anos Na passagem do 21º aniversário, o OPINIÃO PÚBLICA lança desafio aos famalicenses
Ideias para o futuro do concelho Cristina Azevedo Estávamos no verão de 1991. O jornal OPINIÃO PÚBLICA saía à estampa pela primeira vez, inovando a forma de se fazer jornalismo em Famalicão. Surgiu um pouco em contraciclo, quando a região entrava num período difícil que ficou conhecido como “a crise do Vale do Ave”, com falências, sobretudo no Têxtil, e aumento do desemprego. De lá para cá, Famalicão cresceu, desenvolveu-se e atingiu o estatuto de cidade média no país. Hoje, a palavra “crise” volta a assombrar os espíritos. Mas, tal como ontem, o OPINIÃO PÚBLICA não se resigna naquilo que é a sua missão, não só de informar, mas também de motivar, de empreender, de contribuir para o desenvolvimento do concelho onde está inserido. Porque essa é a verdadeira missão de serviço público. Como tal, na passagem do nosso 21º aniversário, lançamos o desafio a várias personalidades famalicenses: apresentar ideias para o futuro do concelho. E fomos também à rua, saber o que pensa o famalicense anónimo do futuro da sua terra. Parque da Devesa: um projeto para o futuro Entre as ideias apresentadas, há uma que sobressai e que é comum a muitas das opiniões recolhidas: o Parque da Devesa, ou Parque da Cidade, é um projeto de futuro. A obra, que está em fase de conclusão, é apontada como algo que fica para o futuro, sendo que a maior preocupação é precisamente que os famalicenses saibam usufruir e manter aquele que é considerado “o pulmão da cidade”. E, associadas ao parque, surgem outras ideias que têm como denominador comum o ambiente, desde as energias renováveis, passando pela investigação até a uma nova forma de encarar o espaço público. Os tempos difíceis que o país atravessa e o espectro do desemprego também não são esquecidos. Daí que se apontem caminhos
O Parque da Devesa será inaugurado a 28 de setembro
para um concelho mais humano, solidário, com políticas viradas para as pessoas. Não esquecendo as artes e a cultura. Curiosamente, as infraestruturas básicas são relegadas para segundo plano, o que poderá significar que, a este nível, os famalicenses estão satisfeitos. Até no inquérito de rua que o OP apre-
senta nesta edição especial, o que mais se pede é um novo hotel e cinema… o cinema que a cidade já teve e que perdeu, apesar das propostas que o Cineclube leva semanalmente à Casa das Artes. Significa isso que Famalicão está em condições de pensar o seu futuro a outro nível? O debate está lançado…
Partilhar para um futuro melhor! João Fernandes, Diretor Jornal Opinião Pública O homem fica na história por aquilo que partilha ao longo da sua vida. Não só pelos seus bens materiais, mas fundamentalmente pelos bens não materiais, onde se destaca a partilha do saber e, por inerência, a experiência de vida. Curiosamente, a experiência de vida na nossa cultura – refiro-me a Portugal e à maioria dos países europeus – é muitas vezes relegada para segundo plano, como se demonstra pela dificuldade que as pessoas, a partir de uma determinada idade, mesmo com muita experiência em determinadas áreas, têm em arranjar emprego. Acredito que é na partilha do conhecimento e, essencialmente, no saber fazer que está a força da mudança e a construção dum futuro melhor. E, aqui, saliento mais a partilha do conhecimento prático no interior das organizações entre os seus recursos humanos e técnicos, que no fundo não é mais que aliar e consubstanciar na prática o saber adquirido, mais teórico, desde a escola primária até à universidade. Há dias li um estudo onde se referia que as empresas familiares são as que têm maior longevidade. Talvez, precisamente, por isso, neste tipo de organizações seja mais fácil partilhar, porque existem laços de sangue. Não tenho dúvidas que as organizações que obtiverem melhor resultado da partilha do saber fazer e do conhecimento, entre os seus colaboradores, estarão muito melhores preparadas para atingir os seus objetivos e, por conseguinte, enfrentarem as adversidades no presente e no futuro, independentemente da atividade que exerçam, da sua dimensão, localização ou do seu mercado. E para isso são precisos apenas pequenos passos, que começam por mim e por si, não dependem de grandes ideias nem dos outros. Este é um trabalho que é feito no dia-a-dia, depende só
de nós, não precisamos de estar à espera que os outros o façam, assim como não devemos estar à espera que o governo ou outras instituições nos resolvam os problemas. Mas, quanto a isto, temos legitimidade para pedir que não compliquem, que simplifiquem e que partilhem de forma equitativa o que têm e o que não têm, principalmente nesta época de crise em que quase toda a gente perdeu e esperança. De resto, se pensarmos bem, o nosso trabalho não é mais do que a partilha convosco, da informação, do conhecimento e do debate de ideias. E é neste âmbito e com o intuito de podermos, de alguma forma, contribuir para inverter a atual situação de crise, que, como já referi, criou um desânimo geral na população, em que o debate de ideias escasseia e não se vê um rumo nem timoneiros para dar a volta a esta situação, que nesta edição o Jornal Opinião Pública, ao comemorar o seu 21º aniversário, dedica um especial à temática “Ideias para o Futuro”. Para isso convidamos várias personalidades com um papel ativo ou de relevo na sociedade e inquirimos cidadãos comuns a PARTILHAR connosco e com os leitores ideias para o futuro, esperando, deste modo, contribuir através da partilha de ideias e conhecimentos para um futuro melhor, que conduzam a alterar a atual conjuntura e repor a esperança e a confiança. Por último, na passagem de mais um aniversário do OP quero agradecer a todos os funcionários que demonstraram o seu empenho no dia-a-dia e que partilham a sua experiência e o seu conhecimento com os seus colegas; a todos os colaboradores, leitores e, de forma muito especial, a todos os clientes que ao longo destes anos partilharam e depositaram a sua confiança nos nossos serviços. O meu muito obrigado a todos e não se esqueçam de partilhar para um futuro melhor! pub
II
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especial
Inquérito de rua
Um parque de sonho Em primeiro lugar, aproveito esta oportunidade para saudar toda a equipa do jornal OPINIÃO PÚBLICA, pelo seu 21.º aniversário, fazendo votos para que continuem a trilhar o caminho do rigor e da independência. Quando a direção do jornal me desafiou a apresentar um projeto que eu considere essencial para o futuro de Vila Nova de Famalicão, inevitavelmente, surgiu no meu pensamento o parque da cidade. O Parque da Devesa, como será chamado, é um sonho concretizado. É uma obra estruturante para o ambiente e para a qualidade de vida do concelho. É, aliás, a maior obra de sempre na história do município de Famalicão. E digo isto pela dimensão do espaço urbano qualificado, pelo número de agentes e instituições que mobilizamos no terreno e pelas potencialida-
