Festa da Amizade - Sardinha Assada de Benavente

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25 Junho 2009 | O MIRANTE

Sardinha assada e largadas de toiros vão levar milhares a Benavente Festa da Amizade promete animação até de madrugada Sardinha assada, largadas de toiros e música vão animar a tradicional Festa da Amizade em Benavente. Milhares de visitantes são esperados pelos “sardinheiros” de 25 a 28 de Junho.

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inco mil toneladas de sardinha, cinco mil litros de vinho e mil unidades de pão vão ser distribuídos no sábado, 26 de Junho, um dos momentos altos da 41ª edição da Festa da Amizade – Sardinha Assada de Benavente, que decorre de 25 a 28 de Junho. Os números são dos elementos da comissão de festas, também conhecidos pelos “sardinheiros”, que esperam na edição de 2009 mais de 40 mil visitantes. São sobretudos aficcionados quem visita a festa da amizade, mas também curiosos de uma festa que conta com

mais de 40 anos de tradição. A comissão de festas é composta por 19 homens. “As mulheres e namoradas participam, mas a ajudar nos eventos para angariar fundos e durante a festa”, explica um dos elementos da comissão da festa que envolve um orçamento entre os 40 e 50 mil euros e que conta com a ajuda de empresas, junta de freguesia e câmara municipal. A festa arranca quinta-feira, 25 de Junho, às 18h00, com largada de toiros nas ruas da vila. Às 20h00 decorre o concurso de varandas com prémio para a varanda mais bonita. Uma hora depois tem lugar uma ferra no recinto da picaria. O espectáculo de sevilhanas está marcado para as 22h30 no Palco 3. Espectáculo com Sérgio Rossi no mesmo local uma hora depois. A terminar a noite, às 00h45, há vacada no recinto da picaria no Calvário. A sexta-feira abre, às 12h00, com a atribuição dos prémios do concurso de varandas. Às 17h00 decorre o concurso de montras com prémio para o primeiro lugar. A largada de toiros acontece às 18h00 nas ruas da vila. O Rancho Típico Saia Rodada (Palco 2) tem espectáculo marcado para as 20h00. Às 22h00 há desfile de fanfarras com várias corporações de bombeiros e às 00h00 espectáculo musical com a Banda Lusitana no Palco 1. A largada de toiros nas ruas da vila está marcada para a 1h30. Na quinta e sexta há uma tasquinha aberta com comércio de t-shirts e artigos de barro alusivos ao evento. Para as 9h00 de sábado, 27 de Junho, está marcada a concentração de campinos amadores e cabrestos junto às piscinas municipais. Meia hora depois há desfile pelas ruas da vila em direcção ao Largo do Calvário e às 9h45 missa campal em memória dos campinos falecidos

e entrega das medalhas aos campinos e amadores. A prova de condução de cabrestos acontece às 10h45, um pouco antes da picaria à vara larga. À tarde, depois do almoço dos campinos e amadores, é prestada homenagem, ao campino Victor (Japão) e a José Luís Lopes. Às 16h00 serão entregues os prémios aos participantes. Entrada de toiros pelas ruas da vila às 17h30. Às 21h30, depois de serem lançados 41 morteiros a assinalar a edição da festa,

dá-se início ao acender os fogareiros. Pouco depois começam a ser distribuídas as sardinhas assadas, o pão e o vinho. A noite é de música brasileira. À uma da manhã é nomeada a comissão para 2010. Antes da largada de quatro toiros no recinto. No domingo decorre o encierro de vacas entre a rua Dr Manuel Cabral Calheiros e o recinto da Picaria no Calvário. Segue-se largada de dois toiros no recinto da picaria

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O MIRANTE | 25 Junho 2009

Enfeitar varandas para “receber” na Festa da Amizade Tradição arrasta-se há mais de trinta anos em Benavente É uma tradição antiga que a comissão da Festa da Amizade reavivou há trinta anos através de um concurso. Mantas e motivos alusivos às tradições do Ribatejo enfeitam as varandas das casas.

