Mandiocultura no Araripe

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MAN dio cul tura

Cartilha de Experiências do Sertão do Araripe


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Cartilha de Experiências do Sertão do Araripe


REALIZAÇÃO Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada) APOIO Ministério do Desenvolvimento Agrário Secretaria de Desenvolvimento Territorial: Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços nos Territórios Rurais PRODUÇÃO Assessoria de Comunicação do Chapada Gerente de Comunicação Mariana Landim (SRTE/PE 0224) Jornalistas Carolina Barros (DRT/CE 2496) Gabriel Ramos

REVISÃO DE CONTEÚDO Alexandre Damacena Engenheiro Agrônomo | Pós-graduado em Agroecologia Edésio Medeiros Engenheiro Agrônomo | Pós-graduado em Agroecologia Gabriel Ramos Jornalista Tales Matos Engenheiro Agrônomo | Pós-graduado em Agroecologia Valéria Landim Assistente Social | Mestre em Serviço Social FOTOGRAFIAS Acervo Chapada Tales Matos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Via Design REVISÃO Consultexto

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PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Alexandre Damacena Engenheiro Agrônomo | Pós-graduado em Agroecologia Tales Matos Engenheiro Agrônomo | Pós-graduado em Agroecologia

Sumario 4 Conheça mais sobre a ONG Chapada 9 Apresentação 11 Fatores Econômicos 15 As experiências que deram certo Saiba mais Galeria de fotos


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Conheca mais sobre a ONG Chapada Em maio de 1994, no município de Araripina, após a constatação de que a agricultura familiar precisava de assessorias e serviços técnicos para o seu desenvolvimento, um grupo de técnicos/as e de agricultores e agricultoras fundou o Centro de Habilitação e Apoio do Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada). O Chapada instituiu como missão o fortalecimento e o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural da agricultura familiar através da recuperação e preservação do meio ambiente, por meio da agroecologia e efetivação da cidadania no semiárido brasileiro. Para o futuro, a instituição tem como visão permanente a proposta de ser uma referência em processos e metodologias de desenvolvimento da agroecologia e capacidades empreendedoras na agricultura familiar, favorecendo o protagonismo juvenil e as relações iguais de gênero.


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LINHAS ESTRATÉGICAS DE ATUAÇÃO

Agroecologia para Convivência com o Semiárido

Juventude Rural e Cidadania

Ações voltadas para a implantação e o desenvolvimento de sistemas agroflorestais, bancos comunitários e familiares de sementes crioulas/nativas, horticultura agroecológica, produção de mel, criação de caprinos e ovinos e galinhas caipiras.

Ações que contribuem para a capacitação profissional de jovens, despertando neles o interesse pela agroecologia e convivência com o semiárido. Estimula-se também a inserção deles na agricultura familiar e a profissionalização como técnicos de campo. O objetivo é a promoção da geração de renda e a fixação dos jovens na zona rural.

Água e Segurança Alimentar

Comunicação

Estruturação de infraestrutura hídrica nas propriedades e comunidades rurais, garantindo o acesso a água de qualidade para o consumo humano, doméstico e produtivo.

A comunicação institucional dialoga com a necessidade de dar voz aos homens e às mulheres do campo tornando públicos suas histórias e seus sonhos. A comunicação permeia todo o processo que envolve a mobilização das famílias agricultoras ao contribuir com a disseminação de conhecimentos e experiências exitosas de convivência com a região semiárida.

Empreendedorismo na Agricultura Familiar e Acesso a Mercados Qualificação das famílias em planejamento da propriedade, cálculos de custo e de preço das vendas e o desenvolvimento de comportamentos empreendedores. Assessoria técnica ao gerenciamento de unidades de beneficiamento, feiras agroecológicas e de caprinos e ovinos e acesso aos programas governamentais de compras.


