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Dia dos

Avós

Dia Nacional dos Avós celebra-se a 26 de Julho

Avós: é preciso valorizá-los mais Carla Alexandra Soares Para se perceber a importância do papel dos avós na dinâmica duma família basta pensar: e se eles não pudessem ajudar com os netos? Parece até impossível gerir a vida agitada que temos, nós os pais, sem a ajuda preciosa dos segundos pais dos nossos filhos. O papel dos avós na família vai muito além dos mimos dados aos netos, e muitas vezes eles são o suporte afectivo e financeiro de pais e filhos. Por isso, se diz que os avós são pais duas vezes. Muitas vezes estão ao lado e mesmo à frente da educação de seus netos, com sua sabedoria, experiência e com certeza um sentimento maravilhoso de estar a vivenciar os frutos de seu fruto, ou seja, a continuidade das gerações. Celebrar o Dia dos Avós significa celebrar a experiência de vida, reconhecer o valor da sabedoria adquirida, não apenas nos livros, nem nas escolas, mas no convívio com as pessoas e com a própria natureza. O Dia dos Avós constitui

uma homenagem aos avós de todo o mundo e celebrase a 26 de Julho de cada ano. A escolha deste dia tem a ver com o facto deste ser o dia de Santa Ana e São Joaquim, pais de Maria e avós de Jesus Cristo. São muitas as vantagens do relacionamento de avós e netos. Para os avós, este é o momento em que podem usufruir da relação com as crianças de forma despreocupada. Eles não têm propriamente o dever de educar mas sim de conviver. Esta situação possibilita a transmissão de conhecimentos acerca da história fami-

liar. A partilha de informações sobre a família possibilita um crescimento emotivo e social muito importante para os netos. Muitos dos avós já estão reformados e têm agora tempo que não tinham quando desempenharam o papel de pais. É a oportunidade ideal para fazerem com os netos aquilo que gostariam de ter feito com os filhos. Existem muitas diferenças entre o relacionamento de pais e filhos e de avós e netos. Os filhos não podem esperar dos seus pais o mesmo comportamento que

tiveram com eles quando eram crianças. Devem permitir o convívio com os mais novos e possibilitar brincadeiras e momentos agradáveis entre ambos. Quando há essa oportunidade, é frequente os filhos pedirem a ajuda dos avós para tomarem conta das crianças. Se forem reformados, não há necessidade de os colocar de imediato num infantário, decisão que é, muitas vezes, acolhida com grande satisfação por parte dos avós que adoram a ideia de passar tempo redobrado com os seus netos. Há quem defenda que “os avós realizam com os seus netos todos os desejos reprimidos que tiveram enquanto pais”. Na verdade com maior ou menor participação, os avós adoram os seus netos e são uma fonte vital para a passagem de valores que muitas vezes são relegados pelos pais. As crianças adoram o tempo que passam com os avós e todos temos lembranças disso mesmo. Aproveite esta data para mandar uma mensagem de carinho aos queridos avós e dizer-lhes o quanto os ama.

Avós e netos Maria Teresa Alves da Silva, 76 anos “Para mim ser avó é ser mãe duas vezes, é gostar tanto ou mais dos netos do que os meus filhos. Sinto uma ternura tão grande por eles que, por vezes, acho que gosto mais deles do que os próprios pais”. Fernando, 8 anos “A minha avó faz tudo para o meu bem, dá-me muito conforto e mimos”.

Avós e netos Balbina Lopes da Silva, 86 anos “Ser avó é o mesmo que ser mãe. Alguns dos meus netos fazem-me lembrar os meus filhos quando eram pequenos. É o caso do meu neto João”. João, 12 anos “O que eu gosto da minha avó é forma como ela me trata, o carinho e a atenção que me dá. Ela faz tudo o que lhe peço”. pub


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Avós e netos

Constantino Soares, 56 anos “Ser avô é como diz a palavra em francês: um grande pai. Eu, com os meus netos, faço o que não fiz com os filhos. Trato-os com mais paciência e mais atenção, mais carinho e muita ternura e tenho mais tempo para eles. Mas agora penso que todos ficamos a ganhar”. Fátima Barbosa, 56 anos “Ser avó é como voltar a ser mãe mas com um sentimento ainda melhor porque tenho mais tempo para os poder mimar. Amo muito os meus dois netinhos e sempre que posso estou com eles. Recebi a notícia que vou ser avó outra vez e vou recebêlo com a mesma ternura e amor. Foi o que sempre pedi a Deus, que me deixasse conhecer os meus netos e Ele fez-me a vontade. Por isso digo muito obrigada também aos meus filhos por me terem dado esse gosto”.

