Ano I - Número 1 - Outubro/Novembro - 2012 - www.revistaoperacional.com.br
R$ 12,00
ESPECIAL
OPERAÇÃO ARCANJO
PELOTÃO ÁGUIA
Granadeiros sobre rodas
BATALHÃO DE CHOQUE
Unidade multitarefa da PMERJ
JORNALISTAS EM COMBATE
Imprensa na guerra
ENTREVISTA
JOSÉ MARIANO BELTRAME
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60 Anos da Fumaça Museu Les Invalides 21ª Bia AAAe Pqdt
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EDITORIAL
ivemos hoje um momento inédito. Nunca se investiu e discutiu tanto os temas de Defesa e Segurança Pública como na última década. As preocupações com a Amazônia e o pré-sal, a participação contundente das Forças Armadas em ações de garantia da lei e da ordem e ações humanitárias, e a proximidade dos grandes eventos esportivos que o país sediará têm, de certa maneira, extrapolado os círculos especializados e alcançado as discussões de uma parte da população que historicamente não repercutia o tema. Ao mesmo tempo, temos visto grandes, drásticas e abrangentes mudanças no conjunto compreendido pelas relações humanas, a mídia e a tecnologia. Um novo mundo onde a imprensa baseada no suporte em papel, um secular porto seguro, se viu de um dia para o outro sufocada pela revolução da informação provocada pela internet. Ameaçada pela evolução desse universo que se move com rapidez inigualável, essa mesma imprensa foi dada como morta e desacreditada. Porém ela se reinventou, e se reinventa todo dia, para poder se manter nesse novo mundo. E é nesse contexto que nós apresentamos a Revista Operacional. Trazemos para nossos leitores um formato inovador, sem precedentes no nosso segmento. Um formato que valoriza a identidade visual moderna, e dá a devida importância às imagens detalhadamente selecionadas e produzidas que nós apresentamos nessa primeira edição, e traremos sempre em todas as outras. Um conjunto que adorna os temas escolhidos cuidadosamente e tratados em linguagem leve e com qualidade e profundidade. Que conta com colaboradores do mais alto nível em suas especialidades. A Revista Operacional surgiu de uma ideia e de uma vontade. Nasceu da vontade de querer fazer ainda melhor. De produzir conteúdo atraente para os olhos e para a mente. De ousar, ultrapassar limites. Por isso você irá ver sempre propostas, argumentos e informações originais. Conteúdo exclusivo. Uma nova forma de se fazer jornalismo especializado. Conjugando o papel com o digital e as redes sociais, você terá à sua disposição as melhores fotos, as melhores informações, os melhores vídeos. Foi um longo caminho até aqui. Muitos obstáculos, muitos percalços, muita luta e muita determinação. Por isso temos a certeza de que nós demos o nosso melhor para que o melhor pudesse chegar às suas mãos. Nos preocupamos com cada aspecto, cada detalhe, tudo para superar as suas maiores expectativas. Por isso temos orgulho de convidá-los a folhear essas páginas e sentir a alegria e a emoção que nós sentimos ao produzir cada uma das matérias e imagens apresentadas. Venha conosco, leia Operacional, seja Operacional! Carlos Filipe Operti e Rafael Sayão
Revista Operacional Ano I - Número 01 - Outubro/Novembro - 2012 ISSN 2316-2201
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Editores Rafael Sayão e Carlos Filipe Operti
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Jornalista Responsável Rafael Sayão (MTb 31557RJ)
Projeto Gráfico & Diagramação MIG20 Editorial
Colaboradores Alfredo Bottino, André Rosa, Carlos Costa, Fernando Montenegro, Leo Melo, Marcos do Val, Sergio Capella, Sérgio Santana
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Capa: Soldado Fuzileiro Naval aguardando início do adestramento no Campo de Instrução de Formosa. Carlos Filipe Operti
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Outubro / Novembro • 2012
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ÍNDICE
06 JOSÉ MARIANO BELTRAME 10 O TREINAMENTO POLICIAL NO BRASIL 15 AÇÕES ANTIPIRATARIA NA MARINHA INDIANA 16 21ª BIA AAAE PQDT 18 COMPLEXO DO ALEMÃO... 20 ANOS ATRÁS 23 BATALHÃO DE CHOQUE DA PMERJ 24 NOTÍCIAS
Entrevista com o Secretário de Segurança do RJ
Por Marcos do Val
Combatendo os piratas do século XXI
Artilharia antiaerea protegendo a Brigada Paraquedista
Por Fernando Montenegro
A unidade multitarefa da Polícia Militar fluminense
30 O CERRADO VIROU MAR 36 OPERAÇÃO ARCANJO 44 JORNALISTAS EM ÁREA DE CONFLITO 52 60 ANOS DA ESQUADRILHA DA FUMAÇA 55 LES INVALIDES 58 VELHO DE GUERRA 62 PELOTÃO ÁGUIA
Escolta de motocicletas com os batedores do 1º BG
Fuzileiros Navais no interior do Brasil
Uma análise da Força de Pacificação do Exército no Rio
Estágio de preparação de jornalistas para a guerra
Um ensaio fotográfico da grande festa do EDA Por dentro do museu do exército francês
O Ford GPW 1942 de Marcos Cesar Spinosa
A pacificação dos Complexos da Penha e do Alemão tornou-se uma importante página na historia da Força Terrestre brasileira. Carlos Filipe Operti
NOTÍCIAS Concluído o primeiro protótipo do M113 BR2 do Exército Contrato inicial prevê a modernização de 150 unidades das viaturas M113B
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o final do último mês de julho o Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (PqRMnt/5), em Curitiba, finalizou os trabalhos no primeiro protótipo da viatura blindada de transporte de pessoal (VBTP) M113B modernizada. O projeto se iniciou em 2010, com a assinatura do contrato entre o Exército e o Departamento de Defesa dos EUA para a modernização de 150 viaturas através do programa FMS (Foreign Military Sales). Em dezembro de 2011 a empresa BAE Systems, detentora do projeto do veículo, foi escolhida pelo DoD para cumprir o contrato. A execução dos trabalhos em todas as viaturas caberá ao PqRMnt/5, enquanto a empresa será responsável pelo apoio técnico e suporte. A avaliação para aceitação do protótipo e do lote piloto está sendo feita pelo Centro de Avaliações do Exército (CAEx), no Rio de Janeiro. A modernização visa reduzir o custo e o tempo de manuten-
O primeiro M113A2Mk1 do Exército Brasileiro concluiu os testes iniciais e aguarda o roll out oficial para começar as avaliações de aceitação. Cabo Moreira/PqRMnt/5
ção preventiva e corretiva, pelo aperfeiçoamento dos sistemas e componentes, mantendo a disponibilidade elevada e, consequentemente, influenciando também no nível de adestramento das unidades blindadas que os empregam. Além disso, por operarem em conjunto com os carros de combate, essas viaturas necessitam de melhor desempenho mecânico para atuarem ao lado dos recém-adquiridos Leopard 1A5. O projeto contempla a modernização de até 376 viaturas, divididos em um primeiro lote de 150 (objeto do primeiro contrato)
e um segundo lote de 226 unidades. Este segundo lote dependerá da avaliação comparativa do Exército entre os veículos modernizados e os 208 M113B que estão sendo revitalizados pela empresa Brasilia Motors. Os custos da revitalização são de cerca de 60% dos custos da modernização e a experiência operacional com ambos decidirá o destino das 226 viaturas restantes (o EB tem um total de 584 M113B). O novo M113B, na configuração denominada M113A2MK1, além da revitalização estrutural (com troca de pelo menos 20% dos componentes, mais o que for necessário), receberá um novo motor Detroit Diesel de 265hp, transmissão Allison TX100-1A, alternador de 200 Amp, sistema Teste de transposição de curso d´água. Cabo Moreira/PqRMnt/5
O protótipo durante o processo de recuperação e montagem. Cabo Moreira/PqRMnt/5
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de suspensão M113A2/A3, lagarta T130, entre outros. Além disso, será instalado, pelo menos no protótipo, para avaliação, um sistema de visão diurna e noturna com duas câmeras de infravermelho (uma à frente e outra à ré) e um display para o operador, desenvolvido em conjunto pelo PqRMnt/5 e uma empresa privada. Para realizar os trabalhos da modernização do VBTP M113B, o PqRMnt/5 recebeu diversas melhorias, como redimensionamento das instalações elétricas e novas cabines de jateamento e pintura. O cronograma dos trabalhos nos M113B prevê que as três primeiras unidades do lote piloto estejam prontas ainda em 2012.
Aviação Naval em festa Na data em que celebrou seu 96º aniversário, a Aviação Naval recebe oficialmente seus primeiros Sikorsky S-70B (MH-16)
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o último dia 23 de Agosto a Aviação Naval completou 96 anos e ganhou um precioso presente. Na solenidade alusiva à data, na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (RJ), que reuniu novos e antigos aviadores navais e convidados, a Marinha apresentou oficialmente os primeiros Sikorsky S-70B (denominado MH16 no Brasil), incorporando-os ao 1º Esquadrão de Helicópteros Anti Submarino (HS-1). A cerimônia foi conduzida pelo Ministro da Defesa, Celso Amorim, que assinou, juntamente com o Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto, o termo oficial de incorporação dos primeiros helicópteros. Dos seis encomendados, quatro já estão na BAeNSPA (N-3032, 3033, 3034 e 3035). Os dois últimos (N-3036 e N-3037) são esperados nos próximos meses. As aeronaves chegaram em cargueiros C-17 da USAF (dois por vez, em 30 de Julho e
23 de Agosto) no aeroporto da cidade vizinha de Cabo Frio, e foram montadas no local antes de seguirem em voo para o complexo aeronaval da Marinha. Eles irão substituir os últimos SH-3A e SH-3B que estavam em operação no esquadrão, e que agora aguardam uma definição quanto ao futuro. Ao fim da solenidade a tropa desfilou no pátio da Base, e um desfile aéreo reuniu alguns dos meios da Força Aeronaval, com o MH-16 N-3035 fazendo seu primeiro voo oficial, lado a lado com o SH-3A N-3012, que fazia o seu último voo pelo esquadrão HS-1. Recentemente a norueguesa Kongsberg Defence Systems anunciou um contrato de 33 milhões de Euros para o fornecimento do míssil antinavio Penguin e equipamentos associados à Marinha do Brasil, para utilização nos MH-16.
MH-16 N-3034 em exposição estática. Carlos Filipe Operti O Esquadrão HS-1 passa a contar com os modernos Sikorsky S-70B . Carlos Filipe Operti
O dia nublado não tirou o brilho da celebração que marcou o 96º aniversário da Aviação naval Rafael Sayão
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NOTÍCIAS Thales apresenta sua nova diretoria para o Brasil e América Latina
Rafael Sayão
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empresa francesa THALES apresentou na sede da Omnisys, em São Bernardo do Campo (SP), sua nova estrutura gerencial para a América Latina. Com a transferência do escritório da empresa do México para São Paulo, o novo Vice-Presidente para a região da América Latina Cesar Kuberek conduzirá do Brasil a prometida mudança no foco de atuação da empresa no Brasil e na América do Sul. Mudanças também na Thales Brasil. Há sete anos no cargo, Laurent Mourre transmitiu o posto a Julian Rousselet, que assume a função apostando em um grande crescimento da Thales no cenário latino americano. Líder mundial em tecnologia nos mercados de Defesa, Segurança, Espacial, Transportes e Aeronáutica,
a empresa busca, através da Omnisys, tornar o Brasil sua base industrial na região. Cesar Kuberek destacou o aumento das relações comerciais entre Brasil e França no segmento de defesa, no que chamou de “romance”. Segundo ele, a presença americana na região sofreu uma retração, abrindo ainda mais espaços para países como a França, a Rússia e a China no mercado. Subsidiária integral da THALES no Brasil, a Omnisys também promoveu mudanças em sua direção. Edgard Menezes, um dos confundadores da empresa, assume como novo presidente.
Dassault Aviation conclue entrega do Rafale C137
Embraer Defesa e Segurança seleciona Aerotron e LH Colus como fornecedoras do programa KC-390
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Embraer Defesa e Segurança selecionou duas empresas brasileiras para participar do programa do jato de transporte militar KC-390. A Aerotron, sediada em Itajubá (MG), fornecerá proteção balística e a LH Colus, de São José dos Campos (SP), ficará responsável pelos assentos de tropas e pelas macas. “Estamos muito satisfeitos de poder anunciar mais duas empresas brasileiras como fornecedoras do programa KC-390”, disse Eduardo Bonini Santos Pinto, Vice-Presidente de Operações & COO, Embraer Defesa e Segurança. “Ambas apresentaram excelentes soluções e estamos certos de que entregarão produtos de alta qualidade e tecnologia avançada”. O KC-390 é o maior avião já construído pela indústria aeronáutica brasileira e estabelecerá um novo padrão para aeronaves de transporte militar de médio porte.
Helibras inaugura nova fábrica dos EC725
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o último dia dois de Outubro a Helibras inaugurou, em suas instalações na cidade mineira de Itajubá, o hangar construído para abrigar a linha de montagem dos helicópteros EC-725 e EC-225. Estavam presentes na cerimônia o Ministro da Defesa, Celso Amorim, os comandantes das três Forças Armadas, e o presidente da
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Departamento de Armamentos do Ministério da Defesa da França entregou recentemente o primeiro lote do Rafale C137. Trata-se da primeira geração de caças Rafale equipados com o radar RBE2 AESA, construído na fábrica da Dassault Aviation em Mérignac. Com a utilização do RBE2, o Rafale C137 passa a ser o primeiro caça de combate europeu em operação com este equipamen8
Eric Raz / Thales
to que garante maior agilidade para geração de imagens de alta resolução no modo de abertura sintética, aumento de resistência a bloqueios, compatibilidade com mísseis de longo alcance de última geração e capacidade de detectar alvos de menor assinatura. Além disso, é previsto uma redução dos custos e da exigência de manutenções, prolongando a vida útil da aeronave.
Helibrás
Eurocopter, Lutz Bertling. Durante o evento Bertling reafirmou os planos de investir na subsidiária brasileira para o desenvolvimento de uma aeronave totalmente concebida no Brasil, que atenda o mercado mundial e faça parte do catálogo de produtos da empresa, com previsão para ser lançada em meados da década de 2020.
Desfile naval celebra o dia da pátria no Rio de Janeiro Marinha do Brasil realiza parada naval para celebrar a data de Indenpendência do Brasil na orla fluminense
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o dia 7 de setembro de 2012, a Marinha do Brasil realizou sua tradicional parada naval, em celebração a data de Independência do Brasil. Capitaneados pelo NavioVeleiro “Cisne Branco” (U20), participaram do desfile o Navio de Desembarque de Carros de Combate “Almirante Saboia” (G25), as Fragatas “Niterói” (F40), “Independência” (F44), “União” (F45) e “Bosísio” (F48), a Corveta “Barroso” (V34), o Submarino “Tamoio” (S31), o Navio Hidroceanográfico “Cruzeiro
do Sul” (H38), os NaviosPatrulha “Guaporé” (P45), “Gurupi” (P47) e “Macaé” (P70), o Rebocador de Alto-Mar Almirante “Guillobel” (R25), além da Corveta ARA “Gomez Roca”, da Armada Argentina, e da Fragata ROU “Uruguay”, da Armada Uruguaia. O percurso dos navios cruzou boa parte da orla do Rio de Janeiro e terminou na Baía da Guanabara. Além das embarcações, participaram da parada aeronaves Super Lynx (AH-11A), Super Puma (UH-14), Bell Jet Ranger III (IH6B) e Esquilo HB350/AS355 (UH-12). Carlos Filipe Operti
Nascido em Santa Maria, Rio Grande do Sul, em uma tradicional família de descendentes de italianos, o Delegado Federal José Mariano Benincá Beltrame é o responsável por um dos mais audaciosos projetos de segurança pública implementados no país: a instalação de 40 UPPs em comunidades do Rio de Janeiro até 2014. Com seu jeito quase informal, numa conversa aberta, o Secretário de Segurança do Rio de Janeiro recebeu a equipe da Revista Operacional em seu gabinete, para uma análise da segurança pública no estado.. ENTREVISTA RAFAEL SAYÃO FOTOS CARLOS FILIPE OPERTI Operacional – O senhor assumiu a secretaria num cenário de caos e abandono da segurança pública do estado. Como foi esse primeiro contato com essa realidade? Beltrame – A gente já conhecia a realidade do Rio de Janeiro pelo trabalho desenvolvido aqui durante aproximadamente três anos na Polícia Federal. É muito difícil. O Rio tem problemas históricos, são problemas antigos, não são problemas recentes. E por eles serem antigos estão muito arraigados no seio da sociedade inteira, e principalmente das instituições.
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As instituições também são muito antigas, muito arcaicas, chegaram aqui com D. João. Não é algo fácil de se mudar. Mas a nossa preocupação primeira era mostrar para a população que a gente tinha um plano, que a gente achava e achamos que a gente sabe fazer. E de que é possível. Só que isso precisa ser construído como qualquer proposta. Ela tem que ser construída, tem que ser trabalhada, planejada, estudada, escrita. Tem que se localizar as necessidades, os aspectos p o s i t i vo s, negativos, o que tem, o que falta. E isso levou quase dois anos, uns dezoito meses. Tivemos um Pan Americano no meio disso, eu cheguei aqui a cinco meses do Pan Americano, sem saber direitinho o que estava acontecendo. Na primeira ação, que foi mandar aqueles presos para os presídios federais, o tráfico se achou no direito de se insurgir na cidade, metralhou delegacia, queimou ônibus com gente dentro. Então, o Rio de Janeiro tem um ingrediente que é o dia a dia dele, muitas vezes é muito conturbado. E se a gente se joga no dia a dia
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você não faz uma estratégia. Você tem que trabalhar nessas duas frentes. E foi aí que a gente tentou fazer: trabalhar no dia a dia, no varejo, enquanto no atacado a gente produzia com calma que eram os dois grandes pilares que hoje vocês têm aí, que são as UPPs, para as áreas consideradas conflagradas, e o sistema integrado de metas, que são as metas para redução dos índices de criminalidade no asfalto. Nós começamos as UPPs em novembro de 2008. E praticamente um ano depois foi que as coisas começaram a andar. O primeiro ano (se refere ao primeiro ano de governo) foi um ano muito difícil, porque tinha que se inteirar efetivamente toda a máquina de segurança pública. Você tinha que prestar segurança, tinha o Pan Americano para fazer, foi um semestre voltado ao Pan Americano. E aí você tinha aquele problema muito forte, a presença do Comando Vermelho aqui, que qualquer coisa fazia um movimento ou outro, e a gente sempre com medidas esporádicas. O Rio de Janeiro, na minha percepção, não tinha um plano de segurança. Ou
O Rio de Janeiro, na minha percepção, não tinha um plano de segurança.
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seja, não tinha nada a ser seguido, tinha que ser construído. A percepção que eu tinha é que a segurança pública no Rio de Janeiro era pautada pela mídia negativa. “Deu um problema, bota uma viatura lá! Deu problema não sei onde, toca a polícia pra lá!”. E é aquela política do cachorro querendo morder o rabo porque era casa de políticos e político precisa de mídia positiva. Ele tem que estar atendendo a demanda da mídia. E nós tivemos que sustentar com muito esforço aquele ano, até começar a mostrar para a população “Olha, essas pessoas têm um plano, essas pessoas têm uma ideia, eles pensam que o Rio de Janeiro é sem dúvida nenhuma uma cidade partida”. Tem que se reconhecer isso, tem que usar verbos fortes e adjetivos fortes. Não adianta esconder, tem que dizer assim: - “Estas áreas precisam ser OCUPADAS” - “Mas ocupação é uma palavra de guerra” - “Mas nesses lugares É guerra” Não é que a cidade esteja em guerra, mas você possui núcleos que têm que ser tratados dessa forma. E aí depois nós fomos atacando esses pontos, atacando a cidade. Hoje nós temos uma linha de índice de criminalidade que está se sustentando, efetivamente descendo. As UPPs, eu acho que não sou suspeito para falar. É claro
que têm problemas, vai ter problemas, porque a violência ela é do fato social, antes de mais nada ela é da sociedade. Mas o que é inconcebível é a questão do achincalhe, da arma de fogo, da ostentação de poder com base no fuzil, que infelizmente o Rio de Janeiro conviveu com isso de uma maneira inofensiva durante 30 ou 40 anos. Operacional – A gestão do senhor é marcada pelo desenvolvimento e pela valorização da atividade de inteligência, isso é bem claro... Beltrame – A inteligência hoje tem que ser, vou dizer pra vocês por que. Estado nenhum no Brasil tem condições hoje de fazer polícia assim: carro, homem e arma. Eu preciso carro, homem e arma. Não tem dinheiro para sustentar isso. Então você precisa pensar, você precisa rever seus conceitos. Eu acho que muito no Brasil tem que ser desenvolvido em segurança pública, se sabe muito pouco em gestão de segurança pública. Você não tem gestores de segurança pública. Não é simplesmente ter pessoas especializadas, e teóricos em segurança pública. Você tem que pegar essa teoria e trazê-la para a realidade, que aqui no Rio é uma, e ali em São Paulo, que fica a 500 km, é outra. Lá em Porto Alegre nem se fala. E lá no Amazonas você não quer carro, você quer barco. O país precisa desenvolver gestores de segurança pública. Porque não é só o dinheiro, não é só o orçamento, não é só carro e gente, carro e gente. Você tem algo que você pode gerenciar. Eu acho que aqui no Rio de Janeiro, de certa forma, a gente mostrou isso. Operacional – Os moradores das cidades vizinhas mencionam que o processo das UPPs deslocou a Outubro / Novembro • 2012
criminalidade, com o surgimento de novas práticas de crimes. Como a secretaria vem trabalhando com isso? Essas manchas estão sendo observadas? Beltrame – Em primeiro lugar existe um pouco de mito nisso. Eu recebo aqui prefeitos, talvez até do menor município do Rio de Janeiro, que chegam aqui, claro que querendo buscar segurança para suas cidades, dizendo “Olha secretário, o pessoal do Alemão (complexo de favelas na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, ocupado pelo Exército em novembro de 2010) está todo lá na minha cidade!”. Hoje chega uma caminhão de mudança em determinada cidade, e é “o pessoal do Alemão que migrou para lá”. Aparece uma van suja de lama, “é o pessoal do Alemão que chegou”. Abre a porta da van e sai uma bola, e um monte de gente correndo atrás dela, e são os traficantes. Então há um pouco de mito nisso. O que não quer dizer que não exista, e vou te dizer por quê. O cara que vive do tráfico, e você tem aí al-
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Nós temos que fazer com que o policial não seja um guerreiro. Que o PM não seja um soldado, que o PM seja um operador de segurança pública.
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guns grandes traficantes, é como em qualquer oligarquia. É um grupo de pessoas que têm condições de fazer isso, de pegar o “reinozinho” deles e transferir para a Baixada (Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro), transferir para a zona norte, transferir para São Paulo ou quem sabe para o Nordeste. A maioria são soldados do tráfico, são pessoas que vivem fazendo segurança de traficantes, cuidando de armazenamento de drogas, sendo olheiro no radinho por R$10, R$15 por dia. Essa pessoa não tem como conseguir guarida num outro lugar. Eu faço um exemplo: se eu te convido pra você passar uns dias na minha casa, eu te convido porque eu te conheço. Agora, isso não quer dizer que você possa levar mais três amigos, aí não vai dar. Eu vou receber você. Então, o cara que está num nível, este cara nem é recebido em outro lugar. Quando se fala em migração, parece que vai aquela leva de gente como viram no Alemão. Vocês acham que fora do Alemão tem lugar para todas aquelas pessoas? Então, têm migração? Tem. Mas são algumas li-
deranças. E a gente percebe isso. A gente percebe que você tem na Baixada, por exemplo, você vê que tem. Niterói também tem. E por que você vê que tem? Primeiro, porque nós acompanhamos pela inteligência. Segundo, porque os índices criminais têm que se manifestar. Porque não adianta um bandido sair daqui e ir para outro lugar; se ele lá não pratica crime, os índices criminais desse lugar não vão se alterar. Então para a segurança pública ele migrou, mas desistiu de ser traficante. Então, se há migração - “Ah foram pra minha cidade, foram pra tua cidade” – eu pego os índices do ISP (Instituto Estadual de Segurança Pública) e digo “Se foram para a tua cidade, fazem três meses que o roubo de carro oscila na mesma faixa, etc”. E têm lugares (cidades) que vêm aqui e dizem “Olha, os caras foram para lá”, e você vai ver e realmente as coisas aumentaram. Operacional – O combate ao tráfico de drogas hoje é inédito, isso é visível... Beltrame – Existe um ineditismo também, na minha percepção, 11
ENTREVISTA
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JOSÉ MARIANO BELTRAME
no que diz respeito à corrupção. O que vocês estão vendo nas últimas semanas em relação à corrupção, desvio de conduta... Operacional – Seria o alvo da Secretaria hoje? Beltrame – Não tenha dúvidas. Estruturamos as corregedorias no início de 2011 para combater isso de forma pesada. E agora, graças a Deus, os resultados, a partir de um tempo para cá é toda semana.
“
assumi, na parte de inteligência. Nós precisamos disso. E o motivo que toda UPP que eu faço eu boto todo mundo naquela mesa, é para dizer que a luta aqui é do bem contra o mal. Agora, nós temos talvez uma participação bem maior nisso, porque a constituição estadual nos diz isso, é função nossa de se fazer. Agora, isso é muito grande para a polícia bater no peito e dizer: “Não, eu vou resolver tudo isso aqui”. A gente precisa (precisava, acho eu) dizer, naquele momento
O policial militar e o policial civil do Rio de Janeiro são os mais bem preparados para fazer ações de assalto, no Brasil.
