Especial Alpiagra

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O MIRANTE | 08 SETEMBRO 2011

Campanha de apoio ao comércio local durante a 29ª edição da Alpiagra Certame realiza-se entre 10 e 18 de Setembro no Largo da Feira em Alpiarça O cantor Sérgio Godinho é o nome mais sonante do cartaz da 29ª edição da Alpiagra, a grande feira agrícola de Alpiarça. A maior parte dos restantes artistas é popular. Para condizer com a situação actual também há teatro de revista à portuguesa e a peça tem um nome a condizer. “Isto é que vai uma açorda!”

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poiar o comércio tradicional apostando numa campanha de apelo ao consumo dos produtos locais é o mote da campanha que o município de Alpiarça vai lançar durante a 29ª edição da Alpiagra que este ano se realiza entre 10 e 18 de Setembro, no Largo da Feira, em Alpiarça. Além disso, e tendo em conta as dificuldades económicas por que passam os comerciantes do concelho a autarquia decidiu isentá-los do pagamento de taxas na utilização dos expositores. “Quando contactamos as empresas para incentivá-las a estarem presentes nos expositores da feira apercebemo-nos que as dificuldades financeiras eram muitas e por isso decidimos apoiá-los. Achamos que devíamos mobilizar os comerciantes e dar um ‘empurrão’ ao comércio local”, explicou o presidente da autarquia, Mário Pereira (CDU), na conferência de imprensa de apresentação do certame que se realizou na tarde de 29 de Agosto. Mário Pereira defende a aposta na Feira de Alpiagra que, na sua opinião, se tem implantado a nível regional e quer continuar a trabalhar para ser considerado um certame de relevo nacional. “O principal objectivo da Alpiagra é divulgar os produtos e produtores do nosso concelho e é isso que vamos continuar a fazer”, afirma. O autarca refere que, em ano de crise para famílias, empresas e autarquias, a feira de Alpiagra é um contributo “importante” para divulgar a actividade empresarial do concelho.

O município prevê um investimento de 100 mil euros para os nove dias de festa, um número abaixo dos anos anteriores. A autarquia gastou o ano passado cerca de 140 mil euros, longe dos 171 mil euros gastos em 2009 e 155 mil euros em 2008. Sérgio godinho e reviSta à PortugueSa animam a feSta O cantor português Sérgio Godinho, que actua no último dia de festa, 16 Setembro, é o principal destaque da 29ª edição da Alpiagra. A inauguração oficial do certame está marcada para sábado, dia 10, pelas 17h00, e conta com a participação da banda da Sociedade Filarmónica Alpiarcense 1º Dezembro (SFA) e do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Alpiarça. A festa segue com pintura faciais e modelagem de balões realizada pelo grupo “Pataniskas” e a inauguração da exposição de fotografia intitulada “TejoSentido” (18h00) no salão de artesanato. Pelas 21h30 sobe ao palco Alpiargra a Revista à Portuguesa “Isto é que vai aqui uma açorda”. O segundo dia de festa arranca com o segundo passeio de BTT (09h00) e o início da primeira maratona fotográfica de Alpiarça (09h00). Meia hora mais tarde está marcada uma visita ao património arqueológico de Alpiarça. A concentrada é feita junto às piscinas municipais. O VII Passeio de Carros Antigos (10h00) e a prova de orientação infantil e juvenil (16h00) são algumas das actividades disponíveis para a população e visitantes. À mesma hora actua a banda da SFA seguindo-se o debate “A Agricultura Familiar e as PME’s no futuro da nossa alimentação” (16h30). Destaque ainda para o desfile das vindimas (18h00), demonstração de Krav Maga (18h30) e um espectáculo de Tributo aos Queen no palco Alpiagra (21h30). Na segunda-feira, além das tasquinhas e dos expositores há jogos de matraquilhos e ténis de mesa, pelas 21h00. À mesma hora espectáculo musical com Clayton. Na terça-feira, 13, destaque para o Duo Sónia e Ricardo pelas 21h00. No dia seguinte demons-

