Textos Carla Soares / Tiago Moura
Ao longo dos anos, desenvolvimento desta vila de Guimarães é notório
Ronfe, vila por mérito próprio Carla Alexandra Soares A vila de Ronfe, geograficamente, situase na margem direita do rio Ave, a 8 km da cidade de Guimarães, sede concelhia, e é atravessada pela Estrada Nacional 206. Tem uma área de 5,25 km2, confrontando com as freguesias de Vermil, Brito, Selho S. Jorge e Gondar, todas do concelho de Guimarães, e Pedome, Mogege e Joane, estas do concelho de Famalicão. Ronfe, elevada à categoria de Vila em 1999, dispõe de infra-estruturas culturais, educativas, recreativas e desportivas. De acordo com dados censitários deste ano, conta com uma população de cerca de 5 mil habitantes. É uma vila do Vale do Ave com predominância de indústria têxtil, que vai sentindo a crise deste sector, mas que vai re-
sistindo, embora já se notem alguns sinais de pobreza, devido ao desemprego. Ultimamente, tem havido um grande incremento no que diz respeito ao comércio. Relativamente à agricultura, esta tem vindo a perder importância, destacandose duas ou três quintas com produção de vinho. A poluição ainda não atingiu níveis assustadores, apesar do rio Ave ser um dos mais poluídos de Portugal e a população não poder usufruir dele como o fazia há dezenas de anos. A festa de Santiago O dia de Santiago é a 25 de Julho, em Ronfe, no concelho de Guimarães. A festa do padroeiro é no fim-de-semana a seguir ao dia referido, a não ser que este coincida com o fim-de-semana, sempre no último
fim-de-semana de Julho, atraindo a esta muita gente, quer da vila, quer das terras vizinhas. O número de mordomos e mordomas varia conforme a comissão de festas, o normal é de quinze mordomos e quinze mordomas, num total de trinta pessoas. A comissão de festas é constituída por um juiz e uma juíza que são os que presidem à festa, com um número variado de comissários que, normalmente, são dez casais, num total de vinte pessoas. Os juízes e mordomos, no próprio dia da festa, nomeiam os responsáveis pela festa do ano seguinte e içam uma bandeira com as cores branca e vermelha num mastro de eucalipto com cerca de vinte metros de altura, na casa do juiz e da juíza que, desde logo, começam a preparar as várias festas anuais desta vila, pois os organizadores
eleitos ficam responsáveis por todas as festas religiosas anuais: Festa do Menino Jesus, Nossa Senhora da Assunção, Reis, Primeiras Comunhões e Comunhões Solenes. Toda a vila vive as festas intensamente mas a festa do padroeiro é a que simboliza e mobiliza a população na semana que antecede “O Domingo da Festa”. Os mordomos mais jovens, com a colaboração dos populares com mais experiência, começam com vários meses de antecedência a preparar a decoração para a festa com arranjos de flores em papel que vão ornamentar os mastros e as ramadas que vão sendo postos ao longo do percurso de dois quilómetros onde passa a procissão com os vários andores. Fonte: Trabalho académico de José Mendes pub.
