FESTAS DE SANTA IRIA - TOMAR

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Vindimas indicam ano de grande qualidade apesar de menor produção a comissão Vitivinícola Regional (cVR) do Tejo prevê um ano de “excelência” na qualidade dos vinhos produzidos na região, embora registe uma quebra na quantidade que poderá rondar os 25 a 30 por cento, devido aos ataques de míldio registados no final da Primavera. José Gaspar, presidente da cVR Tejo,

disse à agência Lusa que as vindimas, que na região começaram no início de agosto, decorreram “muito bem”, com mostos a perspectivarem vinhos “muito equilibrados” e “frutados”. Segundo disse, as perdas nas cooperativas chegaram a rondar os 50 por cento, tendo sido bastante menores nos privados.

José Gaspar realçou o facto de a região estar a registar um crescimento significativo nas exportações - um aumento de 52 por cento no primeiro semestre do ano em comparação com o período homólogo -, o que atribuiu ao esforço de promoção externa que a cVR Tejo tem desenvolvido em parceria com os principais agentes económicos.

Economia

O MIRANTE 13 de Outubro de 2011

Fusão de empresas dá origem a Moneris Risa

Identidade Profissional

Gerir um negócio rodeado de animais

O CEO do Grupo Moneris considera que esta fusão só traz vantagens e pretende consolidar a relação de proximidade com as empresas da região. Na foto Rui Pedro Almeida, CEO da Moneris (esq.), e Jorge Pires, Director Geral da Risa 11

Jorge Cinturão é proprietário da “Zooamazónia” 6 Empresa da Semana

Libersucesso prepara abertura de novas lojas Uma empresa que forma comerciais para trabalhar no terreno 7 Três Dimensões

Alistei-me na Força Aérea e ganhei alergia a fardas Joel Marques, presidente da Junta da Carregueira 10

Especial

Inscrições abertas para formação de formadores na Nersant

Feira de Santa Iria em Tomar aposta nos usos e costumes genuínos De 14 a 23 de Outubro na Várzea Grande, em simultâneo com a “Feira das Passas” na Praça da República. O certame vai funcionar dentro dos moldes habituais, com os divertimentos, vendedores e exposições 2

Credores da Aquino Construções criam plano de recuperação da empresa

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EMPREGOS

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claSSificadOS

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13 OUTUBRO 2011 | O MIRANTE

Feira de Santa Iria em Tomar aposta nos usos e costumes genuínos De 14 a 23 de Outubro na Várzea Grande em simultâneo com a “Feira das Passas” na Praça da Repúblicaw

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resença anual do calendário das romarias da região, a Feira de Santa Iria regressa ao recinto da Várzea Grande, em Tomar, entre os dias 14 e 23 de Outubro. De um modo global, o certame vai funcionar dentro dos moldes habituais, com os divertimentos, vendedores e exposição de automóveis, motos e tractores agrícolas centrados na Várzea Grande enquanto a Praça da República acolhe mais uma vez a Feira das Passas. Este ano, de acordo com a autarquia, há um acréscimo de comerciantes, com a presença de mais fazendeiros na Feira das Passas. Para além dos divertimentos e carrosséis da praxe, o programa de animação musical é vasto, com os espectáculos a decorrer num palco montado junto do Tribunal Judicial da cidade. Um dos momentos mais aguardados tem lugar na quinta-feira, 20 de Outubro, dia de Santa Iria, com a evocação do martírio de Santa Iria através do lançamento de pétalas ao rio por mais de mil crianças dos jardins-de-infância e escolas do 1º ciclo do concelho. Este ano a missa será na igreja de Santa Maria dos Olivais, pelas 10 horas, com o cortejo a partir dali pelas 11 horas, seguindo pela Rua de Santa Iria, Avenida General Norton de Matos, Avenida Ângela Tamagnini, Rotunda Raul Lopes, Alameda Um de Março, Rua Marquês de Pombal e terminando na Ponte Velha com o lançamento de pétalas ao rio. A organização do certame refere que “por mais anacrónica que esta feira” mercantil possa parecer nos dias de ho-

