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Paulo Cesar Sentelhas, Esalq-USP

em casos de raios, queimadas descontroladas ou ações criminosas. Além disso, a velocidade do vento auxilia na manutenção e propagação dos incêndios.

Apesar de, atualmente, existirem diversas formas de monitoramento de incêndios, desde índices que avaliam o risco de fogo, com base em condições meteorológicas, até o uso de sensoriamento remoto para identificação de focos de calor e de áreas com presença de fogo, não há uma técnica padrão para monitoramento e controle dos incêndios. No setor florestal brasileiro, ambas as técnicas vêm sendo empregadas com êxito, sendo a primeira para indicar o risco e definir estratégias de minimização dos incêndios, enquanto a segunda é mais empregada para identificar as áreas com fogo, de modo a deslocar a brigada antifogo para as áreas incendiadas.

No caso dos índices de risco, o mais empregado vem sendo o índice de Monte Alegre, índice acumulativo que indica o risco de incêndio florestal com base na umidade relativa, às 13h, e na ocorrência de chuvas (fator atenuador do risco). Esse índice foi desenvolvido, testado e validado para a região de Telêmaco Borba, PR, por Soares (1972), e vem sendo amplamente testado e utilizado, desde então, em todo o Brasil, com excelentes resultados.

Dada sua aplicabilidade e importância, o índice de Monte Alegre, baseado exclusivamente nas condições meteorológicas, vem sendo utilizado operacionalmente em sistema de monitoramento agrometeorológico, como o apresentado abaixo e extraído do sistema Agrymax. Esse sistema monitora as condições de risco de incêndios florestais em todo o Brasil, com um ponto a cada 25 km, sendo atualizado diariamente e contando com a previsão desse risco para os próximos 30 dias. Na Figura 1, são apresentados os riscos de incêndio decendiais, porém calculados na escala diária, na região de Brasília, DF, para a série histórica de 1994 a 2020, mostrando claramente as variabilidades sazonais e interanuais do risco de incêndio. Além disso, o sistema Agrymax disponibiliza, para cada dia dessa série histórica, um mapa mostrando o risco de incêndio em todo o Brasil (Figura 2), o que possibilita identificar sua variação espacial.

Diante da crescente pressão da sociedade e de órgãos ambientais brasileiros e internacionais sobre as atividades agrícolas e florestais, o monitoramento e o controle dos incêndios florestais devem ser, cada vez mais, efetivo, de modo a garantir a sustentabilidade das atividades do setor, minimizando os impactos no ambiente e maximizando as produtividades. n

2. RISCO DE INCÊNDIO FLORESTAL PARA O BRASIL DIA 28-OUT-2020 • AGRYMAX-AGRIMET

incêndios florestais - visão da academia as mudanças climáticas e a produtividade do eucalipto

O clima exerce papel fundamental na definição do potencial produtivo das plantações de eucalipto no Brasil. Preocupações sobre o efeito das mudanças climáticas sobre a produtividade florestal têm ganhado, cada vez mais, importância, o que torna necessário o conhecimento dos possíveis efeitos dessas mudanças sobre o crescimento e a produtividade da cultura do eucalipto. Primeiramente, é interessante esclarecer dois importantes conceitos nessa temática: a variabilidade e as mudanças climáticas. A variabilidade climática consiste na variação das condições meteorológicas em torno de sua média ao longo do tempo, o que é natural e acontece em todas as regiões brasileiras, umas com maior intensidade do que outras. As mudanças climáticas consistem na alteração média de uma determinada variável climática, considerando-se um período mais longo, geralmente de, pelo menos, 30 anos de dados meteorológicos.

Por exemplo, aumentos de aproximadamente 1 °C na temperatura média global têm sido observados desde a era pré-industrial. Se a atual taxa de aumento persistir, a previsão é que essa alteração média atinja 1,5 °C em 2040. A explicação mais provável para esse aumento é a emissão excessiva de gases do efeito estuda, como por exemplo, o CO2. A concentração atmosférica de CO 2 tem aumentado de 280 ppm, na era pré-industrial, para 408 ppm, na atualidade, com projeção de aumento, nos próximos anos, a uma taxa de aproximadamente 2 ppm/ ano. Projeções também demonstram variações nos padrões de chuva, mas a incerteza na projeção dessa variável ainda é bastante expressiva.

Alguns estudos demonstram aumentos na frequência de eventos climáticos extremos, como queimadas, tempestades de vento, ondas de calor e secas severas.

Afinal, quais são as implicações de tudo isso sobre a produtividade do eucalipto no Brasil? Para responder a essa pergunta, é interessante analisar quais são as principais respostas ecofisiológicas da cultura em função das mudanças climáticas. A temperatura do ar exerce papel fundamental em inúmeros processos vitais e na atividade metabólica dos vegetais.

