FEIRA DE MAIO AZAMBUJA

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A corrida de toiros à portuguesa que vai inaugurar a nova praça de Azambuja - que será baptizada com o nome do ganadeiro e veterinário Ortigão Costa - está marcada para a noite de 9 de Julho, sábado. Entre os cavaleiros do cartel estará Manuel Jorge de Oliveira, António Telles, Luís Rou-

xinol, Moura Caetano, Filipe Gonçalves e Duarte Pinto. Em praça entrarão também os Forcados Amadores de Azambuja e os Forcados Amadores de Alcochete. O programa definitivo será confirmado mais próximo do evento. A organização está a tentar que o espectáculo conte com seis toiros da ganadaria Ortigão Costa como forma de homenagear a ilustre figura que contribuiu para a construção da antiga praça de toiros de Azambuja. A obra da praça de toiros deverá ficar

ECONOMIA Feira de Maio - Azambuja

Fado e toiros na Feira de Maio de Azambuja A canção portuguesa vai ser rainha na próxima edição da Feira que anima a vila de 26 a 30 de Maio. A gastronomia, os toiros e os cavalos ajudam a fazer a festa 2

concluída no final de Junho. Este ano, porque ainda decorrem as obras por altura da Feira de Maio, não será realizada a tradicional corrida da festa. A nova Praça de Toiros de Azambuja, que vai custar 600 mil euros, terá menos lugares do que a antiga, que já não apresentava condições para a realização de espectáculos e foi interditada. Em vez dos 2800 lugares o novo espaço contará apenas com 1800, segundo informação que consta na página oficial da Câmara Municipal de Azambuja.

O MIRANTE 19 de Maio de 2011

João “Careca” lança morteiros a avisar que os toiros vão sair Durante a alvorada é lançada centena e meia de foguetes 3

Maria do Céu Corça e o fado da rosa enjeitada História de uma cantadeira telefonista na fábrica de tomate de Azambuja 6

Manter a tradição a todo o custo O MIRANTE foi ouvir alguns empresários que acham que a Feira deve manter sempre o mesmo figurino, embora notem que a maneira de participar se vai alterando 4

EMPREGOS

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CLASSIFICADOS

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Primeira corrida da nova praça de toiros de Azambuja marcada para 9 de Julho


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02 | Feira de Maio de Azambuja

Fado e toiros na Feira de Maio de Azambuja Festa arranca na quinta-feira, 26 de Maio, e só termina na segunda, dia 30 A canção portuguesa vai ser rainha na próxima edição da Feira de Maio de Azambuja - que anima a vila de 26 a 30 de Maio. A gastronomia, os toiros e os cavalos ajudam a fazer a festa.

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fadista Marco Rodrigues e o grupo Deolinda são os cabeças de cartaz da centenária Feira de Maio de Azambuja que decorre de 26 a 30 de Maio e vai trazer música, gastronomia, toiros e cavalos (ver caixas) à vila. O espectáculo com Marco Rodrigues está marcado para 26 de Maio, quinta-feira, à meia-noite, no Páteo do Valverde. No sábado, 28 de Maio, o destaque vai para a actuação do grupo Deolinda, à mesma hora, junto à Escola Secundária. A quinta-feira, 26 de Maio, dia das tertúlias, começa com uma demonstração da confecção do torricado, às 11h30, na Praça do Município. No Campo da Feira, a “Praça das Freguesias” apresenta dois pratos: gastronomia regional e a animação artística típica de cada uma das nove freguesias do concelho de Azambuja. A

