RETROSPECTIVA

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O MIRANTE

SUPLEMENTO ESPECIAL RETROSPECTIVA 2010 - Este suplemento faz parte integrante da edição nº 972 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

SEMANÁRIO REGIONAL - DIÁRIO ONLINE

Relembramos neste suplemento alguns dos principais acontecimentos ocorridos na área de abrangência de O MIRANTE no ano passado. A crise tocou tudo ou quase tudo. Mas nem sempre venceu. Nesta página mostramos também aqueles que não se vergaram ao destino como é o caso das Personalidades do Ano eleitas pela redacção de O MIRANTE.


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Personalidade do Ano

José Eduardo Carvalho

O maior capital de José Eduardo Carvalho é o gosto de assumir riscos e de viver no limite Desportos radicais para queimar a energia que não consegue gastar a nível profissional É conhecido como presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém mas a sua actividade profissional tem muitas outras frentes. O seu dia começa às seis da manhã e por vezes acaba muito tarde mas tem uma energia inesgotável. Se a adrenalina fosse dinheiro era um dos homens mais ricos do país. Alberto Bastos A sua visibilidade a nível dos meios de comunicação está relacionada com a presidência da Associação Empresarial de Santarém e com a vice-presidência da AIP mas a sua actividade profissional vai muito para além desses cargos. Sou presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Tagusgás e administrador, gerente, sócio e accionista de diversas empresas. Uma delas é o TVT - Terminal Multimodal de Riachos - que inicialmente passou por uma fase difícil em termos de arranque. Qual é a situação actual? Estou na administração do TVT ao

qual me dediquei com todo o entusiasmo nos últimos dois anos. Trata-se de um terminal rodo-ferroviário que assume actualmente uma importância muito grande nas operações logísticas do distrito de Santarém e de toda a região centro. Há um grande desconhecimento disso. Fazem-se ali as operações logísticas do IKEA, da Decathlon, da Nestlé e mais recentemente da Auto-Europa. Opera no TVT o operador Ferroviário Takargo, do

Liderança credível José Eduardo Carvalho foi o homem certo no momento certo para a Associação Empresarial de Santarém. Com ele a Nersant cresceu, consolidou-se e ganhou estatuto e força reivindicativa. Com tenacidade e firmeza constituiu uma equipa, traçou um rumo e marcou a diferença num pulverizado movimento associativo empresarial. Fez ouvir as reivindicações dos empresários da região nos centros de decisão e foi muitas vezes um interlocutor privilegiado. Em 2010 conseguiu convencer novos e importantes investidores a instalarem-se na região, dinamizou novas iniciativas que reforçaram a ligação

grupo Mota-Engil. Qual o volume de mercadoria movimentada? As composições ferroviárias neste terminal, em 2010, foram mil cento e quatro. Um crescimento de 15 por cento em relação ao ano anterior num ambiente de recessão económica. Foram movimentados 90 mil contentores. Uma actividade só superada a nível dos portos de Lisboa, Leixões e Sines. Trabalham

da associação à sociedade e conseguiu avanços significativos no desenvolvimento dos cinco Parques de Negócios que são já considerados pilares essenciais do desenvolvimento da região. O presidente da Nersant atingiu um nível de credibilidade acima da média não só a nível do distrito mas a nível do movimento associativo empresarial do país. Vice-presidente da AIP, foi eleito membro da Direcção Confederação Empresarial de Portugal, em Janeiro de 2011. José Eduardo Marcelino Carvalho nasceu em Vila Chã de Ourique, concelho do Cartaxo, em 9 de Setembro de 1957. É licenciado em Sociologia, tem uma pós-graduação em gestão empresarial e frequência do Mestrado na

lá 10 pessoas. Também passa parte do seu tempo na DET – Desenvolvimento Empresarial e Tecnológico, que é considerada uma das três maiores incubadoras de empresas do país, uma vez que é administrador dos cinco parques de negócios em consolidação da região… Sim. E sou presidente do Conselho de Administração de três. Os parques de negócios são o principal projecto estruturante da região. Neste momento, mau grado o atraso do projecto relativamente ao planeamento inicial, devido às alterações do uso do solo e ao processo de licenciamento, os dados do projecto já são significativos. O apport accionista ao projecto é de 6,1 milhões de euros. O investimento efectuado pelas sociedades gestoras ascende a 22,3 milhões e temos 17 empresas instaladas ou em fase de instalação o que corresponde à criação de 643 postos de trabalho criados. O mais adiantado é o de Rio Maior. Em Rio Maior a primeira fase está construída. Já está na fase de comercialização. Faltam pequenos trabalhos para ser feita a recepção definitiva da obra. No Cartaxo, a primeira fase está neste momento em projecto de execução e já se abriu concurso. As obras iniciar-se-ão em Abril/Maio. A primeira fase de Fátima/Ourém está também em projectos de execução, assim como Torres Novas. É também presidente do Conselho de Administração da Tagusgás. Qual é a actual dimensão da empresa? Neste momento temos 735 km de rede construída e 30 mil pontos de entrega. Distribuímos 110 milhões de metros cúbicos. A área de exploração é muito grande. Temos Santarém e Portalegre. A empresa investiu 6,2 milhões de euros em 2010 e em 2011, vamos investir 4,2 milhões na extensão da rede e fazer conversões para obter novos clientes domésticos e terciários onde a rede já está instalada. Qual a percentagem de gás para consumo doméstico na área da Tagusgás?

mesma área. Trabalhou no Instituto de Ciências Sociais em projectos de investigação, foi director de recursos humanos de importantes empresas e professor do ensino superior. Iniciou a sua actividade empresarial em 1991. É presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Tagusgás e administrador, gerente, sócio e accionista de diversas empresas. A nível do associativismo empresarial foi presidente do Clube de Empresários de PME’s, é presidente da NERSANT desde 1994 e vice-presidente da AIP. Foi eleito membro da Direcção da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, em Janeiro de 2011.


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Cerca de 9 por cento. Tudo o resto é consumo industrial e terciário. Tem alguma conduta que atravesse o Tejo? Não. Não era rentável. Optámos por UGAs (Unidades Autónomas de Gás) que são abastecidas através de camiões cisterna. Temos uma em Alpiarça que alimenta aquele concelho e Almeirim e outra no Tramagal para alimentar a Mitsubishi. Foi um trabalho interessante do ponto de vista técnico e uma boa solução porque a construção do piping tinha custos extremamente elevados. Terminal Multimodal de Riachos, Parques de Negócios, Tagusgás… Tenho também outra empresa a Iberscal que também sou responsável pela sua gestão e que basicamente implementa sistemas de certificação de qualidade. É líder do sector em Santarém, Portalegre Leiria. E a Gama Própria. O que é a Gama Própria? Um dia, em Novembro do ano passa-

Não há uma cultura propícia ao aparecimento de empresas se os governos tivessem estado mais atentos ao que os empresários e as suas associações têm dito nos últimos anos, seria mais fácil à nossa economia aguentar esta crise? O problema é saber que empresários é que os governos ouvem. Em Portugal há perto de 700 associações empresariais. Ninguém sabe como existem ou como subsistem. Algumas só têm existência porque é importante para o seu presidente ter um acesso directo ao secretário de Estado. Claro que esta divisão do movimento associativo agrada a quem governa. Por outro lado, em determinados momentos os governos são mais sensíveis aos argumentos dos banqueiros e dos grandes grupos do que aos argumentos das associações empresariais. Os empresários não conseguem influenciar as decisões dos governos? Há situações em que isso acontece mas são raras. É um desencanto. O que os empresários pensam não é tido em conta a maioria das vezes. Os pequenos-almoços que se possam ter com o ministro ou com o secretário de Estado; as pequenas reuniões ou a participação nos conselhos económico-sociais não chegam para influenciar decisões a nível da economia. Quais os resultados obtidos pela NeRsANT junto dos governos nos últimos anos? Tivemos um ministro que nos ouviu muito no tempo dos governos de Cavaco Silva, que foi o Engº Mira Amaral (Indústria e Energia). Mas os ministros do Partido Socialista ouviram mais a Associação e os interesses dos empresários do distrito de Santarém que os Ministros do tempo de Durão Barroso e Santana Lopes.

do, eu e dois amigos acabámos por nos meter nesse projecto. É uma empresa de curtumes em Alcanena, que comprámos à família Monteiro-Ribas, que tem um terreno com 50 mil metros quadrados. Este projecto tem dois desenvolvimentos. Obviamente que se vai manter a produção tradicional. Há um projecto de internacionalização subjacente a esta aquisição e também um outro projecto, num outro sector de actividade, que justificou este investimento. É um investimento que deve ultrapassar o milhão e meio de euros. APAixONAdO POR desPORTOs RAdicAis como alivia o “stress” associado às suas múltiplas actividades como gestor? O desporto constitui um factor de equilíbrio. É uma forma de libertar a minha agressividade natural. Levantome todos os dias às 6h. Durante a sema-

Nem sempre a NeRsANT anda a pregar no deserto. Não. Em relação às medidas anticrise, por exemplo, um conjunto significativo de propostas que nós fizemos, foi aceite e implementado. Por exemplo, a criação dos fundos de fusões e aquisições, para as empresas ganharem dimensão e internacionalizarem-se. A criação de um fundo de investimento imobiliário. Arranjar uma forma de fazer protecção social aos empresários, nomeadamente aos empresários em nome individual, em situações de insolvência ou de falência. Foram propostas que se fizeram e que tiveram acolhimento. Todos os processos que o governo pôs à disposição para criação de empresas já satisfazem a Nersant? Em relação ao processo de formalização de empresas Portugal está à frente de muitos países da Europa. Em termos de apoio à criação de empresas e de incentivos ao empreendedorismo não estamos tão avançados. Quais são as falhas? Em primeiro lugar é preciso que se refira a questão cultural. Não há uma cultura propícia ao aparecimento de empresas. Na década de 80 houve um “boom” graças a algumas medidas implementadas mas se formos verificar onde estão e o que fazem, descobrimos que o tal “boom” não foi tão importante quanto isso. E a partir de uma certa altura houve um enorme refluxo. Nós temos dificuldades todos os anos em atribuir o Galardão para o Jovem Empresário, o júri tem dificuldade em escolher. Poucos jovens se sentem atraídos para esta actividade. Foi presidente da Associação empresarial de santarém durante 14 anos. O que é preciso para exercer essas funções? Muita coisa, mas fundamentalmente é preciso disponibilidade e motivação. E isso nunca me faltou. E foi gratificante. Mas este trabalho não foi só meu. Foi feito por um grupo coeso de pessoas e de uma forma muito empenhada. Isso tem

Em Portugal há perto de 700 associações empresariais. Ninguém sabe como existem ou como subsistem. Algumas só têm existência porque é importante para o seu presidente ter um acesso directo ao secretário de Estado. Claro que esta divisão do movimento associativo agrada a quem governa.

na vou dois dias ao ginásio. Começo às 7h. E há um dia em que faço footing a partir das 6h30. No fim-de-semana pratico regularmente futebol, canoagem ou footing. Não é segredo que é adepto de desportos radicais. Nas várias edições do challenger Nersant destaca-se sempre pela sua boa forma física. É verdade. Adoro desportos radicais. Pratico frequentemente rafting, canoagem, slide, rappel e orientação. Tenho o brevet de paraquedismo e sou um amante de ski alpino. Frequento estágios de slalom gigante e participo em provas de competição para veteranos. Até onde vai o seu gosto por situações limite e de desafio às suas capacidades? Há 14 anos tive um princípio de um enfarte. Estive três dias nos cuidados intensivos no hospital de Santarém. Para testar se o meu coração estava capaz ou não, oito dias após ter tido alta, fui tirar

o brevet de pára-quedista em Tancos, no pára-clube Os Boinas Verdes. Gosto de andar nos limites. e actividades mais tranquilas? Gosta de ler, por exemplo? Sou leitor assíduo de jornais e livros. Actualmente estou a ler “Nó cego da economia”, de Vítor Bento, “Depois da crise”, de Mira Amaral e “Fontes Pereira de Melo”, de Filomena Mónica.

que continuar. Nunca tivemos rupturas e passaram pela direcção cerca de 40 pessoas. Nunca houve uma demissão. Nunca foi posta em causa uma decisão tomada. Isso foi fundamental. Quando se perde tempo a dirimir conflitos não se está a trabalhar e acrescentar valor às instituições. O que deixa como legado? Deixo uma Associação Empresarial com 1400 associados; com um activo líquido de 15,6 milhões de euros; com um património invejável e com um volume de proveitos que este ano vai ultrapassar os 3 milhões de euros. A conjugação dos associados, do activo, do património e valor dos proveitos, transforma esta associação na terceira associação empresarial do país. E tem condições para continuar a acrescentar valor e a crescer. O volume de projectos aprovados nesta altura e que o próximo presidente vai trabalhar é de 15 milhões de euros. Isto dá alguma solidez. imagina como teria sido a sua vida se não tivesse estado estes anos todos na Nersant? Não sei. Não imagino o que se teria passado se não tivesse aceite o convite que há 15 anos me foi feito pelo José Eduardo Marçal a quem nesta altura de despedida tenho que agradecer. É uma

pessoa a quem o Nersant deve muito. Deveria ser muito difícil numa altura como aquela, andar à procura de sítios, mobilizar pessoas, etc...normalmente quem arranca com os projectos tem, de facto um grande valor. Quanto a mim e voltando à pergunta, ganhei numas coisas e perdi noutras. Provavelmente ganhei mais do que perdi. A coesão directiva de que falou foi o único segredo do sucesso da Nersant? Definimos à partida que a associação não poderia ter apenas a matriz tradicional. Fazer formação, seminários e uma feiras, como outros fizeram. Definimos também que não poderia ser apenas representativa dos interesses das empresas. Tinha que ter um papel interveniente no desenvolvimento regional. É neste modelo que assenta o sucesso, bem como num grupo de bons colaboradores, entre os quais destaco o Engº António Campos que foi director-geral durante 13 anos. Nunca tivemos uma ruptura e mantivemos uma relação de grande lealdade e eu tenho que realçar isso. A vida política activa é uma possibilidade para si? Política não. De certeza absoluta. É o que tenho mais certo na vida.


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Vida

José Sousa Gomes

“A vida de autarca é apaixonante” Presidente de Almeirim admite que vai ser “dramático” deixar o cargo no final deste mandato José Sousa Gomes garante que fica na Câmara de Almeirim até final do mandato e que depois vai dedicar-se a servir a comunidade noutros moldes, provavelmente ligado a uma instituição de solidariedade social. “Parar não faz o meu género”, diz quem se dedica à causa pública há muitas décadas. João Calhaz O que é que ainda o faz correr, após 20 anos como presidente da Câmara de Almeirim? É sobretudo a paixão pela vida autárquica, de estar ao serviço da nossa terra e da população. No fundo, é o serviço a uma comunidade que nos é muito cara. Quando o seu carro foi alvejado por um munícipe, há dois anos, não pensou em mudar de vida? No desempenho destas funções temos sempre momentos desses, de vontade de fechar a porta, de ir embora. Mas é só

por momentos, para ir lá fora respirar um pouco de ar puro, porque depois voltamos a este desafio do serviço público. De serviço às nossas populações. No fundo, é apaixonante a vida de autarca e portanto o desafio continua a prevalecer. Esse terá sido o maior susto da sua vida autárquica. Foi. Mas para além do susto chocanos a atitude, pela ingratidão que revela, porque nós andamos aqui num trabalho desinteressado em favor das nossas populações. Quando há um tipo que vem de pistola em punho dar-nos dois tiros dá que pensar. É uma atitude que magoa. Há uns meses teve também alguns problemas cardíacos. Foi outra boa

Um resistente dedicado à causa pública Nos últimos anos enfrentou vários problemas de saúde, o carro onde seguia foi atingido por tiros de pistola, alguns camaradas de partido passaram a ser os seus mais acérrimos críticos e estiveram na base de um movimento independente que concorreu às últimas autárquicas. Uma série de acontecimentos em cascata que José Sousa Gomes, 70 anos, enfrentou com estoicismo. Um traço de carácter que pode ter sido apurado na sua passagem pelos Pupilos do Exército e depois pela guerra colonial em Angola. A persistência prevaleceu sobre a desistência e o autarca continua na liderança da Câmara Municipal de Almeirim, cargo que exerce desde 1990 sempre eleito pelo Partido Socialista.

Em 2013 vai ter de deixar essas funções por força da lei de limitação dos mandatos. José Joaquim Gameiro Sousa Gomes nasceu em Almeirim em 24 de Outubro de 1940 e há muito que se dedica à causa pública. Exemplos disso são também as suas passagens como dirigente por diversas associações e colectividades do concelho, como os Bombeiros Voluntários de Almeirim, União de Almeirim ou Hóquei Clube “Os Tigres”. É também há muitos anos presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo e do conselho de administração da empresa intermunicipal Águas do Ribatejo. Duas realidades em que se empenhou profundamente e que o orgulham.

oportunidade para passar a pasta. Tenho pensado várias vezes que já é de mais e que é altura de ir embora. Essa foi uma delas e talvez a mais séria. Mas também é verdade uma coisa: tive essa situação de doença já no decurso de um mandato que só acaba daqui a três anos. E digo francamente que, não havendo uma impossibilidade médica, não me passou pela cabeça desistir. Sinto que estou em grande recuperação e com vontade de continuar. Não poderá haver uma transição de poder a meio do mandato para um dos seus vereadores? Não passa pelas minhas expectativas.

Casado, pai de duas filhas, José Sousa Gomes estudou nos Pupilos do Exército entre 1952 e 1960. Esteve em Angola na guerra colonial e formou-se depois em Contabilidade e Administração no Instituto Comercial de Lisboa. Durante muitos anos foi professor do ensino secundário em Alpiarça e em Santarém, chegando a presidente do conselho directivo da Escola Secundária Dr. Ginestal Machado, em Santarém. A ligação à vida política surge após a revolução de 25 de Abril de 1974. Até aí fora apenas um espectador atento. Lembra-se de exultar com a vitória do general Humberto Delgado no distrito de Santarém, nas eleições presidenciais de 1958. Integra as listas socialistas às primeiras eleições autárquicas, em 1976, e é eleito vereador, com pelouros mas sem tempo atribuído. Esteve nessa condição dois mandatos e meio. Entre-

É uma pessoa de levar as coisas até ao fim? Sim. E acho que quando estamos nestes lugares criamos determinadas obrigações perante o eleitorado. Não era correcto da minha parte chegar a meio do mandato, bater com a porta e ir-me embora. Nem era correcto para quem me sucedesse. Porque a via para se entrar para aqui é enfrentar eleições e ser escolhido pelo eleitorado. Outra via qualquer não gosto muito de a encarar. Neste tempo todo o que o marcou mais: as críticas da oposição ou o afastamento de alguns camaradas de partido? O afastamento de camaradas de par-

tanto, em meados da década de 80, o fenómeno PRD também se faz sentir em Almeirim. O novo partido ganha a câmara e o socialista Sousa Gomes passa para a oposição na assembleia municipal. A barba branca e o porte altivo dãolhe um ar de patriarca. É um homem aparentemente reservado, cordial no contacto. Quando pode dispensa o fato e gravata e tem nos óculos escuros uma companhia quase inseparável durante o dia. Deixar o concelho com mais qualidade de vida continua a ser o seu objectivo enquanto autarca, aquilo que ainda o faz percorrer o concelho de automóvel para ver o andamento das obras. Foi numa dessas viagens que viu o seu carro alvejado a tiro por um munícipe em Paço dos Negros, em Fevereiro de 2009. Foi o maior susto da sua vida autárquica, confessou na altura.


