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Maurel Behling

sendo realizadas principalmente para aumentar a luminosidade para as culturas que estão intercaladas, seja pastagem ou lavoura. A intensidade e a frequência das desramas e dos desbastes irão depender da espécie e do arranjo utilizado. Na iLPF, uma boa sugestão é planejar e manejar as árvores com vistas à exploração multiuso do povoamento. Assim, obtêm-se rendas intermediárias, e o problema do sombreamento excessivo é minimizado.

No entanto, na definição do arranjo e modalidade de iLPF que será implantada, devemos perguntar: qual a melhor espécie florestal para o sistema? Certamente, a melhor espécie será aquela que possui mercado garantido para os seus produtos, seja adaptada às condições edafoclimáticas da região e haja domínio dos seus tratos silviculturais. Nesse aspecto, as espécies exóticas levam vantagem e possuem alta produtividade e tecnologia adaptada às condições subtropicais e tropicais. As espécies nativas possuem um potencial ainda não explorado devidamente, não possuem mercado consolidado e também sofrem concorrência com madeira de florestas nativas de diâmetros maiores. O eucalipto, composto por seus diferentes clones, é, sem dúvida, a espécie mais plantada nas áreas que adotam a estratégia iLPF no Brasil por atender aos requisitos citados.

Além da existência de mercado para os produtos gerados, a escolha da espécie florestal deve ser pautada também na distância em que a propriedade está do mercado consumidor. Produtos de menor valor agregado, como lenha, biomassa e cavacos (eucalipto), tem seu plantio restrito a um raio entre 100 e 200 km. Já a exploração do eucalipto para madeira serrada permite que o mercado consumidor esteja a distâncias maiores. A utilização de espécies de maior valor agregado, como a teca, permite ao produtor estar a uma distância superior aos 2.500 km do porto para exportação da madeira para a Índia, logística permitida somente por madeiras de alto valor agregado.

Um exemplo de propriedade que faz iPF como adição de renda é a Fazenda Bacaeri, em Alta Floresta-MT, distante 2.700 km do porto de Paranaguá-PR, pertencente à Bacaeri Florestal Ltda (Sócio-gerente Antônio Francisco dos Passos).

A fazenda possui 1.200 ha de plantio homogêneo de teca (Tectona grandis) e uma área de 6.700 ha com pecuária para recria e engorda de animais, tanto da raça Nelore (predominante) quanto animais de cruza incerta, comprados de criadores da região. A área com sistema silvipastoril é de 450 ha com teca. A estratégia de iPF utilizada é consórcio da forrageira B. brizantha (cv Marandu) com teca cultivados em diferentes configurações (15x6, 18x3, 20x2,5, 20x3 e 22x3 m); a entrada dos animais jovens (recria), no sistema, ocorre entre os seis meses e um ano após o plantio das árvores. A Fazenda Bacaeri irá implantar, anualmente, cerca de 350 ha/ano até atingir 100% da área de pecuária com sistema silvipastoril. No prazo de 20 anos, fecha-se um ciclo de plantio, e será estabelecido o ciclo de corte e replantio.

Custo de plantio R$ 3.000,00 2.000,00 1.500,00 1.000,00 Custo de manutenção R$ 6.000,00 4.500,00 3.600,00 3.000,00 Custo extração x vendas R$ 4.000,00 4.000,00 4.000,00 4.000,00 Custo total R$/ha 13.000,00 10.500,00 9.100,00 8.000,00 DAP aos 18 anos cm 45 55 65 80 Altura comercial m 5,8 6,8 9,2 11,5 Fator de forma 0,55 0,6 0,6 0,65 Produção final árvore/ha 65 70 75 80 Preço da tora R$/m³ 400,00 500,00 700,00 1.000,00 Produtividade m³/ha 33 67 81 300 Faturamento R$/ha 13.190,00 33.920,00 56.900,00 300.000,00 Lucro R$/ha 190,00 23.420,00 47.800,00 292.000,00 Lucro R$/ha/ano 10,55 1.301,11 2.655,55 16.222,22

CENÁRIOS PROJETADOS DOS CUSTOS E RECEITAS PARA TECA NA iPF FAZENDA BACAERI, ALTA FLORESTA-MT Indicadores Unidade Pessimista Conservador Real Otimista

Atualmente, a fazenda possui instalada uma serraria para o desdobro da madeira, obtida dos desbastes dos plantios homogêneos, para exportação de blocos de diferentes bitolas (3x3" a 5x6"), com o preço FOB/m ³ variando entre US$ 420 e US$ 600, respectivamente. A experiência com o plantio puro e o acompanhamento do crescimento das árvores no sistema silvipastoril permitiram à Bacaeri realizar projeções de receitas que possam ser geradas no sistema iPF.

No cenário pessimista, com custos de implantação e manutenção elevados, pequeno crescimento das árvores e o preço da madeira bem abaixo do esperado, é gerada uma receita de R$ 10,55 ha/ano mais a receita obtida anualmente com a pecuária de corte (R$ 300,00 ha/ano). No cenário otimista, com custos de implantação e manutenção bem menores, adequado crescimento das árvores e o preço esperado da madeira, é gerada uma receita de R$ 16.222,22 ha/ano mais a receita obtida anualmente com a pecuária (R$ 300,00 ha/ano). No cenário real, é gerada uma receita de R$ 2.655,55 ha/ano mais a receita obtida anualmente com a pecuária. Recomenda- -se para quem pretenda iniciar o sistema que seu projeto seja elaborado com base nas projeções do cenário conservador, com uma receita de R$ 1.301,11 ha/ano mais a receita obtida anualmente com a pecuária, minimizando o lucro e maximizando os custos.

Os cenários projetados são interessantes, ressalvadas as condições extremas, ou seja, a receita de R$ 16.000,00 ha/ano dificilmente será alcançada, mas também o produtor precisa errar muito para que ele tenha um sistema de iPF com uma receita negativa. A coexistência de sistemas, muito bem estruturados, de produção de grãos, carne ou leite e produtos madeireiros e não madeireiros é um dos fatores que contribuem, de forma determinante, para que a estratégia iLPF seja adotada para aumentar a produtividade e a competitividade da agropecuária brasileira. Dessa forma, se visualiza que, em um futuro próximo, a convivência sustentável da atividade agrícola, pecuária e silvícola seja a regra da agropecuária brasileira, e não uma exceção.

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