FEIRA SANTA IRIA TOMAR

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O MIRANTE

SEMANÁRIO REGIONAL - DIÁRIO ONLINE Este suplemento faz parte integrante da edição n.º 953 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

Uma Feira de Santa Iria ao gosto popular de 15 a 24 de Outubro É a identidade própria da cidade de Tomar e das suas gentes que volta à rua e se revela a quem a visita. Os espectáculos musicais com artistas como Quim Barreiros ou Mónica Sintra animam as noites mas quem quer viver o acontecimento tem que dar atenção a pormenores que se sentem mais, do que se vêm.

Gosta de estar Quem não tem uma história passada na feira, para contar? na linha da frente para o que der e vier Corrida de toiros em Tomar

Toda a gente tem histórias passadas na Feira de Santa Iria. O MIRANTE foi ouvir pessoas de diferentes gerações que não deixam morrer um dos acontecimentos mais emblemáticos da cidade 4

Depois de oito anos na protecção-civil Casimiro Serra passou a “apagar fogos” no sector das feiras e mercados 6

com três cavaleiros da região

O espectáculo marcado para domingo, dia 24, às 16h00, na praça de toiros José Salvador e vai ter a presença de Rui Salvador, Ana Batista e o cavaleiro amador João Domingues, natural de Tomar 2


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Uma Feira de Santa Iria ao gosto popular de 15 a 24 de Outubro Quim Barreiros, Mónica Sintra, José Alberto Reis e Romana cantam em Tomar

foto arquivo O MIRANTE

Já não se vai de propósito à Feira de Santa Iria para comprar provisões para o Inverno, lonas para a apanha da azeitona ou cobertores ao quilo anunciados pelo homem da banha da cobra, mas ainda assim é encarada pela organização como “um momento fulcral do ano”, não só para os tomarenses como para muita gente dos arredores. O certame decorre entre 15 e 24 de Outubro na Várzea Grande, como habitualmente. A abertura oficial tem lugar já esta sexta-feira, pelas 17 horas. Não faltam os divertimentos, vendedores e ainda uma exposição de automóveis, motos e tractores. Simultaneamente decore mais uma vez, na Praça da República, junto ao edifício dos Paços do concelho, a Feira das Passas. Pelo palco principal, improvisado junto ao edifício do Tribunal, vão passar muitos nomes da música portuguesa como José Alberto Reis, Pedro Camilo, Romana e Mónica Sintra, que actuam no sábado, 16, a partir das 21h30. Já o popular Quim Barreiros actua na quintafeira, 21, pelas 21h30. No sábado, 23, actua a dupla brasileira Léo e Leandro. O folclore e os grupos de cantares do concelho animam a feira das passas. A tradição repete-se também no dia 20 de Outubro, dia de Santa Iria, com a procissão onde participam muitas crianças das escolas do concelho. O cortejo culmina com o lançamento de pétalas ao

rio. E a propósito, “O dia em que choveu pétalas”, é o título de um livro para crianças que narra a lenda, e que vai ser editado pela Associação de Pais da Linhaceira e que será lançado a seguir á procissão, na Casa dos Cubos. As crianças, aliás, vão voltar a estar em destaque nesta Feira, com a realização de mais uma exposição de trabalhos escolares que abordam, de forma original, toda a temática de Santa Iria. Este ano, esta exposição vai estar patente na Galeria do Instituto Politécnico, na Avenida Cândido Madureira.