des que abrirá aos famalicenses ao nível ambiental, cultural, desportivo e na promoção de uma vida saudável. Projetado pelo arquiteto Noé Diniz, o Parque da Devesa é o novo "pulmão de Famalicão", com mais de 300 mil metros quadrados de área verde e um conjunto de equipamentos culturais e de lazer. Com esta obra grandiosa, Famalicão afirma-se como
um polo de bem-estar e de desenvolvimento. São atributos que, pela qualidade e abrangência da obra vão perdurar por muitas gerações, assegurando, desde já, o futuro que desejamos para os nossos filhos e netos. É, por isso, para mim uma grande honra e uma grande alegria poder concretizar esta obra. Convido, desde já, todos os famalicenses a participa-
rem na inauguração do Parque que acontecerá a 28 de Setembro, dia em que celebramos os 177 anos da fundação do concelho. Desafioos também a aproveitarem ao máximo tudo aquilo que o Parque vai ser capaz de proporcionar às pessoas na certeza de que assim estarão a melhorar a sua própria qualidade de vida. Termino com uma palavra de apreço por esta iniciativa do jornal OPINIÃO PÚBLICA. Ao auscultar a opinião de diversas personalidades da vida política e social famalicense sobre o futuro do nosso concelho, o jornal está a promover a cidadania ativa, mantendo uma relação de grande proximidade com a população e com o concelho. Armindo Costa, presidente da Câmara Municipal de Famalicão
Qualidade O concelho de Famalicão tem grande parte das suas infra-estruturas e equipamentos concretizados. É difícil encontrar um projeto de grande dimensão para realizar. Os dois monumentos inaugurados recentemente na cidade são prova disso mesmo. Isto é, apesar da crise, existem recursos para o sonho de marcar um tempo e um ciclo político. O que ainda falta fazer é um compromisso coletivo com a qualidade: compromisso dos responsáveis políticos, mas também dos cidadãos. Qualidade que poderia começar por termos espaços públicos belos e bem cuidados, não só na cidade, mas em cada estrada, em cada recanto das freguesias do concelho. Não resisto a dar dois exemplos. Saio, muitas vezes, da A7 em Vermoim para Joane. O troço que liga a saída da auto-estrada até à estrada nacional tem as bermas cheias de lixo e os buracos
são mais que muitos. A auto-estrada tem qualidade. Aquele troço de ligação à estrada nacional é uma vergonha. Quanto custaria ter aquele espaço limpo e arranjado tendo em conta que para muita gente é, diariamente, a porta de entrada no concelho? Poucos recursos da Câmara, das Estradas de Portugal, ou de uma Junta de Freguesia. E custaria muito menos se todos tivessem esse cuidado. A Via Intermunicipal de Vizela a Joane é outro espaço sem o mínimo de qualidade. Claro que necessita de obras de requalificação, mas nem me refiro isso. Saliento o abandono de sempre em termos de limpeza, de marcação e de sinalização! O desenvolvimento de uma comunidade passa em parte significativa pela pequenas e nas grandes coisas. aposta na qualidade. No concelho de Famalicão a qualidade deveria ser um deCustódio Oliveira, safio a encarar de forma permanente nas presidente da ATC
Não devemos ser pobres a pedir
Pede-me o jornal OPINIÃO PÚBLICA em data de seu aniversário, ideias sobre o futuro do concelho. Faço-o com muito gosto, não sem que primeiro vos enderece os parabéns, não só pelo aniversário mas também pela qualidade do vosso jornal no que toca à apresentação.
Mas vamos ao que nos pede: Gostaria de ver os partidos locais de acordo, sobre um planeamento da cidade e das vilas de Joane e Ribeirão; que o saneamento básico deste concelho (abastecimento de água potável e esgotos de águas domésticas) seja rapidamente concluído para passarmos a ser um concelho desenvolvido; que na área da saúde as instituições existentes sejam apoiadas de forma eficiente; que na área social não faltem ajudas concretas para que nestes tempos difíceis as pessoas sofram menos; que na área da educação tudo funcione em pleno no que for da responsabilidade municipal; que dentro desta área seja implementado no concelho um Instituto Tecnológico que tenha em conta as principais indústrias regionais para o seu desenvolvimento e desenvolvimento da população; que na Justiça a sua Casa seja dignificada e saia rapidamente das más condições urbanísticas e degradantes em que se encontra.
Que o empreendedorismo seja de facto ajudado sem alardes; que todas as Instituições locais da sociedade civil sejam ajudadas para poderem exercer as funções para que estão vocacionadas. Que a Avenida Brasil se prolongue até o Cemitério Municipal para que este seja objeto de um grande arranjo exterior que o dignifique. A não aquisição pelo município do espaço em frente à fachada principal do Cemitério para desvio da EN206 foi uma opção negativa sem retorno, que muito lamentamos. Que apareça alguém que se arroje à construção de um hotel na cidade que a dignifique. A Câmara pode ter aqui um papel relevante. Que os jornais locais tenham opinião própria sobre os problemas públicos, etc., etc., etc.. Peço muito? Não devemos ser pobres a pedir. Amândio Carvalho, empresário
Que projeto gostava de ver realizado no concelho de Famalicão no futuro? Luís Oliveira, 47 anos, trabalhador na indústria hoteleira Gostaria de ver projetos virados para o desporto e para a área social. Há agora o projeto do parque da cidade, que está muito bonito.
Cristina Machado, 50 anos Gostava de ver espaços para desporto, embora considere que tem havido evolução. Também acho importante que haja atividades culturais, embora também considere que tenha havido alguma evolução nesse sentido. Patrícia Oliveira, 31 anos, professora Faz falta cinema, apesar de termos a Casa das Artes com uma animação bastante razoável, ultimamente. Já tivemos em Famalicão um cinema, que entretanto desapareceu por circunstâncias que nos são alheias, mas acho que é uma valência que temos que ir a Braga cultural que faz falta por- ou ao Porto. Graça Guimarães, 50 anos, doméstica Acho que Famalicão, ao nível dos idosos, está a trabalhar muito bem. Talvez a nível escolar… mais estruturas de apoio aos jovens, sítios onde os miúdos pudessem estar integrados a nível social. É isso que falta em todo o país: um apoio extraes- para os ocupar nos mocola mas perto da escola, mentos vagos. R i c a r d o S i l va , 3 5 , a n o s engenheiro eletrotécnico A cidade está arrumada em relação às cidades limítrofes. Pelo menos o centro está bastante organizado e bonito. Têm criado mais espaços verdes mas penso que era bonito abrirem um cinema. Como estou na área da engenharia, acho que a as escolas profissionais e Câmara poderia, com um os veículos da recolha de custo baixo, interagir com lixo serem elétricos. Luísa Castro, 55 anos, empregada bancária Famalicão tem recuperado muito de imagem e isso é uma oportunidade para atrair muitos turistas, mas não temos onde os hospedar. Em termos de postos de trabalho gostava que os empresários tivessem outra postura, que não se queixas- tentassem andar mais atisem tanto da crise e vos.