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tido, pelas razões que se deram, francamente não me feriram nada nem me desgostaram. Aliás, foi muito bom que se tivessem ido embora. O que me chocou, o que me abateu, foram atitudes que se vieram a tomar e que foram perfeitamente ofensivas de pessoas em quem eu depositava muita confiança. Essas desgastaram-me e talvez com o andar dos tempos até tivessem contribuído para o problema de saúde que tive. Porque estas coisas, a pouco e pouco, vão criando as suas mazelas. Uma pergunta recorrente: já escolheu o seu sucessor como candidato do PS? Não escolhi, mas acho que há aqui uma sucessão natural. O vereador Pedro Ribeiro é neste momento a pessoa que tem preparado a sucessão na direcção da câmara, se o eleitorado o escolher, é evidente. Mas é apenas a minha opinião. Já pensou no que vai fazer depois de deixar a autarquia? É uma das coisas que muito me preocupa e que me tem passado muito pela cabeça. Deixar de ser presidente de câmara de um dia para o outro é dramático. E eu tenho pensado seriamente nisso. Muito provavelmente vou dedicar o meu tempo a alguma instituição de solidariedade social do concelho em que possa ser útil. Parar é que não é o meu género. Que coisas gostava de fazer quando sair da câmara e para as quais não tem tempo agora? Vou com certeza ler um bocado mais do que agora. A minha leitura agora limi-

ta-se a jornais e revistas. Quando tenho tempo para ler, leio normalmente livros de autores mais conhecidos. Também gosto de ver futebol. Gostava também de viajar mais. Favorável à FUSão de concelhoS e deFenSor da intermUniciPalidade deve ser difícil a quem se habituou a liderar, de repente ficar longe dos centros de decisão. Ainda não passei por isso, mas é uma das coisas que me mete medo. Porque é uma ocupação permanente não só em termos do tempo que dedicamos mas também pela capacidade de raciocínio a que somos obrigados. O lugar de presidente de câmara obriga-nos a uma reflexão permanente. Isso preenche-nos muito tempo. E deixar de ter essa preocupação é um vazio muito grande. Por outro lado, provavelmente vai dormir melhor de noite. Vou com certeza. Mas vou ter os dias mais mal passados (risos) … almeirim é conhecida pela cidade da sopa da pedra e pela sua restauração. não será um pouco redutora essa imagem? É um pouco redutora. Mas também acho que é mais conhecida pela sopa de pedra porque é o caminho mais fácil para as pessoas que nos visitam conhecerem Almeirim. Mas Almeirim pode ser conhecida por muitas outras coisas. Não só pelos produtos da nossa agricultura mas também pelo ambiente que se vive

na nossa cidade. Quem veio viver para aqui e tenho tido esse testemunho, sentese bem. Há qualidade de vida. a articulação intermunicipal com Santarém praticamente não tem existido. Porquê? Não tem existido muito porque o actual presidente da Câmara de Santarém tem uma postura bastante diferente da minha. E penso que não é só da minha. Também me parece que não há uma grande aproximação dos meus colegas da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo. São posturas diferentes. mas já antes de moita Flores chegar à câmara de Santarém a articulação intermunicipal não era muita. Na comunidade intermunicipal discutimos muitos problemas comuns e isso aproxima-nos. No passado, os anteriores presidentes de Câmara de Santarém discutiam os problemas da comunidade urbana presencialmente. Este presidente praticamente não vai lá, é substituído pelos vereadores. E em relação aos vereadores a aproximação é bastante grande. Mas reconheço que devia haver mais complementaridade entre os dois municípios. a intermunicipalidade continua a ser um caminho por trilhar? Sim. Temos vários exemplos na nossa região que têm frutificado. Ainda há pouco pensava como é gratificante pertencer a órgãos com composição politicamente heterogénea em que as nossas relações são óptimas. É o caso da Águas do Ribatejo, do aterro sanitário, em que

nos damos perfeitamente. Os objectivos são comuns e batemo-nos pelos objectivos uns dos outros. Há o espírito de servir a comunidade e não uma comunidade. Fala-se na possibilidade de extinção de freguesias mais pequenas e até de municípios. o que pensa disso? Sou favorável a isso. Neste momento a política autárquica tem de ter alguma dimensão. Por várias razões, como a de racionalização dos meios que estão postos à disposição das autarquias. A dimensão de uma autarquia também leva a um melhor aproveitamento dos recursos que são postos à disposição do poder local. Daí não ver qualquer mal na junção de alguns concelhos. Se fosse posta a hipótese de juntar alpiarça a almeirim, o que pensava? Acho que daí podiam resultar mais valias, porque a nossa dimensão melhora, a concretização de objectivos também seria mais fácil. Uma obra que quer deixar feita antes de acabar este mandato? A minha teimosia em ficar até ao fim do mandato é para concretizar alguns projectos. Um deles é o dos centros escolares. O de Almeirim já está feito e o de Fazendas está numa fase muito adiantada. Também quero deixar feita a circular urbana de Almeirim até à estrada municipal 578 que nos liga às Fazendas, que já está em concurso. E outro projecto é a casa de cultura de Fazendas que também já tem feito o concurso para se iniciar a obra. São as grandes obras que queria acabar.


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Cultura Feminino

Maria Lucília Moita

“Hoje fala-se muito de crise mas a crise real é a crise de valores” Aos 82 anos a pintora Maria Lucília Moita diz que a plenitude só se alcança na eternidade A pintora naturalista Maria Lucília Moita, Personalidade do Ano de O MIRANTE no domínio da cultura, não compreende as críticas ao projecto do novo Museu Ibérico de Arqueologia e Arte a nascer em Abrantes e considera-o “um valor para a cidade” e uma forma de colocar Abrantes no mapa cultural português. A artista considera que Portugal é hoje um país que liga pouco à cultura e lamenta que a sua arte tenha passado despercebida fora dos círculos culturais. Filipe Matias Nasceu em Alcanena e agora vive em Abrantes. Nunca pensou deixar o Ribatejo? Nunca se proporcionou. Andei uns tempos em Lisboa enquanto aprendi a pintar com os mestres mas acabei por voltar a Alcanena. Vim morar para Abrantes porque o meu marido é de cá e para não andar sempre a pular entre os dois sítios acabámos por nos instalar aqui, onde ainda hoje vivemos. Em Abrantes havia coi-

sas que não havia em Alcanena, como o contacto com muitos artistas e sentia-se um outro impulso cultural. Havia até um casal amigo que conhecia o Lagoa Henriques e o Lima de Freitas, que depois conheci através deles. Com 82 anos de vida sente que atingiu a plenitude dos seus trabalhos? Não acho, para mim a plenitude só se alcança na eternidade. Entendo que o que fazemos aqui é sempre um caminho para atingir essa plenitude. Acredito muito que levamos connosco todos os valores obtidos ao longo da vida e tudo o que foi autêntico. Felizmente ainda me sinto com capacidade criativa, tenho umas limitações próprias da idade mas a pessoa vai-se defendendo e procurando tratar da saúde para poder render, que é uma coisa que eu sempre tive: a noção de que sem trabalho nada se consegue. Quando comecei a minha carreira os pintores daquele tempo disseram-me que era filha espiritual do Silva Porto. Para mim foi uma honra, mas não fiquei instalada. Não me acomodei com a facilidade, porque tenho a mania da dificuldade. Procuro-a para andar, andar cada vez mais. Os seus primeiros passos foram com Anastácio Gonçalves, seu primo, em Lisboa. Que memórias guarda desse tempo? O que aprendi na casa do Anastácio

Gonçalves foi muito importante. Eu era das poucas pessoas que ia àquela casa, porque ele era uma pessoa muito solitária, vivia sempre sozinho, não convivia. Tinha uns amigos que ocasionalmente o visitavam mas no geral andava sempre só. Mais tarde chegou a conviver muito com o Gulbenkian, por ser médico dele, e como eram os dois grandes coleccionadores conviveram muito bem. Essas visitas à casa do “primo António” eram muito importantes para mim. Depois do almoço íamos para o escritório, onde eu lhe mostrava a minha produção e ele opinava. Quando ele ia para o consultório às 15h00 eu ficava lá por casa, muitas vezes, a copiar obras de Silva Porto, Columbano e Carlos Reis, só mesmo para observar melhor a pintura e perceber os seus traços. De todos os modelos que usou para as suas pinturas há algum de que se lembre especialmente? Hoje em dia é complicado fazer esse raciocínio. Comecei com um dos meus netos a fazer um inventário. Cheguei a usar a minha mãe e a criada lá de casa como modelos. Outras vezes ia às igrejas e trazia um velhote ou um sacristão a casa para servirem de modelos. Naquela altura havia asilos de meninas perto de casa, em Lisboa e também lá ia buscar algumas para servirem de modelos. Eu cheguei a ter lições com professoras que iam lá a casa

ensinar-me o inglês, francês, português e piano. Não tinha grandes dedos para o piano. Os meus dedos eram apenas para a pintura. Eu lembro-me de fazer os exercícios de piano com a minha empregada a ler-me as lições de história para eu não perder tempo, para poder ter mais tempo livre para a pintura. Quando voltei para Alcanena ia para as aldeias e para o campo pintar. Como era a reacção das gentes da terra a ver alguém a pintar? Havia sempre muita curiosidade. Até chegava a haver pessoas que se punham à minha volta a ver-me pintar. Ainda hoje faço isso quando me apetece, vou onde quero, sento-me numa cadeira e seguro a tela nos meus joelhos. Ponho o carvão a jeito e ataco. O carvão é sempre a minha primeira ferramenta, começo sempre com ele, mesmo para construir o que irei pintar a óleo no final. Num desses dias em que estava a pintar numa aldeia do Alentejo, uma mulher simples, do campo, disse-me: “É uma vida”. Isso marcou-me de tal maneira que ficou comigo até hoje. A pintura para mim não é um vício, é a minha vida. Como se deu a passagem para a poesia? A dada altura senti-me bloqueada e encontrei na escrita um escape inspirador que me permitiu, pouco depois, voltar à minha arte. Foi uma fase, porque eu comecei a pintar sem dar por isso, sem obrigação. Comecei a pintar de maneira dura, crua e geometrizada, porque tinha necessidade de me afirmar. Depois da poesia evoluí. Abrantes tem sido notícia nos últimos anos pelo museu ibérico proposto pelo arquitecto Carrilho da Graça. Qual a sua opinião sobre o projecto? O assunto tem sido polémico e não percebo porquê. Algumas pessoas estão contra mas provavelmente por ainda não terem percebido a dimensão do espaço. Acho que é um valor para a cidade, se realmente lhe querem dar uma dimensão internacional. Abrantes está muito central e acho que seria uma mais-valia inclusive para o país. Eu confio no arquitecto. Ele mostrou e explicou a maqueta. Eu gostava era que se despachassem a construí-lo porque gostava de ainda estar viva quando lá pusessem as minhas obras, porque sou muito esquisita. Sou sempre eu que monto as minhas exposições. Como pintora e artista tenho noções de equilíbrio e composição e coloco isso na montagem de uma exposição. Que visão tem do estado da cultura em Portugal actualmente? Eu já não frequento muito os meios da cultura mas faço o possível por fazer as pessoas ligarem-se à arte, tem sido essa a minha acção, o meu objectivo. Inclusive abrindo a minha casa, o meu atelier, a todos quantos queiram descobrir a minha pintura. Ensinar as pessoas a ver a cultura, ver no sentido de observar além do imediato, é o fundamental. Ainda há em Portugal muita gente que não consegue ver. As pessoas consomem o imediato mas hoje nem tudo o que se pinta é arte. Para mim arte tem de ser uma expressão, o resultado de


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uma comunicação entre o autor e o alvo. Eu quando estou a pintar não pinto sem rumo, de qualquer maneira. Tenho de estar em contacto com a natureza, com as coisas, tem de ser uma motivação séria. Hoje fala-se muito de crise mas a crise real é a de valores. Falta educar melhor a nossa gente. É o que os professores têm de fazer. Educar as gerações futuras para o bom gosto da música ou da pintura. Sente que tem sido pouco reconhecida pelo seu trabalho fora dos círculos culturais? Particularmente tenho tido todo o reconhecimento que desejaria mas no geral acho que poderia ter tido mais atenção. Quando fiz a exposição na casa museu do Anastácio Gonçalves gostaria que alguns jornais tivessem dado mais atenção ao meu trabalho. Isso realmente mexeu comigo, senti que podia ter havido mais apoio. Foi algo que me magoou. Sobretudo quando diversos rostos importantes da arte, gente de valor, têm apreciado as minhas pinturas e me têm apoiado. Mas isso só particularmente. Não no público em geral. É uma questão de justiça. Acho que era justo que, tal como reconhecem outros, me reconhecessem a mim. Se resumisse a sua vida a uma frase, o que diria? A pintura é a minha vida, eu fiz uma caminhada e tive a felicidade de ter tido oportunidades e possibilidades que meti a render e isso não me pesa na consciência. Trabalhei, lutei, andei. Caminhei sempre e procurei partilhar com todos, numa acção cultural e pedagógica, tudo o que sei.

Uma pintora inspirada pelas cebolas Maria Lucília Moita, pintora e poeta, nasceu em Alcanena em 1928 mas há quase cinquenta anos que reside em Abrantes, terra que já considera sua. É considerada um dos grandes nomes da pintura naturalista portuguesa e sucessora espiritual de Silva Porto e Henrique Pousão. Fez exposições na Sociedade Nacional de Belas Artes e ainda hoje tem quadros da sua autoria expostos em colecções particulares nacionais, internacionais e em museus portugueses como o Museu do Chiado, Museu José Malhoa, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e na casa museu Dr. Anastácio Gonçalves. Maria Lucília Moita começou cedo a mostrar os seus dotes para a pintura, logo na terceira classe fez um “retrato” que encantou uma professora. Maria Lucília Moita é filha única, tem três filhos e sete netos. Confessa que a preocupação dos seus pais, à época, era que a filha virasse uma mulher prendada. A colecção de António Anastácio Gonçalves era da sua família. Foi em Lisboa, na casa do “primo António”, como assim lhe chamava, que Maria Lucília Moita começou a dar os primeiros passos a sério na pintura. Através de amigos comuns conheceu o pintor João Reis, que aceitou darlhe lições de pintura entre 1944 e 1946.

Começou com gessos e rapidamente avançou para o carvão. Em 1948, por sugestão do mestre enviou um quadro (“Casas Brancas”) para o Salão de Primavera da Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA). O crítico João Portela escrevia então no Diário de Lisboa que a pintura de Maria Lucília Moita era um misto de “sensibilidade de cor, finura poética e romantismo estático de beleza que cativa a imaginação”. Em 1951 viria a receber a menção honrosa do SNBA, com o quadro “Beco da Liberdade”. Sempre usou o carvão e o óleo como principais processos de pintura. Ao longo dos anos viria a realizar diversas exposições, muitas delas com o apoio dos serviços da Fundação Calouste Gulbenkian. Além do centro UNESCO e do Museu Machado de Castro em Coimbra expôs o seu trabalho no Centro Cultural de Belém, galeria de São Francisco e na galeria do palácio de São Bento. Além da menção honrosa obteve as medalhas de prata e bronze nos concursos do Casino do Estoril e em 1989 foi-lhe atribuída a medalha de ouro de mérito municipal da Câmara Municipal de Alcanena. Mais tarde, em 1996, recebeu a medalha de mérito cultural da Câmara Municipal de Abrantes, terra onde foi directora do museu municipal. Casou em 1954 com Fernando Simão. A meio do seu percurso um bloqueio criativo levou-a para os domínios da escrita, mais concretamente a poesia.

“Enraízo-me na terra limpa/chão e origem/ na verdade do restolho e da pedra/ e da água nascida”, escreveu em “Tempo Circulado”. Escreveu quatro livros, mas a paixão foi sempre a pintura. Uma autobiografia lançada em 2004 pela câmara de Abrantes apresenta-se como a obra definitiva da autora, com a coordenação de Fernando António Baptista Pereira e os depoimentos de individualidades como Miguel Simão, Urbano Tavares Rodrigues, Miguel Serras Pereira, Nelson de Carvalho e Lagoa Henriques, entre outros. Maria Lucília Moita doou à câmara de Abrantes uma grande parte do seu espólio, onde se incluem 60 quadros a óleo. Adora troncos e pintar cebolas, das quais destaca a sua tonalidade. Aos 82 anos continua a achar que ainda não alcançou a plenitude criativa e é uma cristã que vai todos os dias à missa. Actualmente está a ler «Hymne de L`Univers» de Pierre Teilhard de Chardin mas também tem por perto Miguel Torga. Não abdica de ver o pôr-do-sol todos os dias da sua sala de leitura. Ouve Brahms e Bach. As músicas modernas “complicam-lhe o sistema nervoso”, conta com um sorriso. Nunca ouve música quando pinta. Confessa que é uma pessoa exigente consigo e por isso não espera menos de quem a rodeia. Tem a paixão da verdade e detesta a mentira. Ainda hoje abre as portas do seu atelier, em Abrantes, para mostrar aos mais novos as suas pinturas.


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Política Masculino

Vítor Guia

O rapaz mais pobre da aldeia que conquistou a Azinhaga e trouxe Saramago de volta Ninguém trata Vítor Guia por presidente da Junta por ser um tratamento desnecessário Durante a conversa com O MIRANTE atendeu uma vez o telemóvel e pediu desculpa. “Era um número de Lisboa. Estou na lista para um transplante de rim. Não podia deixar de atender”. Num breve passeio pelas ruas mostrou a simplicidade do rapaz mais pobre da aldeia que se fez homem e conquistou o respeito do povo muito antes de lhes conquistar os votos. Falou do seu amigo Saramago mas nunca esqueceu Pilar del Rio. Nem podia esquecer. A rua onde fica a Junta tem o nome da mulher do escritor. Alberto Bastos Como foi a sua infância? Nasci na Azinhaga no dia 3 de Março de 1956. No meu registo está escrito que sou filho de pai incógnito. A minha mãe chamava-se Maria do Rosário e trabalhava no campo para os seareiros. Criou sozinha 3 filhos. Eu sou o do meio. Nasci e cresci numa barraca ao pé do

rio Almonda. Sou borda d’água. Saía do quintal e estava logo no rio. A família da minha mãe é toda da Azinhaga. Somos conhecidos por os Carrasqueiros, não me pergunte porquê. Aqui quase todas as famílias tinham alcunha.

Estudou? Fiz a quarta classe com dez anos e meio. As professoras queriam que eu continuasse mas fui trabalhar para ajudar a família. Comecei a ganhar doze escudos por dia a guardar porcos e ove-

lhas, bois. Até aos 12 anos andei nisso. Depois fui guardar éguas. A seguir fui para a Quinta da Broa desbastar cavalos e tratar dos toiros. Foi dos 12 aos 14 anos. A seguir fui para a construção civil como servente. Passado um ano era aprendiz de pedreiro. Passei a pedreiro e cheguei a construtor. Teve tempo para brincar quando era pequeno? Até aos 10 anos brinquei como qualquer criança. Tínhamos logo ao pé da escola o campo de futebol, largávamos os sacos dos livros e punhamo-nos a jogar. Brinquedos nunca tive. Por vezes sentia isso. Lembro-me de estar na escola a seguir ao Natal e de a professora pedir para fazermos uma redacção a contar como tinham sido as férias. Quase todos os meus amigos falavam nas prendas. Um tractor de brincar, um boné, uma bicicleta, eu era o único que não tinha recebido nada. Passou fome? Passei alguma. E não passei mais fome porque tinha uma avó que ía pedir para a Chamusca, para Vale de Cavalos, para a Charneca de Casével e Charneca de Alcorochel e então lá trazia o azeite que já tinha sido usado para fritar, algum pão por vezes já com bolor mas que a gente comia. Íamos sobrevivendo. Mas foi um ensinamento de vida importante. Por vezes há pessoas mais idosas que me falam dos tempos em que tinham que dividir uma sardinha por dois ou por três. Eu costumo dizer-lhes que nós éramos quatro lá em casa e nem uma sardinha para dividir tínhamos. O que fez ao primeiro dinheiro que conseguiu juntar? Comprei uma bicicleta. Era para ir para o trabalho e para ir aos bailes aos fins-de-semana. Embora não fosse grande dançarino gostava de festas. Casével, Alcorochel... juntávamo-nos aqui

O homem que fez Saramago voltar a nascer na Azinhaga Azinhaga, no concelho da Golegã, continua a ser conhecida como a aldeia mais portuguesa do Ribatejo, um prémio recebido há mais de setenta anos. Mas a distinção maior é a de ser a terra natal do Nobel da literatura, José Saramago. Um título que ganhou outro relevo com o trabalho feito pelo presidente da Junta de Freguesia. Vítor Guia, conseguiu que Saramago reforçasse, em vida, a sua ligação à Azinhaga e conseguiu também que as gentes da terra tivessem orgulho no seu filho mais ilustre. No ano da morte de José Saramago esse seu trabalho ganhou outra visibilidade e outra dimensão. Na Azinhaga está instalado um pólo da Fundação José Saramago. Em vida o escritor aceitou inaugurar ali uma estátua sua. Vítor Guia, com a simplicidade própria das pessoas sim-

ples, conseguiu cativar Saramago e a sua esposa Pilar del Rio, vencendo a resistência do Nobel da literatura em ser homenageado daquela forma ainda em vida e levando-o a destacar as suas origens de uma forma lapidar: “Azinhaga não é só a minha terra. É a única terra onde eu realmente podia ter nascido”, diria o escritor. Natural da Azinhaga, filho de uma das famílias mais pobres da terra, Vítor Guia é, de certa forma, a própria Azinhaga. Simboliza aquilo que são as suas gentes. Pessoas de trabalho, determinadas e lutadoras. Entrou na política a seguir ao 25 de Abril. Em 1992 venceu para o PS as eleições intercalares para a Assembleia de Freguesia acabando com o longo período de domínio do PCP. Ganhou nas eleições seguintes com uma maioria ainda maior. Em 2001

aceitou o desafio de ser segundo na lista socialista para a câmara da Golegã. Mais uma vitória inesperada. Antes do final do mandato desentendeu-se com o presidente da câmara. Aguentou até ao fim e quando saiu voltou a concorrer à Azinhaga, desta vez encabeçando uma lista independente. Os eleitores da freguesia viram ali uma oportunidade de afirmarem o seu querer e de mostrarem que são eles quem mandam na terra. Deram a vitória ao filho pródigo. Em 2005 e em 2009. Foi a surpresa geral. Num concelho onde o PS continua a ter maioria super-absoluta, ocupando todos os lugares do executivo municipal, Vítor Guia vence na Azinhaga como independente, mostrando que em democracia há valores de que o povo não abdica.