Operacional – A questão das Forças Armadas foi algo que sempre teve, mas que foi muito pontual; e o senhor demonstrou essa parceria. Como ela foi costurada? Beltrame – Vocês já devem ter reconhecido aqui que eu sou muito pragmático para certas coisas. Eu acho que as coisas talvez mais difíceis são as mais fáceis de se resolver, desde que você diga o que você precisa. O Rio de Janeiro não vai sair desse problema sozinho, as polícias não vão resolver isso sozinhas. Elas precisam do apoio da Polícia Rodoviária Federal, precisam do apoio do Ministério Público, precisam do apoio da Polícia Federal, que me ajuda desde que
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que o Rio de Janeiro incendiava, e que chegou nessa sala a informação de que isso vinha de um presídio federal para dentro da Vila Cruzeiro, o que eu tenho que fazer? Eu tenho que entrar na Vila Cruzeiro. Vamos entrar na Vila Cruzeiro. Conseguimos entrar? Conseguimos. Mas já que nós vamos entrar, e fazer uma operação traumática – porque ela pode ser traumática – vamos fazer esse trauma de uma vez só. Não vou entrar lá e sair. Então é o seguinte: “Gente, eu vou entrar, mas eu não posso ficar”. E aí eu digo: “Exército, você não pode me ajudar?”. Porque eu vou entrar, e vou sair, vou debelar esse foco incendiário. Mas daqui a
um ano, 16 meses, vou voltar para cá, vou ter a possibilidade de mais outra operação traumática.
E você não tem nada semelhante, igual, no resto do Brasil, e diria no mundo.
Operacional – Seria uma das grandes mudanças na mentalidade da secretaria hoje? Você entra e fica? Beltrame – O Exército graças a Deus entendeu, graças a Deus está lá fazendo um excelente trabalho. Vamos assumir aquilo lá sem pressa, estamos nos preparando para fazê-lo. Acho que o Exército está dando uma lição de brasilidade para todo esse país. Acho que o Exército mostra que não está voltado somente para segurança externa, tem aí o conceito de segurança interna. Sei que isso pode gerar em alguns segmentos do Ministério da Defesa de que isso pode virar uma coisa casuística. Não acredito nisso, e digo por quê: onde no Brasil você tem uma situação como no Rio de Janeiro? Em Recife? Em Curitiba? Em São Paulo? Porto Alegre? Você não tem. Agora, aqui no Rio de Janeiro você tem a topografia; tem facção criminosa; você tem três facções criminosas que se odeiam; você aqui tem uma coisa que só o Exército tem, que é o fuzil, a antiaérea, a traçante. Onde é que tem isso? Em Goiânia? Aquele problema do Distrito Federal, que é um problema sério, talvez pior que o do Rio de Janeiro, ali que é uma área difícil à polícia entra. Então eu não vejo como o Exército ter a preocupação de “Ah, depois vão querer me chamar pra lá e pra cá”. Não. Eu acho que aqui é o problema que sem dúvida nenhuma a gente precisa desse tipo de parceria.
Operacional – Sobre essa questão que o senhor apontou sobre a situação do Rio de Janeiro ser peculiar... A aparência do nosso policial militar, hoje, é de um combatente, ele não tem aquela aparência do agente de segurança pública... Beltrame – Eu diria que o policial militar e o policial civil do Rio de Janeiro são os policiais mais bem preparados para fazer, como a gente diz na linguagem policial, ações de assalto, no Brasil. Exatamente porque você não tem essa peculiaridade. Policiais para fazer ações de assalto, como o policial carioca não existe. Operacional – O senhor vê uma regressão desse quadro? Beltrame – Claro. A UPP está dizendo isso. O que nós temos que fazer? Nós temos que fazer com que o policial não seja um guerreiro. Que o PM não seja um soldado, que o PM seja um operador de segurança pública. Porque o PM aqui foi jogado à guerra. Vai lá, mata, morre, fere, vê o companheiro ferir. Ele foi preparado pra isso, ele foi jogado a isso, porque antes a política era entra e sai. E se você hoje tirar o fuzil dele, ele se sente nu, como eu já disse. E nós precisamos reverter esse paradigma, e a UPP está revertendo. É tirar o policial que está na guerra, pelo policial prestador de serviço. E isso não é bravata, porque hoje nós já temos quase quatro mil policiais que já são assim, que já têm esse perfil. Que estão nas favelas com arma Taser. Isso é que precisa ser mexido, porque durante 40 anos as academias, as escolas fizeram desses policiais, soldados. A farda dele é de soldado, o hino que ele canta na academia é de soldado, é guerra, honra, sangue, o herói. Gente, isso não é segurança pública, não é isso que se quer. O que você quer é um operador de segurança, uma pessoa que interage. Como eu fui criado lá na minha terra com o famoso “Pedro e Paulo”, que aqui chamavam de “Cosme e Damião”. É esse cara que traz a notícia: - “Olha, tem uma moto lá naquela esquina que nunca este-
ve aqui. Vai lá ver o que é”. É o que hoje acontece nas UPPs. A polícia entra hoje na UPP com outra postura, entra forte mostrando que não está ali para entrar e sair. O Disque Denúncia e o 190 fervem. Por quê? Por duas coisas: porque a população estava realmente aprisionada e porque ele via o policial com outra postura, “Agora eu vou entregar porque eu acho que a coisa vai”. E foi assim que em 40 dias se botou uma pá de cal na maior favela do mundo. Operacional – O senhor recentemente apontou, em evento na ADESG, a entrada do fuzil automático como um dos grandes responsáveis pelo elevado nível de violência nos confrontos. O senhor poderia detalhar um pouco essa questão? Beltrame – Se você recuperar, foi lá em 83, o cara lá na Rocinha chamava a metralhadora, naquela época aquelas metralhadoras INA... Ele chamava ela de Jovelina. “A Jovelina canta, e canta bonito”. Ali começou a arma automática, ali entrou a arma automática para garantir território. Ali ela entrou não para combater a polícia, foi para que ninguém o tirasse de lá. E lógico, eles começaram a fazer dinheiro, e onde tem dinheiro dá briga. Aí o Comando Vermelho, a falange vermelha, se dividiu em Comando Vermelho, TCP e ADA. Aí esses caras saíram pelo Rio de Janeiro procurando território. E aí foram se espalhando, e para não tomar um do outro, veio à arma automática, foi aquela enxurrada. Aí eu ia lá tomar a Rocinha com um 38 e o cara vinha com uma metralhadora; eu vinha com uma metralhadora e o cara descobriu o fuzil 5,56. Aí eu ia com um 5,56, e ele descobriu o 7,62. E aí nós fomos parar nas .50, traçantes, antiaéreas. Tudo para garantir território. E não era só para combater a polícia. Era para que o ADA não tomasse o Comando Vermelho, o Comando Vermelho não tomasse o TCP, e assim sucessivamente. E assim que o Rio de Janeiro foi para o mundo mostrando a guerra na Rocinha, no Vidigal. Mostrando a guerra aqui da Tijuca, onde você tinha 14 morros, cada um de uma facção. Nós estávamos conversando aqui, e a traçante pegando em Outubro / Novembro • 2012
cima. E o Rio é a cidade partida, porque isso não é o Rio de Janeiro, é um “troço” pequeno ali. Operacional - Como o senhor analisa o aumento dos casos de agressão as forças nas comunidades dos complexos do Alemão e da Penha logo após a saída do Exército Brasileiro. A mídia vem noticiando ataques recentes as Unidades de Polícia Pacificadora, o senhor acha que são atos isolados ou fazem parte de ação orquestrada de maior porte para desestabilizar a política de segurança do estado? Beltrame - Não termos informações de ataques orquestrados contra as UPPs. Houve ocorrências
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A pacificação está no caminho certo. É preciso, cada vez mais, aproximar a polícia da população.
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recentes em datas distintas e em comunidades com realidades e situações diferentes. Cada comunidade pacificada tem uma realidade muito própria. Na maioria delas, não há ocorrências policiais graves, mas em algumas vemos ações de resistência do tráfico à ocupação, tentando recuperar o domínio perdido. A pacificação está no caminho certo. É preciso, cada vez mais, aproximar a polícia da população, pois são os moradores os maiores interessados em ver sua comunidade livre do tráfico e recebendo serviços públicos e privados essenciais- o que não acontecia sob a ditadura do fuzil. A população não admite mais retrocesso no processo de pacificação. Operacional - Diversas ações, projetos e intercâmbios estão sendo desenvolvidas no campo da segurança pública para preparar os policiais para os grandes eventos que se aproximam. Quais são as principais ações desenvolvidas pela Secretária de Segurança neste sentido. Beltrame - São duas frentes. A Subsecretaria de Educação, Valorização Profissional e Prevenção da Secretaria de Segurança realiza ciclos de cursos ministrados por
autoridades estrangeiras e nacionais para qualificar os policiais para os grandes eventos. estamos investindo no treinamento dos policiais, por meio de convênios com as Embaixadas da Espanha, dos Estados Unidos e da Alemanha. Os cursos vão desde treinamento antibombas ou contra atentados com armas químicas, até o aprendizado dos policiais no idioma inglês, para facilitar a comunicação com turistas. Além disso, este ano foi criada a Subsecretaria de Grandes Eventos, cujo titular é o delegado de Polícia Federal Roberto Alzir. A Subsecretaria de Grandes Eventos trabalha com o conceito de “cidade segura, evento seguro”. O objetivo não é preparar o Rio apenas para o evento, mas deixar um legado para o cidadão que vive e trabalha na cidade. A subsecretaria tem 18 projetos com interfaces nas diversas áreas da Segurança Pública, dentre os quais se destacam o Centro Integrado de Comando e Controle, que será inaugurado no início de 2013 para reunir as forças de segurança da cidade em um único local com monitoramento 24 horas e um gabinete para gestão de crises. A Cidade da Polícia é outro projeto, que reunirá todas as delegacias especializadas em um novo prédio nas proximidades do Complexo do Jacarezinho e vai colaborar para a pacificação daquela região da Zona Norte da cidade. Temos ainda o Centro de Operações Especiais (COE), que reunirá nas proximidades do Complexo da Maré as sedes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e outras unidades especializadas da Polícia Militar. Muito mais que uma sede, o local será um centro de treinamento e vai colaborar para o processo de pacificação da cidade. Operacional - A Rio+20 foi um teste importante para a segurança do estado. É possível fazer um balanço do aparato de segurança montado para a conferência e seus resultados práticos. Beltrame - Mais importante do que os equipamentos, os recursos tecnológicos, treinamentos e a logística montadas durante a Rio + 20, é o aprendizado deixado para os próximos grandes eventos 13
ENTREVISTA
OP
JOSÉ MARIANO BELTRAME
que serão realizados na cidade. A Secretaria de Segurança já havia tido duas experiências importantes, os Jogos Panamericanos de 2007 e os Jogos Olímpicos Militares em 2010, nas quais aprendeu muito e aproveitou esses ensinamentos no planejamento para a Rio+20. Agora, tivemos uma nova experiência, o maior evento internacional realizado no Rio de Janeiro desde a ECO-92. A PM de outros estados brasileiros (DF, SP e CE) enviou oficiais ao Rio para acompanhar a atuação da PM no evento. Agora, estamos avaliando a experiência da Rio+20, para tirar lições que possam aperfeiçoar o planejamento da Jornada Mundial da Juventude Católica e da Copa das Confederações, ambos em 2013. E o conjunto de medidas de segurança, de forma integrada com as Forças federais e a Guarda Municipal, se mostrou eficiente, pois os indicadores estratégicos de criminalidade durante o evento estriverem muito baixos. A Rio+20 marcou também a primeira experiência com o Regime Adicional de Serviço (RAS), que prevê o pagamento pelo trabalho dos
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Por que eu vou investir em blindados se a Marinha do Brasil hoje entende perfeitamente a nossa situação e me cede por horas?
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utilizou cerca de 400 viaturas, 89 cavalos, 58 motocicletas, 13 cães farejadores e dois helicópteros. Foram usados também dois helicópteros da Polícia Civil, incluindo a aeronave com a câmera Flir, que permite captar imagens de longa distância, mesmo no período noturno. Além disso, o esquadrão
José Mariano Beltrame compareceu a passagem de comando da Força de Pacificação. Carlos Filipe Operti
policiais em horário de folga. Em termos de equipamentos, a Secretaria de Segurança investiu R$ 12 milhões de recursos próprios na compra de cavalos, equipamentos de proteção (para soldados e para cavalos) e armas não letais para os Batalhões de Polícia de Choque (BPChoque) e de Polícia Montada (BPMont) da PM. A estrutura montada para o evento envolveu duas delegacias móveis da Polícia Civil, no Riocentro e no Aterro do Flamengo, e quatro Postos de Comando e Controle da PM, instalados no Riocentro, no Aterro do Flamengo, na Quinta da Boa Vista e no Pier da Praça Mauá. A PM 14
Antibombas e o Grupo de Intervenção Tática da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) ficaram de prontidão para qualquer eventualidade. Operacional – O Estado Rio de Janeiro possui em seu inventário de equipamentos o Bell, o Esquilo blindado e uma série de veículos blindados. Como o senhor avalia hoje o nível de equipamento da Polícia Civil e da Polícia Militar? Existe ainda alguma demanda? Beltrame – Nós estamos muito atrasados, muito mal. Eu inclusive acho que o Rio de Janeiro não pode receber os países do mundo inteiro, que vão vir aqui a partir da
Rio+20, com o que ele tem. Nós não podemos apresentar um blindado, não um blindado para subir morro, mas um blindado para dissuadir uma turba, nas condições que nós temos. Uma comissão nossa está indo à África do Sul ver blindados mais arrumados. Para te dar um dado, no BOPE, que é a melhor tropa de assalto do mundo, os snipers não tinham o seu fuzil. Os fuzis que o BOPE tinha eram fuzis que vinham de forças federais, doados, muitas vezes descarregados. Isto é inconcebível, um sniper do BOPE não ter o seu fuzil. Hoje eles têm. Correram o mundo, eu pedi para eles correrem o mundo e fazerem um laudo do fuzil que eles entendem que é o melhor. E conseguimos isso, inclusive com a contribuição, com o entendimento das próprias forças armadas de que o sniper qualificado pelo BOPE é de primeira. E hoje cada um tem o seu. Não é aquela de “regula a mira hoje que eu estou de plantão, e amanhã vem outro e regula pra você...”. Então nós temos ainda muito que melhorar. Eu acho que, infelizmente para o mercado interno, nós temos que partir para equipamentos internacionais. Você hoje tem pistolas mais leves, tem equipamentos muito mais anatômicos. Você tem coletes à prova de balas muito mais leves. A gente sem dúvida nenhuma tem que evoluir. Não estou dizendo na questão da letalidade, mas nós precisamos dar um material decente para o policial. Se o médico tem o seu bisturi, se o advogado escolhe o seu código para trabalhar, por que o policial não pode ter uma ferramenta adequada, leve, anatômica, considerando que ele tira 12 horas de serviço ininterruptas com esses fuzis. E eu presenciei isso, quando aquele helicóptero caiu lá (morro dos) nos Macacos, eu fiquei 24 horas num batalhão da Tijuca. E eu via o BOPE, porque os caras são de não parar de trabalhar, com aqueles fuzis 7,62 na bandoleira, molhados. Aquilo é, inclusive, além de contraproducente, uma questão da saúde, da relação do trabalho. E você hoje tem fuzis aí com três, quatro quilos. Vai andar com um fuzil de nove quilos, oito quilos? Operacional – O senhor tem in-
formação sobre essa questão dos blindados? Porque até nisso a filosofia é outra... Beltrame – A tendência do blindado é diminuir, eu não quero mais usar blindado. Por dois motivos: primeiro porque na medida em que eu diminuo a área conflagrada, por que eu vou aumentar o número de blindados? Eu tenho que diminuir o número de blindados. Agora, os blindados que eu tenho não quer dizer que não devam ter qualidade. Vai ver os blindados que nós temos, nós temos que tirar esses daí e comprar poucos, mas equipamentos interessantes e descentes. Eu acho que hoje a nossa frota pode ser cortada pela metade. E em segundo lugar, por que eu vou investir em blindados se a Marinha do Brasil hoje entende perfeitamente a nossa situação e me cede, por horas – na Mangueira eles entraram às 6h da manhã e às 9h recolheram. Por que eu vou comprar 15, 20 blindados? Eu compro outra coisa. Mas eu tenho que ter, para pequenas ações. E tem que ter um lugar onde eu ponha 10, 12 homens equipados, com ar condicionado, um carro que eu saiba que não vai dar problema. Operacional – O cuidado com o ser humano ali dentro – a questão do ar condicionado é um pré requisito, nós estivemos conversando com algumas empresas que estão oferecendo, como o próprio CTEx –, e seria um veículo de patrulha, mais leve do que os atuais... Beltrame – A gente precisa desse tipo de equipamento não para agredir, mas para chegar a um lugar e dali capilarizar o policiamento. Eu preciso chegar no lugar X, largar 12 homens “lá” e 12 homens “aqui” e fazê-los progredir. Operacional – Em termos de aeronaves, ainda há alguma aquisição a ser realizada? Beltrame – Nós temos uma da Polícia Civil, uma da Polícia Militar, e uma da SENASP que está para vir já tem um bom tempo. Não temos mais aquisições em vista. Nós queremos investir na frota dos Esquilos, quem sabe mudar essa aeronave, mas no sentido de modernizar. OP
COLUNA
OP
MARCOS DO VAL
Importância do Treinamento Policial no Brasil
P
Marcos do Val, é instrutor da SWAT e Fundador do CATI- International Police Training, inc. Mestre em Aikido e membro honorário da SWAT, atua como instrutor do D.E.A., U.S. Army e do grupo Anti-terrorismo da equipe de operações especiais da NASA (Marshall Space Flight Center). Já realizou treinamentos para a segurança do Papa no Vaticano e para os soldados das forças especiais americanas que embarcaram para o Afeganistão e o Iraque. Primeiro estrangeiro a fazer parte da seleta TTPOA (Texas Tactical Police Officers Association), atua também como comentarista de segurança na Rede Globo.
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oucos problemas sociais mobilizam tanto a opinião pública como a criminalidade e a violência. Não é para menos. Este é um daqueles problemas que afeta toda a população, independentemente de classe, raça, credo religioso, sexo ou estado civil. E o que fazer para mudar essa realidade dura e cruel? É a pergunta que se faz. Portanto, a resposta é óbvia, é necessário que os profissionais de segurança pública sejam melhor capacitados, que haja não apenas mais treinamentos, mas eficientes treinamentos. O policial recém saído dos bancos acadêmicos encontra, com certeza, sérias dificuldades em seu dia a dia. O auxílio de policiais mais experientes é, sem dúvida, o remédio mais eficiente no combate a essas situações críticas. Porém, a principal atividade que poderá salvar sua vida nas ruas é o treinamento constante; treinamento físico, técnico e psicológico, a modelos de outros países, como os Estados Unidos, por exemplo. Para se ter uma ideia de como o treinamento policial é tão levado a sério em outros países, faço questão de registrar aqui uma situação. Quando um policial americano pede licença para realizar um curso/treinamento, seus superiores são obrigados a liberar, correndo o risco de punição caso não o faça. O treinamento chega a ser mais importante do que as operações policiais. O foco no treinamento nos EUA é para motivar, capacitar a nível de excelência, além de preservação da vida do policial e da sociedade, destacando que a carga horária média de treinamento do policial estadual de nível inicial é de 1.000 horas/aula. Lembrando que tal como nas polícias locais, a arma básica do policial é a pistola .40 e o colete balístico é obrigatório em 100% dos departamentos. A cada 3 meses o policial é obrigado a fazer testes de habilidade de tiro e de resistência física e caso não passe nos testes ele fica ocupando um cargo administrativo até estar preparado novamente para os trabalhos de rua. Essas
avaliações servem também para que em caso de uma operação com vítima fatal os Juízes e os promotores façam consultas das atuais habilidades técnicas com armas de fogo, isentando, na grande maioria, o policial de uma acusação de imperícia, podendo leva-lo a expulsão ou a prisão. Temos que ter aqui no Brasil o discernimento de um treinamento voltado para as forças armadas e para as unidades policiais. O primeiro treinamento sempre foi focado nos objetivos de uma guerra que é matar e destruir, já no segundo caso o objetivo é a preservação da ordem pública e da vida, ou seja focos totalmente diferentes e portanto os treinamentos precisam ser diferentes. Não podemos achar normal um policial passar por treinamentos no estilo “comandos” para poder cumprir a sua missão no que tange a sociedade. Acontece que quando a formação dele foi baseada neste conceito, muitas vezes ele pode tratar a população como um inimigo, fazendo com que a sociedade continue tendo medo e até raiva da polícia. Isso nos leva a uma certeza, precisamos, urgentemente, repensar isso para prestarmos um bom serviço para a sociedade e consequentemente fazer com que ela seja a nossa aliada para, até mesmo, brigar junto por bons salários e melhores condições de trabalho. O que se pode perceber com isso? Que nos países de primeiro mundo há o entendimento de que um policial bem treinado representa segurança para ele próprio e para a sociedade, além de gerar excelentes resultados nas operações policiais. Todavia, somos sabedores de que existem vários tipos e modelos de polícia conforme a peculiaridade e a história de cada país e talvez seja injusto comparar o Brasil com outros países no que se refere à segurança pública. Temos que ter isso como um norte para que nao fiquemos acomodados com as atuais exigências para a formação e aperfeiçoamento do policial. OP 15
TEXTO SERGIO SANTANA FOTOS INDIAN NAVY, VIA SHIV AROOR E GAUTAM DATT
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mbora autorizadas oficialmente em outubro de 2008, as missões antipirataria executadas pela Marinha da India (designada Bhāratīya Nau Senā, BNS) foram deflagradas pela primeira vez nove anos antes, por ocasião da “Operação Rainbow”. Em 22 de outubro de 1999, o cargueiro “Alondra Rainbow”, de propriedade nipônica, mas de bandeira japonesa, que saíra da Indonésia para o Japão com 7.000 toneladas em barras de alumínio, subitamente interrompeu os contatos via rádio, após o seu comando ter sido tomado por uma gangue de dez indonésios. Três dias depois, o Centro de Relatório de Pirataria, também na Indonésia, retransmitiu a Guarda Costeira indiana o comunicado emitido por outro navio mercante, informando a posição do 16
“Alondra Rainbow”, que havia sido desviado do seu curso, agora seguindo rumo ao noroeste. O alerta provocou o acionamento de uma aeronave de patrulha marítima Dornier Do-228 - orgânico do Esquadrão 310 “Cobras”, baseado na Estação Hansa da Marinha da India, em Dabolim
- cuja tripulação determinou a parada da embarcação, recebendo silêncio rádio como resposta. O reforço convocado para o local surgiu na forma do barco de patrulha fluvial CGS Tarabal, que logo substituiu o Do-228 e empreendeu uma perseguição ao “Alondra Rainbow”, em meio a um tiroteio que acabou quando os piratas aceleraram o cargueiro a 26.8 km/h, além do que o Tarabal podia alcançar. Como resultado, a Marinha indiana foi convocada àquele cenário, por meio da corveta INS Prahar (K98), então a mais nova belonave do seu tipo em operação na BNS, integrante da Classe Veer, cujos navios possuem velocidade máxima de 46 km/h. Visto que os infratores no coman-
do do “Alondra Rainbow” continuavam ignorando ordens de parar o navio, este passou a receber disparos de canhões AK-630 calibre 30mm, logo seguidos por tiros de canhão AK-176 de 76.2 mm, concentrados na popa do navio. Em consequência, grande parte da casa de máquinas foi inundada, com os sequestradores já tendo se rendido um pouco antes, assim que um grupo de elite dos fuzileiros navais, mais conhecido como “MARCOS” (MARitime COmmandoS, ou comandos marítimos, similares aos Comandos Anfibios da Marinha do Brasil), desembarcou no navio, libertando os 17 tripulantes. Logo, outras embarcações chegaram ao local: o barco de patrulha oceânica CGS Veera, o CGS Annie Beasant, da mesma categoria que Tarabal - que também voltara à cena - adicionados do destróier INS Delhi e da fragata INS Ganga. O Alondra Rainbow foi rebocado à Mumbai, com os sequestradores sendo processados judicialmente. Contudo, a ação da pirataria logo se dirigiu para outro local, vital para a própria India: o Golfo de Aden, localizado entre a Somália e o Yemen. Cerca de 85% do comércio indiano utiliza essa via de navegação - uma área de 2.6 milhões de quilômetros quadrados - a bordo de navios de bandeira estrangeira, também frequentada por 300 navios mercantis indianos, com tripulantes desta mesma nacionalidade totalizando um sexto da tripulação naval mercantil mundial. Ademais, um dos fatores que mais
influenciaram na intervenção oficial do governo indiano contra a pirataria marítima no Golfo de Aden foi a comoção pública causada pelo sequestro dos 18 tripulantes indianos do cargueiro Stolt Valor, registrado em Hong Kong, em 15 de setembro de 2008, enquanto transportava quase 20.000 toneladas de ácido fosfórico. O sequestro terminaria dois meses depois, com o pagamento de resgate. Assim, em 23 de outubro daquele ano, o Alto Comando da BNS anunciou oficialmente que a partir de então passaria a escoltar não apenas as embarcações mercantis indianas, mas igualmente as de qualquer outra nação que navegassem pelo IRTC, o “Corredor de Trânsito Recomendado Internacionalmente”, uma faixa no Golfo de Aden medindo 890 quilômetros de comprimento e 92 de largura, que seria delimitada em 2009. A partir daquela data, um vaso de guerra da Marinha indiana patrulharia esta zona durante três meses, quando seria substituído por outro, e a primeira embarcação a ser empregada em tais missões foi a fragata INS Talbar (F44), da classe Talwar. Procedimentos operacionais Ao tempo da oficialização das operações antipirataria da Marinha indiana foi criado no Bahrain o SHADE (sigla para “SHared Awareness and DEconfliction”, algo como “conscientização e pacificação compartilhados”), um sistema de informações através do qual forças navais empregadas em tais situações trocam entre si dados não sigilosos a respeito das suas operações contra a pirataria marítima, por meio da rede MERCURY,
visando à identificação de detalhes comuns presentes nas abordagens dos piratas. Em termos operacionais, o combate à pirataria marítima pela BNS tem início quando um dos seus vasos destacados para a tarefa recebe um chamado de emergência via rádio ou quando a sua tripulação avista uma das embarcações tipicamente utilizadas pelos bandos de sequestradores. A seguir, caso a localização informada esteja a uma distância considerada grande, um helicóptero orgânico do navio indiano é enviado, a partir do qual efetivos do MARCOS descerão sobre a embarcação suspeita, após serem disparados tiros de advertência visando à parada da mesma. Foi o que ocorreu em 16 de julho de 2011, quando a fragata INS Godavari (F20), em resposta ao chamado de emergência emitido pelo cargueiro grego MV Elinakos, lançou seu vetor de asas rotativas, um Chetak (versão indiana do francês Aérospatiale Alouette III), orgânico do Esquadrão 321 “Angels” (anjos), estacionado na base naval de Garuda. Como resultado, após ter localizado as embarcações que cercavam o cargueiro, homens do MARCOS desceram sobre elas, desarmando oito piratas somalis. Alternativamente, se os piratas encontram-se a uma menor distância, integrantes do MARCOS são lançados em botes infláveis, a
seguir abordando a embarcação suspeita, que também pode ser interceptada pelo próprio navio de guerra indiano. Uma missão nestes moldes ocorreu em 10 de novembro do ano passado, na qual o navio de patrulha INS Sukanya (P50) interrompeu a ação de três das cinco embarcações cujos tripulantes tencionavam abordar um grupo de cargueiros então sob escolta do vaso indiano. Por outro lado, a entrada da Marinha indiana no esforço contra a pirataria marítima coincidiu com o emprego de uma nova tática pelos grupos de sequestradores: a transformação dos navios sequestrados em bases móveis para embarcações menores, geralmente utilizadas na abordagem aos navios mercantis, desta forma proporcionando ações de invasão antes limitadas pelo restrito alcance de tais embarcações. Uma dessas “naves-mãe”, o navio pesqueiro tailandês FV Ekawat Nava 5, foi afundada em 19 de
novembro de 2008, após responder, com disparos de armas de variado porte, granadas propelidas por foguete, à ordem vinda do já mencionado INS Tabar para que parasse a fim de passar por fiscalização. Em abril do corrente ano uma reunião de alto nível selecionou os procedimentos operacionais padrão a serem adotados no combate à pirataria marítima. Dentre as normas que devem ser observadas estão não manter sob prisão piratas capturados (eles serão pegos, desarmados e soltos) e a retirada do combustível das “naves-mãe”. É inegável que o fenômeno da pirataria marítima tem afetado igualmente outras nações além da India, resultando no emprego de forças-tarefa especializadas, como a EUNAVFOR, que reúne Marinhas da União Européia, e a Força Tarefa Combinada 150, da Marinha norte-americana, na repressão áquele tipo de delito. E como prova de que o esforço necessário exige a superação de rivalidades, a India juntou-se à China, ao Japão e à Coréia do Sul para atuação conjunta, o que deve começar em julho do presente ano. Até meados de 2011, 1665 navios mercantes haviam sido escoltados pela BNS. OP A Revista Operacional agradece à colaboração dos jornalistas indianos Gautam Datt e Shiv Aroor, na elaboração deste artigo.