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Parque da Devesa... Que futuro?
Mais cinema na escola “Queria de ti um país de bondade e de bruma Queria de ti o mar de uma rosa de espuma” Mário Cesariny Num contexto de austeridade, em que imperam os limites do controlo do universo financeiro, com quase todas as vozes que nos rodeiam a pretenderem persuadir-nos a acreditar que já vivemos o apogeu das nossas existências, apontar caminhos para o futuro parece uma tarefa ingrata e, simultaneamente, exigente dos nossos recursos imaginativos. No entanto, surge-nos do cérebro uma brecha, que projeta um pequeno clarão: a Secretaria de Estado da Cultura pretende implementar, a partir do próximo ano letivo (como projeto piloto), o Plano Nacional de Cinema (PNC), que objetiva o incremento da literacia cinematográfica em articulação com o Ministério da Educação e da Ciência. Vila Nova de Famalicão é um concelho vasto, com mais de 130 mil habitantes, detentor de uma população jovem, com uma rede escolar extensa e multiplicada pelos vários escalões etários e graus de ensino e tem, a par de várias instituições que poderão ser chamadas a participar do PNC, um Cineclube impetuoso. Utilizando as experiências recolhidas pelas edições do Cinema na Escola que o Cineclube de Joane promoveu de forma esporádica e (ainda) pouco articulada, e contando com a participação indispensável do capital de conhecimento transportado pelos nossos valiosos professores, parecem reunidas, então, as condições para que o nosso concelho
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especial
Coube-me a mim e a mais uns quantos, projetar o Parque da Devesa. Não foi fácil mas foi apaixonante. A velha Quinta abandonada, com a sua mata dizimada, coberta de plantas bravias e infestantes, as casas arruinadas, os tanques secos e os muros derrubados, eram um testemunho triste de um passado laborioso. Na Quinta que se transformou em Parque não mais o chão será arroteado pelo arado ou pelo trator, e nas casas agora renovadas não existirá de novo a vida dura de um quotidiano rural. E agora? Quando as árvores se tornarem frondosas e o espaço aprazível, irá acontecer o que sonhamos para o Parque da Devesa? O novo paradigma de vida impõe que sejamos elegantes, morenos e atléticos. Por isso estou certo que a frequência do Parque está à partida assegurada. Mas... e o resto? Será que as novas construções, agora com valências específicas, irão ser um polo de ani-
seja um dos protagonistas na utilização do Cinema, a grande arte do século XX, como uma linguagem capaz de participar da aprendizagem das várias disciplinas: envolver os alunos com o cânone da Literatura através das adaptações cinematográficas de referência, leva-los a apreender a História através das visões dos grandes cineastas, etc. Porque futuro terá de ser, inevitavelmente, sinónimo de conhecimento e de aprendizagem, mas também de cultura, de abertura ao mundo e de fruição.
mação cultural onde a comunidade se reveja no seu passado e discuta o seu futuro na Casa do Território? E o Anfiteatro será um palco aberto à criatividade das populações, onde o teatro, a música e as múltiplas manifestações organizadas ou espontâneas irão acontecer? E às crianças, que em breve nos domingos de sol, irão brincar nos extensos relvados explicar-se-á, nos Serviços Educativos, que aquele pedaço de Natureza nem sempre existiu e que o pequeno rio, em tempos o “esgoto da vila”, está a ser penosa e dificilmente despoluído? Que as árvores que agora veem crescer têm nomes próprios e origens diversas? Aquele novo espaço, tão desejado por todos e há tanto tempo, será a partir de agora um enorme desafio. Fazê-lo, foi apesar de tudo, a vontade e a determinação de uns quantos. Preservá-lo e dar-lhe sentido e futuro terá que ser um desígnio de todos. Noé Diniz, arquiteto
Vítor Ribeiro, presidente do Cineclube de Joane pub
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pública: 8 de Agosto de 2012 VII
especial
Concelho verdadeiramente humano Quando se ama uma pessoa ou uma terra, deseja-se-lhe o melhor. Muitas coisas poderia elencar neste momento de perplexidade e de medo perante o futuro. É-me pedida apenas uma ideia. Deixo uma e acrescento uma oferta. Poderia prender-me a estruturas ou melhoramentos tecnológicos para um concelho de vanguarda. Prefiro ir à origem de tudo e sensibilizar uma prioridade: importa dar lugar a todos os famalicenses. Nascemos iguais e morreremos iguais. A vida acontecerá segundo pormenores inegáveis de diferença. Só que a dignidade de toda e qualquer pessoa não pode ser um frio sentimento ou palavra oca em discurso de circunstância a merecer aplausos ou com outras motivações. Enquanto a vida não for digna para todos, poderemos ter coisas exteriores muito importantes ou estatísticas muito curiosas. Só que haverá sempre manchas que deturpam a beleza do quadro que se pretende pintar. A dignidade para todos depende de cada um. Todos se devem empenhar e não ficar em atitude de expecta-
tiva, mas é fundamental esta afirmação: somos cidadãos uns com os outros e a nossa felicidade não acontece apenas no ambiente familiar. Por isso, os olhos corresponsáveis devem estar permanentemente abertos e as mãos prontas para intervir com generosidade humana em favor de todos. Às autoridades compete esta capacidade de ver as situações concretas, sem ignorar ninguém! Não será difícil descortinar situações de marginalidade e escândalo
para os corações mais sensíveis. Ao ver isso, competelhes a particular responsabilidade de estudar as causas e encontrar maneiras de as eliminar corajosamente. É mais fácil dar alguma coisa em momentos estratégicos do que investir na solidariedade a curto/longo prazo. Um texto bíblico diz-nos que “há um tempo para semear e um tempo para colher…” As grandes causas exigem paciência através de comprometidas com valores,
colocados como luz e referência e nunca agindo num mundo da obscuridade. Com esta ideia/desejo de uma sociedade de pessoas onde a sua dignidade é apanágio dum concelho evoluído, como representante da Igreja de Jesus Cristo que peregrina nesta Arquidiocese de Braga, deixo um pedido final ao contributo dos católicos para este concelho. Em primeiro lugar, consciencializando-se para uma dignidade comum, de modo a que se trabalhe para a sua realização em todos. A este trabalho de reflexão, a Igreja deve juntar o compromisso, no respeito pelo princípio da subsidiariedade, de oferecer uma vida com o indispensável para todos. À reflexão e à acção deve juntar-se o testemunho dum cristianismo assumido, transparente, sem vergonha e coerente num mundo que precisa de não encontrar mentiras existenciais. É esta oferta que gostaria de efectuar. Seremos capazes? Assim Deus e os homens nos ajudem! Jorge Or tiga, arcebispo primaz de Braga
