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As medidas orientadas pelo Ministério da

Todo mundo em casa! Em poucas palavras, é isso que determina o mais recente decreto estabelecido pelo Presidente do Conselho de Ministros Giuseppe Conte. Nessas últimas semanas, as decisões têm sido tomadas de forma gradativa. Inicialmente o decreto, em vigor desde o dia 8 de março era limitado à região da Lombardia e mais 14 províncias. Contendo novas medidas, esse último anunciado domingo passado passou a valer em todo o território italiano, considerado “zona protegida”. Portanto, de 10 de março até o dia 3 de abril, toda a Itália em quarentena. Isolamento social: precisamos ficar em casa para evitar novos contágios. #iorestoacasa (eu fico em casa) é a hashtag do momento. Proibição absoluta de sair de casa para os que resultam positivo para o vírus. Escolas e universidades encerraram as atividades desde o dia 4 de março. Museus e cinemas foram fechados, estão proibidas atividades esportivas e até as missas foram suspensas, assim como cerimônias de casamentos e funerais não podem ser realizados. Os rituais para o funeral não incluem missa, é possível apenas um pequeno ritual de enterro. Podemos sair apenas para irmos ao supermercado, farmácia ou por algum motivo de urgência. É necessário apresentar uma declaração que assinamos para justificar o deslocamento. Se algum cidadão for flagrado passeando ou não for capaz de justificar o motivo da saída corre o risco de levar uma multa de 206 euros e até 3 meses de prisão. Não é permitido visitar familiares e amigos. As estradas estão sendo controladas e nada de viagens. Cada um deve ficar onde está, independente se você mora em Milão e quer passar esse período de quarentena com a tua mamma que vive em Nápolis. Alguns escritórios e repartições estão funcionando. Mas quem pode, trabalha de casa. Lojas, bares e restaurantes estão fechados, ini

*Dênia Pandolfi Almeida Pieri - Blog Grazieate

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Desde que os casos do novo coronavírus (Covid-19) começaram a crescer no Brasil as mensagens de amigos e leitores do blog passaram a ser mais frequentes. Todos querem saber como está a situação na Itália, onde 60 milhões de pessoas estão fechadas em casa. Como o país está enfrentando essa pandemia? Todo mundo em casa! Em poucas palavras, é isso que determina o mais recente decreto estabelecido pelo Presidente do Conselho de Ministros Giuseppe Conte. Nessas últimas semanas, as decisões têm sido tomadas de forma gradativa. Inicialmente o decreto, em vigor desde o dia 8 de março era limitado à região da Lombardia e mais 14 províncias. Contendo novas medidas, esse último anunciado domingo passado passou a valer em todo o território italiano, considerado “zona protegida”. Portanto, de 10 de março até o dia 3 de abril, toda a Itália em quarentena. Isolamento social: precisamos ficar em casa para evitar novos contágios. #iorestoacasa (eu fico em casa) é a hashtag do momento.

cialmente até 25 de março. Alguns restaurantes entregam em domicílio. Cabeleireiros e centros estéticos também. Muitas fábricas e indústrias estão abertas mas, como em qualquer ambiente, precisam impor aos seus colaboradores de manter entre eles a distância de 1 metro. Os supermercados estão bem abastecidos (salvo em alguns locais onde falta, por exemplo, papel higiênico), mas grandes e demoradas filas foram criadas na porta dos estabelecimentos devido ao número limitado de pessoas que podem entrar contemporaneamente. É possível fazer pedidos de compras pela internet mas aqui em Firenze a próxima entrega não chega antes do dia 25, portanto, daqui a quase 2 semanas! Sobre esse assunto tenho em casa talvez a pessoa mais bem-informada da cidade, rs. Posso confiar tranquilamente à meu marido a questão das compras de supermercado. Lazer? Praticamente nada. Algumas cidades estão fechando seus parques públicos devido aos frequentadores não respeitarem a distância de segurança. Aqui em Firenze foi assim. Em todo o país os serviços de transporte público são garantidos, mas foram reduzidos. Muitas companhias aéreas também cancelaram voos com chegada e partida da Itália. A Itália, o segundo país com mais casos de coronavírus, tomou providências diferentes daquelas adotadas pela China, país onde o surto teve origem e que desde o início impôs a quarentena em algumas cidades onde foram registrados os primeiros surtos e conseguiu diminuir a curva epidêmica. Não sou médica, nem matemática e nem especialista de saúde pública, mas a minha opinião é que não tomamos providências imediatas quando os casos começaram a aparecer aqui na Itália. Fechar as fronteiras e proibir voos da China? Fechar escolas e universidades? Cancelar shows e manifestações em locais aglomerados? Decretar quarentena? Só pra vocês terem uma noção sobre a desorientação do modo de se comportar, assim que foram suspensas as aulas, que foi uma das primeiras medidas para evitar o contágio, muitas famílias reservaram viagens para estações de esqui e até para o exterior. Desdenhamos da pandemia desconhecendo o inimigo, que é rápido, silencioso e invisível. Tosse, febre e dificuldade para respirar são os principais sintomas, mas não é em todos os infectados que se manifesta dessa forma. Os casos começaram a aparecer sempre carregados de incertezas. E ainda continuamos sem conhecer o denominador. Talvez o que também assusta tanto quando falamos em coronavírus é que não sabemos quem foi contagiado. Uma coisa é saber o número de pessoas positivas depois que se submetem ao teste, outra coisa é não saber e nem imaginar quem está infectado e que pode ser transmissor. Muitos pacientes apresentam poucos sintomas – que em alguns casos são como os da gripe – sem contar que pessoas assintomáticas podem transmitir o vírus. As medidas aqui na Itália começaram a ser tomadas de acordo com a evolução da questão. Ficamos um pouco sem saber como agir. No início, desconhecendo o problema, alguns governantes até incentivaram o convívio sem julgamentos e sem preconceito, contra o terrorismo psicológico nos primeiros dias de fevereiro: vamos abraçar um chinês! Além disso, até mesmo iniciativas culturais com museus abertos gratuitamente para todos, para ajudar a enfrentar o medo que estava deixando as cidades sempre com menos turistas. E num espaço muito curto de tempo, o jogo virou impondo regras bem diferentes: nada de socialização, todo mundo em casa! Ainda não temos respostas para muitas perguntas que envolvem o assunto. Mas uma coisa é certa: é preciso

