstimos eram necessários. Ficou encarregue do gado existente na casa e também dava uma ajuda na Quinta do Castilho, propriedade dos primos onde trabalhava um irmão.

O campino que fala verdade mas nem sempre conta tudo António “Colorau” tem uma colecção de mais de 140 troféus António “Colorau”, 71 anos, é o campino que vai ser homenageado no sábado em Vila Franca de Xira, numa das cerimónias mais solenes da festa do Colete Encarnado, que decorrerá no largo da câmara, às 16h00.

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ai muitas vezes à televisão contar as experiências de vida e os valores adquiridos de um verdadeiro campino. Diz que fala sempre verdade mas nunca conta tudo. António Maria Abreu, mais conhecido por António “Colorau”, é o campino que vai ser homenageado na festa do Colete Encarnado na cerimónia marcada para sábado, 2 de Julho, às 16h00 no Largo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Não sabe muito bem de onde vem o nome “Colorau”, mas pensa que seja do tio que bebia pouca água e era muito encarnado. O nome acabou por colar-se a toda a família e o campino foi baptizado de António “Colorau”. Nasceu na Casa Emílio Infante da Câmara onde trabalha até hoje, em Vale Figueira, concelho de Santarém. Largou a escola aos nove anos

para ajudar o pai, maioral de ovelhas da casa. Tinha 14 anos quando foi trabalhar como cocheiro em Alpompé e foi nesta altura que começou a lidar com o gado acompanhando a tralhoada e os campinos da casa às festas e feiras onde os seus préstimos eram necessários. Ficou encarregue do gado existente na casa e também dava uma ajuda na Quinta do Castilho, propriedade dos primos onde trabalhava um irmão. Manteve sempre uma óptima relação com o patrão, o que lhe permite manter os próprios cavalos, a roulotte e a camioneta na casa. Do alto dos seus 71 anos conta a rir-se algumas das peripécias que já passou a lidar os toiros. “Estávamos a enjaular os toiros para uma corrida e o terreno, de areia, tinha buracos. O cavalo pôs um casco num buraco e caí. Levantou-se uma poeira, o cavalo fugiu para um lado, desviando a atenção

do toiro e eu saí a gatinhar para outro lado”, conta. Tem pena de não ter conseguido transmitir o mesmo gosto aos filhos, que nem sabem andar a cavalo. Para si não existem bons campinos sem bons cavalos. O respeito que tem pelos cavalos é imenso e já viu a sua vida ser salva em diversas ocasiões. Desde a Corrida Livre até à Gincana dos Fardos, passando pela Condução de Cabrestos, já conquistou inúmeros prémios. Em casa tem mais de 140 taças e a esposa não tem mãos a medir para limpar o pó a tanto troféu. Participa nas Festas do Colete Encarnado há mais de 20 anos e esteve presente na sessão de inauguração da Ponte Marechal Carmona.


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Uma festa de três dias onde não falta o convívio, a sardinha assada e o caldo verde Há quem não dispense as sardinhas assadas e o caldo verde por altura do Colete Encarnado, em Vila Franca de Xira. Na hora dos toiros saírem à rua alguns arriscam outros mantém a distância de segurança. A festa brava corre no sangue de muitos aficionados que vivem de forma intensa os três dias de festa na cidade. Não há crise que abane uma tradição com raízes profundas.

Um fã das festas e da tradição António Manuel Martinho, 43 anos, administrador, Vila Franca de Xira Participar nas festas do Colete Encarnado é já um acto natural para António Manuel Martinho, um “aficionado desde sempre” que diz ser fã das festas e da grande tradição que encerram. “Além de ser a tradição é a altura de rever amigos que não encontramos há muito tempo. Amigos de escola e da infância. É uma altura boa que privilegia o convívio. Dá