Sérgio Godinho tração de petanca com a campeã nacional de Doublé (21h00) e animação musical fica a cargo do Duo Onda Tropical (21h00) no palco das tasquinhas. No salão de actividades económicas realiza-se a conferência “A Pintura de Francisco Henriques na Casa dos Patudos”, pelas 21h30. Na quinta, 15, destaque para o baile das vindimas às 21h30. Na sexta-feira sobe ao palco o Duo The Subry (20h00) seguindo-se uma hora e meia mais tarde uma noite de fados com Casimira Alves. Passeio de vespas (10h00), torneio de futebol infantil (15h00) e karaoke para os mais novos (18h00) são algumas das actividades que podem ser apreciadas durante o dia de sábado, 17. Pelas 17h00, são divulgadas as

classificações e entrega de prémios da primeira maratona fotográfica de Alpiarça. À noite actua o duo brasileiro Sérgio e Roberto (20h00) e realiza-se o 29º Festival de Folclore (21h30). Pelas 20h30 é apresentado o livro “Sal da Vida” do médico José Manuel Sampaio. O último dia de festa começa com um passeio de cicloturismo (08h00) seguindo-se o 13º grande prémio piscatório das vindimas que vai decorrer na albufeira dos patudos. Entre as 09h00 e as 19h00 o Grupo de Dadores Benévolos de Sangue do Concelho de Alpiarça vai realizar uma dádiva de sangue no recinto da feira. O certame encerra com a actuação de Sérgio Godinho que sobe ao palco pelas 21h30

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Um apaixonado pela história de Alpiarça Ricardo Hipólito é inspector da secretaria de Estado da cultura e nas horas vagas dedica-se a estudar o passado da sua terra natal

foto O MIRANTE

“Manuel António - A arte de criar um melão” é o primeiro de uma série de Cadernos Culturais a serem publicados pela Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça.

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ALPIARÇA NÃO TEM SABIDO DIVULGAR OS SEUS PRODUTOS Ricardo Hipólito considera que o Festival do Melão é uma “excelente” iniciativa para divulgar o produto que mexe com mais famílias de agricultores no concelho. Mas, defende, que poderia ser feito muito mais sobretudo a nível de divulgação do certame. Além disso, critica os produtores que “não entendem” que o festival é feito para eles. “O festival é feito no Parque do Carril, onde se realiza o mercado da fruta, os produtores estão lá durante o certame mas continuam a ser muito individualistas e alguns acham que aquilo não serve para nada”, lamenta.

Ana Isabel Borrego

icardo Hipólito é o autor do primeiro caderno cultural promovido pela AIDIA - Associação Independente para o Desenvolvimento Integrado de Alpiarça. “Manuel António - a arte de criar um melão” é o título do primeiro volume cujo conjunto de publicações pretende relatar diferentes histórias do concelho de Alpiarça e vai ter periodicidade semestral. Apaixonado pela história do seu concelho, Ricardo Hipólito não resistiu ao convite da AIDIA para escrever este caderno de 40 páginas. A pesquisa estava feita há já algum tempo, depois de uma conversa com o agricultor que dá nome a esta variedade de melão que lhe contou a origem deste fruto ligeiramente diferente no aspecto exterior. Manuel António, já falecido, foi um agricultor, natural de Alpiarça, que adquiriu sementes com a garantia que daria um “excelente” meloal. Depois de plantar essas sementes deparou-se com um “desastre” na sua seara, onde brotaram todo o tipo de frutos, embora nenhum fosse parecido com melões. “Se fosse outra pessoa teria ficado arrasado com o que lhe tinha acontecido, porque perdeu toda a produção desse ano, um prejuízo enorme. De forma empírica começou a fazer uma selecção das sementes”, explica o inspector da secretaria de Estado da Cultura. Dessa selecção de sementes nasceu o

Um engenheiro agrónomo a trabalhar na Cultura Ricardo Hipólito nasceu em Alpiarça há 54 anos. Filho de agricultores licenciou-se em engenharia agrónoma no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Chegou a ter duas colocações “praticamente” assentes nessa área mas não ficou por, em tempos, ter sido militante do PCP. “Como não tenho pais

memórias. “Não há nada melhor do que ver o brilho no olhar das pessoas que contam as suas histórias. Não podemos pensar só no futuro. Cada comunidade tem um passado e se não fizermos nada para preservá-lo, para podermos contar às gerações seguintes, então deixamos de ter memória”, explica. Depois do primeiro caderno Ricardo Hipólito já tem mais histórias para publicar. “Vidas - Os avieiros no “mar” Ribatejo”, “Os arroteadores do Vale da Lama” e “A epopeia dos meloeiros em Alpiarça”, são os próximos livrinhos que se seguem.