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É noite na Base Aérea dos Afonsos, zona norte do Rio de Janeiro. Cumprindo seu papel de tropa de pronto-emprego do Exército Brasileiro, homens da Brigada de Infantaria Paraquedista embarcam em duas aeronaves C-130 da FAB que os transportarão até a região norte do Brasil. Recentemente as hostilidades se intensificaram na fronteira com o País Vermelho e o estado de beligerância é latente. Cabe aos paraquedistas o estabelecimento de uma cabeça de ponte aérea na região que permita o deslocamento de tropas e suprimentos para a região. O assalto será realizado em uma área de fronteira totalmente desprovida de defesa antiaérea e facilmente alcançada pelas aeronaves inimigas, o que eleva a periculosidade da missão a níveis bastante preocupantes. Os paraquedistas das duas forças tarefas envolvidas são alvos fáceis para a força aérea inimiga. TEXTO RAFAEL SAYÃO
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Rafael Sayão
ste cenário desconfortável para a atuação da Brigada Paraquedista e extremamente comprometedor para a estratégia de defesa brasilei-
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ra se torna cada dia mais fictício graças ao desenvolvimento da atividade de defesa antiaérea realizado no seio de um dos elementos mais importantes da força de ação rápida estratégica do Exército Brasileiro.
Os olhos da Brigada no céu do Brasil
Em janeiro de 2004, tendo como base o plano básico de reestruturação do Exército Brasileiro, a 21ª Bia AAAe deixou de ser subordinada a 2ª Brigada de Infantaria Motorizada e passou a fazer parte do grupo de organizações militares subordinadas a Brigada de Infantaria Paraquedista, passando a ser denominada 21ª Bateria de Artilharia Antiaérea Paraquedista. Passar a integrar a tropa paraquedista significou à 21ª Bateria muito mais do que simplesmente uma alteração de denominação. Uma profunda reformulação doutrinária foi realizada a fim de adequar as características e peculiaridades da atividade aeroterrestre à minuciosa e complexa missão de defesa antiaérea. A partir da introdução do meio aéreo como arma de guerra, durante a
Primeira Guerra Mundial, esforços vem sendo empregados para garantir algum tipo de defesa antiaérea. Desde os balões de barragem, passando pela boa e velha metralhadora, vem se observando um avanço cada vez maior nos conceitos e tecnologias empregados neste tipo de artilharia. Defender pontos sensíveis, forças terrestres ou navais, ou interditar um espaço aéreo condicionado, requer o emprego de um complexo sistema que se inicia nos meios de detecção e atinge sua ponta de lança no armamento empregado. Observar os ataques sofridos pelos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, onde pontos sensíveis de seu sistema de defesa, político e econômico foram alvos, nos remetem a analisarmos as questões relacionadas a defesa antiaérea não só pela ótica de um possível ataque militar. O objetivo fim da atividade terrorista é, principalmente, a divulgação em larga escala através da mídia de seus feitos, de forma a implantar o temor em cada cidadão que se depare com as cenas. Neste con-
Com o míssil e o equipamento de comunicações em mãos, o militar tem a possibilidade de obter informações precisas de um ou mais órgãos do escalão superior. Carlos Filipe Operti
texto, o emprego do meio aéreo nestas ações acaba sendo umas das ferramentas mais impactantes nas mãos dos terroristas, por acarretar sempre grande perda de vítimas inocentes e repercussão internacional. Um olhar mais temeroso sobre este cenário nos faz pensar sobre os grandes eventos internacionais que serão sediados pelo país. Nos próximos quatro anos, receberemos milhões de jovens de diversas nações para um encontro com o líder da Igreja Católica em 2013, além de centenas de chefes de estado e milhares de cidadãos de diversos países que participarão da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, ou seja, muitos acreditam que estamos “pintando um alvo” no meio do mapa do país. Nem mesmo as projeções mais pessimistas vislumbram o ataque de uma aeronave militar a um alvo civil durante estes encontros. Todos os cenários apontam sempre para ações terroristas contra pontos sensíveis e a utilização de meios aéreos nestes atentados não pode ser descartada. Outubro / Novembro • 2012
Para os comitês organizadores, a existência de um eficiente sistema de defesa antiaérea é pré-requisito obrigatório. Na copa do mundo realizada na África do Sul, foram gastos mais de um bilhão de dólares para locar um sistema de defesa antiaérea de Israel e atender as exigências da FIFA. Além desta demanda, assumida quando o país tornou-se candidato a sede destes grandes eventos, a Estratégia Nacional de Defesa prevê um reaparelhamento total da defesa antiaérea brasileira, defasada há algum tempo. Este contexto de “não guerra” descrito acima, onde a defesa de pontos sensíveis é peça chave e as regras de engajamento ganham características bem peculiares, deverá nortear nossas ações em termos de doutrina e aquisições no campo da defesa antiaérea daqui para frente. É num cenário como este, onde o combate da ameaça aeroespacial necessita de um tempo de resposta muito curto e demanda uma ação coordenada de todos os meios de defesa, que se encaixa a 21ª Bateria de Artilharia
Antiaérea Pára-quedista, com o radar SABER M60, os mísseis IGLA-S, a mobilidade e suas particulares características operacionais. A existência da 21ª Bia AAAe Pqdt em sua estrutura garante à Brigada de Infantaria Paraquedista e ao sistema de defesa antiaérea brasileiro o elemento de dissuasão. Os militares da Bateria tem a missão principal de realizar a defesa antiaérea na zona de ação onde a tropa paraquedista estiver sendo empregada, de forma a impedir e dificultar o ataque de vetores aeroespaciais inimigos. Ao contrário do que se pensa, a missão principal de qualquer sistema de defesa antiaéreo não é abater aeronaves e sim dissuadir e/ou impedir qualquer ataque hostil. O conhecimento da presença de uma defesa antiaérea equipada com MANPADS (Man-Portable Air-Defense Systems – sistemas de defesa antiaérea portáteis) no terreno dificulta severamente o planejamento de um ataque aéreo. Impossível de ser detectado, por utilizar sistema de guiamento passivo por infravermelho, o míssil pode estar em qualquer parte do terreno, na
calha de um rio e até mesmo no meio da tropa.
Ajustada e bem treinada
Manter a integridade da tropa e preservar os pontos sensíveis da brigada diante de um ataque aéreo, sem perder as mobilidades estratégica e tática características da tropa paraquedista, requer uma estrutura organizacional bem montada e um plantel de recursos humanos bem treinado. O organograma da 21ª Bia AAAe Pqdt é composto por uma seção de comando; uma seção de operações, que planeja e controla as missões; uma seção de inteligência, onde encontram-se as equipes de radares e as turmas de vigilantes do ar; uma seção logística que faz o ressuprimento de munição e de outros itens necessários à remuniciamento da bateria; e duas seções de artilharia antiaérea, dotadas de quatro unidades de tiro (UTir) cada uma, que desdobram-se rapidamente no terreno. No caso de uma situação de beligerância, uma terceira Seção de Artilharia Antiaérea é mobiliada, proporcionando à
O comandante da Bateria atua como consultor do comandante da Brigada quando o assunto é o planejamento da defesa antiaérea da tropa paraquedista. Carlos Filipe Operti
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REPORTAGEM
OP
21ª BATERIA DE ARTILHARIA ANTIAÉREA PARAQUEDISTA
Os equipamentos empregados nas comunicações e no COAAe tornam a Bateria sensível a ações de guerra eletrônica. Rafael Sayão
Brigada de Infantaria Paraquedista a Defesa Antiaérea de mais um ponto sensível ou tropa. As unidades de tiro são consideradas a menor fração de AAAe. São compostas, de forma geral, por um 3° sargento como chefe de peça, um cabo atirador, um soldado remuniciador, e um soldado motorista(quando a missão assim exige), e são capazes de detectar, identificar e engajar um vetor hostil, utilizando seu equipamento orgânico. Doutrinariamente, o Brasil uti-
Carlos Filipe Operti
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liza somente quatro unidades de tiro em cada seção, o que acaba por encurtar o polígono de tiro, já que é prevista a utilização de uma distância de apoio mútuo de 3km entre os mísseis. Esta independência entre as unidades de tiro permite o engajamento de vários alvos ao mesmo tempo em sentidos opostos, ao contrário de canhões como Oerlikon e o Bofors, que tem a tendência de convergir em um só alvo. O soldado que serve na Bateria começa sua vida operacional pela formação de combatente básico, idêntica a de todo militar paraquedista. A segunda fase da formação, muito mais técnica, prepara cabos e soldado para o cumprimento de atividades específicas. É neste momento que se forja o soldado de AAAe: operador de míssil IGLA, operador de radar, operador do centro de operações aéreas (COAAe), comunica-
ções e logística. Paralelamente a esta formação do efetivo variável, é preciso manter o nível de formação e preparo dos militares do efetivo profissional. Para isso é implementada uma programação de capacitação técnica e tática onde os conhecimentos específicos de cada qualificação são recapitulados com exaustão. Através dos simuladores de radar, de COAAe e do IGLA 9k-38, presentes na Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe) e no 1º Grupo de Artilharia Antiaérea (1º GAAAe), os militares da Bateria conseguem realizar um treinamento que se aproxima em detalhes do que será enfrentando no teatro de operações. Cabe ao Major Leonardo Werdan Torres, comandante da Bateria, a missão de atuar como consultor do comandante da Brigada quando o assunto é o planejamento da defesa antiaérea da tropa paraquedista, apresentando a importância e a vulnerabilidade de cada objetivo; indicando os danos que um determinado objetivo pode sofrer, devido a um ataque aéreo; analisando as possibilidades do inimigo aéreo e suas probabilidades de realizar um ataque; e discutindo o nível de recuperabilidade de um elemento após um ataque aéreo, de forma a deixar claro ao comandante tático todos os tópicos relacionados a AAAe.
Fatores limitadores ao emprego da Bateria Paraquedista Algumas limitações fazem parte da rotina operacional da Bateria e precisam ser observadas. Embora opere um míssil com direcionamento por infravermelho, a Bateria acaba tornando-se sensível às ações de guerra eletrônica (Com e Não-Com), pois os equipamentos empregados nas comunicações, no COAAe e o próprio radar são facilmente plotados através de suas emissões e tornam-se alvos para as ações de supressão de defesa antiaérea. A mobilidade do radar orgânico utilizado também deve ser anota-
da. O radar SABER M60, concebido e produzido no Brasil, vem se mostrado muito eficiente e é uma ferramenta importante quando no terreno junto à bateria. Contudo, ainda não foi desenvolvida uma versão do radar que possa ser lançada junto à tropa, sendo necessária uma cabeça de ponte aérea já conquistada para reuni-lo à bateria. O fato de um batalhão ou até mesmo uma brigada estar dotada de um míssil IGLA, não os tornam parte de um sistema de artilharia antiaéreo. Os mísseis, neste caso, são usados para autodefesa em caso de ataque. O que difere a Bateria destes grupos de defesa é sua integração dentro de um sistema de defesa antiaéreo complexo que possibilita o emprego planejado e coordenado deste armamento contra um alvo aéreo já designado. Para atuar desta forma no terreno, sem contar com seu radar orgânico, a bateria demanda da utilização de outros equipamentos de comunicação para integrar as seções de tiro ao restante do sistema de defesa antiaéreo. Outros dois fatores limitadores da ação da bateria estão relacionados com as características do próprio míssil. A existência de um alcance mínimo de 500m para engajamento do alvo garante a unidade de tiro 5000m de janela para realizar o disparo. Após este período a aeronave realizará o ataque e mesmo que abatida na sua rota de fuga, já teria garantido o fracasso da defesa antiaérea em coibir o ataque. As condições climáticas são um grande fator limitador para a operação de mísseis IGLA, pois exigem contato visual com o alvo, o que torna o engajamento impossível em condições de baixa visibilidade. O engajamento noturno também era um problema durante a utilização dos 9k38. Com a aquisição dos mísseis Igla-S esta limitação de operação noturna foi eliminada, pois esta versão admite a utilização de luneta de visão noturna, proporcio-
Rafael Sayão
nando ao atirador a correta visada sobre o alvo. Um outro ponto visto como limitador a ação da bateria é a grande demanda por atividades de suprimento quando a Brigada recebe grande quantidade de ataques aéreos e manutenção quase nenhuma. Contudo esta é situação recorrente a qualquer unidade que opere dentro de um contexto de tropa paraquedista, e vem sendo conduzida com eficiência pelo sistema logístico da Brigada. Não obstante, tais lacunas logísticas podem ser dirimidas com o ressuprimento pelo Ar prestado pela própria Seção Logística da Bateria, por meio do lançamento de fardos com mísseis, ou pelo Batalhão de Dobragem, Manutenção de Paraquedas e Suprimento pelo Ar (Batalhão DOMPSA) da Brigada, apoiados pelas aeronaves da Força Aérea Brasileira.
Olhos abertos durante o assalto aeroterrestre
proporções desta movimentação de meios e pessoal deixam a tropa em situação de grande vulnerabilidade, pois o inimigo pode, através de um ataque aéreo, interditar os aeródromos de partida e impedir o envio daquela tropa ao seu destino final. Nestes casos, como a bateria paraquedista está envolvida diretamente em seu próprio embarque, a defesa antiaérea pode ser realizada por elementos da Força Terrestre do Teatro de Operações (FTTO) ou por outra AAAe que não esteja envolvida no Assalto Aeroterrestre. A segunda fase é o movimento aéreo, onde a 21ª Bia AAAe Pqdt encontra-se embarcada e na rota da zona de lançamento. Para que uma seção antiaérea se desloque junto a uma força tarefa paraquedista a bateria necessita de trinta e três militares e quatro fardos que totalizam oito mísseis IGLA.
Nestas situações a defesa da tropa cabe as aeronaves de escolta da Força Aérea Brasileira. A terceira fase é onde temos o assalto propriamente dito. Neste momento é previsto que nas primeiras vagas do escalão de assalto seja lançada pelo menos uma Seção AAAe com efetivo reduzido, ou seja quatro unidades de tiro para prover, desde o primeiro momento, a defesa antiaérea da zona de lançamento. O sistema de armas é lançado com seu ressuprimento mínimo, ou seja, uma unidade de tiro com dois mísseis. O militar salta com o equipamento de comunicações e com o fuzil 7,62mm M964 A1, armamento de dotação da Brigada. Já o míssil é lançado através do sistema de fardo. Com o míssil e o equipamento de comunicações em mãos, o militar tem a possibilidade de obter informações precisas de um
ou mais órgãos do escalão superior, como o órgão de controle das operações aéreas militares (OCOAM), o centro de operações antiaéreas do Exército (COAAe) e até mesmo com o COMDABRA (Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro) da Força Aérea Brasileira. O estabelecimento desta linha de comunicação com órgãos de controle estabelecidos em outros pontos, logo após o assalto aeroterrestre, possibilita a 21ª Bia AAAe Pqdt obter o alerta antecipado que permite o planejamento e ataque do alvo antes mesmo dele ser avistado na cabeça de ponte aérea recém conquistada. Um momento crítico da fase do assalto é a reorganização da tropa. Neste momento a proteção do espaço aéreo garantido pela primeira seção de tiro lançada é fundamental. As demais seções de tiro serão lançadas junto com as forças tarefas que seguirão para o cumprimento de sua missão subsequente, entrando na quarta e última fase no assalto aeroterrestre. Neste momento os militares da bateria acompanharão as colunas garantindo a defesa antiaérea móvel da tropa. Quando a última força tarefa estiver se retirando da zona de lançamento e se deslocando para seu objetivo subsequente, cabe à primeira seção acompanhá-la e garantir sua defesa durante o restante da operação com a certeza de ter garantido a tropa uma aterragem e reorganização seguros. OP
A Bateria empregou recentemente o radar Saber M60 durante a Operação Saci. 21ª Bia AAAe Pqdt
Meio de infiltração mais rápido e eficiente a ser empregado pela tropa paraquedista, o assalto aeroterrestre possui quatro fases distintas que vão desde a montagem da ação até a execução das operações subsequentes. Em boa parte destas, a presença da defesa antiaérea é primordial para o sucesso da operação e segurança da tropa. O início do assalto é conhecido como fase de montagem, momento de reunião das tropas, equipamentos e suprimentos nos pontos de embarque. As grandes
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REPORTAGEM
OP
21ª BATERIA DE ARTILHARIA ANTIAÉREA PARAQUEDISTA
IGLA-S, o MANPAD da 21ª Bia AAAe Pqdt
O vigilante SABER M60
Pensados e desenvolvidos ainda durante o segundo conflito mundial, os MANPDS ganharam força a partir da década de 60. Liderados pelo norte-americano FIM-43 Redeye e seguido pelos SA-7 e HN-5, respectivamente soviético e chinês, estes primeiros modelos ficaram conhecidos como “tail-chase weapons”. Eles engajavam somente uma aeronave e se perdiam facil-
Radar SABER M6) durante a Operação Saci. Rafael Sayão
O SABER M60 é um radar desenvolvido pelo CTEX (Centro Tecnológico do Exército) e totalmente produzido no Brasil. Concebido para integrar o sistema de defesa antiaérea brasileiro, possui capacidade de detecção a baixa altura e permite plotar e acompanhar até 40 alvos simultaneamente de forma automática ou manual. Com um raio de ação de 60 km e teto operacional de 16500ft, é capaz de detectar aviões que estejam voando com velocidade superior a 32 km/h e helicópteros em voo pairado. Suas características garantem ao SABER M60 a posição de equipamento ideal para a proteção de pontos e áreas sensíveis, como indústrias, usinas e instalações governamentais. Podendo ser integrado uma rede de 4 diferentes armas como canhões antiaéreos ou mísseis, é um radar extremamente leve e facilmente montado por 3 soldados que não gastam mais de 15 minutos na missão. Facilmente integrado ao SISDABRA (Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro) e ao COAAe através de um centro de comando e controle instalado em uma viatura leve, conduzido pelos praquedistas, o radar é muito discreto e possui baixíssima assinatura. Complementando a busca e vigilância realizada a baixa altura, o M60 realiza também uma varredura mecânica, através de Rafael Sayão tipo de detecção radar conhecida como pulso-Doppler, que realiza interrogação eletrônica Amigo-Inimigo (IFF), transmitindo em tempo real as informações obtidas e oferecendo a localização e a identificação de cada aeronave plotada classificando-a como amiga ou inimiga. OP 22
Rafael Sayão
mente diante de qualquer fonte térmica, inclusive o Sol. Com o surgimento do Stinger, do FN-6 e do SA-14, uma segunda geração de sistemas portáteis entra em operação, com um significativo aprimoramento na cabeça dos mísseis que permitia a detecção através de raios UV, ignorando o disparo de flares pelas aeronaves engajadas. Comprovado como um eficiente recurso de defesa antiaérea, especialmente contra alvos voando a baixa altitude, o desenvolvimento deste tipo de sistema avançou a passos largos dando origem a equipamentos baseados em guiamento infravermelho. O norte-americano FIM-92 Stinger, o russo IGLA-S, e o Mistral francês são hoje os principais elementos desta terceira geração de MANPADS e facilmente encontrados em países que detém um sistema de defesa antiaéreo. Os estudos dos últimos conflitos apontam a utilização cada vez maior dos sistemas portáteis e desmistificam as teorias de que são armas eficientes somente contra helicópteros. Durante a operação Tempestade no Deserto, um F-16 norte-americano foi derrubado por um 9K34 Strela-3 de produção soviética. Anos depois um MIG-27 e um MIG-21 da Força
Aérea da India foram abatidos pelo disparo de um Anza Mk-II do Exército Paquistanês e cinco anos depois um IGLA 9k-38 foi o responsável pela queda e um Mi-26 russo abatido na Chechênia. Recentemente, no ano de 2008, um sistema PZR Grom polonês abateu um bombardeiro russo Tu-22M durante o embate entre Rússia e Geórgia. Míssil orgânico da 21ª Bateria de Artilharia Antiaérea Paraquedista, o IGLA-S entrou em operação em 2008. Ele é a evolução direta do IGLA 9k-38 que operou no Exército Brasileiro até aproximadamente o fim de 2011. A aquisição dos IGLA-S trouxeram um aumento significativo de possibilidades para a defesa antiaérea brasileira. Com alcance de 6 quilômetros, esta nova versão supre um grade défict de seu antecessor e permir o engajamento de alvos a noite. Os sensores utilizados no IGLA-S também são superiores e permitem a pesquisa de alvos, distinguindo não só a fonte de calor como o perfil do alvo. Estas melhorias garantem uma melhor eficiência contra uma gama considerável de contra-medidas empregadas na atualidade. Sendo considerado o mais letal dos mísseis antiaéreos portáteis produzidos pela Rússia o IGLA-S possui um teto operacional de 11500ft. Embora especialistas questionem este emprego por parte deste armamento, o fabricante do míssel assenca com a possibilidade do engajamento de mísseis de cruzeiro qu estejam operando em velocidades subsônicas. Utilizado por mais de 20 países, o IGLA-S possui o mesmo peso e tamanho de seu antecessor. Seu fácil manuseio e transporte, aliado ao seu elevado nível de letalidade transformaram este MANPAD em uma das maiores ameaças a vários governos. Utilizado em ações de terrorismo, poderia facilmente engajar uma aeronave comercial lotada em rota de aproximação. Recentemente o governo venezuelano comprou 300 mísseis desta versão. OP
COLUNA
OP
FERNANDO MONTENEGRO
A
primeira vez que direcionei minhas atenções ao Complexo do Alemao foi em 1993. Na época era apenas um tenente, integrante do Destacamento de Contra-Terror (DCT) do 1º Batalhão de Forças Especiais (1BFEsp). Apesar de ser carioca da gema, conhecia pouco aquela parte da cidade. O então Ministro do Exército determinou ao comandante daquela tropa de elite que planejasse e executasse a captura do traficante ¨Orlando Jogador¨, que teria um esconderijo num bunker no alto do Morro do Alemão. O Comandante Militar de Área acompanharia os planejamentos e proporcionaria suporte logístico e de inteligência ao 1BFEsp. Orlando Jogador foi o braço direito de Rogério Lengruber, fundador do Comando Vermelho (CV). Atribui-se a ele inúmeras e violentas invasões de favelas pelo CV, com objetivo de tomar pela força pontos de venda de drogas e entorpecentes. A missão destoava das atividades que a Unidade costumava cumprir e apresentava-se como um grande desafio, apesar do alto nível de adestramento em que nos encontrávamos. Não havia praticamente nenhuma informação sobre o local, cúmplices ou sobre o próprio ¨alvo¨. Nosso entendimento naquela época era de que esse tipo de atividade era dos policiais. Naquela fase, o 1BFEsp já mantinha intenso intercâmbio de instruções com o BOPE, que já existia (com outras denominações) desde 1978, embora ainda não tivesse a projeção na mídia que tem hoje. Era uma fase difícil para os segmentos policiais do Estado do Rio de Janeiro, pela forma como o Governo do Estado conduzia a Segurança Pública, principalmente no tocante aos recursos destinados ao treinamento e aparelhamento. Entretanto, as articulações do Comando Vermelho eram muito inferiores às existentes na atualidade. Para manter o sigilo da operação, não poderiam ser solicitadas informações a nenhum órgão de seguranca pública. Ficamos dependendo totalmente dos dados
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Complexo do Alemão... 20 anos atrás obtidos através dos órgãos de inteligência do Exército e aqueles que nós mesmos produzíssemos. Foi iniciada imediatamente a coleta de dados disponíveis e formadas equipes de busca de informações. Um helicóptero civil foi alugado para realização de fotos e filmagens da área de operações e das atividades dos narcotraficantes; informantes foram recrutados por elementos especializados. Ao longo de cerca de dois meses os informes foram processados, e as três equipes operacionais de Forças Especiais iam mantendo seu adestramento enquanto o Estado Maior da Unidade detalhava e ajustava o planejamento. Foi confeccionada uma maquete gigantesca, que mostrava vários detalhes da Serra da Misericórdia, com ênfase no Morro do Alemão. Naquela época nem se imaginava que pudessem existir os teleféricos, e a Linha Amarela era apenas um projeto no papel. O planejamento da operação baseava-se na simplicidade e multiplicação do poder de combate pelo efeito surpresa. Em linhas gerais, uma equipe precursora sairia da pedreira próxima à localidade conhecida como Vacaria vestindo trajes descaracterizados, armados de mini UZIs e HK MP5 KA4 e pistolas. O deslocamento seria realizado usando a cobertura vegetal da serra da Misericórdia. Após ocuparem veladamente duas zonas de pouso de helicóptero, um comboio de viaturas da Polícia Federal, previamente organizado e posicionado dentro das instalações do 1º Batalhão de Forças Especiais (então na estrada do Camboatá, no bairro de Guadalupe), partiria para realizar o cerco terrestre do Morro do Alemão, ocupando pontos estratégicos na Avenida Itararé e Ruas Joaquim de Queiroz e Paranhos. As aeronaves Pantera, do Exército Brasileiro, já estariam no ar com os três destacamentos operacionais de Forças Especiais, sobrevoando
uma área de espera. Havia também mais duas aeronaves, uma com uma equipe de reforço, ou reserva, e uma aeronave equipada para realizar evacuação aeromóvel, no caso de haver feridos. Depois de estabelecido o cerco, seriam realizados pousos de assalto nos locais previamente ocupados pela equipe precursora e os Forças Especiais fariam o assalto e a captura do traficante Orlando Jogador e seus comparsas. As equipes operacionais estariam armadas com HK MP5 SD e pistolas Beretta como back up, além de granadas diversas. Foram realizados intensos treinamentos de tiro, ensaios de procedimentos e memorização de itinerários e fotos dos alvos a serem capturados pelas equipes operacionais. Cabia ao meu destacamento a missão mais importante, de abordagem da fortaleza e captura do Orlando Jogador. Os dois destacamentos operacionais restantes iriam se dirigir a outros aparelhos e capturar integrantes do Comando Vermelho e alvos de oportunidade. As ações ocorreriam à noite, como não poderia deixar de ser. A compartimentação do planejamento e das informações foi um dos pontos altos da operação. Os militares participantes da operação permaneceram em isolamento nos últimos dias, principalmente após passarem a conhecer maiores detalhes sobre os alvos e o lugar. Celulares foram recolhidos, e os policiais federais que iriam realizar o cerco somente souberam qual seria sua atuação algumas horas antes do horário previsto para a execução. Toda operação foi planejada à revelia e sem nenhum conhecimento por parte do Governador do Estado e dos órgãos de segurança pública do Rio de Janeiro. Não sei dizer se a ideia era do Presidente da República, mas, acredito que pelo menos era do conhecimento dele. Após a emissão da ordem de operações pelo Major Chefe da seção de planejamento do
1 BFEsp e exposição de todo o planejamento, o comandante do batalhão ligou-se com o general Comandante Militar de Área para informar que estava tudo pronto e pediu autorização para infiltrar a equipe precursora de Forças Especiais. Escutei depois que o general teria dito que achava que deveria ligar-se antes com o Governador do Estado. Após esse contato, o Governador do Rio teria evidenciado grande irritação e desgosto com a atitude, pois iria caracterizar interferência no seu Governo. Ele teria se ligado diretamente com o Presidente da República e com o Ministro do Exército para tratar o assunto e a participação do Exército foi cancelada em 15 minutos. Apesar da dificuldade da missão, estabeleceu-se uma certa frustração na tropa, pois havíamos treinado e nos preparado por muito tempo para a operação. Os policiais federais partiram sozinhos, no alvorecer do dia seguinte no comboio organizado. Ocuparam as ruas previstas e abordaram o morro do Alemão de baixo para cima. Foram recebidos com faixas de boas vindas e risadas dos moradores. Em 2012 comandei a Força Tarefa Sampaio, uma tropa com cerca de 800 militares com a missão de ocupar todo o Complexo do Alemão por três meses durante a pacificação dos Complexos do Alemão e da Penha. Foi para mim uma grande realização ter, como Coronel, controlado intensamente aquela zona de ação 19 anos depois. Caso tivesse sido desencadeada aquela operação em 1993, talvez o crime organizado não tivesse desenvolvido tantas articulações e, consequentemente, teria tido consequências politicas imprevisíveis. OP Fernando Montenegro é Coronel/R1 do Exército Brasileiro. Forças Especiais ,Comandos e Paraquedista, é especialista em Contraterrorismo. Foi chefe de equipe de instrução no CIGS e comandou o 1º B I Mtz “Regimento Sampaio”.