Corrida de toiros em Tomar com três cavaleiros da região O cavaleiro Rui Salvador, que nasceu em Lisboa mas que se apresenta sempre como sendo de Tomar, é um dos cinco toureiros que vai actuar na corrida de toiros integrada na Feira de Santa Iria, em Tomar. Da região participa também a cavaleira de Salvaterra de Magos, Ana Batista, que está a recuperar de uma lesão num pé durante uma corrida no Redondo no dia 5 de Outubro. Completam o cartel os cavaleiros Gilberto Filipe, Filipe Gonçalves (o primeiro cavaleiro de alternativa do Algarve) e Carlos Manuel. O espectáculo marcado para domingo, dia 24, às 16h00, na praça de toiros José Salvador, integra ainda o cavaleiro amador João Domingues, que é natural de Tomar e que se iniciou no mundo dos toiros na época de 2007. Além de um cartel que promete muita emoção, há ainda o atractivo de ter preços populares, a partir de dez euros. Vão ser lidados seis toiros da ganadaria Jorge Mendes e as pegas estão a cargo dos grupos de forcados, os Amadores de Tomar fundados 1957 e capitaneado por Carlos Alberto, e Amadores da

Chamusca, cujo cabo é Nuno Marques. Curiosamente o grupo da Chamusca actuou pela primeira vez numa corrida de toiros na praça de Tomar em 1974. No site dos Amadores da Chamusca na internet conta-se até um episódio interessante. O então empresário da praça de Tomar, Manuel Faia, convida o cabo fundador do grupo, António Temótio, para uma corrida na praça, mas havia um problema. É que as jaquetas dos forcados ainda não estavam feitas. Valeu então a ajuda de Carlos Santos "Pemincelina" que em tempo recorde as cortou e confeccionou para que no dia 13 de Julho o grupo tivesse a sua primeira grande prova de galhardia. Os bilhetes para esta corrida estão à venda a partir do dia 22 na bilheteira da Rua Serpa Pinto (junto à ponte velha) em Tomar e no dia da corrida nas bilheteiras da praça.


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Quem não tem uma história passada na feira, para contar? Toda a gente tem histórias passadas na feira de Santa Iria para contar. E há muitas outras histórias à espera de quem ali vai ano após ano. A Feira é um espaço de liberdade e aventura num tempo em que é tudo programado e são poucas as oportunidades de viver aventuras

inesperadas e, por isso mesmo, inesquecíveis. As que se seguem foram-nos contadas por pessoas na casa dos 30, dos 40, dos 50 e dos 60. Gerações e gerações de naturais de Tomar que não deixam morrer um dos mais emblemáticos acontecimentos da cidade.

direito a umas saídas suplementares. Teria 15 anos quando chegou a sua vez. Até então conhecia a feira apenas das descrições feitas pelo pai, quando este por ali passava integrado nos “ranchos” da apanha de azeitona, vindos de Ansião nos idos anos 50. “ Foi um deslumbramento a minha primeira ida à feira embora estivesse preocupado em arranjar dinheiro para tantas solicitações”, conta recordando que era este o seu pensamento enquanto rondava os animais do circo. Foi numa altura dessas que uma macaca lhe subiu para o ombro e tratou de lhe roubar uns amendoins “que guardava na mão como um tesouro”. Foi aí que teve uma ideia e foi para o meio da multidão, de boné na mão e macaco ao ombro a contar “estórias” maravilhosas do animal que o adoptou como seu dono e senhor. As moedas foram muitas mas, a “brincadeira”acabou mal uma vez que alguém terá informado o dono do Circo. “Só de lá saí acompanhado pelo saudoso Perfeito Curinhas, que me levou de volta para o colégio”, conta. O pior ainda estava para vir. “Não pude voltar a visitar a feira e não fui autorizado a sair mais nenhuma vez nesse longínquo ano de 1971”, recorda.

Dr. Raul Lopes, costumava acompanhar os alunos à feira. O Colégio tinha na altura entre 700 e 800 alunos internos. Um ano, que pensa ter sido 1961, alguns alunos acharam que o dono de um carrocel tinha que lhes oferecer uma volta de borla mas ele não foi na conversa. “Foi uma guerra civil que acabou com uma cena de pancadaria, pessoas no hospital e o carrossel completamente destruído”, conta António Rodrigues. A polícia e também a tropa que estava instalada no Convento de São Francisco, junto à Várzea Grande, intervieram mas os ânimos continuaram exaltados. A ordem só regressou quando o director do colégio chegou e impôs a sua autoridade. “Sua cambada de parvalhões. Tudo à minha frente”, limitou-se ele a dizer. E reinou a paz. O autarca recorda que se impressionou com a cena e que houve famílias que choraram ao ver o respeito que os alunos tinham ao director do colégio. “Pareciam cordeirinhos, todos em fila”, atesta. Ficaram todos de castigo. E conclui. “Foi um exagero. Se o dono do carrossel tivesse dado a borla tinha ganho muito dinheiro logo a seguir. Assim, naquele ano, só teve prejuízo”, refere.