Cartaz musical: Dos “Ganda Malucos” a Quim Barreiros O programa de animação da Feira de Santa Iria conta com dois espaços distintos para acolher os espectáculos: a Praça da República (durante as tardes de fim-de-semana) e o palco da Feira, junto à Várzea Grande, em parte das noites. Assim, e por ordem cronológica, na sexta-feira, dia 14 de Outubro, actuam os “Ganda Malucos” (21h30 no Palco da Feira). Já no sábado, 15, as actuações estão a cargo do Rancho Fol-

foto arquivo O MIRANTE

FIM. O Poço da Morte marcou presença na última feira, numa das últimas actuações de Henrique Amaral je, continua a arrastar muitos milhares de pessoas e a marcar o mês de Outubro em Tomar. Este ano a Feira de Santa Iria não vai ter Poço da Morte uma vez que o seu protagonista, Henrique Amaral, abandonou a actividade aos 81 anos mas não vão faltar os carrinhos de choque, as barraquinhas de algodão doce nem os tradicionais mercados de rua onde os feirantes tentam vender recorrendo à brejeirice de certos pregões. Também os sabores da região voltam a marcar presença nas

tasquinhas, situadas no Mercado Municipal. Registo ainda para a exposição de trabalhos escolares (do jardim-de-infância ao ensino superior) que abordam, de forma original, toda a temática de Santa Iria. Esta exposição está patente na Casa dos Cubos, junto à Rotunda Alves Redol, sendo inaugurada por uma comitiva que irá visitar a Feira de Santa Iria no dia 14 de Outubro, às 17h30, data da inauguração do certame

clórico do CIRE (15h30 horas, na Praça da República) e do Rancho “ Os Camponeses de Minjoelho” (16 horas no mesmo local), enquanto João Marcelo pisa o Palco da Feira às 21h30. No domingo, 16 de Outubro, será o Rancho Folclórico “ Os Canteiros da Pedreira” a actuar na Praça da República às 15 horas. Na quinta-feira, dia 20 de Outubro, destaque para a actuação, no Palco da Feira, do popular Quim Barreiros, que começa a cantar pelas 21h30. Na sexta, 21, à mesma hora, pisa este mesmo palco a Tuna Templária. No sábado, 22, passam pela Praça da República o Rancho Folclórico S. Miguel de Carregueiros (15 horas) e o Grupo de Cantares Regionais

“ Os Templários” (16 horas), enquanto a noite no Palco da Feira será de Nemanus (21h30). Finalmente, no domingo, 23 de Outubro, actua pelas 16 horas na Praça da República, o Rancho Folclórico “Os Camponeses da Peralva” que encerra as festividades.

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ACTUAÇÃO. O Rancho do CIRE actua na Praça da República no próximo sábado

Um rancho folclórico muito especial Dezasseis adultos que superam as suas limitações quando dançam A dança é uma actividade terapêutica para utentes do Centro de Integração e Reabilitação de Tomar (CIRE). Na Feira de Santa Iria sobem ao palco no próximo sábado pelas três da tarde, na Praça da República.