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Daniel Rodrigues lidera a Junta de Freguesia há 10 anos
“Ser autarca é uma missão” Assumiu o cargo de presidente da Junta com apenas 24 anos e passados dez anos considera que Ronfe, donde é natural, deu um passo gigante. Apesar de reconhecer que já não tem a mesma energia e disponibilidade de outrora, Daniel Rodrigues encara o papel de autarca como uma missão. “Quando comecei achava que nada estava feito. Em algumas coisas precipitei-me e fiz mal, outras fiz bem, mas acho que trouxe nova energia, nova dinâmica e a Junta de Freguesia de Ronfe foi pioneira em muita coisa”, resume. Daniel Rodrigues tem para gastar, em 2011, cerca de 40 mil euros, mas durante este ano está convicto que vai nascer na vila um centro escolar que deverá ficar concluído no próximo ano. O investimento é de quase dois milhões de euros e vai concentrar no mesmo espaço as crianças das freguesias de Vermil, Airão e Ronfe. “Estão também previstas as piscinas cobertas, um investimento da Câmara Municipal de um milhão e meio de euros, que apesar da crise não deixou cair o investimento e mantém a aposta”, conta. Para além disso, o autarca avança que a Junta de Freguesia tem prevista uma obra junto ao rio Ave, que é fazer uma praia fluvial e uma zona envolvente com percurso de manutenção e uma zona de merendas. “É uma grande aposta, mas existe uma obra, que é da empresa Águas do Ave, que nunca mais está acabada e não nos permite avançar com o nosso projecto”, sublinhou Daniel Rodrigues. Outro grande objectivo do autarca é passar os serviços da Junta de Freguesia para a Casa do Povo: “Queremos requalificar o edifício que é o mais bonito que temos em Ronfe. Queremos ter lá a nossa sede e prestar um melhor serviço à nossa população”.
Mas muito mais é feito nesta vila como as pavimentações, electrificações e actividades na área cultural e social. “A junta não se resume a passar certidões e a alcatroar caminhos, fazemos muito mais”, garante. Exemplo disso mesmo é o apoio dado às famílias na oferta dos manuais escolares, o que orgulha o autarca, sendo que no concelho, com 69 freguesias, só a sua junta é que o faz. Para o presidente da Junta, a vila de Ronfe é ideal para se viver, lembrando que existem empresas fortes que dão emprego, estabelecimentos de ensino, áreas de lazer e desportivas, Unidade de Saúde Familiar, o salão paroquial com uma sala de espectáculos “que há poucas no concelho”, entre outras valências. Todo o desenvolvimento que a vila sofreu em dez anos, defende o autarca, está intimamente ligado à forma de estar dos ronfenses “que são muito unidos, puros e gente de muito trabalho”. Eleito pelo PSD, Daniel Rodrigues assume que existe uma relação tensa com o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, estando em causa questões partidárias. “Enquanto os presidentes de junta não alinharem são castigados, não levam as verbas e funcionam tipo pedinte. Fui eleito por uma população para os representar, se eu pedir dinheiro para Ronfe não é para o meu bolso, é para a população”, afirma. O autarca não tem pruridos em afirmar que todos foram apanhados de surpresa por um miúdo com 24 anos que chega a uma junta, onde o Partido Socialista tinha 12 anos de maioria absoluta. “Há colegas presidentes de junta do PS que na medida de oferecer manuais escolares, queriam fazer o mesmo. Mas como o presidente de Câmara atacou o autarca de Ronfe, que é o único, não o fizeram”, declara. pub
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pública: 27 de Julho de 2011
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Obra deverá arrancar a curto prazo
Novo Centro Social vai nascer em Ronfe
