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30 Setembro 2010 | O MIRANTE

O Dia Mundial do Animal passa quase despercebido na região Celebra-se a 4 de Outubro, data da morte de S. Francisco de Assis A campanha de adopção e a “cãominhada” de Torres Novas, no domingo, são dos raros acontecimentos. Como forma de assinalar a data, O MIRANTE recolheu depoimentos de quem trata de animais diariamente.

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Dia Mundial do Animal, 4 de Outubro, celebra-se desde 1930 em mais de 45 países. Mas na região são raras as iniciativas

“Antes as pessoas que tinham um animal consideravam-no um objecto”

Regina Duarte considera que a procura de animais passa muito por modas e que actualmente as pessoas têm uma tendência para procurar mais os animais exóticos do que os cães e gatos, “porque para além de serem mais originais, dão menos trabalho, ocupam menos espaço e são mais económicos”. Os animais mais procurados na loja O Koala são a chinchila, o porquinho-da-índia e os coelhos. A proprietária recusa-se a ter na loja animais como cobras ou iguanas, mas não por medo. “É uma questão de princípio. Considero que esses animais não devem estar fechados em casa, mas sim viverem livres na natureza, porque são animais

publicitadas ou cuja realização tenha chegado à redacção de O MIRANTE. No site oficial da câmara municipal de Torres Novas há uma referência a algumas actividades promovidas pelo Canil Intermunicipal de Torres Novas realizadas domingo, dia 3. Nomeadamente, uma campanha de adopção de animais que decorre entre as 11 e as 17 horas, no Jardim das Rosas, o 3º Encontro de Animais Adoptados no Canil/Gatil e a 2ª edição da “Cãominhada”, com partida às 14h30, da Jardim e que percorrerá várias ruas da cidade.

selvagens. Não são animais domésticos”, aponta. Regina Duarte discorda com as vozes que dizem que animais desta dimensão não servem de companhia nem são inteligentes e conta uma das suas experiências pessoais. “Tive um rosicoli (pássaro) que me aparecia à solta na loja e eu não conseguia descobrir como é que ele fugia. Até que percebi que ele empurrava o estrado da gaiola para conseguir sair e quando chegava cá fora empurrava-a para dentro”, diz com um largo sorriso. A proprietária da loja O Koala considera que a atitude das pessoas para com os animais mudou para melhor nos últimos anos e que há uma maior consciencialização em relação aos direitos dos animais. “As pessoas dantes tinham um animal, mas consideravam-no um objecto. Era um bibelô que tinham para enfeitar a casa. Hoje já há carinho e muita preocupação e as

Regina Gonçalves, proprietária O Koala - Loja de Animais (Póvoa de Santa Iria)

Em 1929, no Congresso de Protecção Animal realizado em Viena de Áustria, foi decidido celebrar o dia Mundial do Animal a 4 de Outubro, data da morte de S. Francisco de Assis ( Franciscus van Assisi), uma personalidade da Igreja Católica conhecida pelo seu amor aos animais. Em Outubro de 1930 foi comemorado pela primeira vez o Dia Mundial do Animal e a 15 de Outubro de 1978 foram registados os direitos dos animais através da aprovação da Declaração Universal dos Direitos do Animal pela UNESCO

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pessoas investem mais no conforto e nas condições que dão aos animais”, refere. Ainda assim, Regina tenta educar na loja os compradores dos diversos animais. “Quando vejo que não há interesse dos pais em levar os animais, tento que as crianças não os levem. Porque já sabemos que os miúdos depois se cansam rapidamente e depois os animais são abandonados. Penso que cabe também a cada um de nós esse papel de educadores, para prevenirmos o abandono, quando vemos que não há grande interesse e que é só a criança que quer, por ser uma novidade”. No dia 2 de Outubro vai realizar-se na Cercipóvoa, na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, uma exposição de animais exóticos, com hamsters, porquinhos da índia e coelhos anões, entre as 11h00 e as 19h00.