especial

O papel dos avós na gestão familiar A emancipação da mulher e o aumento da qualidade e da esperança média de vida assistiu-se a um potenciar de um dos papéis mais importantes para a família e sociedade actual: os avós. Actualmente podemos catalogar o apoio dos avós nas famílias em quatro domínios: apoio financeiro; apoio logístico, promotor da continuidade, agente educativo O apoio financeiro, em muitos casos, é fulcral e decisivo na gestão familiar. Muitos são os avós que contribuem monetariamente para um controlo do orçamento e na manutenção de alguma qualidade de vida da família. De outro modo, surgem as contribuições semanais ou mensais de géneros alimentares ou mesmo através do pagamento de algumas despesas fixas e na ajuda à aquisição de bens promotores de bem-estar familiar como a casa ou o carro. Maioritariamente os avós exercem ainda um outro papel decisivo não só para a família mas também para a promoção do desenvolvimento da criança no domínio cognitivo, social e afectivo: o apoio logístico ou instrumental. Muitas famílias solicitam aos avós a guarda dos netos principal-

mente nos primeiros anos de vida da criança, e, mais tarde, para assegurar os horários de entrada e saída da escola. Este facto, não só evita que a criança permaneça demasiadas horas em contexto escolar como também promove rotinas diárias aos avós que, maioritariamente, são sedentários e vivem isolados. Um outro papel dos avós é o da responsabilização pela continuidade da identidade e promotor do diálogo familiar

através dos convites e das reuniões de família aos sábados ou domingos onde normalmente a televisão não tem o papel principal. Os avós têm um importante papel enquanto historiadores da família e de precursores do movimento transgeracional familiar. É nestes momentos que se alcança e promove a identidade e união familiar, se alcança a continuidade e se transmite os valores, procedimentos, atitudes, com-

portamentos, princípios e tradições da família. Por fim, o apoio enquanto agentes educativos ou suportes da educação dos netos é particularmente importante quando os pais apontam fragilidades nesta área. Com alguma frequência assistimos a pais com dificuldade em educar, disciplinar, saber dizer não e na imposição de regras e horários. A maior parte das crianças despende o seu tempo de uma forma sedentária, muito absorvida pela televisão e jogos de computador; deitam-se tarde e os horários irregulares; têm uma alimentação desregrada e pobre para o seu desenvolvimento cognitivo e físico. Neste panorama os avós intervêm incentivando e alertando os filhos para o que nem sempre estes conseguem percepcionar pois estes, além da experiência de uma vida têm a serenidade para avaliar e ser proactivo. Mas, acima de tudo, para os netos os avós são uma figura de amor incondicional sem horas para terminar e sempre, mas sempre um abrigo para voltar. D rª . A na Bra nd ã o Ps i c ó l o g a á r ea Cl í n i ca e d a S a ú de pub


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especial Homem mui velho e já tonto Um filho casado e um neto Debaixo do mesmo tecto, Nos diz um conto, Viviam, Juntos, porém, não comiam: O velho, pois que a tijela Quebrava E o caldo entornava, Comia numa gamela De pau, e fora Da mesa! Com aspereza Era tratado Pelo filho, e pela nora Desprezado. Um dia, ao canto da casa, Estando o neto entretido (Era ainda pequenote) Muito atento a ver se vaza, Com uma goiva e um serrote, Um pedaço de madeira, Interrompido Pelo pai foi, que indagou O fim de tal brincadeira. -"Aqui estou" Lhe responde o inocente "A fazer uma gamela, Qual aquela Em que come meu avô, Para meu pai comer nela Quando for velho e demente." Acrescenta mais o conto: Revirou O coração Ao pai aquela lição: Cuidadoso, E respeitoso, Desde então, Tratou Do velhinho tonto. Filhos que não respeitais Vossos pais, Se algum dia vos couber Filhos ter, Como heis-de neles achar Quem vos saiba respeitar? Henrique O'Neill

