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de Coordenação Sul da Pax Christi
Uma Breve História da Cooperativa 8 de Março
A Cooperativa 8 de Março foi formada em 1978, com um grupo de cultivadores di retas, e jovens desocupados, para enfrentar alguns problemas: - divisão da propriedade cultivável, através da herança; - extensão do latifúndio como propriedade externa ao modo agrícola; - custo de produção elevado como conseqüênéia do cultivo nas colinas e montanhas; - marginalização social, política e econômica dos camponeses; - abandono da terra pelos jovens que não aceitam mais o sistema de vida e o conseqüente envelhecimento da população agrária.
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Enfrentar essa situacão individualmente seria impossível, sendo uma perspectiva válida a formação de uma cooperativa, tentando ser uma· proposta de um novo tipo de desenvolvimento no campo, contribuir para ocupação dos jovens e, em particular, para chamar a atenção sobre os recursos do território.
I'Jo momento de projetar as atividades da cooperativa, contou-se com dois tipos de comportamento: - um grupo de cultivadores diretos, assalariados rurais e arrendatários já em cantata com a Escola Familiar Rural (IAL-CISL) da região, vivendo entre eles uma situacão de mudanca e de reflexão sobre a própria condição e reali'dade camponesa. Para eles a cooperativa representa a mudança de uma realidade enferma e uma alternativa para levar a vida no campo; - um grupo de jovens desocupados da região e de peritos em agricultura que haviam desenvolvido um debate junto à CONFCOLTIVATORI- organização sinical agrícola da esquerda com objetivos de formar uma cooperativa.
Este grupo tinha em comum a procura de um posto de trabalho diferente e autogestionário. Não obstante, evidenciava-se uma grande divergência cultural, ideológica e profissional decorrente da experiência anterior. Esta diferença implicou um modo diverso de se relacionar com as forças sociais e políticas da região, embora tenha se procurado manter a unidade neste sentido.
A primeira ação da cooperativa foi tentar conseguir cultivar a fazenda "Grola", que se encontrava inculta e pertencia à administração da província. Esta tentativa baseou-se em uma lei (199-GULIOSEGNI de 1950) que previa a possibilidade de camponeses associados obterem terras incultas.
A demanda pelas terras foi feita em maio de 1978. Em outubro, a comissão designada para este fim não havia dado resposta e se julgou incompetente, quando então houve uma mudança da lei. A cooperativa, após várias tentativas junto à administração e assembléias com os sindicatos e partidos políticos, decide ocupar a fazenda, em dezembro de 1978, e iniciar a recuperação do terreno, a plantação de cerejeira e recuperação das oliveiras.
Depois desta decisão, a administração pública não pôde esperar, e após alguns meses de tentativas junto à cooperativa e de polêmica com as forças políticas, assinou um contrato de empreitada por três anos com a cooperativa. Ao final dos três anos, esse contrato foi transformado legalmente em aluguel das terras.
As Atividades Atuais
Os objetivos que a cooperativa se propôs são o desenvolvimento da ocupação, a direção coletiva, a recuperação dos terrenos não cultivados e das áreas agrícolas marginais. Para se chegar a estes objetivos foram desenvolvidos alguns projetas: - cultivação da fazenda "Grola" e condução coletiva de pequenas fazendas dos sócios que não eram auto-suficientes; - após uma análise do território que se adequa à criação de caprinos, decidiu-se pela produção de cabras para leite. Inicialmente utilizou-se uma raça local, sendo depois introduzida a raça saanem, geneticamente apropriada à produção leiteira.
Este projeto foi financiado pe!o Banco Mútuo para a Autogestão, e depois por um empréstimo regional de sustentação da agricultura. As principais dificuldades neste projeto foram a ausência de profissionais nesta área e o rodízio dos adeptos deste setor. E como conseqüência surgiram dificuldades na transformação do leite em queijo, e na comercialização dos filhotes das cabras; - outro projeto voltou-se para o Turismo Rural.