Drª Rute Porém, médica veterinária Pata a Pata e Companhia Clínica Veterinária (Alverca)

“Os cães e os gatos também fazem fisioterapia” Na clínica veterinária Pata a Pata e Companhia surgem sobretudo cães e gatos para tratamento. Segundo a Drª Rute Porém, há muitos casais jovens hoje em dia que não têm filhos e que têm um cão ou um gato em casa para companhia, ou mesmo pessoas que vivem sozinhas e que procuram fugir ao isolamento através da companhia de um desses animais. Os animais domésticos mais procurados são os cães e os gatos “porque obviamente o tipo de interacção e os laços que se criam com um cão ou com um gato não são os mesmos do que um réptil”, explica. A médica veterinária considera que em Alverca, por ser um espaço urbano, as pessoas têm tendência a ter em casa cães de porte pequeno ou então gatos. “Cada vez temos espaços mais pequenos e casas mais pequenas. E os cães de porte pequeno comem menos, são mais transportáveis, o que facilita quando chega à

questão das férias. Por outro lado, há também um aumento dos gatos nesta zona, porque são mais independentes e suportam mais tempo sem os donos”, refere. Para esta responsável, a atitude das pessoas face aos animais está a mudar lentamente. “Principalmente as pessoas mais jovens, que já pesquisaram na internet e já estão consciencializadas que é preciso fazer a vacinação e desparasitação dos animais por questões de saúde e segurança”, sublinha. Na clínica Patas a Pata e Companhia faz-se também fisioterapia para cães e gatos. Tal como nas pessoas, também com os animais a fisioterapia ajuda em casos de reumatismo e problemas nas articulações. “Fazemos massagem e tratamentos com frios e quentes. Treinamos aqui os donos para que depois possam realizar as sessões em casa, tendo em conta as limitações dos animais, os tipos de lesão e as limitações dos donos, porque se forem pessoas idosas não lhes posso pedir que se ponham de joelhos a dar massagens ao cão”, explica, realçando que as sessões têm tido muito bons resultados.


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Drª Maria João Correia, médica veterinária Centro Veterinário da Encosta das Maias (Tomar)

“Animal perigoso é o dono. Os cães pequenos são piores que os das raças perigosas” Para a Drª Maria João Correia, a comunicação social – principalmente a televisão – tem sido um meio fundamental para o crescimento da informação sobre os cuidados a ter com os animais domésticos, nomeadamente no que diz respeito à sua alimentação e cuidados de saúde. “O grande avanço tem sido na medicina preventiva. As coleiras, as gotas contra os parasitas e a vacinação têm aumentado muito nos últimos anos”, sublinha. Contudo, a médica veterinária considera que há ainda um grave problema no que diz respeito aos direitos dos animais e que se prende com o abandono. “Devido à crise há muita gente que ao deparar-se com problemas de saúde

dos seus animais de companhia, recorre ao abandono, por considerarem o tratamento demasiado dispendioso”, diz com tristeza. Tal como os colegas de profissão, também a responsável do Centro Veterinário da Encosta das Maias considera que surgiu uma moda de adquirir animais exóticos nos centros urbanos, mas lança o alerta para a questão da legalização dos mesmos. “Já me surgiram situações em que clientes me apareceram com animais ilegais, que não têm certificado de entrada no país, como cobras, morcegos e aves selvagens e exóticas. Quando me deparo com estas situações reporto-as de imediato às autoridades”, explica. O grosso da clientela do centro veterinário são essencialmente cães e gatos, por isso em relação a mordidelas, a Drª Maria João Correia reconhece que são “ossos do ofício”. “Já me habituei a reconhecer alguns dos sinais que os animais me dão. Nos gatos são as orelhas e o pêlo eriçado e nos cães é o ladrar, o não deixar tocar. Aí utilizamos os fármacos para sedar, tranquilizar ou anestesiar, de forma a poder trabalhar com os animais. Comigo, o que sucede é que com a experiência fui aprendendo a fugir. Detecto que o animal vai ser agressivo e já me protejo”, refere mostrando algumas marcas que ficaram de experiências anteriores. Para a veterinária, a questão das raças perigosas é um mito. “São muito mais problemáticos na clínica os cães de porte pequeno, como os pincher e os caniche do que os pitbull e os rottweiler. Nunca tive um pitbull agressivo com um ser humano. Na gíria veterinária até dizemos que animal perigoso é o dono, porque tudo depende da educação que é dada. Já os cães pequeninos são muito mais perigosos porque são animais mimados e os donos vêem com maus olhos a tentativa de lhes pôr açaime ou de os sedar”, explica.