Centro de Investigação em Ciência, Arte e Sociedade
Vila Nova de Famalicão continua a não ter um organismo físico (e intelectual) que se dedique ao estudo e divulgação da ciência, da cultura e da prática artística, de uma forma holística, que respeite a pluralidade e a diferença numa perspetiva transdisciplinar. É importante dizer que esta “visão” não se quer agregada a qualquer interpretação equívoca: isto é, quando digo holística, não quero dizer unificação totalitarista das expressões, das manifestações, dos fenómenos (à luz de qualquer visão Hegeliana de espírito absoluto). Pretendo sim, dizer que perante a condição fragmentária do nosso mundo contemporâneo, se deve compreender e respeitar essa condição pelas suas
partes, assumindo a legitimidade de cada uma, e criando pontos de contacto entre elas. Quando falo de um organismo com esta natureza transversal, não me refiro a espaços de identidade vinculada ao espetáculo como a Casa das Artes, ou de orientação “especializada” por autorregulação como a Fundação Cupertino de Miranda, instituições que são úteis, mas que em nada se assemelham a um sistema com esta linha transversal que estou a sugerir. Separando campo e âmbito, posicionamento e regulações internas, eis que agora se torna mais simples explicar que me refiro à ideia de um sistema que reúna valências de estudo e divulgação, prática e apresentação programática regular no âmbito científico, cultural e artístico. Um espaço de balizas expandidas, desde a investigação de expressões sociais e culturais mais tradicionais e remotas, às emergentes e contemporâneas, explorando as suas conexões científicas e filosóficas. E se me permitem os leitores uma designação (entre tantas outras possíveis): Centro de Investigação em Ciência, Arte e Sociedade de Vila Nova de Famalicão. Um projeto que laborasse realmente a ideia de uma terceira cultura, com pesquisa transversal à ciência, à sociedade numa perspectiva cultural ou antropossociológica e à prática artística. Na apresentação de resultados por fases, atividade expositiva extensiva a programas pedagógicos e de divulgação/publicação, podendo compreender protocolos com instituições de ensino superior. Um projeto que perceberia o “sentido” dinâmico, plural e transversal do pensamento contemporâneo. Acredito firmemente que não estaríamos munidos apenas de mais um espaço; os indicadores nacionais (e talvez internacionais) veriam este projeto antes como um modelo com posição e identidade inovadoras. Alexandre A. R. Costa, Comissário, Artista, Docente e Bolseiro da Fundação para a Ciência e Te cnologia
Inquérito de rua
Que projeto gostava de ver realizado no concelho de Famalicão no futuro? Maria Meira, 62 anos, doméstica Melhorar os buracos nas ruas da cidade. A gente quer andar com as cadeiras de rodas e isto está uma miséria.
Catarina Nobre, 18 anos, estudante Mais atividades para os jovens que gostam de arte. Na escola não sabemos onde fazer workshops ou mostrar atividades que fazemos.
P aulo Rocha, 35 anos, operário têxtil Gostava que Famalicão cativasse os turistas. Gostava de ver umas piscinas, tipo um parque aquático de grandes dimensões, porque a cidade não tem mar e o mais próximo é na Póvoa de Varzim. Era um projeto que poderia trazer mais turistas. Afonso Cruz, 61 anos, responsável comercial de empresa metalúrgica Era preciso um hotel. Era preciso melhorar o estacionamento no centro da cidade, porque é preciso deixar o carro longe para não sermos incomodados pela polícia. Mas acho que a cidade está bonita. Manuel Ferrão, 64 anos, reformado Gostava que o FC Famalicão subisse à 1ª divisão. Também há muito estacionamento pago e devia haver um ou dois parques para as pessoas poderem evitar de pagar os estacionamentos. Fátima Vasques, 59 anos, técnica de farmácia Talvez fosse preciso um bom hotel aqui em Famalicão. As pessoas de idade por vezes queixamse dos pavimentos, que poderiam estar em melhor estado.
Branca Nogueira, 59 anos, reformada Um cinema, porque não temos e é uma vergonha.
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pública: 8 de Agosto de 2012 XI
futebol
Inquérito de rua
Da Cidade Verde à Biblioteca Digital
O Parque da Devesa ainda não abriu as portas e já é fonte inspiradora deste breve apontamento. As preocupações ecológicas, ambientais e patrimoniais que sustentam aquele projeto não podem deixar de estender-se a todo o território concelhio. Doravante, toda e qualquer política municipal tem forçosamente
que incorporar aquelas dimensões. Deixou de ter sentido despoluir e regenerar o rio Pelhe, como lá assisadamente aconteceu, e manter enterrados os outros ribeiros que atravessam o centro da cidade. Como é incompreensível construir um parque verde urbano na periferia e não aproveitar para os mesmos fins os espaços públi-
cos das antigas feiras. O mesmo se diga do cuidado e esmero que mereceu o património histórico/cultural. Chegou a vez do centro da cidade ter direito a um plano de recuperação e revitalização do património arquitetónico edificado, no qual se menorizem as malfeitorias produzidas nas últimas quatro décadas e se valorizem os elementos e características identitárias do seu perfil histórico. No fundo, trata-se de quebrar a ilusão de que o Parque da Devesa é um oásis, mas sim um exemplo de que é possível fazer uma cidade amiga do ambiente e respeitadora da memória e do património cultural. O Parque da Devesa ensina-nos ainda que a cidade verde do futuro não pode ficar acantonada e aprisionada aquela zona da cidade. A estrutura ecológica que a sustentará tem que apoiarse no anel arbóreo que se estende à sua volta e a abraça. E tem que integrar um corredor verde que junte o eixo norte/sul, que partindo de Sinçães alcance Ribainho, para se cruzar com o eixo este/sul, que desce de
Brufe com o Talvai para o Vinhal e se encontra com o Pelhe, depois de atravessar os parques 1ºde Maio e da Juventude. Em todo o caso, este é um projeto de longo prazo, cuja concretização exige uma nova geração de políticos e requer uma cidadania mais ativa e participativa. No imediato, emerge um projeto urgente que pode vingar, caso seja aproveitado o terreno fértil proporcionado pela anunciada abertura do novo Arquivo Histórico, com um sistema de consulta digital. Falo da criação de uma Biblioteca Digital, que permita aos cibernautas um encontro com os livros e catálogos editados, as vastas e diversificadas massas documentais, acervos fotográficos e coleções de jornais, recolhidos pelas instituições culturais municipais nas últimas décadas. Além, obviamente da leitura em suporte digital da joia da coroa, que é a obra camiliana. O espaço virtual conquista-se, não é um cruzamento de caminhos ofertado pelo capricho dos deuses!