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omos encontrá-los bem-dispostos, alinhados aos pares, prontos para mais um ensaio que decorre todas as segundas-feiras, pelas 14 horas, numa sala polivalente. Os 16 elementos do Rancho Folclórico do Centro de Integração e Reabilitação de Tomar (CIRE), oito homens e oito mulheres, começam a dar mostras do que já sabem segundos após António Silva, animador cultural da instituição, colocar “As Pombinhas da Catrina” a soar na aparelhagem. Fazem uma roda e são observados de perto pelas monitoras Teresa Macedo e Teresa Duarte que os fazem acertar o passo. “Tiago, tens que bater as palmas três vezes. Nós vimos que bateste apenas duas vezes”, emendam. Os três ensaiadores deste rancho muito especial não possuem formação em folclore mas conseguem levar a bom porto os ensaios. Todos os membros se empenham em dar o seu melhor como o público pode comprovar no próximo sábado, 15 de Outubro, pelas 15 horas, na Praça da República. Uma actuação que é feita no âmbito da Feira de Santa Iria deste ano, com o espectáculo a prometer emocionar a assistência. “Estamos a falar de pessoas com deficiência que estão a dançar em cima de um palco e fazem autênticas maravilhas. Se calhar nós não conseguimos dançar. Afinal quem é o deficiente?”, sublinha António Silva que, aos 64 anos, não abdica de trabalhar com “os seus meninos”. O Rancho Folclórico do CIRE existe, praticamente, desde que a instituição foi fundada, em Fevereiro de 1976. No início, consistia em apenas dois ou três pares mas, quando a instituição passou a ter um Centro de Actividades Ocupacionais (CAO), em 1996, estes monitores decidiram que seria importante não só manter como alargar o número de participantes do rancho, todos com idade superior a 20 anos, que foram escolhidos por mostrarem estar à altura deste desafio. Os ensaios do rancho duram em média 30 minutos. As “modas” dançadas são as típicas do folclore tradicional português mas a coreografia é quase sempre adaptada conforme a resistência física dos

elementos do grupo, muitos deles com Trissomia 21. No dia do espectáculo há um jogo entre dança e entretenimento. “Fazemos oito, nove danças, com algum palavreado pelo meio uma vez que sou eu que apresento, e assim passam os 20, 25 minutos”, explica António Silva. Em cima de um palco, o grupo apresenta-se sempre vestido a rigor.. Elas vestem saias pretas e camisas de diversas cores, os rapazes com calça escura, colete, camisa branca e laço preto. Algumas peças são dos próprios utentes, outras são fornecidas pela instituição. O mais gratificante, para a equipa destes três monitores, é sentir o prazer que estes utentes do CIRE têm em dançar e actuar para o público onde, muitas vezes, se encontram rostos familiares. “Acaba por ser um trabalho onde desenvolvem as suas capacidades nas vertentes social, motora, psicológica e física”, complementa. “São tão capazes de fazer isto como os outros. Levam mais tempo a aprender, é certo, mas também conseguem dançar dentro do compasso e obedecer às coreografias”, aponta o monitor cultural que trabalha no CIRE há 32 anos. Em média, o rancho actua duas vezes, um pouco por todo o país, tendo já actuado no Pavilhão Atlântico. Quando a música pára, todos se sentam em silêncio, a descansar, enquanto a nossa conversa se desenrola. É então que Eduardo Gomes, 26 anos, vem ao nosso encontro para tentar explicar porque gosta tanto de pertencer ao rancho. “É muito bonito e divertido”, solta, acrescentando que a sua dança preferida é “A Escovinha” e que também participa no grupo de teatro. Mas a música de eleição de todo o grupo é “O Apanhar do Trevo”, diz Américo Pereira, 46 anos, um dos utentes mais antigos do CIRE.”Eles levam isto muito a peito para fazer um trabalho como deve ser. É complicado às vezes mas muito recompensador”, atalha Teresa Macedo, acrescentando que todos ficam felizes quando sentem que as danças são bem executadas. Por norma, o público que assiste à exibição do Rancho do CIRE acaba sempre por aplaudir de pé e com lágrimas nos olhos. Talvez porque tenham acabado de presenciar um compasso acertado como nunca imaginaram ver

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De um modo geral todos fazem o que faziam antes da crise

13 OUTUBRO 2011 | O MIRANTE A Feira de Santa Iria não deve acabar porque para tristezas já basta o que basta e o povo precisa de alguma animação. Esta é uma das ideias que fica após as entrevistas feitas a alguns cidadãos de Tomar. Todas elas dizem que pouco mudou nas suas vidas desde que os meios de comunicação social e os políticos começaram a agitar o espantalho das “mil e uma desgraças”. E há uma revelação interessante. Todos garantem que já eram poupados e que não viviam acima das suas possibilidades. Que a Padroeira os proteja e os livre de caloteiros poderiam ser os desejos a endereçar a quem falou connosco.