Drª Maria Júlia Blauth, médica veterinária Clínica da Drª Júlia Clínica Veterinária (Marinhais)

“Devem ser criadas mais soluções que diminuam a taxa de abandono dos animais” Estando num meio rural, na Clínica da Drª Júlia surgem os animais domésticos comuns, mas também alguns animais de campo, como cavalos, cabras e ovelhas. O maior problema, para esta médica veterinária, está precisamente nestes últimos, que muitas vezes são criados em condições ilegais. “Muitas vezes esses animais não estão registados. Se estivessem o próprio Estado providenciava um veterinário para vacinar, desparasitar e colher amostras de sangue, para prevenir doenças como a tuberculose e a brucelose, que são doenças que se transmitem às pessoas”, aponta. Por isso mesmo, a responsável diz que morreram muitos rebanhos com a chamada doença da “língua azul”, os quais pode-

riam ter sido poupados, caso estivessem legalizados. Para a Drª Júlia Blauth, nos meios rurais as mentalidades ainda estão iguais no que diz respeito ao tratamento dos animais. “Há pessoas muito boas que recolhem os animais abandonados e há pessoas cruéis que os abandonam e maltratam. Já me pediram para abater vários animais saudáveis porque já não os queriam. O problema é que aqui não há nenhum sítio onde se possam abrigar os animais abandonados”, diz com preocupação, lembrando que já encontrou vários animais no caixote do lixo. A história que mais a marcou foi a de um cão cujos donos pediram para que fosse abatido, sob o falso argumento de que estaria cheio de tumores. “O cão era jovem, e perfeitamente saudável. A única coisa que tinha era nós no pêlo, mas depois de tosquiado ficou lindo. Mas mesmo assim os donos não quiseram ficar com ele”, recorda com tristeza. Para a Drª Júlia Blauth a questão da sensibilização das pessoas para os direitos dos animais é bastante complexa e difícil. “Se não conseguimos sensibilizar as pessoas para questões como a violência doméstica ou os idosos, como é que vamos sensibilizá-los em relação aos animais?”, pergunta com desânimo. “É uma causa que todos temos de abraçar com mais intensidade. Nomeadamente no que diz respeito ao abandono. Devem ser criadas mais soluções alternativas que diminuam a taxa de abandono dos animais”, conclui.


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Drª Marta Gonçalves, médica veterinária - Vet Templários Clínica Veterinária (Tomar)

“Há cães que detectam células cancerígenas” Para a Drª Marta Gonçalves os últimos anos têm registado uma crescente melhoria na relação das pessoas com os animais, principalmente no que diz respeito aos animais de companhia. Ainda assim, a médica veterinária diz que muitos ainda fazem distinção no tratamento do que consideram ser os animais de companhia e os que são “mantidos só para guarda e que estão o dia todo preso a uma corrente ou o animal que é mantido só

para a caça”. A responsável da clínica Vet Templários diz mesmo que o que a choca mais são os abandonos de cães que sucedem quando abre a época da caça. “Os caçadores usam os cães para a caça e se não prestarem largam-nos. E nos primeiros dias é quando há maior incidência dos abandonos”, sublinha. “Desde que abriu a época da caça tenho tido aqui imensos cães que as pessoas encontram abandonados na estrada ou no meio do mato”, acusa com indignação. Na clínica de Tomar surgem mais cães e gatos, mas a médica veterinária assume que hoje em dia há uma maior procura de espécies exóticas, as quais se estão a tornar animais de com-

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panhia, como por exemplo os porcos vietnamitas, e os bodes e cabras anões, bem assim como as iguanas, tartarugas e as cobras pitons, que foram uma grande moda nos anos 90. “Já tive de tratar uma piton, com cerca de um metro de comprimento. Não é um animal muito perigoso, muito embora de vez em quando se leve uma dentada, mas não são venenosas. “Felizmente que a patologia que apresentava eram parasitas e foi fácil de resolver. Senão o que faço é encaminhar estas espécies exóticas aos colegas especialistas nessa área”, explica. Para a Drª Marta Gonçalves a comunicação social deveria ter um papel mais preponderante na educação da população face aos animais e à importância que têm na vida dos seres humanos e na sociedade. “Nas notícias só vemos relatar os casos dos cães de raça perigosa e grandes títulos sobre mortes ou ataques violentos, em vez de se dar mais ênfase aos aspectos positivos como os animais de terapia, que trabalham com idosos e com crianças deficientes, como os cavalos ou os golfinhos. E em termos de investigação, há cães que detectam células cancerígenas. É fabuloso, mas não se vêem notícias sobre isso”, sublinha.

