Mutirão 3. O poeta dmt (org.)

Page 1

Mu rão # 3


Mu rão # 3 Maestro de Obras: O Poeta de Meia-Tigela Nesta edição: André Dias — Bárbara Costa Ribeiro — Brennand de Sousa — Carlos Nóbrega — Carlos Vazconcelos — Cláudio Araripe — Deribaldo Santos — Ellis Mário Pereira — Francisco de Almeida — Henrique Beltrão — Jarbas Oliveira — Liciany Rodrigues — Lia Leite — Luis Marcos — O Poeta de Meia-Tigela — Ralphe Alves — Raymundo Ne o — Rosanni Guerra — Suellen Lima — Webston Moura Capa: Francisco de Almeida (“O Altar de Ouro”) Folha de rosto: idem (com intervenção de Alecrim) Revisão: Um por Todos e Todos por Um Demão: Léo de Oliveira (diretamente do fundo do Poço) (Esta edição respeitou a Nova Cor do Horto Gráfico da Língua Portuguesa) Permi da a reprodução por qualquer via: clonada daguerreo pada decalcada digitalizada fotocopiada fotografada manuscrita memorizada mimeografada papel-carbonizada tatuada telepa zada etceterizada

Encontre o FitoMano escondido Ficha Catalográfica Bibliotecária Perpétua Socorro Tavares Guimarães CRB 3/801-98 M499c Meia-Tigela, Poeta MuƟrão # 3 /Poeta de Meia-Tigela; ParƟcipação de André Dias, Bárbara Costa Ribeiro, Brennand de Sousa et al. .- Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2017. 80 p. ISBN: 978-85-420-0764-0 (Pseudônimo usado para Alves de Aquino) 1. Literatura brasileira 2. Poemas I. Título CDD: 869


1


OS LEITORES E OS NOMES O velho e bom Houaiss nos informa que a palavra mu rão (=moquirão) foi registrada pela literatura brasileira a primeira vez em 1872 no romance Til, de José de Alencar: Das poucas palavras que apanhara, percebeu Jão Fera que desƟnavam eles (...) tudo quanto possuíam, à compra de manƟmentos a fim de fazer um moquirão com que pretendiam abrir uma boa roça. Na derivação por analogia do verbete, o Houaiss define exatamente o que significa o mu rão — este Mu rão: qualquer mobilização de cidadãos, coleƟva e gratuita, para execução de serviço que beneficie uma comunidade. (Gratuita: que palavra bonita para esses tempos escuros de intere$$e$ e con$umi$mo! Ai, como ficaram sujos esses esses com as grades dos cifrões! Comunidade: que palavra bonita num mundo mergulhado no umbigo de si mesmo, paranoico de individualismo!)... Mas quem são exatamente estes cidadãos mobilizados? Contei mais de cinquenta nomes, de André a Zuenir, mais de 50 mentes de Beltrão a Suellen, de Anfrísio a Lia, de cinquenta mãos, de Brennand a Webston, de Artur a Raymundo, de Bárbara a Rosanni, de Deribaldo a Luis, Ellis, Carlos, Léo, Franciscos, Alves & Cia., sei lá mais quem, tantos ar fices das palavras, dos sons, das imagens, das artes gráficas, tantos ar fices, Michel, personas, Lucas, Rogério, personagens, Marcelo, Rodrigo, todos usando a matéria-prima de seus espíritos para plantar grãos de emoção na boa roça dos corações alheios. E os corações alheios, entre eles o meu, são, é claro, a comunidade beneficiada da definição do Houaiss, somos nós, os outros, os de espírito anônimo, os

3


depositários onde cada palavra, cada traço, pincelada, cada frase ou nota musical, cada rinha, etc., encontrará o eco da criação, do sen mento daqueles autores — e a nossa gra dão. Estes os papéis que fazem aqui a pequena Flora, um Ralphe, um Cláudio, — hem Jarbas, hem Liciany, que papéis vocês fazem aqui senão o de anjos e damas traves das de sol e diadema? Hem ouvinte, ô leitora, como não rir do desabafo da caveira de Hamlet cheia de tédio, cansada de ouvir por mais de quatrocentos anos a mesma pergunta sem resposta? Ou como não ficar sério ao constatar que Deus não tem religião? 4

Como ficar indiferente ao samba feito para nós,Dainah, se a vida é um perigo, Adélia, se só o que lhe resta é algum resquício de pureza infan l, ó Laura, se você só vai para o tempo que lhe cabe, Benjamim — este sertão vasto ao redor de uma casa pequena de onde você migra, Nilda, porque o rio é agora apenas um rastro, ó Cícero... Sim, que tecido leve este da vida, Jucelino, quando alguém esvazia o olhar sobre a varanda, e some desbotando a nossa vista. E que papel fazemos nós deste lado de fora do livro, da revista, senão reescrevê-la, reimprimi-lo em nossa vida? Pois é. Como fiz neste parágrafo, nós, leitores, quase sempre reescrevemos o que lemos. Por isso também fazemos parte — e muito — deste Mu rão.

Carlos Nóbrega


5


Aragem Quando a comida e o trabalho acabavam mudávamos para a próxima cidade. Sempre à noite por estradas de terra, carregando no escuro as sacas do que nhamos. Depois de tanto tempo, ainda hoje, se vejo caminhão fazendo mudança noturna dói-me o estômago. Durante toda minha infância essas migrações foram os movimentos da fome. Eu era o menor, e por segurança viajava na boleia sobre o colo de minha mãe, enquanto meus irmãos seguiam na carroceria, de onde vinham risadas, barulho de brincadeiras. Quis sempre estar ali, eu, o pássaro no ninho enquanto as outras aves voam, com vento e noite tocando-lhes o rosto; ressen a-me da interdição, e pensava que sem o cerco dos braços de minha mãe eu me juntaria aos outros para o que julgava a expressão maior da liberdade: viajar na carroceria. Confessei meu anseio à mãe que consen u em deixar-me viajar junto aos meus irmãos da próxima vez. Acreditava que demoraria até que houvesse uma nova mudança. Acabávamos de chegar, mas logo sua irmã ficara doente e solicitara nossa presença. Lá haveria casa, comida e trabalho. Então outra vez armávamos a vida numa carroça para carregar a esperança numa outra direção. Antes da par da a mãe perguntou se eu não preferia ir ao seu lado na boleia e deixar a aventura para a próxima vez. Finquei pé. Olhei o céu e vi que não choveria, as estrelas vieram brilhar sobre mim. Sen a-me luminescente e grande como se prestes a um ritual iniciá co e não tubeei.