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Vai nascer na vila de Ronfe um novo Centro Social. O projecto já está concluído e o concurso público terminou no mês passado, sendo que as candidaturas estão agora a ser analisadas. A nova valência vai ser construída no antigo campo de futebol do Ronfe, na Avenida da Igreja, e vai ter creche, jardim-de-infância, lar, serviço de apoio domiciliário, centro de dia, ATL e ainda com a valência do serviço social. A creche vai ter uma capacidade para 66 utentes, sendo que neste momento a resposta fica-se pelos 27 utentes. A nível do pré-escolar vai-se manter a capacidade de resposta. No lar vão existir 13 quartos individuais e 13 duplos, com resposta para 39 utentes. “Sendo Ronfe uma vila grande, fazia-nos doer que idosos, sem retaguarda familiar, tivessem que ir para outros locais fora da vila, porque aqui não há resposta e um corte com a sua terra é terrível, porque deixam de ter o seu lugar e pessoas de referência”, explica o padre João Silva, que é também o presidente do Centro Social de Ronfe. A obra está orçada em cerca de dois milhões e 500 mil euros e o responsável adianta que já se candidataram a programas de fundo de coesão social e foram aprovados, por isso está garantida uma verba de mais de um milhão de euros. Tendo em conta que falta mais de metade da verba, o padre João sublinha que o resto do dinheiro vem de alguns fundos que existem em pé-de-meia e da população que está empenhada. “Neste momento temos uma grande campanha em curso. Dividimos a paróquia em quatro zonas e cada zona trabalha três meses inventando o seu processo de angariação de fundos. Têm surgido desde jantares temáticos, caça
ao cabrito, caça ao javali, fornecimento de refeições ao fim de semana, tipo take away”, conta. Neste momento decorre o sétimo mês da campanha e foram angariados 60 mil euros. “Claro que para aquilo que falta é pouco, mas já e um resultado muito bom e apesar da crise estou confiante que as pessoas vão continuar a ser solidárias, porque é uma obra nossa, é uma obra para todos”, sublinha o pároco. Actual valência não responde às necessidades Já com 25 anos de existência, o actual Centro Social já não responde às necessidades desta vila vimaranense com cinco mil habitantes. O padre João Silva, presidente da instituição desde que chegou à paróquia de Ronfe, há 14 anos, considera que o trabalho desenvolvido até agora é positivo. “Quando eu cheguei tinha muito menos funcionários e fomos crescendo por uma política estratégica de crescimento mas essencialmente de resposta às necessidades sociais. As pessoas têm necessidades, mas temos a lotação completamente esgotada, com cerca de 50 crianças, e temos muitos pedidos, mas neste momento não somos capazes de responder às solicitações”, lamenta o responsável, que considera que o que distingue o Centro Social de Ronfe é a grande relação de proximidade que existe, “onde os nossos utentes e os familiares sentem a casa como sua”. “Acho que é um aspecto fundamental, embora estas novas burocracias que se tentam implementar acabem por criar algum distanciamento”, lamenta.
São Tiago apóstolo, o Maior (5 a. C. – 44)
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Tiago terá nascido por volta do ano cinco, antes de Cristo, em em Betsaida da Galileia, filho de Zebedeu e de Salomé. Segundo os diversos evangelistas foi dos primeiros junto com Pedro, André e seu irmão mais novo João a ser escolhido para apóstolo. Aportuguesado para Santiago, significando a junção dos termos São + Tiago, também é conhecido como o Apóstolo Ambicioso. Antes de ser seguidor de Jesus Cristo dedicava-se à pesca e foi neste contexto que Jesus o chamou para o seguir. Estava com o irmão nas margens do lago Genesaré, quando Jesus os chamou. Podemos dizer que ele fazia parte do grupo mais restrito dos apóstolos, pois testemunhou a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,37), a transfiguração (Mc 9,2-13) e a agonia de Jesus no horto do Getsêmani (Mc 14,32). De acordo com Isidoro de Sevilha, em De vita et obitu Sanctorum (71, Vida e morte dos Santos), após a ascensão de Jesus, teria evangelizado a Espanha, tornando-se seu primeiro evangelizador e depois seu patrono. Para revigorar esta tradição, no século IX o bispo Teodomiro, da cidade de Iria, afirmou ter reencontrado as relíquias do apóstolo e desde aquela