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TEXTO RAFAEL SAYÃO
M
anter a paz na maior favela da América Latina após a sua reconquista pelas forças públicas. Substituir o Exército Brasileiro na pacificação daquela que já foi considerada uma das comunidades mais violentas do estado. Manter a ordem em um dos maiores estádios do Brasil e diante das torcidas de quatro clubes de vulto nacional. Conduzir em segurança a produção da Casa da Moeda do Brasil por uma das avenidas
urbanas mais movimentadas do país. Patrulhar as ruas da cidade utilizando da versatilidade que só as motocicletas podem oferecer. Enfrentar e dissipar uma multidão que compromete a segurança da população e a ordem pública. Esta gama de atribuições, de características tão diversas, é a realidade do dia-a-dia de uma das unidades mais polivalentes da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, o Batalhão de Policiamento de Choque – BPCHq.
Os GTAR complementam o policiamento ostensivo realizado por outras unidades policiais em áreas estratégicas. Rafael Sayão
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Oriundo do Pelotão Motorizado, criado em 13 de Fevereiro de 1941 e sediado entre os quartéis do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM), no bairro do Estácio, e o 4º BPM (Praça da Harmonia), o BPCHq só foi designado como batalhão a partir da necessidade de execução do Decreto-Lei nº 92, de 06 de maio de 1975, que previa que o Comandante-Geral da recém formada Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro teria como força de reação, no mínimo, um batalhão de polícia dechoque a ser empregado em missões de contraguerrilha urbana, rural e em outras missões de policiamento. A partir de 03 de fevereiro de 1977, o então Regimento de Choque transformou-se no Batalhão de Policiamento de Choque que conhecemos até hoje. Atualmente o Batalhão ocupa as históricas dependências do Regimento Marechal Caetano de Faria (RMCF), localizado no bairro da Cidade Nova, próximo ao centro do Rio de Janeiro. Construído em 1906 e inaugurado por Hermes da Fonseca em 1913, o complexo arquitetônico que abriga o BPCHq
já foi sede do comando geral da Polícia Militar e utilizado como prisão durante a contra revolução na década de 1970. Tombado pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro em 2004, o complexo e seu entorno são considerados Patrimônio Histórico e Cultural do Estado. Detentor de um efetivo de 1298 policiais militares e possuidor de uma polivalência tática única, o Batalhão é hoje uma peça fundamental para o combate ao crime organizado no estado do Rio de Janeiro. Uma rápida leitura dos jornais e revistas do estado são suficientes para perceber a presença dos polícias do BPCHq nos principais teatros de operações estabelecidos pela Secretaria de Segurança Pública (SSP). Para executar as missões que lhe são delegadas, o batalhão possui quatro companhias de patrulhamento tático motorizado, cada uma composta de oito grupos táticos de ações rápidas (GTAR); um grupamento tático de motociclistas (GTM); uma companhia de controle de multidões (UCM); e um grupamento de policiamento em estádios (GEPE);
e realizar as ações de polícia previstas, as tropas utilizam escudos e capacetes anti-tumulto; bastões policiais; munições de impacto controlado, munições explosivas e de emissão lacrimogênea; e viaturas blindadas, de remoção de obstáculos e de canhão d’água.
Grupamento Especial de Policiamento em Estádios
Os GTM incorporam os conceitos de grupo tático ao motopatrulhamento tradicional. Carlos Filipe Operti
Grupo Tático de Ações Rápidas
Os GTAR tem como missão principal complementar o policiamento ostensivo já realizado por outras unidades policiais em locais estratégicos para a corporação e onde os índices de criminalidade são mais evidentes, agindo em dias, horários e locais previamente planejados. Composto por oito militares, cada grupo tático é dividido em duas viaturas do tipo caminhonete, onde levam consigo munições letais e menos-letais, escudos, coletes balísticos e equipamentos anti-tumulto como tonfa (o popularmente conhecido cassetete), gás lacrimogêneo e granadas de luz e som. Os GTAR utilizam-se da doutrina básica de patrulhamento tático motorizado agregando a estes os conceitos de “Choque Rápido”, que impõe eficiência, versatilidade e agilidade no cumprimento das missões.
Grupamento Tático de Motociclistas
Responsável pelo motopatrulhamento tático e pelas missões de escolta, os GTM incorporam os conceitos de grupo tático ao motopatrulhamento tradicional. Em um cenário onde é cada vez mais comum a utilização das motocicletas pelo crime organizado,
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o GTM utiliza a versatilidade, velocidade e manobrabilidade das motos no combate ao crime nas ruas do estado. Atuando de forma isolada ou em conjunto com os GTAR, as guarnições do GTM são compostas por três motocicletas sendo uma delas equipada com equipamentos com menor potencial de letalidade. Também responsável pelas escoltas de valores e autoridades, o GTM possui uma companhia de escolta que planeja e executa as missões desta natureza. Seja garantindo a segurança da produção da Casa da Moeda, conduzindo uma autoridade ou transportando um preso, as missões de escolta realizadas pelo BPCHq atingiram um nível elevado de proficiência que garante a unidade o status de estar entre os melhores neste tipo de missão no país.
Companhia de Controle de Multidões
As UCM são as responsáveis por uma das principais atividades do batalhão: o controle de multidões e reestabelecimento da ordem pública. Entre as diversas missões que podem ser enquadradas nestes dois pilares temos a interdição de uma área urbana ou rural, prevenindo a ação de grupos de manifestantes; restabelecer a ordem pública em situações de
vandalismo; a evacuação de uma área urbana ou rural já ocupada por manifestantes; a desobstrução das vias de circulação; e a garantia da integridade do patrimônio público. Organizadas por entidades de classe ou até mesmo através de redes sociais, as manifestações de protesto público são cada vez mais frequentes, demandando um maior preparo e aparelhamento das unidades de choque. Os distúrbios geralmente são formados por um grupo de pessoas em uma situação de desobediência a ordem pública contra autoridades do poder constituído e pode rapidamente dar origem a uma violenta turba, uma multidão em completo estado de desordem e agitação que muitas vezes torna-se agressiva e predatória. Contra estas ameaças, para impor uma ação vigorosa, a fim de dispersar a turba
A violência nos estádios já foi um problema grave no Rio de Janeiro e geralmente cada grande clássico carioca era acompanhado da vitimização de algum torcedor. A situação chegou a níveis preocupantes e levou a Polícia Militar do Rio de Janeiro a criar, em 1991, o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios – GEPE, concebido para atuar somente nas dependências do complexo do Maracanã. O bom trabalho realizado parece não ter convencido a então Secretária de Segurança Pública, que extinguiu o grupamento em 1995. Sem a presença do GEPE nos grandes estádios a situação da violência voltou a ganhar proporções alarmantes e levou a opinião pública a questionar com veemência os motivos que levaram a extinção do grupamento e forçando a reativação da subunidade em 1999. Com efetivo de 400 homens, o GEPE ocupa provisoriamente as
Militar testa nas ruas da Rocinha, o novo uniforme “azul noite” que será utilizado pelo BPChoq . Carlos Filipe Operti
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REPORTAGEM
OP
BATALHÃO DE POLICIAMENTO DE CHOQUE DA PMERJ cial Criminal que funciona no complexo, as ocorrências são rapidamente observadas e processadas, garantindo eficiência na ação.
Um treinamento de choque
Para fazer parte das fileiras do Batalhão de Policiamento de Choque, o policial militar precisa passar por um extenso processo seletivo comum a todos os candidatos, e processos específicos de acordo com o curso que será realizado. De forma geral o candidato precisa ser voluntário, não estar respondendo a processo administrativo ou judicial, possuir ficha disciplinar sem anotações e ser aprovado em rigorosos testes físico, médico e psicoPolicial do GEPE acompanha a movimentação lógico. Atualmente o BPChq dos torcedores no Centro de Monitoramento do possui quatro cursos de Estádio Olímpico João Havelange. Rafael Sayão formação para seus militares. O Curso de Ações Táticas em instalações do extinto Batalhão Motopatrulhamento (CATEM) tem Ferroviário, em Deodoro, e é o por objetivo formar cabos e solresponsável pelo policiamento dados da PMERJ em técnicas de nas áreas internas e externas dos motopatrulhamento tático. Com estádios do estado. O clima de duração de 45 dias, são trabalhatranquilidade que fez com que as das técnicas de pilotagem, técnifamílias retornassem aos campos cas de abordagem, manutenção de futebol no estado do Rio de básica de motocicletas, entre Janeiro é fruto de um trabalho outras. Também com duração técnico e altamente qualificado de 45 dias, o Curso de Controle realizado pelo efetivo do GEPE. de Distúrbios Civis (CCDC) forma Ao acompanharmos o trabalho soldados e cabos para atuar no no estádio João Havelange, conscontrole de multidões e restabetatamos que ele é baseado na lecimento da ordem pública. experiência adquirida e em planeExistem também outros dois jamentos precisos que garantem curso, com o dobro de duração e a segurança das delegações e das voltado para oficiais e sargentos. torcidas em seus deslocamentos, O Curso de Formação de Motoda população ao entrar e sair ciclistas de Escoltas e Segurança dos estádios e até mesmo dos (CFOMES) prepara o militar para árbitros que são “escoltados” ao o planejamento e execução de saírem do gramado. As atividades escoltas de pessoas e materiais. do grupamento começam muito Oferecendo as mesmas discipliantes do início da partida e só nas do CATEM, tem acrescido em terminam horas depois. Durante seu currículo planejamento de o jogo militares se posicionam escoltas, técnicas especiais de em locais estratégicos e nenhuma pilotagem, retomada e frenagem movimentação passa despercebiem alta velocidade e segurança da. Da sala de controle do estádio, de autoridades. A fim de formar um militar do GEPE vasculha com os líderes das tropas e forças de as câmeras cada metro das arquichoque, existe o Curso de Operabancadas, transmitindo via rádio ções de Policia de Choque (COPC) para os policiais junto à torcida que oferece as mesmas disciplias informações necessárias sobre nas do CCDC, porém acrescidas cada ocorrência. Em um trabalho de disciplinas que foquem na de parceria com o Juizado Espeatuação do líder como planeja26
mento de operações, explosivos, técnicas de intervenção prisional e operações de choque em ambientes especiais (estações de trens, metrô e barcas). Com o aumento das solicitações para atuação do batalhão em ações de patrulhamento urbano empregando os GTAR, a unidade está em fase final de criação do Curso Tático de Patrulhamento Urbano (CTPU), que formará soldados, cabos e sargentos em técnicas especiais de patrulhamento urbano.
A modernização a serviço da tradicão
Recentemente o BPChoq começou a passar por uma grande modernização e reaparelhamento. Projetos de aquisição de novas motos e viaturas blindadas estão em curso e novos equipamentos menos-letais e de proteção individual foram adquiridos recentemente. Detentor da maior reserva de armamentos da Polícia Militar,
o batalhão possui um inventário variado de armamentos. Além da pistola Taurus PT-100 .40, do fuzil MD97LM 5,56 produzido pela Imbel e da Carabina Colt M4 5,56, equipamentos de dotação da PMERJ, o BPChoq utiliza a pistola Taurus PT-840 .40, o fuzil Imbel MD2 5,56, os tradicionais fuzis 7,62 M964 (FAL) e M964A1 (PARAFAL), a carabina Taurus CT 40, a espingarda PUMP CBC 12, os multilançadores da Condor AM600 cal. 37/38mm e AM-640 cal. 40mm, a carabina de ar comprimido FN-303, a pistola de pulso eletromagnético TASER, além de granadas explosivas in e outdoor (efeito moral, luz e som, sinalização, pimenta e CS), granadas de emissão de agente lacrimogêneo, munições de impacto controlado (borracha e espuma) e espargidores de agente lacrimogêneo (CS). Para oferecer mobilidade à tropa o Batalhão de Choque conta com uma gama bem variada de viaturas. As motocicletas Yamaha
O Batalhão de Choque foi o responsável pela ocupação da Rocinha antes da implantação da Unidade de Polícia Pacificadora em setembro de 2012 . Rafael Sayão
Spotter em campo
A Policiais do Choque treinam entradas táticas nas dependências do Batalhão. Carlos Filipe Operti
XT660, Yahama XJ6 e Harley Davidson Police Road King de 1200cc dão agilidade e versatilidade aos deslocamentos do batalhão. As pick-ups 4X4 Nissam Frontier e Amarok são essenciais nas atividades dos GTAR, assim como as GM Blazer, Renault Logan, Fiat Ducato (transporte de tropa) e caminhões Mercedes Benz garantem a logística das atividades. A viatura blindada do tipo COTAR, conhecida no Rio de Janeiro como “caveirão”, garante o deslocamento da tropa em área sensíveis e deverá ser substituída em breve por um modelo mais moderno e adequado ao terreno onde é empregado. Diante dos grandes eventos que se aproximam e do novo cenário que se instala na segurança pública do estado do Rio de Janeiro, a demanda por uma polícia cada vez mais atuante e moderna vem aumentando. Dentro desse contexto o Batalhão de Policiamento de Choque tem recebido atenção especial, como demonstra o planejamento para modernização da unidade como um todo, em preparação para 2014 e 2016, e que já se reflete no trabalho realizado na favela da Rocinha e no complexo do Alemão. Os próximos anos com certeza verão o Batalhão de Policiamento de Choque mais capaz e com maior proeminência na segurança pública do estado. OP
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pontado como responsável por levar a paz para o interior dos estádios do Rio de Janeiro, o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios, comadandado pelo Tenente Coronel João Fiorentini, vem conseguindo que as partidadas de futebol realizadas no Rio de Janeiro sejam sempre revestidas de tranquilidade. Como futura sede da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016, cresce a demanda da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro por aprimorar as técnicas de controle de multidões e buscar, junto a países igualmente experientes neste tipo de ação, a troca de experiências e informações que agreguem ainda mais capacidade ao planejamento. À frente deste processo está o Escritório de Assuntos Estratégicos para a Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos 2016 (ECO), chefiado pelo Tenente Coronel Edison Duarte dos Santos Junior. Foi este escritório que recentemente idealizou e realizou um importante evento envolvendo autoridades policiais brasileiras e argentinas.
Com o apoio do Cônsul Raul Ailan, do Consulado Geral da Argentina no Rio de Janeiro, dois integrantes do Cômite Provincial de Segurança (COPROCEDE) de Buenos Aires estiveram no estado durante a realização de dois jogos entre times do Rio de Janeiro e da Argentina pela Copa Libertadores 2012. Além de estreitar os laços profissionais e proporcionarem uma pertinente troca de experiências, o Comissário Maior Ruben Perez e o Comissário Inspetor Alejandro Spinedi, puderam conhecer o Estadio Olímpico João Havelagne (Engenhão) e ficaram positivamente impressionados com o trabalho realizado pelo GEPE. O encontro serviu também para aplicar de forma pioneira no Brasil a estratégia de utilização de Spotters em eventos desportivos, prática muito comum na Europa. Como observadores treinados, os policiais na função de spotter utilizam os uniformes de suas respectivas polícias e, posicionados em locais de acesso do público, são facilmente identificados pelos torcedores oriundos de seu país. Além de intimidar os mais exaltados, que seriam facilmente reconhecidos, os spotters simbolizam para os torcedores mais pacíficos a
Tenente Coronel João Fiorentini, do GEPE; Tenente Coronel Edison Duarte dos Santos Junior, do ECO; e integrantes do Cômite Provincial de Segurança de Buenos Aires. Rafael Sayão
certeza de que ali está um policial que compreende suas diferenças culturais e linguísticas. A Revista Operacional foi convidada para acompanhar a visita da delegação argentina e sua atuação como spotter durante o jogo Fluminense e Boca Juniors, realizado no Engenhão. Os policiais portenhos posicionados na entrada dos torcedores do Boca eram rapidamente reconhecidos e inclusive tiravam fotos com seus compatriotas. Durante o jogo os policiais fizeram questão de estar próximos aos torcedores argentinos durante a partida e observar atentamente a conduta do grupo. Policiais do GEPE detiveram um torcedor argentino que fazia uso de entorpecentes no estádio e imediatamente os demais torcedores se aproximaram dos policiais argentinos para que estes apoiassem nas formas da lei o torcedor detido. A atividade diplomática estava sendo exercida pelos operadores de segurança pública no próprio estádio. Além de atuarem como spotters, os policias argentinos conheceram o modus operandi da PMERJ no policiamento de cada ponto e momento do jogo; visitaram o centro de emergências médicas do estádio, onde conversaram com médicos e socorristas; e ficaram muito impressionados com o centro de controle e monitoramento do Engenhão. Um mês após, a PMERJ enviou três oficiais brasileiros para acompanharem clubes cariocas e conhecerem o trabalho do COPROCEDE na cidade de Lanus, na Argentina. Com planejamento inteligente e adoção de práticas de sucesso no exterior, o ECO vem trabalhando para preparar com eficiência, em níveis táticos, doutrinários e operacionais, a Polícia Militar para receber os grandes eventos esportivos que se aproximam. OP
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REPORTAGEM
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BATALHÃO DE POLICIAMENTO DE CHOQUE DA PMERJ
SOLDADO UNIVERSAL ARTE RAFAEL SAYÃO
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Batalhão de Políciamento de Choque, com o objetivo de melhor atender sua demanda operacional, adquiriu novos e modernos equipamentos de proteção individual . Batizada pela tropa de “soldado universal” e muito semelhante ao modelo usado na França e na Inglaterra, a nova roupa de controle de distúrbios urbanos apresenta o que há de mais moderno no mercado. As UCM são as responsáveis por uma das principais atividades do batalhão: o controle de multidões e reestabelecimento da ordem pública. Contra estas ameaças as tropas, além do equipamento de proteção individual, utiliza munições de impacto controlado, munições explosivas e de emissão lacrimogênea; viaturas blindadas, de remoção de obstáculos e de canhão d’água.
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Capacete O capacete é confeccionado em material de acetato-bute-estireno (ABS) que proporciona proteção integral ao crânio, alta resistência à penetração de objetos pontiagudos e alta capacidade de absorção de energia ao sofrer impactos. Possui uma Resistência à tração de (CC) 520 kg/cm. A viseira confeccionada em chapa de policarbonato permite ao policial utilizar a máscara de gás . A cor azul ajuda a identificar o militar no meio da turba.
Proteção do tronco e ombros Colete anti-trauma para ser usada em operações de controle de distúrbios civis. Protege o tronco e os ombros contra pancadas e objetos arremessados, absorvendo o impacto, diminuindo os danos à integridade física e possibilitando a permanência do militar em atividade. É leve e resistente e não interfere na mobilidade. É composto de material termoplástico polietileno de alta densidade injetado, com capacidade de absorção de energia ao sofrer impactos.
Escudo Protetor de cotovelo e antebraço Composto de uma peça de material termoplástico, almofadado com espuma de borracha e pesando aproximadamente 500gramas. É forrado internamente com tecido antitranspirante, bactericida e antimicrobial, sendo capaz de absorver a transpiração e proporcionar a refrigeração do corpo.
Tonfa O bastão é liso e formado por uma haste com 580 mm de comprimento e 32 mm de diâmetro. Pesa aproximadamente 600 gramas.
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Composto de duas peças; a principal, que é formada pelo escudo propriamente dito, composto pela placa frontal, e a secundária, que é composta pela placa interna, que tem por objetivo uma alta absorção e dissipação da energia. Incolor, permite que o militar visualize a área a sua frente.
Protetor pélvico, de cintura e coxas Composto de placa frontal em polietileno de alta densidade injetado. Todo o conjunto pesa aproximadamente 1000 gramas.