Largadas, mesa da tortura e provas equestres A primeira entrada de toiros conduzidos por campinos nas ruas da vila, uma das grandes atracções da Feira de Maio de Azambuja, está marcada para quinta-feira, 26, às 19h00. Para o início da noite de sexta-feira, 27 de Maio, está reservado um dos momentos altos da festa. O desfile dos campinos com o gado à luz de archotes pelas ruas principais, seguido de uma emocionante largada de toiros nocturna, às 22h00. No sábado a entrada de toiros arranca às 18h30. No domingo as largadas acontecem às 10h30 e na segunda-feira às 18h30. A mesa da tortura, prova de resistência e bravura, vai decorrer quinta-feira à 1h30 no largo do município, e regressa novamente às 2h00 de sábado. No sábado as actividades com éguas, condução de cabrestos e campinos arrancam às 11h00 no terreiro de actividades equestres, na

variedade é grande e inclui folclore, bandas e danças de salão. No recinto estarão, também, os pavilhões das Actividades Económicas e do Artesanato “Artes e Ofícios”. As tertúlias particulares, a ornamentação castiça de fachadas e janelas tornam a feira num evento genuíno e único. O desfile das tertúlias pelas ruas da vila acontece às 16h00 de quinta-feira. Às 17h00 é inaugurada oficialmente a feira com a colaboração da Fanfarra da Associação dos Bombeiros Voluntários de Azambuja, campinos e elementos das tertúlias na Praça do Município. Meia hora depois são inaugurados os Pavilhões do Artesanato, Turismo e Actividades Económicas.

várzea do Valverde. Há animação de rua, às 20h30, com romaria a cavalo. No domingo, às 22h00, decorre o espectáculo equestre “Lusitânia”, no Páteo Valverde, e na segunda-feira, às 15h30, há aula prática de toureio no terreiro das actividades equestres. Na quinta-feira às 14h30 haverá demonstração de uma “Ferra Antiga” no Largo do Rossio. A vacada inicia-se às 15h00 no mesmo sítio. Na sexta-feira, 27 de Maio, um toureio a burro vai animar a praça do município, às 15h30. Segue-se, às 18h00, uma homenagem na Poisada do Campino a José Pereira da Silva “Zé Pau Preto” pela dedicação e colaboração na Feira de Maio Poisada do Campino. No sábado, dia dos cavalos, a manhã começa às 9h30 com romagem aos cemitérios à campas de Georgino Rodrigues “Falcão”, António José Correia da Silva “Ferrobico” e João Batista Amendoeira e João Diniz (Azambuja), à campa de Inocêncio Carrilho Lopes (Torres Vedras) e campa de José Tavares (Vila Franca de Xira).

Sardinha gratuita, pão e vinho

O desfile dos campinos com o gado à luz de archotes pelas ruas principais, seguido de uma emocionante largada de toiros nocturna, às 22h00 Às 21h00 o fado vadio visita das tertúlias. Na manhã de domingo, pelas 09h30, ocorre o momento mais solene da feira, com a tradicional homenagem ao campino na Praça do Município. Este ano é homenageado Victor Manuel Guerreiro da Silva. Será entregue o pampilho de honra gravado com com o nome de Amadeu Valada da Silva “Casca d’Alhos”. A encerrar as festividades, na segunda-feira, 30 de Maio, os alunos do 1º Ciclo do Ensino Básico do concelho vão encher as ruas da vila com muita animação e alegria. A última largada, ao fim da tarde, e um fogo-de-artifício à meia-noite colocarão o ponto final na Feira de Maio 2011

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Mês da Cultura Tauromáquica soma e segue Dois toiros vão ser largados na Várzea do Valverde, na sexta-feira, 20 de Maio, no âmbito do XIII Mês da Cultura Tauromáquica, em Azambuja, que arrancou a 7 de Maio e culmina como é tradição com mais uma edição da Feira de Maio, que decorre de 26 a 30 de Maio. O dia 21 de Maio será dedicado a actividades taurinas. Logo pelas 9h30 realiza-se o tradicional cortejo de campinos com cabrestos e também de muitos cavaleiros e amazonas pelas ruas da vila.

A partir da meia noite de sexta-feira, dia 27 de Maio, há distribuição gratuita de sardinha assada, pão e vinho em diversos locais da vila - um dos momentos altos de convívio na Feira de Maio. Os postos de distribuição funcionam no Largo do Rossio, Largo da Fonte de Santo António, Praça do Município, Largo de Palmela, Largo dos Pescadores e Largo Estátua ao Bombeiro. Pela noite dentro seguem os arraiais até ao romper do dia no Largo do Rossio com o conjunto musical “Geração XXI” e no Largo de Palmela com o grupo “Antecipação”. O Largo da Fonte de Santo António e o Largo dos Pescadores terá o tradicional programa de fado vadio com actuação itinerante dos grupos: Bandinha da Alegria, Xaral’s Dixie e Groove da Villa.