6

O sertão vasto ao redor da casa pequena, uma só luz a faiscar o querosene de uma lamparina. Primeiro um armário sem portas, depois as quatro cadeiras e a mesa, a bateria com as panelas, um pote d’água, as esteiras e começavam a entrar as crianças, sendo encaixadas entre uma saca e outra de man mentos e enxoval. Fui o derradeiro a subir, pois até o úl mo instante mamãe insis a que caso eu não coubesse, iria com ela na boleia. Mas eu coube e fui alegre na carroceria, aproximando-me das beiras, sujando os cabelos de poeira e vivendo o balanço quente da estrada a requebrar entre pedras e declínios. Meus irmãos já estavam cansados dessas viagens e resguardavam-se ao silêncio consciencioso da noite, mas aos meus olhos tudo era excitante e novo, até a ampla invisibilidade que se experimentava entre um vilarejo e outro, eu enxergava como uma excursão no mistério. Num desses espaços entre a luz e o nada – papai disse que foi no brejo da Bela Vista, mas mamãe acha que foi ainda em Sucupira – o canto de um gavião atravessou a estrada vibrando em nossos corpos e papai acelerou. Não confiava em canto de ave de rapina no meio do dilúculo sertão. Uma vez mais a ave cantou e ergui meu corpo para tentar enxergá-la, nesta pesei sob o desequilíbrio e caí sem asas na terra. Desacordei por um instante e quando voltei a mim não havia mais poeira de carroça nem barulho de galope. Levantei e fui sentar à beira da estrada. O céu fechou-se e soube que o que cantava o gavião era o anúncio da chuva. Fui ba zado por aquelas águas de desalento por toda a noite. A princípio não ve medo e não chorei, mas não sabia onde estava, como a vida havia nos separado ou se viriam me buscar. Sob a chuva pensava se voltaria a ver meus irmãos e essa incerteza me despertava para os desígnios de uma miséria que me fez rastejar no chão já transformado em lama. Quando a noite foi banhada pelas primeiras insígnias de luz, vi se aproximar a carroça de meu pai. Ao seu lado, minha mãe com os cabelos úmidos da noite e olhos inchados de lágrimas, feito açude que sangra. Acharam-me sem palavras, ela colheu-me em seus braços e fui levado para casa em seu colo. Na boleia.


Forte como ar É assim mesmo Sou forte e corajoso Você sai e desaparece no nó do mundo Vai para o vento que lhe merece Vai para o tempo que lhe cabe Vai para o espaço que lhe pertence. Um dia depois A fortaleza e a coragem se desvanecem Não são tão evidentes assim Só a noite entende Só a solidão responde Só a poesia alimenta.

7


8


1 A T E N Ç Ã O: DEVANEIOS PERIGOSOS: T A R J A P R E T A... OS DEVANEIOS A SEGUIR NÃO SÃO RECOMENDÁVEIS PARA MENORES DE MATURIDADE PSICOLÓGICA... TODAVIA, SÃO RECOMENDÁVEIS PARA AQUELES QUE AINDA MANTÊM ALGUM RESQUÍCIO DE PUREZA INFANTIL OU ADULTOS QUE REALMENTE ACREDITAM QUE NADA SABEM, MAS QUE INSISTEM EM BUSCAR... ENGOV, ANTIÁCIDOS E ALGUM AMIGO PSICÓLOGO SÃO ALTAMENTE RECOMENDÁVEIS PARA OS QUE NÃO ATENDEM ÀS PRESCRIÇÕES DESTA BULA, MAS QUE, IMPELIDOS PELA SALUTAR E PERIGOSA CURIOSIDADE, SE ATREVERAM NA AVENTURA DE TENTAR COMPREENDER AQUILO SOBRE QUE NEM O PRÓPRIO AUTOR SABE DO QUE ESTÁ FALANDO... EM CASO DE DÚVIDAS POSTERIORES: NÃO PROCURE O AUTOR, NÃO PROCURE MÉDICOS, NÃO PROCURE PRINCIPALMENTE: PASTORES, PADRES, GURUS, FILÓSOFOS, CIENTISTAS, TEÓLOGOS ETC... APENAS BUSQUE O SEU “EU”, E, SE ELE SOBREVIVER AOS DEVANEIOS QUE SE SEGUEM, CONVERSE COM ELE TAL QUAL O AUTOR CONSTANTEMENTE VEM SE FAZENDO E SE AUTOMEDICANDO-LIBERTADORAMENTE... BOA SORTE... (P.S.: você que, por acaso, já enfrentou e acha que compreendeu a desconstrução do Eu cartesiano operada por Kant e a questão da “síntese serial regressiva” das “anƟnomias” expostas na KriƟk der reinen VernunŌ, reconhecerá a fonte inspiradora desses devaneios, mas nem por isso deve senƟr-se autorizado a dizer que os entendeu: pois nem eu sei do que se trata; porém ficarei saƟsfeito se provocarem em quem os lê tantos outros infinitos devaneios saudáveis... saudáveis????)

9


Curumim C6(9) Joga bola, pique-esconde, brinca de inventor. Solta arraia, cabra-cega, escorregador. F7M Caça borboleta. Astronauta, explorador. C6(9)

10

Já descobriu outro planeta no quintal do Criador. C6(9) Faz pirraça, pinta o sete, finge que é doutor. Tem mindinho, seu vizinho, dedo indicador. F7M Beijo, quebra-queixo. Nuvens de algodão: C6(9) Todo bicho tem no céu e foi Deus que desenhou.