João Patrício, 55 anos, professor e contador de estórias

“Apanhado com um macaco do circo ao ombro a contar histórias” João Patrício chegou a Tomar no início da década de 70, para estudar e trabalhar no Colégio de Nun’Álvares (CNA). Durante o período da Feira de Santa Iria, os alunos do Colégio tinham

“O dinheiro para a feira que só chegava para os primeiros dias” Em criança, Silvino Henriques confessa que aguardava todos os anos com alguma ansiedade pela chegada da Feira de Santa Iria a Tomar, especialmente para andar nos carrosséis. “Na altura os meus pais davam-me sempre o equivalente a 20 euros, para gastar durante os quinze dias que durava a feira”, recorda. Passada uma semana já o “crédito” tinha esgotado e começavam então as sessões de sensibilização dos pais para um suplemento ao subsídio inicial. E muitas vezes eles iam na cantiga, conta a sorrir. Actualmente faz questão de ir à feira com os filhos. “É divertido e engraçado ver as crianças a divertirem-se como nós um dia já o fizemos. E a feira

Silvino Henriques, 41 anos, comerciante das passas também é muito importante para o comércio da cidade”, diz o empresário que abriu há seis meses uma “Boutique de carnes e peixes” perto do centro histórico de Tomar.

António Rodrigues, 65 anos, presidente Junta Freguesia Santa Maria dos Olivais

O ano em que os alunos do Nun’Álvares destruíram um carrossel Aos 65 anos, António Rodrigues, actual presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais, recorda que quando era menino vivia na Longra, a seis quilómetros de distância, e que tinha por hábito apanhar figos para secar. “O dinheiro da venda desses figos servia para pagar o carrossel na Feira de Santa Iria”, conta. Mas há uma história sobre a Feira de Santa Iria que o marcou especialmente. Antigo funcionário no Colégio Nun’Álvares Pereira, sob a direcção do carismático director


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Andar nos carrinhos de choque mesmo sem ter idade para isso O que Carlos Nunes recorda mais da Feira de Santa Iria da sua infância são os carrosséis e as pistolas de fulminantes que comprava nas barraquinhas e com as quais brincava aos cowboys. Mas também lembra-se de tentar andar nos carrinhos de choque, apesar de não ter idade para isso. “Havia sempre essa expectativa. Por vezes pedíamos a alguém mais velho da família para nos acompanhar só para experimentarmos essa emoção forte”, conta o cabeleireiro do Salão Nunes. A ida ao circo era também um momento que aguardava com bastante expectativa. “A primeira vez que fui ao circo foi na Feira de Santa Iria e foi bastante gratificante porque montavam as jaulas para os animais até quase às cadeiras da frente e ver animais ao perto que só víamos na televisão ou nos livros foi uma sensação bastante

uma emoção para uma criança agarrar numa arma mesmo que fosse uma simples pressão de ar. Lembra ainda que aproveitava a hora de almoço, comia à pressa, para conseguir ir à feira com um grupo de amigos. Actualmente já só vai à feira de passagem. “Já não é tão apelativa como antigamente”, confessa o empresário da Gráfica Tipomar, recordando que quando ia à feira com os pais, estes compravam-lhe sempre “um carrito ou uma camioneta” nas barracas de brinquedos.

Carlos Nunes, 38 anos, cabeleireiro forte”, conta. Recorda ainda que a Feira de Santa Iria, e também a Feira das Passas, era um lugar de culto uma vez que era nesta ocasião que se reencontravam os amigos. “Comprávamos as botas de pele com biqueiras de aço e toda a envolvência da feira criava uma certa magia”, refere.