Já na Várzea do Valverde, durante a manhã, terão lugar provas de campinos (condução de cabrestos e do boi da guia e uma picaria para campinos e amadores). À tarde decorrerá uma aula prática da Escola de Toureio de Azambuja e um treino do Grupo de Forcados Amadores de Azambuja. Para as 18h30 está marcada uma largada com dois toiros, que serão recolhidos a cavalo. No dia 25, quarta-feira, abrem-se as portas do Auditório Municipal - Páteo Valverde para a exibição do filme “As nossas raízes”, às 21h30. À semelhança das doze anteriores edições o Mês da Cultura Tauromáquica culmina em grande com a centenária Feira de Maio de Azambuja.


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João “Careca” lança morteiros para avisar que os toiros vão sair à rua Durante a alvorada, às oito da manhã, é lançada centena e meia de foguetes João Pereira da Silva - João “Careca” para os amigos – lança foguetes à alvorada e morteiros e super-morteiros a que chama “canhões” para avisar que os toiros vão sair à rua na Feira de Maio de Azambuja.

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m morteiro estala para avisar que o toiro vai sair à rua. É assim todos os anos nas largadas que animam a tradicional Feira de Maio de Azambuja. O mestre da arte pirotécnica chama-se João Pereira da Silva mas ninguém o conhece por este nome. Para além da alcunha que herdou de família, João Pau Preto (já ao pai e ao avô paterno chamavam assim por serem morenos), é conhecido entre os amigos por João “Careca”. “Perdi o cabelo todo aos 13 anos, inexplicavelmente. Os meus pais ainda tentaram um tratamento em Espanha mas sem sucesso. Na adolescência sofri um pouco com aquilo mas rapidamente ultrapassei esse trauma”, diz. É João “Careca”, 59 anos, que garante as alvoradas nos dias da feira. A partir das 8h00 só quem tem sono pesado dorme em Azambuja. As queixas surgem em tom de brincadeira. “Dizem-me: «Oh João, acordaste-nos cedo!»”. Em cada manhã são lançados 130 a 150 foguetes. João Pereira da Silva tem um ajudante que lhe passa cada um dos foguetes que vai lançando. Para incendiá-los utiliza uma mecha feita de um saco de serapilheira enrolado que se mantém acesa. Três a quatro segundos é quanto demora cada foguete a disparar no céu. “Incendeia-se o cartucho que quando sentimos que tem força suficiente para subir largamos”, descreve. Há dois anos um foguete não quis subir. O calor já estava a chegar aos dedos quando João Pereira da Silva o fez rebentar no chão de forma segura. Uma outra vez lançou um foguete que não subiu e seguiu pela rua dos campinos. Só parou quando bateu numa parede. “Ninguém