Mudança Eb7M Cm7 O tempo passa, o cosmos dança. Ab7M Bb7 Amanhã velho, ontem criança. Eb7M Cm7 Uma só raça: a raça humana. Ab7M Bb7 As diferenças mais nos irmanam. Eb7M Ab7M Só de ti mesmo, cultiva a herança. Eb7M Ab7M Na natureza, tudo é mudança. Gm7 Fm7 Tempo de chuva, tempo de estio. Gm7 Fm7 Da tua história, tece o seu fio. Eb7M Ab7M O céu me diz que tá bonito pra chover. Eb7M Ab7M Olho d’água lava a mágoa, faz brotar o bem-querer. C#7M Ab7M Todo o mundo muda desde a fonte à foz. C#7M Fm7 Bb7 O mundo todo muda a começar por nós.

11


12


A chegada da poesia É vã a tenta va de preparar tua chegada Em vão preparo sen nelas em vão a mesa posta a cama armada Tu sempre chegas e eu, virgem tola, tenho pouco óleo em minha morada.

13


AMOR HIPOCONDRÍACO Não ter o teu amor É tanto ardor Que não tem Anador Buferim ou Neosaldina Nem injeção de morfina Que acabe com essa dor fina...

14

É dor que lateja Como nunca ninguém viu É pancada, é hematoma É distensão Que não passa Com Reparil... É pior que cólica de virgem É acesso de vertigem Quando se toma Dorflex O melhor é tomar um Lorax E dormir até sonhar... Sonhar que estarias comigo E não me deixarias jamais... Dói mais que dor de dente


No domingo ou feriado Com o comércio fechado... Só tomando um Voltaren Pra fazer você voltar pra mim E se der queda de pressão Já sei que foi o Ormigrein É pior que azia no meio da noite Sem leite gelado pra tomar... Ou Magnésia Bisurada É estar, no íntimo, triturada Por uma dor que cas ga Igual a falsidade de amiga... E só mata, como veneno de formiga...

15


16


LONGE DE SUAS MANHÃS Na cidade, o acolhimento da indigência e do perigo. Sem terra, foram dar naquela periferia. Uma casa minúscula e oculta a um beco. Fizeram-se pedreiros, afora os dois que se perderam. Viviam para o relógio e no cálculo da cesta básica. No quintal, juntos, sonhavam: uma goiabeira onde um golinha trinava a liberdade das coisas felizes ─ que ainda podiam sen r.

17


ERA UMA VEZ UM CONTADOR O Jucelino uma vez me contou uma história que só entendi quando a escrevi neste papel. Era preciso ca var e controlar a fala dele, porque na cabeça as coisas mudam, mas no papel eu esvazio e mantenho o dito preso, coisa que ele não faz. Ele veio me dizer que desde criança fazia sucesso com os amigos da rua, pois sabia contar histórias melhor que televisão. Falava isso todo orgulhoso de si, enquanto eu só ouvia. Os ouvidos foram aumentando de quan dade depois da janta. A calçada da casa dele ficava apinhada de gente concentrada, olhando sem nem piscar. O que interrompia eram só as palmadas de matar mosquito. 18

Toda noite era assim, só não nha história no domingo, porque é dia de missa, e era preciso deixar a plateia com sede até segunda-feira. Jucelino me disse que guarda a melhor parte para a semana seguinte, de propósito. Seu o cio nha descanso, mas matava na unha a vontade dos ouvintes, que não deixavam a história dormir. Quando ia ao mercadinho da esquina, quem sabia da história tratava de puxar assunto redondo, como quem quer saber de outra coisa, mas não se aguentava, nha que perguntar o que ia acontecer ou se ele sabia o que ia inventar. Tinha até algumas pessoas que discu am os rumos dos personagens, brigavam feio. Todo mundo dava pitaco, mas só ele sabia o que ia acontecer. Criar, disse ele mais ou menos assim, é fácil demais, basta fechar os olhos e querer ser outra pessoa, querer estar em outro lugar, poder ser bicho, ser planta e ser até o vento. Em outra noite, eu fui falar com o velho contador. Perguntei por que ele não escrevia as histórias que contava e transformava todas em um livro. Disse que seria um sucesso, falei que ele iria ficar conhecido no mundo todo e que poderia ganhar muito dinheiro.


Ele, ao me ouvir, ficou, talvez pela primeira vez, sem palavras. Disse, depois de um tempo, que não sabia escrever, disse que era “analfabeto”. Fiquei igualmente mudo. Como poderia alguém inventar um monte de coisas e não perder o fio da meada? Foi só o que pensei. Não pude guardar a pergunta e perguntei. Ele olhou para mim e falou que o segredo era ler o mundo com atenção, porque até formiga tem enredo, tem acontecimento. O perigo era quando atrapalhavam ele a capinar uma história, observando o formigueiro ou prestando atenção nas plantas. Dizia que só o que escutava era as pessoas falando para ele deixar de ser doido. A professora do jardim, no tempo da fartura, havia dito a sua mãe que ele nha “problema”. A coitada não podia mais pagar a escola e a de graça era longe demais, então ficou por isso mesmo. Ela reclamava sempre que o menino contador deveria acordar para vida, que esse povo não quer dar nada pelas histórias. Por isso mesmo, eu insis com a conversa de publicar livros. Expliquei tudo, como funcionava cada passo do mercado editorial, falei das livrarias, dos leitores e do dinheiro. Disse que ele não podia ficar invisível. Foi quando ele me pediu para deixá-lo quieto, mas não consegui. Perguntei logo como era viver de contar histórias, porque sabia que ele não se calaria. E aqui está quase fielmente escrita a parte mais di cil de um alfabe zado ouvir. Jucelino foi para frente de casa, se endireitou no batente, colocou o chapéu de palha no joelho, coçou a barba branca e disse assim: - Olhe, eu só vou me calar quando morrer e talvez nem assim, porque eu sei que o Al ssimo vai precisar de um conselhêro pra criar as vida do povo. Tem história feia e tem história bonita, tem morte, tem assassinato, mas tem também amor e irmandade. Essas coisa que eu conto não enche a minha barriga não, mas me deixa contente que só, me deixa vivim. Você, quando fica doente, num toma remédio? Quando sente frio, num se cobre? Quando sente sede, num bebe água? Quando tá sujo, num toma banho? Pois é igualzim. É mermo que exis r. Por isso que num me calo, nem que de calo fique minha língua cheia. (ConƟnua...)