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em grupos de vinte e trinta e lá íamos todos. Só rapazes. A sua esposa é de Alcorochel ou de Casével? A minha esposa é daqui. Nasceu perto de mim. Tem menos quatro anos que eu. Chama-se Judite. Judite Maria. Temos uma filha, Ana Sofia Carvalho da Guia, que é enfermeira. Já trabalha há três anos no Hospital de Santa Maria. Foi o senhor que fez a sua casa? Fui. Nasci numa barraca e era um sonho meu um dia poder ter uma casa minha. De facto, casei e comecei a juntar dinheiro para fazer uma casa. Fui uns meses para a Líbia, para o pé do Kadafi. Onde ganhei de facto muito dinheiro. Trabalhava para uma empresa alemã. Fiz duas campanhas. Arranjei dinheiro para comprar dois lotes de terreno onde tenho a minha casa implantada e para comprar todos os materiais para a casa, até ao telhado. Demorei sete anos a acabá-la. Dez Anos Antes Do nobel já sArAmAgo tinhA umA ruA Com o seu nome nA AzinhAgA A Azinhaga ostenta o título de “Aldeia mais Portuguesa do ribatejo”. trata-se de um prémio do estado novo. Efectivamente é um prémio de outros tempos mas não nos foi atribuído por sermos a terra que mais apoiava o regime. Foi por sermos a terra mais portuguesa e isso faz bem ao nosso bairrismo e envaidece-nos. A Azinhaga descobriu saramago em 1998, quando ele ganhou o Prémio nobel da literatura? O Nobel veio dar-lhe outra dimensão mas ele já era admirado e respeitado na Azinhaga. Dez anos antes de ser Prémio Nobel já tinha o seu nome numa rua. Eu fazia parte da Assembleia de Freguesia que votou essa proposta em 1988. Não estivemos à espera que a Academia Sueca lhe atribuísse o Nobel da literatura para lhe fazer justiça e lhe prestar a homenagem que ele merecia. Provavelmente não seriam muitos os leitores de saramago. Nem nessa altura nem provavelmente agora mas estamos a falar de uma aldeia rural onde o analfabetismo ainda é elevado. Mas não saber ler nem escrever não é sinónimo de falta de inteligência. o josé saramago é que não estava muito ligado à Azinhaga. Como é que o senhor chegou até ele e o convenceu a regressar às origens? Quando me candidatei à Assembleia de Freguesia já tinha falado com os outros elementos da lista desse assunto. Já tínhamos a ideia de fazer a casa-museu. Falámos com a editora dele, a Caminho e surgiu a possibilidade de ele fazer aqui o lançamento do livro “As Pequenas Memórias”. sabe qual foi a reacção de josé saramago? Ele nunca se entusiasmou com a ideia. Ao contrário, a mulher, Pilar del Rio, ficou entusiasmada. Foi graças a

ela que a ideia se concretizou. Veio cá com o editor Zeferino Coelho. Testou o som do espaço da fábrica desactivada e considerou-o adequado. Convenceu o marido. Fez-se o lançamento do livro e a festa de aniversário. Foi em 2006. Correu tudo muito bem. na altura já o senhor estava incompatibilizado com o presidente da câmara da golegã. Que ajuda é que a junta de Freguesia teve da câmara da golegã? Nenhuma. Pediram ajuda? Pedimos. Primeiro verbalmente. Foi-nos dito para fazermos o pedido por escrito o que também foi feito. Naquela altura faltavam dois meses. Quando vimos que o apoio não vinha avançámos sozinhos. Contratámos uma máquina para fazer a limpeza exterior, pedimos um palco à câmara municipal da Chamusca...quando faltavam 15 dias mandaram-nos uma carta para termos uma reunião com a secretária do senhor presidente da Câmara. Já não era preciso. Como interpreta essa situação? Devem ter pensado que não éramos capazes e que eles apareciam no fim para salvar a situação. Esqueceram-se que o livro por onde eles aprenderam foi aquele por onde eu estudei e que já deitei fora há muitos anos. Depois dessa altura passou a ter um contacto mais regular com josé saramago? Sim, falávamos regularmente pelo telefone. Se ele estava em Portugal passava por casa dele. Se calhar veio mais vezes à Azinhaga de 2006 para cá do que tinha vindo durante toda a vida. De que falavam? De tudo. Tinha curiosidade sobre a Azinhaga, sobre as coisas antigas da terra. E tinha uma memória impressionante. Dizia muita vez. Ainda bem que tu apareceste. Não havia praticamente ninguém na Azinhaga que eu conhecesse. Nada me ligava à Azinhaga. Se tu não aparecesses eu não voltaria à terra onde nasci. ele disse na altura da inauguração da estátua: “Azinhaga não é só a minha terra. É a única terra onde eu realmente podia ter nascido”. Ele fez tudo para compensar a Azinhaga desse seu alheamento ao longo dos anos. Como é que conseguiu convencê-lo a inaugurar uma estátua em vida? Leitores do grupo “Mais Saramago” contactaram a Junta. Gostavam muito de fazer a estátua mas tinham conhecimento que o Saramago não autorizava estátuas em vida. Disseramme que se eu conseguisse convencê-lo eles pagavam a estátua e ela viria para a Azinhaga. Qual foi a reacção dele? Fui a Lanzarote para o ver e a primeira reacção dele foi a esperada. Nem me deixou continuar. “Não penses nisso! Enquanto eu for vivo não. Depois de eu morrer façam as estátuas que quiserem para os pardais me cagarem em cima à vontade mas agora peço-te que não me fales nisso”.

insistiu? Não. Já lhe tinha dito que a iniciativa não era institucional. Não era política. Era um grupo de leitores que queria fazê-la e que a Azinhaga nunca poderia ter uma estátua dele após a sua morte. Não tínhamos dinheiro para isso. o que o fez mudar de ideias? Tenho quase a certeza que foi a Pilar que o convenceu. Nunca lhe perguntei mas acredito que foi alguma conversa com ela que o fez mudar de ideias. No dia seguinte, à mesa do pequeno almoço, ele disse inesperadamente que sim. “Olha Vítor, estive a pensar melhor. Avancem com a estátua que eu lá estarei para a inaugurar”. Antes do 25 de Abril já se interessava por política? Não. Não estava ligado a nada. No dia 25 de Abril andava a trabalhar num primeiro andar de uma obra na Golegã com uma pessoa que para mim foi o pai que eu não tive, que era o mestre-de-obras, o sr. Augusto Costa, que ainda é vivo. Ele já sabia da revolução. Quando passou um GNR de bicicleta ele gritou-lhe lá de cima. “Anda cá malandro. Vem-me cá prender agora.” E o guarda baixou a cabeça e pedalou com mais força para sair dali. Quando se inscreveu no Ps? De início até simpatizava com o PCP mas quando eles defenderam a unicidade sindical afastei-me. Não compreendia como era possível um partido lutar contra uma ditadura e depois querer impor uma central sindical única. No dia em que fiz 18 anos aderi ao Partido Socialista do qual fui militante durante 31 anos. Considera-se um ribatejano? Concerteza, era quase impossível ser de outra forma. Trabalhei com cavalos. Com touros. Gostava muito de picarias. Cheguei a ter uma égua para ir dar os meus passeios até ao Paul do Boquilobo, aos domingos. Vendi-a há três ou

quatro anos por causa deste problema nos rins. Até tive mais que uma. Alguma vez pensou vestir um traje típico nos dias de Festa como faz o presidente da Câmara da golegã? Nunca pensei nisso. O senhor presidente da câmara é de uma das famílias ricas do concelho e essas famílias já se vestiam assim no S. Martinho. Eu se fosse fazer isso estaria a tentar passar por quem não sou. tem algum passatempo? Gosto muito de jogar às cartas. Temos um grupo que se junta regularmente para jogar à Sueca. Também gostava muito de pescar mas agora com o rio assim não dá. É capaz de distinguir os pássaros pelo canto? Já não tenho a mesma prática mas ainda consigo identificar muitos. o que gostava de fazer na Azinhaga que ainda não conseguiu fazer? Um salão cultural que agregasse todas as Associações onde fosse possível desenvolverem actividades. Como é tratado pelas pessoas da terra? Por senhor presidente? Tratam-me como toda a vida me trataram. Os que me toda a vida me chamaram Vítor continuam a tratar-me por Vítor. Os que me chamavam Pim, continuam a chamar-me Pim. Não me pergunte de onde vem essa alcunha que eu também não sei. Já a tinha em miúdo. Lá aparece um brincalhão que me trata por senhor presidente, mas é mesmo a brincar.


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Cultura Masculino

Custódio Castelo

Um músico multifacetado e exigente que ajuda a reinventar o som da guitarra portuguesa Custódio Castelo é arrebatador quando toca e diz que dá a alma em tudo o que faz O som da sua guitarra portuguesa está espelhado por todos os discos de topo do fado. Para os especialistas já começa a ser fácil distingui-lo, graças ao seu carácter inovador. Mas apesar de se definir como músico especializado em acompanhamento, Custódio Castelo tem já editado um disco a solo, “Tempus” e prepara um segundo, “Ventus”, que diz procurar ser um hino à liberdade. Em 2010 ganhou o prémio Amália. António Palmeiro Começou a gravar o seu segundo disco a solo em 2010. Já está concluído? Quando vai ser lançado? Infelizmente tive problemas com a gravação que estava a ser feita e fui forçado a recomeçar praticamente do zero. Mas o CD, que se chamará “Ventus” deverá ser editado este ano. Nesta altura o primeiro trabalho a solo “Tempus” está a ser distribuído a nível de vários países, nomeadamente nos Estados Unidos. O que é que podemos esperar de

“Ventus”? O “Ventus” foi concebido como um hino à libertação. À liberdade. Através da minha música procuro falar da liberdade de expressão; da liberdade de amar; da liberdade das crianças e da sua inocência...

Nunca fazer igual Custódio Castelo é um dos melhores guitarristas portugueses da actualidade. O músico, compositor e produtor discográfico nasceu em Almeirim a 23 de Dezembro de 1966 e reside no Monte da Vinha, uma pequena localidade da freguesia de Fazendas de Almeirim. É pioneiro na utilização de uma guitarra sem costas ou sem fundo. Usa um instrumento com aquelas características criado por Óscar Cardoso, um dos mais conhecidos construtores de guitarras do país. Em 2010 foi distinguido como melhor instrumentista pela Fundação Amália, a fadista que encantou Custódio Castelo e que ele chegou a acompanhar. O trabalho do guitarrista, que se considera um especialista em acompanhamento, está nos principais discos dos melhores fadistas nacionais,

Este segundo disco é o cimentar da sua faceta de solista. Sou compositor, produtor discográfico e músico. Como músico a minha especialidade é o acompanhamento. Eu estou nos discos de topo do país. O meu trabalho está ali. Amo aquilo que faço.

entre os quais Mariza ou Ana Moura, por exemplo. Paralelamente desenvolve um projecto a solo. Tem no mercado o disco “Tempus” que está a ser distribuído a nível internacional e iniciou a gravação de um segundo trabalho que deverá ser editado com o nome “Ventus” e cujo fio condutor é a liberdade. Antes de chegar à guitarra portuguesa tocou viola em grupos de música popular portuguesa e bandas rock. Foi responsável por grande parte dos trabalhos da cantora Cristina Branco com quem foi casado, tendo editado discos que foram considerados inovadores. Aos 20 anos foi convidado por Jorge Fernando a gravar um álbum. Ficaram amigos e Custódio Castelo acompanhou Jorge Fernando em todos os seus discos de fado. Em conjunto gravaram trabalhos para artistas como Argentina

Há artistas que a solo dão cento e vinte por cento e a acompanhar dão cinquenta por cento. Eu não. Eu dou tudo. Eu dou a alma em tudo o que faço. Podia ser apenas solista como foi, Carlos Paredes, por exemplo? O Carlos Paredes é o Carlos Paredes. Eu não sou comparável a ele. É desta diversidade que se faz a nossa cultura. É esta diversidade que torna a guitarra portuguesa tão rica. Eu faço questão de dialogar. Com cantores. Com músicos. Eu transporto o meu país no som da guitarra portuguesa mas a abordagem que eu faço à guitarra portuguesa, procuro que ela atinja a universalidade. É no estúdio, numa gravação, que se consegue tirar o melhor som da guitarra? O estúdio é climatizado e não há diferenças de temperaturas o que é muito bom para a afinação dos instrumentos. Se houver oscilações de temperatura não se consegue segurar a afinação. Os instrumentos de corda como a guitarra são muito sensíveis, por isso os espectáculos ao ar livre são um problema. Nós começamos com uma afinação e depois o instrumento desce. O próprio calor do corpo vai introduzindo alterações. Em 2010 recebeu o prémio Amália de melhor instrumentista. Para quem conviveu com a fadista esta distinção deve ter sido um grande orgulho. Foi um reconhecimento talvez também pela amizade que me ligava à dona Amália Rodrigues. É assim que aceito as coisas. Receber um prémio daqueles é prestigiante, não só para mim mas para a classe da guitarra portuguesa e para toda a gente que aprendeu e continua a aprender a Amália. Não gostava muito de fado e aprendi a gostar com Amália. Tive o privilégio de tocar para ela, de a conhecer e isso para mim constituiu uma bênção. Além da produção do “Ventus”, que outros projectos tem o Custódio Cas-

Santos, Mariza, Ana Moura, Maria da Fé, Gonçalo Salgueiro, Fernando Maurício, Raquel Tavares… A sua paixão, a sua vida, é a guitarra. Gravou com Ana Moura e Jorge Fernando, num convite de Tim Ries, dois temas (Brown Sugar e No Expectation) no segundo volume de “ The Rolling Stones Project “. A sua guitarra está cheia de autógrafos de artistas portugueses e estrangeiros com quem se cruzou, como Jorge Fernando, Ana Moura, Joana Amendoeira, Mick Jagger, entre outros. Está também envolvido num projecto, o Custódio Castelo Trio. É um músico que procura criar novas melodias e reinventar a guitarra portuguesa. Como solista já participou em vários conceituados festivais de música do mundo como, o Festival de Belo Horizonte (Brasil), World Music Festival of Philadelphia (Estados Unidos da América), Festival du Sud (França), entre outros.


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telo para este ano? Tenho em mãos o projecto de um disco novo da Cristina Maria que se chama “Percursos”. Tive o privilégio de produzir e tocar no primeiro disco “O Outro Lado”, em que ela, como escultora e mestre de cantaria artística, fez um disco dedicado à sua arte. Fui também buscar novos sons, enquanto produtor. Ainda não tinha ido em busca dos sons das pedras. As pedras também são música, como a madeira. Este vai ser um projecto para desenvolver ao longo deste ano. Para 19 Março está marcado um concerto de apresentação deste trabalho, em Leiria. Apesar do muito trabalho que tem, ainda consegue arranjar tempo para dar aulas de guitarra portuguesa na Escola Superior de Artes do Politécnico de Castelo Branco. Tenho essa missão de passar o conhecimento, mas também é um reconhecimento. Porque o que acontecia aos nossos guitarristas é que tocavam a vida toda e nunca tinham um reconhecimento. Alguns deixavam os discos, outros nem por isso. Hoje pode-se tirar um curso superior de guitarra portuguesa. O seu trabalho está nos discos de muitos artistas de topo, como a Mariza ou a Ana Moura, mas também está em muitos discos que não são de topo. Porquê? É o meu lado humano. Eu não tenho coragem de dizer que não. Nesta altura estou a fazer um disco de um fadista amador que sempre demonstrou uma enorme vontade de gravar comigo. Ar-

tisticamente muita gente me aconselharia a não gravar aquele disco mas vou fazê-lo. O Custódio Castelo pode sentir-se melhor como acompanhador mas a sua guitarra não se contenta com um lugar secundário. A certa altura a guitarra portuguesa foi conotada exclusivamente com o fado. A guitarra servia o fado. Onde havia guitarra portuguesa havia fado. Os guitarristas estavam a servir de suporte, nem tinham direito a ter o seu nome divulgado. Num filme português dos anos 50 a certa altura o apresentador depois de dizer o nome do fadista tenta apresentar o guitarrista e diz qualquer coisa como: “À guitarra o famoso, o conhecido…o polidor”. O polidor era a profissão do senhor, não era nome. Hoje em dia não é assim. Se eu posso segurar algum estandarte, após 25 anos a tocar este instrumento, é o de ter contribuído para o levar a todo o mundo dando-lhe o devido destaque. Para gravar discos de artistas amadores é porque se revê nesses trabalhos… Não me envergonho de nada que fiz até hoje. Dedico-me a esses trabalhos assim como me dediquei, com grande êxito, à carreira da Cristina Branco, que também, de certa forma, foi a minha carreira e um projecto de vida, naquela altura. A fama não lhe sobe à cabeça. Se fosse pessoa de ostentação não ligava aos artistas amadores. Mas sou uma pessoa simples e humilde.

Na adolescência descobriu a guitarra portuguesa e apaixonou-se por ela mas não gostava de fado. O seu interesse resumia-se ao instrumento. Utilizou-a para tocar rock ligada a um amplificador e com uma afinação igual à de uma viola. Qual é a sua relação actual com o fado? É verdade que com a guitarra portuguesa foi amor à primeira vista. E dediquei-me a ela com toda a minha alma. Quanto aos fados, foi realmente diferente. Tive que adaptá-los à minha maneira para poder gostar deles. Foi esse o percurso que me levou ao que eu sou agora enquanto músico e compositor. Recria esses fados? Não posso menosprezar aquilo que é a nossa raiz. Quando me pedem o Fado Mouraria ou o Fado das Horas eu toco-o na íntegra, como eu aprendi. E faço questão de respeitar. Mas para amar o fado tive que lhe dar um cunho pessoal. Como é que se define o Custódio Castelo? Há blues, Jazz, fado, morna…eu não defino a minha música como fado. A minha música é aquilo que eu sinto. Mas a sua música está quase toda em discos de fado. Por vezes há pessoas que vão comprar discos de fado que eu produzi e onde toco para ouvirem o que eu toco. Para verem as introduções que fiz para os fados; os sons que eu faço lá no meio. Às vezes em casos extremos, nem ligam a quem está a cantar mas apenas aos solos, contrapontos, etc.


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Política Feminino

Maria do Céu Albuquerque

Maria do Céu Albuquerque encara as dificuldades como desafios à sua criatividade “As mulheres em cargos de poder têm que dar mais provas que os homens” A câmara municipal de Abrantes nunca andou longe. Quando era criança ia lá com o pai que era Encarregado-Geral. Conhece alguns funcionários desse tempo. Mais tarde, na escola secundária, teve como professor de Filosofia o próprio presidente do executivo. Foi a convite dele que aceitou ser vereadora. Agora, depois de eleita com maioria absoluta, quer criar um estilo próprio de gestão. António Palmeiro Vem de uma carreira técnica, adaptou-se bem ao cargo de presidente da câmara? Neste momento acho que já estou por dentro de todo o mecanismo de gestão municipal. É evidente que a minha carreira é técnica, nunca fiz parte de nenhuma juventude partidária. Portanto não tenho esse perfil político. De qualquer modo estive três anos como vereadora o que me permitiu criar condições para poder exercer as funções de presidente de outra maneira. É claro que a responsabi-

lidade enquanto presidente é completamente diferente. O trabalho também é completamente diferente. É um desafio que todos os dias me é colocado. É daquele tipo de autarcas que fazem questão de serem os primeiros a entrar na câmara? Sim. E há alguns colaboradores que também partilham esse horário comigo. Faço questão de chegar cedo. Nós devemos de ser sempre os primeiros a chegar e sair com os últimos. É uma questão de exemplo. Para fazermos um bom trabalho temos que criar as melhores condições não só para darmos o exemplo mas também para mobilizarmos os nossos colaboradores para participarem no projecto que estamos a desenvolver e que depende muito daquilo que é a prestação desses colaboradores. Só quando já era vereadora é que se filiou no PS. Sentiu esta necessidade? Quando visto a camisola visto inteiramente. Nunca tinha militado em qualquer partido, mas a partir do momento em que entrei para um projecto político com o qual me identifico, e que subscrevo as suas bandeiras e os seus valores, não fazia sentido não estar integrada nesta família política. Assim que entrei para o projecto e que consolidei do ponto de vista pessoal esta relação obviamente que tinha que me filiar.

Houve alguma pressão partidária nesse sentido? De maneira nenhuma. Foi uma vontade pessoal. Estive fora e estou em Abrantes desde 1995. Fui sempre acompanhando aquilo que era o exercício do poder local aqui no concelho. E fui criando também este gosto pelas matérias sociais e pelos projectos que foram desenvolvidos. Foi o seu antecessor, Nelson Carvalho, que a trouxe para a política. Que relação tem com ele? Ele foi meu professor de Filosofia quando tinha 17 anos e depois deixei de o tratar por professor para o tratar por presidente. Gostei muito de trabalhar com ele e habituei-me a admirá-lo enquanto líder, enquanto decisor e quando me convidou para fazer parte das listas não consegui recusar porque me identificava com o projecto que estava a ser desenvolvido. Quis também dar o meu contributo para a minha cidade, o meu concelho e para o desenvolvimento da minha região. Foi também o seu professor político… Também foi. Quando se trabalha numa equipa coesa temos muito tempo para discutir, conversar, partilhar e isso constituiu também uma aprendizagem que fui fazendo ao longo destes anos.