época, a cidade que depois mudaria o nome para Santiago de Compostela, tornou-se importante meta de peregrinações, especialmente durante a Idade Média. Conta-se também que após a morte de Jesus, permaneceu em Jerusalém com Pedro. Foi preso juntamente com Pedro, e decapitado por ordem do rei Herodes Agripa (At 12,2), depois da execução de Estêvão (35), diácono grego e exaltado pregador cristão e personagem de grande importância na história de Paulo de Tarso. Foi, portanto, o primeiro mártir entre os apóstolos de Cristo, o primeiro a dar a vida pela Fé. Sua festa é celebrada a 25 de Julho. É um dos apóstolos que foi escolhido para ser padroeiro de muitas comunidades cristãs, entre estas está a paróquia de Ronfe. Em Tiago podemos constatar um amor profundo à palavra de Deus, (nas imagens de Tiago ele está com a Bíblia na mão), descobriu a riqueza da Boa Nova, por isso deu a vida pelo evangelho. O mundo de hoje necessita de homens e mulheres com o amor, a coragem e a dedicação de Tiago às causas do Reino de Deus. Padre João Silva
pública: 27 de Julho de 2011 21
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Festas decorrem de 25 a 31 de Julho
“Há muita dedicação ao padroeiro da vila” José Costa vive, pela primeira vez, a experiência de ser o presidente da Comissão de Festas em honra de Santiago de Ronfe. Apesar do trabalho intenso não considera que seja complicado desde que haja uma boa organização, uma boa equipa de trabalho. Já a trabalhar há um ano, desde as festas do ano passado, o responsável lembra que há muita dedicação ao padroeiro da vila. “São festas bastante concorridas em termos de público, mesmo aqueles que não são de cá”. Relativamente ao programa o ponto alto, como que se trata de uma festa religiosa, é no domingo, dia da procissão. “A parte popular inicia-se na quinta-feira com a festa dos avós. O ponto alto é no sábado, em termos de adesão de público”. Apesar de não adiantar números com rigor, o presidente da Comissão de Festas prevê gastar cerca de 50 mil euros. “O que nos faz gastar mais dinheiro e, pensando nos pontos mais altos é fogo e o grupo de sábado à noite”. O dinheiro foi conseguido com muito trabalho e empenho de todos os membros da Comissão de Festas. “Fizemos eventos, como Chuva de Estre-
las, fizemos cantinas e um peditório pela vila”. Tendo em conta que Ronfe tem cinco mil pessoas, o peditório foi generoso, adianta José Costa. “Estou muito grato com a paróquia nesse sentido, francamente superou um pouco as expectativas que se criticavam por causa da crise. Não foi fácil mas conseguimos”. Apesar da crise económica que o país atravessa, o responsável não receia e considera que em termos festivos não vai ficar atrás dos outros anos. “É uma festa com muita tradição, embora não tenha nomes sonantes, tem nomes atractivos que acho que não nos vão deixar ficar mal”. Relativamente ao resultado final, José Costa garante que tem um pensamento sempre muito positivo nestas questões e está confiante que vai ser um êxito. “Depois de tanto trabalho e tanta aplicação é o que nós aguardamos”. pub.
Anseia pelo fim da festa para passar o cargo a outros, o que é considerada uma meta importante para quem termina o trabalho. “Como estamos cansados, é importante a entrega da pasta para outros darem continuidade com mais energia”. pub
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pública: 27 de Julho de 2011
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Henrique Barros, porta-voz do Desportivo de Ronfe
Depois de anos de vários problemas, a convicção é do autarca
“Queremos assegurar a manutenção”
Casa do Povo vai renascer Daniel Rodrigues, o autarca da freguesia, é quem está mandatado para falar em nome da Casa do Povo da vila. Isto acontece porque houve um momento conturbado nas últimas eleições e, enquanto advogado, acompanhou as pessoas que se depararam com uma série de problemas. “Neste momento está-se a resolver e está bem encaminhado. Também é do interesse da autarquia e de toda a população cumprir o protocolo que estava alinhado antes das eleições autárquicas de 2009, que era um protocolo entre a Câmara Municipal a Junta de Freguesia de Ronfe e a Casa do Povo de Ronfe”, explica Daniel Rodrigues. O documento assinado implica que a Junta prescinda do que tem em benefício da Casa do Povo. “No fundo, o edifício actual irá sofrer obras e a Câmara Municipal ajudará com uma verba e a Junta muda-se para o edifício em causa”, explica o autarca, adiantando que as pessoas que agora gerem a instituição têm feito um trabalho incansável de sacrifício e desde que entraram resolveram problemas e pagaram dívidas antigas, sem a colaboração da direcção. “A Casa do Povo teve um