Ana Marta Nunes, 38 anos, Técnica Oficial de Contas, Tomar

João Lourinho, 74 anos, empresário, Tomar

Júlio Figueiredo, 41 anos, Optometrista, Tomar

Celso Carvalho, 33 anos, técnico agrícola, Tomar

Maria Hortense Leonardo, 55 anos, Esteticista, Tomar

“Quando nos falta o chão temos que dar um passo em frente”

“Se não fazem a Feira de Santa Iria é uma carga de trabalhos”

“A crise é apenas uma pedra no caminho”

“Feira de Santa Iria ajuda a desanuviar o ambiente”

“Quando as pessoas vão à Feira não estão a pensar na crise”

A crise não a levou a jogar mais vezes no Euromilhões nem a deixar de comprar jornais, por exemplo, mas mudou a sua vida noutros aspectos. Optou por reduzir os gastos mais supérfluos e passou a dar mais atenção ao preço dos bens alimentares optando muitas vezes por comprar produtos de “marca branca”. Faz também um esforço para consumir produtos de origem portuguesa e tem ainda o cuidado de reduzir gastos com electricidade e comunicações, passando a ser mais criteriosa no que concerne à escolha de seguradoras. “Se antes pedia um ou dois orçamentos, agora peço quatro ou cinco”, explica. A crise não a levou a aumentar o preço dos serviços que presta. “Apesar das nossas obrigações fiscais serem superiores e o trabalho e o acompanhamento prestado aos clientes ser igual ou superior temos que atender que estamos em crise e todos temos que colaborar e fazer com que se aguentem no mercado”, diz. Optimista, refere que a crise sempre existiu e, embora mais agravada, as pessoas não podem baixar os braços e devem agarrar as oportunidades que lhes possam surgir. “Quando nos falta o chão temos que dar um passo em frente”, afirma. A Feira de Santa Iria de Tomar é, para a nossa interlocutora, um ponto de animação e dinâmica da cidade, trazendo visitantes de muitos locais do país. A sua realização é, na sua opinião, positiva e, para além da dinâmica comercial, recria uma tradição de feira mercantil que deve ser preservada.

O fundador da Avicentro - Sociedade de Produtos Avícolas em Tomar, diz que faz praticamente a mesma vida desde que a crise se acentuou uma vez que sempre fez da poupança uma máxima de vida, limitando-se a viver dentro das suas possibilidades. “Conforme amealhava, investia”, refere, acrescentando que conhece bem as dificuldades da vida pois teve que recomeçar do zero há mais de trinta anos quando perdeu tudo o que tinha em África. Confessa que a actual situação o surpreendeu numa fase em que já contava com maior estabilidade. “Se for preciso ainda arregaço as mangas e agarro numa máquina para limpar mato”, afiança para mostrar a sua determinação mas confessa que está apreensivo. Com alguns créditos a receber, ainda não recorreu a uma empresa de cobranças difíceis preferindo recorrer aos tribunais, apesar de achar que de pouco vale porque as pessoas estão falidas e a despesa com o advogado acaba por ser penalizadora. Em relação à Feira de Santa Iria diz que pode contribuir para que as pessoas esqueçam as amarguras uma vez que é bastante apreciada pelas populações. “Se não fazem a Feira de Santa Iria é uma carga de trabalhos. O dinheiro pode faltar para tudo mas para a festa tem que haver”, aponta, apesar de considerar que muitos visitantes vão à Feira mais para ver do que para comprar.