Quando concorreu à presidência nas últimas autárquicas tinha fé que fosse eleita com maioria absoluta? Não posso dizer que esperava porque em política nada é certo mas tinha consciência que dificilmente o PS perderia a câmara. O trabalho que estava feito anteriormente tinha resultados que eram reconhecidos pelas pessoas. Não tinha bem uma noção se seria uma vitória com maioria relativa ou absoluta. Até porque havia seis candidaturas e uma delas era independente que de independente não tinha nada e que vinha de dentro do próprio Partido Socialista. E isso poderia trazer algumas dificuldades. No início fez questão de dizer que queria fazer uma política de proximidade. É uma autarca do diálogo, da interacção? Eu sou assim. Só consigo ser presidente de câmara se puser aquilo que sou ao serviço do projecto autárquico. Hoje temos um conjunto de investimentos em curso mas não temos como prioridade fazer obra física. Cada vez mais o poder local tem que estar próximo das pessoas, tem que ouvi-las e pô-las à frente das suas políticas. O que é que as mulheres têm de diferente para oferecer à política? Em Abrantes sou a primeira mulher presidente de câmara. Aquilo que posso dizer que as mulheres têm para dar é uma dedicação imensa, um esforço imenso para conseguir uma afirmação. Toda a nossa dinâmica é fomentada para essa afirmação porque a sociedade ainda não está preparada para acolher as mulheres nestes cargos como está para os homens. A sociedade ainda olha muito para a mulher na óptica de que tem que estar em casa a cuidar dos filhos, da família. Mas agora tem menos tempo para a família? Coloquei a minha família no centro da decisão de me candidatar. O meu marido e as minhas filhas saíram comigo para a campanha e têm-me apoiado durante este tempo todo. E quanto mais coisas temos para fazer melhor organizamos o nosso tempo. O que é que mudou na sua vida a partir do momento em que foi eleita?


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Passei a estar muito mais exposta publicamente. Sou o alvo das atenções. Devido a essa exposição pública já ouviu coisas desagradáveis. Não ouço as coisas desagradáveis. Há críticas que ouço e das quais retiro o que tenho que retirar. A crítica desagradável por ser injusta, desonesta e até por faltar ao respeito, ignoro. É eleita numa altura de crise. De que forma é que isso afecta as autarquias? Desde que chego à câmara até que me deito à noite luto para vencer desafios. A situação de crise também afecta o poder local. Mas não posso falar disso como uma dificuldade. Tenho que encarar os problemas como desafios à minha capacidade e à minha criatividade. Os autarcas hoje têm que cada vez mais ser criativos na maneira como gerem os dinheiros públicos e na forma como encontram resposta para as necessidades dos cidadãos. Quais são os projectos que quer apresentar à população neste mandato? Temos dois projectos na área da Educação, a construção de centros escolares e a escola superior de tecnologia, cujas obras esperamos iniciar este trimestre. Estes são os projectos que estão a consumir alguma da nossa energia. Temos já quatro centros escolares em construção em Alferrarede, Bemposta, Rio de Moinhos e Tramagal. A nível cultural temos a criação do Museu Ibérico de Arqueologia e Arte. Mas estamos também empenha-

dos na dinâmica do Tecnopolo. No final dos quatro anos do mandato o que é que quer ter para apresentar aos munícipes? Quero chegar ao fim destes quatro anos, que coincidem com o final do Quadro de Referência Estratégico Nacional e mostrar que Abrantes foi capaz de fazer uma boa gestão financeira e trazer os equipamentos necessários para desenvolver o concelho. A introdução de portagens na Auto-Estrada 23 vai trazer dificuldades a Abrantes e a esta região do Médio Tejo. Sendo uma autarca da mesma cor política da do Governo isso não lhe limita a sua oposição à medida? A nossa função enquanto representantes dos nossos cidadãos é defender aquilo que é melhor para eles e neste caso todos temos percepção que a inclusão de portagens na A23 pode causar problemas ao desenvolvimento da nossa região e do nosso concelho. Vamos trabalhar esta matéria alargada aos municípios do Médio Tejo de modo a encontrarmos a melhor forma de não prejudicarmos as nossas populações. Como se sente como militante do partido do Governo que decidiu introduzir as portagens? Há situações que temos que distinguir. Apoiarei o Governo, mas não posso abdicar daquilo que legitimou a minha eleição. Fui votada pela população de Abrantes que me deu a maioria absoluta para defender os seus interesses. É isso que farei sempre.

Uma mulher que gosta de olhar para a frente Maria do Céu Albuquerque nasceu em Casais Revelhos, na freguesia de Alferrarede, concelho de Abrantes, há 40 anos. Casada e mãe de duas filhas, com 12 e 13 anos, nunca sonhou em ser presidente de câmara apesar de durante a juventude passar muitos dias na autarquia, onde ia ter com o pai que era encarregado geral de obras. Conhece todos os funcionários mais antigos da autarquia que gere agora desde Outubro de 2009. É a primeira mulher a assumir o cargo no concelho. Agora que é presidente de câmara gosta de ouvir as opiniões e os conselhos do pai na gestão autárquica aproveitando os 35 anos de experiência que ele teve. A autarca lembra que costumava ir com o pai ver as obras municipais ao fim-desemana porque ele não tinha tempo para acompanhar todos os trabalhos durante a semana. E até gostava do programa ao ponto de ter chegado a ponderar ir para engenharia civil. Mas acabou por optar por se licenciar em Bioquímica pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Esteve durante vários anos afastada de Abrantes. Quando esteve a estudar e após acabar o curso quando exerceu funções de investigadora durante dois anos, entre 1993 e 1995, na universidade. Abdicou da carreira como investigadora para acompanhar o marido que queria montar o seu consultório de médico dentista em Abrantes, mas também porque queria ser mãe. De todas as opções que tomou na vida diz que não pode falar em perdas e que é uma mulher que tira o melhor de cada situação e que gosta de olhar para a frente. Em Abrantes, o trabalho de Maria do Céu Albuquerque começou a dar nas vistas quando abraçou o projecto de pôr de pé um laboratório a nível regional de controlo de qualidade, a partir do Labgat, que era um pequeno laboratório que existia no GAT (Gabinete de Apoio Técnico) de Abrantes, onde já trabalhava. Conseguiu o sonho de criar o A.Logos, que é um equipamento de referência regional e até já nacional. E foi em parte devido a este empenhamento que chega a vereadora da Câmara de Abrantes no mandato passado.

Costuma dizer que o seu maior hobbie é o trabalho. Adepta da organização quer da vida profissional quer familiar, há uma coisa que não tolera que é a falta de respeito. É uma mulher todo-o-terreno. Tanto gosta de trabalho de gabinete, de planeamento estratégico, como de andar no terreno, nas obras de capacete e botas biqueira de aço. Não abdica dos dias de férias porque quem se esforça merece uns dias para descansar e no tempo livre que vai tendo gosta de viajar e de ler. Prefere livros de autores latino-americanos, como Gabriel Garcia Marques ou Mário Vargas Llosa, apesar de confessar que gosta de ler de tudo um pouco. Tem como um dos lemas de vida fazer imediatamente o que puder para ajudar outro ser humano, nem que seja com uma amabilidade. Mas não é de dar esmolas. Prefere dar a cana e ensinar a pescar porque a esmola normalmente não resolve os problemas. A autarca confessa entre risos que desde que é presidente do município que tem tido mais cuidado com a imagem, sobretudo quando sabe que está em situação de maior exposição pública. Porque os cidadãos também querem que o município esteja representado por alguém que de aspecto possa elevar o concelho. Gosta de cozinhar. Se pudesse só comia petiscos. Um filme que a marcou “profundamente” foi a “Lista de Schindler”, de Steven Spielberg. Na música, gosta do jazz à clássica, passando pelo fado ou pela ópera. Costuma quando pode fazer canoagem no Tejo com o marido e de vez em quando vai ao ginásio. Ao fim-desemana há uma coisa que se puder não deixa de fazer e que chama de fazer “fotossíntese”, que é sentar-se numa esplanada do centro histórico a apanhar sol, a ler o jornal e a conversar com as pessoas. A autarca é uma adepta das novas tecnologias. Costuma andar com um Ipad na mão e é utilizadora do Facebook onde já tem mais de mil amigos. Tem um pedido especial por cumprir e que veio das filhas. O primeiro pedido que elas lhe fizeram quando foi eleita foi que Maria do Céu Albuquerque trouxesse um McDonalds para Abrantes. Ainda não conseguiu satisfazer o desejo das filhas, mas está a tentar.


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Tauromaquia

Victor Mendes

O matador de toiros que quer ser advogado e aprender a dançar Victor Mendes está decidido a passar cada vez menos tempo nas arenas Toureou em mais de mil corridas, foi colhido por toiros e fintou a morte. Sempre preferiu os charutos e sombreros atirados para a arena, às flores. Aos 53 anos o matador Victor Mendes - que em 2010 tomou as rédeas da Escola de Toureio José Falcão – confessa querer passar menos tempo na arena para se refugiar no salão de baile. Aprender a dançar é um dos projectos de futuro do toureiro. O outro é acabar o curso de direito. Ana Santiago Quis retirar-se da vida de toureiro mas acabou por voltar às arenas. Porquê? Impressionava-me o facto de muitas figuras do toureio da minha época se retirarem e voltarem alguns anos depois. Pensava que poderia passar ao lado disso, mas é-me impossível. É a minha necessidade de me encontrar com o público. Nunca existe verdadeiramente uma retirada. Mas a arte de tourear não se compadece com esta hesitação. Não há hesitação. Saí uma vez, em

1998. Depois de ter toureado em 1300 corridas. Estive 18 temporadas no activo, 14 das quais no grupo especial dos matadores de toiros mais cotados a nível internacional. Depois disso voltei a tourear, mas em corridas de toiros com um significado histórico. A primeira corrida de toiros da nova praça de toiros do Campo Pequeno, a do centenário da praça de toiros de Vila Franca de Xira… Aceitou o desafio de ficar à frente da escola de toureio José falcão e apontou desde logo a falta de disciplina e técnica. Hoje em dia encaramos as coisas de forma pouco exigente. Qualquer artista deve procurar incessantemente ser o melhor. Isso tem que ser feito com muita entrega, trabalho e dedicação. O bailarino [Mikhail] Baryshnikov, um dos históricos do ballet clássico, disse uma vez em entrevista que todos o consideravam o anjo que voava, mas ninguém sabia os milhares de horas que passava a treinar e a deformação dos pés que sofria. Podemos ter talento, mas tudo isso tem que ser trabalhado. Como olha para estes jovens que hoje ensina? Estes jovens têm possibilidades muito maiores. Há 50 ou 60 anos nós buscávamos o bem-estar. Éramos mais rurais, éramos mais essência, éramos mais sangue…

Eles têm a vida mais facilitada para ser toureiros? Têm. A escola da minha época era a escola da boleia para ir aos tentaderos. Era a escola da oportunidade de ouvir uma dica de um maestro. Antevê uma figura para breve dentro deste grupo de jovens? Estamos no campo das hipóteses. Antevejo todos e não antevejo nenhum. São muitas as circunstâncias que influenciam. Não basta aos jovens estarem preparados fisicamente. Alguns, de repente, aperce-

bem-se de que isto é muito mais sério do que pensavam. Uma das coisas mais bonitas é ver que alguém toma consciência da seriedade de algo em que está envolvido. A desistência às vezes não é algo de negativo. O mundo dos toiros, como outros mundos relacionados com o espectáculo, tem mais vencidos que vencedores. Os grandes toureiros não passaram por uma escola. Nós hoje em dia não temos paciência. Antigamente, há cinquenta anos, esperávamos pelos toureiros. Daí que muitos deles aparecessem aos 30 anos. As carreiras profissionais eram mais curtas. Oito ou dez temporadas vividas com intensidade. Agora começamos a ensinar miúdos aos 10. Se tiverem aquele talento aos 19 anos começam a surpreender-nos. O Victor não passou por uma escola. Por isso é que fui matador de toiros aos 23 anos. Se tivesse passado por uma escola certamente o teria sido aos 17. Deus não aporta a todos a inteligência, o brilhantismo, a capacidade. Nem todos os que frequentam a escola José Falcão sairão dali profissionais do toureio, mas estou a criar algo fundamental para a subsistência do espectáculo: aficionados. É muito exigente com os jovens da escola de toureio. Aplica alguns dos conhecimentos da tropa? É assim com os seus filhos também? A experiência de comandar homens na tropa foi muito gratificante. Se dois ou três homens não eram capazes de acompanhar os outros interrogava-me sobre a forma de conseguir motivá-los. Na escola de toureio é um pouco isso que se procura. A exigência não implica entrar na radicalidade. Sou exigente, mas também reconheço o que é bem feito. Aos meus filhos faço o mesmo. O toureio é uma figura muito assediada. Penso que isso tem que ver com algo que se diluiu muito ao longo das últimas três décadas - a masculinidade. O homem modificou a sua posição na sociedade face ao avanço da mulher dentro destes radicalismos tristes que o feminismo assumiu. É evidente que o sexo feminino é diferente do sexo masculino e vice-versa,


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mas é a simbiose dos dois que garante a continuidade da humanidade, reconhecendo embora que sempre existiu a homosexualidade. Essas pessoas têm o direito a essa felicidade, mas têm que saber respeitar-se. Quando ouve um homem dizer que partilha as tarefas domésticas isso soalhe a falta de masculinidade? Não necessariamente. Eu mesmo colaboro quando é preciso. Os meus filhos sabem fazer a cama, estrelar um ovo e pôr a mesa e não é por isso que deixam de ser masculinos. Não se trata aqui da falta de masculinidade intrínseca do homem. É a presença da mulher que tira essa masculinidade. A agressividade feminina transformou o próprio homem. Então o problema é delas? A posição do sexo masculino na sociedade diluiu-se um pouco mais, o que é positivo por um lado, mas penso que se exagerou. A mulher acaba por assumir hoje em dia um papel muito mais agressivo e mais liberal. As mulheres são mais agressivas hoje em dia?

Têm mais ambição e são tremendamente mais cruéis entre elas. Quer no âmbito profissional quer no âmbito sentimental. Onde gosta de ver as mulheres numa praça de toiros? Na arena ou na bancada? Dentro de uma praça de toiros, na bancada. A partir de um certo nível a questão física condiciona muito o ente feminino. Na cara de um toiro com 550 quilos em pontas. Entramos no campo da aberração e do perigo iminente. Mas o perigo existe para o homem e para a mulher. O perigo está aí para todos, mas se tivermos nesta situação 100 mulheres e 100 homens provavelmente passarão 80 homens e apenas 20 mulheres. Estão sempre mais condicionadas. E no toureio a cavalo? No toureio a cavalo diluem-se muito mais as coisas e é sobretudo a perspectiva psicológica e o conhecimento que jogam. Tem um pequeno museu em casa. Tal como o tem o toureiro Mário Co-

Um toureiro nunca se despede das arenas para sempre Um dos melhores matadores de toiros de sempre, Victor Mendes, está desde o início de 2010 na direcção técnica e artística da Escola de Toureio José Falcão, em Vila Franca de Xira. Disciplina e técnica são as grandes apostas do matador que está empenhado em elevar a fasquia na escola que ajuda a formar novas figuras do toureio. O toureiro que o espectador se habituou a ver envergando cintilantes trajes de luzes aparece de fato de treino e ténis no cabo da lezíria para dar mais uma lição a 17 aspirantes a toureiros. A alma de “maestro” descobre-se nos pequenos gestos, na pose erecta do corpo e na forma de movimentar-se. Victor Manuel Valentim Mendes nasceu em Marinhais a 14 de Fevereiro de 1958 e foi baptizado na Igreja de São João em Coruche, onde o pai era cabo da GNR. Cresceu em Vila Franca de Xira para onde foi viver com quatro anos de idade, na altura em que o pai passou a ser escrivão do tribunal local. A mãe trabalhava a dias para ajudar o orçamento familiar. O gosto pelos toiros despertou logo na Escola do Bacalhau onde fez a instrução primária. O pai, que era aficionado e via com bons olhos o gosto do filho pela festa brava, pediu ao maestro José Júlio que lhe desse as primeiras lições. Mais tarde Victor Mendes conheceu os irmãos Badajoz e foi António que o preparou para novilheiro e lhe apadrinhou a alternativa. Em 1976, no âmbito do serviço cívico estudantil, Victor Mendes foi colocado na escola de Benavente para ajudar analfabetos a ler e escrever e

prepará-los para o exame da quarta classe. Foi uma experiência única ter alunos com idade para ser seus avós. O matador tinha acabado o sétimo ano do liceu e preparava-se para entrar na Faculdade de Direito porque ambicionava ser advogado. O pai lidava de perto com a justiça e muitas vezes ajudava os mais pobres a resolver alguns problemas. O curso superior – que ainda tem esperanças de concluir – foi trocado pelas arenas. Victor Mendes foi figura mundial, triunfou nas principais praças e destacou-se pela sua humildade, inteligência, coragem e facilidade de chegar ao público com simpatia e emoção. Toureou em mais de mil corridas. Foi o toureiro português que mais triunfos alcançou em Espanha, França e América Latina. Curiosamente foi em Portugal que realizou o menor número de corridas. Tem o corpo marcado por dezanove cornadas que são o mapa da sua peregrinação por uma profissão onde poucos triunfam. O museu de dois pisos é o prolongamento da sua casa num sítio privilegiado de Vila Franca de Xira. Cabeças de toiros embalsamadas, pinturas, fotografias, esculturas, livros, revistas e trajes de luzes evocam uma carreira repleta de sucessos. É casado e tem três filhos: Diogo, António e Pedro. É crente. Costuma entrar nas igrejas para estar com Deus. Chegou a estar às portas da morte e diz que se agarrou à dor como forma de se agarrar à vida. Costuma sorrir na praça para afastar o medo. Já se despediu da arena, mas não consegue arrumar o capote a muleta.

elho. Em Vila Franca de Xira têm que ser os toureiros a fazer os seus próprios museus? Houve quem entendesse, e muito bem, fazer um museu de índole pública. Outros optaram por vender o espólio por circunstâncias da vida. Outros, como eu, fizeram um museu apartado do contexto da família. Penso que a senhora presidente da câmara tem em mente um projecto do tipo. Não só de matadores de toiros, mas de outros profissionais. Seria espectacular, mas não me preocupo muito com essas questões. A que dedica os seus tempos livres, que são maiores agora? O que a leva a pensar que tenho mais tempo? (risos) A diferença é que procuro desfrutar mais das coisas. Tenho a escola de toureio e quero ver se termino o curso de Direito que deixei por concluir. A outra coisa que quero fazer é mais fácil: dançar. Sempre pensei ir para uma escola de dança. Já falei com a minha mulher e até nos rimos juntos. Quero aprender tudo. Desde o fox trot à valsa, que já sei dançar. Há pouco dizia aos seus alunos que o toureiro dever ser quase como uma bailarina. Há muito de força, de agressão e de animal na cara de um toiro. Eu próprio já tive que abrir mão de um pouco desse lado animal - que o homem guarda em si também - mas com o tempo, com o prazer de tourear, com a sensibilidade e segurança é a naturalidade e a estética que predominam. Tal como no ballet a pose

é fundamental. O toureio hoje em dia é mais estético que nunca. Qual é a diferença entre entrar numa praça de toiros aos 20 e aos 50 anos? Agora entras numa praça mais consciente que nunca do que podes arriscar. Aos 20 anos entras com ambição e uma vontade de superar tudo e todos. Essa ingenuidade da juventude determina também que alguns fiquem pelo caminho. Quando és mais maduro podes fazer a diferença com três ou quatro coisas. É outra intensidade. Qual foi o objecto mais emblemático que lhe atiraram para a arena? Não era das flores que eu mais gostava, mas dos charutos. Via em certos livros antigos de tauromaquia que em princípios do século XX a categoria e triunfo dos toureiros era determinada pela quantidade de charutos e de sombreros que os aficcionados atiravam para a praça. Às vezes ficava com uma única flor, mas se me atiravam um charuto era a primeira coisa que agarrava. Até que idade se vê a entrar numa arena? Vejo companheiros que abdicaram dessa liberdade por várias circunstâncias. Ou por imposição da mulher, por questões físicas ou por recearem a crítica. O artista deve estar sempre acima destas coisas. Desde que se sinta feliz tem o direito de o fazer. Claro que também temos que ter consciência do sentido do ridículo. Tens que avaliar todas as questões. Podes até exercer essa liberdade mas no dia seguinte arriscas-te a ter as malas à porta.


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Cidadania

Padre Mário Duarte Questionei muitas vezes o caminho que estava a seguir. Tanto que, já quando estava a estudar Filosofia na Universidade Católica de Lisboa, saí do Seminário durante alguns meses e entrei em Direito, onde estive durante dois semestres. Depois achei que a advocacia não era para mim. A minha vocação não era para ser exercida daquela maneira. Acabei por regressar ao Seminário. Acabei o bacharelato em Filosofia e, no final, fui fazer o noviciado para Itália. Como foi essa experiência? Sair do país faz bem. O primeiro desafio é a aprendizagem da língua. Em Itália, éramos 12 ou 13 noviciados, todos de nacionalidades diferentes e todos frequentávamos a Consulata. Os nossos superiores davam-nos as possibilidades de todas as semanas frequentarmos uma família com o objectivo de nos inserir na cultura local. Procurava sempre famílias com crianças. Porque as crianças são os nossos melhores professores. Não têm preconceitos, não têm vergonha de nos corrigir. E isso é positivo quando estamos a aprender uma nova cultura.

