Cristiano Lenhardt - diamante (catalogo/catalog)

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diamante Cristiano Lenhardt



diamante Cristiano Lenhardt

curadoria de Fernando Oliva

25 de novembro a 28 de dezembro de 2008

Instituto Cultural Banco Real Av. Rio Branco, 23 – 3o andar Recife – PE



talvez ainda não possa ser mensurado com justiça. Mencionam-se sempre o crescente alcance da arte contemporânea brasileira no mercado internacional, uma maior profissionalização das galerias de arte no Brasil, uma internacionalização do circuito de arte tupiniquim... As marcas deixadas no Recife são ainda mais sutis, já que sua atuação como colecionador e galerista ganhou notoriedade quando de sua mudança para São Paulo. Ao abrir um espaço para a Arte Contemporânea nacional no Recife do final dos anos 1980, Marcantonio apostava num caminho sem precedentes na cidade e confrontava o convencionalismo do meio local. Lançava uma semente que iria brotar apenas em meados dos anos 1990, quando a cena de arte contemporânea recifense iniciou sua estruturação. Seu olhar afiado e desbravador como colecionador e galerista articulava visualidades muito distintas em procedências geográficas, geracionais e de suportes, numa busca incessante pelo novo e pela coerência poética. Marcantonio dava prosseguimento a uma linhagem de pernambucanos notórios que conseguia negociar harmoniosamente o local e o universal. O espírito do projeto da Galeria Marcantonio Vilaça busca fazer jus ao seu patrono e parte da prerrogativa de estabelecimento de diálogo entre a produção local e o meio crítico brasileiro para desafiar crenças e expandir o debate sobre arte. Em sua segunda edição, o projeto que possibilita que um artista jovem pernambucano faça uma exposição individual com todo o apoio necessário para a decantação de suas poéticas, já colhe frutos

o legado de marcantonio vilaça


com a solidificação nacional das trajetórias dos artistas convidados. Como repercussão adicional, os curadores convidados iniciaram ou ampliaram seus laços com o meio artístico de Pernambuco. A Galeria Marcantonio Vilaça apresenta em sua programação de 2008 uma seleção de artistas com matizes em suas atuações no Recife. Jeims Duarte e Tereza Neuma emergiram no início dos anos 2000 e têm participado de mostras coletivas desde então. Entretanto, ansiavam por um mergulho vertical em seus trabalhos, o que apenas uma mostra individual com acompanhamento crítico oferece. O gaúcho Cristiano Lendhardt elegeu o Recife para alimentar sua produção num momento crucial de sua trajetória e já se confunde com a paisagem local. Jonathas Andrade iniciou seu percurso recentemente, mas carrega uma potência incomum aos iniciantes. Com esta segunda leva de artistas, amplia-se a radiografia do panorama da produção artística de Pernambuco e a repercussão do que acontece por aqui.

Moacir dos Anjos e Cristiana Tejo c o n s e l h o c u r at o r i a l


Falso brilhante Fernando Oliva

no percurso de Cristiano Lenhardt são aqueles contaminados pelas imagens do fantástico, em suas diversas manifestações. Ficção científica, romance histórico, aventura na selva, viagem ao fundo do mar... seus trabalhos habitam cada um destes lugares narrativos como se desconfiassem de sua capacidade de convencimento, propondo uma alternativa pela via da imagem, seu reposicionamento e ressignificação. No limite, uma incisiva ruptura em direção ao império da artificialidade. Pois estamos falando aqui do fantástico, não como conhecido no cânone da literatura e seus épicos (da tradição de Moby Dick ou Coração das trevas), mas sim daquele instituído pela indústria da televisão, a cultura pop de Hanna-Barbera e Marvel, as histórias de Jonny Quest e Príncipe Submarino, as HQs e o animê japonês, os seriados para TV Ultraseven e Spectreman. Estas escolhas, obviamente, fazem parte de uma estratégia, a qual raras vezes cede aos sedutores apelos da nostalgia, esta espécie de novo produto na paisagem das cidades e no sistema do comércio cultural globalizado – potencializado mil vezes pela plataforma YouTube. Elas ficam bastante claras na trilogia composta pelos vídeos Carnificina, Automar e Caminito, um dos destaques desta individual, ao lado de Constelação, Sentinela e Diamante. Ali, o artista constrói sua ambiência particular com base na apropriação e montagem de cenas encontradas em antigas enciclopédias (medium que ele assume como uma de suas principais influências, ao lado da tevê).