19


20


21

Trabalho na madeira: Clรกudio Araripe


Um Toque O modo como caminham os homens simples é muito dis nto de como andam os atormentados. Antonio nha os ombros curvos, uma volta cujo vér ce era a cervical, um espaço no meio do caminho, entre a cabeça e o peito. As mãos delicadas na direção dos óculos de aros pretos, a barba cheia e o suor procurando caminhos para escorrer naquela teia espessa enquanto podava as folhas secas de uma pequena gipsofila. - Assim nunca mais crescerão estas plantas. – sentenciou a esposa – Enquanto es ver vivo, este gato será um tormento: a liberdade desses bichos não conhece limites. Bastaria um empurrão do parapeito e ele nunca mais incomodaria... E quem sabe voltariam a crescer as tuas gipsofilas. Antonio levanta a cabeça se desconectando do trabalho de poda e com grandes olhos atrás dos óculos responde com espanto: - Endoidou, mulher?

22

- Os gatos caem de pé, Antonio. Você tem que fazer alguma coisa. Seria apenas um toque para dar um susto no danado. - Um toque do oitavo andar? Que covardia... Silenciados, ele pegou uma vassoura para limpar no chão as poucas folhas do terraço. Luciana fumava quando a vizinha surgiu na varanda ao lado, de ves do azul, pés descalços, cabelos longos sobre os seios e no rosto um sorriso terno chamando o gato. O felino atendeu ao seu chamado e pulou para a sacada da dona. Ela se desculpou pelo animal, Luciana sorriu e assen u com a cabeça. Antonio varria as folhas para um lugar recolhido. A vizinha e um rapaz achavam-se aos beijos diante do elevador, quando Antonio saiu para correr. Com grandes mãos ao redor da cintura dela, o rapaz pressionava-a contra o seu corpo e entrelábios sussurrou qualquer coisa que a fez rir. Interrompidos pela presença de Antonio, cessaram os beijos, mas ao entrarem no elevador con nuaram abraçados, tenazes, indecorosos. No parque, Antonio não conseguiu finalizar a corrida, brigava com todos aqueles silêncios e impulsos. Estava transtornado quando voltou ao apartamento; buscou água para tomar alguma calma, sem adiantar buscou ar na varanda e lá estava o gato, olhou e pensou: apenas um toque.


A penumbra do silêncio Não há dinheiro que pague Nem outra mercadoria que apague Um dia ruim assim Sem sol Sem chuva Apenas o mormaço do trago Ilumina a penumbra do silêncio sem diálogo Qualquer coisa que eu traga Um outro bairro Uma outra cidade Nada interpela essa infelicidade Até a poesia Assim como a filosofia Já se recolheram ao fracasso

23

Tudo que tento ou faço No tempo e no espaço São meros pretextos aos quais me agarro Que mesmo sendo apenas mais um protesto Se apagam como as cinzas do cigarro. Eusébio, 19/11/13


24


2

CONVERSAS COM O ESPELHO

(...como quem foge de um pesadelo...) Esfoorrrço-me por abrir as janelas de minh’alma... Visão turva e inexpressiva me olha de volta, de dentro do espelho... Olho-me, fito-me de dentro de mim mesmo, através dos olhos do vidro reflector... Ele, ou eu, feito flecha implacável, congela-se no gesto de ver... E com a frieza do olhar de um carrasco me põe o inquérito: — Quem és tu, ser, cuja ousadia te sustenta neste eterno sonho... — Quem és tu, eu, que duvidas da matéria que os olhos tocam... — Quem és tu, outro-de-mim-mesmo, que ainda teimas em afirmar: Deus, liberdade, amor, permanência do espírito e tantas loucas ingenuidades mais... (...um coágulo agudo de silêncio-eterno corta-me, feito navalha fria: de dentro a fora, de baixo a cima, de trás a frente... de todas as direções e dimensões... dúvida e medo vestem uma tênue névoa de calma...) Em ato quase convicto... fito os olhos que me olham... E respondo: — Quem sou? — Não sei... — Mas sei que tu não és mais do que a profusão de “eus”... — Que despertas a mesmo, acreditando ser uma unidade-real... — Um Eu, uma iden dade, uma par cula única e absoluta... — Tu acreditas na ilusão de que eu sou teu reflexo no espelho... — Não, não... pobre ser... — T u é s o s o n h o... — O sonho que desperta em sonhos cada vez mais profundos... — E, feito a insana Alice, acreditas poder mudar as coisas, transformar o mundo... — Pobre amigo que se traveste em ciência, filosofia ou teologia na tenta va de dar paz ao teu ser...

25


Espelho pa nado Sala pobre! Talvez até mais que minhas reais possibilidades, afinal seu noivado se arrastava por oito longos anos... Desde quando cursava odontologia. Captei o ambiente com a empáfia própria dos arquitetos. O espaço seria considerado minimalista não fosse a funcionalidade prosaica dos móveis e seu acabamento. Fórmica, fórmica e fórmica... Pelos quatro cantos da pequena sala, fórmica. No centro da parede uma velha janela de madeira em persianas; pregado a ela, um plás co grosso garan a o condicionamento do ar. O piso cerâmico de terceira revelava certo desgaste, o esmalte já raleava aqui acolá (Meu coração também?). Precisava auferir alguma segurança psicológica, nem que fosse desqualificando o local onde ela buscava iniciar sua vida profissional.