“Sempre me senti parte de cada uma das famílias que habitam nas minhas paróquias” O Padre Mário Duarte é um cidadão do mundo que criou raízes em Tomar Fez o noviciado em Itália, estudou Teologia em Inglaterra e foi missionário na África do Sul na altura da transição do regime de apartheid para a democracia. Experiências que sempre encarou de mente aberta. Há 15 anos assentou em Tomar e o seu trabalho é elogiado e considerado inovador. Elsa Ribeiro Gonçalves Quando é que decidiu que queria ser padre? Quando brincava com os meus irmãos, amigos ou vizinhos eu era sempre o padre. Celebrava os sacramentos, só que não era ordenado. Era a minha brincadeira favorita. Quando andava na 4.ª classe passou um padre na minha terra e deixou a direcção do seminário no quadro da escola. Escrevi para lá sem os meus pais saberem. Com o apoio da família entrei no seminário da Consulata de Coimbra nesse Verão. Mas sempre me animaram três vocações. Queria ser jornalista, advogado ou padre. Teve, portanto, dúvidas em relação ao que queria fazer da sua vida? Claro que tive. A vida é um caminho e este percurso é cheio de dúvidas, incerte-

zas, inquietudes e interrogações. Cheguei a estar várias vezes fora do seminário mas regressei sempre. Cada vez gosto mais de ser padre. Sempre joguei entre estes dois binários: ser padre ou constituir família e ter quatro filhos, metade dos que teve o meu pai (risos). Mas quando decidi ser padre, decidi-o livremente. Não me chocaria se um dia a igreja decidisse que os padres poderiam casar. Mas, no meu caso, ter uma família seria limitativo porque estou dedicado de alma e coração à comunidade. Provém de uma família muito religiosa? Sim. Mas a minha mãe não queria que eu enveredasse por este caminho, o meu pai é que sempre me apoiou. Acabou por falecer, com a idade que eu tenho hoje, num acidente rodoviário, perto de casa, três anos antes da minha ordenação. Foi o único elemento da família que não assistiu a esse momento. Como é que foram os primeiros tempos no seminário? No princípio foi o desafio e a curiosidade natural de uma criança. Não foi um percurso fácil. Eu vinha de uma aldeia do centro de Portugal e academicamente mal preparado. Ao ingressar no seminário em Vila Nova de Poiares (Coimbra), sentia que estava atrás dos meus colegas, especialmente daqueles que provinham

das grandes cidades. Senti-me um pouco perdido. Durante aquele primeiro ano, fartei-me de escrever cartas aos meus pais para me irem buscar. Mas o meu pai dizia sempre: tu é que quiseste ir para o seminário, vais resistir até ao fim e no final do ano falamos. No fim desse ano, talvez por birra e para mostrar o meu descontentamento por ninguém me ter ido buscar durante o ano, fiquei lá. Não fui a casa. Depois fiz o percurso normal, com todas as dificuldades que os jovens têm. Que dificuldades foram essas?

MISSIONÁRIO NA ÁFRICA DO SUL NUMA REGIÃO ONDE SÓ EXISTIAM TRÊS BRANCOS Foi missionário na África do Sul. Como é que descreve essa experiência? Fui para lá em 1991. Estive dois anos ainda com o regime de Apartheid e dois anos após o fim do Apartheid. Tive muita dificuldade em obter um visto para entrar na África do Sul e entrei como jornalista porque não podia entrar como padre. Qual era o seu trabalho? O meu trabalho como o de muitos outros era preparar as pessoas para a passagem a um regime democrático num ambiente de paz. Este trabalho contribuiu para que no fim do Apartheid as eleições tivessem sido pacíficas, quando todos esperavam o contrário. Foi fácil aprender Zulu? Tinha oito, dez horas por dia de aulas. É uma língua muito difícil mas muito matemática. Não conheço nenhuma língua tão sofisticada como o Zulu. Tinha um padre amigo que falava e escrevia zulu melhor que os zulus e dizia que se o modo de vida


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se assemelhasse ao modo como a língua é constituída eles seriam uma das primeiras nações do mundo. Que tipo de missões tinha? Uma das minhas missões era, à sexta-feira à noite, saltar para cima de uma camioneta e escolher corpos entre mortos, vivos e feridos. Lembro-me que em Ermelo, perto da Travellerspoint, na primeira semana em que estava lá, reabriu uma discoteca e oito pessoas morreram em confrontos. Havia duas forças políticas muito fortes: o ANC (Congresso Nacional Africano) e o Inkatha Freedom Party. No terreno andava com guarda-costas e eles é que me diziam onde podia ir e quanto tempo podia ficar. Porque a presença de um branco poderia dar azo a violência. Nunca mudei

Um padre que só fica feliz com a felicidade dos outros Por onde passa é abordado por todos com amabilidade. Quando não o cumprimentam é ele quem toma a iniciativa. Os seus telemóveis não param de tocar. Diz que todos os dias tem convites para almoçar e jantar e são poucas as vezes que recusa. Gosta de se vestir de forma informal. Conhece os quatro cantos do mundo mas desde Setembro que mora a poucos metros da Praça da República, no centro histórico de Tomar. Antes de ser ordenado padre, a 21 de Julho de 1990, e porque não se sentia ainda preparado, pediu para fazer uma pausa. É sem pruridos que confessa que teve algumas dúvidas se o sacerdócio seria o único caminho a seguir. Pensou em ser jornalista, advogado ou padre. Hoje tem a certeza que a escolha não podia ter sido mais acertada. Só é feliz quando sente que os que estão à sua volta também o são. É esse o fio condutor da missão que abraça há 20 anos. O percurso do padre Mário Farinha Duarte, nascido na freguesia da Sertã, a 3 de Maio de 1950, tem que ser contado em episódios. Foi o primeiro de oito irmãos, o único que viria a seguir o sacerdócio. Uma ideia que nasceu em criança e que cresceu com a passagem de um padre na escola da sua terra, a quem viria a escrever uma carta, com 11 anos, às escondidas dos pais. No Verão de 1971 entrou como estagiário no Instituto Missionário da Consulata de Coimbra, uma congregação de origem italiana espalhada por mais de 50 países de quatros continentes. Estudou em vários locais do país. Primeiro em Vila Nova de Poiares, em Coimbra, onde fez os dois anos do antigo ciclo preparatório. O liceu foi feito em Fátima e o ano Propedêutico em Abrantes. Mais tarde rumou à Universidade Católica de Lisboa para

de carro porque aquele era reconhecido e todos me saudavam. DOIS MILHÕES EM OBRAS NAS PARÓQUIAS DE CASAIS, ALÉM DA RIBEIRA E ALVIOBEIRA Nasceu na Sertã, estudou em Coimbra, Abrantes e Lisboa. Passou por Itália, Inglaterra e África do Sul. Como é que veio parar a Tomar? Vim para cá como capelão militar. O D. António Francisco Marques, primeiro bispo de Santarém, disse-me que tinha umas paróquias no norte do concelho (Além da Ribeira, Alviobeira e Casais) que bem que precisavam de um missionário. Na altura não aceitei e regressei à África do Sul. Só dois anos mais tarde é que escrevi ao bis-

estudar Filosofia. Deixou o Seminário para estudar Direito mas desistiu no segundo semestre. Quando terminou o curso foi para Itália fazer o “noviciado”. Em Inglaterra, estudou Teologia, país onde permaneceu quatro anos. No final da experiência, confessa que não se sentia preparado para ser ordenado padre e pediu à congregação para fazer mais um curso, na área da comunicação social, na vertente da Pastoral Juvenil. É enviado para Roma, onde esteve mais três anos. Foi neste país que foi ordenado Diácono, a 8 de Dezembro de 1989 pelo Cardeal José Saraiva Martins, na altura responsável pela Doutrina da Fé no Vaticano. A 21 de Julho de 1990 foi ordenado padre na Sertã, após o que partiu em missão para a África do Sul, onde esteve três anos. Pediu para regressar a Portugal e veio para capelão militar em Tomar, estabelecendo relações com a igreja local. Dom António Francisco Marques, primeiro bispo de Santarém, lançou-lhe o desafio de trabalhar nesta região. Recusou mas dois anos mais tarde escreveu ao bispo a mostrar o seu interesse. Chega a Tomar em Setembro de 1995. Dois anos mais tarde é incarnado na Diocese de Santarém e fica responsável pelas paróquias de Além da Ribeira, Alviobeira e Casais onde permanece 15 anos, estabelecendo uma relação umbilical com a comunidade. Com a saída do padre Frutuoso Matias, em Setembro de 2010, passa a ser o responsável pelas paróquias de São João Baptista e Santa Maria dos Olivais, no centro urbano de Tomar. É fácil apanhá-lo a trabalhar, lado a lado com os paroquianos, no terreno. Quer seja na preparação da Feira de Santa Iria, a subir a um escadote para ajudar a montar stands, quer aquando do tornado de 7 de Dezembro de 2010, onde foi um dos responsáveis pelo levantamento dos prejuízos e co-organizado um concerto de solidariedade a favor de 30 famílias carenciadas atingidas pela intempérie. Para o padre Mário Duarte ajudar os outros é algo tão natural como respirar ou fazer despertar um sorriso numa criança.

po a perguntar se o convite ainda se mantinha. Eram paróquias que estavam sobre a responsabilidade dos padres franciscanos de Leiria. Eu fui o primeiro padre não franciscano a ficar ali. Foi bem aceite pela comunidade? Tive a sorte de ser precedido por um padre franciscano que admirei muito, já falecido, que era o padre Adelino Pereira. Era um homem zeloso e absolutamente incansável. Era o responsável pela Casa do Bom Samaritano, em Fátima, uma instituição de acolhimento, era também o superior dos Franciscanos de Leiria e, além disso, zelava por estas paróquias, às quais trouxe um espírito novo. Quando eu chego, as pessoas estavam a dar os primeiros passos numa visão nova do que era ser paróquia. Eu agarrei no que já existia e explorei o que ainda não existia. Esteve lá durante 15 anos. Há quem descreva o seu envolvimento como umbilical. Foi necessário trabalhar muito em termos de erguer estruturas físicas. Não existiam salas de catequese nestas paróquias. Nas três paróquias, ao longo destes anos, devemos ter feito obras de dois milhões de euros. Começamos por reconstruir a Igreja de Alviobeira, depois a de Além da Ribeira e a de Casais. Há muita obra feita e só tenho a agradecer a generosidade das pessoas. Tivemos alguns apoios, cerca de 90 mil euros do governo central, mas tudo o resto foi conseguido à custa de festas, peditórios ou lotarias. Esteve sempre envolvido nessas iniciativas?

O padre tem que ser aquele que dá a alma. A construção mais importante não é a dos espaços, é a da própria comunidade. Isto envolve uma dedicação total às pessoas. Sempre me senti parte de cada uma das famílias que habitam naquelas paróquias. Foram eles que me alimentaram ao longo destes anos todos. Não faço comida. Convites nunca me faltam. Só tenho pena de não poder responder a todos. Considera que é difícil cativar as pessoas para a igreja? É um trabalho constante a fazer. Por exemplo, estou a tentar implementar o acolhimento junto à igrejas. Ter duas ou três pessoas, à porta das igrejas, que dão as boas-vindas à comunidade. Ou oferecer um mimo a quem nos visita. Na Igreja de Santa Maria dos Olivais, por exemplo, todos os paroquianos receberam um postal com uma oração. Este acolhimento é importante para que as pessoas não entrem num ambiente estranho. Ao sábado, na Igreja de São João Baptista, temos uma missa às 18h30 destinada a jovens. A seguir ao tornado foi fazer o levantamento das necessidades e ajudou a organizar um concerto de solidariedade. Não consegue estar parado? Acho que ajudar faz parte da vocação de cada ser humano. O que gostaria é que este trabalho tivesse sido feito, desde o primeiro momento, em conjunto. Estou a aprender muito com esta experiência. Se tivéssemos começado mais cedo teríamos ido mais longe e ajudado as pessoas de uma maneira mais eficaz. Poderíamos ter envolvido o país nesta causa.


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Desporto Feminino

Futsal Riachos

A comandante Isolina Silva e as jogadoras de futsal de Riachos que querem ganhar tudo “As taxas que pagamos por cada jogo e o valor das inscrições são exorbitantes” Foi jogadora de andebol e mais tarde de futebol. Agora é a responsável pela equipa feminina de futsal de Riachos. Isolina Silva tem 46 anos, nasceu em Alcanena, mora em Minde e trabalha numa escola. Diz que a gestão da equipa lhe tira algum tempo livre que gostava de ter para os amigos e tem dores de cabeça permanentes por causa das contas mas nota-se que está feliz. As suas jogadoras têm garra e ambição. Quem não gostaria de trabalhar com uma equipa assim??!! Ana Isabel Borrego Como se tornou directora da secção de Futsal Feminino do Clube Atlético Riachense (CAR)? Para ser sincera não sei bem. Joguei futebol durante muitos anos no Riachense. Dos tempos de jogadora ficaram algumas amizades. Houve uma altura em que me pediram para ajudar na parte de gestão e fui ficando. Com o clube e a secção a viverem alguns problemas financeiros eu não fui capaz de ir embora.

Como é que o futebol entra na sua vida? O futebol aparece na minha vida por mero acaso. Eu sempre joguei andebol, durante muitos anos em Alcanena. Quando a equipa acabou surgiu a oportunidade

Mentalidade ganhadora A equipa de futsal feminino de Riachos nasceu na época desportiva 2001/2002 como uma secção do Clube Atlético Riachense. Continua a usar o nome do clube mas há cerca de três anos que se tornou autónoma. A situação foi motivada por problemas na estrutura directiva do Riachense. Em nove anos de existência a conquistou cinco campeonatos distritais, cinco supertaças e quatro taças do Ribatejo. Em 2010 só lhe escapou a conquista da Taça do Ribatejo que perdeu para a equipa de Paço dos Negros. No entanto, ganhou a supertaça e o campeonato distrital, o que lhe permitiu disputar o nacional, prova onde alcançou o terceiro lugar. A equipa surgiu da vontade das

de jogar numa equipa de futebol de onze em Santarém – Clube da Avenida – que precisava de uma jogadora esquerdina, como eu. Nunca tinha jogado futebol na vida mas comecei a ir aos treinos com o meu cunhado que era o treinador e acabei

jogadoras originárias da terra que estavam dispersas por vários clubes da região. Todas concordaram em jogar no clube da vila se ele fosse criado e surgiu a secção de futsal do Clube Atlético Riachense. Na altura a secção era apoiada e suportada financeiramente pelo Clube. A equipa é composta por doze atletas. A mais nova tem 15 anos e a mais velha 35. Com os anos a equipa foi-se renovando e actualmente a maioria das jogadoras já não são de Riachos. Todas trabalham ou estudam e têm que conciliar a vida profissional com os treinos às terças e quintas-feiras, no Complexo Desportivo de Riachos e com os jogos, ao fim-de-semana. Nem sempre é fácil, mas a paixão ao futsal, dizem, faz milagres. O arranque da época 2010/2011, depois de terem conquistado o campeonato distrital, esteve tremido. Na época anterior tinha acontecido

por me apaixonar pela modalidade. Como veio parar à equipa de futebol de Riachos? Quando a equipa de Santarém acabou tinha começado, entretanto, uma equipa em Riachos. O treinador perguntou-me se eu estava disponível para integrar o grupo e aceitei. É fácil conciliar este cargo com o seu emprego? Hoje em dia não porque o trabalho nas escolas não está fácil. Há hora para entrar mas não há hora para sair e isso pesa. No final do dia ainda venho assistir aos treinos, acompanho os jogos, tenho que estar atenta aos comunicados da associação. É cansativo. Mas quando se faz por gosto vale a pena o esforço. Esta dedicação ao clube reflecte-se na sua vida pessoal? Sim. Apesar de não ser casada nem ter filhos, não tenho tanto tempo como gostaria para sair e estar com os meus amigos. Quais são as maiores dificuldades deste cargo directivo? Ter que gerir a parte financeira. Fazer com que o dinheiro chegue para tudo. Atletas, treinador e dirigentes não têm vencimento, mas temos que pagar taxas de jogo exorbitantes. Cinquenta euros por cada jogo em casa, por exemplo. Concorda com o pagamento dessas taxas? Concordo que se deva pagar uma taxa, mas um valor tão elevado não. Somos amadoras, não ganhamos nada com a modalidade, praticamos futsal mesmo por paixão e cobram-nos. As taxas de jogo para o futebol 11 de iniciados, juniores e futebol sete são de cinco euros. Porque é que o futsal tem que pagar um valor tão alto? São nove jogos em casa, mais os jogos da taça e outros que vão surgindo ao longo do ano. É muito dinheiro. Além disso, temos as inscrições das atletas que este ano custaram cerca de 600 euros. Não

o mesmo. Os problemas financeiros do clube levaram a que a secção de futsal tivesse ficado sem qualquer apoio. Não havia como pagar as inscrições das jogadoras e as taxas por cada jogo realizado em casa. Mas é nas adversidades que se conhece a personalidade das pessoas e jogadoras e equipa técnica e directiva não baixaram os braços. Andaram pelas ruas de Riachos a pedir donativos. O peditório foi um sucesso o que permitiu correrem atrás do sonho de serem novamente campeãs regionais e participarem no nacional. Tanto as jogadoras como a direcção e equipa técnica consideram que o campeonato que disputam é muito competitivo. Existem quatro ou cinco equipas muito boas e todas querem ganhar. Mas às meninas de Riachos nem lhes passa pela cabeça não disputarem o campeonato nacional e tentarem ficar em primeiro lugar.


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faz sentido pedir tanto dinheiro. As jogadoras pagam para treinar. Pode-se dizer que sim. Por exemplo, uma das jogadoras, que vive em Tomar, trocou o seu carro de dois lugares para um de cinco para poder levar mais colegas para os jogos e treinos para pouparem dinheiro em combustível. Acompanha as atletas em todos os jogos? Sim, sou delegada da equipa nos jogos por isso não falto. Só se surgir algum imprevisto. Nunca pensou em ser treinadora? Não, acho que não tenho feitio para ser treinadora. Tenho o curso de treinadora de andebol, e cheguei a treinar, mas por pouco tempo. Prefiro ficar do lado de fora. Julgo que se fosse treinadora metade das jogadoras ‘fugiam’ porque comigo não havia queixas nem podiam demonstrar pouca vontade de jogar. Tinham que dar sempre o litro. (risos) Que características deve ter um treinador para ser bem sucedido numa equipa? Na minha opinião não bastam os conhecimentos técnicos. Acima de tudo é preciso saber chegar aos jogadores. Ser amigo dos atletas e compreendê-los. Tem que haver empatia e respeito entre treinador e jogadoras. Se isso não acontecer é muito difícil uma equipa alcançar bons resultados. As pessoas ainda estranham ver um grupo de mulheres a jogarem futebol? Não. Aqui em Riachos nota-se que as

pessoas têm orgulho nesta equipa. Quando andámos a pedir dinheiro de porta em porta para mantermos a equipa a jogar, todos ajudavam. Diziam mesmo ‘É para as meninas do futsal?!! Claro que ajudo!’, e davam o que podiam. Este ano não conseguimos angariar tanto dinheiro, mas as pessoas aqui em Riachos só não dão mesmo se não puderem. Qual foi o momento mais marcante da sua experiência no Riachense? No primeiro ano em que estive no clube como delegada inscrita alcançámos o título de campeãs. Obtivemos os mesmos pontos que o CEF (Centro de Estudos de Fátima), mas como tínhamos mais golos marcados vencemos o campeonato. Foi uma felicidade enorme, fizemos uma grande festa. Os laços de amizade com as jogadoras prolongam-se para lá das ‘quatro linhas’? Sim, sobretudo depois dos jogos e dos treinos saímos juntas. De vez em quando vamos beber um copo e descomprimir do stress do dia-a-dia e dos treinos. Quais os objectivos para esta época e para as próximas? Ganhar tudo o que pudermos ganhar. As jogadoras nem colocam a hipótese de não serem campeãs. Como assim? Há pouco tempo estava a conversar com a capitã de equipa no balneário e ela estava a perguntar como é que a secção estava de dinheiro. Elas estão a par de tudo o que se passa com a secção de futsal feminino. A meio da conversa ela

diz-me que era bom conseguirmos arranjar mais um ‘dinheirinho’ para os jogos do campeonato nacional. Elas não colocam a hipótese de não serem campeãs distritais. É este espírito de competição e garra que existe nesta equipa que faz com que andemos sempre a lutar pelo título de campeãs. Como está a situação financeira da secção? Pensamos as coisas mês a mês, não podemos planear mais do que isso. A nossa situação financeira não nos permite fazer planos mais longos. No final de cada mês verificamos o que conseguimos em termos de dinheiro e percebemos que já dá para o próximo mês e assim sucessivamente. No final da próxima época correm o risco, novamente, de não terem dinheiro para continuar? Neste momento não conseguimos prever como vai estar a situação financeira da secção no final do campeonato. Todos os anos corremos o risco de não termos dinheiro para continuar com a nossa equipa. Têm alguma solução para resolver o vosso problema? Temos algumas ideias. Uma delas é organizar, no final desta época, um torneio de futsal feminino denominado “Torneio Sofia Vieira”, que actualmente joga futebol 11 no Atlético de Madrid (Espanha) e é jogadora da Selecção Nacional de futsal feminino. Já falamos com a jogadora que é aqui da região que já se disponibilizou e disse que pode trazer colegas da

Selecção Nacional. Será uma forma de arrecadarmos algum dinheiro que nos permita continuar em prova. Como é que o Clube Atlético Riachense chegou a este ponto de não ter dinheiro para as várias secções? O problema do clube é não existir um presidente e uma direcção como existia há uns anos. Essa falta faz com que as secções não tenham apoios e corram o risco de fechar portas. Todos os anos andamos com o coração nas mãos a fazer contas a onde vamos buscar dinheiro para continuarmos com o nosso projecto. Quando havia presidente, cada um dos directores tinha funções atribuídas e estava tudo organizado.