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Apresentacao Esta cartilha sistematiza os principais resultados alcançados na cadeia produtiva a partir do Plano de Atividades (PAT) executado pela ONG Chapada nos anos de 2012 e 2013, no território do Sertão do Araripe, em Pernambuco, e financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário através do Programa de Apoio a Projetos de Infraestrutura e Serviços da Secretaria de Desenvolvimento Territorial. A iniciativa teve o objetivo de fortalecer a agricultura familiar e difundir técnicas de produção agrícola, por meio de práticas com princípios agroecológicos e da convivência com o semiárido. É para cumprir, portanto, com a disseminação daquelas práticas na forma de conhecimento que esta cartilha oferece aos/às leitores/as sistematizações de histórias de famílias com experiências exitosas promovidas pela experimentação de novas tecnologias de produção que garantiram a autonomia, geração de renda, segurança alimentar e sustentabilidade delas e do meio ambiente. Ao longo das atividades desenvolvidas, foram realizadas assessorias técnicas com orientações nas propriedades, visando a resolução dos problemas identificados nos sistemas produtivos e nas unidades produtivas de beneficiamento de mandioca (casas de farinha), encontros de formação e capacitação e visitas de intercâmbio. Portanto, o foco foram as práticas de produção, beneficiamento e comercialização. Outra importante iniciativa do projeto PAT, no contexto da assessoria técnica, foi a realização das reuniões comunitárias com as famílias nas unidades de beneficiamento, onde eram socializadas as experiência na intenção de conhecer melhor as demandas, as dificuldades e os desafios


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no cultivo agroecológico da mandioca. Após o reconhecimento do cenário e a identificação das ameaças e oportunidades nos sistemas produtivos a partir da intervenção da assessoria técnica, foram apontados caminhos para a solução dos gargalos.

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FATORES ECONoMICOS REGIONAIS 1

Para contribuir também para o desenvolvimento dos trabalhos, destaca-se o exercício do associativismo pelas famílias na busca de parcerias, o que resultou em trabalhos com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Secretária de Agricultura e a Prefeitura de Ipubi.

O Brasil possui aproximadamente 1,8 milhão de hectares com produção total de 25,4 milhões de toneladas de mandioca. Só em Pernambuco existe 49,9 hectares de área plantada atingindo 520 mil toneladas, desta forma, colocando-o no 12° lugar no ranking da produção brasileira, segundo dados de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Segundo o Relatório de Diagnóstico Planos Territoriais de Redes Produtivas (Plano 10 Mandiocultura do Sertão do Araripe) produzido pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), em 2011, o Território do Araripe pernambucano foi responsável por 8,8% da produção de mandioca no Estado, ocupando uma área de 7.360 hectares distribuídos entre os 10 municípios da região (Araripina, Granito, Ipubi, Ouricuri, Trindade, Bodocó, Exu, Moreilândia, Santa Cruz e Santa Filomena). Só no município de Araripina foi plantado 3.000 hectares, ou seja, 40,8% do total, seguidos dos municípios de Bodocó, Exu e Ipubi que ficaram em 2° com 13,6% de área plantada.


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O cenário da mandiocultura no Araripe 1) Falta de maniva em épocas posteriores aos longos períodos de estiagem. 2) Baixa produção. 3) Baixa fertilidade do solo. 4) Dificuldades na comercialização devido à ação de atravessadores em períodos de grande oferta de produtos em tempo de produção. 5) Falta de apoio na identificação e no beneficiamento de derivados da mandioca, com a consequente perda de valor desses produtos e a ausência de acesso a novos mercados.

Atividades desenvolvidas pelo PAT » Encontros de cultivo agroecológico de mandioca; » Encontros em gestão associativa nas unidades de produção de ração à base de mandioca; » Encontro s sobre o uso de mandioca na alimentação do animal; » Visita de intercâmbio na Embrapa Mandiocultura e Fruticultura – Cruz das Almas – Bahia.

Resultados Desenvolvimento de práticas agroecológicas » Abandono de queimadas e uso de agrotóxicos. » Produção de defensivos naturais. » Uso da cobertura morta. » Produção de adubo orgânico com uso do esterco de animais da propriedade. » Aproveitamento de restos de cultura, a exemplo da maniva, para a adubação do solo e a alimentação dos rebanhos. » Plantio consorciado.

Valorização da produção » Valorização dos produtos no mercado. » Aumento da demanda de consumidores.

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» Diversificação da produção (goma, puba, casca da mandioca, farinha, tapiocas e fubá). » Ampliação das oportunidades de venda em feiras agroecológicas. » Aumento da produtividade.

Acesso a crédito e financiamento » Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf). » Pronaf Estiagem. » Aquisição de maquinários.