Camilo Castelo Branco por terras famalicenses Neste ano, em que se assinalam os 150 anos da escrita do romance Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, estão em curso diversas comemorações para assinalar a efeméride e celebrar a obra do escritor que em S. Miguel de Ceide escreveu, durante os últimos 27 anos de vida, boa parte dos seus textos. O escritor foi a 22 freguesias famalicenses buscar elementos para construir personagens e cenários que dispersou por 18 das suas muitas obras. É, por isso, plenamente justificado o lançamento de um livro em 14 de Setembro próximo no Centro de Estudos Camilianos, no qual, através de seis itinerários por terras famalicenses, se apresentam espaços a percorrer nos quais reconhecemos plasmados cenários em que se movimentam personagens criadas a partir de pessoas que se podem identificar na documentação disponível. Esse livro será um bom guia para acompanhar a concretização desses percursos. A capacidade criativa de Camilo Castelo Branco, associando a realidade e a ficção, deixou-nos textos onde o romantismo impera mas onde também há espaço para a escola realista. Esta presença é evidenciada em algumas páginas das suas obras através da análise e explicação dos sentimentos, costumes e comportamen-
tos. Na pesquisa a que tive de proceder, verifiquei que a realidade é com frequência contemplada mas geralmente guarnecida de adornos com os quais a ficção construiu nova realidade. Se algumas vezes esses adornos alteram bastante a fonte de inspiração, concedendo às pessoas, para as quais Camilo Castelo Branco voltou a atenção, espaços e protagonismos que se vão afastando da realidade que elas teriam vivido, também com frequência reconhecemos ou podemos suspeitar que algum laço existe. Embora possa estar encoberto
pelo véu com que o escritor pretendeu ocultar a realidade, ele poderá vir a ser revelado se outros dados surgirem e as análises adequadas puderem acontecer para que o véu seja destapado. Não é, pois, uma inventariação completa da existência ou não da correspondência entre realidade e ficção que este trabalho apresenta sobre 18 obras e, certamente, nunca o será porque a escrita ficcional também tem segredos inacessíveis ou ciosamente encobertos pelos seus autores. Elas acompanhar-nos-ão por espaços das seguintes freguesias: Santa Maria de Abade, Santiago de Antas, Avidos, Cabeçudos, Castelões, S. Miguel de Ceide, S. Paio de Ceide, Santiago da Cruz, Delães, Esmeriz, Gondifelos, Lagoa, Landim, Lousado, Novais, Requião, Ribeirão, Ruivães, S. Cosme do Vale, S. Martinho do Vale, Vermoim, Vila Nova de Famalicão. Espero que aquelas obras e os espaços a visitar na sua companhia proporcionem bons momentos de lazer e de informação e venham a possibilitar também o enriquecimento dos conteúdos destes 6 itinerários através de novas relacionações que possam vir a acontecer. Maria d e F átima Castro, investigadora
Que projeto gostava de ver realizado no concelho de Famalicão no futuro? José Rodrigues, 56 anos, aposentado da função pública Gosto muito dos passeios da Avenida do Brasil, acho que está espetacular. A autarquia até tem trabalhado muito bem, contudo, era bom que todas as artérias do centro da cidade tivessem mais passeios, até porque sou invisual. Carlos Carreira, 59 anos, agente de viagens Resolver o problema do trânsito, porque a cidade progrediu muito. Famalicão também precisava urgentemente de ter um hotel que se coadunasse com a situação do nosso concelho. É o 14º concelho do país e acho que merecia uma estrutura hoteleira digna desse pergaminho. Angelita Miranda, 37 anos, rececionista de clínica Áreas verdes. Lugares onde possamos estar com os filhos.
Ricardo Ribeiro, 20 anos, estudante Reabilitação de alguns espaços, porque há espaços que estão a ficar bem organizados e outros estão a ficar de lado, como o caso do Pavilhão Municipal. Também acho que faz falta uma universidade pública na cidade.
Conceição Pereira, 49 anos, doméstica Com o parque da cidade já ficamos com tudo… mas acho que faz falta um pouco mais de estacionamento e mais atividades noturnas agora no verão. Acho que era bom ter uns concertos ao final da tarde.
Joaquim Cardoso, 46 anos, engenheiro mecânico Uma ciclovia na cidade. Gostava de ver na via pública um espaço só dedicado a bicicletas. Fizeram alterações na Avenida do Brasil e foi feita uma baía no meio muito larga, mas no passeio não tem um espaço só para ciclistas.
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pública: 8 de Agosto de 2012
Fortalecer a economia social e apostar nas energias renováveis Depois de concluído e colocado em funcionamento o Parque da Devesa, Vila Nova de Famalicão necessita de caminhar para se tornar num concelho autossustentável em termos sociais e ambientais. A experiência do ecobairro das Lameiras, integrada no Parque da Devesa, serviu de laboratório com os ingredientes necessários para que Famalicão se torne num concelho mais amigo do ambiente e das populações. Com as principais infraestruturas concluídas, é necessário apostar nas energias renováveis, começando por renovar todo o sistema de iluminação pública, que atualmente deixa as pessoas sem proteção durante a noite expostas a vandalismos e assaltos. O que está feito não chega, é preciso mais, por exemplo: já alguém pensou em manter equipas permanentes na limpeza de matas e florestas, cuidando da sua beleza, prevenindo os incêndios e ao mesmo tempo, produzindo matéria-prima que poderia alimentar uma possível central de biomassa para a produção de energia a ser injetada na rede pública? Porque não cobrir alguns edifícios municipais com painéis solares fotovoltaicos? E a recolha porta-aporta de artigos usados para reciclagem? Já alguém pensou quantos postos de trabalho poderiam ser criados com estas iniciativas? Mas há mais… Ainda não conseguimos estancar o grave problema do desemprego, que põe em causa a sustentabilidade das famílias e das instituições de solidariedade, fortemente penalizadas com a atual crise. Se a economia de mer-
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cado não consegue responder, aposte-se mais na economia social, sobretudo pela proximidade de serviços de alto nível que presta às populações e faz delas protagonistas do desenvolvimento humano. Não é necessário criar novas instituições para fazer mais do mesmo, numa competição nada saudável na área social, mas apoiar mais as existentes tornandoas em polos de desenvolvimento e progresso. A autarquia deve ter um papel mais ativo neste campo, quer como facilitadora, quer como dinamizadora, utilizando recursos técnicos e parcerias de desenvolvimento social. José Maria Carneiro da Costa, dirigente associativo