ficou ferido”, conta. O “canhão”, mais estridente que o foguete, ouve-se para a entrada de toiros, que passam a grande velocidade do Pátio do Barros para os curros. O primeiro morteiro solta-se para avisar que dentro de segundos vão sair dois animais. Um para o Largo dos Bombeiros e outro para o Rossio. Para anunciar a entrada do terceiro toiro, para a zona da Pastelaria Favorita, solta-se mais um. E segue-se outro morteiro para o toiro para o largo da câmara. João Pereira da Silva, por esta altura a acompanhar a distribuição dos toiros no largo do município, recebe a informação por telemóvel para saber quando poderá anunciar o toiro que ficará na zona dos curros (junto à Caixa Geral de Depósitos). Quando não existiam telefones portáteis era preciso correr, muito, para dar a indicação na hora certa. Na altura eram largados apenas três toiros. Hoje são cinco. Ao domingo, dia de maior movimento e mais barulho, usa um canhão em vez de um morteiro nas largadas para que o aviso seja sentido em todo o recinto. Quando os toiros são recolhidos uma dúzia de canhões avisam que a passagem está livre. João Pereira da Silva tomou as rédeas das artes da pirotecnica na Feira de Maio em 1976 quando o anterior encarregado da tarefa desistiu. Tem uma licença (nº 3868) que comprova que está tecnicamente habilitado para o lançamento e queima de outros fogos de artifício. Combateu no Ultramar (Angola – 1972 - 1974) mas fugiu sempre das armas mesmo em cenário de guerra. É divorciado e tem dois filhos. A neta, de oito meses, vai assistir à primeira feira. Desde que os filhos nasceram João Pereira da Silva, natural de Azambuja, apaixonado pela terra e pelas suas gentes, deixou de “brincar” com os toiros nas largadas. O peso da responsabilidade impediu-o de correr riscos. “Ganhei juízo”, diz entre gargalhadas o motorista de transportes colectivos da Câmara Municipal de Azambuja.

Reformou-se em Abril. Como funcionário da autarquia por alturas de Abril e Maio ia ajudar a fazer e montar as tranqueiras com o auxílio do carpinteiro. Antes de ser funcionário público trabalhou nas obras, foi padeiro e bombeiro voluntário. Faz parte dos corpos sociais da Poisada do Campino e é quem abre a porta dos curros na praça de toiros que está em obras. Para João Pereira da Silva a Feira de

Maio não se faz só de foguetes, morteiros e canhões. Há sardinha assada, pão e vinho na tertúlia familiar. Ao domingo há ensopada de enguias por tradição. Às vezes, no final da feira, participa no lançamento do fogo de artifício que encerra a festa. “Já lá vai o tempo em que era preciso acender cada um dos rastilhos. Hoje é tudo automático. Às vezes carrego no botão mas não tem a mesma graça”, sentencia.


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Manter a tradição a todo o custo Há comerciantes que optam por dar visibilidade aos seus negócios durante a Feira de Maio. Há outros, principalmente os da restauração, para quem a Feira significa um pouco mais de dinheiro em caixa. E há também aqueles que são obrigados a encerrar e a ceder

Mário Simões, Consultor Imobiliário, 41 anos, Azambuja

“Se alterarem formato da festa estragam” Para Mário Simões a tradicional Feira de Maio de Azambuja deve continuar com o mesmo formato. Largadas de toiros, sardinhada na sexta-feira e concerto no sábado à noite são a receita do sucesso. “A feira é um ex-libris para a vila na qual não devemos mexer. Se alterarmos estragamos o formato”, afirma. Consultor imobiliário da Remax Challenger de Azambuja, Mário Simões vai ter, à semelhança de outros anos, um stand no salão de exposições. Esta é uma forma de divulgação da empresa. “A feira não serve para fazermos negócios mas sim para trocarmos contactos. Durante os cinco dias de festas milhares de pessoas visitam Azambuja e tomam contacto com os imóveis que temos em lista”, realça. Mário Simões não é grande adepto de largadas. Prefere ver os toiros do lado de trás das tronqueiras. O facto de não ter nascido no Ribatejo influencia, na sua opinião, a sua falta de aficion. “Gosto mais do convívio com as pessoas e visitar as tertúlias”, diz.

Luís Murta, comerciante, 40 anos, Azambuja

Facturação aumenta nos dias de festa Para Luís Murta os cinco dias em que decorre a Feira de Maio são “muito” vantajosos para o seu negócio. Com um café/restaurante na rua principal da vila onde se realiza a festa são muitos os visitantes que entram no seu estabelecimento. “O volume de negócio aumenta sempre durante os dias de festa”, explica. O empresário do ramo da restauração opta por não ter stand no pavilhão de negócios devido à falta de tempo. “Eu já mal tenho tempo para estar aqui no café quanto mais ter um espaço na feira. Não compensa”, reflecte. Luís Murta costuma visitar a feira sobretudo para ver as novidades mas também para rever os amigos que não consegue ver com tanta frequência durante o ano inteiro e conviver. Como não cresceu em Azambuja, o empresário garante que não sente grande fascínio pela festa brava apesar de ver as largadas. Na sua opinião a festa deve manter-se no formato habitual sendo fiel às tradições.

o seu espaço de trabalho para amigos e familiares que querem ter um lugar privilegiado sobre o que se passa nas ruas. Para o público em geral a Feira deve manter sempre o mesmo figurino, embora alguns notem que a maneira de participar dos cidadãos se vai alterando.