Organização coletiva e associativismo » Participação de vinte famílias no beneficiamento da mandioca em casa de farinha comunitária no Sítio Pajeú - Ipubi. » Calendário semanal de funcionamento da unidade.


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AS EXPERIeNCIAS QUE DERAM CERTO Com a realização dos trabalhos contemplados no PAT, algumas famílias se destacaram na implantação das técnicas de convivência com o Semiárido e nas práticas de princípios agroecológicos voltadas para a produção, o fortalecimento organizacional da comunidade e o gerenciamento da unidade de beneficiamento de farinha. São famílias que, mesmo com as dificuldades naturais da região semiárida, atingiram um nível de empoderamento social e econômico capaz de se tornar referência para outros núcleos familiares, servindo como exemplos inspiradores.


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Experiência do casal Francisco e Marina Residindo desde 1996 numa propriedade rural no Sítio Pajeú, no município de Ipubi, no Sertão do Araripe pernambucano, mesmo entre idas e vindas para São Paulo, o casal Francisco Agostinho dos Santos e Marina Isabel dos Santos mais os dois filhos encontraram no cultivo da mandioca uma ótima oportunidade para o desenvolvimento econômico da família, que era fortalecido junto com a criação de caprinos e galinhas caipiras. Mesmo sendo uma prática exercida pelos seus ancestrais, o casal vinha encontrando sérias dificuldades na produção da mandioca ao longo dos anos. Entre elas, as principais estavam no beneficiamento e na comercialização dos produtos que impediam uma produção continuada e, portanto, a garantia da geração de renda. Entre outras dificuldades, naquele tempo ainda existiam problemas como baixa produção, dificuldades para o acesso a mercados, falta de conhecimento para solucionar questões encontradas no sistema produtivo e ausência de assessoria técnica. De acordo com seu Santo, como é conhecido na região o agricultor Francisco Agostinho, o projeto, executado entre os anos 2012 e 2013, na comunidade pela ONG Chapada, proporcionou momentos e oportunidades de conhecimento, pois ele pôde participar de visitas técnicas na Embrapa de Cruz da Almas, onde há referência em estudos de mandiocultura. No local o agricultor também conheceu novas variedades de mandioca, principalmente adaptadas para a região semiárida, e técnicas de plantio e encontrou experiências no campo de beneficiamento da mandioca.

Hoje a gente sabe quais as melhores épocas de colheita, conhecemos novas técnicas de plantio, variedades ideais pra a região, identificando o potencial de produção, e com isso tivemos clareza sobre o ganho no seu beneficiamento. Estamos também mais atentos quanto à agregação de valor de nossos produtos: nossa farinha e goma, que é famosa na região onde temos compradores”, avalia o agricultor.


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Segundo seu Santo, a qualidade na produção foi uma conquista alcançada a partir das atividades de que ele e a esposa participaram durante o projeto, como intercâmbios e encontros, promovidos pelo Chapada. Mesmo nos anos de estiagem que enfrentaram, a família conseguiu comercializar em média 1.500 kg de goma e 35 sacos de farinha por ano, o que acarretou uma renda, a partir dos dois produtos, de R$ 7.500,00.

Graças primeiramente a Deus e, segundo, ao conhecimento adquirido pelo projeto, passamos a aproveitar a casca e a maniva da mandioca

PRÁTICAS AGROECÓLOGICAS A família está mais consciente da preservação do meio ambiente, produzindo e, ao mesmo tempo, preservando. Hoje o casal não pratica mais queimadas na propriedade, os restos de cultura ficam na terra para virar adubo junto com o esterco dos caprinos; na produção não se usam mais agrotóxicos devido aos riscos ocasionados à saúde e ao meio ambiente. “O trabalho do Chapada deu conhecimento pra nós trabalharmos com a agroecologia; hoje enxergamos a nossa propriedade com outros olhos. Também valorizamos o trabalho de cada um, como o da minha esposa e dos meus filhos. A nossa união, na busca de melhorias pra nossa comunidade, é um fator muito importante que foi fortalecido. O resultado disso é a unidade de beneficiamento de farinha que atende a toda a comunidade do sítio Pajeú”, comenta seu Santo.

para a alimentação dos caprinos, a utilizar a manipueira para o controle da pragas nas hortaliças e adubação dos canteiros. Assim, a gente aproveita tudo que a mandioca tem, da folha até a casca”,

comenta dona Marina.