o s m o m e n t o s m a i s i m pa c ta n t e s


Esta opção pela iconografia retrô, associada a uma infância nas décadas de 1940 a 1960, a qual ele não vivenciou (e que portanto pode deturpar com muito mais liberdade), vem acompanhada de um especial entendimento do som e seus recursos. Uma mixagem que reitera as tensões (entre fascínio e paródia, homenagem e crítica) em relação a estas imagens. Não se trata, é claro, de uma operação de representação, mas sim de um comentário. Sofisticado, com base nas ferramentas do uso e da recuperação de certo zeitgest – e que articula diversas camadas de sentido e uma sensibilidade própria em relação ao popular de massa. É comum a estes gêneros ficcionais, especialmente à ficção científica, a cisão entre natureza e cultura. Como nas histórias de Julio Verne, uma das referências insuspeitas do artista. Mas também em Tarzan. Ou na própria cultura televisiva, de seriados “clássicos” como Perdidos no espaço e Túnel do tempo, obras baseadas em poderosas construções visuais, ambiências construídas e efeitos mecânicos. No contexto da produção recente de Cristiano, este dilema se manifesta em vídeos como Sentinela e Retratante e retratado – este, um trabalho único no panorama da arte contemporânea brasileira hoje, dono de uma visualidade coerente com seu lugar de origem, contexto cultural e (precários) meios de produção. É possível lembrar aqui o nome de um artista fundamental para o século XX , cuja obra se encontra em processo de resgate: Kenneth Anger, espécie de mago das trucagens e efeitos especiais mecânicos. As palavras-chave para se aproximar da obra do cineasta americano são ‘artificial’, ‘fake’ e ‘fantasia’. Anger foi um mestre do precário, capaz de construir espaços de magia com o mínimo de recursos. * * * Dentre outras prováveis associações da obra de Cristiano com a linguagem cinematográfica, estabelecer paralelos com o universo de Andrei Tarkovski pode ser um exercício


particularmente interessante. O diretor russo atravessa, com sua poderosa iconografia, questões ligadas à cultura do homem e sua conflituosa relação com a natureza. Em O espelho, filme com o qual Retratante e retratado conversa de perto, nota-se a mesma luz temperada que emerge da relva, como um vapor, de encontro a um espaço aeroso que funde seres, coisas e objetos, subtraindo-lhes a matéria e diminuindo nossas certezas. Em meio a este universo visual movediço, o “outro” surge a todo momento, em reflexos, nas janelas e espelhos. Quem assiste ao filme descobre que o espelho de Tarkovski não nos devolve uma cópia do real, mas uma imagem transfigurada, contaminada pela distância, pela memória e pelo desgaste resultante destes embates. Logo no início de O espelho desponta na paisagem o personagem do médico viajante, que se aproxima de uma mulher [a figura da mãe], senta-se ao seu lado sobre a cerca de madeira, que cede sob o seu peso, atirando-o ao chão. Ele se deixa estar ali por alguns segundos, observando a vegetação, até que se dirige a ela: “Caí, e o que vejo... raízes, arbustos... Nunca lhe pareceu que as plantas também sentem, pensam, raciocinam até?” E prossegue, numa pergunta que se formula como um desafio ao futuro do homem e das imagens por ele produzidas: “Por que nunca acreditamos na natureza que está diante de nós?” * * * Conversa com Cristiano Lenhardt, realizada por e-mail (em outubro de 2008), por ocasião da mostra individual Diamante. Gostaria de começar falando sobre sua formação. Como se deu seu contato com a arte? Refiro-me não apenas a “experiências artísticas”, mas também às experiências de vida. Os primeiros meios nos quais vi arte foram: enciclopédias, TV Cultura e Sessão Coruja.


Mais tarde, na universidade, comecei a desenhar muito. E logo em seguida fui visitar a 1ª Bienal do Mercosul (1997), em Porto Alegre, e depois a de São Paulo, a “Bienal da Antropofagia” (1998). Essas duas viagens foram impactantes, embora eu não entendesse nada de arte ainda... tipo, vi os Parangolés pendurados na parede e pensei: que coisa engraçada essas roupas; para que será que foram feitas? Bonitas! Somente tempos depois ouvi falar de Hélio Oiticica. Mexi nos Bichos da Lygia Clark, um quebrou na minha mão, fiquei com medo... Olhei o Abaporu, fiquei olhando... depois vi a Baba antropofágica... fiquei pensando: an-tro-po-fa-gi-a... an-tro-po-fa-gi-a... Bom, mas sabe o que eu sentia mesmo quando cheguei tanto em Porto Alegre como em São Paulo? Deslumbre. Dava barato. Como se eu estivesse dentro de um filme e de um sonho que ao mesmo tempo era a minha vida. Vontade de engolir aquilo tudo, respirar bem fundo. Depois de uns anos isso passou, comecei a achar tudo banal. Fiquei descolado. Sobre a Universidade Federal de Santa Maria, em que medida ela foi determinante para sua obra? Hoje eu a vejo como algo muito importante, porque foi um contato grande com o fazer artístico; era uma produção quantitativa, mais que qualitativa. Acho que me deu a base para lidar com materiais. O contato com as técnicas nos ateliês de escultura, gravura, pintura e desenho foi muito bom. Vejo hoje o lado positivo do contato com a tradição, da qual antes eu tinha verdadeiro pavor. Naquele momento [1996 a 2000], a orientação e interlocução permanente da professora Suzana Gruber foi especial, seu jeito de contar histórias me ensinou muito sobre o sensível. Ela foi minha orientadora no curso de artes plásticas; nos levava para a fazenda de sua propriedade e conversávamos até o sol nascer. Até hoje vamos até lá, durante o carnaval, e ficamos fazendo trabalhos invisíveis, jogando ‘dicionário’, contando causos, nos fantasiando e inventando mentiras.