26

A temível cadeira, e Sônia, ao centro, me aguardavam. Linda. Rapidamente o mau gosto pela sala, de súbito, esvaneceu-se, apesar do juízo alertando-me que não se entrega uma boca a qualquer den sta, inda mais supondo-se que a inexperiência é irmã da imperícia. Não seria uma cariezinha de merda a impedir-me de estar tão assim, a um palmo do seu calor. Ademais prazer e dor possuem trechos que se interpenetram. Antes que eu tomasse o assento de traumas arque picos, apertou-me delicadamente a mão acariciando-me os ouvidos com sua voz de contralto. Nada mais que palavras recep vas. Tudo em tom estritamente profissional. Sônia parecia mais bela que nunca em sua palidez concentrada; essa cor encerada que banha a tez dos que muito laboram em estudos. Jus ficou-se pela aparência mesquinha da sala alegando que o velho pai houvera sido pão-duro em seu “empurrão” inicial. Que pensou em me contratar, mas ainda não nha cacife para pagar projeto. Charme? Quem dera pudesse pelo menos ter essa certeza. Reagi gen lmente ponderando que o lugar só precisaria de uns pequenos ajustes... E agora falava sério! Meu senso esté co? Qual! Fora demolido desde o momento em que a vi naquele jaleco. Uma Princesa de Jaleco... Isso! Um tulo perfeito para uma an ga comédia român ca da Metro... No entanto o seu porte de gazela quebrava a formalidade do hábito, ou antes, injetava-lhe alguns mililitros de nobreza espontânea.


O som do compressor – mais os metais nindo na bandeja – foi despertando-me do transe. Infelizmente ela não estava ali para brincadeiras. Volteou o espelhinho pela minha arcada irregular e sentenciou-me com duas cáries. O músculo – entre pernas – que estava a ponto de rijo, desfaleceu. Em compensação o restante dos membros retesou. Duas cáries? Redargui lívido. Novamente enquadrou meu maxilar em sua mão delicada, aproximou ainda mais seu rosto de forte beleza... Respirando um pouco antes de complementar: Você também tem mordida cruzada, moço! Gostaria de ter visto o desenho de sua perfeita boca proferindo a palavra “moço”, “cruzada”. Máscaras! O que seria do mundo, não fossem elas! Nem gosto de pensar! Chegaria naquele consultório sem qualquer pretexto. Com palavra e sen mento retos declararia o meu tesão por ela. Bradaria que qualquer companhia seria melhor que a daquele bunda suja pós-adolescente a quem escolhera para noivo. Por ela declararia abandono do lar por jus ssima causa. Quisesse, largava mulher, e menino, e papagaio! Tudo! Nesses anos todos o máximo que viera em meu favor fora um ou outro olharzinho perdido. Daqueles que lançamos num desejo inconsequente de stand by. Em compensação meus olhares para Sônia sempre foram cálidos. Faróis preparados à menor denúncia. Nada! Nunca! Jamais! Agora estava ali, descomposto pela cadeira. Péssima ideia. Minhas in midades mais desinteressantes expostas a céu aberto para uma pessoa que não precisava saber que nha cáries, halitose, arcadas irregulares e ATM. Enquanto a broca desafinava ao contato com o osso apodrecido, mirava, triste, os seus olhos. Negros e cirúrgicos. Amendoados e gélidos. Apaixonantes e impassíveis. Uma lágrima turvou-me a visão. Fechei os olhos de dor. De desejo. De esperança por um futuro, quem sabe, onde ela também venha a verter alguma por mim.

27


28


Exercício à Adélia II Há dias em que a vida é um perigo desses de se dobrar a esquina e dar de cara com um poema desses de se dizer três vezes Meu Jesus, misericórdia... baixinho, persignada. 29

Nesses dias, mesmo contra minha vontade, Deus pousa sobre meus olhos, meus lábios e meus dedos e o jeito é viver como quem dá a hós a e como quem a recebe, catando as migalhas que ficam nas palmas das mãos. Nesses dias, se eu deixar, é capaz de Deus me negar três vezes e eu nem ouvir o galo cantar.


Laura Gostava ela fosse uma boneca, eu pudesse: colocá-la na estante, penteá-la quando quisesse. Da matéria dos sonhos são feitas as irmãzinhas. Passarinha da minha saudade, veio me visitar uma vez, era tudo tão novo, a vida. Atormentada coisa é ser criança! E que cruel alegria ver crescer por perto uma meninota como esta, ou nem tão perto, um pouco perto, de férias em férias, está bom assim, penso muito em você.

30

Esse abandono próprio da infância, estar entregue à própria sorte. Há tanta peleja, tanta dificuldade. Ela saltou do avião, era o aeroporto de Fortaleza, maravilhadazinha, mas com os olhos meio assim, cheios d’água, foi me abraçando forte e começou a chorar e disse-me com os olhões mais tristes do mundo: desculpa. Que nha feito xixi nas calças, no voo. Que não sabia os aviões nham banheiro. A calça jeans diminuta, clara, toda molhada. Que doce, atormentada tristeza é ser criança... Nos abraçamos muito, a seguir. Possuímos esta cidade, ferozes. Era o nosso for m. Ela me disse: eu queria que as irmãs nunca fossem embora. Ai! E eu: combaaqueles soldados de acrílico a fazerem estardalhaço na minha garganta, tocando tuba, um escarcéu. De acrílico era também o céu, a rima fácil, de azul lustroso, a gente esperou o ônibus, ia à praia, – para ela, uma aventura –, descobriu-se carregava nas veias um sangue de golfinho, criou guelras e aí nunca mais quis sair do mar, nunca mais. Se eu pudesse, morava aqui con go... Não podia. E os soldados que voltam à minha garganta. Mas ainda algumas outras diversões, não só as oceânicas. Também entrar na venda de fantasias e se assustar com a máscara de monstro. De outra montra, em outra loja, seduzem Laura os bichos no aquário. Resolvemos perguntar como é que se faz nesses tempos de guerra para descolar um peixe bem bonzinho, que não faça barulho, tenha canto agradável, borbulha besta, boa de se olhar por horas. Vamos entrando.


