Suplemento Especial Feira de Maio - Azambuja

Page 1

O MIRANTE S E M A N Á R I O

R E G I O N A L

SUPLEMENTO ESPECIAL

FEIRA DE MAIO AZAMBUJA faz parte integrante da edição n.º 880 deste jornal e não pode ser vendido separadamente

Na Feira da Azambuja castiça ao som do fado e ao ritmo de campinos e toiros Ana Moura, Quim Barreiros, Buraka Som Sistema, Fado Vadio e Folclore animam Azambuja de 28 de Maio a 1 de Junho 2

Oliveira com 500 João Inácio Almeida “Não tenho medo de desafios mas anos só está vai receber o protegida no papel “Pampilho de Honra” não sou de me atirar às cegas” População de Aveiras-de-cima Um homem do campo que integra uma teme destruição de árvore 6

dinastia a preceito 4

Entrevista com Joaquim Ramos 5


28 Maio 2009 | O MIRANTE

2 | FEIRA DE MAIO - AZAMBUJA

Na Feira da castiça Azambuja ao som do fado e ao ritmo de campinos e toiros Ana Moura, Quim Barreiros, Buraka Som Sistema, Fado Vadio, folclore e tudo

foto arquivo O MIRANTE

A organização garante que é a Feira mais castiça do Ribatejo. A única maneira de verificar o que é afirmado é ir lá e ver para crer, como S. Tomé. Há música com Ana Moura, Quim Barreiros e Buraka Som Sistema. Há toiros. Há campinos. E há um dia de sardinha assada, pão e vinho à borla. O que acontece na Feira de Maio de Azambuja não cabe no imenso rol de actividades incluídas no programa. Nem se consegue contar por palavras. De 28 de Maio a 1 de Junho há que percorrer as ruas, as praças, os lugares. Abrir os

sentidos e captar o mais que se consiga de tudo aquilo que possa dar prazer. São fados. São toiros. São arraias e sardinha assada. São as músicas dos Buraca Som Sistema. Os trocadilhos brejeiros do Quim Barreiros. As notas vibrantes de Ana Moura. O folclore permanente na Praça das Freguesias. É de manhã à noite. Mais tarde e noite. Mais madrugada. Os organizados podem munir-se de um programa e programar. A maioria

vai à aventura. Lê-se em diagonal. Entrada de toiros conduzidos por campinos nas ruas da vila. Todos os dias há uma. Na Sexta há um cortejo de campinos e gado à luz de Archotes. A homenagem ao campino é no Domingo às 9h30 da manhã. Espectáculo Equestre na Praça de toiros no Sábado às 21h30. Corrida à portuguesa no domingo. Às cinco em ponto da tarde.

A Câmara Municipal destacou alguns momentos no topo do folheto. Ana Moura, dia 28, quinta-feira, no Páteo Valverde a partir da meia-noite. No dia seguinte, sexta-feira, a noite da sardinha assada, Quim Barreiros canta na Praça do Município a partir das 3 (três) da manhã. Para ajudar a digestão dos mais comilões e entreter as insónias que a adrenalina provoca. Os Buraka Som Sistema dão espectáculo dia 30 de Maio, Sábado, à meia-noite, Junto à Escola Secundária. Na segunda-feira, dia 1 de Junho à meia-noite a Feira fecha com um “Espectacular Fogo de Artifício”. “Temos vindo de ano para ano a elevar a fasquia. Queremos que a Feira evolua sem nunca abandonar as suas raízes. É uma feira tipicamente ribatejana mas agora tem uma vertente económica, um espaço de artesanato regional. E com a Praça das Freguesias, onde todas estão representadas, estimulamos o convívio entre os munícipes e as suas associações. Na manga na várzea do Valverde, criada com carácter definitivo, vão desenvolver-se todas as actividades que têm a ver com a prática da Lezíria”, explica o presidente da câmara. Joaquim Ramos (PS).