ArmAndo PAulo Mediador Exclusivo

Qualidade e Responsabilidade armando.paulo@sapo.pt Pract. Cónego Dr. Manuel Nunes Formigão nº2 Loja B São Domingos-Santarém Telf/Fax: 243 372 759 Telm: 936 254 164


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Desporto Masculino

Hóquei do Sporting Clube Tomar

Ao Sporting Clube de Tomar só falta acreditar no seu valor Técnico Nuno Lopes diz que é possível lutar com os grandes clubes sem complexos Nuno Lopes, 39 anos, tem uma vida dedicada ao hóquei. Primeiro como jogador e desde os 30 anos como treinador. Está em Tomar há cinco épocas, à frente do Sporting Clube, e ajudou a cumprir o sonho do regresso à I Divisão Nacional de hóquei em patins. Diz que à equipa e a alguns jogadores só lhes falta acreditar no seu valor. Ricardo Carreira Como é estar com o Sporting de Tomar na I Divisão Nacional, defrontar Benfica, Porto, outras grandes equipas? Foi sempre um objectivo de vida. Como caracteriza a sua equipa? É uma equipa pouco confiante do valor que pode vir a ter. Há também jogadores como o Favinha, o Gonçalo e o Nuno Domingos que deviam acreditar mais no seu valor e não se inferiorizarem por não serem tão conhecidos como outros. Para chegar ao pé dos melhores é preciso investir em jogadores. O Ivo e o Favinha são os únicos jogadores de Tomar. Os restantes vêm da zona de Leiria de onde os conheço bem.

Quando vim não mexi muito e fui, todos os anos, “retocando” o plantel até reunir o grupo mais forte. Onde é que se nota o amadorismo da equipa quando comparada com Benfica ou Porto? Esses clubes podem ter os melhores. Têm dinheiro para lhes pagar. E os jogadores fazem treinos bidiários porque não fazem mais nada na vida. Além disso há marcas que querem patrocinar esses clubes e que fornecem patins, joelheiras, luvas, todo o tipo de material Só o equipamentos de guarda-redes custa 1.500 euros. Se calhar um atleta do Benfica ou do Porto tem quatro ou cinco sticks. Nesses clubes o atleta só tem de pensar em jogar. A nossa realidade é totalmente diferente. Os orçamentos são díspares. O nosso anda na casa dos 120 mil euros e contempla tudo, equipamentos, deslocações, subsídios, etc. A I Divisão tem outro nível. Há regras exigentes para jogadores que vêm da II para a I Divisão? Quem quer apostar mais tem de ter regras com alimentação e com o descanso. É difícil para alguns, que têm outra profissão para além do hóquei. E também não podemos fazer mais de três opu qutro treinos semanais. Qual é a condição do treinador:

amador, semi-profissional, profissional? Encaro isto como uma profissão. Sou um profissional não remunerado como tal e o mesmo acontece com os jogadores. São 100 quilómetros diários que realizo para Tomar desde a Marinha Grande. É um ano inteiro de fins-de-semana fora de casa. BONS mOmeNTOS, gOleADAS e NADA De AmuleTOS A subida à I Divisão resultou de uma época marcada de peripécias? Foi uma época terrível. Éramos candidatos à subida, tínhamos os holofotes sobre nós, quando a equipa fraquejava instalava-se a descrença. Aqui tive uma quota-parte importante de não deixar desagregar o grupo. Foi a época mais dura que tive É treinador de banco ou está sempre a dar indicações? Não paro quieto, mesmo durante o treino. Durante a semana tenho de ser o mais interventivo possível, e no jogo saber lê-lo. A este nível ser treinador não é compatível com palmadinhas nas costas. A gestão humana é fundamental e o jogador tem de acreditar no treinador. Aqui não resultam frases feitas ou chavões. Tenho que ser genuíno e ter algum

jogo de cintura. Ficou algum episódio especial da época passada? O momento marcante foi a festa da subida feita em casa. Preparámos tudo para esse jogo. Desde a imprensa, à festa do pós-jogo, se tudo corresse mal era muito grande a desilusão. este ano, já viveram muito momentos positivos? Já fomos ganhar a Barcelos, equipa que já foi campeã da Europa. Também já levámos 11-0 do Benfica, perdemos 8-1 em Vale de Cambra! Custa um bocadinho mas no início de época fomos fazer um torneio a Espinho em que fomos copiosamente goleados, o que fez despertar os nossos atletas para uma realidade que desconheciam. Tem rituais ou amuletos para o jogo? Já tive de tudo e mais alguma coisa. Cheguei a trazer as mesmas sapatilhas para os jogos. Encontrei uma mola de cabelo de menina e passei o jogo inteiro com ela e perdi. Era refém dessas coisas e agora não tenho absolutamente nada. Mesmo quando penso nalguma coisa contrariome logo para acabar com a ideia. Com bolas de chumbo e sticks de madeira um jogador ou treinador arrisca-se a aleijar-se. Normalmente as lesões não passam de cortes ou nódoas negras. É difícil proteger a cara mas tem de ser assim. Quantas pessoas giram em torno da equipa? Além do treinador existe o preparador físico, uma psicóloga voluntária e alguém para as filmagens. Vemos alguns dos momentos importantes dos jogos e andamos a filmar 15 minutos do treino para eles verem a sua atitude no treino. Quem é o melhor jogador da equipa? Temos o Favinha, goleador nato. O Gonçalo, jogador que carrega a equipa e o Nuno Domingos que só precisa de mais maturidade. Foi meu colega de equipa durante alguns anos e nunca pensei que viria a ser seu treinador. um ídolo da modalidade? Gostava do Chana. Também o Pedro Alves jogador que defrontamos e que já


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tem 40 anos. No desporto em geral gostava do Maradona. Gostava de ter um autógrafo dele. Sente-se bem num clube filial do Sporting? Claro, sou sportinguista desde miúdo. Também estive no Sporting Marinhense. Tenho paixão pelo Sporting, mas no hóquei não consigo dizer que gosto mais deste ou daquele. O meu clube é o Sporting de Tomar. Tem uma vida de jogador e treinador ligada ao hóquei em patins. Joguei hóquei no Estremoz nos escalões de formação, e estive no Marinhense, Marrazes, Turquel e Alcobaça, este último clube onde acabei a carreira de jogador e onde com começou a carreira como treinador. Esteve aí dois anos, três épocas no Marinhense e cinco épocas em Tomar. sou treinador de nível III, o que me habilita a treinar qualquer equipa de I Divisão. A ambição é um dia ser profissional do hóquei em patins?

Sem dúvida. Aceito um convite na hora, adorava ser profissional da modalidade apesar de ser muito difícil. Era o sonho da minha vida, fazer só isto. Quando não pensa em hóquei, pensa no quê? Adoro música, tocar bateria. Fiz parte de um grupo chamado “Estado Sónico”, da Marinha Grande, que tocava rock. Mas adoro jantar com os amigos, estar com eles e conviver. A família acompanha os jogos? Esposa e filha algumas vezes e também os meus pais. Vive-se para o hóquei de patins lá em casa. Defina o Sporting de Tomar É um clube que luta e ambiciona a ser conhecido a nível nacional e uma cidade apaixonada pelo hóquei. Tem grande tradição e pode afirmar-se definitivamente como clube de primeira divisão sem gastar o dinheiro que outros gastam. Precisa de coerência e de não viver com pressões para tomar as decisões certas.

Sporting de Tomar vive o sonho de jogar entre os grandes do hóquei Fundado em 26 de Fevereiro de 1915, o Sporting Clube de Tomar – primeira filial do Sporting Clube de Portugal - criou a sua primeira equipa de hóquei em patins em 1950, com o florescimento da modalidade. Se durante vários anos reinou o futebol como modalidade principal, a partir daquela data foi o hóquei em patins a assentar arraiais e com ele chegaram os principais feitos nacionais e internacionais do clube. O Sporting Clube de Tomar foi campeão nacional da II Divisão nas épocas 80/81, 93/94 e 99/00. O clube participou ainda na Taça CERS, competição europeia de clubes, depois de ter sido quinto classificado num campeonato nacional da I Divisão. Nas últimas cinco épocas, desde que Nuno Lopes orienta tecnicamente a equipa, que o Sporting de Tomar vem lutando pela subida à I Divisão. Foi quarto, terceiro e segundo classificado em diferentes séries da II Divisão, acabando sempre por morrer na praia quanto ao seu objectivo principal. A época de 2009/2010 era decisiva. O clube preparou-se para não sofrer mais. Venceu os jogos decisivos e fez a festa em casa. Acabou o campeonato no segundo lugar da Zona Sul da II Divisão, atrás do Cascais, com 75 pontos. Resultado de 30 jogos realizados com 24 vitórias, três empates e apenas três derrotas. Duzentos e dois golos marcados, o ataque mais concretizador do campeonato, e 110 golos sofridos. A festa foi preparada pela secção de hóquei e equipa técnica. Com o triunfo a equipa garantiu o segundo lugar da zona sul do campeonato e o regresso ao convívio dos grandes. É com equipas como o Benfica, Porto, Óquei de Barcelos ou Oliveirense que o Sporting de Tomar se tem digladiado em 2010/2011 na I Divisão. A equipa não se tem dado mal, está classificada a meio da tabela mas o treinador Nuno Lopes quer sempre mais. A equipa custa cerca de 120 mil euros por ano. A maior parte dos jogadores é oriundo da zona oeste onde durante muito tempo se fixou Nuno Lopes, primeiro como jogador, depois como técnico. Este ano a equipa já cometeu a proeza de vencer em Barcelos mas também já conheceu o que é ser goleado por Benfica e Oliveirense. Seja qual for a classificação que obtiver a equipa já está a fazer história pelo Sporting de Tomar muitos anos depois do último contacto com os grandes. Esta época Nuno Lopes volta a comandar a equipa que é composta por Márcio Ornelas, David Gonçalves, Gonçalo Santos, João Lomba, Rui Alves, Orlando Fernandes, Tiago Barros, Ivo Silva, Nuno Domingues, Gonçalo Favinha e Fábio Guerra. Ricardo Cardoso é o preparador físico, Joaquim Palricas o enfermeiro, Álvaro Ventura o massagista e Patrícia Cardoso a fisioterapeuta. Fernando Silva é quem cuida das rodas e dos patins, o mecânico. A equipa conta ainda com uma psicóloga voluntária, Filipa Inácio, e com o apoio técnico de Romain Santos. António Rodrigues é o director desportivo de uma secção que conta com o apoio de António Dias, João Bernardino, Pereira da Silva, José Fernandes e Jorge Rufino.


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Associativismo

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CLAC - Entroncamento

“Estou de corpo e alma no clube desde o seu nascimento” José Leote foi fundador do CLAC e é seu presidente há dezoito anos José Leote é professor de educação física do ensino oficial e foi um dos fundadores do Clube Lazer Aventura e Competição do Entroncamento, há 25 anos. Nos últimos 18 anos tem sido o seu presidente. É uma das pessoas que conhece pormenorizadamente a actividade da prestigiada colectividade, os seus dirigentes, atletas e instalações. Fernando Vacas de Jesus Foi por influência de familiares ou amigos que optou por ser professor de educação física? Não tenho ninguém da família formado nesta área. Quando acabei o liceu tinha possibilidade de ir para educação física ou psicologia. Entrei na primeira opção, por gosto. Praticava alguma modalidade nessa altura? Jogava basquetebol mas nunca fui um grande jogador. Ia também a algu-

mas provas de atletismo mas sem grande destaque. Ou seja, gostava da prática desportiva apesar de saber que nunca iria ser um atleta de primeiro plano. E como acontece quando gostamos muito de alguma coisa, tentei sempre influenciar outros a fazer exercício físico. Foi o caminho para chegar ao associativismo?

O interesse pelo associativismo nasceu com a formação do CLAC. Éramos todos muito jovens e o entusiasmo era grande. Fiquei na direcção e o bichinho foi-se avivando. Desde essa altura dediquei-me de corpo e alma ao clube. Foi até hoje e ainda bem que o fiz. Como é que um dirigente desportivo, que ainda por cima é professor

de educação física, consegue um físico tão pouco condizente com essas actividades? Duas situações fizeram com que engordasse tanto. Primeiro foi ter deixado de fumar, depois pratico menos do que devia. Preocupo-me em organizar coisas para os outros e esqueçome de mim. Como é que concilia a profissão, a vida de dirigente associativo e arranja tempo para a família? Não é fácil. De vez em quando a família reclama, principalmente na altura em que é preciso colocar tudo a girar no CLAC. Mas acabou por ser uma pessoa com sorte porque a família acaba por aceitar e apoiar o que eu faço. A minha esposa até colabora, principalmente nas caminhadas. E a minha filha gosta de fazer orientação. Como lida com os momentos de maior pressão? Normalmente isolo-me um bocado e penso muito. Gosto de pegar num papel em branco e de tentar organizar as ideias. É isso que me ajuda a balizar as coisas e a combater a pressão. Há iniciativas que o CLAC faz como a Descida dos Três Castelos (canoagem) ou Os Trilhos do Almourol (Pedestrianismo) que exigem muito em termos de organização. Quais os seus passatempos? O CLAC é o meu maior passatempo. Para termos um clube forte e bem organizado é necessário que a direcção e o presidente despendam muitas horas com o clube. Mas sempre se arranja algum tempo para ir ao teatro; ao cinema ou para ler. Não sou cinéfilo mas gosto de ir com a minha esposa a uma sala ver um bom filme. Teatro também gosto, mas vou menos vezes. Sou fã de um bom concerto. E música? Apesar de já não ser adolescente gosto de ir aos festivais de Verão. Não vou acampar, mas vou ao Live e ao Super Bock, Super Rock. Sempre fui um adepto de concertos musicais. São esses

Uma prova de canoagem sem água no rio e um vendaval de...bom tempo A Descida dos Três Castelos é a prova mais emblemática do CLAC e realiza-se com grande sucesso desde a fundação do clube. Mas nem sempre corre tudo bem. José Leote conta, com humor, dois momentos em que nem tudo correu às mil maravilhas. “Houve um ano em que, em cima da hora de inicio da prova, verificámos que a pessoa da Câmara de Constância, encarregue de pedir aos responsáveis pela Barragem do Castelo de Bode largar água a fim de aumentar o caudal do rio Zêzere, tornandoo navegável, se tinha esquecido de o fazer. A prova esteve em risco de não se realizar mas lá nos conseguimos

desenrascar. Umas vezes arrastando as canoas outras aproveitando algumas partes do rio onde havia água conseguimos chegar até Constância. Foi difícil e por vezes hilariante mas a camaradagem e a amizade estiveram sempre em grande plano. A entreajuda dos participantes foi algo digno de se ver. Outra vez, também na descida dos três castelos, um amigo e habitual participante que era meteorologista no Aeroporto de Lisboa, avisoume, dois dias antes da prova, que o fim-de-semana ia ser muito chuvoso e que para a zona até se previa um vendaval. Já tinha tudo organizado

mas face àquelas informações e para não pôr em risco os participantes, optei pelo adiamento. Infelizmente o aviso não chegou a tempo a todos os participantes inscritos e alguns chegaram a aparecer. O pior foi que o dia esteve maravilhoso. Se houve vendaval foi...de bom tempo”. Em conjunto com um grupo alargado de pessoas tem visto o CLAC crescer e tornar-se o maior clube da cidade. “É, para mim e para as pessoas que ao longo dos anos têm trabalhado para que o CLAC se torne cada vez maior e uma referência no associativismo do Entroncamento e da região é um motivo de orgulho..


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momentos que me ajudam a aliviar o stress. Sinto-me mais solto quando estou afastado dos problemas do clube. Como é a gestão do CLAC? Temos uma gestão de base empresarial. Mas somos acima de tudo uma associação com o Estatuto de Utilidade Pública e é isso que as pessoas têm que valorizar. Somos um clube que vive para os sócios e para a população. Vivemos para a cidade do Entroncamento e para a região. É presidente desde a fundação do clube? Não. Antes de mim o clube teve três presidentes. Sou fundador mas só sou presidente há 18 anos. Como se ultrapassa a crise que há anos vai minando o associativismo? É verdade que o associativismo está em crise e que a renovação dos dirigentes é difícil. No CLAC também há algumas dificuldades. Apesar de termos uma direcção completa e activa, que participa, é sempre difícil encontrar pessoas dispostas a virem trabalhar por carolice. É fácil perceber que as pessoas que se predispõem a trabalhar nos clubes são sempre as mesmas. Os jovens não estão despertos para o associativismo e por isso o futuro não é nada claro. É mais fácil mobilizar pessoas para praticar do que para dirigir. Sem dúvida. Sente que o seu trabalho é reconhecido? Disso não me posso queixar. É um estímulo fantástico. São momentos gratificantes, ser reconhecido por todos desde os mais pequenos aos mais idosos, é mais uma prova de que o CLAC está no caminho certo. A minha dedicação como presidente e a dos restantes dirigentes é enorme e tem consequências na formação destes jovens. Depois gosto que eles nos reconheçam

O CLAC também é conhecido pela realização de alguns eventos emblemáticos como a Descida dos Três Castelos, uma prova de canoagem virada para o turismo náutico, que é já uma referência a nível nacional. Também no sector de turismo de natureza realiza “Os trilhos do Almourol”

como pessoas que trabalham para a comunidade. Trabalho tem que haver. E além do trabalho? Determinação, união entre todos e, sobretudo, cabeça no lugar e os pés bem assentes no chão. É a única forma de fazer crescer o clube de forma sustentada. Nunca demos um passo maior do que a perna, tudo é muito bem pensado para não pormos em causa todo o trabalho desenvolvido até aqui. Não somos ricos mas vivemos de forma sustentada. A maior parte dos vossos mil associados - cerca de 750 - é praticante de alguma modalidade. É muita gente a praticar desporto. É realmente muita gente. Orgulhamo-nos dos praticantes que temos. Orgulhamo-nos de poder dizer que temos mais mulheres do que homens a praticar desporto e que temos praticantes de todas as idades, desde bebés até quase aos 90 anos, como acontece com o veterano atleta José Canelo que ainda o ano passado ganhou quatro medalhas de ouro no campeonato europeu de veteranos realizado na Hungria. Abrangemos um leque muito grande de pessoas.

Clube de Lazer Aventura e Competição do Entroncamento tem 25 anos de vida activa O atleta veterano José Canelo, que no verão do ano passado ganhou 4 medalhas de ouro no campeonato europeu de atletismo realizado na Hungria, é filiado no Clube de Lazer, Aventura e Competição do Entroncamento – CLAC – um dos clubes mais bem geridos e com actividades mais diversificadas da região. O CLAC, que completou em 2010 as suas bodas de prata, tem cerca de mil associados, dos quais 750 são praticantes das diversas modalidades. Desde bebés a veteranos. Tem sede própria, um ginásio e está bem apetrechado. Trata-se de um clube que procura criar condições para a prática desportiva de cidadãos de todas as idades, promovendo actividades de carácter lúdico a par de outras com carácter competitivo. Na natação conta com mais de quatro centenas de praticantes nas vertentes de manutenção e competição. Na Orientação tem cerca de meia centena de atletas. E tem uma secção de atletismo, uma secção de ténis, para além de proporcionar a prática de ginástica de manutenção. Foi fundado em 1 de Novembro de 1985, apesar da escritura da sua formação ter sido feita a 8 de Janeiro de 1988. Os seus estatutos foram publicados no Diário da República de 3 de Novembro de 1988. A primeira actividade dos membros fundadores foi a participação numa acção de formação de autoconstrução de canoas, promovida pela Câmara Municipal do Entroncamento e pela antiga Direcção Geral dos Desportos

– Delegação de Santarém. O CLAC também é conhecido pela realização de alguns eventos emblemáticos como a Descida dos Três Castelos, uma prova de canoagem virada para o turismo náutico, que é já uma referência a nível nacional. Também no sector de turismo de natureza realiza “Os trilhos do Almourol”, uma prova de Pedestrianismo que cruza os concelhos de Abrantes, Tomar, Constância, Vila Nova da Barquinha e Entroncamento. Os dirigentes do CLAC mostram também a sua preocupação com o bem estar das camadas menos jovens da população, promovendo o Programa “Reviver” um programa que visa fazer promoção da qualidade de vida nas pessoas adultas e idosas e que envolve diversas entidades autárquicas e locais. Ao longo dos seus 25 anos de existência, o CLAC teve dois grandes picos de crescimento. O primeiro aconteceu logo após a formação do clube com o dinamismo criado pela secção de canoagem, concretizado na participação em provas, cursos de construção de embarcações, organização de eventos. A grande adesão à modalidade representou uma renovação da oferta desportiva na cidade e até no distrito. Outro grande salto deu-se com o aparecimento da piscina municipal do Entroncamento, em 1990 e a criação da primeira escola de natação do concelho. Durante esse período de grande crescimento, o CLAC liderou a natação distrital em termos de resultados desportivos e de praticantes.


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SOCIEDADE presença do arguido e emitir mandato de detenção. O homem acabou por ser condenado a quatro anos e meio de prisão efectiva no final de Dezembro e continuava ainda desaparecido.

20 de Maio O Papa Bento XVI visita o Santuário de Fátima, concelho de Ourém. À hora a que o Papa Bento XVI presidia à missa no Santuário de Fátima, no dia 13 de Maio, O MIRANTE fez uma reportagem com os funcionários que têm a missão de manter a cidade limpa para os milhares de peregrinos. E descobriu que não é por se estar num local, dos mais importantes para a Igreja, que é contra o uso de preservativos, que esses objectos pouco católicos não aparecem no chão e nos caixotes do lixo.