Bem perto da porta, antes, de das: deparamo-nos com uma gaiola cheinha de periquitos. Há dois azuis da cor do céu, outro branco-lilás, e o úl mo cinzento. Digo a Laura que podem ser calopsitas, só pelo prazer de dizer: calopsita. Mas a moça do caixa corrige, é da patrulha: são periquitos. E afinal nem sei o que seja uma calopsita. Laura não se importa, abraça com afeto a nova palavra. Esquece-a em seguida. Está muito focada na fauna marí ma que achou. Os peixinhos estão custando quinze reais a dúzia, se forem destes bem minusculinhos. A unidade do periquito é vinte e um. Ganhamos a rua de mãos vazias e cabeças pensantes. Aquelas jaulas... Vamos em silêncio. Compar lhamos uma espécie de luto mesminho igual, dois gêmeos, afinal nossas almas são da mesma hora, embora quinze anos de vida nos separem – lamentamos periquitos igualmente. Já escurece, a tarde é ainda quente e mole, ela pede sorvete de “baumilha”, pensa nos peixes, temos cheiro de mar, eu acho doce e adorável a tristeza de ser criança, e não corrijo, não rio dela nunca, tudo o que me diz é solene: baumilha. Baumilha é meu abuleto contra o que há de mal neste mundo, penso. Sendo abuleto a palavra que ela usa para dizer: amuleto. Depois, foi embora, ela, o meu abuleto. Todos os julhos, que são do tamanho duma noz, não servem para gastar saudades, não servem. E as árvores, agora, para quê? Os céus azuis de acrílico, passarinhos, borboletas, calopsitas, rimas pobres cheias de melado, peixes presos no aquário, para que tudo isto, meu Deus, Laurinha, se teu endereço é alguma outra estante que não seja a minha, que não seja aqui? Eu choro às vezes, lembrando. Tem nada não. Que se eu pensar com muita calma na falta que sinto, quase não dói. Quase nada, ou seja: vai doendo tudo por dentro feito tempestade. Orfandade imensurável é no seio de uma alegria, como esta, triste. A cidade inteira com teu cheiro de baumilha.

31


32

30


UMA VILA DESERTA Nunca mais as lavadeiras, nem os pescadores. Agricultores ribeirinhos, estes também não. Nunca mais tapiocas, cafés e conversas. Onde o rio, apenas o rastro. Sumiram-se os dias de plantar e colher, casar e construir. Sumiram-se as mães que davam aromas de milho às tardes lentas.

33


34


35


36


37


Dedico à Maria José Rodrigues dos Santos, escritora de diários.

Hoje faz seis anos que ele se foi, e ainda o espero todos os dias. Às cinco da tarde, sento diante da janela e aguardo o momento em que surgirá no horizonte descampado, com seu jeito tranquilo e cansado, empurrando a bicicleta. Quando o sol se põe, a escuridão apaga minha visão e não há mais terreno para espreitar, só então percebo que ele não virá.

38

Nem meus lentos movimentos impedem o coração de acelerar se me vem a recordação daquele dia... Só eu envelheci, mas o senƟmento permanece moço. Vivo uma saudade de vigília eterna e o amor é o meu altar. Estou ajoelhada diante desse templo a esperar o dia do encontro que não será mais neste mundo.

Helena veio me visitar, trouxe bolo e aguou as plantas. Deixou um terço de contas azuis sobre a mesa e eu ia guardá-lo, mas esqueci quando às cinco da tarde coloquei a cadeira diante da janela. Sei que Helena também sente a falta do pai, mas não deixa transparecer para não me pesar sua dor. Às vezes acho que o amarei para sempre.

Observação.: Lembrar de devolver o terço amanhã.


Caderno-brinde: Um poema de Francisco de Almeida




NOSSA SENHORA DOS SCRIBAS OU A XILOLOUCURA DE FRANCISCO DE ALMEIDA, POETA GRAVURENSE O que vejo são Anjos-Plumas de Emas O que vejo são Sinos Velas Chamas O que vejo, Serpentes Dragões Damas Transvestidas de Sol e Diademas O que vejo, Orações Livros Poemas O que vejo, reVersos com que clamas Às Forças ocultíssimas das Tramas De Adentros de Paisagens mais Extremas O que vejo, Delírio que me toma E me transporta em cheio ao topo ao cimo De uma Loucura que à minha se soma O que vejo, Sonhagens com que rimo Naipes Chaves Caveiras, toda a soma Do que escondes porque mostras: Teu Imo


Antes à tarde do que nunca Como prometeu Você veio Não dormiu Não comeu Mas veio A duras penas se despiu Não se entregou, nem relaxou Não foi puta, nem pudica Falou de luz, Luiz e citou Clarice Me a rou ao chão Lembrou meu passado Passeou sobre meu coração Amordaçou meu futuro Não me tocou Não disse que gostou Pelo menos Entre suas prendas Ficaram Reis e Chicos Alguns pelos presos nos meus dentes E o perfume enfronhado nos lençóis Que meu nariz ainda sente Depois Subiu numa nave espacial de cor preta E sumiu Quem sabe arrependida Ligou para meu ouvido e disse: Talvez da próxima vez.

39


40


3 — A c o o o r r r d a... — Não há paz, a não ser em teus devaneios... enquanto dura o devaneio: essa arte de purificar-se... — Para além desse espelho, em qualquer direção que fujas. — Só, te encontrarás con go mesmo... — Este infinito e eterno eu: soma de infinitos-eus do passado que se encontram aqui e agora com os infinitos eus do devir, um após o outro na crença de um futuro possível, mas incerto... — Tu, ou eu, é um eu que nada mais é do que uma interseção... — Uma encruzilhada, um coágulo, uma bolha de sabão flutuando frágil... — Leve, suave, tênue, delicada... prestes a deixar de ser... — Mas que luta irresis velmente para subir à super cie de si mesma e respirar... — E sobreviver... — Aaahhh! Eu, eu, eu... afinal quem és tu?... — Quem sou eu? — Serei eu apenas um espelho frente a outro espelho de mim mesmo? — Refle ndo-me ao infinito em todas as direções? — Apenas um instante, um breve-instantâneo e fugaz coágulo? — Um ponto qualquer na linha indefinida de tantos outros infinitos-eus? — Os quais vêm de todas as direções e colidem formando essa efêmera bolha-de-explosão-eu? — Sim, é isso que eu-sou é... — Uma interseção breve, mas tão breve, tão breeeeevve... que chega quase a não exis r... — Mas que divinamente (sabe-se lá como, talvez nunca venha-se a saber) eterniza-se em MEMÓRIA... m e m ó r i a... memórias...