CRÉDITO AGRÍCOLA Com a ajuda da assessoria técnica, a família acessou o crédito agrícola em duas ocasiões, sendo adimplentes e conseguindo êxito nos seus investimentos. O primeiro acesso ao crédito foi para a aquisição de uma máquina lavadora de goma no valor de R$ 3.000,00, reduzindo o trabalho manual pela metade, com isso houve um aumento da produção e a redução do desgaste. Com acesso ao Pronaf Estiagem, devido ao longo período de seca, a família pôde comprar ração para os animais e uma carroça — transporte de tração animal — utilizada no escoamento da produção da roça para a unidade de beneficiamento.

COMERCIALIZAÇÃO Com o envolvimento de toda a família, a comercialização fica sob responsabilidade de dona Marina, que comercializa parte da produção na comunidade onde a família mora e na Feira Agroecológica de Ipubi, às segundas-feiras, assessorada pela ONG Chapada. Lá são vendidos não só os produtos derivados da mandioca, como também ovos de galinha caipira, fubá de milho, entre outros.


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Experiência de José de Barros Cavalcante e Maria das Dores Cavalcante

culturais adequados para a realidade da região. Todo esse método de produção foi repassado de geração em geração, e com isso o solo sofreu muito desgaste.

Com sete filhos, sendo cinco mulheres e dois homens, José de Barros Cavalcante e Maria das Dores Cavalcante residem no Sítio Pajeú desde 1979, e hoje duas filhas do casal ainda residem na unidade familiar e ajudam os pais na luta do dia a dia. Essa família também fez parte do trabalho de assessoria promovido pelo Plano de Atividades (PAT). Seu Zé Barrinha, como é conhecido na comunidade, usa seu pequeno rádio de pilha para ouvir músicas ao fim das tardes e, com um sentimento saudosista, ele relembra a história de sua vida cantada nas letras das músicas. E é nesse ritmo que o agricultor fala sobre seus dias de trabalho e da importância da mandioca como fonte de geração de renda e sustento da família. Nesse sentindo, foi observado na comunidade que a mandiocultura é uma das principais atividades desenvolvidas pelos/as agricultores/as, e, na unidade familiar de seu Zé Barrinha e Maria das Dores, não é diferente. Segundo o casal, a mandioca é a única cultura que consegue ser produzida mesmo em períodos de estiagem, quando uma simples chuva junto com a capina da terra ao pé da planta são suficientes para cultivar o tubérculo. Na propriedade do casal, sempre foi cultivada a mandioca, mas da forma convencional do monocultivo aliado com a prática anual de queimadas, sem realizar o manejo do solo e tampouco os devidos tratos

Na contramão da realidade acima citada, as ações desenvolvidas pela família com orientações repassadas nas visitas técnicas, em meio à troca de experiências entre técnico/a e agricultor/a, e nos trabalhos de assessorias técnicas realizadas a partir do projeto, mudaram aquele cenário da unidade familiar ao inserir novos hábitos de produção que até hoje geram resultados positivos.


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Experiência da Família de João Evangelista Gomes da Silva e Maria Alzira Cecília da Silva João Evangelista Gomes da Silva e Maria Alzira Cecília da Silva são um casal que, junto com mais duas filhas, mora na comunidade do Sítio Pajeú, em uma propriedade de 38 hectares. No local, até hoje eles têm como principal atividade o cultivo de mandioca e a criação de caprinos. No entanto, antes do PAT, a família só plantava a mandioca no quintal de casa de forma limitada, pois a ausência de conhecimento não permitia a exploração da cultura. Entre as mudanças no comportamento do cultivo, a família incorporou os restos de outras culturas para adubar o solo, aboliu o uso de agrotóxicos e aproveitou os insumos internos na produção. A partir de então, passaram a aproveitar a mandioca integralmente, utilizando os seus subprodutos: casca, maniva e folha para a alimentação de pequenos animais (galináceos, suínos e ovinos). Fica perceptível a mudança de hábito com a utilização de novas práticas de produção adotadas na unidade familiar, que também cultiva outras culturas, como milho e feijão. Comercializada até hoje na feira do município de Ipubi, a farinha, que era o principal produto da mandioca, hoje divide espaço com a goma, que chega a atingir uma marca de 200 kg/mês ao preço de R$ 2,50. Esse produto se transformou em um dos derivados mais importantes, pois é utilizado na fabricação de bolos e no preparo de mingau, inclusive muito apreciado pela família, que também faz bolo e tapioca para incrementar os produtos de comercialização e para a própria alimentação.