Assistir às largadas de toiros sem saltar lá para dentro Paula Sequeira, 30 anos, empregada de balcão, Vila Franca de Xira O Colete Encarnado é para Paula Sequeira a melhor festa do concelho de Vila Franca de Xira. “Gosto muito do ambiente e do convívio que se gera entre as pessoas”, garante atrás do balcão do Café Sky, onde trabalha. Desde os seis anos que mora na cidade e já vive a tradição como se cá tivesse nascido. Tem pena de ver mais

pessoas de fora do que vilafranquenses a participar na festa. Gosta de assistir às largadas de toiros mas não se atreve a saltar para dentro da arena improvisada. “No ano passado as largadas foram muito fracas. Os toiros não prestavam e nós precisamos é de animação”, refere. Não costuma ficar para provar a sardinha assada e o caldo verde porque são distribuídos muito tarde. Vê cada vez mais jovens nas ruas e acha que a organização do Colete Encarnado deveria criar espectáculos para a faixa etária mais jovem. Este ano, como manda a tradição, voltará a marcar presença nas festas do Colete Encarnado.

Visitar a festa sim, brincar com toiro não Rui Lopes Agostinho, empresário, 52 anos, Cartaxo A falta de tempo é o maior problema de Rui Lopes Agostinho, empresário de 52 anos, residente no Cartaxo. Não fosse isso, garante, estaria preparado para viver com intensidade a festa do Colete Encarnado. Considera-se pouco aficionado mas respeita quem gosta dos toiros. A mudança da sua empresa para novas instalações vai retirar-lhe tempo para vi-

Sem coração para arriscar na arena Samuel Póvoa, 67 anos, comerciante, Vila Franca “Nunca tive coração para ir brincar com os toiros”, diz Samuel Póvoa, por detrás do balcão da Ourivesaria Samuel, frente à Igreja Matriz de Vila Franca de Xira. Aproveita para mostrar fotografias a preto e branco de um irmão já falecido que desafiava os toiros no Colete Encarnado. Samuel Póvoa gosta de entrar para a arena improvisada e pisar a areia salvaguardando a distância de segurança. É um saudosista de outros tempos do Colete Encarnado. “Os toiros

para meter a conversa em dia”, garante. Não tem por hábito comer as sardinhas e o caldo verde que é oferecido na festa e defende que um maior envolvimento da população na organização seria uma mais-valia. “Se estiver mais gente envolvida há mais gente a pensar e isso é uma vantagem”, refere. Em tempo de crise o administrador de empresas considera que a contenção deve ser feita mas com limite. “Quando temos recursos escassos devemos concentrar esses recursos em menos eventos mas melhores”, defende o gerente da Pedro Lamy, em Vila Franca de Xira.

agora são muito batidos”, diz com tristeza. É defensor da tradição e acha que nestas festas só deveriam entrar fados e ranchos. “Os jovens já tem espaços próprios para a música. Não podemos desvirtuar o colete”, diz o comerciante que não se lembra de perder uma única edição da festa. A distribuição da sardinha e do caldo verde também deveria ser mais espalhada na sua opinião. Uma festas destas não se pode poupar. Já se gasta dinheiro mal gasto noutras coisas”, conclui o vila-franquense, que tinha 13 anos quando foi aprender o ofício de relojoeiro. Há 19 anos juntou-se às irmãs e abriu a ourivesaria.

sitar a festa deste ano mas confessa que já viveu bons momentos em Vila Franca de Xira. “Fui à festa muitos anos porque trabalhava lá perto. Tenho muita gente amiga que relembro com saudade. Por eles gostava de voltar mas não me convidem para brincar com o toiro”, diz com um sorriso. Costuma comer as sardinhas e o caldo verde sempre que lhe são oferecidos. A contenção de custos em ano de crise é de louvar, defende. “Tem de haver contenção, não apenas nas festas como em tudo. Há que começar por algum lado”, apela o administrador da Imporgo, empresa distribuidora da papel.

