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II | FRUTOS SECOS

30 Setembro 2010 | O MIRANTE

Reforço da componente tradicional nas bodas de prata da Feira dos Frutos Secos de Torres Novas Gastronomia regional, fado, folclore, artesanato e um Festival Internacional de acordeão A Feira marca o início do Outono e o ponto de partida para as celebrações do Natal. Este ano o certame celebra as Bodas de Prata e para além de uma mostra fotográfica das edições realizadas, reforça a ligação às escolas e regressa ao interior do pavilhão de exposições da Nersant.

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ntre os dias 1 e 10 de Outubro, Torres Novas recebe a tradicional Feira Nacional dos Frutos Secos. Na sua 25ª edição (19ª com participação Internacional e 8ª com destaque para o Figo Preto da região), o certame regressa ao interior do pavilhão da Nersant. Uma exposição fotográfica, com uma retrospectiva dos 25 anos de feira, acompanhada por uma exposição de pintura de artistas da região, são outras das novidades. As condições climatéricas dos últimos meses, com o tempo quente e húmido, vão ainda permitir que o visitante encontre uma oferta destes produtos com melhor qualidade e mais quantidade, explica Ana Lopes, da Associação Nacional dos Frutos Secos e Passados. “Vamos fazer 25 anos, 25 edições. Um quarto de século sem interrupções, é bastante importante para a organização, para a região, para o desenvolvimento rural”, declarou. A passagem do evento para o pavilhão da Nersant, na Várzea dos Meziões, traz “outras condições” ao evento. “É mais digno por causa dos produtos alimentares. Pensamos que tem outra dignidade logo à partida para o certame”. Para além da exposição fotográfica e de pintura, a aposta deste ano incidiu ainda na animação infantil. Ao lado da oferta tradicional, os pais poderão encontrar “camas elásticas, triciclos e um insuflável”. Nas tardes dos dias 4 e 6 (segunda e quarta-feira), com a colaboração do Gabinete de Educação da Câmara de Torres Novas e da Associação Empresarial de Torres Novas, Entroncamento, Alcanena e Golegã (ACIS), vão ser organizadas “tardes especiais”, em que a Feira será aberta, com visitas guiadas e outras actividades, às escolas. A locomotiva que já no ano passado fez o transporte até à Feira regressa às ruas de Torres Novas. As paragens realizam-se nas paragens dos TUT, onde os horários se encontram afixados. “Temos tasquinhas de gastronomia regional de várias regiões do país: do Ribatejo, Alentejo, Trás-os-Montes e Beiras”, afirmou. São mais de 150 expositores que se vão dividir pelas diferentes secções da Feira, passando pelos

VARIEDADE. Feira vai realizar-se entre os dias 1 e 10 de Outubro frutos secos, doçaria regional, licores, bebidas, charcutaria e muito artesanato regional, entre outros. “Este ano optámos por ceder espaço aos artesãos, mas de forma a ter artesanato diversificado”. 60 por cento dos vendedores de frutos secos presentes no certame são de Torres Novas. Ainda no programa estão previstos vários concursos, nomeadamente de montras, doçaria/frutos secos, fotografia sob a temática dos frutos secos e de moda. Dia 9, sábado, pelas 17h, haverá um seminário sobre os “Benefícios Nutricionais dos Frutos Secos na Alimentação”. VISITANTES PROCURAM REVIVER TRADIÇÕES Segundo Ana Lopes, a organização concluiu, por meio de inquéritos, que quem passa pela Feira dos Frutos Secos de Torres Novas vem sobretudo pela tradição. “Chegámos à conclusão que as pessoas não vêm à Feira pelos grandes grupos, mas pela tradição, pelos frutos secos, pela olaria, pelo artesanato”. “As pessoas vão comprar os frutos secos para o Natal”. Se no ano passado se atingiram os habituais 50 mil visitantes, este ano está a procurar-se superar esse número. “Estamos a fazer uma divulgação, apostando no facto de estarmos a celebrar as bodas de prata da Feira”. O programa aposta na tradição e nos artistas regionais. Dia 1, sexta-feira, a inauguração conta com a participação da Banda Operária Torrejana e da fa-