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Jorge Afonso da Silva

s colchas de seda só se põem nas festas religiosas em honra da Nossa Senhora da Paz em Agosto e Janeiro. Nas festas típicas ribatejanas é a manta lobeira de retalhos que se usa. São raríssimas e eram feitas à mão num tear com cores e materiais típicos. São mesmo da zona. Guardo-as com muito orgulho”. Ana Berardo, nasceu há 39 anos em Benavente e mora na Praça da República. É uma das habituais participantes do concurso de varandas, uma das muitas iniciativas da Festa da Amizade criada para manter uma tradição antiga de engalanar varandas e janelas em dias de festa. “Ponho os trajes regionais, o barrete, os arreios e os estribos tradicionais ribatejanos. Quando fiz a minha primeira varanda coloquei um quadro alusivo aos campinos como forma de homenagear o meu pai que também foi campino”, diz, apontando para a pintura. Ana Berardo já venceu por duas vezes o concurso de varandas. Garante que não é a rivalidade ou o desejo de vencer que a move até porque já “fazia varandas” antes do concurso. Normalmente coloca uma canga que serve de suporte aos utensílios. Não sabe ainda como irá “fazer a varanda” deste ano mas espera que a tradição se mantenha por muitos e bons anos. “Quinta-feira tenho de ter tudo pronto. É o dia do concurso das varandas”, diz Maria Casimira Côdea que nos recebe em sua casa à procura de fotografias das varandas enfeitadas nos anos anteriores. Mas só encontra uma. Natural da terra tem 68 anos e há mais de trinta que decora a rua onde mora. “Só não enfeito as portas das vizinhas porque elas não deixam. Tenho orgulho nisto e em todas as festas de Benavente”, confessa enquanto vai buscar material que usará no concurso deste ano. “Já fazia varandas. Agora tento fazer melhor. Se não ganhar também não há problema”, garante com um sorriso franco. “Cristiano, como é que nasceu a festa da amizade?”, pergunta Maria Casimira ao seu marido de 64 anos que se encontra no quarto. “Começou como sendo uma festa de pessoas importantes cá da terra. A primeira festa da sardinha assada

tinha até duas vertentes. De um lado estavam os fogareiros para o povo e do outro juntavam-se os restantes. Com o andar dos tempos acabou-se com essa particularidade dos ricos e dos pobres”, recorda Cristiano Côdea. Demonstrar o orgulho que é ser ribatejano e que se está numa terra de campinos é o que leva Maria Casimira Côdea a ter tanto fervor por esta festa e pela tradição de enfeitar as varandas. Mãe de campinos guarda religiosamente todo o material que foi adquirindo ao longo dos anos. “Não são colchas, são mantas. O senhor não conhece? (Esclarece mais uma vez o jornalista apontando para a manta). Há pessoas antigas do campo que sabem que gosto e oferecem-me as mantas. Uma vizinha deu-me quatro. Uso também chocalhos, peneiras. Tudo o que seja tradicional e que consigamos arranjar”, revela num tom alegre e contagiante, Maria Côdea. Garante que não há rivalidade entre os participantes e diz que até foi pedir “coisas” para enfeitar a sua varanda a outras pessoas da terra. Já em final de conversa, deixa um desejo em forma de repto. “A tradição é para manter”, vaticina Maria Casimira Côdea que também já venceu um concurso de varandas. Continuamos a viagem e paramos à saída da vila de Benavente em direcção a Samora Correia. À nossa espera está Paula Chitas “Poeta”. Com 35 anos e natural de Benavente, foi uma das responsáveis pelo lançamento do concurso. “Falei com a comissão organizadora e fiz a proposta para que se realizasse”, refere. Mas deixa um lamento. “As pessoas aqui não são muito bairristas. Como estou à entrada da vila pensei que tivesse mais impacto, mas elas não participam”. A manta tradicional não poderia faltar na sua varanda. “Depois é procurar roupas e coisas que tenham a ver com a sardinha assada como o fogareiro ou com o campino, que é o centro da festa. Demoro cerca de meia hora a “fazer a varanda”, assegura Paula “Poeta”. Quanto ao simbolismo. “É puxar pela vila e por esta festa que é bastante antiga e que arrasta milhares de visitantes. Como estamos na entrada, queremos dar uma imagem bonita logo que se chegue à nossa terra”, diz a jovem enquanto aponta para a foto que guarda de uma das suas últimas varandas enfeitadas. Já conseguiu ficar em terceiro lugar. Normalmente à quarta-feira à noite as varandas ficam prontas. Esta quintafeira será feita a visita do júri por todas as casas participantes para assim decidirem quem ganhará o concurso de varandas deste ano em Benavente