CONTINUAÇÃO. Ricardo Hipólito já tem na calha mais histórias para publicar fruto que ficou conhecido por melão Manuel António. Um melão de casca verde que começou a fazer sucesso nos primeiros anos. O problema é que a forma de criar esta variedade de fruto é mais complicada, o que tem levado os produtores a optarem pelo melão branco. Uma das desvantagens do melão Manuel António, diz Ricardo Hipólito, é o facto do sol poder causar lesões na casca o que afasta os compradores. “Normalmente, essas lesões na casca não afectavam a polpa

ricos tive que me fazer à vida e parti para novos desafios. Como sei apaixonar-me por aquilo que é preciso fazer, segui outro rumo profissional”, explica durante a entrevista a O MIRANTE que decorreu no Parque do Carril. Actualmente é inspector na secretaria de Estado da Cultura mas no início da actividade profissional deu aulas de Matemática e Ciências da Natureza em Alpiarça e Almeirim. Integrou também o conselho directivo na escola preparatória de Santarém onde funciona actualmente o Instituto Politécnico.

do fruto mas o facto de ficar com uma mancha queimada desvalorizava comercialmente o fruto”, explica o autor da primeira edição dos Cadernos Culturais. Ricardo Hipólito acredita que essa tenha sido a principal razão para os produtores deixarem de cultivar essa variedade de melão, estando o “Manuel António” em vias de extinção. Para evitar esse desfecho, Ricardo Hipólito sugeriu, durante a realização do primeiro festival de melão que se realizou em Alpiarça no ano passado, que os genes deste fruto fossem acautelados num banco de germoplasma que existe em Portugal. “Se o fruto se extinguir será sempre possível voltar a criá-lo mais tarde. É uma forma de prevenirmos um desfecho do qual nos podemos arrepender”, alerta. O autor não se considera jornalista nem escritor. É apenas um apaixonado pelas histórias da sua terra e gosta de ouvir os mais velhos a contarem as suas


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A agricultura tem que renascer para bem de todos nós Em terra onde a agricultura continua a ter enorme importância, mesmo as pessoas que não estão ligadas directamente ao sector condenam os subsídios que foram dados ao longo dos anos para que os agricultores não produzissem. Defendem em uníssono um maior apoio à produção.

Carlos Marques, 41 anos, Empresário ramo materiais construção, Alpiarça

“Agricultores portugueses precisam de mais apoios” Se a ideia defendida pelo presidente da Federação de Agricultores do Distri-

José Branha, 62 anos, Empresário, Alpiarça

“Quem paga para agricultores não produzirem devia ser penalizado” Empresário no ramo do aluguer de máquinas agrícolas José Branha sofreu na pele aquilo que diz ter sido uma sucessão de políticas “erradas” na agricultura nos últimos anos. Diz que seria dos primeiros a votar uma lei que castigasse quem pagou aos agricultores para não produzirem. Já foi seareiro mas houve uma altura em que optou pelo aluguer de máquinas agrícolas. Há uns anos investiu numa máquina importante para a produção de beterraba, um produto que estava em expansão em Portugal. De um momento para o outro acaba-

to de Santarém de punir criminalmente quem, na União Europeia, decidisse pagar aos agricultores para não produzir fosse avante, Carlos Marques seria um dos seus subscritores. O empresário considera que a agricultura em Portugal está mais desenvolvida do que há duas décadas mas diz que ainda existe muito para fazer e defende que os agricultores deviam era ser apoiados para produzir mais. “Nos outros países da Europa existe uma maior preocupação e os agricultores são muito mais apoiados do que em Portugal”, reflecte, acrescentando que é a falta de apoios que faz com que o nosso país não seja tão desenvolvido quanto os outros. “Temos que conseguir agarrar o camião do progresso”, diz. A Alpiagra é uma feira que não costuma perder. Gosta do convívio que a festa lhe proporciona. Diz que vai quase todos os dias. “Bebo uns copos e fico à conversa”, confessa. Em tempos de contenção financeira concorda com um programa de animação com artistas que cobram menos. O que ele não quer é que acabem com a feira mais tradicional do concelho.

ram com essa produção e o empresário teve que arcar com o prejuízo. José Branha confessa que o seu ramo de negócio passou um “mau bocado” mas que agora as coisas estão a “tomar caminho”. Se voltar à agricultura apostava na produção de milho e beterraba. “São os que dão mais lucro”, explica. Vai quase todos os dias à Alpiagra quando a feira está a decorrer. Gosta de ver as novidades e de assistir aos espectáculos. Defende que a feira deve continuar a realizar-se mesmo com menos dinheiro. “Não se tem dinheiro faz-se uma festa mais pequena com menos artistas, ou artistas mais baratos. O importante é não deixar morrer a feira que já é uma referência no distrito de Santarém”, afirma.