dista Teresa Tapadas. Um Festival Internacional de Acordeão, o rancho “Os Camponeses” de Riachos, o Grupo Etnográfico e Folclórico de Moitas Venda, a Tuna Feminina da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Rui Feliciano ou danças de salão são algumas das ofertas para as tardes e noites da semana de Feira. A entrada custa 1 euro, para maiores de 12 anos, e o espaço estará encerrado para descanso e reposição de stocks nos dias 6 e 7, quarta e quinta-feira. Dia 1 a Feira arranca pelas 18h. Dias 2, 3, 5, 9 e 10 a abertura será às 11h e dias 4 e 8 às 14h. O espaço encerra à meia-noite, com excepção do domingo e feriado em que as portas serão fechadas às 23h.

foto arquivo O MIRANTE


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O MIRANTE | 30 Setembro 2010

O que deve saber sobre os frutos secos Como qualquer outro tipo de alimentos, os frutos secos devem ser consumidos com moderação. E cada pessoa deve saber antecipadamente, face ao seu estado de saúde, com aquilo que pode contar. Estes são os prós e os contras. A escolha é de cada um.

SAudávEl. Ingerir uma mistura de frutos secos várias vezes por semana é benéfico para a saúde

róis vegetais, fitoestrogénios e outros fitonutrientes, que contribuem para uma boa saúde do coração. acção anti-inFlamatória Recentemente, tem sido sugerido que os frutos secos ajudam a reduzir a inflamação das artérias, que é um sintoma precoce da doença cardíaca. Estes alimentos são particularmente ricos em arginina, um aminoácido proteico. Arginina é necessária na produção de óxido nítrico, um composto que ajuda a relaxar e dilatar as artérias e outros vasos sanguíneos, promovendo uma boa circulação sanguínea. Um estudo espanhol recente concluiu que uma dieta rica em nozes reduz a inflamação arterial e pode neutralizar os efeitos de uma refeição rica em gordura. Contudo, ainda não é claro se este efeito se deve às gorduras polinsaturadas (as nozes são ricas em ácidos gordos omega-3), arginina, antioxidantes, ou à combinação dos três factores.

foto arquivo O MIRANTE

Frutos secos ricos em gordura boa A maioria da gordura dos frutos secos é essencialmente gordura mono insaturada e polinsaturada, e contém uma baixa percentagem de gordura que aumenta o nível de colesterol. A gordura monoinsaturada, e particularmente a polinsaturada, baixa o colesterol LDL (mau colesterol) e os níveis de lípidos no sangue. No entanto, e tendo em conta o perfil lipídico dos frutos secos, a sua capacidade para reduzir o colesterol é maior do que a esperada. Assim, é provável que, sendo o seu consumo habitualmente em baixas quantidades, os seus efeitos se façam sentir para além da redução dos níveis de colesterol. cheios de nutrientes e outros componentes benéFicos Cada tipo de fruto seco contém uma combinação específica de vitaminas e minerais, além das gorduras, proteínas e fibras. A maioria destes frutos contém, habitualmente, uma elevada quantidade de vitamina E, um poderoso antioxidante que neutraliza os radicais livres e os impede de atacar células saudáveis; ácido fólico, que previne o aumento da concentração de homocisteína (um aminoácido presente no sangue, que é um factor de risco para a doença cardíaca); e magnésio, mineral envolvido no controlo da pressão sanguínea. Os frutos secos também contêm outros componentes benéficos, como os este-