41


Súbita Elegia

42

D G Marinheiro não fui.

D G Marinheiro não fui.

A7 D Nasci para as viagens.

A7 D Minha âncora és tu, poema.

G A7 D Nasci para habitar os portos e os mares.

D G Marinheiro não fui.

G Em vão sonhei navios.

A7 D Minha âncora és tu, poema.

A7 D D7 Meu olhar ref lete embarcações.

D G Marinheiro não fui.

G/B C D D7 Nunca tive uma ilha para amar.

A7 D D7 Minha âncora és tu, poema.

G/B C D E me perdi em vãs infantarias.

G/B C D (No sono nascem gaivotas impossíveis.) G/B C D (No sono nascem gaivotas impossíveis.)


Dainah C6(9) Là, on ne sait pas bien pourquoi,

C7(9) C7(b9) F7M F#m7(b5) Em Da - i - nah, un nouveau jour viendra.

Dm G7 On compose sans le savoir tout ça :

Am7 Dm Aux aurores tu chanteras

G7(#5) La samba qu’on t’offrira.

G7 Gm C7(9) La samba faite pour toi, voilà, oh là là !

C6(9) Ouais, on sait bien pour qui on la fait.

F7M Et, on

Dm G7 On la joue tout simple et vraie, axé !

Am7 Dm Un jour peut-être partir…

C6(9) Du Brésil, c’est sûr qu ’ elle est.

G7 C6(9) Tu auras de beaux souvenirs !

Ab7M C7M Ça se voit, quand elle marche,

— Dainah, voilà la samba faite pour toi. — Merci, très jolie ! J’aime la samba.

on la voit presque danser. Ab7M Quand elle parle, G7 tout le monde l’écoute chanter.

F#m7(b5) Em sait bien, tu vas grandir,

43


44


Pesponto. De manhĂŁ, a casa feito templo, cobre-se de aura indefinida, suspensa como se esperasse que de mim viesse a mĂŁo que alinhava. Tecido leve e bruto esse da vida.

45


TEMPO MORTO, TEMPO VIVO Tempo Morto, Tempo Vivo Se nĂŁo te vejo ou nĂŁo te encontro Estou morto Se estou con go Estou vivo Tempo Morto, Tempo Vivo

46

Se fico a vagar pela rua Estou morto Mas se encontro em o abrigo Estou vivo Tempo morto, Tempo Vivo Tempo Senhor da vida Tempo Senhor da sorte Tempo Senhor do des no Tempo Senhor da morte Tempo morto, Tempo Vivo


Tempo que passa ligeiro Como a correnteza de um rio Tempo que desaparece Me propondo um desafio Tempo morto, Tempo Vivo Tempo que passou distraído Tempo que não volta mais Tempo do tempo perdido Tempo do nunca mais Tempo morto, Tempo Vivo Tempo do tempo vazio Tempo do tempo sombrio Tempo do choro con do Tempo do largo sorriso Tempo morto, Tempo Vivo Te quero, Tempo O tempo todo, comigo A vontade de viver É estar sempre con go

47


5


DESENVOLVIMENTO Vieram governos plantar projetos e adestrar homens. Fincaram placas e dizeres de progresso. Trouxeram máquinas e confusos des nos. Engenharam a água segregada, os bichos transmutados e adentraram glifosato e outras insídias na terra. Agora, não se diz mais Chico, Maria, Zé e Pedro. Diz-se commodity e workaholic.

49


(ConƟnuação)

Depois de ter dito isso, mal pude prestar atenção à história daquela noite. Estava muito distraído planejando como faria para que ele vesse acesso a tudo o que existe em livros, conhecer novos enredos, novas maneiras de narrar, novas pessoas. Quem sabe até fazer com que ele soubesse das principais teorias e conceitos dos pensadores mais importantes da história da humanidade. Filosofia, Biologia, Psicologia, Religião... Tantas coisas!

50

Então, decidi arrematar dois problemas em um só. Como lá em casa tem muitos livros que acumulei e não li, clássicos e best-sellers dos bons, pensei em ler alguns para ele ler de ouvido. Vou propor amanhã à noite sem falta. Em troca, ele vai ditando as histórias em um gravador, depois eu ia passar a limpo no computador. Vou fazer dele o novo Dante, serei eu o seu guia, tal como Virgílio. Levei no dia seguinte os meus planos ao professor da Faculdade que ficava na cidade vizinha. Gostou da ideia, queria conhecer Jucelino. Os meus amigos queriam que ele viesse dar palestra ou uma oficina de contação de histórias; ficaram só na curiosidade de ouvir uma história dele. Eu devia mesmo era contratar um ônibus, fazer o pessoal da sala ir lá na calçada da casa dele. Seria um evento cultural, era quase certo fazerem um documentário, filmar o contador no ato de narrar. Aposto que iam convencê-lo a registrar as histórias, ter direitos de autor sobre o que diz e engordar, pelo menos um pouco, sua aposentadoria. Quando chegou a boca da noite, ba palmas no portão da casa dele, mas ninguém atendeu. Chamei. Ba palmas. Chamei. Arrodeei a casa, tentando escutar algum barulho, e nada. Nem luz nha acessa. Naquela noite não teve história, não era domingo, mas era um dia estranho, uma noite vazia. Fui para casa com o volume da “Divina Comédia” debaixo do braço. O plano não deu certo, mas quem sabe um outro dia? Teria que explicar direito tudo a ele, pedir sua permissão para ler os livros que queria levar e escrever suas histórias tão bem contadas.