Saudades da festa de outros tempos Alice Lambuça, 72 anos, comerciante, Vila Franca de Xira “Tenho saudades da verdadeira festa do Colete Encarnado”. É esta a frase que sai da boca de Alice Lambuça quando se pergunta como vive a mais importante festa de Vila Franca de Xira. A festa já não é o que era e vê-se cada vez menos gente. “Existem muitas festas no concelho que acabam por dispersar e essa poderá ser uma das causas”, analisa. A comerciante tem saudades do tempo em que era a Sevilha Portuguesa. Nota que aos poucos muitas feiras estão a desaparecer da cidade, como a do melão e o salão do cavalo. Só espera que o Colete Encarnado e a Feira de Outubro não acabem. Nunca brincou com os toiros. Prefere assistir.O Colete Encarnado é uma óptima oportunidade para vender os produtos regionais de Vila Franca que tem na loja “A Casa Sónia” há mais de 20 anos.

Três dias sem ir à cama António José Pereira, 35 anos, cabeleireiro, Vila Franca de Xira As festas do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira são vividas “intensamente” por António José Pereira. “São três dias sem ir à cama”, garante. É um aficionado que gosta muito de assistir às esperas de toiros mas nunca arrisca brincar com os animais. “Tenho-lhes muito respeito”, confessa. Do que mais gosta na festa é do convívio com os amigos. Não costuma comer as sardinhas nem o caldo verde. “Acho que podiam melhorar a festa se colocassem de novo um palco na rua Miguel Bombarda. Era uma maneira de trazer a festa para a zona alta da cidade. Só está no centro o que é pena”, defende.


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Um aficionado em Com boa vontade e pouco dinheiro também aprendizagem que não dispensa as largadas se faz a festa José Brás Simões, 38 anos, agente funerário, Vila Franca de Xira

José Fidalgo Gonçalves, 56 anos, presidente de junta, Vila Franca de Xira

As festas do Colete Encarnado em Vila Franca de Xira estão no roteiro de José Brás Simões que marca presença no evento todos os anos. Gosto muito da festa. Tanto das corridas como das largadas de toiros. Acompanho quase tudo o que diz respeito ao colete encarnado”, conta com orgulho o agente funerário de 38 anos. Já não costuma brincar com os toiros porque a idade não perdoa. Nos últimos anos não tem comido as sardinhas assadas e o caldo verde que é oferecido pela cidade mas defende que é uma tradição a preservar. O agente funerário de Vila Franca de Xira defende que em época de crise se poupe também nas tradições. “Eu concordo que se poupe em tudo. Há coisas mais importantes que a festa que pode sempre ser feita com pouco dinheiro, desde que as pessoas tenham esse espírito”, sugere o funcionário da agência funerária “Machado”.

O presidente da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, José Fidalgo Gonçalves, considera-se um aficionado “em aprendizagem” e também por isso não dispensa as festas do Colete Encarnado. Gosta de se envolver no evento, quer nas largadas de toiros, quer nas tradicionais corridas que decorrem na Praça de Toiros Palha Blanco. “É um bom momento para estar com os amigos. Já brinquei mais com o toiro. Agora não arrisco tanto como no passado”, confessa. Não costuma comer as sardinhas assadas que são oferecidas durante a festas porque prefere outros petiscos. “As tertúlias têm um papel importante e podem envolver-se mais na festa”, defende o autarca. José Fidalgo Gonçalves considera que a actual crise económica deve ser tida em conta na organização da festa e por isso vê com bons olhos toda a poupança que se conseguir fazer.