O MIRANTE | 28 Maio 2009

FEIRA DE MAIO - AZAMBUJA | 3

fotos arquivo O MIRANTE


28 Maio 2009 | O MIRANTE

4 | FEIRA DE MAIO - AZAMBUJA

João Inácio Almeida vai receber o “Pampilho de Honra” Um homem do campo que integra uma dinastia a preceito

OPTIMISMO. João preceito encara a vida com a coragem com que lidou com os touros foto O MIRANTE

João Preceito é a terceira geração de uma família de campinos cuja continuidade está assegurada pelo filho o campino e picador “Janica”. Nelson Silva Lopes Filho e pai de campinos, João Inácio Almeida, conhecido por João Preceito é uma das figuras mais castiças da campinagem ribatejana. O homem que cuidou do gado bravo e manso da Casa Oliveiras Irmãos durante quase 30 anos é presença habitual nas festas tradicionais, nomeadamente na centenária Feira de Maio em Azambuja. “Foi em Azambuja que comecei a trabalhar para o senhor Teodoro Prudêncio antes de ir para os Oliveiras Irmãos onde cheguei com 17 anos para trabalhar com o meu pai que era o guarda da casa”, recorda.

Domingo, 31 de Maio, João Preceito vai trajar a rigor com o colete encarnado, calção azul, meia branca e barrete verde

AVC foi a colhida mais grave Um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quase roubou a vida a João Preceito há nove anos, mas com a força dos vencedores e a ajuda da família e dos amigos, recuperou e voltou a montar a cavalo. Foi a maior colhida da sua vida. “Graças a Deus e a toda a minha família, tive coragem e força para viver e recuperar”, diz com a voz comovida. Campino e desbastador de cavalos durante 40 anos, João viu com alguma tristeza o dia em que deixou a casa

para receber o “Pampilho de Honra” que este ano tem o nome de José Paulo Silva, campino e picador que perdeu a vida num acidente de viação quando regressava duma corrida com Nuno Casquinha em Espanha. “É sempre uma grande emoção quando se fazem estas homenagens. Se as pessoas acham que merecemos é porque fizemos um bom trabalho”, refere com humildade dizendo que se sente tão à-vontade com o mais pobre camponês, como com as figuras públicas com quem contactou no programa televisivo “Quinta das Celebridades”. Recorde-se que João Preceito privou, na casa onde decorreu o programa da TVI, com o actor de filmes pornográficos Alexandre Frota, a cantora Mónica (primeira portuguesa a despir-se para a revista Playboy) e com o polémico José Castelo Branco, entre outros, e de todos ficou amigo. “Havia um grande respeito entre todos”, recorda. Na altura chamaram-lhe o “Rei do Gado”, em algumas das dezenas de reportagens publicadas, mas João rejeitou o estatuto de vedeta e seguiu os caminhos da humildade. Foi do pai Joaquim Preceito, que João herdou a educação, o gosto pelo campo e o jeito para lidar com gado bravo e com as pessoas, mesmo com as mais complicadas. Os toiros e os cavalos fazem parte da sua vida como a família onde encontra o apoio nas horas más e onde se junta com

Oliveiras Irmãos. “Foi lá que fiz os 17 e os 60 anos”, recorda, explicando que pelo meio passou por várias casas agrícolas no Ribatejo e Alentejo. Nunca se afastou do campo, dos cavalos e dos toiros. “É a minha vida. Preciso disto para viver”, refere. Trata dos seus cavalos e gosta de passear montado na cela ou instalado na charrete que trata como uma relíquia e que utiliza para transportar os santos nas festas religiosas. Participa nas guardas de honra à Senhora de Alcamé, padroeira dos campinos e lavradores. João é um homem de fé e acredita que na pior hora da sua vida alguém o ajudou a segurar-se à vida.

a mulher, de nome Preciosa, e descendentes para festejar os bons momentos. “Tenho três filhos, quatro netos e outro a caminho”, diz orgulhoso. Dois dos filhos seguiram a caminhada do pai. João, mais conhecido por “Janica”, é um campino da nova geração e José Carlos também vive do campo e acompanha o pai nas festas da região. O mais novo, Luís, explora uma vacaria e prefere lidar com o gado manso.