Viver entre gerações no Centro Social Paroquial de Ribeirão Numa sociedade em que o papel do idoso é continuamente desvalorizado, devemos indagar-nos se investir no futuro é esquecer o passado! Estaremos a passar os melhores valores às nossas crianças? É com a missão educar e apoiar ao longo da vida, que o Centro Social Paroquial de Ribeirão investe na encruzilhada de saberes da criança, jovem, adulto e idoso. Porque as crianças de hoje serão os idosos de amanhã! É com este espírito que ao longo do ano se partilham diversos momentos de convívio intergeracional entre as várias respostas sociais, sendo o ponto alto, a festa de final de ano da Instituição em que cada grupo contribui com os seus saberes, que são apresentados à família e comunidade em geral. Resultam desta relação momentos intensos de aprendizagem e conhecimento, repletos de emotividade e afecto…

Avós e netos David Costa Pereira, 82 anos “São 15 ou 16 netos. Não convivo muito com eles, porque não me vêm visitar a casa. Alguns vêm, mas a maior parte não vem. Em tempos ia a casa deles muitas vezes porque a minha mulher podia andar bem. Qual é o avô ou o pai que não fica triste quando um filho ou um neto não o vem visitar? É sangue do meu sangue, e sinto-me um bocadinho chocado. Mas o que hei-de fazer? Tenho nove filhos e desses nove filhos, só quatro é que estão a auxiliar mais ou menos o pai.” Martim Costa, 7 anos “Dou-me bem com os meus avós. Brinco com eles. Ensinaram-me o jogo do galo, as damas e o peixinho. Resolvem os meus problemas. Tenho segredos com os meus avós”.

Avós e netos N o é mi a A r a ú j o d a S i l v a , 8 5 a n o s . “O meu neto é tudo para mim, tem 34 anos. Foi sempre bom, não me chama avó, chama-me mãe, porque fui eu que o criei, com o meu filho e com a minha nora. A minha nora e o meu filho saíam de manhã e chegavam à noite, e ele começou-me a chamar mãe, porque era o que ouvia o pai a chamar-me. E ele ainda hoje diz, que eu é que sou a mãe dele, porque fui eu que o criei. Agora vejoo menos mas de vez enquanto vem-me ver e telefona-me muitas vezes, nem parece um rapaz desta época”. Di ogo Coe nt rão, 9 anos “Tenho avós cá em Lousado e vivo com eles, mas também vou a casa dos meus outros avós todos os domingos. Não lhes conto segredos e não brinco assim tanto. Eles trabalham em casa, mas eu não gosto de os ajudar. Não têm muito tempo para brincar, trabalham todo o dia. Às vezes vou dormir a casa da minha outra avó”.

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pública: 20 de Julho de 2011

especial pub

Centro Social de Esmeriz mantém aposta forte na terceira idade

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O Centro Social da Paróquia de Esmeriz, no âmbito dos seus objectivos, tem em funcionamento desde Fevereiro de 2001, duas respostas sociais de apoio à 3ª idade: Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário. “Trata-se de respostas sociais que têm por objectivo prestar apoio aos idosos e famílias da sua área de influência e outros idosos em situação de risco contribuindo assim para a manutenção dos mesmos no seu meio sócio familiar garantindo-lhes os serviços que satisfaçam as suas necessidades básicas”, sublinha a directora técnica do Centro Social de Esmeriz. A capacidade da resposta para o Centro de Dia é para 22 idosos e Apoio Domiciliário também 22 pessoas. Segundo Luísa Matos, nos últimos anos tem-se verificado um aumento de procura, sobretudo no que respeita ao Apoio Domiciliário. “As pessoas mais idosas sentem-se bem nas suas casas e a ideia de entrar para um Centro de Dia é sempre motivo

de grande ansiedade e por isso adiam muito esta saída e optam mais facilmente pelo Apoio Domiciliário”. Contudo, segundo a mesma responsável, se a entrada no Centro de Dia pode, para alguns, ser motivo de ansiedade, para outros é motivo de alegria, de uma vida social mais activa, de melhores condições e maior acompanhamento pessoal e de grande carinho. Para além dos cuidados de apoio individuais (refeições, prestação de cuidados de higiene e de saúde, tratamento de roupa e higiene habitacional), são desenvolvi-

das actividades sócio-recreativas como a organização de passeios e convívios com outros grupos etários, organização da época balnear, comemoração de datas festivas como dia da mãe e do pai, dia mundial do idoso. Sempre que possível a família é chamada a participar na definição do plano de bem-estar e de cuidados do idoso. “É determinante que a família se envolva e responsabilize pelo seu familiar, conheça as suas fragilidades e adeque os seus cuidados quando este está em casa”, explica Luísa Matos.