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O Pelotão Águia do 1º BG e a função de escolta com motocicletas. TEXTO CARLOS FILIPE OPERTI
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uem mora nas grandes metrópoles brasileiras já deve ter se deparado com a cena: um grupo de motos Harley-Davidson, com o som característico de seus motores, abrindo caminho pelo trânsito, bloqueando vias por alguns instantes e fazendo muito barulho com suas sirenes; normalmente acompanhados de um comboio, seja de veículos militares ou de autoridades. Imediatamente, ao presenciar a ação, vêm à cabeça o pensamento: é a PE (Polícia do Exército). Porém, muitos desconhecem que essas motos podem ter diversas origens entre a Marinha, o Exército e a Aeronáutica. No Exército a função de escolta com motocicletas (batedores) é dividida entre a PE, com seus diversos batalhões espalhados pelo país, e o 1º Batalhão de Guardas, localizado na cidade do Rio de Janeiro. Situado no bairro de São Cristóvão, o 1º BG é tropa de pronto emprego do Comando Militar do Leste e, atualmente, é referência na atividade de escolta militar sobre duas rodas.
As pioneiras e o desenvolvimento
Nos termos militares, batedor é aquele que bate o terreno, que
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se desloca à frente para reconhecer e fornecer segurança. Até então realizada a pé ou com o emprego de cavalos, foi somente em meados da metade do século XX, principalmente O Pelotão Águia conta com 20 a partir da Segunda Harley Davidson Road King de Guerra Mundial, que 1690 cilindradas. Carlos Filipe Operti essa missão passou a ser executada então denominado Batalhão de por motocicletas. Desde então o Guardas. A essa época o BG tinha termo também é utilizado para o entre suas atribuições a função de motociclista que realiza a escolta patrulhamento urbano, e para tal de comboios e autoridades. passou a empregar as motocicleAs primeiras motocicletas tas artilhadas. do Exército chegaram ao país A partir dessa época as motos em 1945, depois de terem sido passaram também a ser utilizadas usadas pela Força Expedicionápara missões de escolta de comria Brasileira na campanha da boios militares e de autoridades Itália durante a Segunda Guerra (civis e militares), porém sem uma Mundial. Com utilização ainda definição clara de necessidades, incipiente e sem uma doutrina atribuições e organização da formada para a operação das atividade. No próprio Exército mesmas, as duas Harley-Davidson ainda não havia uma mentalidade modelo WLA 42 eram da dotação para a operação de motocicletas da recém-criada Polícia do Exérciem escoltas de maneira regular. O to e assim permaneceram após o emprego delas era esporádico e retorno da tropa ao Brasil. Elas se passava pela disponibilidade dos mantiveram as únicas até o final meios. Não havia planejamento da década de 40, quando o Exérprioritário para a manutenção das cito Brasileiro efetuou a compra motos que, por serem importade novas motocicletas Harley-Dadas, sofriam com todos os óbices vidson, equipadas com “sidecar” e que esse status representava metralhadoras, entregando-as ao
até o final do século passado, e dependia-se muitas vezes de ações individuais para que houvesse motocicletas em condições de cumprir as atividades. Todavia, ainda que lentamente, esse quadro foi aos poucos se modificando. Ao longo das décadas novas motocicletas foram sendo adquiridas (sempre da marca Harley-Davidson, eventualmente testando-se outras marcas, porém sem que elas demonstrassem condições de substituir as “Harleys”) e a atividade foi naturalmente se desenvolvendo. Entretanto, foi apenas no início da década de 90 que houve o primeiro salto no reconhecimento da motocicleta como ferramenta de grande valia. Em 1992 o Rio de Janeiro sediou a ECO92, evento internacional para a discussão sobre o meio
ambiente. Como peça chave do esquema que garantiria a segurança de mais de uma centena de chefes de Estado, além de autoridades nacionais e internacionais diversas, o Exército viu que precisaria incrementar a atividade de escolta para permitir o trânsito rápido e seguro pela cidade dos signatários sob sua responsabilidade. Em função disso foram adquiridas mais motocicletas da marca americana e mais atenção foi dada à operação delas dentro do dispositivo montado para o evento. O já então denominado 1º Batalhão de Guardas recebeu parte dessas novas motos e teve atuação proeminente no desempenho das funções de escolta durante a ECO92.
O Pelotão Águia
Entretanto, foi apenas com o início do planejamento para os Jogos Mundiais Militares, ocorridos em Julho de 2011, que houve uma mudança de paradigma na percepção do Exército Brasileiro sobre a importância das moto-
O cerra-fila é responsável por evitar infiltrações pela retaguarda do comboio. Carlos Filipe Operti
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cicletas na atividade de escolta. Novamente a necessidade de prover a segurança do deslocamento de grande número de autoridades foi a mola condutora dessa renovação de pensamento. Com o dinheiro dos Jogos foram adquiridas novas motocicletas, distribuídas entre o 1º Batalhão de Polícia do Exército (RJ), a Companhia de Polícia da 4ª Região Militar (Belo Horizonte) e o 1º BG. Dentro desse contexto o pelotão de motocicletas do 1º Batalhão de Guardas foi remodelado, em 2010, passando a ser denominado Pelotão Águia, com estrutura para dar suporte dedicado às motocicletas e motociclistas da unidade. Atualmente o Pelotão Águia conta com 20 motocicletas Harley-Davidson do modelo FLHP Road King Police ano 2010 com motor de 1690 cilindradas, dois cilindros em V, refrigerado a ar e com injeção eletrônica. No prédio destinado ao pelotão, além de uma sala administrativa e uma sala de instrução, existe uma garagem com capacidade
para até 25 motos, uma oficina com dois elevadores e um box de lavagem. Essa estrutura de manutenção, existente desde 2010, foi montada pela própria Harley-Davidson de acordo com os padrões de qualidade que a marca estipula para suas instalações. Além disso, o pelotão possui mecânicos treinados pela universidade da Harley-Davidson em Milwaulkee, nos EUA, e na escola da fabricante em São Paulo. O que não pode ser resolvido no próprio 1º BG é enviado para a assistência técnica da empresa no Brasil, de maneira que o índice de disponibilidade das motos hoje em dia é satisfatório. A responsabilidade de comandar o Pelotão Águia é de um 1º Tenente, e o restante do seu quadro de pessoal é formado por um 2º Tenente (subcomandante), um 1º Sargento,
um 3º Sargento, dois Cabos e 12 soldados. Todos são motociclistas e, além destes, os militares do Batalhão habilitados na função de batedor, mas que estejam desempenhando outras funções dentro da unidade, também tomam parte das missões de escolta com motocicleta, garantindo que haja uma massa crítica de homens em condições operacionais para atuar caso seja necessário. O Pelotão possui ainda 10 motos Honda XRE-300 que são utilizadas no curso de motociclista militar e no de motociclista militar de combate.
Escolta com batedor
A missão do batedor é, em síntese, uma só: o comboio não pode parar. Ao contrário do que pode parecer para muitos, não é dele a responsabilidade pela segurança aproximada e ostensiva dos “escoltados”. Em último caso, em uma emergência, o batedor pode fazer a abordagem inicial da ameaça utilizando a 31
REPORTAGEM
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GRANADEIROS SOBRE RODAS
Carlos Filipe Operti
arma individual, que no 1º BG é a indicado. Há ainda os aspectos pistola 9 mm, Beretta ou IMBEL, logísticos: o uniforme da equipe, contribuindo para a evasão do que varia de acordo com a imporcomboio. Em situações normais, tância e o tipo da escolta; pontos é responsabilidade da escolta de reabastecimento, dependendo manter o eixo de deslocamento da missão; pontos de reunião em livre para a passagem do comcaso de emergência; quantidade boio, permitindo velocidade de motocicletas necessárias (o constante (o que é considerado Pelotão Águia emprega normalaspecto obrigatório). Isso se dá mente oito ou nove motos em com o controle e a desobstrução missões consideradas normais). do trânsito à frente e ao redor Há também o estudo da veloda comitiva, bloqueando vias e cidade mais adequada para o cruzamentos, de maneira que comboio nos principais pontos nenhum automóvel ou pedestre do trajeto. Por fim, é extremacruze na frente do grupo, e recha- mente importante a definição dos çando a aproximação excessiva procedimentos de coordenação dos demais veículos. e controle e a distribuição das Para que isso seja cumprido a funções dentro da equipe. contento, é necessário um plaA descrição das funções de cada nejamento prévio apurado. A elemento da célula de escolta segurança é o principal fator a ser nos permite compreender com considerado, e influencia todos mais precisão a dinâmica dos os outros aspectos. A rota traçamovimentos realizados, que não da deve levar em conta os locais são aleatórios. O comandante por onde se vai passar, com cuidado especial para identificar pontos críticos (como regiões violentas, com trânsito conhecidamente perigoso, etc); se há rotas alternativas para o caso de engarrafamentos ou emergências, e se essas alternativas são seguras. Um ponto importante na escolha do itinerário é o cuidado com as características do caminho: deve-se evitar ao máximo passar por túneis e por vias que não possuam opções de Uma WLA 42 lidera o Pelotão Águia no desfile de Sete de saída. Por isso nem sempre Setembro. Carlos Filipe Operti o menor caminho é o mais 32
Carlos Filipe Operti
da escolta é o responsável por planejar, realizar o reconhecimento do trajeto, executar e fiscalizar todas as fases da escolta, cabendo também a ele tomar as decisões que sejam necessárias durante o andamento da missão e ficar em contato com o comandante do comboio. Ele ocupa uma posição de ala, e deve estar apto a assumir qualquer função; o regulador trafega sempre à frente do comboio, e dita o ritmo de deslocamento do mesmo, mantendo as velocidades pré-determinadas no planejamento. Ele também controla o tempo de deslocamento, precisa dominar os detalhes do trajeto e verifica a fluência do trânsito; os pontas são aqueles que vão à frente do comboio para proporcionar trânsito livre, bloqueando ruas, cruzamentos e agulhas e controlando o tráfego. Essa função requer muita atenção
do batedor, pois ele precisa agir de modo a não colocar em risco a segurança do comboio e dos carros e pedestres que estejam no caminho. A liberação do tráfego só é feita após a passagem do último veículo do comboio, quando então o batedor utiliza toda a capacidade de aceleração da moto para ultrapassar o comboio e novamente bloquear outra via (manobra chamada de recuperação). Para dar conta de fazer os bloqueios no tempo correto há um revezamento entre os pontas, sempre que uma parte deles está bloqueando uma via, a outra parte está recuperando para fazer o bloqueio à frente; os alas deslocam-se pelas laterais do comboio para evitar que outros veículos cruzem, se aproximem ou se infiltrem no mesmo, além de atentar para a distância entre as viaturas; e o cerra-fila permanece sempre à retaguarda do comboio, para marcar o seu final e também manter a integridade dele, evitando infiltrações. Nessa função o batedor fica constantemente trocando de faixa, e geralmente é um mecânico encarregado de prestar socorro a alguma moto que tenha problemas. Para comunicar-se entre si a equipe utiliza gestos pré-determinados com as mãos e braços, que podem significar comandos para manobras ou mesmo aviso de obstáculos e trânsito à frente. São cerca
de 10 gestos padronizados. Em alguns casos é possível também utilizar o auto falante da própria moto. Mas nem tudo são flores nas atividades dos batedores. Principalmente no Rio de Janeiro, é preciso lidar com o desrespeito às leis de trânsito e aos comandos e solicitações do motociclista, sem contar com a desatenção crônica de muitos motoristas. Na Cidade Maravilhosa o cuidado precisa ser redobrado, e às vezes é preciso insistir muito para conseguir bloquear uma via, um acesso ou um cruzamento. Além disso, buracos, obstáculos (como tachões que dividem faixas e bueiros desnivelados) e pistas molhadas tornam a condução um desafio, levando-se em conta o perfil de direção que eles precisam empreender. E mesmo assim acidentes ocorrem. Não raro é necessário lidar também com desacatos e xingamentos proferidos por cidadãos insatisfeitos. É uma tarefa desgastante, principalmente para os pontas. Porém, há os momentos de compensação em que, por exemplo, o destino de uma ou mais pessoas pode estar na mão deles, quando uma ambulância ou carro dos Bombeiros cruza o caminho dos batedores voltando de uma missão, e estes não se furtam em abrir espaço para auxiliar na emergência.
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Formando motociclistas militares e motociclistas militares de combate
Para suprir o seu quadro de batedores o 1º Batalhão de Guardas realiza anualmente o Estágio de Adaptação a Motociclista Militar para oficiais e praças, inclusive para militares da Polícia Militar do Rio de Janeiro e representantes da Polícia Rodoviária Federal e da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. O curso tem 10 semanas de duração, e começa com instrução teórica e prática de mecânica e técnicas de pilotagem, com as motos Honda XRE-300 e Harley-Davidson Road King. A parte inicial é realizada dentro do quartel do 1º BG, que possui amplo espaço para o aprendizado, onde os alunos aperfeiçoam o controle e a condução da moto antes de irem para a rua. Somente após a adaptação completa eles seguem para a prática no trânsito, com diferentes níveis de dificuldade, culminando na realização das chamadas escoltas-escola para adquirir experiência e avaliação do que foi apreendido. Durante esse período também são ensinadas lições básicas de primeiros socorros para acidentes com motos, Rafael Sayão direção defensiva, técnicas de escol-
operação exige a utilização da moto sempre com dois homens, e o curso permite que os alunos sejam capazes de realizar motopatrulhamento em áreas de difícil acesso, tiro embarcado e durante deslocamento, abordagem policial, pilotagem on-road e off-road, além de técnicas básicas de pilotagem e manutenção, primeiros socorros e regras de trânsito. A doutrina também preconiza a atuação em duplas de motos, totalizando quatro homens por fração, com os garupas Rafael Sayão sempre armados de fuzil ta, perseguição e abordagem com ou escopeta. O curso é ministrado motos. nas instalações do 1º BG, na favela A instrução inteira se fundaTavares Bastos, na Zona Sul do Rio menta na segurança, pessoal e do de Janeiro (onde está localizada a grupo, nos princípios da pilotasede do BOPE, Batalhão de Opegem segura e no trabalho em rações Especiais da PMERJ), na equipe. Um aspecto importante, favela-escola montada no campo indispensável para o alcance dos de instrução de Gericinó, (na objetivos anteriores, é o aprenZona Oeste) e nas próprias favelas dizado da legislação de trânsito. então ocupadas. Pelas características das missões Apesar de ministrar o curso, o de escolta, onde o batedor às 1º BG não atua operacionalmente vezes precisa adotar um perfil nesse tipo de missão, que é cumarrojado de direção e está sempre prida por unidades de cavalaria, bloqueando vias e bloqueando/ de infantaria paraquedista e de redirecionando o tráfego local, é infantaria leve. As 10 motos Honfundamental o conhecimento das da modelo XRE-300, tipo trail, são leis e regras, pois ele acaba atuan- iguais às utilizadas no combate, e do como um agente de trânsito, foram escolhidas pela facilidade com todas as responsabilidades de pilotagem e transporte, maneque vêm a reboque. abilidade, peso, cilindrada e baixo Além do curso de batedor, no custo, com a manutenção sendo Pelotão Águia também são forfeita no próprio batalhão. Elas mados os motociclistas militares possuem motor de 291 cilindrade combate da Força Terrestre. das tipo DOHC, monocilíndrico, A necessidade surgiu quando o quatro tempos, arrefecido a ar e Exército iniciou a ocupação dos com injeção eletrônica. complexos de favelas da Penha Para os próximos anos há a e do Alemão, no Rio de Janeiro, certeza de que a atividade vai onde as características do terreno crescer, principalmente com a impunham muitas dificuldades aproximação dos grandes even(em alguns casos inviabilizavam) tos que marcarão essa década à utilização de viaturas de quano país e, principalmente, no Rio tro rodas. Na ocasião o 1º BG era de Janeiro. A Copa do Mundo de a unidade que apresentava as 2014 e as Olimpíadas de 2016 já melhores condições técnicas e de estão demandando planejamenmaterial para preparar, em curto to (e investimento) por parte do espaço de tempo, um curso para governo no que diz respeito à formar militares especializados escolta de autoridades, e o 1º Banessa missão. Um ponto a favor talhão de Guardas, como unidade foi o fato de possuir homens com de vanguarda, será ainda mais o curso de motopatrulhamento exigido em suas capacidades, do Batalhão de Choque da PMERJ. que foram testadas (e aprovadas) A doutrina para esse tipo de recentemente na Rio+20. OP 33
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As motocicletas na Rio+20 TEXTO RAFAEL SAYÃO Exatamente 188.455 quilômetros! Este número que impressiona por sua grandeza representa a soma do deslocamento total das motocicletas empregadas no elemento mais sensível de todo o esquema de segurança da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável: a escolta de autoridades. A missão de conduzir em segurança e com rapidez os principais players do encontro demandou uma coordenação complexa e precisa atribuída ao 1º Batalhão de Guardas, unidade de referência do Exército Brasileiro no emprego de motocicletas para fins militares.
Batedores da PRF aguardam seu comboio no Riocentro. Rafael Sayão
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No comando das 458 motos empregadas na operação estava um vibrante batedor, o Cel Alfredo de Andrade Bottino, comandante do 1º BG. Há exatos vinte anos atrás, o então tenente, atuou como batedor durante a Eco 92 e agora tem a oportunidade de reviver esta experiência. - Me sinto orgulho por ter participado da Eco 92 como tenente e, agora, comandar uma ação tão importante como essa. Na Eco 92 circulavam menos veículos pela cidade, o trabalho era menor, mas agora podemos ter as mudanças no roteiro das autoridades para visitarem os morros cariocas,
Imagem aérea da maior concentração de motociclistas militares da história do país. Rafael Sayão
que são muitos mais do que na época. Quando nem se pensava em UPPs, tive um trabalho danado para convencer uma autoridade a não visitar a Rocinha para garantir sua segurança e a da população que vive lá. Na fase de planejamento da operação houve uma grande troca de experiências entre os órgãos envolvidos, principalmente junto a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Antes mesmo da definição do modus operandi, os itinerários já haviam sido definidos e a coordenação junto a CET/RIO viabilizou um estudo aprofundado para minimizar os transtornos ao trânsito da cidade. As escoltas realizadas pelos batedores durante a Rio+20 eram classificadas como de alto, médio e baixo riscos. Contudo, independente de
classificações, cada equipe era monitorada metro a metro pelo Centro de Coordenação de Motocicletas, instalado nas dependências do 1º BG. Durante todos os dias da Rio+20 o CCM era um dos locais mais agitados dentro de todo o contexto de segurança. Cada uma das organizações envolvidas possuía um elemento de ligação no centro, o que facilitava a comunicação do comando com cada equipe. Além de um funcional sistema de rádios que informava cada movimentação das equipes ou dos chefes de estado, sistemas de rastreamento foram instalados nas motocicletas oferecendo informações importantes como a localização das equipes de batedores na missão e até mesmo a velocidade desenvolvida pelo comboio. O rádio operador do CCM era informado, por uma
além destes, participaram batedores da Marinha do Brasil (24); da Força Aérea Brasileira (18); da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (48); da Guarda Municipal da Cidade do Rio de Janeiro (30) e da Polícia Rodoviária Federal (263). Maior efetivo dentre as equipes, a PRF contou com a participação de agentes de quase todos os estados do Brasil, sendo Roraima o único estado a não enviar policiais federais para a missão. O ônibus comando da Polícia Rodoviária Federal operou como posto avançado do CCM. Rafael Sayão
unidade avançada localizada no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, sobre a chegada de cada autoridade na cidade. Complementando a coordenação de motocicletas, mais dois centros de coordenação móvel foram instalados na área externa do Forte do Leme e no Riocentro. A proximidade do Leme com os principais hotéis da Zona Sul da cidade garantiam que as equipes permanecessem de prontidão mesmo quando o escoltado não estivesse em deslocamento. No Riocentro, um ônibus comando da Polícia Rodoviária Federal fazia sua estreia em uma operação real e mantinha contato rádio constante com o Centro de Coordenação de Motocicletas. O ônibus modelo W9 Fly chamou a atenção de quem conseguiu avistá-lo estaciona-
do discretamente debaixo de algumas árvores. Dotado de sala de reuniões e monitoramento, avançados recursos tecnológicos, uma câmera de vigilância de 360º instalada em um mastro de 9 metros de altura e até mesmo cama e banheiro, o equipamento mostrou toda eficiência operacional esperada pela PRF durante a conferência. O esforço para garantir a realização de todas as escoltas sem o registro de nenhuma ocorrência contou com a participação de 11 instituições. O Exército Brasileiro se fez presente com o 1º Batalhão de Guardas (27*), o 1º Batalhão de Polícia do Exército (24), o 2º Batalhão de Polícia do Exército (8), o Batalhão de Polícia do Exército de Brasília (9), a 1ª Companhia de Polícia do Exército (2) e a 4ª Companhia de Polícia do Exército (5);
Do CCM instalado no 1º BG, foram coordenadas todas as escoltas da Rio+20. Rafael Sayão
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Segurança além das duas rodas Enquanto as autoridades eram conduzidas pelos batedores, um complexo esquema de segurança era coordenado pelo Centro de Coordenação de Operações de Segurança (CCOpSeg) da Rio+20. Instalado no Comando Militar do Les-
sem se aproximar por vias marítimas. Para que a segurança da conferência fosse garantida, 26 organizações públicas e 13 ministérios foram envolvidos. O investimento de R$ 132,8 milhões foi o maior já empregado até hoje pelo país na salvaguarda de um evento. Tamanho investimento parece ter surtido efeito garantindo que o encontro fosse realizado sem a anotação de nenhuma ocorrência relevante. O insucesso que parece ter tomado o cenário diplomático durante a Rio+20, não se fez presente durante a execução do plano de segurança e mostrou que o Brasil, de certo modo, vem fazendo o “dever de casa” visando os próximos eventos que se aproximam. Com a segurança de quem
O CCOpSeg coordenou todo o esquema de segurança da Conferência. Rafael Sayão
te e guarnecido por elementos de todos os órgãos envolvidos no esquema de segurança, o CCOpSeg detinha controle sobre o Centro de Coordenação de Motocicletas e vários outros valiosos recursos operacionais. A Força Aérea Brasileira além de garantir a segurança de suas instalações envolvidas no recebimento das delegações, mantinha seus principais vetores aéreos a disposição da missão. Já a Marinha do Brasil, manteve navios patrulhando e guarnecendo toda a extensão da orla carioca, garantindo segurança contra as ameaças que pudes-
contribuiu, mais uma vez, para o sucesso de um encontro mundial no país, o coordenador geral Centro de Coordenação de Motocicletas, resumiu em poucas palavras a mensagem deixada pelo Brasil ao final da conferência. “Além de demonstrar para todos os chefes de estado que nós temos a capacidade de realizar a segurança de todos eles, nós estamos mostrando para o mundo nossa capacidade de organizar grandes eventos” – declarou o Cel Alfredo de Andrade Bottino. OP * Número de motos cedidas a operação.
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O CERRADO VIROU
MAR
TEXTO E FOTOS CARLOS FILIPE OPERTTI
Como a Marinha treina sua tropa em situações reais de emprego de armamento, simulando uma operação anfíbia a 1200km do oceano. 36
O Corpo de Fuzileiros Navais é uma força expedicionária por natureza. Sua função primordial é atuar em situações de crise, internamente e externamente, que demandem o emprego imediato de tropas, de maneira flexível e em qualquer lugar. Sempre que houver necessidade, a Marinha tem que estar pronta para responder imediatamente.
P
ara isso o CFN conta com a Força de Emprego Rápido (FER), composta por aproximadamente 2200 homens, que é a parcela da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) que precisa estar pronta em no máximo 48h após ser acionada. Em qualquer crise que ocorra e que demande a presença dos Fuzileiros, é a FER que será acionada imediatamente. Quando a crise política no Haiti evoluiu para um quadro de completa desordem, em 2004, os Fuzileiros Navais foram acionados para fazer a evacuação de civis brasileiros e reforçar a segurança da embaixada brasileira no país. Entre a diretiva que acionou a tropa da Marinha, à decolagem da aeronave da Força Aérea Brasileira rumo a Porto Príncipe, capital da nação caribenha, se passaram 16h. Foram as primeiras forças a chegarem ao local, junto com equipes dos Estados Unidos. Às 17h do dia 24 de Novembro de 2010 a cúpula da (FFE) retornava de um exercício com tropas e blindados no litoral do Espírito Santo quando, no meio do caminho, chegou por telefone uma solicitação para a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Sem nenhum contato ou planejamento prévio, era o pedido de cessão de alguns blindados
e homens para o que viria Fuzileiros ensaiam para a demonstração a ser a invasão da Vila Cruoperacional. Carlos Filipe Operti zeiro e do complexo de favelas do Alemão, e pouco mais de 12h depois os meios já estavam prontos para serem utilizados. Em Janeiro de 2011 a Marinha montou, em menos de 24h, um hospital de campanha completo na cidade de Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, praticamente isolada e fortemente afetada pela catástrofe ambiental que acometeu a região serrana fluminense. Naquela ocasião o hospital permaneceu funcionando por 14 dias. Manter essa capacidade compacta, reflexo da sua doutrina de prontidão operativa, com flexi- de utilização, que é o emprego bilidade, tem sido uma das princi- imediato em situações de cripais metas do Corpo de Fuzileiros se, não sendo uma tropa para Navais. Alguns fatores podem ser atuar longos períodos avançando elencados para explicar o nível dentro do teatro de operações. de resposta do CFN às situações, O seu porte permite que a tropa considerado satisfatório para os seja dotada de equipamentos padrões que a Marinha projeta. e armamentos mais modernos, Um deles é a profissionalização: a demandando menor manutentropa dos Fuzileiros é100% comção, apresentando menor taxa de posta por militares profissionais, falhas, e permitindo a implemenselecionados por concurso. Outro tação de doutrinas mais atuais. ponto é o seu tamanho; se comPor fim, talvez o principal fator parado com o Exército, o Corpo contribuinte para manter a capade Fuzileiros Navais é uma força cidade de reação rápi-
A interação homem/blindado é crucial para o sucesso das operações. Carlos Filipe Operti
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da seja o treinamento constante da tropa e seus meios. Anualmente o Corpo de Fuzileiros Navais empreende uma programação de instrução que tem como principal objetivo colocar seus homens o mais próximo possível das condições do campo de batalha, pois para manter a capacidade de reação rápida, de pronto emprego, ser flexível para todas as crises, é necessário promover atividades realistas.