“As pessoas do campo compravam cobertores às carradas” “Lembro-me da minha mãe ir vender os frutos secos à feira de Santa Iria. Íamos numa carroça, puxada por um macho, até à Rua dos Táxis onde estava muita gente a vender”, recorda Fernanda Lopes, que durante muitos anos ajudou a mãe nessa tarefa. Apanhavam-se os figos e as uvas, secavamse e depois de secos vendiam-se. “Era uma maneira das pessoas arranjarem dinheiro, que era pouco”, refere. Responsável, mesmo em criança nunca lhe deu para fugir para os carrosséis. O que de mais engraçado recorda da feira eram as carrinhas de vendedores ambulantes que vendiam cobertores ao quilo, com o vendedor de microfone pendurado ao pescoço. “As pessoas do campo compravam cobertores às carradas já a pensar no Inverno. Tínhamos a tradição de ir ao circo todos os anos e, quando terminava, pela uma

Fernanda Lopes, 49 anos, empresária da manhã, as pessoas esperavam, na fila, pelo táxi (o único meio de transporte disponível para quem morava mais afastado da cidade) embrulhadas às mantas que compravam”, recorda a empresária da TemplarLuz que ainda mantém o hábito de ir comer sardinhas à feira de Santa Iria.

Vítor Luta, 55 anos, empresário

“Tinha boa pontaria na barraquinha dos tiros” Vítor Luta começou a trabalhar com apenas 11 anos na extinta Gráfica de Tomar mas mesmo assim conseguia dar um salto até à Feira de Santa Iria. Lembra-se, sobretudo, de gostar da barraquinha dos tiros e de andar nos carrinhos de choque. “Tinha boa pontaria e cheguei a ganhar alguns prémios como bonecos de peluche ou uma garrafa de gasosa”, conta lembrando que era sempre


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Casimiro Serra gosta de estar na linha da frente para o que der e vier Depois de oito anos na protecção civil passou a “apagar fogos” no sector das feiras e mercados

PERSONALIDADE. Casimiro Serra confessa que já esteve três noites sem ir à cama quando era responsável pela protecção civil de Tomar

É chefe de gabinete do vice-presidente da Câmara Municipal de Tomar. No dia-adia gosta de trabalhar ao lado dos funcionários e não liga a horários se há algo urgente para resolver. Em dias de festa, se não tem qualquer responsabilidade a seu cargo, afasta-se, discretamente. Já foi responsável pela Protecção Civil de Tomar e agora é chefe de gabinete do vice-presidente, Carlos Carrão. Foi uma melhoria. Agora já não anda ao vento e à chuva? Eu não sou homem de gabinete, embora esta afirmação possa parecer contraditória num chefe de gabinete. Gos-

to de trabalhar junto dos funcionários. Tenho que estar solidário com eles até para ter a noção do que lhes custa fazer o trabalho. A maior parte das pessoas nem sabe exactamente quais são as minhas funções. Está em contacto com os funcionários e com a população. Como tem sido? A maior parte das vezes é uma boa experiência. E quando corre mal? Sou o primeiro a apanhar. Muitas vezes não sou culpado de nada mas como sou eu que dou a cara é comigo que as pessoas desabafam. Se têm que insultar o político que decidiu e não o encontram, descarregam em mim. Como é que lida com essas…descargas? Respiro fundo e tento colocar-me na pele das pessoas. A maior parte das ve-

zes as pessoas desabafam e barafustam mas a seguir acalmam-se e tentam compreender as coisas. Uma vez por outra exageram e obstinam-se. Já recebi ameaças de morte e nem sempre aguentei. Certa vez levei uma pessoa a tribunal. Ela foi condenada mas recorreu. O caso já passou e nem quis receber nenhuma indemnização. Há muitos insultos que ignoro, faço de conta que não oiço. Na maior parte das vezes, eu já sou a parte final que visa o cumprimento de uma legalidade. Nasceu em Moçambique há 50 anos. Como é que veio parar a Tomar? Os meus pais mandaram-me para Tomar em 1973, com 13 anos, para vir estudar para o Colégio Nun’Álvares Pereira. Vim para ficar até tirar um curso superior, tal como acontecia com muitos outros. Quando se dá o 25 de Abril, a minha fa-