O MIRANTE | 28 Maio 2009

FEIRA DE MAIO - AZAMBUJA | 5

“Não tenho medo de desafios mas não sou de me atirar às cegas” torais. Fora deles não há grande sentido crítico. E mesmo esse é, na generalidade, extremamente destrutivo. Conversas de bastidores… Tenho pouca paciência para esse tipo de conversa. Para a intriga política. Para os fait-divers que são o que alimenta esse tipo de conversa. Gosto de me focar nos assuntos que são importantes. A caravana passa… A caravana passa e os cães ladram. E ladram bem. Principalmente em anos de eleições. Felizmente por aqui a caravana passa e vai engrossando. Aumentando. Nas últimas eleições o aumento foi de cerca de 10 pontos percentuais e estou convencido que, este ano, ainda vamos aumentar mais. O trabalho do município é visível para quem quer ver. Nós temos proposto um determinado conjunto de objectivos e nestes dois mandatos que eu levo esses objectivos têm sido cumpridos e até ultrapassados. Abençoado aeroporto… Havia um modelo de desenvolvimento com o aeroporto localizado na Ota. Um modelo que assentava sobre determinados vectores como o social, o económico, o emprego, a construção civil. Depois há o modelo alternativo para onde tivemos de inflectir com a inesperada reviravolta, que é um modelo mais centrado na qualidade de vida, num desenvolvimento mais sustentado, mais lento, naturalmente. Entre os dois modelos não sei qual será preferível. Joaquim Ramos Presidente da Câmara Municipal de Azambuja (PS) Trabalhar pela noite fora… É uma coisa que faço com frequência e que vem dos meus tempos de estudante. Eu fiz o meu curso à noite. Trabalhava durante o dia e que remédio tinha eu senão continuar pela noite fora. Agora também gosto de trabalhar à noite mas em casa.

O povo é quem mais ordena… Pelo menos é o que diz o verso da canção “Grândola Vila Morena”. Em democracia, em última análise, o povo é quem mais ordena. Infelizmente temos um deficit muito grande de participação cívica e, consequentemente, essa máxima apenas se materializa nos períodos elei-

Arrependimentos… Arrependo-me mais de coisas que fiz e não devia ter feito do que de coisas que não fiz. Se eu vivesse a minha infância nos dias de hoje seria considerado um miúdo hiperactivo. Tenho uma postura muito fervilhante. Gosto de fazer coisas. De me envolver. Mas na nossa vida tudo conta para aprender, mesmo coisas das quais nos arrependemos.

Quando falha o diálogo… É muito complicado. Fico muito deprimido nessas alturas. Procuro manter sempre o diálogo, quer na minha vida política, quer na minha vida pessoal, mas o diálogo também tem limites. Quando estamos mandatados pela população não devemos alimentar o diálogo se a continuidade desse diálogo levar a que sejam defraudadas as expectativas de quem nos elegeu. Gato preto… Tenho uma única superstição. Nunca me sento numa mesa com treze pessoas. Improvisos… É uma capacidade que tenho. Flexibilidade de raciocínio. Pronta capacidade de virar o discurso, o pensamento, a atitude. Reconheço que tenho. Oh glória de mandar… É uma ilusão pensar que um Presidente de Câmara manda. No sistema político português está tudo tão armadilhado que na prática não mandamos nada. Eu apenas tenho capacidade de intervenção em cinco por cento do território do concelho. Oitenta por cento dos processos ao nível do urbanismo, por exemplo, são determinados pelas estruturas do poder central e não pelo Presidente da Câmara. Quem está disponível para exercer um cargo destes é uma minoria ínfima da população. Este concelho tem trinta mil habitantes. Que eu saiba temos quatro pessoas disponíveis para se candidatarem ao cargo de Presidente de Câmara. Uma ínfima minoria. Fim-de-semana… Festas populares, visitas a instituições e associações, inaugurações, colóquios… mas eu gosto de ir porque sou bem recebido em todo o concelho. Guardo algum tempo para os meus filhos e netos. Tenho um filho no estrangeiro e duas filhas, uma em Lisboa e outra em Azambuja e não estou com eles tanto tempo quanto desejaria. Eu explico, explico, explico… Gosto muito de explicar a quem quer entender. Não me canso de explicar mesmo que quem me ouve não perceba, desde que o meu interlocutor faça um esforço para perceber. Explicar seja o que for a quem não quer perceber é perder tempo. Irrita-me. Formalidades… Por vezes custa-me ser formal. Quer no traje, quer na postura, quer no tratamento. Tenho pouco jeito para a formalidade mas as minhas funções obrigam-me a ser formal. Tenho uma grande colecção de gravatas de que me vou desfazer quando abandonar o cargo. Vou ficar com uma ou duas para a eventualidade de ser convidado para algum casamento. É de caras… Não tenho medo de desafios mas não sou de me atirar às cegas. Gosto de estudar a forma mais produtiva de enfrentar os assuntos. Por vezes é de caras. Mas às vezes é de cernelha.