A cadela que tinha de ser apresentada aos veterinários No Hospital Veterinário de Santarém, a questão que mais preocupa a Drª Rita Sousa é a questão dos maus tratos aos animais. “Ainda ontem (26 de Setembro) me apareceu aqui um gato que tinha sido alvejado com um chumbo na cabeça. Isso é propositado, diz revoltada. “Outra das situações é o envenenamento. Muitas pessoas recorrem ao veneno porque o cão ladra de noite e incomoda, ou porque é a maneira fácil de os abater, para quem tem essa coragem”, refere. Abertos há apenas um mês e meio, a equipa de médicos veterinários ao dispor do hospital trata não só cães e gatos, mas também animais exóticos. “Estes casos são sempre mais complicados, porque a nossa formação académica está sempre mais virada para cães e gatos ou então a vertente de animais de produção. O que sucede muitas vezes são especializações posteriores à formação académica e que permitem tratar essas espécies menos comuns”, sublinha. A médica veterinária confes-

Drª Rita Sousa, médica veterinária - Hospital Veterinário de Santarém sa que esta é uma profissão que só segue quem tem um grande amor aos animais e se preocupa com os seus direitos, mas quando questionada sobre a recolha de assinaturas do presidente da câmara de Santarém em prol das touradas, a Drª Rita Sousa diz que sendo escalabitana e estando neste ramo prefere não se pronunciar sobre o assunto. O animal que mais a marcou foi uma cadela que tinha uma doença provocada pela picada por um mosquito. “A Catita chegou e tinha três cachorros bebés com ela e por isso era muito agressiva e nem sequer deixava chegar perto. Tive de

telefonar ao dono, que disse que teria de vir até cá e disse que ma iria apresentar. Apesar de curioso, não pensei que fosse mesmo literalmente, mas o que é facto é que o dono chegou ao pé da cadela e disse “Catita, esta é a doutora Rita e não te vai fazer mal, porque é tua amiga”. E o que é facto é que a cadela desde esse momento mudou de atitude comigo e deixava-me mexer nela e nos cachorros. Ainda pensei que fosse coincidência, mas sucedeu o mesmo com uma funcionária que eu tinha, o que eu acho que é fora de série”, diz com um largo sorriso.

Sandra Gomes, proprietária Anizoo - Loja de animais (Tomar)

“Eu domestico passarinhos” Na Anizoo há desde cães, gatos, pássaros de todos os tamanhos e cores, peixes, tartarugas, iguanas, camaleões e até cobras. Apesar de já ter passado um pouco a moda dos animais exóticos, Sandra Gomes diz que os mantém na loja como chamariz de clientes. “As pessoas têm grande curiosidade e gostam de entrar na loja para vir ver estes animais que não encontram tão regularmente e por vezes acabam por comprar outras coisas”, explica. O animal que se vende mais nesta loja de Tomar são os pássaros, por serem animais de gaiola que não dão trabalho e são económicos, tanto em relação ao valor da compra como no que diz respeito à sua manutenção. Foi mesmo um dos pássaros que tinha na loja, o animal a que Sandra mais se afeiçoou, recusando-se mesmo a vendê-lo. “Eu domestico passarinhos e então tive um rosicoli, que era a minha Kikas, durante oito anos. Estava no poleiro mas subia para os ombros das pessoas e deixava fazer festinhas. São animais

muito inteligentes e muito meiguinhos. Infelizmente o ano passado roubaram-me a Kikas e até ao momento não consegui voltar a ligar-me a nenhum outro animal da loja”, diz com uma certa mágoa. Sandra Gomes considera que a mentalidade das pessoas face aos animais está a mudar mas muito lentamente e que as pessoas mais idosas continuam a ter o cão só para guardar a casa, preso a uma corrente pequena e sem lhe dar as mínimas condições de conforto. “Os mais jovens já têm a preocupação de dar uma melhor qualidade de vida aos seus animais de companhia e de os levar ao veterinário para que sejam sempre saudáveis. Mas ainda há muita gente que considera que os animais são só um elemento de decoração”, aponta. Por isso mesmo a proprietária da Anizoo tenta ter também um papel de educadora. “Estando ao pé de uma escola, tento sempre chamar as pessoas à responsabilidade. Por exemplo, muitos miúdos vêm aqui para comprar animais e eu não vendo sem que venham acompanhados pelos pais, porque muitas vezes chegam a casa e se os pais não querem os bichos, eles acabam por ser abandonados.