mília regressa a Portugal e vem residir para Tomar. Eu continuei a estudar no colégio mais dois ou três anos. Em Moçambique era bom aluno mas no colégio conseguia ainda ter melhores notas. Fiquei até acabar o antigo 7.º ano. Entretanto, não segui para o ensino superior, por dificuldades financeiras. O meu pai tinha morrido em África, estava só com a minha mãe e comecei a trabalhar com 16 anos. Qual foi o seu primeiro emprego? Foi na empresa madeireira “Freitas Lopes” em Tomar. Numa primeira fase fazia caixas de empreitada. Quantas mais caixas fazia mais dinheiro ganhava. Numa segunda fase, o próprio Freitas Lopes, sócio principal da empresa, convidou-me a ficar e fiquei a trabalhar num sector que visava a inspecção e coordenação da madeira, uma vez que esta tinha que ser cortada com uma espessura rigorosa para ser exportada. Depois fui chamado para a tropa e quando regressei fui trabalhar, de noite, para a Azambuja, para a fábrica da “General Motors”, no sector de controlo e distribuição de material pela linha de montagem. Estive lá cerca de um ano. Depois trabalhei mais um ano num gabinete de desenho de arquitectura em Cascais. Mais tarde vim para os serviços municipalizados de Tomar. Assinei um contrato de três anos, havia a possibilidade de ficar, mas acabei por concorrer a um lugar de bancário na Caixa Geral de Depósitos. E como é que surge a sua ligação à Câmara de Tomar? Depois de vários anos a trabalhar como bancário, já casado e com as minhas filhas pequenas, estive três anos em Moçambique, a trabalhar na direcção de uma rádio. A partir do momento em que se tornou numa rádio partidária da RENAMO vim-me embora. Foi nessa altura que pensei em ingressar no ensino superior mas, entretanto, entrei para a Câmara em 1999. Fui convidado pelo então presidente da câmara, António Paiva, para ficar como assessor e trabalhar na protecção civil. Ressalvo que não sou funcionário da autarquia, tenho ficado por nomeação. Quem o conhece sabe que tem uma vida profissional muito intensa. A família compreende essa entrega? Há alturas em que quase não vejo a família. E, às vezes, nem lhes atendo o telemóvel. Porque as solicitações são tantas que não consigo. Há dias diabólicos. Olho para o contador de chamadas e são


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O MIRANTE | 14 Outubro 2010 mais de cem. O telemóvel acaba por nos escravizar. Telemóvel à parte gosto de trabalhar com empenho e não ligo a horários. Gosto de me sentir útil e de ajudar a resolver os problemas das pessoas. Detesto aquela visão do funcionário que acha que o seu trabalho acaba quando o relógio marca a hora de saída. É funcionário da câmara? Não. Tenho sido reconduzido através de nomeações. O mercado foi encerrado. Não está a ser fácil gerir esta situação? O edifício do mercado estava a necessitar de obras profundas e urgentes. E não se pode fazer um investimento tão vultuoso em obras e ao mesmo tempo construir um novo edifício. Isso é esbanjar dinheiro. O que lamento é que nos últimos vinte anos não se tenham feito melhorias no mercado que poderiam ter evitado o seu encerramento. A decisão política que se tem que tomar agora é: ou se reconstrói aquele edifício ou se constrói um novo edifício a curto prazo. A tenda que está lá agora tinha que ter as condições correctas para funcionar como

