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23 Julho 2009 | O MIRANTE

Luís Justino não se recandidata a presidente Presidente da Junta de Alcanhões alega razões pessoais e profissionais e fica como número dois na lista socialista à junta

EXPERIÊNCIA. Autarca sai satisfeito do mandato à frente da sua terra

Mónica Sintra é cabeça de cartaz da Feira de Santa Marta em Alcanhões Dias 24, 25 e 26 de Julho na praça Gláuco Oliveira, perto da junta de freguesia

A

cantora Mónica Sintra é cabeça de cartaz da Feira de Santa Marta que decorre em Alcanhões, concelho de Santarém, dias 24, 25 e 26 de Julho. A artista sobe ao palco às 23 horas de sábado, dia 25. A noite de sexta-feira é dedicada ao

fado, com Anita Guerreiro, João Chora, Célia Leiria, Alberto Leiria e Mafalda Martinho, acompanhados por Pedro Amendoeira à guitarra, Rui Girão à viola e Nani na viola baixo. Os concertos terminam na noite de domingo (22h30) com a actuação de Lenysabel. Mas ao longo dos três dias, na praça Gláuco Oliveira, há muitas outras actividades além da música. Tasquinhas das associações da terra disponibilizam petiscos e o bom vinho da freguesia. A diversão dos mais novos é assegurada por insufláveis e por um carrossel. Na zona da festa há comércio de quinquilharia, roupas, calçado, bijutarias, vidros e outros artigos

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O presidente da Junta de Freguesia de Alcanhões, Luís Justino (PS), não se vai recandidatar ao cargo como cabeça de lista. A decisão foi tomada pelo autarca em Setembro de 2008 e, segundo o próprio confirmou a O MIRANTE, a decisão prende-se com motivações pessoais e profissionais. “Gosto muito de ser presidente de junta mas este cargo exige muita disponibilidade em horário pós laboral, o que prejudica muito o convívio familiar. Apesar das muitas insistências do PS para que eu continuasse à frente da junta, irei limitar-me a ficar no segundo lugar da lista do PS”, explica Luís Justino. Com 32 anos e engenheiro mecânico de profissão, Luís Justino deixou de trabalhar em Lisboa e passou a fazê-lo em Azambuja para estar mais perto da família. Segundo diz, quer voltar também a ter uma acção mais importante junto das actividades da catequese da vila. O cabeça de lista escolhido pelos socialistas é Pedro Mena Esteves, irmão de Luís Mena Esteves, presidente da Junta de Azoia de Cima, que mora há vários anos em Alcanhões. Variante à linha do Norte continua a ser pedra no sapato Para Luís Justino o mandato que termina em Outubro foi positivo para Alcanhões, apesar de terem ficado por fazer três obras consideradas essenciais: a variante às Assacaias para evitar o atravessamento da linha do Norte pela

foto arquivo O MIRANTE

passagem de nível; a construção da casa das colectividades; a inexistência de tratamento de esgotos pelo facto de vários colectores de esgoto não terem ligação à estação de tratamento de águas residuais e correrem a céu aberto. Segundo Luís Justino, há acções positivas que ficam do seu mandato, como a recuperação dos seis fontanários da freguesia, a requalificação da sede da junta, a ampliação e requalificação do mercado diário e o asfaltamento de duas estradas de terra batida da freguesia cujas candidaturas foram aprovadas no âmbito do programa Agris: a variante desde o Paúl de Santo António até à saída da vila em direcção a Santarém e a estrada da Adega Cooperativa de Alcanhões, investimento conjunto de 520 mil euros. Seis fontes de cara lavada Se há terra que não tem falta de água é Alcanhões, ou não tivesse a freguesia seis fontes de onde brota água todos os dias do ano. Recentemente as fontes foram recuperadas pela junta de freguesia, valorizando património e as memórias ligadas à utilização das fontes. Quer para dar de beber a animais, aos trabalhadores como pela utilização de lavadeiras ou simplesmente crianças que se refrescavam em dias de calor intenso. São as fontes do Botão, do Povo, de São Pedro, de Santo António, das Hortas e de Santa Marta, que tem água potável e foi local de antigas termas da freguesia. É também Santa Marta padroeira da freguesia.


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O MIRANTE | 23 Julho 2009

O arelho é um petisco muito apreciado em Alcanhões Não há restaurante da região que os utilize mas quem prova fica a gostar Os arelhos são parecidos com alhos franceses. Existem no campo e são apanhados na Primavera. A designação da planta nem sequer vem no dicionário. Servem-se guisados ou assados a acompanhar bacalhau.