Quanto à Alpiagra não há dúvida que é a grande festa do concelho e a ninguém passa pela cabeça que acabe. Mesmo que os artistas sejam mais fracos, o convívio é sempre de primeira. E não há nada melhor que uma feira tradicional para reencontrar amigos e saber as últimas.

Daniel Coelho, 34 anos, Empresário, Alpiarça

“Só com uma cooperativa os agricultores conseguem ter força no mercado” Considera que a agricultura portuguesa está de rastos devido à Política Agrícola Comum. “A produção diminuiu. Somos obrigados a comprar quase tudo no estrangeiro. Podíamos ser auto-suficientes na agricultura e somos totalmente dependentes. Por isso é que a nossa economia chegou a este ponto”, afirma. Na sua opinião, na agricultura não há regras e os produtores fazem o que querem e não se ajudam entre si. “É impossível criar cooperativas porque os agricultores são individualistas e não cooperam. Mas só com a criação de uma cooperativa é que eles teriam força junto do mercado e poderiam inverter a actual situação”, diz, acrescentando que não faz sentido haver um incentivo à não produção. O empresário também está ligado à agricultura mas diz que, neste momento, não existe nenhum produto rentável e estável no qual se possa apostar a cem por cento. Daniel Coelho gosta “muito” de ir à Alpiagra e tenta ir todos os dias. Junta-se com os amigos e ficam na conversa. Quando era mais novo fazia directas, agora com o filho de três anos é mais difícil ficar até tão tarde. Defende que mesmo com pouco dinheiro a autarquia deve continuar com a feira. “Vale mais fazer menos mas continuar a tradição da Alpiagra”, conclui.

Fernando Tomé, 46 anos, Empresário ramo de mármores, Alpiarça

“Política agrícola comum foi sempre desajustada do nosso país” Se mandasse tinha virado do avesso a Política Agrícola Comum e incentivado os agricultores portugueses a produzirem mais. O empresário não entende que se tenham dado subsídios para os agricultores não produzirem. “Nunca houve uma política agrícola correcta, foi sempre desajustada ao nosso país. Temos bons solos e bom clima. Como é possível darem-nos dinheiro para não produzirmos?”, questiona. Se fosse agricultor apostava nos produtos hortícolas nomeadamente alfaces, couves, repolho, couve-flor e brócolos. Na sua opinião são produtos que se consomem durante todo o ano por isso só podia ser lucrativo. Todos os dias visita a Alpiagra. Diz que é uma forma de se distrair e de sair da rotina. Gosta de petiscar e ver as novidades. “É bom porque encontramos sempre pessoas conhecidas que não vemos durante algum tempo. Algumas só as encontro uma vez por ano na Alpiagra”, conta. O empresário defende que a feira deve apostar em artistas de qualidade uma vez que eles chamam visitantes de fora do concelho. “Se forem artistas muito bons é vantajoso porque quem vem de fora para o ver vai consumir produtos locais o que é excelente para a economia de Alpiarça”, conclui.


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Júlio Sardinheiro, 69 anos, Técnico Oficial de Contas, Alpiarça

“Quem ganha com o negócio são os intermediários” Um crime é como Júlio Sardinheiro considera o facto dos produtores receberem dinheiro para não semearem qualquer tipo de produto. Na sua opinião quem ganha com o negócio da agricultura são os intermediários. “Quem produz está a praticar os mesmos preços que há seis anos e não tem como aumentar os preços e o consumidor também compra caro. Os intermediários é que lucram com este negócio”, refere. Técnico Oficial de Contas, diz que se apercebe que os tempos em que vivemos estão maus uma vez que os seus clientes têm cada vez mais dificuldades em pagar as contas, o que não acontecia há uns anos. Se fosse agricultor produziria produtos com pouca mão-de-obra para não gastar muito dinheiro. Alface, couve, beterraba seriam alguns hortícolas que semearia. Assume-se como frequentador assíduo da Alpiagra. Durante os nove dias em que se realiza a feira, quem quiser pode encontrá-lo junto das tasquinhas. Apreciador dos petiscos, também gosta de assistir aos espectáculos musicais. Concorda que os artistas devem ser contratados à medida do bolso da autarquia. “Se não há dinheiro tragam os mais baratos mas não acabem com a feira”, defende.

JORNALISTA

(m/f)

OURÉM-TORRES NOVAS

Resposta com carta de apresentação e currículo vitae com fotografia actualizada para jornalistamediotejo@gmail.com


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