protecção contra outras doenças Alguns destes estudos evidenciaram que o consumo frequente de frutos secos está associado a um menor risco de diabetes mellitus tipo II, também conhecido como diabetes do adulto. Acredita-se que esta associação se possa dever à sua actividade anti-inflamatória. Também se supõe que estes alimentos possam ter uma acção protectora contra certos tipos de cancro. Por exemplo, o Estudo Prospectivo Europeu sobre Cancro e Nutrição (EPIC) constatou que quantos mais frutos e sementes a mulher consumir, menor é o risco de cancro no cólon; no caso dos homens, não se encontrou esta associação. consumo de Frutos secos Ingerir uma porção de uma mistura de frutos secos, várias vezes por semana, é benéfico para a saúde, mas também tem as suas desvantagens. Estes são alimentos muito calóricos, pelo que deveriam ser consumidos como outros alimentos menos saudáveis, em vez de serem adicionados simplesmente. É preferível que sejam consumidos crus. As variedades salgadas devem consumir-se com moderação, especialmente por aqueles que devem moderar a quantidade de sal na alimentação. Por outro lado, algumas pessoas são alérgicas aos frutos secos que provêm de árvores (nozes do Brasil, amêndoas, avelãs, etc.) ou a amendoins*. Estas alergias podem causar um choque anafilático, e por isso devem evitar-se os frutos secos em questão e todos os alimentos que contenham vestígios destes. * Os amendoins não são verdadeiros frutos secos, mas são leguminosas, como as ervilhas e o feijão. Contudo, nutricionalmente são mais semelhantes aos frutos secos e tão benéficos como estes para a nossa saúde. -Informação retirada do site “The European Food Information Council” (Conselho Europeu para a informação alimentar)


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Frutos Secos sim, espectáculos no Virgínia nem por isso A maior parte das pessoas consome frutos secos apenas em alturas especiais como o Dia de Todos os Santos, o Natal ou o Ano Novo. E aproveita a Feira dos Frutos Secos para fazer as suas compras. Quem é natu-

António Chora Barroso, Riachos Por tradição, com a família, António Chora Barroso procura visitar todos os anos a Feira dos Frutos Secos. “Quando vou vejo de tudo um pouco, só lá vou uma vez na semana, e compro sempre frutos secos”. “Normalmente vou ao figo branco, às nozes e às passas de uva”. “Gosto muito, mas engorda”, comenta rindo. Costuma comprar os frutos secos nesta altura do ano e guarda-os para ocasiões especiais, como o Dia de Todos os San-

ral de Torres Novas conhece bem o figo preto que durante décadas serviu para fabricar álcool e foi importante para a economia da região, mas são raros os que conhecem quem ainda se dê ao trabalho de apanhar aquetos ou o Natal. Não conhece ninguém que ainda tenha as suas figueiras e seque os figos para vender. “Não sei se um tio meu ainda tem figos…”. Do figo preto tem várias recordações. “Em pequeno andei a apanhar figos. Os meus avós eram da Brogueira e na altura das férias íamos com os primos apanhar figos, todos contentes em cima do burro. O meu avô dava um tostão ou dois por cada balde que nós apanhássemos”. “Acho que era uma tradição boa e mesmo assim ainda dava trabalho a muita gente quando se fazia aguardente de figo”. O último espectáculo que viu no Teatro Virgínia foi em 2009, com o primo, o cantor Pedro Barroso, que ali assinalou 40 anos de carreira. “Não vou mais por falta de tempo”, explica.

la qualidade de figo e a pôr a secar para depois vender. O MIRANTE aproveitou o contacto com cidadãos da zona de Torres Novas para lhes perguntar se costumam assistir aos espectáculos apresenta-

dos no renovado Teatro Virgínia. As respostas deixam a desejar. Espectadores assíduos não encontrámos nenhum mas encontrámos quem nunca lá tenha entrado.

cultural, mas sobretudo pela oferta gastronómica. Não conhece quem seque e venda o figo preto e lamenta que já não haja hoje clientes para esta produção. “Tenho pena que não se aproveite esse produto típico de Torres Novas”. Sabe que o Teatro Virgínia foi recuperado mas não se recorda da última vez que lá foi. “Confesso que não costumo ir a espectáculos no Virgínia”.

Francisco Silva, Torres Novas A viver em Torres Novas há cerca de 40 anos, Francisco Silva afirma gostar muito de frutos secos, desde amêndoas, nozes ou avelãs. Nos figos, prefere o figo branco. São produtos que guarda para ocasiões especiais. “Dias mais assinalados”, mas que compra apenas por alturas da Feira dos Frutos Secos. Todos os anos procura passar pelo certame. Músico desde os 14 anos, comenta que é “muito esquisito” com a oferta musical. O evento não o atrai tanto pelo programa