período conturbado, um período negro, era uma mancha que tínhamos em Ronfe. Neste momento não. Estão lá pessoas a tentar resolver e, acima de tudo, a tentar devolvê-la aos ronfenses”, sublinha Daniel Rodrigues que afirma que, nos últimos 15 anos, a Casa do Povo não fez nada por Ronfe, “uma vergonha”. Exactamente para contrariar esta imagem, neste momento a instituição tem já uma secção de judo “que tem sido um orgulho para nós, com professores incansáveis que têm lutado, apesar das poucas condições”. “As receitas deste último ano têm servido para pagar as dívidas e devolver o bom nome à Casa do Povo de Ronfe”,
declara ainda. No futuro, o responsável espera que os muitos jovens que querem criar associações e não têm receita, possam contar com a ajuda da instituição que vai tentar ser um motor para esse desenvolvimento: “Em Ronfe nunca se fez nada disso. Entretanto acabou isso, está-se a arrumar a casa e a abri-la a todos os ronfenses e a todos os jovens que queiram desenvolver actividades”. O autarca lamenta que o edifício esteja ao abandono e com má imagem, devido às dívidas acumuladas, mas garante que tudo fará para que se vire a página, esperando que os jovens se aproximem, se façam sócios e que ajudem. pub
O Centro de Cultura e Desporto “O Desportivo de Ronfe” está, neste momento, a preparar a época 2011/2012. Mais uma vez a disputar a Divisão de Honra da Associação de Futebol de Braga, Henrique Barros, o porta-voz do clube adiantou que a época anterior correu bem e, na época que se aproxima, espera que vá pelo mesmo caminho. “O ano passado fomos a melhor equipa do concelho de Guimarães, o que nos honra a todos, principalmente aos sócios. Este ano pretendemos fazer um campeonato tranquilo e assegurar a manutenção o mais rapidamente possível. Depois, o que vier é lucro”, avança. Henrique Barros, que é também o tesoureiro, garante que financeiramente o clube está estabilizado. “O orçamento da época passada foi cumprido, resta fazer agora novo orçamento e tentar executá-lo da mesma forma que o anterior”, sublinha o tesoureiro, que lembra que o orçamento para esta época andará por volta dos 100 mil euros. “As receitas provêem de várias coisas, desde logo dos sócios, que serão 20% do orça-
mento, dos atletas da formação, da publicidade, da bilheteira e de eventos extra futebol que o clube vá realizando”, explica. Tendo na formação a sua base, Henrique Barros diz que a missão fundamental do clube é a ocupação das crianças e dos jovens e depois tentar dar oportunidades para que possam integrar a equipa sénior, o que aconteceu este ano com a promoção de dois juniores à equipa principal. Neste momento, o Desportivo de Ronfe tem diversas equipas na formação, desde logo as pré-escolas, o escalão que não entra em competições formais. Depois
os benjamins, que são o primeiro nível de competição, mais duas equipas infantis, iniciados, juvenis e juniores. “Contanto com as pré-escolas temos 8 escalões de formação que se juntam na equipa sénior”, contabiliza Henrique Barros. O clube tem um campo e infra-estruturas de alto nível, avaliadas em cerca de um milhão de euros: “Todos os sócios podem-se orgulhar do património do clube, que foi fruto da visão da anterior direcção, liderada pelo senhor João Machado, que arregaçou as mangas e levoua a cabo. Temos um parque desportivo de fazer inveja a muitos clubes da região”. pub
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20 anos, 20 notícias
1992
Em 1992, as notícias do universo político e autárquico famalicense tinham um denominador comum: dois anos depois da saída do director de comunicação municipal Custódio Oliveira, surgiam as primeiras brechas na gestão da maioria socialista. Começava a contestação a Agostinho Fernandes e despontava Fernando Moniz. Na economia, os alemães da Continental salvavam a Mabor de um futuro incógnito.