Naquela época, seu João Evangelista só criava gado, mas, com o passar do tempo, ele percebeu que a atividade não daria certo; isso porque as características da propriedade não eram favoráveis para a prática da bovinocultura. Com essa constatação, o agricultor deu início à criação de caprinos, com a compra de uma cabra adquirida em 2004, na feira de Ipubi. Como resultado, essa iniciativa lhe rendeu um rebanho de setenta animais utilizados para comercialização e consumo. Mesmo com a constante prática de criação de pequenos animais, a família nunca havia pensando em utilizar a mandioca para a alimentação deles. O não encorajamento para essa estratégia era devido ao mito de que a mandioca poderia intoxicar os animais, e, por isso, a família se resguardava. No entanto, durante os encontros e as assessorias técnicas do PAT, a família aprendeu como realizar o aproveitamento da mandioca na alimentação animal, com o uso da maniva, batata e folha, que são trituradas e colocadas para secar ao sol — processo pelo qual ocorre a volatilização do gás cianídrico, o principal causador de intoxicação dos animais quando a mandioca não é manejada adequadamente na alimentação.


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Mesmo nos anos de 2012 e 2013, que foram de grande estiagem, a família conseguiu manter a quantidade de setenta animais, com a compra de milho subsidiada pelo governo, que gerou um custo de R$ 3.000,00 na compra do alimento para o rebanho. Com o controle de produção que é feito na propriedade na utilização de práticas de escrituração zootécnica com a ajuda de acompanhamento técnico, o seu João Evangelista pôde perceber que teve saldos positivos com a venda de animais, gerando receitas e quitando as despesas de alimentação dos mesmos. A família também cria galinhas na propriedade, que também são alimentadas com produtos à base de mandioca, diminuindo o custo de produção.

SAIBA MAIS

O esterco gerado pelos caprinos é utilizado no roçado e também comercializado proporcionando mais uma renda para a família. Antes seu João Evangelista pegava água de carroça em lugares bem distantes da propriedade; hoje está conseguindo acabar com esse sofrimento devido à contemplação de uma cisterna-calçadão através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).

Alimentação animal Em meio a diferentes formas de aproveitar a mandioca, a alimentação animal está entre as principais atividades trabalhadas com as famílias produtoras na região do Araripe, isso porque foi identificada como necessidade a utilização da mandioca para a ração de bovinos, caprinos e ovinos. » Em uma área de produção de mandioca, apenas 20% da rama é aproveitada do plantio, com isso são desperdiçados 80% dela. » A parte aérea da mandioca (maniva + folhas) é rica em proteínas, podendo atingir de 16% a 18% nas ramas e de 28% a 32% só nas folhas. » Conhecida como a batata, a raiz é também utilizada, pois apresenta um alto valor calórico, capaz de proporcionar um aumento significativo no peso do animal.

Em qualquer que seja sua destinação (fornecimento imediato aos animais ou conservação através de silagem), as raízes devem ser lavadas, a fim de retirar o barro aderido. Sem essa limpeza inicial, tanto a ração como a conservação podem sofrer graves prejuízos de qualidade. Uma vez limpas, as raízes devem ser trituradas ou picadas, para o fornecimento direto ou para a conservação sob forma de raspa seca, farelo, silagem ou feno. A mandioca pode ser fornecida aos animais na forma fresca, desidratada ao sol (raspa e parte aérea) e de silagem.


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Galeria de fotos Encontro em gestão associativista nas unidades de produção de ração a base de mandioca

Encontros sobre o uso da mandioca na alimentação animal


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Encontro sobre cultivo agroecológico de mandiocultura

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Visita de Intercâmbio Embrapa


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Esta cartilha foi diagramada na fonte Din-Light, corpo 12 Impresso em papel reciclato 90g (miolo) e 230g (capa)



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