Adestrar, adestrar, adestrar
O planejamento de todas as atividades de instrução da FFE começa sempre no final do ano anterior. São definidas inúmeras atividades que envolvem não só o combate em si, mas também exercícios de logística, comando e controle e planejamento. Nesse âmbito destaca-se o apoio do Centro de Jogos do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo, com simulações que privilegiam a capacidade de planejamento, onde são empregadas todas as possibilidades que o Poder Naval permite nos casos de crise ou até mesmo na evolução para um conflito armado. A instrução de combate começa geralmente em março, no Centro de Avaliação da Ilha da Marambaia (CADIM), no Rio de Janeiro. Ali, ao longo de praticamente dois meses, são trabalhadas as condutas individuais e de pequenas frações de tropa, que realizam fogos com as armas portáteis e de porte e outras de menores calibres. Quase todo o efetivo da FFE passa pela ilha nesse período, separadamente. Fazem parte também do calendário exercícios em Itaóca, no litoral do Espírito Santo, e em 37
REPORTAGEM
OP
FUZILEIROS NO CERRADO
Três Corações, em Minas Gerais. Na praia capixaba, num gigantesco terreno de propriedade da Marinha, os Fuzileiros realizam o desembarque da força a partir dos navios de transporte da Esquadra, mas com o porém de o local não comportar a penetração
de grandes efetivos em grandes distâncias terreno adentro, além de não permitir o tiro real. Lá é possível simular uma típica operação anfíbia com tomada de uma cabeça de praia. Em Três Corações, no campo de instrução do Exército, se executa o desdo-
Carro Lagarta Anfíbio CLAnf AAV7A1 em ação. Carlos Filipe Operti
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bramento da tropa no terreno, com emprego de munição real. Pelas características e o tamanho do campo, esse exercício conta com a participação de um efetivo equivalente ao de um batalhão de infantaria de Fuzileiros Navais, e tem restrições na utilização de artilharia de longo alcance. Além destes e outros, ao longo do ano também são executados os adestramentos regulares e de formação de efetivo de cada unidade individualmente. O ato final do calendário de treinamento da FFE é a Operação Formosa, realizada na cidade de mesmo nome, no estado de Goiás. Ali está localizado o Campo de Instrução de Formosa (CIF), “casa” do 6º Grupo de Lançadores Múltiplos de Foguetes do Exército, unidade equipada com os lançadores de foguete ASTROS II, da AVIBRAS. Com 30 km de largura e 52 km de comprimento, uma área equivalente à do município do Rio de Janeiro, ele permite, sem restrições, desdobrar efetivos
maiores, do porte de brigada anfíbia, com dois batalhões à frente e mais um batalhão se deslocando, com todo o movimento, toda logística e empregando todas as armas do inventário do CFN, com total segurança. Todas as principais atividades do calendário são desenvolvidas e executadas com o objetivo de serem praticadas em Formosa em um único movimento conjunto, e com o maior nível de realidade possível. É a coroação do ano de adestramento da FFE; o maior e mais completo evento de preparação da tropa da Marinha.
Planejamento
A Operação Formosa começa um ano antes, quando o comando da FFE emite as diretrizes e objetivos para o ano de adestramento seguinte. Ali também são estabelecidas as datas previstas de todas as atividades de instrução. Para Formosa, escolhe-se um período preferido, que é informado ao Exército quando este inicia
tema tático é sempre baseado numa operação de desembarque anfíbio, um dos tipos mais complexos de operações militares, o que também mantém o nível de capacidade de planejamento sempre alto. Ela pode ser de qualquer natureza, como, por exemplo, uma incursão anfíbia para evacuação de não combatentes. Cabe ressaltar que uma crise, longe das nossas fronteiras secas, requer uma Marinha capacitada a dissuadir, projetar poder sobre terra, negar o uso do mar e controlar áreas marítimas. As crises sempre virão de formas multifacetadas e o estudo delas, associado à possibilidade de emprego da força, contribuirá para se encontrar uma solução para as controvérsias ainda na fase prematura do problema. Ter um poder naval crível é ter a possibilidade de se interromper uma crise que poderia chegar a um conflito armado. E assim nasce o tema que permeará a mente dos planejadores militares da FFE ao longo do ano. Uma operaCanhão L70 BOFI-R de 40mm dispara contra um ção anfíbia pode ser a solução drone rádio controlado. Carlos Filipe Operti deste problema que agora se tornou militar. a definição do seu calendário Esse tema tático é desenpara o CIF e recebe das unidades volvido separadamente nos interessadas (tanto do próprio exercícios da Força. Cada exercíExército quanto das outras Forças) cio é feito de maneira a adestrar as solicitações de uso do campo. diferentes ações de maneira sepaApós a negociação do período rada. Eventualmente emprega-se com o EB, a FFE determina a data uma situação particular dentro da definitiva. situação geral definida no início Com as premissas básicas do ano. determinadas, no início do ano Com a proximidade do exercício é divulgado o cenário geral que em Formosa, o comandante da será desenvolvido nos exercícios FFE emite uma diretiva preliminar principais. Essa situação é conem que são definidas as expeccebida no ano anterior, dentro tativas para o exercício daquele de uma realidade e atualidade ano, dando início aos planejapuramente brasileira. É projetada mentos do pessoal envolvido. partindo da observação de fatos Esse planejamento é realizado por que podem desencadear uma cri- um estado maior, que vai produse no nível político, que interfere zir uma solução para o problema nos interesses do Estado. Dentro militar informado, de acordo com dessa hipotética ocorrência de o cenário definido inicialmente. crise, que evoluiu para uma neAlém desse, também são tocados cessidade de uso da força militar, em paralelo o planejamento geral é criado um tema tático baseado do exercício, que envolve ainda nas capacidades, necessidades as questões não pertinentes à e possibilidades de emprego do execução do tema tático, e um Corpo de Fuzileiros Navais. Com o plano específico para a ida do objetivo de manter a capacidade contingente até o Centro-Oeste, de realizar esse tipo de ação, o Outubro / Novembro • 2012
com todo o material envolvido.
Se deslocando entre o Rio e Formosa
Tudo o que será utilizado no exercício, tanto o material quanto a tropa, é levado por rodovia até o Campo de Formosa. Essa operação é um evento à parte. São aproximadamente 30 dias para levar todo o material e pessoal necessário para a condução das atividades no campo (blindados, armamentos, munição, combustível, equipamentos, gêneros de uso regular), e outros 30 para recolher tudo de volta ao Rio de Janeiro no final. Cada fase exige pelo menos três viagens de ida e volta, cada pernada durando em média três dias, com um dia de intervalo entre a chegada e a nova saída. Todos os blindados são transportados de carreta, sendo utilizada uma média de 10 a 12 desses veículos. Todos os veículos envolvidos são equipados com GPS para monitoramento em tempo real dos comboios, executado pelo Centro de Operação de Logística, na Tropa de Reforço, em Niterói (RJ). Cada comboio é dividido em unidades de marcha, cada uma com seis veículos, para facilitar o controle e evitar transtornos ao tráfego das rodovias. Os preparativos finais começam três dias antes da partida, quando cada viatura ganha um número indicando a sua unidade de marcha e a posição dentro da mesma. É realizado um briefing de segurança com todos os motoristas para enfatizar o trajeto,
os locais de parada, as principais preocupações e as condições meteorológicas do caminho. A saída da primeira unidade de marcha do Rio de Janeiro costuma ser às 05:30h, com intervalos regulares entre elas. Ao todo, em 2011, participaram 207 veículos de todos os tipos, entre blindados, caminhões e viaturas leves, e em torno de 2200 combatentes. Os comboios se deslocam a no máximo 80 km/h, restritos ao desempenho dos veículos mais lentos, e não trafegam à noite. O pernoite é feito normalmente em postos de gasolina pré-definidos no planejamento e que tenham estrutura para absorver a quantidade de veículos do comboio, com os militares envolvidos dormindo em suas próprias barracas. Esses locais são previamente reconhecidos para avaliação das condições de estrutura e segurança. Uma equipe de apoio logístico móvel emprega um caminhão cisterna de 30 mil litros, responsável por reabastecer o comboio, e outra é formada por médicos, ambulância, viatura-socorro e mecânicos para garantir o suporte em qualquer eventualidade no caminho. Para o transporte da munição existe um incremento grande na segurança, com a participação da Companhia de Polícia e atenção ao sigilo de rotas e horários. Os pernoites são realizados preferencialmente em quartéis do Exército situados pelo caminho. Na edição de 2011 foram duas carretas inteiras e mais cinco ca-
Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP) M113 . Carlos Filipe Operti
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REPORTAGEM
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FUZILEIROS NO CERRADO
minhões de munição, totalmente gastos no exercício. A maior parte das viaturas leves Land Rover segue em caminhões-cegonha, enquanto as Toyota Bandeirante e os caminhões Mercedez UNIMOG vão rodando. A tropa se desloca por último, e é transportada em ônibus comerciais fretados, para proporcionar mais conforto e evitar o desgaste do longo deslocamento, que dura aproximadamente um dia.
Fuzileiros no cerrado
As unidades visitantes do Centro de Instrução de Formosa geralmente ocupam a localidade conhecida como Fazenda Bonsucesso, que fica a aproximadamente nove quilômetros da entrada do campo. Ali há amplo espaço para montagem de barracas de campanha, que são utilizadas para as funções administrativas, operacionais e também para abrigar parte dos oficiais. O restante dos homens se acomoda em barracas individuais tipo iglu. Há também espaço para o estacionamento de todas as viaturas, que possibilita a montagem de um local para manutenção. Por fim, existe uma estrutura de alvenaria que abriga cozinha, banheiros, e
Os blindados 8x8 Piranha IIIC, apesar de sofrerem com a poeira fina e as altas temperaturas, costumam manter boa disponibilidade durante o exercício. Carlos Filipe Operti
espaço coberto para a montagem de refeitório e local de convivência. Toda a preparação do local para suportar o exercício é realizada por equipes que seguem previamente. A chegada do efetivo no terreno e sua acomodação nas instalações do campo é a última ocorrência na cadeia de eventos que precede o início do adestramento. A alimentação quente da tropa é fornecida por empresa contratada, que entrega os gêneros alimentícios diretamente no local. Do Rio de Janeiro são levados apenas os utensílios e os responsáveis pela preparação. A estrutura para os refeitórios (mesas e cadeiras) também é contratada. Isso facilita a logística e evita o desgaste da tropa, que não precisa se alimentar da ração de combate fora dos momentos de adestramento. A parte operacional do exercício é dividida em três etapas: adestramento individual das unidades envolvidas; adestramento conjunto da tropa; e uma demonstração operativa para autoridades e imprensa. Tudo é conduzido pelo comando da Divisão Anfíbia. Durante aproximadamente cinco dias as unidades de infantaria,
artilharia, blindados, logística e aviação fazem seu próprio adestramento específico, em atividades que achem necessárias, que sejam do seu maior interesse. Para isso é feita uma grande grade de adestramento, de modo que cada uma proponha o que vai fazer. O local é então dividido e elas atuam sozinhas, simultaneamente, apenas com uma coordenação para evitar que uma unidade não interfira no treinamento da outra, pois todos estão utilizando munição real. Entre as áreas disponíveis no CIF, o posto de observação de Pedra de Fogo é muito disputado, pois é uma área nobre, que comporta a utilização do armamento pelos blindados e pela infantaria, permitindo inclusive o adestramento de fogo em movimento com munição real com frações que vão desde pelotão até batalhão, com interação entre a tropa e os blindados, tanto de dia quanto de noite. Incluindo também o tiro antiaéreo com canhão Bofors L70 BOFI-R 40mm, míssil antiaéreo Mistral, míssil anticarro RBS 56 Bill, morteiros e obuseiros de 105mm. Um oficial de segurança é encarregado de fazer o controle e a coordenação de todas as
unidades que estão empregando o armamento ao mesmo tempo, responsável pelo posicionamento de cada unidade no campo, e por liberá-las ou não para atirar. A coordenação do apoio de fogo é um dos itens mais exercitados durante a operação. É de suma importância a precisão no apoio de fogo, pois com todos os elementos desdobrados no terreno as distâncias encurtam muito entre a tropa e onde se está atirando, tanto com artilharia quanto com os mísseis e helicópteros. Nessa fase inicial, as unidades de infantaria procuram adestrar seus militares já dentro de seus pelotões, os pelotões dentro das companhias, e as companhias dentro de um comando de batalhão. A premissa é a de uma operação anfíbia onde a tropa, em frações, desembarca dos navios como equipes de embarcação, e em terra têm que se reorganizar - muitas vezes com oposição severa do inimigo - como uma unidade de Fuzileiros Navais para projetar o poder sobre o terreno. Em todos os escalões, da esquadra de tiro, do grupo de combate, do pelotão, da companhia, do batalhão, há uma preocupação com
Fuzileiro checa seu equipamento antes do início do adestramento. Carlos Filipe Operti
a organização desse desembarque. Procura-se também interagir os blindados com a tropa, para execução de manobras de embarque e desembarque das viaturas de transporte, promovendo o entrosamento do binômio carro de combate/infantaria. No caso da artilharia, ela faz os fogos separadamente da tropa. São duas grandes áreas de alvo, uma mais ao norte (Área de Impacto Santo Inácio) e outra mais ao sul (Área de Impacto AVIBRAS - onde se costuma utilizar os canhões e morteiros em seu alcance máximo, e também os foguetes Astros por parte do Exército). Ao longo desses dias eles fazem diversos exercícios de tiro, tiro noturno, tiro diurno, com diversos tipos de granadas (fumígenas, de alto impacto, iluminativas, de grande alcance – até 20km). O combate noturno é bem diferente do combate diurno, e a artilharia se adestra para iluminar o campo de combate com granadas iluminativas, para moldar o campo de batalha a seu favor, tirando do inimigo a capacidade de ter iniciativa.
Tema Tático
Ao final do adestramento individual, segue-se um dia de intervalo para se reorganizar os elementos e iniciar a composição para o tema tático. Somente nesse dia os planejadores recebem as informações sobre a situação particular a ser enfrentada, dentro do cenário geral divulgado no início do ano. É como se a tropa estivesse embarcada na esquadra,
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rumando para o teatro de operações, e ali tivesse que planejar o assalto ao território inimigo, contando somente com as informações recém-recebidas e os meios disponíveis naquele momento. A operação envolve o efetivo de uma brigada anfíbia, organizado em um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais. O GptOpFuzNav é um modelo de organização dos meios que permite ao comando flexibilidade para empregar distintas configurações de efetivo de acordo com as características da ameaça/evento a ser enfrentado, e é como atualmente a Marinha organiza todas as suas ações reais de combate, auxílio em catástrofes, etc. Nele as divisões administrativas (batalhões) são desfeitas, seus militares e recursos podendo ser mesclados de maneira a suprir a necessidade da situação. Os elementos são agrupados por especialidade, e não por unidades (como os batalhões, por exemplo). Ele é dividido em: Componente de Combate Terrestre, que engloba a infantaria e todo o apoio ao combate (blindados, artilharia); Componente de Apoio de Serviço ao Combate (que o norte americano chama de Combate Logístico), que engloba a parte de apoio logístico, saúde e abastecimento; e um Componente de Combate Aéreo, onde se encaixa a parte de aviação, defesa antiaérea, operação de VANTS, tudo que está ligado ao espaço aéreo. Todos eles subordinados a um único comando. Esse conceito foi trazido dos EUA e adaptado à nossa realidade, e permite que se
dê maior ou menor ênfase a qualquer um dos componentes de acordo com as particularidades da ação, empregando somente os meios necessários, mesclando o efetivo das diversas unidades do CFN em prol da efetividade no combate. A tropa fica desdobrada no terreno de três a quatro dias sem interrupção, se alimentando de ração de combate e acomodando-se como possível com o equipamento pessoal. Uma porção do terreno é designada como sendo o oceano e, a partir dali, é iniciado o “desembarque”. Ao longo desse período o comando do exercício cria uma série de eventos que obrigam a tropa a realizar movimentos, ataques a uma força inimiga, exigindo o planejamento das ações em pleno campo, nos diversos níveis da cadeia de comando. Simula-se a maior gama possível de situações para exercitar as manobras mais importantes e manter a tropa adestrada na maior quantidade de cenários possível. O tema tático provoca a interação do movimento dessas tropas com a capacidade de fogo real de todos esses elementos. Tudo o que foi treinado ao longo do ano e também durante os primeiros dias em Formosa, é nesse momento executado em conjunto, coordenadamente, aproximando-se ao máximo da realidade. A premissa é partir de um poder de combate nulo para projetar poder sobre terra com o máximo que for possível, no menor espaço de tempo.
No campo a tropa progride coordenadamente, a pé, nos blindados e nas viaturas (leves e caminhões) utilizando munição real com todas as armas disponíveis. A artilharia também atua simulando o apoio de fogo naval. Carcaças de ônibus e outros veículos, espalhadas pelo terreno, fornecem os alvos para os mísseis anticarro, e drones rádio controlados são utilizados para treinar a artilharia antiaérea com míssil e canhão. No exercício de 2011, a força deveria tomar pontos chaves na região da cabeça de praia após o desembarque, conquistando o terreno para permitir que ele seja usado por uma força amiga, e simular a junção com essa força, uma brigada de infantaria paraquedista do Exército que estaria em um ponto situado 40 km ao sul da área de desembarque, e que iria dar prosseguimento às operações de combate. Dadas as condições do terreno (distâncias, areia fina com tempo seco, muita lama com chuva), é também uma grande oportunidade para testar o funcionamento do apoio de serviço ao combate em condições reais de um campo de batalha. É dada muita ênfase a esse aspecto, já que é necessário fazer chegar à tropa toda classe de suprimentos necessários, desde munição a peças para todos os tipos de veículos, passando pela ração dos combatentes. Além disso, o desgaste dos equipamentos em condições rústicas de operação exige pronto emprego das equipes móveis de manuten-
O carros de combate SK-105 Kürassier descansam após um dia de operação. Carlos Filipe Operti
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REPORTAGEM
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FUZILEIROS NO CERRADO
ção, para garantir a capacidade de sobrevivência dos conjuntos de viaturas no combate e evitando as baixas por pane que podem tirar a mobilidade da tropa após alguns dias aprofundada no terreno.
Segurança
Uma das questões mais importantes envolvendo o exercício é a segurança. É dada ênfase especial a esse aspecto, pois estão atirando, simultaneamente, num mesmo espaço físico, soldados, viaturas blindadas, carros de combate, peças de artilharia e aeronaves. Uma equipe fica responsável por coordenar o fogo de todas as frações desdobradas no terreno, além dos blindados, aeronaves e artilharia. Em um momento você pode ter soldados numa porção do terreno atirando, enquanto outra fração da tropa evolui numa área próxima. Em outro momento, um helicóptero precisa adentrar espaço aéreo por onde estão passando os obuses da artilharia. Cessa-se o tiro dos canhões, o helicóptero realiza sua ação, e a artilharia volta a atirar. Atua-se, quase sempre, num espaço único em três dimensões, e é necessário que a coordenação esteja funcionando para se evitar acidentes. Chega-se muito próximo da realidade, porém algumas con-
O constante adestramento gera confiança e mantém alto o nível de prontidão operativa. Carlos Filipe Operti
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cessões são feitas para que sejam observados os parâmetros de segurança da tropa e do próprio campo e garantir que não sejam aceitos riscos desnecessários. É preciso ter certeza que todo mundo está atirando na hora e da maneira corretas.
Prontidão Operativa
O formato básico do exercício é fixo (adestramento individual + tema tático), e foi a solução Lançamento de míssil Mistral contra um ótima encontrada para drone rádio controlado. Carlos Filipe Operti ocupar o período de adestramento e o terreno do campo. Entretanto, mente e inserido na composição de ano para ano são efetuadas da tropa. E se faz isso de maneira mudanças no tema tático. Quanabrangente, aproveitando as do você usa o terreno de forma condições fornecidas pelo campo diferente, invertendo a direção de Formosa, abrindo ao máximo de um movimento, você passa a o leque de atividades realizadas, ter um terreno com outra “confiotimizando o tempo da melhor guração”, obrigando a raciocinar maneira possível. Com isso gade maneira diferente. Some-se a nha-se a confiança da tropa, que isso o desenvolvimento de novas se vê bem adestrada. Individualdoutrinas, técnicas e táticas a mente, com o homem confiando partir de experiências próprias ou que é capaz de suportar as intemde outras forças, a aquisição de péries, o longo período desdobranovos meios que te obriga a pendo em combate, alimentado com sar de maneira diferente. Todos ração, as dificuldades do terreno. esses são aspectos que envolvem E coletivamente, acreditando a realização de um treinamento no funcionamento eficiente do de tão grande vulto. conjunto. Isso tudo reflete no Adestra-se o homem individual- grande objetivo desse exercício
final, que é garantir a prontidão operativa da tropa em qualquer situação de emprego, no menor espaço de tempo. Na avaliação da própria Marinha, os resultados analisados em Formosa apontam para uma sensível melhora a cada edição, avaliação respaldada pelos eventos dos últimos anos em que o Corpo de Fuzileiros Navais foi solicitado e respondeu à altura das necessidades. OP
A Revista Operacional agradece ao CMG Yerson e ao CMG Carlos Chagas pelas informações prestadas.
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Pacificar é a palavra de ordem, hoje, na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Diante dos grandes eventos que o estado irá sediar nos próximos anos, a implantação de uma política de segurança que pelo menos mantenha controlados os índices de criminalidade é o alvo dos governantes. Justiça seja feita, o estado, de certa forma, caminha para esta realidade. Contudo a popularização do termo pacificação acabou por banalizar uma ação que se mostra extremamente complexa quando retirada dos projetos e levada ao terreno. TEXTO RAFAEL SAYÃO
E
sta complexidade atinge índices elevados quando estamos nos referindo a uma comunidade com a proporção de uma cidade e que funcionava como quartel-general da maior instituição criminosa do Brasil. Durante mais de 30 anos o poder público se manteve distante deste cenário e a ação policial limitava-se às “fronteiras” da região. Implementar o programa de pacificação em um cenário como este fazia parte dos planos do estado, mas não figurava como uma meta de curto prazo. Estima-se que aproxidamente 400 mil pessoas habitem os Complexos da Penha e do Alemão. Rafael Sayão
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Insatisfeitos com a perda de territórios em comunidades já contempladas pelo projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), os traficantes sofreram um esvaziamento ainda maior de seu poder quando, em 2010, o governo anunciou a transferência dos líderes do tráfico para penitenciárias federais de segurança máxima em outros estados. A reação dos criminosos foi lançar sobre o estado um ataque covarde e desordenado, que amedrontou a população fluminense, mas, se mostrou um tiro no próprio pé.
Durante os ataques, que totalizaram 51 mortos, aproximadamente 105 veículos e ônibus foram queimados, cabines da PM foram atacadas, e até mesmo uma viatura do Comando da Aeronáutica foi alvo dos bandidos. O terrorismo e a onda de boatos que insistia em aumentar a cada ocorrência tinham remetentes conhecido das autoridades: os Complexos do Alemão e da Penha. Os planos de pacificação destas comunidades teriam então que ser antecipados em caráter de emergência. Mais do que uma resposta à amedrontada população fluminense, era uma oportunidade a ser aproveitada. Voltemos então à complexidade de um processo de pacificação: conquistar este território e
adentrar neste espaço totalmente hostil era uma missão de guerra. O que fazer? Já que em situações como esta o uso de efetivo profissional e equipamentos adequados é fundamental, é preciso buscar uma tropa devidamente preparada para a guerra: Acionem o Exército! No dia 25 de novembro, capitaneados pelo BOPE (Batalhão de Operações Especiais) e com o fundamental apoio dos CLAnf (Carros sobre Lagarta Anfíbios) AAV7A1 e VBTP (Viatura Blindada de Transporte de Pessoal) M113 A1 do Corpo de Fuzileiros Navais, 350 policiais civis, militares e federais marcharam sobre a Vila Cruzeiro. Diante do ineditismo da ação os bandidos lograram uma fuga desesperada e transmitida
Militares da Companhia de Precursores planejam uma incursão rápida no topo da Serra da Misericórdia. Rafael Sayão
ao vivo para milhões de pessoas por emissoras do Brasil e do exterior. O destino dos criminosos era o Complexo do Alemão, e o destino das forças públicas não seria diferente. A região, batizada pelo Secretário de Segurança Pública José Mariano Beltrame, como “Coração do Mal”, ocupa uma área de 12 km², abrangendo 23 comunidades onde residem aproximadamente 400 mil moradores, uma população maior do que a de muitos municípios fluminenses como Macaé, Nova Friburgo, Nilópolis e Volta redonda. Distante cerca de 30km do local dos conflitos, o Comando Militar do Leste ficou agitado. Na madrugada do dia 26, o General-de-Brigada Fernando José Lavaquial Sardenberg, então comandante da Brigada de Infantaria Paraquedista, recebeu a missão de colocar 800 de seus homens ao lado das forças de segurança para apoiar no cerco ao Complexo do Alemão. Esta participação do Exército era o diferencial entre o sucesso e o fracasso da operação e o comando da Brigada sabia que possuía
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uma tropa pronta para a missão. Formada por militares de cada um dos três batalhões de infantaria paraquedista e por pequenos grupos de outras unidades da Brigada, a Força Tarefa (FT) Chivunk havia sido criada, treinada e equipada recentemente para cumprir exatamente missões de garantia da lei e da ordem (GLO). Em 12 horas a tropa paraquedista já se encontrava desdobrada no terreno e em ação sob fogo cerrado, vindo da favela da Grota e do Morro do Adeus. Após 36 horas, no dia 28 de novembro, data que entrou para a história do Rio de Janeiro, os inimigos sucumbiram. Uma operação de ocupação e pacificação é, doutrinariamente, composta de três fases muito importantes: planejamento; cerco, ataque e vasculhamento; e implantação da polícia local. No caso do Complexo do Alemão, a fase de planejamento e preparação, onde ações de inteligência buscam o maior número possível de informações sobre o inimigo e o terreno, não existiu, dificultando ainda mais a ação das forças do estado. Dando continuidade
à operação e impedindo a entrada e a saída de ilícitos, a tropa paraquedista manteve o cerco enquanto policiais de diversas esferas vasculhavam o terreno em busca de foragidos, armas e entorpecentes. Entretanto, o terceiro momento de uma operação de ocupação e pacificação é o mais importante e o estado não possuía efetivo, material e capacidade logísitica para, naquele momento, implantar uma polícia comunitária naquela região. Ciente da oportunidade que tinha nas mãos, o Governador Sérgio Cabral alegou insuficiência de meios e solicitou em 30 de Novembro, ao então ministro da Defesa Nelson Jobim, a manutenção da presença da tropa paraquedista na missão, que passaria a assumir um caráter de manutenção da paz e garantia da lei e da ordem pública. Com a implementação da Diretriz Ministerial nº 15, de 2010, coube ao Comandante do Exército, General-de-Exército Enzo Martins Peri, a organização de uma Força de Pacificação, com estrutura semelhante à de uma Brigada com dois batalhoes, um para cada comple-
xo acrescidos de um destacamento logístico, e subordinada ao Comando Militar do Leste (CML). Em 23 de dezembro de 2010, a Força de Pacificação (FPac), conceito até então inédito no Brasil, entrou em operação, sob o codinome de Operação Arcanjo.