Rui Leitão, empregado balcão, 35 anos, Azambuja

Largadas não se deviam realizar à hora do trabalho Nos dias da feira vende-se um pouco mais mas a loja onde Rui Leitão trabalha, Peças de Eleição, ligada ao ra-

mo automóvel não ganha muito com a tradicional festa. A loja não vai estar representada em nenhum stand da feira porque, diz, não compensa. Durante as largadas de toiros têm vista privilegiada sobre o espectáculo uma vez que este se realiza à porta do estabelecimento onde trabalha. Amante da festa brava e das tradições Rui Leitão defende a continuidade da Feira de Maio em Azambuja. “Sempre me lembro desta feira e acho que devem fazer um esforço por preservar esta tradição tão antiga no concelho”, afirma. O empregado de balcão só lamenta que as largadas se realizem à hora do trabalho. “Não consigo ver tão bem como gostaria”, diz. Rui Leitão gosta de ver largadas mas não vai brincar. Há uns anos apanhou um susto em Alenquer que jurou para nunca mais. “Não fui colhido mas quase porque as pessoas colocam-se mesmo em cima das tronqueiras e depois quem está dentro do recinto quer fugir e não consegue”, alerta.


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Daniela Duarte considera que a vila de Azambuja deve continuar a preservar a tradição para mostrar aos mais jovens como se vivia antigamente. “Já existem muitas diferenças com a vida há trinta anos”

Suzete Varino, 60 anos, Florista, Azambuja

“Enquanto os toiros estão na rua estou em aflição” O que Suzete Varino menos gosta na Feira de Maio são as largadas de toiros. A florista não consegue esconder o medo ao ver os toiros na rua. As largadas passam à porta do seu estabelecimento e a florista conta que vê sempre muita gente nas tronqueiras. “Quem está dentro do recinto e quer fugir do toiro não tem como fazer porque as pessoas estão penduradas nas tronqueiras. Enquanto os toiros estão na rua estou sempre em aflição”, confessa. É o movimento e o colorido que a festa proporciona que Suzete Varino mais aprecia. Os cinco dias de festa servem para conviver com os amigos e rever conhecidos. A comerciante defende a preservação das tradições. “A maioria dos jovens desconhece como era a vida há cinquenta anos e é importante mostrarmos-lhes esse lado da nossa história”, afirma. Apesar de gostar muito da Feira de Maio Suzete tem noção que esta pouco contribui para o aumento de vendas do seu negócio. “As pessoas quando estão em crise financeira, como é o caso, cortam nas coisas mais supérfluas e, infelizmente, as flores são considerados como um bem supérfluo”, sublinha.

Daniela Duarte, 31 anos, empregada de escritório, Casais da Alagoa

Sandra Gomes, 33 anos, cabeleireira, Azambuja

Tradições devem ser “Amigos invadem salão preservadas e mostrar para assistirem às aos jovens como se largadas das janelas” vivia antigamente Quanto mais longe estiver de toiros e Apesar de não ser muito aficionada Daniela Duarte considera que a vila de Azambuja deve continuar a preservar a tradição para mostrar aos mais jovens como se vivia antigamente. “Já existem muitas diferenças com a vida há trinta anos”, diz. Daniela Duarte costuma visitar a feira sobretudo ao fim-de-semana. Nesses dias aproveita para se divertir com os amigos. A empregada de escritório considera que também nas tasquinhas as pessoas estão mais individualistas. “Hoje ficam apenas numa tasquinha, normalmente na dos amigos ou conhecidos, e não saem dali durante os cinco dias. Antes as pessoas circulavam por todas as tasquinhas e não havia confusões. Acho que as pessoas estão mais individualistas”, defende. Funcionária da agência de seguros Gote, Daniela Duarte considera que a Feira de Maio serve apenas para dar a conhecer a empresa não sendo nestes dias de festa que fecham negócios. Daniela gosta de ver largadas mas não muito perto. A jovem defende as tradições e a continuidade desta festa considerada por muitos como uma festa castiça.