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TRADIÇÃO. Campinos nas ruas e mantas nas varandas

MEMÓRIA. “Poeta” leva meia hora a “fazer a varanda”

foto O MIRANTE

foto arquivo O MIRANTE

DEDICAÇÃO. Maria Côdea já “faz varandas” há mais de 30 anos

ESPÓLIO. Ana Berardo tem orgulho nas suas “relíquias”

foto O MIRANTE

foto O MIRANTE


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25 Junho 2009 | O MIRANTE

A festa que trouxe a moda da “sardinha assada à borla” Em Benavente os comerciantes aguardam a chegada da Festa da Amizade – Sardinha Assada e os clientes que chegam por arrasto.

São dias de animação com um evento popular que lançou “a moda da sardinha assada à borla”.

Apostar no trabalho Festa nem sempre para aguentar o negócio é sinónimo de mais clientela Maria Fernandes, comerciante

Comércio tradicional com os dias contados Carlos Santos, comerciante

A tradição da sardinha assada Maria Martins, comerciante

Maria Clarinda, comerciante Maria Fernandes, natural de Benavente, confessa que o negócio está difícil mas ressalva que sem trabalho duro só pode piorar. “Não podemos desistir. A nossa sobrevivência depende do bom trabalho”, garante. Escolheu Benavente para instalar o seu negócio pela sua proximidade. Ao fim de largos anos de actividade diz que não está arrependida. “Não podemos ser muito ambiciosos porque isto está muito lento. Mas viver sem nada é ainda pior”. Maria Fernandes diz que as festas de Benavente “já não são o que eram” devido a alguns episódios menos civilizados. “Tem havido menos agradáveis”, lamenta.

Nascida e criada em Benavente, Maria Clarinda tem negócio montado há 28 anos. Já correu bem mas hoje atravessa “muitas dificuldades”, sobretudo desde os últimos quatro anos devido à forte concorrência. “Mas ainda vai dando para comer graças a alguns clientes bons e regulares”, garante. Quanto à festa, Maria assegura que a chegada de visitantes não é sinónimo de mais vendas na sua loja. Considera a festa importante, mas não gosta de ver a sujidade na sua fachada e por isso apela a mais cuidado.

Desde criança que Carlos Santos está ligado ao comércio. Foi caixeiro em Benavente, esteve por Lisboa e fundou uma pequena loja na vila quando regressou. Diz que gosta de vender em Benavente, embora o negócio esteja fraco. “O chamado comércio tradicional, tem tendência a acabar”. Garante que vai dando para viver porque “não pago a empregados nem pago renda, senão já tinha fechado”. Diz que a festa pode significar um dia de boas vendas e vai ter a porta aberta. “É a melhor festa que se realiza em Benavente. Sempre foi e continua a ser”, assegura. “Já não como sardinhas, mas vou ver quem passa”.

Nascida em Benavente, Maria Martins diz que a “escolha natural” para montar o seu negócio seria em Benavente. A vila vai gerando receitas suficientes para aguentar o negócio. “Temos algumas dificuldades, claro, como toda a gente, mas acho que ainda vamos conseguindo viver. Felizmente tenho a loja bem situada”, assegura. Para a nossa interlocutora a festa de Benavente é a “genuína”: “foi a primeira terra a ter esta festa, com sardinha assada à borla. Hoje em dia há muitas cópias pela região”, lamenta. Para esta comerciante, a festa é importante para divulgar a vila e representa o espírito do Ribatejo.

foto arquivo O MIRANTE


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