Um apaixonado por África e pela história da Guerra Colonial Militante da JSD desde os 16 anos, Casimiro Serra, nasceu em Lourenço Marques (actual Maputo), Moçambique, a 2 de Fevereiro de 1960. Com treze anos veio estudar para o Colégio Nun’Álvares Pereira (CNA), em Tomar e acabou por ficar na cidade. Casou e teve duas filhas, actualmente com 20 e 23 anos. Foi presidente da concelhia da JSD durante vários mandatos, da distrital da JSD e candidato a deputado nas eleições intercalares de 1979 pela Aliança Democrática. Foi o deputado mais

se fosse um edifício definitivo. Para que todas as questões fossem acauteladas, sem falha alguma. Na altura em que foi responsável pela protecção civil quais foram as situações mais graves que viveu? Lembro-me de um incêndio muito grande, num ano que não sei precisar, na freguesia de São Pedro em que, numa tarde, arderam várias casas. Orgulho-me de dizer que foi graças ao trabalho dos bombeiros, protecção civil, populares e da junta de freguesia da altura que se conseguiram salvar algumas casas. Também recordo outro incêndio na Pedreira que pôs em perigo algumas casas e algumas aldeias nos arredores. Mas a situação que eu recordo com maior drama para Tomar foram as inundações de 2000 que afectaram maioritariamente a população de etnia cigana que mora no Bairro do Flecheiro e os comerciantes e moradores da parte histórica da cidade. Foram três dias sem ir à cama. Tomar é a sua terra? Estou há 37 anos em Tomar e as minhas duas filhas nasceram cá. A minha

esposa é da Sertã mas também se sente tomarense. É obvio que Tomar, como todas as terras, também tem as suas qualidades e os seus defeitos. Uma das coisas que não gosto em Tomar é o diz-que-diz, a intriga. Em Tomar, há em demasia intriga e magoa um bocadinho porque se fazem muitas acusações anónimas e infundadas. Custa muito pedir desculpa, mas fica tão bem. Aqui há tempo exaltei-me com um vendedor do mercado porque pensava que me vinha falar de um assunto que a mãe já me tinha colocado e quando me apercebi que me precipitei, assentei os pés e pedi-lhe desculpa meia dúzia de vezes. E as coisas boas de Tomar, quais são? A história de Tomar é extraordinária. É das cidades que conheço talvez a mais bonita. Tem tradições muito interessantes. O património, cultural e arquitectónico, é fabuloso. A feira de Santa Iria que dá muito trabalho a organizar é um evento muito interessante. E, este ano, pensa ir à Feira? Eu não gosto muito de confusões.

novo com assento na assembleia municipal de Tomar, tomando posse com 19 anos. Acumulou várias experiências profissionais, chegou a frequentar o 2.º ano de Direito, na Universidade Clássica de Lisboa, mas as obrigações profissionais e familiares levaram a que não concluísse a licenciatura. Em 1999 chega à Câmara Municipal de Tomar, a convite do então presidente da autarquia, o social-democrata António Paiva para coordenar a Protecção Civil. Desde então, já “correu” quase todos os sectores da autarquia e, embora ainda seja conhecido por muitos como o homem forte da protecção civil de Tomar, onde esteve oito anos, actualmente está a trabalhar como secretário do vereador Carlos Carrão, trabalhando, com os

sectores de Higiene e Limpeza e Feiras e Mercados. Uma área que, nos últimos meses, está a ser particularmente difícil de gerir com o encerramento do edifício do mercado diário pela ASAE e a posterior montagem de uma tenda para albergar os feirantes, que ele garante estar a poucos dias de abrir. “É esgotante, ainda não fui de férias este ano”, confessa. O pouco tempo livre que tem dedica-o ao seu passatempo preferido. Coleccionar objectos e livros relacionados com África e com a Guerra Colonial, contando já para cima de seis mil livros sobre África, entre revistas, postais e fotografias. Um dos seus projectos pessoais, apoiado por amigos, passa por escrever um livro que faça uma cronologia da guerra colonial.

Quando não tenho responsabilidades na Feira de Santa Iria e não tenho ninguém de família a visitar a cidade nessa altura, saio de Tomar. O mesmo acontece em relação à Festa dos Tabuleiros. Quando a confusão é grande, e se não tiver responsabilidades no evento, prefiro ausentar-me.


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