cavalos melhor para Sandra Gomes. A cabeleireira que tem pavor de toiros casou com um aficionado de gema que adora tudo o que esteja relacionado com a festa brava. As várias janelas do seu cabeleireiro situado na rua central onde se realizam as largadas são uma tentação para os amigos que vêm de Lisboa, propositadamente, para assistir ao espectáculo. “Na sexta-feira tenho que fechar o salão mais cedo porque os meus amigos e marido aparecem aí para assistir às largadas e para me sujarem o estabelecimento”, confessa entre risos. Desde que foi pai que o marido deixou de participar em largadas mas Sandra Gomes está sempre com o coração nas mãos por causa dos amigos. A cabeleireira não dispensa o concerto de sábado à noite e a sardinhada na noite anterior. “Gosto da luz e boa disposição que a feira apresenta durante dos dias em que se realiza”.


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Maria do Céu Corça e o eterno fado da rosa enjeitada

“Cavalo Russo” nasceu em Azambuja

História de uma cantadeira telefonista na fábrica de tomate de Azambuja A noite de Lisboa perdeu uma fadista. A fábrica de transformação de tomate de Azambuja ganhou uma telefonista. Maria do Céu Corça, valor reconhecido na terra, viu a sua carreira promissora silenciada pelos brandos costumes de então. O destino não lhe calou a voz e as “fadistices” continuam a fazer parte da sua vida.

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Ana Santiago

rapariga, telefonista na fábrica de transformação de tomate de Azambuja, cantava Rosa Enjeitada: “Sou essa rosa, caprichosa, sem ser má/ Flor de alma pura e de ternura ao Deus dará/ Que viu um dia, que sentia um grande amor/ E de paixão o coração estalar de dor”. E a mãe interrogava-se. Mas porquê esta música, porquê, sobre uma rosa enjeitada “sem mãe sem pão sem ter nada?”. O tema vibrava no íntimo de Maria do Céu Corça - “Afinal desventurada quem és tu?” – mas a rapariga acabou por deixar levar-se na música dos brandos costumes de então. “Naquela altura era muito feio que uma rapariga fosse para Lisboa cantar o fado”, diz não totalmente conformada, à distância de várias décadas, a mulher que tem o coração em forma da rosa, tema imortalizado pela voz de D. Ma-

Agora choro em silêncio

Foi a chorar que eu nasci/ Mas muito cedo aprendi/ A rir com a minha mãe/ Se a tivesse aqui agora/ Ria sempre a toda a hora/ Não sei rir com mais ninguém. / Mas quis Deus que ela partisse/ No dia triste e não disse/ Quantas saudade deixou/ Partiu nas asas do vento/ num feliz contentamento/ Foi um anjo que a levou./ Agora choro em segredo/ Sinto até às vezes medo/ de não ver mais, não ter esperança/ Se aqui estivesses mãe querida/ eu só riria na vida/ Voltaria a ser criança. António Pedro Corça