Avós e netos

Adélio da Costa Ribeiro, 81 anos “Tenho dois netos. Tenho uma boa relação com os meus netos, todas as semanas saio com eles, um ou outro, para qualquer lado, para almoçarmos. Converso bastante com eles e damonos muito bem”.

Carolina Sá, 6 anos “Às vezes vou comer com a minha mãe a casa dos meus avós outras vezes vamos só visitar. Brinco quando durmo em casa dos meus avós, brinco com as bonecas e com a minha avó. Dão-me presentes quando não faço asneiras com a minha prima.

Avós e netos

Emília Alves Silva, 87 anos “Tenho duas netas. Uma está em Lisboa e outra foi para a Alemanha. Costumo falar pela Internet todos os dias, tanto eu como a minha filha, só tenho uma filha. Há dias que choro de saudade, são muito meiguinhas”.

Sofi fia a Sousa Sampaio, 7 anos “Gosto muito dos meus avós, porque quando tenho dificuldades nas contas, são os meus avós que ajudam. Não faço muitas brincadeiras com eles porque estão sempre a trabalhar”.


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especial

Avós e netos Manuel Campelo, 87 anos “Tenho dois netos, estou com ele muitas vezes, um mora perto de mim, o outro mora em Braga, mas vem ver-me muitas vezes. São meus amigos, também sou amigo deles, converso e passeio muito com eles, são muito meus amigos”.

Santa Casa com projecto de voluntariado para a terceira idade A Santa Casa da Misericórdia tem dois lares de idosos: o Lar de S. João de Deus com capacidade para 90 residentes. Para além destes, presta apoio a 20 utentes em Centro de Dia e19 em Apoio Domiciliário. Já o Lar Jorge Reis tem capacidade para 70 residentes e apoia ainda 7 utentes em Centro de Dia. Nos dois espaços todas as respostas estão lotadas. Nos últimos anos, a procura tem aumentado, devido principalmente à esperança média de vida ter aumentado, à ocupação das famílias, sem tempo para cuidar dos seus idosos e à falta de condições habitacionais para tal, preferindo entregálos aos cuidados de profissionais qualificados. As actividades que a Santa Casa proporciona aos seus utentes são variadas e diversificadas para que todos possam participar entre elas: gi-

nástica, hidro-ginástica, sessões de movimento e bem-estar, atelier musical, atelier de trabalhos manuais, lanches convívio. Muitas destas actividades são actividades intergeracionais desenvolvidas com as crianças dos infantários da Santa Casa. Nas valências da Santa Casa as famílias são constantemente convidadas a participar no bemestar dos idosos, incentivando-os a visitá-los com bastante frequência e a participar nas actividades programadas. Em termos de projectos, a equipa técnica tem desenvolvido algumas candidaturas a projectos financiados com vista a uma maior qualidade de vida. Destaca-se, por exemplo, o projecto do voluntariado que tanto facilitará o bem-estar dos idosos, bem como proporcionará à própria comunidade uma interacção com esta população.

Rosário Costa Rodrigues, 6 anos “Quando vou para casa deles brinco com eles e é divertido. Ajudo a minha avó a por a mesa e ajudo-a a descascar as batatas e a preparar a sopa”.

Avós e netos Carolina Costa Machado, 79 anos. “Tenho seis netos. São tudo para mim. Alguns não vejo muitas vezes, porque estão na Suíça. Neste momento estão cá a minha filha e o meu neto, mas para a semana já estão cá o meu genro e a minha outra neta. Dou-lhes muitos beijos, muitos abraços e muito carinho, eles também são muito carinhosos comigo. Tenho mais dois filhos e mais quatro netos e são muito queridos para mim e vem cá ver-me todas as semanas, quando podem”. Daniel Guerra Guimarães, 6 anos “Com a minha avó jogo às cores ou às cartas, com o meu avô ajudo-o a levar as coisas para os carros. No outro dia é que me dão alguma coisa. Estou de vez em quando com eles”.

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