27 de Maio 7 de Janeiro Um antigo militar da GNR de Aveiras de Cima, concelho de Azambuja, morreu à espera de socorro a poucos metros do Hospital de Tomar. A vítima esteve inanimada, caída no chão, durante largos minutos sem receber assistência médica apesar dos apelos feitos nesse sentido. Residente em Vila Nova (Paialvo) Tomar, Mário Simões tinha 57 anos e tinha sido submetido a uma operação ao coração há cerca de seis meses.

28 de Janeiro Continuavam suspensas as recolhas de sangue no Hospital de Santarém, sete meses depois do encerramento do serviço de sangue por não ter as condições exigidas. Os dadores têm que se deslocar ou ao Hospital de Torres Novas ou de Vila Franca de Xira, ambos a mais de 30 quilómetros de distância ou esperar por uma recolha promovida por um grupo de dadores. A situação só não é pior porque o Grupo de Dadores de Pernes e o Instituto Português do Sangue têm promovido recolhas de sangue numa unidade móvel à entrada do hospital. A situação mantêm-se até agora.

4 de Fevereiro O ex-director da Segurança Social de Santarém, António Campos, pegando no caso das crianças retiradas à família em Foros de Salvaterra há um ano e meio, considera que este e outros casos podiam ter outro desfecho se as Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ)

não tivessem total autonomia. António Campos defendeu a criação de uma estrutura intermédia, onde as suas decisões das comissões, que funcionam a nível concelhio, pudessem ser melhor analisadas. As crianças acabaram por regressar a casa da mãe pouco tempo depois destas declarações. Entretanto, numa iniciativa de O MIRANTE foi aberta uma conta solidária em nome da família na Caixa Agrícola de Salvaterra de Magos.

25 de Março Um habitante de Alhandra salvou uma criança de quatro anos que dormia dentro do carro dos avós, quando a viatura caiu ao rio Tejo naquela localidade do concelho de Vila Franca de Xira. Paulo Oliveira, que passeava no local, foi o herói que se atirou à água quando o carro, que estava mal travado, se afundava.

28 de Abril Os 12 hectares onde funcionavam as Escolas da Armada, em Vila Franca de Xira, são colocados à venda, depois desta unidade militar ter sido desactivada. O espaço custa perto de 25 milhões de euros e a câmara municipal há muito que tem a intenção de implementar no local um projecto que se dedicasse à educação, ao desporto e ao lazer. Mas a autarquia não tem capacidade para comprar as instalações por aquele valor e decidiu que esperar é a melhor estratégia, até porque com as condicionantes de ordenamento do território que pesam sobre aquele espaço o terreno não pode ser usado para habitação nem construção.

13 de Maio O Monitor do Lar dos Rapazes de Santarém, acusado pelo Ministério Público de abusar de menores da instituição, não apareceu no tribunal no início do seu julgamento e acabou por ser dado como desaparecido. O colectivo de juízes optou por iniciar julgamento sem a

O homem que matou o cunhado em A dos Loucos, São João dos Montes, concelho de Vila Franca de Xira, foi condenado a 18 anos de prisão efectiva. O crime aconteceu a 21 de Outubro de 2009 no Casal da Carapinheira. Em causa estiveram divergências familiares antigas entre os dois indivíduos. A base da discórdia prendeu-se com ouro e jóias da família, bem como alegados maus-tratos de que a vítima infligiria à irmã e à sobrinha do homicida. Em cinco meses caíram dois carros da Ponte D. Luís entre Santarém e Almeirim. Na altura foi levantada a questão de o gradeamento ser frágil apesar de este ter sido reparado há pouco tempo. E nunca foram colocados rails metálicos que possam evitar a queda de viaturas. No dia 24 de Maio um condutor de 31 anos que seguia no sentido de Almeirim para Santarém sentiu-se mal, despistou-se, caiu da ponte e teve apenas ferimentos ligeiros. Em 30 de Dezembro de 2009 dois homens sofreram ferimentos depois da carrinha de uma empresa de Almeirim se ter despistado e caído da ponte. Um dos feridos foi transferido para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, devido a lesões na coluna cervical e fractura numa das pernas. O outro sofreu múltiplas fracturas num braço.

2 de Junho Câmara de Alpiarça desiste de parceria com Fundação José Relvas para projecto contra a pobreza, porque a instituição continuava irredutível na hipótese de baixar os ordenados dos técnicos que eram considerados elevados. O projecto já estava parado há nove meses. Entretanto a autarquia convidou a Associação de Reformados Pensionistas e Idosos do Concelho de Alpiarça (Arpica) para assumir o projecto, mas depois foi a Segurança Social a não aceitar esta solução e continua-se num impasse. Durante esta polémica

descobriu-se que o coordenador do projecto, Miguel Garrido, que tinha sido contratado pela fundação ainda antes de este estar aprovado, ganhava ordenado sem fazer nada na Fundação José Relvas e ainda recebeu 4500 euros para dar formação.

17 de Junho Três pessoas morreram trucidadas pelo Sud Express, que passou a alta velocidade na estação dos comboios de Riachos. Um dos mortos foi um operador de manobras ao serviço da Refer, que tentou salvar as outras duas vítimas que atravessavam a linha, ao detectar a vinda do comboio. Na sequência do acidente soube-se que esta estação, no concelho de Torres Novas, não possui qualquer sistema de aviso dos passageiros para a passagem de comboios rápidos e sem paragem.

22 de Julho A ponte sobre o Tejo que liga Praia do Ribatejo (Vila Nova da Barquinha) e Constância Sul é fechada ao trânsito por razões de segurança. A situação provoca transtornos à população de Constância e ao comércio da vila. Já que as alternativas mais próximas (as pontes da Chamusca e de Abrantes) situam-se a cerca de 25 quilómetros. Houve várias manifestações por causa deste encerramento que tiveram também a participação de autarcas. O barco passou a ser o transporte usado por muitos que precisam de atravessar o rio diariamente. Recentemente o Governo anunciou obras urgentes na ponte.

5 de Agosto A presidente da Câmara de Rio Maior, Isaura Morais, queixa-se de violência doméstica por parte do companheiro. O Ministério Público de Rio Maior que está a investigar o caso não aplicou qualquer medida de protecção da autarca nem restrições ao seu companheiro. A autarca tirou uns dias de férias e regressou depois ao trabalho normalmente enquanto decorre o processo judicial.

12 de Agosto Um enfermeiro do Hospital de Santarém é acusado pelo Ministério Público de coação sexual a duas doentes a quem terá metido o pénis nas mãos. O Ministério Público ordenou que o profissional fosse suspenso de funções para evitar a ocorrência de novos casos. O julgamento decorreu ao longo deste ano e aguarda-se a decisão do colectivo de juízes.

2 de Setembro Cinco anos após o lançamento do concurso para a construção do novo Hospital de Vila Franca de Xira, é finalmente assinado o contrato para a execução das obras. O hospital deve ficar pronto a funcionar


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recibo que comprovassem o pagamento. Muitas pessoas ainda não tinham cartões de residentes. Antes já tinha havido muitas críticas, alguns munícipes chegaram a ir à câmara mostrar a sua indignação e alguns dizem que o estacionamento pago é ilegal.

11 de Novembro

em 2013. O investimento global é de 480 milhões de euros, numa parceria públicoprivada com a José de Mello Saúde, que vai gerir a unidade durante 10 anos. Na assinatura do contrato esteve presente o primeiro-ministro, José Sócrates.

23 de Setembro O Bastonário da Ordem dos Advogados esteve em Santarém a convite de

O MIRANTE para falar do estado da justiça. Marinho e Pinto, disse que os juízes são os que têm mais mordomias e que a justiça está degradada porque não há verdadeiras reformas do sector. Marinho e Pinto criticou na palestra na Casa do Brasil o facto de haver juízes com 25 anos a julgarem casos de família quando “alguns ainda nem sequer namoram”, defendendo que os juízes devem ser pessoas com experiência de vida. Para o bastonário da

Ordem dos Advogados, a degradação da justiça também está relacionada com a degradação do ensino.

28 de Outubro Inicia-se de forma atribulada o estacionamento pago em grande parte do centro de Santarém. Grande parte dos condutores, deparou-se com parquímetros avariados e outros que não davam

O Serviço de Urgência Básico de Coruche está pronto e equipado, mas não há profissionais para lá colocar e o serviço ainda não está a funcionar. O principal problema é a falta de médicos. Estava previsto o serviço abrir em Julho. A directora do Agrupamento de Centros de Saúde Lezíria II, Luísa Portugal, diz não poder avançar datas para o problema estar resolvido. Este é apenas um dos casos de falta de médicos na região, de extensões de saúde fechadas por falta de profissionais e de várias manifestações das populações afectadas. Entretanto a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo pediu aos agrupamentos de centros de saúde que indicassem os serviços que têm menos de 1.500 utentes inscritos e quais os seus problemas de funcionamento, para elaborar um plano de concentração da assistência nos centros de saúde com maior capacidade.

25 de Novembro O homem que matou a tiro a ex-companheira numa pastelaria de Santarém foi condenado a 22 anos e seis meses de


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rigentes da seguradora não conseguiram identificar claramente quais foram as expressões usadas nos artigos que prejudicaram a companhia. Em causa está um diferendo entre a seguradora e a empresa proprietária de O MIRANTE por causa de uma carrinha do jornal que foi abalroada num cruzamento em Almeirim, em 23 de Junho de 2008, por um cliente da Victoria que não parou no Stop. Desde essa altura que os prejuízos estão por pagar. Já no final de Janeiro de 2011, o juiz do Tribunal de Santarém que está a julgar o caso considerou que não ficou provado que os artigos do jornal tenham provocado perda de clientela e de confiança do mercado na seguradora. Aguarda-se a sentença. O MIRANTE chegou a estar impedido de escrever notícias sobre o caso na sequência de uma providência cautelar interposta pela Victoria. Mas o Tribunal da Relação de Évora anulou a providência cautelar.

9 de Dezembro prisão, pelos crimes de homicídio, detenção de arma proibida e violência doméstica. O arguido foi ainda condenado a pagar uma indemnização ao filho da vítima, com 19 anos, no valor de 79 mil euros. A decisão foi proferida no dia 23 de Novembro, precisamente no dia em que o homicídio fez um ano. O colectivo de juízes deu como provado que António Sousa alvejou com uma caçadeira de canos serrados Alice Duarte,

sócia da pastelaria Real, por não aceitar a separação.

2 de Dezembro Inicia-se o julgamento do diferendo que opõe a Victoria Seguros a o MIRANTE, em que a seguradora se queixa de ter perdido clientes por causa de notícias do jornal e pede uma indemnização de 250 mil euros. Na primeira audiência dois di-

É anunciado que vão ser instalados três pórticos na Auto-Estrada 23 (A23) para cobrança de portagens a partir de Janeiro, mas que as portagens só entram em vigor em Abril. A cobrança de portagens nesta Auto-Estrada entre Torres Novas e Abrantes tem motivado várias manifestações e protestos, que se estendem também aos autarcas da zona. Entretanto os autarcas do Médio Tejo estão a tentar chegar a um acordo com o Governo de modo a que as populações não

sejam prejudicadas. A Scutvias espera uma redução significativa de tráfego com a introdução de portagens, à semelhança do que já aconteceu noutras vias que passaram a ser portajadas este ano.

16 de Dezembro Tomar e Ferreira do Zêzere recompõem-se lentamente do tornado que provocou muitos estragos estimados em mais de 13 milhões de euros e causou pânico entre a população. Em Tomar ficou completamente destruído o Jardim-Escola João de Deus. Uma criança ficou ferida e esteve internada alguns dias com uma perna partida. Houve também uma onda de solidariedade com muitos voluntários de todo o país a ajudarem na reconstrução. O Governo prometeu ajudar e na altura ficou-se a saber que ainda não tinham sido disponibilizadas as verbas que tinham sido prometidas às pessoas afectadas pelo tornado de Amiais, há dois anos. Os apoios foram desbloqueados poucos dias depois.

29 de Dezembro Na sequência do caso da falta de meios na GNR, em que o posto de Alpiarça não tinha meios para acorrer a uma agressão grave a um porteiro de um bar e que só passados dois dias a Guarda tomou conta do caso, o presidente da câmara, Mário Pereira, veio dizer que a insegurança em Alpiarça devido à falta de meios da GNR é preocupante e lamentável.


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CULTURA 4 de Março Os principais cartonistas do país e alguns estrangeiros voltam a expor os desenhos mais satíricos e mordazes do ano no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, na iniciativa CartoonXira. Consideram as notícias sobre os limites à liberdade de expressão “um falso problema” e garantem que no seu humor “ninguém mexe”.

18 de Março

21 Janeiro As cores, os cheiros e as tradições de Vila Franca de Xira foram apresentados num guia da autoria do jornalista Orlando Raimundo no dia dedicado ao município na Bolsa de Turismo de Lisboa. Foi o primeiro livro de uma colecção

Os vinte e cinco anos de carreira de Rui Salvador são reunidos em fotobiografia. Nas 120 páginas contam-se histórias do “cavaleiro dos ferros impossíveis”. O evento reuniu meio milhar de pessoas na Quinta do Falcão, em Tomar. A obra foi editada pelo município de Tomar. Rui Salvador nasceu em Lisboa mas é um assumido tomarense. As fotos publicadas foram retiradas do álbum de família e retratam episódios da sua carreira como as primeiras lides ou a alternativa no Campo Pequeno. trimestral de dez volumes que abrange vários temas chamada “Vila Franca de Xira, Saber Mais Sobre…”, editada pela Câmara Municipal.

25 de Fevereiro A casa onde viveu e morreu José Rel-

vas - o homem que a 5 de Outubro de 1910 proclamou a República da varanda da Câmara Municipal de Lisboa - ficou à margem das comemorações oficiais do centenário daquele acontecimento. Não houve qualquer iniciativa oficial programada para a Casa dos Patudos, em Alpiarça, e o local continua em obras.

22 de Abril O Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, recebe a exposição “Memórias do Campo de Concentração do Tarrafal” com a presença de um dos dois últimos sobreviventes do “campo da


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36 | RETROSPECTIVA 2010 morte lenta” - Edmundo Pedro. A voz de Celina Pereira cantou as ondas sagradas do Tejo e a paixão por Cabo Verde na língua que une um povo que em tempo de ditadura partilhou o mesmo cárcere. A exposição foi possível graças a uma parceria do Museu do Neo-Realismo com a Fundação Mário Soares e Fundação Amílcar Cabral.

24 Junho O corrupio de jornalistas que se registou na pacata aldeia de Azinhaga a 18 de Junho foi um dos efeitos mais visíveis da morte nesse dia de José Saramago, o filho da terra que em criança foi para Lisboa com os pais e aí fez grande parte da sua vida até rumar à ilha espanhola de Lanzarote agastado com a atitude de um secretário de Estado da Cultura de um Governo de Cavaco Silva. E foi em Lanzarote que Saramago, 87 anos, morreu, vítima de doença.

26 Agosto Lobo Antunes já ia a meio caminho em direcção a Tomar quando decide regressar a Lisboa. O escritor faltou a um encontro com leitores, marcado para 21 de Agosto, no Café Paraíso, não por ter medo das ameaças de militares – como justificou erradamente o vice-presidente da Entidade Regional do Turismo, Manuel Faria - mas porque não gostou do aproveitamento gerado à volta da sua visita à cidade templária, uma iniciativa da

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Entidade Regional do Turismo.

2 de Setembro O presidente da Câmara Municipal de Santarém, Francisco Moita Flores (PSD), lança um abaixo-assinado “em defesa da festa brava” propondo-se recolher 100 mil assinaturas até Junho de 2011. O autarca anuncia a iniciativa durante uma reunião do executivo, referindo que a mesma surge como resposta a iniciativas recentes de organizações que pretendem acabar com as manifestações taurinas em Portugal. Moita Flores acusou de “hipocrisia” os designados defensores dos animais, lembrando que não se vêem manifestações à porta dos matadouros ou das explorações pecuárias.

23 de Setembro O “I Festival das Estátuas Vivas” enche de cor as ruas de Tomar. Cem mil pessoas deslocaram-se a Tomar a propósito da iniciativa que deu vida a personalidades históricas, como Santa Iria, Luís de Camões, D. Nuno Álvares Pereira ou Gil Vicente.

11 de Novembro O jornalista e escritor Fernando Dacosta aproveitou a apresentação da edição da peça vencedora do Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno para sugerir à Câmara de Santarém e ao Instituto Bernardo Santareno que criem

um banco de originais de peças de teatro como forma de aproveitar trabalhos concorrentes. Fernando Dacosta elogiou também a escrita de Domingos Lobo, programador cultural da Câmara Municipal de Benavente e o autor premiado que viu a sua peça ser agora editada em livro pelo Instituto Bernardo Santareno. “Não deixes que a noite se apague” passa-se em 1962 e tem como pano de fundo a crise académica e as greves dos trabalhadores rurais do Alentejo e do Ribatejo.

18 de Novembro Um escudo de combate antigo foi encontrado em muito bom estado durante as escavações arqueológicas no Monte dos Castelinhos, na freguesia de Casta-

nheira do Ribatejo, Vila Franca de Xira. Aquele que era até há pouco tempo um sítio desconhecido tem ganho relevância histórica e patrimonial.

25 de Novembro Os actores Rui Mendes e Anna Paula suscitaram os aplausos mais fortes a 21 de Novembro ao receber os Prémios de Carreira durante a 5.ª Gala dos Prémios Santareno de Teatro, em Santarém. Durante a parada de estrelas do teatro e televisão, que marcaram presença no Teatro Sá da Bandeira, muitos puseram a tónica nos cortes orçamentais do Ministério da Cultura para 2011, em particular no apoio ao teatro, que sofre um corte de 23 por cento.


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Esta crise que nos atravessa É a palavra mais ouvida um pouco por todo o lado, das conversas de café aos telejornais. A crise está aí instalada, dizem que para durar, e reflecte-se no nosso quotidiano das mais diversas formas, atingindo tudo e todos, atravessando a sociedade. Não admira por isso que seja presença assídua e notada nas páginas de O MIRANTE ao longo de 2010. A vida em Portugal, hoje, é ditada pela crise e nunca os portugueses estiveram tão atentos à economia e ao que ela lhes pode reservar. Em nome da crise o Governo cortou no plano de investimentos estatais para a região e no financiamento aos municípios e juntas de freguesia, o que se repercutiu de imediato na gestão das autarquias, até há pouco habituadas a viver acima das possibilidades. Como o próprio Estado. Contenção é agora a palavra de ordem. O tempo é de vacas magras. A Câmara da Chamusca, por exemplo, avisou que vai reduzir drasticamente o investimento e disse às juntas de freguesia do concelho que é necessário introduzir mais medidas de contenção. Para dar o exemplo, o município cortou nos gastos com a Semana da Ascensão e reduziu o horário de funcionamento de equipamentos municipais, entre outras medidas. Em Abril, ficou-se a conhecer o estado financeiro de alguns municípios e a realidade mostrou-se preocupante. Santarém, Alpiarça, Chamusca, Cartaxo e Alcanena são alguns dos exemplos de municípios com graves problemas financeiros e dificuldades em cumprir os seus compromissos. São implementados planos de conten-

ção em Coruche, Chamusca, Azambuja e Alpiarça. Muitas câmaras decidem cortar nas decorações natalícias para poupar. Ao mesmo tempo em que procuram reduzir as despesas, os municípios buscam novas fontes de receita. Em Torres Novas, as taxas municipais aumentam uma média de 20 por cento e são criadas novas taxas. No Entroncamento, em Rio Maior e Salvaterra de Magos estuda-se a possibilidade de criação de uma taxa a aplicar aos bancos pela ocupação de espaço público com caixas multibanco. A crise tem também efeitos no movimento associativo, parte dele excessivamente dependente dos subsídios camarários. Alguns municípios, como Cartaxo, Coruche e Santarém, anunciam cortes no apoio às colectividades, outros têm muitos meses de subsídios em atraso dificultando a gestão corrente dessas agremiações. É também em nome da racionalização de meios e contenção de custos que se encerram escolas primárias e se concentram as crianças do primeiro ciclo em centros escolares, construídos com forte apoio comunitário um pouco por toda a região. E é também essa a justificação para o fecho

das extensões de saúde no meio rural, que parecem ter os dias contados, pelo menos as que têm menos de 1500 utentes. Esses foram dois temas recorrentes nas nossas edições em 2010. Com o desemprego a aumentar surgem mais pedidos de ajuda às instituições de solidariedade social e às câmaras munici-

pais. Nalguns pontos da região vivem-se focos de insegurança e reclama-se mais policiamento, como é o caso de Alpiarça onde há noites em que não existem elementos suficientes no posto para responder a uma ocorrência. Faltam homens. É uma crise que não é de agora. Também o desporto regional está marcado pela crise. A Associação de Futebol de Santarém nunca teve tão poucos clubes nos campeonatos nacionais de seniores como nas duas épocas futebolísticas que atravessam o ano de 2010. Duas equipas em 2009/2010 (Fátima e Monsanto) e três em 2010/2011 (as mesmas mais o Riachense). Esse é também um sinal de que a actividade empresarial que não foi à falência ou não entrou em insolvência não gera receitas que permitam desviar alguns recursos para apoio ao desporto. E sem os apoios que os municípios davam nos tempos de vacas gordas as coisas ficam ainda mais complicadas. O presidente da Associação Empresarial da Região de Santarém - Nersant, José Eduardo Carvalho, diz que os cortes anunciados pelo Governo, e que estão subjacentes a toda esta realidade, “são decisões corajosas, que pecam por tardias e não sei se serão suficientes”. E apela a um “repensar do modelo” em que assenta a sociedade e a economia portuguesas, em particular no que diz respeito à rigidez da despesa. Resta saber se a oportunidade é aproveitada, ou se os velhos erros se vão continuar a repetir.