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“Existem grupos económicos muito potentes que exercem pressões para que os animais não sejam consagrados na lei como um ser ciente” Veladimiro Elvas reconhece que houve uma mudança de mentalidades na forma como as pessoas se relacionam com os animais. “Há vinte anos atrás era impensável ver um homem a passear na rua um “Lulu”, porque era considerado um atentado à sua masculinidade”, aponta com sorriso divertido, dizendo que o surgimento das diversas associações de protecção dos animais foi fundamental na mudança dessas mentalidades. No entanto, o presidente da Associação de Protecção Aos Animais Abandonados do Cartaxo é peremptório em afirmar que há muito trabalho a ser feito no âmbito da protecção dos direitos dos animais e na sensibilização das pessoas para esse tema. “Há ainda muita falta de fiscalização e de legislação e por isso

Drª Maria Gabriela Matos Directora Clínica Clínica Veterinária Vetcor (Coruche)

“O médico veterinário é um educador” O principal problema na questão da defesa dos direitos dos animais, para a Drª Gabriela Matos, está no facto de não se fazerem cumprir as leis. “Penso que a questão não está tanto em ter uma legislação mais severa, mas sim uma maior fiscalização, para obrigar as pessoas que abandonam os animais a pagar multas”, aponta. A responsável pela Vet-

continuam a suceder os episódios mais cruéis que se possam imaginar”, aponta. Para o responsável, Portugal está muito atrasado em relação ao resto dos outros países da Europa. “Saiu agora uma lei em Itália que diz que qualquer pessoa que atropele um animal e não lhe preste auxílio imediato será punida com pena de prisão. Portanto, é considerado um acto criminoso. Em Portugal não!”, diz com tristeza. Para Veladimiro existem ainda muitas áreas em que é preciso agir para proteger os direitos dos animais, como o tiro aos pombos, as touradas, o circo, os jardins zoológicos, mas muitas vezes as leis não avançam porque existem “demasiadas pressões”. “Existem grupos económicos muito potentes que exercem pressões para que os animais não sejam

cor considera que as mentalidades ainda vão demorar a mudar enquanto perante a lei o animal for visto como propriedade do dono e não como um ser vivo por si só. “Se por um lado isso facilita muitas coisas, por outro dificulta a acção legal para responsabilizar as pessoas que mal tratam os animais ou os abandonam”, explica. Por isso, a directora clínica sublinha que o médico veterinário tem de ser um educador, principalmente nas relações de higiene das famílias com os animais, na educação e alimentação, mas também na preservação do bem-estar animal. “Há uma serie de conselhos que nos preocupamos

Veladimiro Elvas, presidente da APAAC- Associação de Protecção Aos Animais Abandonados do Cartaxo - Canil Municipal do Cartaxo consagrados na lei como um ser ciente”, aponta. Por isso mesmo o presidente da APAAF não vê com bons olhos a iniciativa do presidente da câmara de Santarém de recolher assinaturas a favor das touradas. “Sei que estamos inseridos num meio de touradas e temos muitos afficionados que frequentam a nossa clínica veterinária e não me posso manifestar muito nesta área. Mas eu sou

contra as touradas como espectáculo sanguinário. E não sou só contra as touradas, sou também contra o boxe, por exemplo, porque entendo que devemos ser um pouco mais civilizados em relação a estas questões. Mas penso que esta medida do Dr. Moita Flores é apenas mais uma questão política para cativar mais alguns votos”, conclui.

em dar e adaptamos a mensagem ao cliente em questão, tentando não ferir susceptibilidades, porque é importante que do outro lado haja compreensão”, refere. A responsável pela clínica de Coruche admite que as mentalidades estão a mudar lentamente, mas gostaria de ver mais acções de formação, nomeadamente nas escolas, para sensibilizar os mais jovens para estas questões, muito embora considere que a educação deve começar em casa, no seio da família. “Há ainda muito para fazer e é sobretudo preciso mudar o pensamento das pessoas que ainda encaram os animais como pastilha elástica, descartáveis. Se está doente então abandona-se e venha outro”, diz revoltada. Para a Drª Gabriela Matos, o problema do abandono dos animais é um problema muito sério e preocupante, porque um animal vadio é um animal que poderá pôr em risco a saúde pública. “Os animais podem estar infectados com diversas doenças contagiosas, como por exemplo as lombrigas, e as crianças fa-

cilmente poderão ficar contaminadas”, justifica. Ainda assim, a médica veterinária recusa associar-se ao lobby das associações de protecção dos animais contra os caçadores. “Nesta região há muitos caçadores e normalmente as associações insurgem-se contra eles por causa dos abandonos dos cães de caça. Mas a verdade é que nem todos os caçadores se enquadram neste cenário. Eu tenho muitos clientes caçadores que têm grande estima aos animais e que são capazes de grandes sacrifícios por eles. É verdade que há alguns que utilizam os cães só para a casa e se não servem, abandonam, mas não são todos”, conclui.


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