Projeto Felicidade: o meu projeto… o seu projeto… é o nosso projeto Nunca existirá um projeto que seja consensual na relevância para o futuro de todos os famalicenses. Muito provavelmente também não existe o projeto ou os projetos indispensáveis para que no futuro o concelho de Famalicão se torne mais evoluído ou dinâmico numa determinada área. Podem existir sim pequenas mais valias que podem ser criadas, com influência no todo e não só nas partes, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos famalicenses. Se quisermos, os grandes projetos são os que trazem felicidade. Os que nos fazem mais felizes, nos tornam mais realizados pessoal ou profissionalmente, melhoram a forma como vemos e sentimos a terra onde vivemos. O projeto essencial e a ser concretizado todos os dias, hoje e sempre, é o da felicidade. Qualquer ideia que contribua para esse objetivo, que terá de nortear os políticos, os empresários, as forças vivas da cidade ou simples cidadãos anónimos, é bem-vinda para a cidade e para os famalicenses. Não pensando exclusivamente nuns fatores e excluindo outros, mas procurando ir de encontro à felicidade de uma ampla maioria. Famalicão tem conseguido nos últimos anos concretizar alguns projetos, desde o Parque da Cidade, passando pelas obras de modernização e ampliação de escolas, até projetos de apoio e pro-
moção de empresas e empresários do concelho. E a pergunta que enquanto famalicenses devemos fazer é: somos felizes a viver no nosso concelho e sentimonos realizados com o que temos concretizado? A terminar, deixar as felicitações ao jornal Opinião Pública pela passagem do seu 21º aniversário, estendendo os votos a toda a Direção e colaboradores. Desejar ainda as maiores felicidades futuras e que continuem a trilhar o caminho da isenção e do rigor no tratamento das notícias do concelho de V. N. Famalicão. António Peixoto, presidente da ACIF
Um novo ciclo de políticas de intervenção municipal Vila Nova de Famalicão deve imperiosamente considerar o desenvolvimento de um novo ciclo de políticas de intervenção municipal, não apenas por força dos novos desafios que se colocam ao país, mas sobretudo fruto da massa acrescida de recursos e de iniciativas que a capacidade de realização do executivo camarário dotou o concelho e da diversidade e exuberância dos seus atores e instituições. Nesta fase é crucial sabermos onde queremos chegar, quais os objetivos, quais as metas que nos propomos atingir, interna e externamente, de modo a continuarmos a afirmação de Vila Nova de Famalicão no contexto regional e nacional. A atratividade do município é uma das áreas de intervenção que julgo prioritárias, deman-
dando especial atenção e empenhamento. A visibilidade e o desenvolvimento futuro do concelho está ligado à sua atratividade, tanto mais que a competitividade entre municípios se agiganta celeremente. Famalicão terá, assim, de conquistar uma maior visibilidade exterior e para tanto terá de fazer duas coisas: sublinhar as margens de diferenciação face aos concelhos vizinhos, e elas existem, e criar condições para atrair nova capacidade de empreendimento. Esta não é seguramente uma tarefa fácil. A concorrência, sobretudo de Braga e Guimarães é fortíssima e subsistem, como sabemos, razões estruturais limitativas. Temos, porém, as nossas vantagens competitivas e delas devemos ser ca-
pazes de tirar melhor partido. A proximidade com grandes infraestruturas aeroportuárias e portuárias e, o facto de dispormos de vias de comunicação de alta capacidade, diversidade de agentes a atuarem no sector dos transportes e armazenagem, são fatores competitivos empresariais, por exemplo, no sector da logística que merecem um olhar atento neste novo ciclo de políticas de intervenção municipal, centrando-se, no caso concreto, na potenciação desta e de outras vantagens, bem como no apoio à colmatação de lacunas de que é claramente o caso da insuficiência de serviços avançados de apoio às empresas. Jorge Paulo Oliveira, deputado à Assembleia da República pub
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Mais estratégia e menos improviso
“Errar é humano. Mais humano ainda, é considerar que quando se erra, a culpa é sempre dos outros.” (A. Tchekov). Esta velha máxima aplica-se a múltiplos aspectos do atual paradigma da vida política famalicense, centrada na atividade autárquica: “Os projetos e as obras são todos de lavra exclusiva da atual administração. E são todos bons. Os erros e omissões são sempre responsabilidade da oposição!” Uma ideia interessante para o nosso porvir concelhio, seria a de sensibilizar e obrigar os responsáveis (poder e oposição), a centraremse em práticas políticas mais prospetivas e menos imediatistas, conferindo mais peso político ao futuro. Promovendo, simultaneamente, soluções partilhadas para a resolução dos problemas prementes, designadamente o desemprego, cujo combate deve ser encarado como uma prioridade, responsabilidade
e competência municipal. Por outro lado, iniciativas esparsas, muitas vezes ditadas por cópias de folclores politicamente correctos, não devem substituir projetos com real sentido estratégico. Por exemplo: - As agora cá anunciadas e simpáticas, hortas pedagógico - ecológicas que proliferam faz tempo por vários municípios vizinhos, não podem relegar a prioridade que deve ser uma aposta séria na valorização dos produtos agrícolas locais, com urgente e adequada requalificação e promoção do Mercado Municipal. - O Parque da Cidade, em fase de conclusão (também há vários anos realidade em municípios vizinhos), não deve constituir-se, no futuro, como um encargo difícil de suportar, com obras que na atual conjuntura não são essenciais (para não falar nos 500 mil euros gastos só em propaganda), e não deve por em causa outro projeto prioritário e integrador da malha urbana da cidade: a concretização do “Corredor Verde” que prolongará o Parque de Sinçães até ao novo Tribunal. Nesta direcção, deverá consolidar-se, conforme apontam todos os estudos urbanísticos, incluindo o PDM, a zona de crescimento da cidade e não naquela adjacente ao novo parque, que outros estudos e interesses pretendem, errada e ilegitimamente, defender!... Ao Opinião Pública, a todos os seus profissionais e colaboradores, endereço parabéns, por mais um ano de serviço público, incito na informação que nos vêm proporcionando. Fernando Moniz, político
Pensar nas pessoas Pedem-me para deixar duas ou três sugestões quanto ao futuro de VN de Famalicão. Muito foi feito na cidade e no concelho de VN Famalicão nas últimas décadas. VN Famalicão não esteve parado, de modo algum. As obras de beneficiação e de desenvolvimento do nosso concelho são incomensuráveis. Porém, há sempre alguma coisa a fazer ou a melhorar. Permitam-me que sugira a construção, já pensada mas não levada por diante, do parque subterrâneo de estacionamento automóvel, na praça D. Maria II. Creio que seria uma maneira de levar, com maior facilidade, ao centro da cidade, cada vez mais desertificado, pessoas. Quer queiramos ou não, hoje o meio de transporte automóvel tornou-se de um uso indispensável e tem de nos levar o mais próximo possível ao nosso destino. Não chega criarem-se zonas para peões se o acesso a elas não for fácil. Há muitos anos, numa crónica que escrevi no Jornal Vila Nova, sugeri que VN Famalicão passasse a ter, no centro da cidade, estacionamento pago de veículos automóveis, para assim haver rotatividade nesse estacionamento e não se verificar, o que então acontecia, em que havia veículos que estavam estacionados no mesmo local de manhã até à noite, fazendo com que os lugares rareassem para quem chegava e necessitava de 15/30 minutos para fazer alguma compra ou tratar de algum assunto de seu interesse. Pouco tempo depois a Câmara Municipal de então deliberou a existência de aparcamento pago, o que se verifica até hoje. Se queremos salvar o pouco que, infelizmente, ainda existe de comércio local sou de opinião que é necessário pensar num parque de estacionamento automóvel à imagem dos que existem, por exemplo, em cidade bem próximas de nós, como Braga, Guimarães e Porto. Claro que há um senão que passa pelas