Considera que muitas pessoas ainda não têm a noção real da crise que está instalada e que, neste momento, toda a gente devia poupar. Celso Carvalho, que trabalha na manutenção de herdades agrícolas, sente na pele o que é a crise há muito tempo e, nos últimos tempos, ainda mais. “Deixei de sair tanto à noite ou de ir tantas vezes ao café”, exemplifica. O tomarense considera que as empresas, numa situação de incumprimento devem recorrer ao diálogo ao invés de contratarem serviços de cobranças. “Há muita gente com a corda na garganta que vende os seus bens ou faz empréstimos para pagar as dívidas. Penso que deve haver compreensão nesta situação e tentar entrar num acordo”, refere. Apesar da crise, refere que ainda consegue ver “a vida a cores” pelo que tenta viver o dia-a-dia com base no dinheiro que tem, conseguindo ainda ter dinheiro para sobreviver. “Sei de pessoas que davam bens alimentares a instituições e agora são elas que recorrem à ajuda das mesmas”, diz. A Feira de Santa Iria deve realizar-se, na sua opinião, todos os anos mais que não seja para ajudar a desanuviar o ambiente e trazer movimento à cidade. Apesar de sentir que as pessoas vão mais à Feira para ver do que para comprar, o que antigamente não acontecia. “As pessoas podem comprar um brinquedo para os filhos ou um saco de pipocas mas não vai além disso”, lamenta.

Os preços não subiram na clínica “Vénus” nos últimos dois anos e os clientes não diminuíram. As suas rotinas também não se alteraram desde que a crise estalou, sendo obrigada a almoçar todos os dias fora de casa uma vez que reside longe do local de trabalho. “Estou mais protegida nesta altura porque nunca fui além das minhas possibilidades. Não sou uma pessoa esbanjadora e tenho consciência do que realmente preciso e do que é supérfluo. Além disso sou uma pessoa positiva”, refere. Trabalhando num ramo muitas vezes considerado como um luxo, nunca necessitou de recorrer a uma empresa de cobranças difíceis, sublinhando a lealdade dos clientes neste ponto. “Só tive uma cliente, de Lisboa, que me ficou a dever cem euros de tratamentos mas já foi há uns anos”, refere, acrescentando que quando as pessoas recebem a prestação dos seus serviços têm que estar conscientes das despesas que também tem com os fornecedores, renda, água ou luz. Em relação à Feira de Santa Iria considera que é uma “feira bonita, que atrai muita gente” embora gostasse mais de ver a Feira das Passas junto da Várzea Grande ao invés de ser na Praça da República. “Quando as pessoas vão à Feira não estão a pensar na crise”, refere, soltando uma agradável gargalhada.

O responsável pela Loja “Multiópticas” aberta há 11 anos na Alameda Um de Março, refere que, apesar da crise, toda a sua equipa mantém um espírito optimista. Não obstante admite que, de algum tempo a esta parte, adoptou alguns cuidados na gestão da loja, por exemplo, prestando mais atenção às luzes ligadas ou verificando se, no final do dia, as máquinas ficam desligadas. “Estamos atentos a estes pormenores porque os custos, hoje em dia, são um factor importante no negócio”, sustenta, acreditando que com trabalho e dedicação diária consegue-se contornar a crise. A nível pessoal refere que já controla mais as idas ao cinema ou os jantares em restaurantes. Quanto aos preços praticados na óptica, refere que a crise o levou a fazer “pequenos ajustes” mas seguiu a política da Multiópticas, tentando compensar o momento com uma oferta alargada em termos de preços e desenvolvendo campanhas para todos os bolsos. “Não queremos que ninguém sinta que não pode comprar óculos porque são caros”, atesta. O que a crise não conseguiu foi afectar a sua boa disposição. “Acordo todos os dias, olho para o espelho e digo que vai ser um dia extraordinário. Não penso na crise. É apenas uma pedra no caminho”, refere. Já a Feira de Santa Iria é, na opinião do nosso interlocutor, benéfica para a cidade, trazendo muitas pessoas de fora e fazendo com que os tomarenses se animem e sintam que a cidade “mexe” por estes dias.