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João Pedro, Casével

Manuel Romão, Torres Novas

Especial apreciador de amêndoas, João Pedro afirma que adora todos os frutos secos, menos o figo preto, tradicional da região. Provavelmente por se ter cansado de os apanhar. “Quando era mais novo, para conseguir algum dinheiro para as férias, andei na apanha do figo preto. No final do dia recebia cerca de mil escudos. Como era pago ao balde, dependia da produção das figueiras e da minha disposição”, conta. E sublinha que o dia passado naquele ofício não era para brincadeiras. Havia sempre em sua volta pessoas mais velhas que o faziam trabalhar. Todos os anos passa pela Feira dos Frutos Secos. “Costumo ir para ver alguns concertos e aproveito para passar lá a tarde, comer qualquer coisa”. A compra dos frutos secos é um hábito de todo o ano e em sua casa nunca faltam as amêndoas. “Em Casével ainda conheço muita gente que tem figueiras e seca os figos, mas não vende, apenas oferece”. “O meu primeiro empregador, quando andava na apanha do figo preto, julgo que ainda vende, mas já tem 90 anos”. Da última vez que João Pedro esteve no Teatro Virgínia, em Torres Novas, foi para assistir a um concerto dos Clã, há cerca de dois anos. “Ainda não percebi se é falta de interesse em ir ou falta de informação sobre os espectáculos. Talvez um pouco das duas coisas”, reflecte.

Proprietário de um restaurante, Manuel Romão vai à Feira dos Frutos Secos conforme a sua disponibilidade, mas refere que passa pelo certame todos os anos. “Costumava ir à Feira mais para ver a Fersant (Feira Empresarial que se realizava na mesma altura da Feira dos Frutos Secos), agora não sei como será”, refere. “Vou à espera de encontrar aquilo mais vazio”, afirma, comentando que conhece pessoas que já não vão expor os seus produtos porque a Fersant este ano se realizou em Santarém. Manuel Romão gosta de todo o tipo de frutos secos, passando pelo tradicional figo preto, a noz ou a amêndoa. Mas consome estes produtos sobretudo nesta época. “No tempo do calor, só se for mesmo um amendoim com uma imperial”, refere a rir. Dos tradicionais produtores que conservem as suas figueiras e sequem os figos pretos para vender não conhece ninguém. “Mas há aqui um supermercado que tem sempre figo preto, todo o ano”, comenta. Quanto a hábitos culturais são escassos. “Nunca fui ao teatro Virgínia desde que foi recuperado. Tenho muito trabalho”, justifica-se.

Rosalina Santos, Torres Novas

Apreciadora de frutos secos, Rosalina Santos diz que gosta de todas as variedades, incluindo os figos. “Por causa do sabor”, refere. Todos os anos visita a Feira dos Frutos Secos, porque a sua empresa tem lá um stand de vendas. “Tenho mais o hábito de comprar os frutos secos nesta altura por causa da Feira”, conta. Não conhece quem ainda seque figos para vender, mas refere que algumas colegas conservam as suas figueiras e vão colhendo os figos. “Há sempre mercado para estes produtos embora a agricultura esteja a passar uma fase má”, afirma. O último espectáculo que viu no Teatro Virgínia foi há dois ou três anos, com o humorista José Pedro Gomes. “Tenho uma vida muito ocupada. E nem sempre é possível conjugar as coisas”, admite.

João Gonçalves, Torres Novas

Costuma passar todos os anos pela Feira dos Frutos Secos e é hábito levar alguns para casa. De toda a oferta, prefere as nozes. “Vou por tradição, desde a altura que a Feira começou”. A secção dos doces é contudo a sua favorita. João Gonçalves comenta que costuma esperar por esta época do ano para comprar frutos secos. Pessoas que ainda possuam figueiras e sequem os figos para vender existem cada vez menos na zona e refere que esta é uma tradição que se está a perder. “Conheci pessoas que o faziam, mas hoje em dia os figos que vêm do estrangeiro, de locais como a Turquia, são mais baratos. Aqui fazemos uma Feira mas os produtos, na realidade, vêm de outros países”, diz. Dono de um restaurante, afirma que não se recorda bem da última vez que foi ao Teatro Virgínia. “Tenho uma filha que está na dança e a última vez que estive no espaço foi para ver um espectáculo dela”, confessa.


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