árvores frondosas que neste momento embelezam o Parque D. Maria II. Será um problema a estudar por quem de direito, nomeadamente por técnicos. Uma segunda sugestão passa pela continuação da Av. Brasil até ao cemitério de Moço Morto. Entendo que a duplicação da referida avenida, que foi uma obra bem concebida e bem conseguida pela atual Câmara Municipal e pelo seu presidente Arq. Armindo Costa, só ficará concluída com a sua extensão até ao cemitério de Moço Morto. Por fim, prioridade das prioridades, é o pensar nas pessoas, no desemprego. Tudo o que seja criar postos de trabalho, contribuir para o surgimento de novas indústrias, de tecnologias consentâneas com os dias de hoje e de amanhã, lideradas por empresários hodiernos, é de apoiar e a Câmara Municipal terá uma palavra de grande importância a dizer. Esperemos assim que melhores dias surjam para VN Famalicão e para os famalicenses. Almeida Pinto, médico
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Por um certo regresso à matriz do território Famalicão urbe tem o seu passado. Não tão longínquo é certo e sem um acervo histórico tão expressivo como outras cidades/concelhos num raio de uma vintena de quilómetros. Mas tem um passado feito das vivências dos povos que aqui se fixaram desde tempos préhistóricos tirando partido dos cruzamentos de estradas e caminhos e, sobretudo, de uma marca multimilenar que é primeira determinante do caracter do povo feito cidade/concelho que somos: o vale do Ave. Famalicão foi e é feito do vale do Ave com a sua retícula de afluentes como o Pele e o Este, entre outros e, ainda os muitos subafluentes que formam um sistema hídrico de ribeiros, poças e regos, ainda há cinquenta anos verdadeira seiva para a produção do pão e do vinho e doutros produtos da terra. O tropismo do emprego industrial retirou as populações do contexto rural e outras razões de natureza económico-social levaram a uma urbanização desenfreada, fatalidade de um povo que parece, agora e aqui, que nunca teve tempo nem história sobretudo nestes anos sessenta e seguintes; tempo para, ao menos, ler os sinais da cultura do lugar, do território e da paisagem. E é assim que surgiram as novas tímidas cidades, a chamarem-se ainda vilas, carregadas de pretensiosismos novos ricos – a que Famalicão não tem escapado – na procura de uma cultura, positiva e de múltiplas expressões, é certo, mas muito de colagem, desenraizada e volátil. Não haveria nisso, qualquer mal se existisse um cordão umbilical forte à matriz de suporte dos primeiros estabelecimentos humanos, das práticas agrícolas mi-
PARABÉNS PELO 21º ANIVERSÁRIO
lenares e da ‘marca’ geográfica ‘vale do Ave’, apesar da tonalidade ferrugenta que lhe foi dada por uma indústria têxtil a branco e preto. Quando, no horizonte, o evento RIO+20 alerta para o desígnio da sustentabilidade planetária urge um regresso inteligente à riqueza única abandonada por políticos e gestores divorciados do território, da terra e da paisagem que fizeram e fazem Famalicão. Catalogados os monumentos, entretanto, estimados e valorizados, uns, ou mesmo destruídos, outros, nesta hora de sobressalto contra o consumismo e pela suficiência ou frugalidade, aqui fica o apelo a menos dias da Terra, do Ambiente e da Árvore e, em nome desses, mais consciência do lugar em que estamos e que também somos: os rios, os recantos, os montes e os vales. A tarefa é hercúlea. Os atores estão por revelar. O futuro já começou. Eduardo de Oliveira Fernandes, professor universitário
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3 sonhos X 3 visões = 9 futuros Há que sonhar em grande! Se cada um de nós sonhar alto com esta nossa cidade, a fasquia eleva-se, o compromisso pessoal aumenta e a cooperação potencia exponencialmente a concretização deste sonho. Sonhar pequeno, o que muitas vezes fazemos por comodismo, conduz-nos a “mais do mesmo”, ações e reações “dentro da caixinha” e uma comunidade que estagna. Há que sonhar em grande, e já agora em triplicado! Em cada sonho idealizemos 3 visões – tudo fica mais claro e alcançável. O primeiro sonho é que, um dia, todos os famalicenses reconhecem a sua cidade como amiga do ambiente e com preocupação com o legado natural e mínima pegada ecológica possível. Neste sonho há 3 visões onde podemos ver 1) as pessoas em Famalicão deslocamse de bicicleta ou a pé (ou transporte partilhado em caso de maior distância) para o trabalho com todos os efeitos positivos desta escolha; 2) todos os famalicenses praticam a separação de lixo em casa para reciclar; 3) os famalicenses são preocupados com a origem dos produtos que compram, preferindo produtos locais, mínima utilização de químicos e responsáveis socialmente (direitos humanos nos locais de produção). No segundo sonho, Famalicão eleva-se como “cidade educadora dos seus”, respeitando verdadeiramente a educação integral das crianças (vemo-las a desenvolver a sua criatividade e incentivamos o espírito de iniciativa e curiosidade, ao invés de o castigarmos); garantindo aos jovens uma educação global para a cidadania (nesta visão, os jovens estão motivados e são apoiados para realizarem os seus projetos pessoais e profis-
sionais); e proporcionando a todos na comunidade verdadeiros espaços de participação, expressão de opinião e construção coletiva (existirão grupos de trabalho formados por pessoas da própria comunidade que, não necessariamente pertencendo a partidos políticos, se mobilizam para a resolução de problemas). O último sonho é sobre as famílias em Famalicão e nas visões conseguimos perceber que: 1) são mais coesas, independentemente de estados civis e distâncias geográficas; 2) são maiores e garantem maior rede de suporte; e 3) são o pilar da educação onde se aprende e treinam competências de autonomia e resolução de problemas mas, especialmente, onde se aprende a amar e dar. Sonhemos alto - 3 sonhos, cada um com 3 visões, resumem 9 futuros possíveis para todos nós. Mariana Marques coordenadora da Associação YUPI