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O MIRANTE | 13 OUTUBRO 2011

Vítor Luta, 57 anos, tipógrafo, Tomar

“As pessoas já deixaram de ter vergonha de dever dinheiro” Habituado a ser poupado desde criança, não mudou os seus hábitos devido à crise económica apesar de optar por ser ainda mais cuidadoso com as compras que faz fora de casa. Gerente da Tipografia Tipomar, confessa que ainda não recorreu a nenhuma empresa de recuperação de créditos mas a ideia já esteve mais longe da sua cabeça. “A parte pior deste, e penso que de qualquer outro ramo, é conseguir cobrar o que nos devem pelos trabalhos que fazemos. As pessoas já deixaram de ter vergonha de dever dinheiro e isto tem tendência para piorar”, refere. O problema da acumula-

ção de dívidas de clientes, que chegam aos três e quatro anos, passa por também lhe ser mais difícil cumprir os seus compromissos aos seus fornecedores. “Esses não me perdoam. Chega aquele dia e se eu não pago cortam o fornecimento”. Relativamente à Feira de Santa Iria considera a sua realização positiva embora sinta que “já não é o que era dantes”, recordando que muitas pessoas do campo vinham, de propósito, para comprar roupa para o Inverno. “Hoje as pessoas vêm à Feira de Santa Iria, sobretudo, para passear e ver quem está a passear. As compras, essas, fazem-nas nas grandes superfícies”, afirma.

“Já vivia em crise antes de haver crise” Garante que mantém os mesmos hábitos desde que a crise veio para ficar. “Já vivia em crise antes de haver crise”, confessa bem-humorado, acrescentando que tendo nascido numa família de origens humildes e financeiramente pouco abonada foi educado a viver apenas com o fruto do suor do seu trabalho. “Sou bastante comedido no que diz respeito a gastos porque acho que temos que ter o cuidado de antever as situações e de preve-

“Tento ver a vida o mais colorida possível” O pai ensinou-a a ser poupada e o ensinamento nunca foi esquecido, pelo que não modificou a sua vida desde que a crise ficou mais evidente em Portugal. “O facto de ter estudado fora e o nascimento de duas filhas contribuiu para que soubesse dar ainda maior importância à poupança”, refere. Mesmo assim dá por si a desligar as luzes e a pedir às filhas que tomem banhos mais curtos. A crise também se

Maria João Fael, 37 anos, Médica Veterinária, Tomar repercutiu no seu negócio uma vez que teve que incluir nos preços praticados a subida do IVA.

João Sousa, 45 anos, pedreiro, Porto Mendo (Madalena) Tomar nir o futuro”, avisa. Em tempos teve que recorrer ao Tribunal de Trabalho para conseguir que lhe pagassem o ordenado,

Apesar disso não mexeu nos preços uma vez que, na sua opinião, a crise faz-se sentir ainda mais numa cidade como Tomar. Apesar de nunca ter recorrido a uma empresa de cobranças, confessa que a ideia já lhe passou pela cabeça, embora a contratação destes serviços também seja dispendioso. Não se sente deprimida porque tenta ver sempre a vida o mais colorida possível. Em relação à Feira de Santa Iria, a Maria João considera que pode servir para animar o estado de ânimo das pessoas,

referindo que, num estado que se quer democrático, não faz sentido fazer justiça pelas próprias mãos. Como nunca quis dar um passo maior do que as pernas diz que a crise não afectou nem a sua saúde física nem a moral. “Ainda não precisei de antidepressivos mas há muitos que talvez já o tenham feito. O problema maior desta crise resulta no facto das pessoas cometerem excessos e viverem acima das suas possibilidades, acabando sobre endividados”, refere. Em relação à Feira de Santa Iria considera que é uma data “extraordinária” no calendário anual das festas e romarias de Tomar.

tal como outros eventos que têm ocorrido em Tomar. “É sempre bom ter cultura e movimento numa cidade tão bonita como a nossa mas que tem elevados riscos de ficar estagnada com esta crise”, considera.


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