É

principalmente no meio das vinhas que nasce naturalmente o Arelho. Aparece entre Fevereiro e Março, quando o tempo vai chuvoso. A rama verde indica o local onde está. O arelho tem uma cabeça parecida com a do alho francês mas maior e um caule branco, geralmente com o tamanho de um palmo. Em Alcanhões há várias gerações que o arelho é acompanhamento para bacalhau guisado em alternativa o arelho é assado, para muitos um pitéu. António Graça e Manuel Valador são dois apreciadores do petisco. Costumam reunir uma dezena de amigos na adega do primeiro e não raras vezes dão conta de oito quilos de arelhos ao longo de uma tarde de convívio. O sabor do arelho é menos pronunciado que o da cebola e mais intenso que o do alho francês, explicam. Assado, garantem, é excelente. Basta

escolher os arelhos de cabeça mais pequena e aplicar-lhes um pequeno golpe. Vão à assadura e comem-se simples ou com os temperos que lhes queiram dar. Uns colocam piri-piri, outros preferem uma pitada de sal. O vinho de Alcanhões é o acompanhamento certo do petisco. O único inconveniente, garantem, é que os arelhos provocam bastantes gases. Mas nada que não se suporte, dizem a rir. Manuel Valador chega a apanhar 40 quilos de arelhos em meio hectare de vinha. Boa parte deles são para congelar. Para isso são escaldados primeiro. “Ficam mais tenros”. Os arelhos têm sido apenas apreciados em convívio entre amigos e não se conhece que algum restaurante da vila ou de fora os integre nas suas ementas. “Se calhar até dava um bom produto para um evento gastronómico ou para algum restaurante dar a conhecer melhor na sua época”, sugere Manuel Valador. Além dos arelhos há outras plantas que nascem selvagens e são aproveitadas para cozinhados. Os cardos, plantas espinhosas, e as ineixas, parecidas com o grelo do nabo, dão boas sopas, asseguram os adeptos dos arelhos. Os cardos, depois de retirada a pele, também são bons acompanhamentos de feijão branco ou arroz e acompanhados de morcela ou farinheira

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ALCANHÕES. Manuel Valador é um dos adeptos dos arelhos

foto arquivo O MIRANTE


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Alcanhões vista por quem lhe conhece qualidades e defeitos Junta de freguesia liderada por boa rapaziada Rodrigo Santos, 77 anos, industrial, Alcanhões Rodrigo Santos recorda-se com saudade da antiga Feira de Santa Marta. Toda a gente criava borregos e outros animais e ia lá fazer negócio, mas também os vendedores de melões. Actualmente a feira está mais centrada nos concertos musicais. Ainda assim, Rodrigo Santos continua a frequentar a festa. “Gosto por ser tradicional mas antigamente havia mais convivência e quem fazia a feira eram as pessoas

na vila. Elogia o trabalho da Junta de Freguesia. Está à espera do museu agrícola, para o qual o morador quer oferecer uma máquina. Para o museu já devia ter ido há muito tempo a passagem de nível das Assacaias.

buir mais para as organizações da terra e participar mais. E eu contra mim falo. Vou à Feira de Santa Marta para ver o am-

biente e os ranchos folclóricos, mas não vou lá todos os dias”, confessa. Também lamenta a degradação do centro da vila. “As pessoas têm um terreno aqui e ali e constrói-se um pouco à toa. O centro está degradado e os proprietários pedem muito dinheiro. Depois as acessibilidades são complicadas. E a passagem de nível das Assacaias é uma dor de cabeça. Também seria importante ter uma colectividade que juntasse todas as associações de terra”.

Habitantes de Alcanhões deviam ser mais bairristas Tomás Leiria, 58 anos, comerciante de combustíveis, Alcanhões Há 17 anos a abastecer viaturas no posto de combustível da principal rua da vila de Alcanhões, Tomás Leiria tem sugestão para dar em relação à segurança naquele local. Criar mais passeios e regular o estacionamento desordenado. Natural da terra, acha que falta algum bairrismo. “Devíamos contri-

Qual Mónica Sintra. O Tony Carreira é que animava isto Carlos Pinto, 48 anos, comerciantes, Alcanhões “Que nunca acabe o vinho!”, apregoa Carlos Pinto quando questionado sobre o que distingue Alcanhões de outras terras. Não é de Alcanhões. Chegou ali vindo de Aveiro. Quem o trouxe ?? Ele diz que foi “o vento”. Tem um café que é um lugar

privilegiado para saber o que se passa. Ouve o povo e põe o dedo na ferida. “Temos uma rua principal que não se desenvolve por uma simples razão: a passagem de nível nas Assacaias. Quem é que quer vir a Alcanhões sabendo que pode perder meia hora naquele local a ouvir as campainhas a tocar?”. Durante a Feira de Santa Marta tem mais clientes. Depois de fechar, à uma ou duas da manhã, Carlos Pinto dá um salto ao recinto para petiscar. Quanto à música é muito crítico. “Isto

é vira o disco e toca o mesmo. “Com o Tony Carreira é que era”, garante.