Além disso, os genótipos de eucalipto apresentam distintas respostas de crescimento e desenvolvimento à temperatura. Com isso, a caracterização detalhada dos genótipos mais cultivados atualmente, quanto às suas temperaturas cardinais e respectivas faixas ótimas para crescimento, é e será uma informação valiosa para a escolha do material genético mais adequado, de acordo com a condição climática futura.

Outro grande efeito indireto da temperatura está relacionado à demanda evaporativa atmosférica. Maiores temperaturas levam ao aumento da evapotranspiração potencial, podendo aumentar o déficit hídrico da cultura. Porém, nessa mesma linha de raciocínio, devemos considerar os efeitos do CO 2 sobre a fisiologia do eucalipto. Estudos demonstram que maiores concentrações de CO2 podem aumentar a resistência estomática, reduzindo a transpiração e aumentando a eficiência do uso da água. Além disso, maiores níveis de CO2 tendem a aumentar a taxa fotossintética e, consequentemente, a eficiência do uso da radiação solar (EUR) dessa cultura.

muitas vezes, grande atenção é dada ao tema “mudanças climáticas”, e deixamos de lado a análise mais detalhada dos efeitos da variabilidade climática (atual). "

Elvis Felipe Elli Pós-doutorando em Modelagem de Sistemas Agrícolas da Iowa State University, USA

Outros estudos demonstram uma leve redução da área foliar específica (cm2 de folha/ grama de folha), o que pode reduzir o índice de área foliar e, consequentemente, o consumo de água, sem necessariamente reduzir a produção de biomassa (caso seja considerada verdadeira a premissa anterior, de que a EUR irá aumentar).

Então, qual será a resposta produtiva das plantações de eucalipto frente às mudanças climáticas? A partir de todos esses fatores supramencionados (e outros ainda pouco elucidados), podemos inferir que isso irá depender da interação entre todos eles e, portanto, será altamente “site-específica”. Devido à grande complexidade dessas interações e ao custo para a condução de experimentos que considerem condições de mudanças climáticas (especialmente enriquecimento por CO2 a nível de campo), uma das principais ferramentas atualmente utilizadas para avaliar o efeito de cenários climáticos futuros sobre a produtividade são os modelos de simulação de culturas. Tais modelos consideram condições do clima, solo, manejo e a genética da cultura, bem como suas interações, para gerar estimações robustas de produtividade. Da mesma forma, modelos climáticos de circulação geral são utilizados para gerar cenários climáticos futuros, os quais são acoplados aos modelos de simulação de culturas para predizer a produtividade futura.

Utilizando essa abordagem, estudos recentes têm sugerido potenciais aumentos da produtividade da cultura nas regiões Sul e Sudeste e uma redução produtiva no Centro-Norte do País, conforme quadro em destaque.

As projeções climáticas indicam aumento da temperatura média anual em todo o território e para os todos cenários futuros, bem como variações regionais da chuva anual acumulada. Apesar dessa abordagem trazer informações importantes, que podem auxiliar no planejamento no longo prazo, devemos ter em mente todas as incertezas presentes nessas simulações. Impossível falar sobre projeções de mudanças climáticas sem falar de incertezas. Tais incertezas podem ser oriundas tanto das projeções do clima (especialmente para a chuva) quanto das simulações de produtividade.

Além disso, os genótipos podem apresentar respostas distintas ao aumento da concentração de CO2, e os modelos de simulação, atualmente, não apresentam parametrizações específicas para cada genótipo. A grande lição aprendida com essa abordagem é que devemos utilizar tais resultados para “facilitar” a exploração de potenciais estratégias de adaptação às mudanças climáticas, mas devemos ter cautela ao utilizá-los para tomada de decisão, especialmente em escala local.

Existem diversas estratégias adaptativas, com o intuito de minimizar os potenciais impactos negativos das mudanças climáticas sobre as plantações de eucalipto. Uma das principais é a estratégia genética. A escolha de genótipos com certa tolerância a altas temperaturas e a déficits hídricos severos será de grande importância no contexto de cenários climáticos futuros. Não podemos esquecer o manejo.

Analisando-se conjuntamente estudos recentes sobre eficiência de manejo e impactos de mudanças climáticas sobre as plantações de eucalipto, pode-se observar que, em alguns casos, uma leve melhoria no nível de manejo é o suficiente para “compensar” os impactos negativos das mudanças climáticas sobre a produtividade. Fertilização adequada, ajuste de espaçamento de plantio e práticas conservacionistas de solo, visando a maior infiltração de água, a maior profundidade efetiva do sistema radicular e a aumento da capacidade de água disponível, são alguns exemplos de estratégias de manejo promissoras. Por fim, muitas vezes, grande atenção é dada ao tema “mudanças climáticas”, e deixamos de lado a análise mais detalhada dos efeitos da variabilidade climática (atual). Entender melhor os efeitos dessa variabilidade sobre a produtividade pode nos dar informações mais precisas e úteis para a tomada de decisão a curto prazo e, ainda por cima, nos trazer percepções valiosas para lidar melhor com as condições climáticas futuras frente à produção florestal. n

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