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POLÍTICA o independente José Gil Serôdio, manifestou essa intenção durante a sessão da Assembleia Municipal de Torres Novas, onde acusou o presidente do município de descriminar a sua freguesia. Paulo Fonseca é o único candidato à distrital de Santarém do PS. António Rodrigues desiste e diz que o PS distrital corre o risco de se tornar uma monarquia.

28 de Outubro O presidente da Câmara de Tomar, Corvêlo de Sousa (PSD), tira os pelouros da Cultura e do Turismo ao vereador socialista Luís Ferreira, por pressão da concelhia do PSD. Em causa estão as polémicas declarações feitas por Luís Ferreira na sua página do Facebok, sobre a falta do escritor António Lobo Antunes a uma iniciativa cultural em Tomar. A coligação PSD/PS que governa o município abana mas não cai.

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Os números, preocupantes, foram revelados num seminário em Torres Novas: o distrito de Santarém tinha apenas 11 por cento de execução média dos fundos comunitários atribuídos aos municípios da região. Dos cerca de 103 milhões de euros aprovados, apenas 11,8 milhões estavam em execução. Autarcas manifestaram-se incomodados mas acabaram satisfeitos com o compromisso do ministro da Economia em agilizar os processos de aplicação do Quadro de Referência Estratégico Nacional.

A Assembleia da República aprova por unanimidade projectos-lei para reintegração do concelho de Mação na Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, saíndo da unidade territorial do Pinhal Interior Sul que integrava com alguns concelhos do distrito de Castelo Branco.

A Junta de Freguesia da Meia Via pondera realizar um referendo local para mudar para o vizinho concelho do Entroncamento. O presidente da junta,

11 de Março Uma reportagem de O MIRANTE mostra o que os nossos políticos andam a escrever no Facebook. Há quem não dispense começar o dia a dizer se está a chover ou a fazer sol, quem comente os “vomitados legislativos”, ou revele que afinal as mulheres da Guiné também são grandes mães.

15 de Abril Miguel Relvas, presidente da Assembleia Municipal de Tomar, regressa à ribalta na política nacional. A fidelidade política a Pedro Passos Coelho valeu-lhe a nomeação pelo novo líder do PSD para os cargos de secretário-geral e portavoz do partido.

6 de Maio O Estado retém parte das verbas mensais para a Câmara de Alpiarça por ter ultrapassado a capacidade de endividamento legalmente estabelecida. A CDU critica a pesada herança deixada pelo PS nos 12 anos que governou o município. Em Julho, a autarquia aprova um plano de saneamento financeiro a propor ao Governo.

24 de Junho O presidente da Câmara de Santarém, Moita Flores (PSD), defende a extinção dos governos civis e lança críticas aos “vencidos da política e que não têm sítio para trabalhar que habitam os governos civis do país inteiro, onde não representam nada e onde não fazem outra coisa que não seja a política do seu partido”. Semanas mais tarde, o presidente da Câmara de Torres Novas, António Rodrigues (PS), então ainda candidato a presidente da Distrital do PS Santarém, defende também o fim dos governos civis chamando-lhes “sorvedouros de dinheiros públicos”.

15 de Julho O presidente da Câmara do Cartaxo, Paulo Caldas, desfilia-se do PS e dá como definitiva essa decisão. O autarca e ex-presidente da concelhia socialista não dá grandes explicações, admitindo contudo que a sua desvinculação tenha a ver com situações que têm girado em seu torno. Como as posições políticas da nova direcção do PS Cartaxo, presidida por Pedro Ribeiro, os casos em que se viu envolvido no final de Maio, quando se ficou a saber que vai a julgamento por peculato de uso e por denegação de justiça, ou o caso de tribunal em que se viu condenado a uma multa por posse ilegal de arma.

Carlos Cunha, ex-governador civil de Santarém e ex-presidente da Câmara de Alcanena, falece a 21 de Outubro vítima de cancro. Foi entre 1996 e 2001 o homem forte do PS na região, cargo que acumulou com o de governador civil. Foi recordado como um homem dedicado à causa pública.


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na lei. Somavam o vencimento nas entidades de turismo a um terço da pensão. A partir de 1 de Janeiro de 2011 acabouse a acumulação.

A Câmara do Entroncamento é a primeira da região a considerar a aprovação de uma taxa de ocupação do espaço público aplicada às caixas multibanco. O executivo aprovou uma proposta apresentada pelo vereador do Bloco de Esquerda, Carlos Matias, nesse sentido, tendo ficado de acertar os termos finais da mesma, nomeadamente a definição do montante a pagar pelos bancos.

18 de Novembro Descontente com o Orçamento de Estado para 2011 e com o corte previsto nas transferências para os municípios, a presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha (PS), diz que Governo está a financiar-se à custa das autarquias locais.

11 de Novembro

2 de Dezembro

Francisco Moita Flores deixa a presidência da Câmara de Santarém em Março de 2013. Autarca sai alguns meses antes do final do mandato “para que os futuros candidatos se imponham”. O anúncio foi feito no seu blogue na Internet. O PS acusa-o de usar Santarém como trampolim para outros voos. Os actos ilegais do presidente da Câmara da Chamusca beneficiaram a população em geral e ninguém em particular. O presidente da Câmara da Chamusca, Sérgio Carrinho (CDU), não foi acusado a nível criminal por alegados actos ilegais cometidos na gestão do município, mas pode não se livrar de condenação pelo Tribunal Administrativo. Os actos ilegais beneficiaram a população em geral e ninguém em particular, considerou o Ministério Público.

João Correia, jurista com escritório e residência em Santarém, demite-se de secretário de Estado da Justiça poucos dias depois de, em entrevista a O MIRANTE, dizer que a sua missão no Governo estava concluída. Duarte Marques, um jovem oriundo de Mação, é eleito líder nacional da Juventude Social Democrata (JSD).

9 de Dezembro Joaquim Rosa do Céu e David Catarino vão deixar de poder acumular o salário de presidentes das regiões de turismo de Lisboa e Vale do Tejo e de Leiria/ Fátima, respectivamente, com a pensão.

Os ex-autarcas de Alpiarça e de Ourém vão ter de optar por uma das fontes de rendimento. Políticos reformaram-se por antecipação, antes da idade legal, beneficiando de um regime especial previsto

O MIRANTE dá conta das lutas internas no PSD de Ourém depois de João Moura ter afirmado, numa reunião da concelhia, que pretende ser candidato a deputado. O visado negou inicialmente ter feito essas declarações, mas mudou o discurso após o presidente da concelhia, Natálio Reis, as ter confirmado.


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ECONOMIA 7 de Janeiro A Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMLT) alerta para a necessidade das empresas da região se modernizarem. Os negócios com a administração

pública obrigam a que as propostas comerciais sejam apresentadas em formato digital e segundo a secretária executiva da CIMLT aquela é uma “realidade que os protagonistas da economia local estão a ter alguma dificuldade em aceitar”.

21 de Janeiro O regime de “lay-off”, implantado desde 7 de Junho de 2009 na Companhia Nacional de Fiação e Tecidos de Torres Novas, foi prorrogado por mais seis me-

ses. A medida, que implica uma redução temporária do período normal de trabalho e pressupõe uma redução do salário dos trabalhadores em dois terços (embora nunca abaixo do ordenado mínimo nacional). A empresa de Torres Novas, fundada em 1845 não mostra sinais de conseguir sobreviver à crise.

21 de Janeiro O Tribunal do Comércio de Lisboa declara a insolvência da Platex/IFM - Indústria de Fibras de Madeira, de Tomar. O anúncio, disponível para consulta no portal “Citius” do Ministério da Justiça, foi publicado no dia 13 de Janeiro tendo sido nomeado como administrador da insolvência Fernando da Cruz Dias, com escritório em Lisboa.

4 de Fevereiro Os autarcas de Almeirim e Chamusca ficaram “desgostosos” e “preocupados” com a decisão do Governo de suspender o processo da concessão Ribatejo, que inclui a construção do Itinerário Complementar (IC) 3, que consideram “estrutural” para a região.

18 de Março Duas dezenas de trabalhadores da antiga Metalúrgica Duarte Ferreira, do


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Tramagal, concentraram-se no dia 15 de Março à porta do Tribunal de Abrantes exigindo obter informações acerca das indemnizações pelas quais afirmam esperar desde 1985. A administração da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) seguiu as instruções recebidas da Comboios de Portugal (CP) e, a exemplo da Rede Ferroviária Nacional (REFER), propôs o congelamento dos salários até 2013.

20 de Maio O projecto “Empcriança”, dinamizado pela Nersant junto de escolas de vários concelhos do distrito de Santarém, envolveu quase três centenas de crianças. O objectivo do projecto é sensibilizar as crianças para o empreendedorismo e para a actividade comercial. A apresentação final decorreu no dia 19 de Maio, no auditório da Nersant, em Torres Novas, onde neste dia foi possível ouvir crianças falarem de termos económicos como lucro, negócio, mais valia, sucesso, logótipo, símbolo, recursos e matérias-primas.

9 de Junho Pela primeira vez a Feira Empresarial da Região de Santarém – Fersant, que desde a sua criação era realizada em Torres Novas, realizou-se em conjunto com a Feira Nacional de Agricultura, no Centro Nacional de Exposições de Santarém. O ministro da Agricultura, António Serrano esteve na inauguração da Feira Nacional de Agricultura. O seu antecessor no cargo, Jaime Silva, não foi convidado para a inauguração do certame nos quatro anos do seu mandato.

22 de Julho A câmara de Alpiarça em conjunto com a Junta de Freguesia local decidiu organizar o primeiro Festival do Melão. O objectivo foi a promoção do melão para aumentar as vendas. O festival teve um investimento de cerca de cinco mil euros, um valor muito mais baixo que a Feira do Vinho que foi “suspensa” em 2010 devido às dificuldades financeiras do município.

5 de Agosto António Coelho de Sousa é o novo presidente do conselho de administração da Companhia das Lezírias substituindo Vítor Barros. O Ministério da Agricultura quer implementar mudanças na maior empresa agrícola nacional detida exclusivamente por capitais públicos e na Fundação Alter Real – que integra a empresa - de forma a torná-la mais rentável num futuro próximo.

23 de Setembro No âmbito da Semana Europeia da Mobilidade, Santarém inaugurou no dia 22 de Setembro, o primeiro ponto de carregamento público da Rede Piloto Mobi.E.

30 de Setembro O mega centro logístico da Fiege, a funcionar em Vila Nova da Rainha, no concelho de Azambuja, permitiu criar 45 postos de trabalho no concelho. Entre 2011 e 2012 a empresa promete uma expansão que vai possibilitar o aumento do número de trabalhadores para o dobro.

14 de Outubro Os fornecedores e empreiteiros que trabalham com as câmaras mu-

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nicipais da Chamusca e do Cartaxo esperam, em média, mais de um ano para verem os seus bens ou serviços pagos. É o que informa a lista dos municípios com prazo médio de pagamento superior a 90 dias no final do segundo trimestre de 2010, elaborado pela Direcção Geral das Autarquias Locais (DGAL).

18 de Novembro O município de Torres Novas aderiu à empresa intermunicipal Águas do Ribatejo passando a ser o maior concelho na empresa com mais de 38 mil habitantes e representando um aumento de 21 mil clientes a juntar aos 55 mil que a empresa possui.

2 de Dezembro O volume de negócios da Sumol+Compal de Almeirim, aumentou 5,3 por cento para 269,2 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano em relação ao período homólogo anterior.

2 de Dezembro A EDP vai investir mais de 600 milhões de euros em Portugal nos próximos dois anos, dos quais 36 milhões de euros na região Oeste, zona que em 2009 foi fustigada por um intenso temporal que danificou seriamente as infra-estruturas da rede eléctrica. Na inauguração das instalações da empresa Canas – Electro-Montagens, SA, prestadora de serviços da EDP, dia 30 de Novembro, o presidente da empresa, António Mexia, salientou ainda que a EDP vai continuar a ser o maior investidor do país e o maior investidor português no estrangeiro – com presenças em 12 países, dos quais se destacam Brasil, Espanha e Estados Unidos.


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DESPORTO 14 de Janeiro Ana Ribeiro, 29 anos, enveredou pela arbitragem com apenas 19 e é a única mulher árbitro de 1ª categoria Distrital da Associação de Futebol de Lisboa.

4 de Fevereiro O Clube Desportivo “Os Águias” apresentou equipas de triatlo, para competir ao mais alto nível em todos os escalões. O regresso de Miguel Arraiolos e a contratação de Duarte Marques, que representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim, vieram tornar a equipa alpiarcense numa das mais fortes a nível nacional.

11 de Fevereiro Alan e Madjer, dois dos melhores jogadores do mundo de futebol de praia, foram contratados pelo Clube Desportivo de Torres Novas, para jogarem na sua equipa de futebol de onze. Estiveram pouco tempo no clube, mas a sua presença no plantel torrejano levou mais adeptos aos campos onde o clube foi jogar.

15 de Abril Vera Santos “esmagou” a concorrência no Grande Prémio de Marcha de Rio Maior. A marchadora riomaiorense deu

festival na prova que contou para o 8º Challenge Mundial de Marcha. Numa manifestação de extrema confiança a atleta, a representar o Juventude de Monte Abraão, comandou os 20 quilómetros de prova do princípio ao fim e venceu com autoridade, deixando a segunda classificada a mais de um minuto e meio.

28 de Abril A cidade do Cartaxo recebeu na noite de 24 de Abril, a décima edição do Grande Prémio de Atletismo Rui Silva. A prova nocturna representou, mais uma vez, uma grande festa desportiva, marcada pela presença de atletas

profissionais de renome e pela grande afluência de público, este ano com uma excelente participação do atleta homenageado. Os atletas quenianos, Kiprono Menjo e Rodah Cherop venceram com grande facilidade. Rui Silva foi segundo.


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Clube Atlético Riachense sagrou-se bi-campeão distrital de futebol. A festa foi de arromba, e ao contrário do ano anterior o clube aceitou a subida ao nacional da terceira divisão.

director da Agência de Santarém, António Rola, que dizem fazer promessas que depois não são cumpridas.

6 de Maio

Faleceu o antigo futebolista e seleccionador nacional de futebol José Torres, natural de Torres Novas, onde nasceu no dia 8 de Setembro de 1938.

3 de Setembro

Pais criam expectativas demasiado altas nos filhos. Quem o diz é Joana Cerqueira, licenciada em Psicologia do Desporto e professora na Escola Superior de Desporto de Rio Maior, que falou numa acção de formação sobre o lema “O papel dos pais na formação do jovem atleta”, que decorreu em Alverca.

7 Setembro Os sócios da União Desportiva (UD) de Rio Maior aprovaram, por unanimidade, a entrega de “todo o espólio do clube” à câmara municipal, interrompendo a actividade do clube.

O triatleta alpiarcense, Miguel Arraiolos foi um dos quatro portugueses que participaram no Campeonato da Europa de Duatlo de Nancy (França), no escalão de Sub 23, tendo conquistado a medalha de bronze. O atleta do Clube Desportivo “Os Águias” de Alpiarça concluiu a prova com o tempo de 01h39m58s, atrás do francês Etienne Diemunsch (1h37m46s), o novo campeão europeu, e do espanhol Oscar Vicente (01h38m10s). O Azambujeira revalidou o título distrital de Santarém de futebol do Inatel ao bater o Almoster por 3-2 na final disputada no estádio municipal de Alcanena. Para chegarem à final as equipas eliminaram o Paço dos Negros e Benfica do Ribatejo. Ao contrário do habitual, a festa até não foi muito grande, as duas equipas finalistas estavam recheadas de jogadores vindos da região de Lisboa.

13 de Maio O Clube Atlético Riachense fez mais uma “dobradinha” a nível distrital. Venceu, 4-3, na marcação de grandes penalidades, o Atlético Alcanenense e juntou a conquista da Taça do Ribatejo à vitória no Campeonato da Divisão Principal da Associação de Futebol de Santarém.

20 de Maio A Sociedade Recreativa Valcavalense (SRV), um clube de uma pequena localidade do concelho da Chamusca, conquistou a primeira edição da Taça Distrital da Fundação do Inatel de Santarém. A vitória foi alcançada na final realizada, na Chamusca, e em que teve como adversário a sua congénere do Olival, (Ourém). O resultado final 2-1 diz tudo sobre as emoções vividas no relvado sintético da Chamusca. A equipa portuguesa, composta pelas riomaiorenses, Vera Santos, Inês Henriques e a alentejana, Ana Cabecinha, conquistou a medalha de ouro colectiva nos 20 quilómetros marcha femininos na Taça do Mundo de marcha, a decorrer em Chihuahua (México). A nível individual, a portuguesa Vera Santos conquistou a medalha de prata, ficando em segundo lugar com 1h32m06s, a 11 segundos da vencedora, a espanhola Maria Vasco.

16 de Setembro A Selecção Nacional de Atletismo do Síndrome Down participou no 1º Campeonato do Mundo IAADS, disputado em Puerto Vallarta (México) entre 9 e 11 de Setembro. A equipa lusa arrecadou seis medalhas de ouro, nove de prata e quatro de bronze, o que lhe permitiu a obtenção do título de vice - campeões do Mundo. O jovem almeirinense, Bruno Leitão, contribuiu com a conquista da medalha de bronze no lançamento do peso. Inês Henriques ficou em terceiro lugar e conquistou a medalha de bronze, com um tempo de 1h33m28s.

9 de Junho Ao fim de cinco anos de ligação ao clube, o treinador Rui Vitória trocou o Centro Desportivo de Fátima pelo Paços de Ferreira que joga na Primeira Liga.

24 de Junho Aos 28 anos o jovem árbitro de Riachos, João Mendes, subiu à segunda categoria da arbitragem nacional e manifestou o desejo de lutar por ir mais longe. O próximo objectivo é a primeira categoria.

15 de Julho O triatleta alhandrense, João Pereira conquistou a medalha de bronze na quinta etapa da Taça do Mundo de Triatlo, efectuada na Holanda, três segundos apenas separaram os atletas que ocuparam o pódio na Taça do Mundo de Triatlo de Holten, o que demonstra bem o quanto foi renhida a prova masculina. João Pereira chegou a entrar na última volta da corrida na frente, mas com os russos Ivan Tutukin e Yulian Malyshev sempre por perto.

29 de Julho O Grupo de Futebol dos Empregados no Comércio de Santarém, colectividade popularmente conhecida por “Os Caixeiros”, suspendeu por tempo indeterminado a modalidade de andebol no escalão sénior. As razões aduzidas para esta suspensão prendem-se com as dificuldades

económicas porque passa. Bernardo, 21 anos, e Diogo Neves, 16 anos, são dois irmãos que têm em comum a paixão pelo hóquei em patins. Começaram muito cedo a praticar a modalidade nas equipas jovens do Hóquei Clube “Os Tigres” de Almeirim, rapidamente deram nas vistas, e rumaram a Lisboa e às equipas jovens do Sporting Clube de Portugal. Diogo é tri-campeão pelo clube leonino e foi agora chamado à Selecção Nacional sub-17. O marchador riomaiorense, João Vieira, igualou no dia 27 de Julho, o seu melhor resultado de sempre ao conquistar a medalha de bronze nos 20 quilómetros marcha nos Europeus de Atletismo de Barcelona, repetindo o feito de Gotemburgo2006. Com 34 anos, João Vieira repetiu a presença num pódio em Europeus ao ar livre, numa prova em que ainda discutiu a medalha de prata com o italiano Alex Schwazer, segundo. A vitória foi para o russo Stanislav Emelyanov.

2 de Setembro Oito anos depois da descida o Sporting de Tomar regressou ao escalão mais alto do hóquei em patins português. No dia da apresentação do novo plantel, o presidente do clube garantiu que o clube irá representar a cidade de Tomar e a região, “com dignidade, trabalho e empenhamento”. Árbitros acusam Fundação do Inatel de chantagem e falta de honestidade. Em causa continua a tabela de honorários e a contagem de quilómetros nas deslocações e também a actuação do

No dia em que saiu a edição de O MIRANTE, 16 de Setembro, José Canelo fez 86 anos. Morador no Entroncamento e um fenómeno das corridas, o aniversariante ganhou quatro medalhas de ouro no Campeonato da Europa de Atletismo para Veteranos realizado em Julho na Hungria.

7 de Outubro O Clube Desportivo “Os Águias” de Alpiarça está a viver um momento de pujança de que são exemplo as 11 secções de modalidades que disponibiliza neste momento. A comemorar 88 anos de vida o clube, presidido por Henrique Santana, quer continuar a projectar-se no país e no estrangeiro, principalmente através do Triatlo.

14 de Outubro A fracção B da sede da União Desportiva de Chamusca foi penhorada pelas Finanças. Em causa estão coimas e dívidas de IVA – Imposto Sobre o Valor Acrescenta do que devia ter sido pago em anos anteriores à gestão da actual comissão administrativa, que garante ter sido apanhada de surpresa e está a tentar resolver o problema.

21 de Outubro A equipa de seniores femininos do Clube Atlético Riachense venceu 2-0 a Associação Desportiva de Paço dos Negros na final da Supertaça do Ribatejo de Futsal Feminino e conquistou o troféu, num jogo disputado, no Pavilhão da Escola EB/2+3 da Chamusca, juntando este troféu ao Campeonato Distrital que já tinha vencido.


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