28 Maio 2009 | O MIRANTE

6 | FEIRA DE MAIO - AZAMBUJA

Oliveira com quinhentos anos só está protegida no papel População de Aveiras-de-cima teme destruição de árvore classificada No concelho de Azambuja há quatro árvores protegidas, todas com mais de cem anos. São exemplares em os proprietários não lhes podem mexer sem autorização da Direcção-geral dos Recursos Florestais. Nelson Silva Lopes Na rua das Hortas, em Aveiras-deCima, Azambuja, há uma oliveira cheia de história. A árvore com 500 anos está classificada desde 24 de Abril de 2000 (Diário da República nº 96, II Série), tem estatuto de espécie protegida, mas a protecção só existe no papel. Há 10 anos, foi construído um muro de suporte que evita que as raízes rompam pela estrada dentro e uma copa onde permanece a água e a matéria que

alimenta a árvore. “Isto devia ter uma vedação para evitar que esta malta acabe com o resto. Eu tenho 80 anos e sempre conheci esta oliveira”, explica Joaquim Pereira Agostinho, morador em Casais do Vale Cepa, visita habitual do lar que fica mesmo ao lado da propriedade que acolhe a árvore. No Ribatejo há cerca de 30 árvores classificadas de interesse público pela sua história, pela antiguidade ou pela raridade da espécie. Ninguém pode tocar nestas árvores, nem os proprietários, sem autorização da Direcção-geral dos Recursos Florestais. No concelho de Azambuja, para além da oliveira de Aveiras de Cima, existem mais três árvores classificadas e centenárias. Uma tamareira e uma araucária, classificadas em Setembro de 2004, estão protegidas no jardim do pátio da Casa da Juventude. Apesar do portão estar aberto e de haver contacto das


O MIRANTE | 28 Maio 2009

pessoas com as árvores, não há sinais de degradação. Junto da Santa Casa da Misericórdia resiste uma oliveira com mais de um século. Uma parte da árvore de Aveiras de Cima está para lá do muro dum terreno onde O MIRANTE não encontrou ninguém. Os proprietários raramente estão no local e não foi possível apurar a relação que têm com a oliveira que, apesar da idade. “Ainda dá azeitona”, diz Alípio Dias Pinheiro, 69 anos. Ele recorda o tempo em que as crianças brincavam junto da árvore cujas raízes ocupavam metade da estrada que era de terra batida e agora está alcatroada. “Só se passava aqui a pé e havia um grande respeito pela oliveira. Agora estragam tudo”, refere. Um acto de vandalismo registado há anos deixou marcas que ainda são visíveis. Alguém deitou fogo à árvore. O troco está aberto. “Cabem quatro crianças lá dentro. Elas jogam aqui às escondidas”, refere Nuno Silva que brincou no mesmo local quando era criança. Apesar da placa colocada pela junta de freguesia que descreve a árvore secular e refere que está sob protecção, há pessoas insensíveis que fizeram pinturas na árvore e no muro de suporte. O presidente da junta de Freguesia de Aveiras de Cima, Justino Oliveira (CDU) reconhece que tem que ser encontrada uma solução para proteger a oliveira, mas diz-se de mãos atadas face ao estatuto da mesma. “A Direcção-

FEIRA DE MAIO - AZAMBUJA | 7

geral dos Recursos Florestais nem faz nem deixa fazer. É preciso salvar o que resta. Qualquer dia já não há nada para ver”, alerta o autarca que já pediu a intervenção da Câmara Municipal de Azambuja junto da Direcção Geral dos Recursos Florestais. A entidade que zela pelas árvores protegidas garante que fez o que era possível e afirma que não tem registo de nenhum incidente desde o fogo que destruiu parte do tronco da oliveira. O presidente da junta adiantou que vai solicitar, mais uma vez, à câmara que faça uma exposição a denunciar a situação da árvore à Autoridade Florestal Nacional.


8 | FEIRA DE MAIO - AZAMBUJA

28 Maio 2009 | O MIRANTE


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.