Brechas na maioria e revolução na Mabor Luís Paulo Rodrigues * Folhear mais de mil páginas já amarelecidas na encadernação que guarda religiosamente as 52 edições do jornal OPINIÃO PÚBLICA de 1992 para escolher a notícia mais importante do ano foi uma tarefa ciclópica, sobretudo tendo em conta que a notícia a escolher teria que ser suficientemente importante para Vila Nova de Famalicão naquela época. Uma tarefa ciclópica não por falta de notícias, mas pela dificuldade de escolher uma e pela injustiça que essa escolha representaria para outras. Afinal, a realidade que nos envolve é o resultado de acções colectivas nos mais variados campos da actividade pública e privada dos agentes culturais, políticos, educativos, sociais e económicos que compõem a comunidade. E para melhor explicarmos o que se passa à nossa volta é também importante perceber que os acontecimentos, mesmo ocorridos nos campos mais diversos, têm entre si uma relação mais próxima do que às vezes que se pensa. Daí que, em 1992, tenha escolhido várias notícias da política local e uma da economia. As notícias do universo político e autárquico têm um denominador comum: dois anos depois da saída do director de comunicação municipal Custódio Oliveira, em ruptura com o presidente, surgiam as primeiras brechas na gestão da maioria municipal liderada pelo socialista Agostinho Fernandes, que tinha sido eleito 10 anos antes, mas que começava a perder apoios no concelho e via despontar a figura de Fernando Moniz, que ascendia à liderança da Federação de Braga do Partido Socialista. Daí em diante, o PS ainda ganhou duas eleições autárquicas (1993 e 1997), mas sempre em perda de votos e vereadores, até à derrota de 2001, em que Armindo Costa (PSDCDS/PP) somou mais votos do que Agostinho Fernandes (MAF) e Fernando Moniz (PS) juntos. Quanto à notícia da área económica, destaquei-a pela sua importância estratégica para o desenvolvimento social de Vila Nova de Famalicão: foi a notícia sobre uma mudança estrutural ocorrida na gestão da Mabor, a fábrica de pneus de Lousado, que foi determinante para a manutenção da empresa no concelho, onde era e continua a ser uma das maiores empregadoras, sendo actualmente a quarta maior empresa exportadora do país. “Revolução na Continental-Mabor”, titulava o OPINIÃO PÚBLICA na primeira página, em 23 de Setembro de 1992. “Ultrapassados os problemas laborais, a Continental-
Fernando Moniz
Manifestação nos Paços do Concelho contra a ETRSU
Mabor mantém na íntegra o seu projecto de desenvolvimento”, que passava pelo investimento de 27,5 milhões de contos (137 milhões de euros), estimando-se que a produção subisse para 18 mil pneus por dia. Hoje, e depois de outros investimentos, a empresa dá trabalho a mais de 1500 profissionais e a produção é da ordem dos 50 mil pneus por dia. No ano em que inaugurou a Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, iniciando, assim, a criação do Parque Urbano de Sinçães, Agostinho Fernandes projectava para o exterior uma imagem de autarca preocupado com a cultura e concentrava-se nas grandes obras do Governo e da Associação de Municípios do Vale do Ave (AMAVE) que rasgavam o concelho. Os pequenos problemas das freguesias, que são enormes para cada morador ou presidente de Junta, eram relegados para segundo plano. Em 1992, Famalicão dispunha apenas da auto-estrada Porto-Cruz. Não existia mais nenhuma, pois ainda estavam a ser rasgados os canais para as auto-estradas Famalicão-Guimarães e Cruz-Braga. A auto-estrada para Póvoa de Varzim-Vila do Conde não passava de