Pedro Cunha vence III Troféu Vítor Mendes Iniciativa integrou Semana da Cultura Tauromáquica O jovem Pedro Cunha, 14 anos, aluno da Escola de Toureio José Falcão, foi o vencedor do III Troféu Vítor Mendes que decorreu na tarde de segunda-feira, 27 de Junho, no tentadero do Cabo, em Vila Franca de Xira, no âmbito da XXII edição da Semana da Cultura Tauromáquica. A competição decorreu entre os alunos Fernando Jimenez Ordoñez, Jorge Iciegas e Borja Pereira da Escola de Tauromaquia de Madrid e os alunos Tiago Santos, Pedro Noronha e Pedro Cunha da Escola de Toureio José Falcão. Pedro Cunha iniciou-se há três anos numa escola do Montijo e chegou há um ano à Escola de Toureio de Vila Franca de Xira que lhe apresentava melhores condições. Considera que teve sorte com a vaca do tentadero, mas a vontade de vencer também ajudou. “O que quero ser é uma figura do

toureio e vou lutar muito para concretizar esse sonho”, garantiu. A XXII edição da Semana da Cultura Tauromáquica em Vila Franca de Xira arrancou sexta-feira, 24 de Junho, e termina a 30 de Junho. Um peddy-paper taurino, exposições e colóquios animaram a semana. Foi também descerrada uma placa de homenagem à “História do Toureio” de Vila Franca de Xira. A Casa Museu organizou alguns dos eventos, como o colóquio de terça-feira dedicado ao tema “A Mulher e a Festa” (reportagem na próxima edição). O matador de toiros de Vila Franca de Xira, Mário Coelho, aproveitou para reforçar que a obrigação da Casa Museu Mário Coelho é ajudar a “enriquecer cada vez mais a festa”. A inauguração da Jangada Cultural, uma plataforma que irá flutuar no rio, está marcada para quinta-feira, 30 de Junho, às 22h30, no cais de Vila Franca. Nessa noite actuará o grupo Xira-Brass.

Uma festa que promove Bravura precisa-se em o convívio nas ruas tempos de crise Mónica Pedro, 33 anos, comerciante, Vila Franca de Xira

Manuela Soares, 48 anos, médica dentista, Benavente

Mónica Pedro, nascida e criada em Vila Franca de Xira, sempre participou na festa do Colete Encarnado. Este ano vai fazer questão de cumprir a tradição. “Está dentro de mim”, deixa escapar. É mais adepta de toiradas do que das largadas e apesar de não apreciar muito a sardinha assada não deixa de marcar presença no evento. “Nestas alturas existe um maior convívio e ligação entre as pessoas e é óptimo viver este espírito nas ruas de Vila Franca”, assegura. Mesmo sendo das festas mais importantes do concelho a comerciante acha que os gastos devem ser comedidos. Embora os fados e ranchos sejam imprescindíveis, Mónica Pedro vê com bons olhos o aparecimento de outros espectáculos para cativar os mais jovens. “Tem de ser uma festa para todos”, refere a proprietária da loja de roupa multimarcas “A Estrelinhas”, aberta desde 2007 em Vila Franca de Xira, que criou depois do nascimento da filha.

“A Festa Brava em Vila Franca de Xira perdeu todo o carisma que tinha há uns anos”, diz Manuela Soares que vê a própria cidade descaracterizar-se também. As inúmeras festas ligadas à tauromaquia que existem no concelho e arredores contribuem para dispersar o público. A médica dentista, residente em Benavente, defende que o Colete Encarnado não deve estar confinado a um ponto da cidade mas em várias ruas. “Era importante as pessoas conhecerem a verdadeira história do Colete Encarnado. Não é só uma festa para beber cervejas ou ver os toiros passar. É preciso voltar a dar mais ênfase à terra, ao papel do campino que está a desaparecer”, nota. Dos toiros sempre manteve distância e acredita que a bravura é necessária agora para os tempos difíceis que se avizinham. Exemplo de persistência é a própria Clínica de Medicina Dentária Dr. Fernando Soares, implantada em Vila Franca de Xira há 52 anos.


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Campinos em fio de cobre e as saudades de Vila Franca de Xira Franklin Ferreira recuperou em França um trabalho que iniciou em menino na cidade foto O MIRANTE

TALENTO. Franklin usa fios de cobre para retratar a sua cidade

Franklin Ferreira é um artista do fio de cobre. Constrói músicos e ciclistas. Pescadores e caçadores. Os campinos, com colete encarnado de cabedal e cabeça de resina, são uma especialidade para recordar Vila Franca de Xira, que deixou aos 18 anos para fugir à guerra. Vive em França há 44. Está reformado e dedica-se agora a uma paixão que nos tempos de infância ajudou a matar a fome.