Consistiu na organização pela cooperativa de um ponto de encontro, com instalações adequadas em que os visitantes podem preparar suas refeicões. Foi escolhida uma casa (Casa Verde) de faque estava abandonada, e se pensou em comprá-la e fazer restauração. Para isto se recorreu ao Banco Mútuo para a Autogestão, que a adquiriu e a restaurou, frente ao seu interesse em desenvolver programas sociais e culturais, que agora são realizados nesta casa: encontros sindicais e de outros grupos, convenções, festas populares, etc. Por seu uso a cooperativa paga um aluguel ao Banco.
As Relações
No que diz respeito à relação com várias organizações, podemos distinguir algumas fases: - até um pouco antes da ocupação existiam dúvidas e incertezas quanto à avaliação dos projetas e perspectivas da cooperativa, por parte das organizações envol•1idas. Tais dificuldades e incertezas nasciam da incapacidade do próprio grupo de envolver as organizações agrfcolas e sindicais no objetivo do grupo;
- na fase imediatamente precedente à ocupação houve uma ampliação do debate da cooperativa com os grupos sindicais e partidos da área com o objetivo, depois conseguido, de uma mobilização de massa que foi positiva para a conquista da fazenda "Grola"; - após várias reuniões houve o rompimento das relações com a CISL, que considerava a ocupação ilegal. A cooperativa, pelp contrário, foi apoiada por outras duas confederações sindicais italianas: a CG I L e a VI L. Também pela COI\JF-
CO L TIVATOR I, A C LI, por diferentes categorias sindicais da própria CISL, conselhos de fábricas, cooperativas, grupos da região, PSI, PCI e DP; - depois da ocupação e da concessão, por motivo de trabalho principalmente, desapareceram as relações com o movimento sindical, sendo no momento tentada essa aproximação; - uma outra consideração a ser feita é a de que pode ter havido precipitação no rompimento com a
CISL, da qual faltou o apoio na realização dos programas após a ocupação.
No que diz respeito aos sócios, existiram vários problemas no relacionamento: - houve um período de grandes dificuldades devido a carências profissionais, econômicas e tensões pessoais. Essas dificuldades representaram um desafio à construção de uma sintonia capaz de superar as complexidades da atividade agrícola, principalmente baseada em técnicas alternativas, e de permitir um crescimento pessoal de cada sócio para a vida em comunidade; - outro problema de difícil solução foi o de conseguir juntar a procura de novos ideais e valores com a exigência de gerir economicamente a empresa de modo a prover uma satisfação econômica dos sócios. Em torno desse problema geraramse nos anos passados tensões notáveis e muitas discussões internas. No momento o grupo está mais unido, e decidiu abrir as suas assembléias à participação de pessoas externas, que servem de mediadores nas di"scussões.
Nas relações da cooperativa com a população e com os outros grupos da região, devem ser destacados os seguintes aspectos: - com a população local as relações foram intensificadas e ficaram mais claras. Com o trabalho desenvolvido pelo grupo na fazenda e na "Casa
Verde", mudou-se a visão de que se tratava de um grupo de pessoas estranhas fugidas de casa, e não jovens normais, empenhados num trabalho agrícola; - uma boa ligação existe com os grupos da região empenhados pela paz e, pelo apoio aos deficientes Hsicos, pela saúde e pela venda de produtos naturais, etc. Com as outras cooperativas autogeridas foram sempre fundamentais, em termos de apoio econômico, troca de trabalho e informação, etc.
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As Principais Dificuldades
Além das dificuldades já mencionadas ao longo dessa exposição, outras devem ser mencionadas: - as principais organizações dos camponeses voltam-se para a solução de seus problemas burocráticos e econômicos, enquanto o grupo pretende ser um movimento para levar uma reflexão e uma ação não só para fins econômicos, e sim para o crescimento pessoal e comunitário. Nestas condições, torna-se diffcil ampliar um movimen· to com esta perspectiva; - outro problema é o de encontrar no mundo camponês os valores submersos da sua cultura, sem o desvio de procurá-los no exterior e sem que isto represente um fechamento da experiência.