Por favor, fale mais sobre sua passagem por Porto Alegre. Morei por quase cinco anos lá, entre 2000 e 2005. Fiz muitos amigos. Era tempo de conversas longas, em bares, onde também se discutia política, arte, relacionamentos. Eu ia quase todos os dias ao cinema, e via muitos vídeos no Torreão. Foi um período de muito estudo, questionamentos e de busca por um foco. Os trabalhos Ajuste manual (2002) e Ao vivo (2002-2006) vêm dessa fase. O que mais te marcou na experiência do Torreão? Bem, foi muito importante estudar com o Jaílton Moreira. Estudar no Torreão [2001 a 2003] me provocou e estimulou muito e me trouxe referências. Um ambiente que se aproxima da cultura com um entusiasmo que contagia. Nas aulas de história da arte as relações estabelecidas ampliavam minha percepção, e as coisas iam borbulhando na minha cabeça. Existiam duas salinhas para experimentarmos o espaço; eram duas semanas convivendo com aquele lugar e ali era preciso pensar as condições que sustentavam aquela situação específica. Também acontecem sempre as intervenções de vários artistas durante o ano na Torre. E o contato com esses artistas é muito rico. O que era valorizado ali em termos de formação de um artista? O Jaílton me fez uma pergunta que nunca esqueci: “Que tipo de artista tu queres ser?” Sempre me pergunto isso... não só como artista, mas como pessoa mesmo, que vive aqui junto com milhões de seres neste mundo. Nas conversas que tivemos, você falou bastante sobre o Grupo Laranjas. Gostaria que reavaliasse este momento de sua trajetória. Esse grupo, do qual participo desde 2002, foi uma coisa que me colocou de certa forma dentro de um sistema, e simultaneamente o questionou. Junto com os meus colegas, comecei a entrar em um mundo do qual só era expectador. Aprendi a escrever projetos


com a Cristina Ribas e a assumir o amor como a coisa mais linda do mundo. Comecei a declarar-me, pronunciar-me, afirmar-me. A cor laranja era como um dispositivo para a ação, as operações artísticas eram públicas. Lidávamos com conceitos, desejos e formas diversas de fazer. O que restou desta experiência, como prática ou sensibilidade? O trato com as pessoas. O trabalho em grupo... coisas que sempre foram difíceis. Confiar em um pensamento do outro que ainda não faz sentido para você, e vice-versa. Fazíamos as ações sem muita discussão prévia, havia uma gana pela realização da idéia e pelo envolvimento com as pessoas. Foi assim em Vale um copo de suco (2002): esprememos o equivalente ao nosso peso somado em laranjas e distribuímos o suco na sorveteria do bairro que freqüentávamos. E propor a nossa entrada na casa de pessoas desconhecidas para exibir o vídeo Minuto laranja (2003) só foi feito porque havia uma liberdade no agir e uma tranqüilidade e respeito no trato com o outro. Em nossas conversas durante este ano, ficou clara a importância de seu deslocamento para Recife [desde 2006]. Gostaria que você refletisse sobre o que esta mudança significou. Eu nem sei como falar... foi a coisa mais linda ter vindo pra cá, ter aceitado isso na minha vida. Em 2004 estive no SPA das artes aqui e espalhei o Diamante VHS pela Boa Vista e o bairro do Recife. Em 2005, fui selecionado no Salão, e no final de 2005 viemos fazer uma exposição dos Laranjas na Fundaj [Fundação Joaquim Nabuco]. Nessa ocasião, conheci uma pessoa que viria a ser uma companhia de amor e parceria. Próximo à data da exposição da pesquisa no Salão, em 2006, foi tomada um decisão – eu viria morar em Recife. Durante o primeiro ano aqui me senti muito incomodado, queria voltar pro Rio Grande do Sul, chorar, desistir. Período de adaptação sofrido. Aí fomos morar na casa, como convém... inventamos “a casa como convém” sem querer. Lugar