ria Teresa de Noronha, o seu ídolo de sempre no fado. Há quem diga que o timbre de Maria do Céu Corça, hoje com 67 anos, casada e com dois filhos, se assemelha à voz da aristocrata com alma de fadista. Os primeiros quatro discos (singles) da “diva” Maria Teresa de Noronha, foram oferecidos a Maria do Céu Corça por Joaquim Ramos, actual presidente da Câmara Municipal de Azambuja, que para a fadista amadora continua a ser o “Quitó”. São incontáveis as vezes que Maria do Céu Corça lançou a agulha no gira-discos para ouvir a voz que a inspirou. “Só canto fados dela”, diz com orgulho. O irmão é um poeta especial que faz questão de também interpretar. A letra que escreveu dedicada à mãe está no repertório (ver caixa) da fadista. Tudo começou há 52 anos nas récitas do grupo de teatro no salão paroquial da terra. Cantava Simone de Oliveira, Maria de Fátima Bravo, Lurdes Resende e Madalena Iglesias. O fado surgiu alguns anos depois, em 1965. Tinha 21 anos. O à vontade nas lides do fado levaram-na a ser convidada, como outros fadistas da zona, para cantar nos arredores: Alenquer, Carregado e Vila Franca de Xira. A acompanhar: um acordeonista cego. Só quando um chefe da fábrica e a esposa a convidaram para uma noite de fados na “Parreirinha de Alfama”, em Lisboa, Maria do Céu Corça interpretou um fado tendo as guitarras como cúmplices. Nesse dia conheceu Maria da Fé que tinha chegado do Porto e estava a iniciar carreira. O seu destino foi diferente. Provavelmente Maria do Céu Corça passou ao lado de uma

As letras das músicas “Rosa Enjeitada” e “Cavalo Russo, com letra de um poeta da terra (ver caixa), foram decoradas de tanto as ouvir em disco e na rádio. Em 1965 teve o privilégio de cantar ao lado de Maria Teresa de Noronha numa festa de beneficência grande carreira no fado. “Cheguei a falar nisso mas nem os meus pais nem os meus irmãos me incentivaram. Gostavam de ouvir mas queriam que ficasse por perto”, diz a fadista que ajuda a alegrar as noites da Feira de Maio nos apontamentos de fado vadio que se organizam do Largo dos Pescadores, no Largo de Santo António e pelas tertúlias da vila. As letras das músicas “Rosa Enjeitada” e “Cavalo Russo, com letra de um poeta da terra (ver caixa), foram decoradas de tanto as ouvir em disco e na rádio. Em 1965 teve o privilégio de cantar ao lado de Maria Teresa de Noronha numa festa de beneficência. Ainda era o Valverde uma quinta. Maria do Céu Corça não aprendeu a cantar na escola mas é uma entusiasta do trabalho que tem desenvolvido a Escola de Fado de Azambuja, secção do Centro Cultural Azambujense, que tem trabalhado para dar a conhecer os novos talentos. Tem uma cassete gravada e integra um grupo de fadistas numa compilação em CD. Entrou no filme sobre Azambuja. A cura de um linfoma custou-lhe parte das cordas vocais mas não a fez perder o amor ao fado

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A letra da música sobre o Cavalo Russo “que se chamava gingão” nasceu em Azambuja e é da autoria de Paulo José de Carvalho Vidal, um dos filhos do patrão do pai de Maria do Céu Corça, que foi feitor da Casa Vidal durante mais de meio século. “Foi o meu pai que amansou esse cavalo russo”, diz com orgulho a fadista natural de Azambuja, onde o tema dos toiros anda de mãos dadas com o fado. A mãe ia ajudar a fazer o enxoval das filhas e o pai ajudou a criar os filhos quando a senhora Vidal enviuvou. A ligação com a família continua. “Eu tive um cavalo russo/ Que se chamava Gingão/ De uma capona bravia que eu queria sentia/ Como um bom irmão/ Era o cavalo mais lindo, que nasceu no Ribatejo/ Eu nunca tive outro assim, tão manso que enfim/ Ainda o desejo! / Saltava que era um primor/ Tudo fazia com graça/ Era bom a tourear a derribar sem vacilar/ No campo ou na praça/ Corria lebres com gosto/ E nenhum galgo o passava/ Quando o viam a correr e com prazer e sem sofrer/ A todos pasmava!/ A brincar lá na lezíria, podiam admirar! / A brincar lá na lezíria, podiam admirar! / Ainda parece que o vejo à beira do Tejo, a correr a saltar/ Foi um toiro que o matou,/ num dia de infelicidade/ eu nunca mais montei nem sei se o farei, / tal é a saudade”.


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