frear os contágios e para isso precisamos nos isolar. Não vou entrar nos problemas econômicos. Em relação aos números negativos desse baque acho que nem o Ministro da Economia tem condições de quantificar. Coloquem nessa conta o abalo emocional da situação. Pode parecer fácil, mas não estamos de férias trancados em casa. É uma sensação estranha que mexe com nosso emocional. Agora temos tempo à disposição. Ah, esse mesmo tempo do qual somos tão escravos e que tanto almejamos! O sagrado tempo. E que agora é só nosso… mas afinal, do que importa se não podemos escolher o que fazer com esse tempo? Tenho dois filhos, de 7 e 11 anos. Moro num apartamento, portanto, as brincadeiras se limitam entre os quartos e a sala. Passamos esse período entre leitura, filmes, jogos eletrônicos, brincadeiras em família e tarefas de casa que foram passadas pelas professores através de mensagens e plataformas divulgadas pela escola. Não é fácil explicar que só sairemos de casa dentro de algumas semanas. A primavera vai anunciar sua chegada e nós estaremos aqui, em casa, imaginando os parques e jardins que se colorem, sem poder contemplar toda a beleza de perto. Mas vai passar. Essa é a frase que hoje pintamos em casa, a partir de uma mobilização nacional onde as crianças colocam faixas penduradas na janela com um arco-íris e a frase: “andrà tutto bene“. E como estão sendo tratados os casos que resultaram positivo? Ainda não existe uma vacina contra o vírus, mas existe tratamento. Muitos pacientes podem se tratar em casa, e os que apresentam outros sintomas, como insuficiência respiratória, precisam de internação em UTI com equipamentos de respiração assistida e os hospitais estão sobrecarregados. Médicos e enfermeiros estão empenhando- -se com longos turnos de trabalho em hospitais lotados. Alguns estão usando as redes sociais para alertar a população: “estamos combatendo como se fosse uma guerra, é preciso que as pessoas fiquem em casa para evitar os contágios”. Outro assunto que está causando surpresa nos brasileiros é que a notícia que está sendo difundida é que os hospitais estão escolhendo os pacientes a serem tratados. Diante da delicada situação, o SIAARTI (Sociedade Italiana de Anestesia, Analgesia, Reanimação e Terapia Intensiva), divulgou um documento informando que, se necessário, os médicos precisarão selecionar os pacientes a serem atendidos de acordo com as chances de sucesso no tratamento e de sobrevivência, devido a “um enorme desequilíbrio entre as reais necessidades clínicas da população e a disponibilidade real de recursos intensivos”. Além dos casos de coronavírus, os hospitais lidam com emergências de todo tipo, como cirurgias de urgência. Não há leitos para todos os pacientes. Esse é o maior desafio: conseguir vaga e equipamento para internar os pacientes e disponibilizar as maquinas de respiração. E uma notícia boa é que desembarcaram ontem na Itália 9 profissionais vindos da China. São especialistas no tratamento do coronavírus, que trouxeram também equipamentos respiratórios e milhares de máscaras. Que fique claro: o desafio maior será conseguir cuidar e dar assistência aos infectados que precisam de internação: o problema se agrava quando número de doentes é maior do que a capacidade que temos nos hospitais! E a mensagem que deixo para quem está no Brasil é a seguinte: é preciso prevenção, é preciso ser consciente e ter senso de responsabilidade e de coletividade. Não é momento de histeria e nem de pânico, mas de atenção, de racionalidade. Pessoas jovens e saudáveis correm menos riscos, mas idosos e pessoas com doenças prévias são vulneráveis. Isso de forma alguma justifica ignorar as medidas de prevenção. Todos precisamos colaborar! E para evitar a proliferação do vírus, além de cuidados de higiene, é preciso evitar locais com grande concentração de pessoas e evitar contato com idosos, que precisam ficar o máximo de tempo possível em casa. Sei que é difícil pedir que as pessoas se socializem menos, sobretudo conhecendo a nossa cultura, mas façam um sacrifício por um período e deixem de lado festinhas, shows, cinemas e locais muito cheios. Procure manter distância das pessoas, mesmo de conhecidos, e tenha muito cuidado ao usar transporte público. E para os chegam de viagem internacional, isolamento domiciliar de 14 dias. Não é preciso ter pânico, mas é necessário seguir as recomendações de higiene e de bom comportamento. Agora sejamos sinceros, você já deve até ter pensado, há poucos dias, que o problema desse vírus, que surgiu lá do outro lado do mundo, não era um problema seu. Aí o vírus começou a se proliferar na Itália, continuando a não ser problema seu. Mas agora ele está em todo lugar. E o problema é tanto meu quanto seu. Assim como é do Trump, do Bolsonaro e de todos os habitantes desse Planeta. De todos, afinal, estamos todos na mesma ciranda. Será que agora ficou claro?

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