11900 militares e 583 dias de missão
Assumir uma empreitada desta envergadura e sem o planejamento prévio necessário demandou do Exército muito comprometimento com o sucesso da missão. As características jurídicas que a regiam e a forma não convencional de emprego da tropa exigiram algumas modificações doutrinárias da força. Contudo, o emprego de forças-tarefa aplicando modernas técnicas e táticas de combate urbano, deixou claro que a intenção da tropa não era atuar dentro de um modus operandi de força policial convencional. Durante os 583 dias que atuou nas comunidades, a Força Terrestre buscou sempre tomar mão do eficiente princípio da dissuasão. Com uma média de 1700 homens envolvidos na missão, operações de demonstração de força foram muito utilizadas. Era comum
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OPERAÇÃO ARCANJO
visualizar, nas principais vias dos complexos, blindados acompanhando a grande movimentação de militares, equipados com cães de guerra e equipamentos de operações contra distúrbio. Além de atemorizar as forças adversas, ainda infiltradas entre cidadãos de bem, a demonstração de força era uma grande aliada para conquistar a confiança e o apoio da população. A formação do militar que iria atuar durante a Operação Arcanjo recebeu uma atenção especial do comando da missão. Diante de tantas circunstâncias e características incomuns às operações militares convencionais, o treinamento precisou ser aprimorado. Além das instruções típicas da formação militar, temas como crimes militares em tempos de paz, lavratura de auto de prisão em flagrante, busca domiciliar, regras de engajamento e direitos humanos foram apresentados ao efetivo. Muito se questionou sobre o tempo de preparo da tropa envolvida na operação. De certa forma, esquecendo todas as questões referentes à emergência com que a ela foi empregada, o período médio de três semanas de formação é pouco se comparado aos seis meses utilizados na formação do militar que atuará no Haiti em situação semelhante. Entretanto, a utilização preferencial de efetivo profissional e a atuação comprometida dos oficiais e comandantes das pequenas frações presentes no terreno, garantiram que o treinamento oferecido fosse suficiente para gerar números mínimos de problemas envolvendo a tropa. Porém o cuidado com o militar não estava limitado à formação. O rodízio proporcionado à tropa envolvida garantiu o arejamento tão necessário a um efetivo colocado sob constante tensão. Nas bases era possível encontrar academias de musculação, assistência religiosa e acesso à internet, muito úteis principalmente para os militares que encontravam-se distantes da família. E a alimentação, precária no início da operação, também recebeu melhorias consideráveis graças ao trabalho oferecido pela Base de Apoio Logístico do Exército. Contudo o 46
Militares da FT Sampaio na Igreja de Nsa. da Penha. Rafael Sayão
caminho percorrido para atingir este nível de conforto e infraestrutura foi árduo. Durante a Arcanjo I, na insalubre fábrica de refrigerantes abandonada, os paraquedistas pernoitavam acantonados em barracas, sem direito a água encanada e responsáveis pelo preparo da própria comida. Um banho “formal” só era possível após um deslocamento até seus quartéis de origem. Somente após o final da Arcanjo II é que as bases da Coca-Cola (Alemão) e Ari Barroso (Penha) ficaram prontas. Muitos itens adquiridos pelo Governo do Estado não apresentavam a qualidade mínima necessária, e coube ao Exército adquirir novos materiais e resolver gradativamente os problemas de acomodação da tropa.
Os arcanjos da Pacificação
Já presente no terreno e composta quase que em sua totalidade por militares com experiência na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti, coube à Brigada de Infantaria Paraquedista assumir a Arcanjo I. Com a chegada da FT Afonsos (25º Batalhão de Infantaria Paraquedista) assumindo a
posição ocupada pela FT Chivunk no cerco, as FT Santos Dumont (26º BI Pqdt) e FT Velame (27º BI Pqdt) foram liberadas para ocupar suas zonas de ação, respectivamente no Alemão e na Penha. Ocupando pontos estratégicos antes nas mãos de marginais, os militares comandados pelo Gen Bda Sardenberg enfrentaram, neste primeiro momento, um dos problemas mais críticos de toda a operação: o relacionamento com a população local. Isolados do restante da cidade por mais de 30 anos e habituados aos costumes e práticas incentivadas pela marginalidade, os moradores dos dois complexos apresentavam muita dificuldade em lidar com as forças oficiais constituídas, o que gerou um número grande de ocorrências resultantes de agressões físicas e
Militares da FT Velame ocupam um ponto forte no topo do Morro do Caracol. Notar as “seteiras” instaladas no muro pelos traficantes. Rafael Sayão
verbais à tropa. A grande maioria era arredia à presença do Exército e, orientados pelo tráfico, organizavam protestos e tumultos a fim de desgastar a imagem da tropa junto à opinião pública. Os que esboçavam um apoio à pacificação utilizavam o anonimato provido pelo serviço do Disque-Denúncia. Além do medo de serem rotulados como apoiadores da pacificação pelos bandidos que ali ainda se encontravam, os moradores permaneciam muito dependentes de práticas que as forças estavam coibindo, como o uso de ligações clandestinas de luz, água e televisão a cabo. Conquistar o apoio popular era uma missão tão árdua quanto espulsar os traficantes. Além da falta desse apoio, os dispositivos jurídicos, principalmente nesta fase da operação, não podiam ser considerados aliados dos soldados e por vezes foram os responsáveis por negar aos militares a utilização do princípio da oportunidade para realizar prisões e evitar fugas. Mesmo sufocado, o tráfico tentava ser atuante utilizando elementos que não haviam sido oficialmente identificados pela polícia. Em uma região onde o estado esteve ausente por tanto tempo, podemos dizer que muitos se valeram desta prática delituosa, dificultando a ação dos militares da Brigada. Outro problema era o terreno naturalmente acidentado da região, que apresentava ainda
mais dificuldade para a tropa quando observados o obstáculos artificiais ali encontrados. Além de animais e lixo pelas ruas, um número elevado de veículos completamente abandonados compunham a paisagem das duas comunidades. Associados ao tráfego desordenado de motocicletas, em sua maioria oficialmente inexistentes, a simples locomoção dentro da comunidade se tornava uma atividade complexa. Em parceria com a Delegacia de Roubos e Furtos de Autos da Polícia Civil do Rio de Janeiro, foram realizadas várias operações de apreensão e reboque de carros e motos, arejando as vias e permitindo um melhor deslocamento dos militares, blindados e do transporte público que atende a população local. A 9ª Brigada de Infantaria Motorizada chegou ao teatro de operações em 21 de fevereio de 2011 para compor a Operação Arcanjo II, comandada então pelo Gen Bda Cesar Leme Justo, tendo como cabeça de FT o 57º Batalhão de Infantaria Motorizado, “Regimento Escola de Infantaria”, o REI, e o 2º Batalhão de Infantaria Motorizado, “Regimento AVAÍ”, reforçados pelo 1º Batalhão de Infantaria Motorizado, “Regimento Sampaio”, 11º Batalhão de Infantaria de Montanha, “Regimento Tiradentes”, e demais unidades do Grupamento de Unidades Escola. Pela primeira vez o efetivo presente na operação era 100%
A presença diuturna da tropa e o princípio da massa transmitiam segurança e força a população. Carlos Filipe Operti
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profissional, o que minimizou a ocorrência de problemas por falta de experiência do militar. Ciente da persistente presença de marginais na região, a tática adotada foi a saturação da área através de patrulhas e a intensificação da presença de soldados na região. Com a migração dos pontos fixos de venda de drogas para pontos itinerantes, a utilização de postos de balizamento e controle de vias urbanas (PBCVU) passou a ser frequente. E como as vielas características do sistema viário local não permitiam o acesso de viaturas convencionais, comprometendo a eficiência das patrulhas, buscou-se na utilização de motocicletas a solução para cobrir a maior área de vigilância possível. Para isso o 1º Batalhão de Guardas, uma das unidades mais experientes do Exército no emprego de motocicletas, foi incumbido de criar a doutrina para esse tipo de utilização do meio, implementando o estágio de motociclista militar de combate. Coube ao 1º BG formar os militares que iriam adentrar nas motos as espremidas
Militar em posto de balizamento e controle de vias urbanas instalado em um dos acessos da Vila Cruzeiro. Carlos Filipe Operti
vielas da zona de ação da força de pacificação. A 11ª Brigada de Infantaria Leve, especializada em GLO e sediada em Campinas (SP), foi a primeira unidade de fora do estado do Rio a atuar nos complexos de favelas. Ao assumir a Operação Arcanjo III, em 16 de maio de 2011, o Gen Bda Carlos Maurício Barroso Sarmento tinha à sua disposição duas forças tarefas: a FT Anhanguera, ocupando a Penha; e a FT Heróis da Lapa, composta por militares do Comando Militar do Sul, ocupando o Alemão. As diferenças culturais não foram impecilho para que os integrantes da Arcanjo III buscassem se aproximar da população, elevando consideravelmente a participação da força em ações cívico-sociais, além da presença nas escolas e em competições esportivas. A aproximação com as crianças, a despeito do cunho social, pode também ter sido salutarmente estratégica. Nesta fase da operação foi observado um elevado aumento da participação de menores de idade em
ações ilícitas. Talvez buscando amparo no Estatudo da Criança e do Adolescente, os traficantes viram nos menores uma excelente ferramenta de transporte de drogas e armamentos de pequeno porte para os diversos pontos da região. Exatos 90 dias após ter deixado os complexos, em 15 de agosto de 2011 a 9ª Brigada de Infantaria Motorizada retornou para compôr a Operação Arcanjo IV. Tropas do Regimento Sampaio ocuparam o Complexo do Alemão. O Complexo da Penha foi ocupado por uma força-tarefa composta por militares do 57º BI Mtz e do 2º BI Mtz, que revezaram o comando da FT. Com o avançar da operação os militares, comandandados pelo Gen Bda Cesar Leme Justo, puderam ter tido por instantes a falsa impressão de que a missão transcorreria com mais tranquilidade. Ledo engano! Com a solicitação de permanência das tropas por mais tempo feita pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, os bandidos sentiram-se ainda mais ameaçados e uma série de ações foi orquestrada pelos marginais. A utilização de mulheres e crianças como ferramentas dos meliantes ficou ainda mais evidente, na medida em que eram frequentemente usadas como agitadoras, provocando a tropa e atrapalhando as ações. Ao realizarem prisões, os militares eram frequentemente vítimas de agressões verbais e até mesmo 47
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físicas por parte destas pessoas. No dia 6 de setembro, momento mais delicado da Operação Arcanjo IV, foram registrados disparos de armas de fogo oriundos dos morros da Baiana e do Adeus. Por falha de planejamento, decisão política ou estratégica, estas duas comunidades, que se encontram a menos de 50 metros do Complexo do Alemão, foram mantidas fora da zona de ação da Força de Pacificação e tornaram-se um valioso reduto para os marginais basearem suas ações contra a força pacificadora. Após o dia 6, um pelotão do 1ºBG passou a reforcar com tropas, motos e cães de guerra a FT Sampaio nas noites dos feriados e finais de semana. O 1º Batlhão de Polícia do Exército fez o mesmo em relação à FT REI. No final de outubro, após realizar intensa atividade de inteligência, a FT Sampaio desencadeou uma grande operacao na Região da Pedra do Sapo, onde foi apreendida grande quantidade de drogas e armas, incluindo fuzis, que não eram apreendidos desde novembro de 2010. Dando sequência ao arejamento previsto no decorrer da operação, a 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, sediada em Juíz de Fora e reforçada por militares da Artilharia Divisionária/AD1 chegou ao Rio de Janeiro para assumir a Operação Arcanjo V. Dentro da proposta de atuação com duas forças tarefas, o comandante da operação, Gen Bda Otávio Santana do Rêgo Barros, contou com a
FT Tiradentes, composta por militares do “Regimento Tiradentes”, de São João Del Rey, ocupando a área da Penha, e a FT Dom Pedro, composta por militares do 32º Batalhão de Infantaria Motorizado, de Petrópolis, ocupando a área do Alemão. Durante o período da Operação Arcanjo V, as regiões da serra da Misericórdia e da pedreira, conhecidas após a transmissão ao vivo da fuga dos traficantes para o Alemão, passaram a atrair maior atenção por parte do comando. O número de ocorrência de confrontos entre a tropa e os marginais aumentou naquela localidade e uma linha de pontos de ligação foi montada sobre a serra. O objetivo era que as patrulhas da FT Dom Pedro tivessem contato com as patrulhas da FT Tiradentes. Com a proximidade das festas de final de ano, houve a ocupação da serra da Misericórdia por militares da Brigada de Infantaria Paraquedista, que durante 10 dias reforçaram a região e elevaram o efetivo da tropa envolvida na Arcanjo V para 2300 homens neste período. A adoção desta linha sobre a serra da Misericórdia, proposta pelo comando da Operação
Os Blindados garantiram as patrulhas um elevado poder de dissuasão. Rafael Sayão
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Cães de guerra do 1º Batalão de Guardas eram eficientes ferramentas de dissuasão e demonstração de força. Carlos Filipe Operti
Arcanjo V, tinha como meta massificar a presença da tropa na região, dissuadindo os criminosos e dando uma nova dinâmica no emprego do efetivo. Esta nova tática que passou a ser adotada tinha o objetivo de impedir que o marginal percebesse a utilização de um modus operandi padrão pré-estabelecido por parte das tropas. Reduzindo os pontos de visibilidade e de ligação e intensificando a realização de patrulhas a pé em becos e vias secundárias, uma nova rotina operacional foi implantada e o efeito surpresa passou a ser mais privilegiado. Passadas as festas e iniciando o ano de 2012, o cenário começou a mudar na operação de pacificação. Com o retorno da 11º Brigada de Infantaria Leve, comandanda pelo Gen Bda Tomás Miguel Mine Ribeiro Paiva, em 27 de janeiro de 2012, deu-se início à Operação Arcanjo VI. Esta operação foi marcada pelo processo de transferência de algumas localidades para a instalação de UPPs da Policia Militar do Rio de Janeiro. Com as prisões dos traficantes FB
e Mica, antigos líderes do tráfico na região, novas lideranças despontaram e a estratégia de sufocar os marginais com operações surpresa, realizadas através de patrulhas, gerou confrontos e tumultos. Durante a visita do príncipe Harry ao complexo, uma série de ações dos criminosos foi colocada em prática de forma simultânea na Vila Cruzeiro. Sem dúvida os marginais queriam, em mais uma ação desesperada, se aproveitar da presença do príncipe inglês para demonstrar uma força e organização irreais naquele momento. Retornando pela terceira vez à operação, a 9ª Brigada assumiu a Operação Arcanjo VII. Novamente sob o comando do Gen Bda Carlos Maurício Barroso Sarmento, coube aos “Leões” do 1º Batalhão de Infantaria Motorizado, ”Regimento Sampaio”, encerrar a participação do Exército Brasileiro no processo de pacificação dos Complexos do Alemão e da Penha. No momento em que a FT Sampaio assumiu a posição, em 09 de Abril de 2012, o Exército Brasileiro já havia transmitido toda a responsabilidade da segurança do Complexo do Alemão para a Polícia Militar. Embora a tática de reprimir as ações com patrulhas a pé nos locais mais ermos das comunidades estivesse sendo mantida, o número de apreensões diminuía cada vez mais. A leitura deste dado nos leva a ponderar se ocor-
reu o aumento do tráfico realizado através de “bocas” itinerantes e que trabalham com pouca quantidade de intorpecente, ou o enfraquecimento da atividade criminosa, fruto do trabalho da Força de Pacificação, podendo inclusive ser um conjunto das duas teorias. Nesse ínterim, militares da FT Sampaio realizaram uma grande apreensão de drogas, em um local que funcionava como posto de abastecimento de traficantes que atuam em movimento e com uma estrutura enxuta: uma mochila, uma moto e um armamento leve. Observando não somente o tráfico, mas uma gama mais ampla de delitos, os índices de criminalidade despencaram na região e a maioria das ocorrências registradas pelos militares continou sendo o desacato às tropas. Médicos do hospital estadual Getúlio Vargas, maior emergência da região, e localizado a poucos metros do complexo da Penha, apresentaram números baixíssimos de atendimento a feridos por armas de fogo, em contraste com a situação existente antes da ocupação. Ao receber a solicitação para prorrogar o período de atuação do Exército na pacificação, o Ministro da Defesa Celso Amorim deixou claro que o prazo de saída das tropas seria impreterivelmente 30 de junho de 2012. Durante o período da Operação Arcanjo VII foi possível assistir, gradativa-
mente, a instalação das seguintes UPPs: Fazendinha e Nova Brasília (18/04), Adeus e Baiana (11/05), Alemão (30/05), Chatuba e Fé/ Sereno (27/06). Havia chegado a terceira fase da operação de ocupação e pacificação mencionada no início desta matéria. No dia nove de Julho foi realizada na base da Força de Pacificação, uma antiga fábrica de refrigerantes ocupada ainda em ruínas pelos militares durante a Arcanjo I, a transmissão oficial do comando das operações nos complexos para a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. O Cel Fernando Montenegro, comandante da FT Sampaio, repassou a responsabilidade ao Cel PM Carlos Eduardo Ribeiro e Souza, comandante do Batalhão de Campanha da PMERJ.
Operação Arcanjo, combatendo e aprendendo
A inédita operação de pacificação repercutiu não só no seio das comunidades atendidas como também no próprio Exército e no cenário internacional. Durante a ocupação, Cheryl Mills, chefe de gabinete da Secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, esteve no Rio de Janeiro para conhecer a operação. Além dela, o adido militar dos Estados Unidos; autoridades militares da Austrália e da Índia; alunos do War College dos EUA; e membros da imprensa internacional fizeram questão de conhecer a rotina das
tropas nas comunidades. O emprego do Exército no processo de pacificação dos complexos do Alemão e da Penha colocou a tropa diante de confrontos assimétricos, característicos de conflitos do século XXI. Atuando dentro de um contexto de guerra de quarta geração, onde o inimigo encontra-se encravado no meio da população e utilizando-se dela em benefício próprio, os militaPor duas vezes a frente da res aprenderam in FT Sampaio, o Cel Fernando loco a compreenMontenegro foi o militar der os problemas que mais tempo atuou na Operação.Ele permanesociais da região e ceu 180 dias no terreno perceber que até durante as Arcanjos IV e mesmo um líder VII. Rafael Sayão religioso poderia ser um manipulador das massas em prol do tráfico. Observando fatos recentes de nossa história, percebemos que xe para os manuais de instrução estabelecer e garantir a lei e a da força informações valiosas e ordem vem sendo cada vez mais inéditas. uma missão do Exército. Seja Além de um grande avanço em greves policiais ou atuando no desenvolvimento de uma contra o quase invisível tráfico de doutrina de GLO, a operação de drogas, as ações de GLO estão vipacificação possibilitou à tropa rando rotina para a Força Terrestre o contato com realidades nunca e a operação de pacificação trouexperimentadas. O debate sobre
Militares da FT Sampaio realizam bloqueio de via durante a Operação Arcanjo VII. As operações de demonstração de força foram muito utilizadas. Carlos Filipe Operti
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Urutu patrulha as ruas da região conhecida como Fazendinha. Rafael Sayão
questões referentes ao aparato jurídico e às regras de engajamento utilizadas na missão saiu da esfera do oficialato e atingiu todos os elementos da tropa, garantindo um aumento do nível técnico das operações. O uso de munições menos letais durante toda a operação levou a um avanço na forma de emprego deste tipo de equipamento. Utilizá-los em situação real foi uma das grandes oportunidades proporcionadas. Soluções puderam ser testadas em operações reais. Nas vielas da Penha e do Alemão vimos equipamentos ganharem adeptos e outros se apresentarem como desnecessários. Os cartuchos de borracha e o spray de pimenta foram muito eficientes na dispersão de turbas frequentemente encontradas pela tropa. Outras soluções, como o spray colante, ainda precisam de aprimoramento, pois não foram capazes de impedir o avanço do agressor contra o militar. A avaliação geral por parte dos responsáveis foi de que os equipamentos, em sua maioria, atenderam as Reconhecimento e o apoio a comboios eram as principais missões dos HM-1 “Pantera” durante a operação. Rafael Sayão
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expectativas. As regras de engajamento que norteavam a operação também observavam a utilização da munição menos letal e orientavam claramanente os militares sobre as áreas do corpo a serem atingidas de forma a não provocar danos físicos às vítimas. E, mesmo assim, apesar de todo o cuidado, um morador perdeu a visão após ser atingido por um projétil de borracha. Os meios rodantes empregados na operação merecem destaque especial. A utilização das motocicletas e o desenvolvimento de uma doutrina baseada no binômio moto/fuzileiro será uma das mais valiosas lições a serem tiradas neste quesito operacional. Atuando em missões de escolta, reconhecimento, transporte e patrulhas, as motocicletas Yamaha Lander 250cc e Honda Tornado 300cc foram fundamentais para chegar onde as outras viaturas não conseguiam chegar, garantindo o acesso da tropa a toda a comunidade. Mesmo em uso pela Argentina
na missão de paz do Haiti, a viatura Marruá ainda não havia sido empregada efetivamente pelo Exército Brasileiro em operações reais. Durante a Operação Arcanjo, a utilização de 48 unidades do modelo demonstrou a desenvoltura e a resistência necessárias e esperadas de uma VTNE (Viatura de transporte não especializada), desde que se respeitando o previsto na manutenção. Veteranos da década de 70, os Urutus foram empregados na operação pelas unidades de cavalaria mecanizada. Com capacidade para transportar aproximadamente 12 militares, foram ferramentas fundamentais na garantia de um poderoso efeito de dissuasão e proporcionando o deslocamento seguro da tropa pelos pontos mais críticos do teatro de operações. As vielas e
prontas para decolar do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, localizado a menos de dois minutos de voo das comunidades. As aeronaves, artilhadas com uma metralhadora MAG 7,62mm, foram utilizadas em missões de fotografia aérea, reconhecimento e apoio a comboios. Incursões rápidas da tropa através da técnica de fast-rope foram realizadas com o objetivo de demonstrar força. A emissão de um NOTAM (notificação aos aviadores sobre restrições/exceções impostas ao espaço aéreo, emitida pela autoridade aeronáutica) que restringia o espaço aéreo sobre a zona de ação da Força de Pacificação permitiu rapidez no emprego das aeronaves sem a necessidade de coordenação com os órgãos de controle de tráfego. Esta versatilidade ganha com o emprego da
Militares da FT Santos Dumont transportam suprimentos em um M-Gator A1. Rafael Sayão
inclinações exageradas encontradas nos dois complexos tambem foram o pano de fundo ideal para o emprego do M-Gator A1 6X4. O veículo, que vem sendo empregado em larga escala pelos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, foi peça chave no sistema logístico da operação, transportando suprimentos para os pontos mais avançados. Apoiando a Força de Pacificação, a Aviação do Exército realizou inúmeras surtidas sobre as comunidades pacificadas cumprindo sua missão primaz de proporcionar aeromobilidade à tropa. Presente na estrutura da Força de Pacificação, o elemento da Aviação do Exército mantinha de prontidão uma aeronave HM-1 “Pantera” e uma HA-1 “Fennec”,
aeronave se limitava às operações diurnas, pois a falta de uma aeronave dotada de recursos para o voo noturno impedia as operações nestas condições. Outra ação prejudicada foi a de comando e controle, que não funcionou como o preconizado devido à ausência de comunicação entre a aeronave e a tropa no solo. Porém, não só de experiências e aprendizados se beneficiou o Exército em sua participação na operação. Calcula-se que R$333 milhões foram investidos pelo governo federal durante a Operação Arcanjo. Boa parte deste montante veio através de verbas extraordinárias que o Exército não teria recebido caso não estivesse à frente da operação. Além dos custos ordinários de pagamento de
As motocicletas garantiram o acesso das patrulhas as estreitas vielas dos Complexos. Rafael Sayão
serviços, combustível e alimentação, o Exército teve a oportunidade de investir em aquisição de viaturas, equipamentos de comando e controle, armamento menos letal e outros materiais que somaram ao esforço da tropa, proporcionando também maior segurança ao combatente. Durante a operação, todos os militares utilizavam capacete e colete balístico classe III, além de óculos de proteção semelhante aos utilizados pelos norte-americanos no Iraque. No decorrer da operação, todos os fuzis foram substituídos pelo modelo Para-Fal 7,62mm, ideal para o emprego nas comunidades por permitir maior mobilidade do militar em ambientes restritos de espaço.