tuação do rancho para ele no 10 de Junho em Santarém, que quando era jovem vinha com o pai buscar vinho desde Boliqueime a Alcanhões. E que ainda hoje bebe

vinho de Alcanhões no Palácio de Belém e se lembra do caminho até à adega”, recorda. Ligado ao Rancho Folclórico de Alcanhões, João Costa lamenta que a freguesia seja a única do concelho que não tem uma casa condigna para desenvolver aquela actividade cultural. “Não há sala para espectáculos ou pavilhão multiusos. Faz falta a Casa das Colectividades e ficaremos satisfeitos quando for uma realidade”, acrescenta. A Feira de Santa Marta é um dos ex-libris, à qual o rancho se associa nos dias seguintes da festa com festival de folclore.

Cavaco Silva também bebe o bom vinho de Alcanhões João Costa, 58 anos, comercial, Portela das Padeiras Para João Costa o melhor da freguesia é a Adega Cooperativa de Alcanhões, pela excelência dos seus vinhos brancos e tintos, mas também por ser a única adega cooperativa do concelho de Santarém. “O Presidente da República disse-me, aquando de uma ac-

Falta uma casa que una as associações de Alcanhões

de cá. Lembro-me que quando andava na escola passavam aqui os toiros e íamos sempre a correr atrás deles. Num café ali à esquina, os toiros entravam numa porta e saíam noutra. Vinham das quintas das Paulinas e da Quinta da Comenda”, conta com entusiasmo. Natural de Alcanhões, Rodrigo Santos diz que a terra é madrastra para os de casa e hospitaleira para os de fora. Começou por guardar gado em novo e foi para Santarém a pé durante 12 anos para aprender o seu ofício. Aos 27 anos estabeleceu-se por conta própria. Diz que, por ser patrão, é “tratado abaixo de cão”

Joaquim Saramago, 54 anos, reformado, Santarém Joaquim Saramago tem casa em Alcanhões que é a terra da esposa e é presidente da Adega Cooperativa de Alcanhões (ACA). Não admira que diga que o melhor da terra é o vinho. Diz que Alcanhões é uma terra difícil no que respeita ao relacionamento entre pessoas, fruto das rivalidades cimentadas entre o norte e o sul da vila. Para si deveria haver uma casa de associações e objectivos comuns. “Integrei a Associação Popular de Alcanhões numa comissão administrativa para que a entidade não fechasse e conseguimos. Não devia estar como agora com o telhado da sede por remendar, ainda por cima a pagar renda. Se não há dinheiro que se faça um peditório”, sugere. Joaquim Saramago que é pre-

sidente da Junta de Freguesia de Achete conta que gosta da Feira de Santa Marta em Alcanhões. “É uma Feira tradicional onde ia com o avô numa carroça. Havia ovelhas, carneiros, burros, melão e melância, quinquilharias. Hoje ainda vou regularmente à Feira com a minha mulher”, conta. Quanto ao problema das passagens de nível é mais paciente. “Quando não há dinheiro deve-se poupar. Se daqui a dois anos vão alterar o traçado da linha do Norte a situação irá ficar desbloqueada. Quem esperou tantos anos espera mais dois ou três”.

Feira que mexe com a terra e que tem tradição Glória Santos, 61 anos, comerciante, Alcanhões Glória Santos vive em Alcanhões há 44 anos mas é natural de Torres Novas. Tem um comércio na vila. Uma terra que diz ser de gente boa, pacata e séria, como diz. Da feira guarda boas recordações. Antigamente eram os negócios de gado e de fruta. Hoje são os comes e bebes e os concertos. Nos dias de feira monta uma barraca grande para a venda de todo o tipo de artigos. Roupas diversas, enxovais, loiça e calçado. Nos momentos livres gosta

de jantar uma boa massa à barrão enquanto ouve uns fados. E se for o filho a cantar ainda melhor. “Ele já ganhou vários concursos”, confidencia. Acha que fazem falta na vila umas passadeiras e uns semáforos. “Passa aí pessoal com muita pressa”, conta a comerciante.

O pior são as passagens de nível Sérgio Duarte Luís, 37 anos, cortador de carne, Atalaia (Azóia de Cima) Sérgio Luís tem um talho na rua principal de Alcanhões. Diz que o problema principal da terra são as passagens de nível da linha do Norte. “Obrigam as pessoas a levantarem-se muito mais cedo para chegarem a horas aos seus compromissos. Com melhores acessibilidades a vila tornar-se-ia mais apetecida”, afirma. Sérgio Luís conhece bem a Feira de Santa Marta que decorre em Alcanhões de 24 a 26

de Julho. É uma altura em que faz mais negócio. E também vai aos concertos e aos fados e gosta de um bom petisco. “Regado com um bom vinho ou com imperial”.


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