encantado. Bicicletas enferrujadas, mofo, azulejos, mosquitos, comidas, rio Capibaribe, grama, pitanga, partilha de mundos. Em um texto que me enviou, você fala que se sente “inclinado à magia, criações de livre imaginação”. Queria desenvolver esta afirmação, entender melhor o que você quis dizer com ela, especialmente a noção de magia. Magia é o contato com a natureza, uma atenção especial aos fenômenos, aos efeitos e aos retornos. Na verdade, isso é uma coisa simples, faz parte do meu jeito de observar o mundo. Por muito tempo estive atento aos discursos, aos conceitos, às teorias... acho que depois que vim pra Recife isso ficou menos importante e aflorou o que sempre me moveu: a intuição. Em outros tempos eu evitaria completamente falar no assunto porque achava algo menor. As coisas mudaram e o entendimento de intuição misturou-se com a idéia de consciência e inteligência. Atualmente, as imagens surgem e já existe um terreno que as abriga. Ainda não tenho a completa clareza sobre esse assunto, mas não tranco mais, deixo-o se apresentar. Acho que agora estou indo por um outro caminho, estou vendo um pouco mais longe de mim. Vamos retomar a idéia de “fantasia ficcional”? É mais ou menos assim: as imagens aparecem e vou tentando realizá-las com as ferramentas de que disponho. E também vou criando formas de fazer que possibilitem a visualização dessas imagens. Nesse processo, descubro jeitos e qualidades de imagem que me encaminham para significados. Explosões, vôos, luzes ofuscantes, águas, estrelas, figurinos coloridos, fenômenos óticos fazem parte desse repertório. Um mundo ficcional construído pela fantasia, que vem de uma leitura onírica da paisagem em que me situo e dessas relações que vão compondo uma trama – que por sua vez se apresenta para nutrir esse imaginário. Acho que esta exposição é como uma reunião desse processo fantasioso, que ganhou existência com os vídeos mais recentes, caso do Constelação, do Sentinela e do Retratante e retratado.


SĂŠrie de desenhos, 2006/2007



SĂŠrie de desenhos, 2006/2007



Retratante e retratado, 2007 vídeo 2’00”








Suzana Gruber como Deus


O homem colorido, 2007 fotografia



Forรงa-tarefa, 2007 [com Fernanda Gassen ] fotografia





Constelação, 2007 vídeo, 1’ 30’’



Sentinela, 2008 vídeo 4’44”





Poeirama, 2008 vídeo 3’00”



SĂŠrie de desenhos, 2006/2007



Um bouquet de gladĂ­olos, 2007 fotografia



Propagação, 2007 vídeo 2’06”







Cristiano Lenhardt nasceu em Itaara (RS), em 1975. Morou em Santa Maria, Porto Alegre, Rio de Janeiro e hoje reside em Recife. Bacharelado em artes Plásticas - 2000, universidade federal de Santa Maria. Orientação artística no Torreão em Porto Alegre, de 2001 a 2003. Integrante do grupo laranjas. Principais exposições: Exposição individual na Galeria Marcantonio Vilaça – Inst.Cult. Banco Real – Recife – 2008; Selecionado no Centro Cultural São Paulo para o Programa de Exposições 2008; Abre Alas - Galeria A Gentil Carioca - Rio de Janeiro 2008; Prêmio Projéteis da Arte contemporânea - FUNARTE -RIO 2008; Prêmio Concurso videoarte da fundação Joaquim Nabuco - Recife 2007; spa das artes 2007 e 2004 - Recife ; Copan AO VIVO, fiat mostra brasil - Sao Paulo 2006; Bolsa Prêmio 26º salão de artes plásticas de Pernambuco 2006; Exposição Contemporão em Porto Alegre 2004; Hotel Majestic AO VIVO, casa de cultura mario quintana portto alegre 2003; Ajuste Manual - festival de cinema e vídeo de Santa Maria 2003.

Fernando Oliva

é


Instituto Cultural Banco Real

Galeria Marcantonio Vilaça

presidência

c o n s e l h o c u r at o r i a l

Fabio Colletti Barbosa d i r e t o r i a e x e c u t i va

Fernando Byington Egydio Martins José Alfredo Lattaro

Cristiana Tejo e Moacir dos Anjos exposição

Cristiano Lenhardt curadoria

Michiel Frans Kerbert

Fernando Oliva

conselho fiscal

coordenação geral

Elly de Vries Pedro Paulo Longuini Shelley Dalcamim coordenação

Carlos Trevi Mantenedor do

Maria Clara Rodrigues projeto gráfico

Fernando Leite designer assistente

Joel Queiroga Pessôa fotografia

Instituto Cultural Banco Real imagens e edição dos vídeos

Grupo Santander

presidência

revisão de texto

Fabio Colletti Barbosa

Sonia Cardoso impressão

Sol Gráfica produção

agradecimentos


patrocínio

realização


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