Missão dada, missão cumprida
exeperiênca de liderança e combate nas mal iluminadas vielas do Alemão e da Penha. Cabos e Sargentos deemosntraram que são fundamentais em ações como está e que, em muitas ocasiões, são a voz e o rosto do Exército no contato com a população e na solução de questões inesperadas surgidas durante uma patrulha. Com particular entusiasmo, vi logística do Exército demonstrar força e profissionalismo durante a Operação. Salvas as devidas proporções, vi algumas das dificuldades entrentadas em Canudos pelo Marechal Carlos Machado Bitencourt, patrono da Intendência, serem reeditadas e igualmente vencidas nesta operação. Quem teve a oportunidade de ver a antiga fábrica de refrigerantes, base utilizada durante a Arcanjo 1, completamente em ruinas e abandona ir se transformando, gradativamente, nas confortáveis instalações existentes na Arcanjo VII, se impressiona com facilidade.
Durante as Arcanjos III, V e VI, vi a logística vencer o desáfio de garantir o planejamento logistico necessário para transportar meios e pessoal das tropas oriundas de outros estados da federeação. Vencer uma força adversa que se encontra infiltrada e quase imperceptivel no meio da população poderia ter tazido vários problemas referentes ao uso excessivo da força por parte da tropa. O que assisti, pelo contrário, foi uma perfeita assimilação das regras de engajamento, previamente estipuladas, por parte de todas as camadas da tropa. A manutenção da autoridade sem perder o respeito a população, tão elogiado na missão no Haití e apontado por muitos como a chave do sucesso brasileiro, também foi utilizada com sabdoria no Alemão. Hoje, sem medo de parecer entusiasmado em demasia, vejo o Brasil como umas das nações mais preparadas para este tipo de missão no mundo. Mais um valioso aprendi-
Mais do que a oportunidade de atuar de forma operacional em um cenário inédito, a pacificação dos complexos do Alemão e da Penha trouxe ao Exército a oportunidade de estar lado a lado com a população. De forma geral, o ambiente não era dos melhores. A mídia estava em todo o terreno com recursos que tornam as informações, verídicas ou não, rápidas como um disparo de fuzil. Ao seu lado organizações não governamentais e entidades religiosas defendendo as mais variadas bandeiras, motivadas por ideais e interesses diversos. Sem olhar para nenhum fator adverso, a missão foi aceita e cumprida. E, com profissionalismo, os moradores que não
estavam comprometidos foram sendo conquistados a cada dia. A inédita interoperabilidade alcançada pelas diversas esferas governamentais em prol de uma ação levou a população a recuperar a confiança nas forças do Estado. Em pesquisa realizada por especialistas independentes, 94% dos moradores afirmaram serem favoráveis ou muito favoráveis à presença das Forças de Pacificação no conjunto de favelas. Portanto, cabe agora ao poder público, na figura das forças de segurança estaduais e nas diversas esferas da administração municipal e estadual, trabalhar para trazer não só a segurança, mas também o conjunto de serviços essenciais necessários àquela população, de modo que o esforço realizado para a pacificação da cidade dê frutos futuros. OP
Os arcanjos que vi... POR RAFAEL SAYÃO
Sem dúvida a ocupação dos Complexos do Alemão e da Penha nos transmite uma mensagem muito mais abrangente que apenas a pacificação de uma comunidade. No período que acompanhei, pelas vielas das comunidades, este processo de pacificação, me deparei com uma tropa de moral elevado e comprometida com a missão; recebi, por pura sorte, o carinho dispensado às tropas pelas crianças e o reconhecimento do trabalho pelos moradores mais velhos. Tive a alegria de retornar a Igreja de Nossa Senhora da Penha que durante longo período foi área proíbida aos fiéis e vi o tradicional parque de diversões da região voltar a movimentar os brinquedos que encantaram gerações. Vi também o Exército Brasileiro aprender muito com a lição Operação Arcanjo e oficiais recém saídos da Academia ganharem Outubro / Novembro • 2012
zado realizado nas “salas de aula” estreitas e mal iluminados dos Complexos do Alemão e da Penha. Acompanhar durante estes 583 dias o trabalho realizado pelo Exército Brasileiro durante a Operação Arcanjo me faz recordar uma frase de Dag Hammarskjöld, ex-Secretário-Geral da ONU, que disse: “Manutenção da Paz não é um trabalho para soldados, mas apenas soldados podem fazê-lo”. Longe da euforia provocada pela imprensa no momento da invasão, das incertezas iniciais presentes no pensamento de cada um dos moradores, nos anseios dos que temiam o desconhecido ou mais uma falácia do poder público, foi realizado um trabalho sério que devolveu a milhares de homens e mulheres o direito de serem cidadãos brasileiros, e às crianças o direito de sonhar não só com um futuro melhor e pacífico, mas quem sabe com anjos ... e arcanjos! OP
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TEXTO RAFAEL SAYÃO FOTOS JONATHAN BRAMUSSI
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ogo cerrado sobre as tropas da ONU. Os rebeldes flanqueiam a patrulha que tenta manter a posição com seu restrito poder de fogo. O zumbido dos tiros ecoa fundo nos ouvidos do homem que se protege por detrás do blindado das Nações Unidas. Mesmo diante do perigo eminente ele tenta se levantar e cumprir sua missão protegido somente por um colete balístico e um capacete que passam longe do adequado. A descrição fictícia não é a de um militar que atua sob a égide da ONU em algum rincão conflituoso do planeta. O homem que se esquivava dos tiros atrás do veículo era um correspondente cobrindo um conflito armado, uma das mais desafiadoras vertentes do trabalho jornalístico. Desde Tucídides, que relatou os detalhes da Guerra do Peloponeso, o mundo passou a observar as batalhas pelas lentes e relatos dos correspondentes de guerra. Esta atribuição, cada vez mais perigosa, vem ceifando a vida de muitos profissionais da imprensa ao longo da história, principalmente nas últimas duas décadas, com o aumento dos conflitos internos e da instabilidade política e social em vários países. Segundo o “International News Safety Institute”, 124 jornalistas perderam a vida no ano de 2011, número que supera o de jornalistas vitimados durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã. O Brasil, país aparentemente estável, mas que ainda sofre com questões relacionadas à segurança pública, é apontado pelo 52
instituto como o terceiro país mais perigoso para jornalistas na América Latina, atrás somente de México e Honduras. Na busca por um melhor preparo, cada vez mais jornalistas estão buscando formação para atuarem com segurança em áreas de conflito. No Brasil esta formação é oferecida pelo Exército Brasileiro, através do Centro Conjunto de Operações de Paz – CCOPAB, responsável pelo Estágio de Preparação de Jornalistas em Áreas de Conflito. De forma geral as turmas costumam ter por volta de 30 jornalistas, dos mais importantes veículos de imprensa do Brasil, que são submetidos a uma semana de instruções teóricas e práticas que tem por objetivo prepara-los para exercerem suas funções em ambientes hostis, e principalmente fazer com que não virem à notícia. Criado em 2008, o estágio já se tornou respeitado entre os profissionais de imprensa que
batalham por uma vaga cada vez mais disputada. O estágio empolga pelas experiências registradas. O relato da jornalista Daniella Jinkings da Agência Brasil, é bem direto: “O curso foi muito bom. Na verdade, foi completamente diferente do que estava imaginando. Tudo foi muito real, muito forte. Foi uma superação para mim, tanto física quanto mental, principalmente nas atividades de incursão. Acho que é um curso pelo qual todo jornalista deveria passar, mesmo que não seja para cobrir conflitos, pois te ensina muitas coisas úteis. Além da experiência, creio que a partir de agora ficarei muito mais atenta a uma série de questões, principalmente de segurança durante as pautas”. Nos dias que permaneceram no CCOPAB, os profissionais de imprensa deixaram de lado o conforto das redações e foram imersos em um ambiente de doutrina militar com instruções durante
A fadiga e o cansaço são companheiros constante s dos jornalistas durante todo o estágio. Sd Jonathan Bramu ssi/EB
quase todo o dia, pouco descanso e muita ralação. Até mesmo para quem já esta acostumada com a rotina nas fileiras do Exército, o estágio surpreendeu. “Ter a oportunidade de participar do Curso de Jornalista em área de conflitos foi de extrema importância para minha carreira, uma vez que já fiz e continuo fazendo a cobertura de diversas atividades da Força Terrestre. Já tive a chance de acompanhar uma patrulha noturna no Complexo do Alemão, enquanto estava ocupado pelo Exército Brasileiro, participei de Operações reais, como a da Bahia, e de adestramento de tropas do Exército, como a Guarani e a Oásis. E saber posicionar-se ou proteger a sua pessoa e a equipe durante uma progressão é fundamental para o sucesso da missão. Além disso, como militar temporária, quando sair da Força, estarei mais preparada para encarar o mercado de trabalho” – declarou a 2º Ten Alessandra Hirtenkauf do Centro de Comunicação Social do Exército. Os dois primeiros dias do estágio são dedicados a instruções teóricas, como a participação brasileira em missões de paz; comunicação e negociação com sequestradores; terrorismo e contraterrorismo; regras de engajamento; artefatos explosivos; direitos humanos e direito internacional humanitário, entre outros. Na instrução sobre regras de engajamento os jornalistas foram levados ao moderno simulador de tiro do Centro. O equipamento utilizado na instrução dos mili-
tares que atuarão nas diversas missões de paz em que o Brasil é empregado, não é destinado à instrução de tiro e sim à aplicação das regras de engajamento emitidas pela ONU. Equipado com três carabinas M4A1 e duas pistolas Beretta 9mm, o simulador permite confrontar a tropa com muitas situações reais encontradas no terreno, levando o combatente a tomar as decisões certas sem se precipitar no gatilho. Acostumados a serem os principais algozes quando existe excesso no uso da força, os jornalistas tiveram a
oportunidade de descobrir que a situação de conflito não é tão simples assim. Mesmo em um ambiente simulado, longe do estresse real e com todo o conforto oferecido pelo equipamento, muitos alvejaram civis, colegas de farda e até mesmo outros jornalistas. O terceiro dia é marcado pelo início das instruções práticas. Durante visita à Escola de Instrução Especializada do Exército os alunos aprenderam a identificar diversos tipos de minas terrestres, a como se deslocar em um terre-
no minado e até mesmo como localizar um artefato enterrado. Na Companhia de Defesa Química, Biológica e Nuclear viveram um dos momentos mais incômodos do estágio ao serem confinados em um ambiente com gás lacrimogênio. “Não lava o rosto e não esfrega os olhos. Se molhar é pior!” – bradava o Cap Alexandre Shoji, coordenador do estágio. Ambientes confinados e colapsados também foram visitados durante a instrução realizada na Academia de Bombeiros Militares D. Pedro II, onde os jornalistas aprenderam combate a incêndio, primeiros socorros e novamente foram colocados à prova em uma
casa de fumaça. Com o rosto colado ao chão encharcado e a poucos centímetros do fogo os jornalistas aprenderam que com calma e sangue frio é possível manter a consciência, escapar da fumaça e ainda conseguir escrever a reportagem. No quinto dia todos os estagiários receberam colete e capacete balístico, além de ração de combate R2, cantil e bornal. Foram mais 13 quilos para os alunos transportarem durante o dia ensolarado na cidade do Rio de Janeiro. Na parte da manhã policiais militares dos Batalhões de Operações Especiais do Rio de Janeiro e de Santa Catarina foram os responsáveis por ensinar as
O combate a incêndio é uma dos momentos mais tensos do Estágio de Jornalista em Área de Conflito. Sd Jonathan Bramussi/EB
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REPORTAGEM
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JORNALISTAS NO CAMPO DE BATALHA
táticas de progressão a pé dentro de uma comunidade, onde os espaços são restritos e os perigos eminentes. Como se não bastasse conhecer os perigos, é preciso saber identifica-los com precisão. Na instrução de balística os estagiários conheceram as diversas munições encontradas em uso no mundo e tiveram a oportunidade de assistir a disparos de fuzil 5.56mm e 7.62mm e de pistola 9mm, observando o som emitido por cada disparo e o efeito de seus impactos em diversos tipos de materiais como madeira, tijolo, concreto, vidro blindado e coletes balísticos classe III. Já na parte da tarde o desafio foi maior e o preparo físico dos jornalistas foi desafiado. Equipados com o dispositivo de simulação de engajamento tático (DSET) instalado pelo Centro de Avaliação do Adestramento do Exército, os eles deveriam encarar uma subida de 200 metros no Morro do Capim acompanhando um grupo de combate do 27º Batalhão de Infantaria Pára-quedista. Correndo, esquivando-se e rolando no chão, os jornalistas enfrentavam o “fogo” que vinha dos militares do CAADEX, que faziam o papel de força oponente. O DSET simula o combate com muito realismo e caso o jornalista fosse atingido uma gravação se encarregava de informar o nível de gravidade do ferimento ou transmitir a informação que ninguém queria ouvir: morto! Somente um jornalista foi “morto” neste exercício final do curso, uma prova de que a instrução foi assimilada e que o CCOPAB cumpriu sua missão: preparar os jornalistas para serem enviados com segurança e treinamento para o campo de batalha. OP 54
Uma escola para soldados da paz
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riado no dia 15 de junho de 2010, através da portaria nº 952-MD, o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil tem suas origens no Centro de Preparação e Avaliação para Missões de Paz do Exército Brasileiro (CEPAEB), que tinha como missão a orientação e preparo cos contingentes brasileiros que iriam integrar as Missões de Paz. Subordinado à 1ª Divisão do Exército e vinculado ao Comando de Operações Terrestres, à Diretoria de Ensino e Cultura do Exército e ao Comando Militar do Leste, o CCOPAB está localizado na Vila Militar, no bairro de Deodoro, no Rio de Janeiro. Atualmente suas instalações passam por obras extensas que buscam tornar o centro um grande complexo estruturado e equipado para a formação dos peacekeapers. Com o objetivo de apoiar na preparação de militares, policiais e civis engajados em missões de paz, o Centro possui hoje oito cursos: estágio de preparação de jornalistas em áreas de conflito, estágio de negociação em operações de paz, estágio de desminagem humanitária, estágio de cooperação civil-militar, estágio preparatório para
comandantes de organizações militares e Estado Maior, estágio preparatório para comandantes de subunidade e pelotão, estágio de preparação para missões de paz e estágio de tradutores e intérpretes militares. Além destes, o Centro é responsável pela realização do exercício avançado de operações de paz (EAOP). Ao final do período de instrução, é realizado o exercício onde os participantes devem desenvolver uma série de atividades e missões que simulam o ambiente operacional em que a tropa será inserida. Tendo como patrono o Alto Comissário de Direitos Humanos da ONU, Sérgio Vieira de Mello, o CCOPAB figura hoje como referência internacional na formação e
aperfeiçoamento dos recursos humanos empregados em missões de paz das Nações Unidas, compartilhando o sucesso e respeito que os “boinas azuis” brasileiros vem alcançando nas missões em que são empregados.
Espaço Cultural Sérgio Vieira de Mello
Av Duque de Caxias, 492, Vila Militar, Rio de Janeiro, RJ Tel: (21) 2457-0515 comsoc@ccopab.eb.mil.br O Centro Cultural pode ser visitado de segunda a sexta, das 10 às 17h..
Carlos Filipe Operti
ENSAIO
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60 ANOS DA ESQUADRILHA DA FUMAÇA
Carlos Filipe Operti
André Rosa
Carlos Filipe Operti
Carlos Filipe Operti
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Carlos Filipe Operti
Carlos Filipe Operti
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Um museu espetacular TEXTO E FOTOS LEO MELO
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aris. Qualquer adjetivo sobre Paris é pouco. Lindas praças, ruas, monumentos e museus. Muitos museus. Entre os museus que se destacam na cidade, há o Les Invalides, um complexo museológico com coleções espetaculares que o tornam uma atração imperdível para qualquer visitante a capital da França. O hospital dos Inválidos foi criado em 1670 por Luís XIV, para receber os soldados gravemente feridos em combate. Segundo o rei, era preciso “cuidar daqueles que derramaram sangue pela monarquia”. A conclusão da obra foi em 1677, mas os primeiros hóspedes chegaram a partir de 1674. Logo depois se iniciou a construção da igreja que receberia o nome de Saint Louis de Les Invalides. O cuidado com a memória dos que lutaram pela França pode ser observado desde muito cedo,
pois em 1872 foi inaugurado o museu de artilharia e em 1896 o museu histórico do exército para finalmente em 1905 ser criado o museu do exército. O museu pode ser dividido em quatro museus por assim dizer. O Departamento Antigo, o Departamento Moderno, o Departamento das Duas Guerras Mundiais e a Tumba do Imperador.
Departamento antigo
Neste departamento está preservada uma das maiores coleções de militaria do mundo antigo. Uma informação colhida no museu, diz que é a terceira maior coleção de armaduras da Europa, cobrindo três séculos de trabalho e arte, pois algumas das peças em exposição são ricamente ornamentadas. O departamento pode ser divido em dois setores. Um de modo a ser visto de modo cronológico e outro de modo temático. Há
inclusive uma seção com armaduras japonesas usadas pelos samurais. Primitivos canhões também podem ser vistos nesta parte do museu, em sua maioria, decorados. Também podem ser vistas, coleções de mosquetes, punhais, espadas, bestas e projéteis.
Departamento Moderno
Este departamento cobre o período de 1650 a 1870, com ênfase nas Guerras Napoleônicas. A coleção de uniformes deste é simplesmente belíssima. Um dos pontos altos do museu sem dúvida. Outras peças são impressionantes, tais como uma sela mameluca provavelmente usada na Batalha das Pirâmides, o bicórnio usado por Napoleão na Batalha de Eylau em 1807, além do seu famoso, sobretudo cinza, sem mencionar peças relativas a um dos maiores
feitos da história militar. A vitória de Napoleão Bonaparte em 1805 em Austerlitz. Outra peça que chama bastante interessante e sem dúvida pavorosa, é o peitoril do Carabineiro François Antoine Faveau, morto na Batalha de Waterloo em 1815 por um disparo de canhão. A parte final desta seção do museu termina com a Guerra Franco Prussiana em 1870 e o cerco de Paris.
Departamento das Guerras Mundiais
Sendo um dos principais protagonistas das Duas Guerras Mundiais é natural que o museu tenha uma seção dedicada aos dois conflitos. Nela podem ser vistos alguns objetos muito interessantes e alguns nos deixam um alerta. Dentre as peças há inclusive bastões de marechais de França. Mas as peças que chamam a atenção e nos alertam são
Fachada norte do Museu, lado oposto da igreja. Observar o fosso. Leo Melo
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CULTURA
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MUSEU LES INVALIDES
as máscaras mortuárias de dois veteranos franceses da I Guerra. Seus rostos estão terrivelmente mutilados. Na ala da II Guerra Mundial, há um objeto interessante. Um dos “pára-quedistas” falsos lançados pelos aliados no Dia D, sobre a Normandia. Em nada se parece com o que é mostrado no filme “O Mais Longo dos Dias”. Peças de artilharia de ambos os lados, também estão expostas. Recentemente foi inaugurada ao fim desta ala, uma sala em homenagem ao Presidente Charles de Gaulle.
Tumba do Imperador
O ponto de maior destaque deste belo museu é sem dúvida a Tumba do Imperador Napoleão Bonaparte. Os adjetivos sobre Napoleão são muitos, mas sejam lá quais forem não há como negar que foi um dos poucos homens que mudou a História. Depois dele o mundo nunca mais foi o mesmo. Conseguiu inclusive mudar a História brasileira. A tumba fica dentro da igreja. Nela, além de Napoleão, estão sepultados outros nomes ilustres das armas de França, como por exemplo, Sebastién Vauban, o grande arquiteto militar. De fato,
o que está sepultado na igreja é somente o coração de Vauban. Seu corpo descansa Bazoches-du-Morvan a 280 km de Paris. Outro nome destacado é a sepultura do marechal Foch, num grupo escultórico de grande beleza. Numa dos enormes corredores externos, há uma placa em homenagem aos legionários mortos em Camerone, México. Em 1863 numa fazenda chamada Camerone, 62 Legionários e 3 oficiais resistiram durante aproximadamente 10 horas, numa proporção de um contra quarenta! Foi tempo suficiente para uma coluna com centenas de franceses
Baldaquino na Eglise du Dome. O acesso à tumba do Imperador se dá atrás dele. Leo Melo
Metralhadoras usadas na I Guerra Mundial. Leo Melo
Armaduras na Reserva Técnica. Uma das melhores coleções da Europa. Leo Melo Vitrine destaca o desembarque na Normandia. Leo Melo
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poderem fugir. Ao fim do cerco, apenas doze legionários estavam vivos e um gravemente ferido. Os mexicanos ofereceram a rendição que só foi aceita com a condição de poderem levar o corpo do comandante e a bandeira. Um detalhe curioso sobre o museu, é que na entrada oposta à igreja, estão alinhados uma série de canhões antigos que apontam diretamente para o Palácio do Champs Elysees. O objetivo é lembrar aos ocupantes do palácio que o poder emana do povo e que pode ser tomado. Se tiver oportunidade de visitar Paris, visite Les Invalides. É uma aula de História! E tem Paris... Bon Voyage! OP
Escultura de NapoleĂŁo em bronze, medindo 3,74m e concebida por Charles Emille-Seurre. Leo Melo
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CULTURA
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VEÍCULOS MILITARES ANTIGOS
TEXTO RAFAEL SAYÃO
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irculando pelas ruas movimentadas de São Paulo está um nostálgico jeep Ford GPW 1942 ostentando cor e marcações de um veículo militar, conduzido por um jovem senhor trajando uniforme da época da Segunda Guerra Mundial e os óculos estilo aviador. Muitos podem acreditar que alguém criou uma máquina do tempo e aquele cidadão há via sido o primeiro a atravessá-la com sua viatura. Entretanto, estão diante de Marcos Cesar Spinosa, um advogado paulistano que elegeu na paixão por veículos militares antigos a sua forma de contribuir com a preservação de uma importante fatia da história brasileira. Um dos fundadores do Jeep Clube do Brasil e fundador da Associação Paulista de Veículos Militares Antigos, Spinosa iniciou sua história junto ao GPW 1942
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ainda na década de 80. “Comprei o veículo de um arquiteto em 1988 e este adquiriu em um leilão do Exército em 1952. Ele serviu na instrução de soldado do curso de material bélico da Academia Militar de Realengo. Está cerca de 90% origina,” comenta o empolgado proprietário. O maior valor pago na aquisição da viatura não foi financeiro. Spinosa assumiu com o antigo proprietário a “missão” de restaurar o carro e manter suas características originais. O veículo foi totalmente desmontado e teve motor, cambio, caixa de transferência, caixa de direção e diferenciais refeitos, uma coisa comum para quem se aventura na tarefa de restaurar uma viatura deste tipo. Percebeu que a missão havia sido cumprida com louvor quando teve a opor-
tunidade de apresentar o carro e emocionar o antigo dono. Na hora de pintar seu GPW, o colecionador optou por homenagear o 1º Grupo de Caça e seus heróis que lutaram nos céus da Itália. Buscando a maior fidelidade possível, Spinosa realizou uma minuciosa pesquisa que contou com a ilustre participação do comandante Alberto Martins Torres, um dos veteranos mais voados do 1º GAvCa na guerra. O experiente aviador acompanhou cada momento do restauro do veículo, sendo uma das principais fontes de informação para trazer à vida a viatura utilizada por ele em terras italianas. Coroando esta relação histórica com o “Grupo de Caça”, o carro recém-restaurado foi utilizado para transportar o Brigadeiro Nero Moura em uma celebração do Dia da Aviação de Caça na Base Aérea de Santa Cruz. Valentes como os jeeps que cruzaram os campos de batalha transportando toda ordem de suprimentos e pessoal, os preservadores de viaturas militares são verdadeiros mecenas da história militar brasileira. Reunidos na Associação Brasileira dos Preservadores de Viaturas Militares, mantém junto ao Exército Brasileiro o projeto do Museu Vivo de Viaturas Militares Antigas de Valor Histórico do Rio de Janeiro, que realiza exposições frequentes no estado e assessora as Forças Armadas quando surge o interesse pela
restauração de alguma viatura. O trabalho vem sendo responsável por aproximar cada vez mais a população da força terrestre e da história militar brasileira. No ano de 2009, Marcos Cesar Spinosa teve o prazer de participar do projeto “Caminho dos Heróis”. Liderados pelo músico e preservador João Barone, 22 brasileiros foram à Itália para percorrer as localidades por onde a Força Expedicionária Brasileira passou em sua saga durante a Segunda Guerra Mundial. Montese, Pistoia, Monte Castelo, Fornovo Di Taro, Collecchio... todas as cidades foram percorridas. O carinho e gratidão que a “tropa brasileira” recebeu dos italianos foi registrado em vídeo dando origem a um documentário. Um dos incentivadores da presença dos vículos militares no antigomobilismo, Marcos Cesar Spinosa diz que o cuidado e a preservação das viaturas proporciona um bem estar maior ao proprietário que ao próprio carro. “Para aqueles que se interessam por história militar e antigomobilismo, a preservação de veículos militares pode ser um lazer que trará grande satisfação, seja pelas amizades que vier a fazer, pela participação nas atividades dos grupos ou pelo próprio lazer em si.” OP