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Ana Santiago

ranklin Ferreira tinha 12 anos. Na estação dos Correios de Vila Franca de Xira via passar homens com caixas de madeira e fios de cobre dos telefones lá dentro. Um dia encheu-se de coragem e pediu uns restos. Moldou os fios à mão e construiu um boneco à sua maneira: um músico, de pernas altas e finas, revestidas com finas tiras de metal. Na loja do senhor Leitão, no centro da cidade, onde a mãe fazia limpeza, todos acharam graça à personagem inventada. À mãe recomendaram que incentivasse o filho a criar. E o filho

continuou para ajudar a comprar o pão lá para casa. Os bonecos ficavam em exposição para venda na loja mas Franklin chegou a ir vendê-los ao mercado de Moscavide, onde viveu com a mãe uma temporada, para ganhar alguns tostões. A história é contada via telefone, entre Portugal e França. Franklin Ferreira, 62 anos, de voz viva, arrasta uma ligeira pronúncia gaulesa mas conserva bem o vocabulário luso. Sente-se uma alegria na voz. Mesmo quando conta que o pai o abandonou aos quatro anos. Ficou entregue aos cuidados de uma mãe abnegada. Viviam os dois num quarto alugado no Bom Retiro. Cozinhavam

as refeições num fogareiro. “Vivíamos um pouco na miséria”, resume. Dos 14 aos 18 anos, já depois de frequentar a escola, Franklin trabalhou nas estalagens de Vila Franca de Xira. Primeiro como telefonista na estalagem da Lezíria. Depois na estalagem do Gado Bravo, na recta do Cabo, a servir à mesa, e no restaurante “Paramêz”. Saiu do país aos 18 anos. Rumo a França. Franklin sentia o espectro da chamada para a guerra colonial e decidiu que não queria deixar a mãe sozinha. Foi guardar vacas. A mãe acompanhou-o e foi trabalhar nas limpezas. Os primeiros tempos foram difíceis. “Chorava todos os dias”, conta. Franklin trabalhou numa fábrica e numa quinta até chegar à estação de serviço, onde fazia pequenas reparações e abastecia os automóveis e onde permaneceu por 31 anos. De lá saiu reformado. Casou e divorciou-se. Não teve filhos. Há 22 anos construiu uma casa em França com a ajuda de uns amigos. É lá que vive hoje com Nicole, a sua companheira. Como a reforma é parca dedica-se à construção das figuras em fio de cobre para matar o tempo e equilibrar as contas. Os campinos, com colete encarnado de cabedal, barrete de linho e cabeça de resina, evocam a cidade onde nasceu e viveu até aos 18 anos. Em França cada peça custa 70 euros mas sabe que não seria fácil vender em Portugal as figuras ao mesmo preço. A matéria prima que hoje utiliza são restos que lhe são cedidos por uma empresa que trabalha com fio de cobre ao lado da sua casa. Vive em França há 44 anos. Regressou a Vila Franca de Xira em Abril último depois de ter estado trinta anos ausente. Não quis deixar sozinha a mãe, que sofria de Alzheimer e faleceu há alguns meses. Revisitou Vila Franca de Xira mas entristeceu-se com a degradação na estalagem do Gado Bravo e com o estado do Jardim Constantino Palha, bem como com a falta de postais alusivos à cidade. Aproveitou para visitar familiares em Coruche, Samora Correia (Benavente) e Sobralinho. Levou um campino à presidente de câmara municipal, Maria da Luz Rosinha, e passou na redacção de O MIRANTE em Vila Franca de Xira. “Franky”, assina assim as peças em fio de cobre, deixou no ar a palavra saudade. Para o ano promete regressar

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