um sonho das noites de Verão… Tanto em Sezures como em S. Cosme do Vale ou na Lagoa, o progresso trazido pela acção concretizadora dos governos de Cavaco Silva – injectados pelos primeiros milhões vindos de Bruxelas – trazia queixas da população, que via o seu habitat invadido pela força destruidora das máquinas. Foi o que aconteceu na Lagoa, onde a escola e a sede da Junta de Freguesia tiveram que ser demolidas. Mas havia mais situações a provocar mossa: a AMAVE tinha decidido construir em Riba de Ave a estação de tratamento de resíduos sólidos urbanos, uma novidade na época, pois o lixo dos famalicenses era despejado a céu aberto, em Covelas (Santo Tirso), junto à autoestrada Famalicão-Porto. A população de Riba de Ave saiu à rua em protesto, contra o mau cheiro e a ameaça da degradação ambiental da vila, provocando as maiores manifestações populares contra Agostinho Fernandes e a AMAVE. Chegou a haver distúrbios, inclusive, no interior da Câmara Municipal. E Agostinho Fernandes perdia apoios à esquerda na zona de Riba de Ave, cuja Junta de Freguesia o PS tinha perdido em 1989, para o Partido
Agostinho Fernandes
Comunista. Em 29 de Julho de 1992, o OPINIÃO PÚBLICA titula em manchete “Câmara ardente”, para dar conta de uma sucessão de casos que agitavam a Câmara Municipal, com Agostinho Fernandes a embargar obras e a lançar inquéritos e castigos sobre funcionários dos serviços de obras e de aferição. Havia “indícios de corrupção nos serviços”, adiantava o OP. Fernando Moniz, já então número dois da Câmara e pretendente ao trono, mas a jogar no futuro ocupando a liderança do PS-Braga, não parecia muito preocupado. Os casos, dizia, eram “normais, frequentes”, e não tinham “nada de especial”. À maioria socialista valia, na altura, uma oposição desatenta e pouco articulada. Outras notícias davam conta de vários focos de descontentamento. Os comerciantes da central de ca-
No dia 13 de Maio de 1992, talvez por coincidência, Feliz Pereira assinou um artigo de opinião, intitulado “A Primavera de Moniz”, onde dizia que o autarca ambicionava ser presidente da Câmara, apontando-o como possível candidato do PS em 1997. O Verão de Fernando Moniz acabaria por não chegar…
mionagem, inaugurada poucos anos antes, chegavam à conclusão que tinham sido “enganados pela Câmara” (cf. OP, 02-09-1992). O pequeno centro comercial revelavase um fiasco, diziam. Na cultura, Francisco Queiroga demitia-se do Gabinete de Arqueologia; a Feira de Artesanato, que na altura se realizava na Praça D. Maria II, acolheu, em simultâneo, a Feira das Associações, o que gerou forte polémica; o CDS, pela mão de Durval Ferreira (pai do exvereador Durval Tiago), fazia uma campanha contra a venda dos lotes de Sinçães; a taxa municipal de construção de edifícios industriais aumentava 14 vezes, o que deixava os empresários em polvorosa (cf. OP, 26-02-2011); na Assembleia Municipal, o próprio PS manifestava-se contra Agostinho Fernandes por causa dos apoios ao FC Famalicão; o Centro Comercial Aro revelava todos os seus problemas de construção e Agostinho Fernandes enfrentava as queixas dos comerciantes na Assembleia Municipal, que então se realizava no auditório da Fundação Cupertino de Miranda; o socialista Orlando Oliveira, hoje vereador, retiravase da Junta de Joane, para dar lugar a Sá Machado, e surpreendia com uma entrevista explosiva, ao considerar que “Agostinho Fernandes é um estorvo” e Fernando Moniz como presidente da Câmara “seria melhor para Joane e para o concelho de Famalicão” (cf. OP, 22-041992). Finalmente, neste jornal, no dia 13 de Maio, talvez por coincidência, Feliz Pereira assinava um artigo de opinião, intitulado “A Primavera de Moniz”, onde dizia que o autarca ambicionava ser presidente da Câmara, apontando-o como possível candidato do PS em 1997. O Verão de Fernando Moniz acabaria por não chegar… *Director do OPINIÃO PÚBLICA entre 1991 e 1993
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pĂşblica: 27 de Julho de 2011
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