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Uma ideia para Vila Nova de Famalicão Solicita-me o jornal Opinião Pública, em minha opinião um dos mais importantes meios de comunicação do concelho, que manifeste uma ideia para o concelho de Vila Nova de Famalicão. Saliente-se, antes de mais, que me sinto um pouco desconfortável nessa missão, na medida em que ter ideias é vulgar, materializar as ideias que cada um tem, por vezes é bem mais difícil, levar os outros a defender e realizar as nossas ideias, essa é uma característica dos líderes. Feita esta introdução e regredindo um pouco no tempo, temos que reconhecer que Vila Nova de Famalicão, a par com outras localidades sofreu enormes e profundas alterações após a revolução de Abril. Sem pretender fazer politiquice ou política partidária, uma vez que política todos nós fazemos, os autarcas do período decorrido são os grandes construtores das mudanças operadas, de entre os quais, não só pela visão do concelho e pela oportunidade de alguns investimentos do governo central, o Agostinho Fernandes foi, indiscutivelmente, o que mais propiciou a Vila Nova de Famalicão o desenvolvimento que ele hoje tem. De qualquer modo, penso que Vila Nova de Famalicão tinha e tem potencialidades de ir mais além, não só pelas características dos seus habitantes, mas também pela sua localização o que faz dele uma espécie de plataforma entre grandes centros consumidores e de fácil acesso aos pontos de exportação de mercadorias e bens. Na verdade, em minha opinião, tem faltado a Vila Nova de Famalicão uma leitura inte-
grada e sustentada das suas reais potencialidades geográficas e o seu aproveitamento no seu desenvolvimento industrial. Sem menosprezo por outras realidades, ou seja a preocupação permanente de um crescimento integrado, sou dos que defendem que Vila Nova de Famalicão tem condições geográficas ideias para um acentuado desenvolvimento industrial. Mas para isso há que assegurar todo um conjunto de coisas que passam pelo desenvolvimento do ensino superior, o envolvimento da Universidade e outros Estabelecimentos do ensino superior, no sentido de vocacionar e desenvolver jovens com ideias e potencialidades que depois são aplicadas no projeto. Em colaboração estreita com as instituições públicas e os empresários, conceber e desenvolver formação profissional adequada aos objetivos e, naturalmente, desenvolver todo um processo de esclarecimento no sentido de envolver o governo na realização de um projecto fundamental para o concelho. Sem menosprezar o que de
Famalicão com futuro!
bom tem sido feito e, diga-se em abono da verdade que tem sido muito, não temos visto em Vila Nova de Famalicão um espírito esclarecido, nem mesmo, pelo menos que seja do meu conhecimento, uma tentativa de equacionar qual deve ser a linha estratégica orientadora do concelho de Vila Nova de Famalicão. Consequência dessa falta de orientação temos um concelho aos bocadinhos, esquartejado de infraestruturas, autênticos sorvedouros das receitas financeiras, não só na sua construção, mas também e particularmente na sua manutenção, cuja rentabilidade, numa óptica de política Municipal deixam muito a desejar. Isso tem-nos conduzido a um desbaratar das potencialidades financeiras do concelho, impossibilitando-o de sonhar e construir outras coisas, que, em minha opinião se adaptariam muito melhor à naturalidade do concelho e a um futuro mais sustentado para todos os famalicenses. Domingues Azevedo, bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas
Começo por saudar o jornal OPINIÃO PÚBLICA pelos seus 21 anos de vida e pelo saber fazer, dando voz a todos os que querem fazer mais e melhor pelo concelho e pelos famalicenses. O contexto em que vivemos no mundo de hoje, é de um retrocesso social e civilizacional do ponto de vista humano e ideológico gigantesco, mas a consciência da nossa missão como seres humanos não pode deixar-nos como meros espectadores, bem pelo contrário, impele-nos a agir, a lutar e a intervir no mundo para o transformar, para o humanizar e o adequar a um espaço de vivência em paz e justiça social para todos e não apenas para alguns. É preciso acreditar. E é possível, mudando de políticas. O desemprego inibe a criação de riqueza, fomenta a pobreza e é uma violação dos direitos humanos. A aposta no desenvolvimento é o caminho. Urge dinamizar a criação de projetos em torno da economia real que dê resposta às populações. Continuar a inovar nos sectores têxtil e do calçado e, a exemplo destes, avançar para novas áreas. Há jovens criadores com enormes potencialidades que precisam de se fixar no concelho, para que maior impulso possa ser dado ao sector produtivo e à tão urgente criação de emprego. De realçar parcerias que visam a partilha de saberes e tornam a sociedade mais coesa, mais inclusiva e, consequentemente, mais humana. Divulgar obras como “Memórias do Cárcere e “Amor de Perdição” de Camilo Castelo Branco, junto da população que as recriou recentemente, no Estabelecimento Prisional de Guimarães, no âmbito da Capital Europeia da Cultura, são a demonstração do que de bom se pode alcançar. A educação, a cultura moldam a convivência humana. Fragilizar a educação é comprometer o futuro. Famalicão tem uma riqueza de assinalável qualidade: as pessoas. O saber acolher e ser solidário, são duas características de extraordinária importância. É um concelho jovem, de trabalho. O povo tem hábitos de convívio de rua,
organiza-se em associações e academias que produzem cultura que, por sua vez, podem apresentá-la fora. Articulando esta oferta cultural espontânea com a oferta cultural planificada, os projetos culturais encontram público e, por sua vez, o público tem mais acesso a bens culturais. A arte é a melhor expressão do que somos. Do teatro de rua à música, à pintura, de entre outros, associando a cultura à diversão, criando espaços de divulgação cultural dentro dos museus e fora deles, partilhando a história que cada um encerra com as diferentes gerações, conjugando ainda estas atividades com a boa gastronomia e o turismo, podem tornar Famalicão polo dinamizador de uma oferta muito específica mas também aberta e em diálogo com outras culturas. As geminações já efetuadas com diferentes cidades e outras que possam vir a concretizar-se, quer no plano europeu quer da lusofonia, abrem espaço de intervenção para o reforço da língua e da cultura portuguesas. Deolinda Machado, dirigente sindical
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Inquérito de rua
Que projeto gostava de ver realizado no concelho de Famalicão no futuro? Lídia Marques, 65 anos, reformada Uma universidade pública. Eu tenho uma filha em Aveiro e fica muito dispendioso. Devia haver mais apoios para estudarem perto de casa.
Fátima Sampaio, 35 anos, técnica de turismo Devíamos investir um pouco mais no turismo e na hotelaria. Temos a Casa de Camilo em Seide para aproveitarmos agora o verão, para fazermos eventos. Devíamos investir nisso.
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sport: 8 de Agosto de 2012
Pa r ab é ns p e lo 2 1º A niv e rs ár io
Horário: Terça e Sexta das 19h às 20h
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