No dia seguinte a cidade estava esquisita, passei na rua dele e estranhei a quan dade de pessoas na calçada de sua casa. Como por intuição dos pés, caminhei no automá co pelo outro lado da rua, inclinando a cabeça tentando ver. Por um momento, pensei que o pobre nha trocado a noite pelo dia e, por certo, queria remediar sua falta da noite passada. Esse povo todo deve estar curioso pelo quase fim de uma história, pensei comigo. Se tem coisa mais bonita de se ver é o povo emocionado e ansioso por uma novidade. Parecia até que ele nha ganhado o bolão da mega-sena. Entre as cabeças, não conseguia ver nada, fui me aproximando, pedindo licença. Quando vi, nha gente chorando. Final de novela da Globo? Antes fosse! Era Jucelino “analfabeto” es rado no chão. Duro feito rocha, foi gastar a língua no além. Demorei tempo para me acostumar com a ideia. Queria que fosse encenação. Perguntei ali se alguém veio ontem saber da história; alguns disseram que sim e que vendo a casa escura, desis ram. Uns disseram que ele nha ido no armazém ainda de tarde, que nha falado que de noite ia ser bom. Chamou até gente que não nha acompanhado o enredo desde o começo, prometendo explicar tudo e trazer um desfecho que ia deixar até o padre de cabelo em pé. De fato, o padre assim ficou. Chegou lá afobado, junto com as beatas já chorosas. Pediu que o povo desse espaço que o Vereador Conrado estava chegando. Queria todo mundo ter certeza que ele nha par do. Será que aquilo era um jeito novo de contar história? Era bem capaz disso. Depois que fiz aquelas perguntas todas, ele deve ter achado que estava ficando obsoleto, que suas histórias não eram tão boas e que eu estava era reclamando. Agora lá vai ele, o Dante falador, sem saber da própria história, passar pelo Inferno e pelo Purgatório sem guia, sem Beatriz, sem Dulcineia, sem Troia. Tomara que Deus faça de Jucelino o seu conselheiro, pois não teve história mais bem contada do que a de sua par da, que deixou a capa dos meus livros sem cor e sem letra, quando já eram mortos na estante, mas vivos na língua dele.

51


52


53

Tem flor lilás – Tem flor-d de-llis – Tem flor--de--

Tem flor lilás – Tem flor-de-lis – Tem flor-delótus – Tem todo dia – E a que aliás – Me faz -lotus – Tem todo dia – E a que aliás – Me faz feliz – Me faz devoto – A flor-d de-L Lia feliz – Me faz devoto – A flor-de-Lia


Instante Da úl ma vez que entrei nesse trem para subir a Serra da Graciosa nha menos esperanças que hoje, contudo a mana estava tão bem. Os olhinhos anis. Tão límpidos. Cheguei na hora do jantar, e como era de se esperar, mana colocou quatro lugares à mesa. Fingindo que não sabia, perguntei para quem eram os outros dois pratos, mana respondeu é do pai e da mãe. Novamente: o pai e a mãe morreram há mais de vinte anos, mana. Sossega, que eu guardo esses pratos. Sentada no canto esquerdo da mesa, esvaziou o olhar sobre a varanda, dois, três segundos pousada no nada, e sussurrou: o risoto é de charque porque não nha carne de sol no mercado. E jantamos. E até rimos porque a Deca fez uma roupinha nova para o poodle branco, liguei o computador e mostrei as fotos: mana, você acredita que ela passou três meses costurando esse pulôver de cachorro, onde já se viu, três meses! Pobre animal! Veja, tem até pelúcia na gola! e a mana gargalhava.

54

Mas agora tudo estava tão estranho, a Nilda não queria mais saber de perder seus anos cuidando da mana, elas se desentendiam e se feriam, e no contágio do endoidecimento, Nilda começava a levar a sério o que mana dizia. Logo eu teria que cuidar das duas. Nilda tomava conta de tudo. Resolvia até o que era do banco e evitava o escândalo que mana fazia ao olhar seu saldo e considerar que o valor da gorda aposentadoria era irrisório, pois ela esquecera o plano real, vivia nos tempos cruzados ou cruzeiros, ou seja lá qual era a moeda em que ela cria naquele mês. Convicta de que estava sendo roubada, gritava, xingava, quebrava porta canetas e espalhava papéis. Para acalmá-la, levavam-na à delegacia com dois policiais segurando os braços flácidos de idosa, em vão. Isso aconteceu umas três vezes, na quarta a gerente do banco já sabia meu telefone. Nilda era a única pessoa em quem eu podia confiar para cuidar desses assuntos, mas agora já era. Mana não acredita mais em remédios. Foi isso o que me disse quando perguntei por que não estava mais tomando tudo nos horários de sempre. Não acredita em quê? Não acredito nesses comprimidos, eles me dão dor de cabeça. Na manhã desta declaração, mana regava o chão de taco da sala de estar, ali estava um jardim imenso e invisível. Não fiz mais perguntas, ela me sorriu e disse que daqui a pouquinho os beija-flores viriam, eles adoram as minhas buganvílias vermelhas, regadas então... Sentei no sofá para ouvi-la cantar enquanto aguava o chão e fui surpreendida pela brusquidão de um pássaro veloz, pintando a sala com o colorido de asas azuis e verdes. Era um beija-flor. Aí está você! Voando no interior da casa por algo como três minutos, o que para mim era um tempo do eterno, mas a mana estava no tempo do instante, o sublime instante, com sua voz tranquila e sua canção, sob o voo do pássaro delicado, planando ao seu redor e dando rasantes sobre o coque do cabelo dela. Eles se pertenciam. Maravilhosamente. Reguei buganvílias de taco com o que escorria de meus olhos. E ela seguia cantando.


Conclusão Não quero tudo Tampouco luto Luto por um fim de tarde qualquer Uma madrugada talvez Em que perca a lucidez Quero uma música instrumental Alguns goles Quem sabe a embriaguez Mas antes de tudo Preciso repe r outra vez: Sem seu amor Tanto faz Como tanto fez

55


56


4 — I n f i n i t a s m e m ó r i a s... — Infinitas par culas de memórias sobrepostas num sonho que se autodenomina EU: acorrentado... aprisionado eternamente em sonhos de conhecimento... jus ça... liberdade... poder... amor... Aaahhh! o a m o o o r r . . . — Ah! Memória!!! Memória... M e m ó ó ó ó r i a... — Essa ar sta criadora-divina de si-mesma... — Memória: obra de arte divina que se autocria como poesia melodicamente transmutada em música e ecoa ao infinito suavemente: como Shiva... como dona Maria da venda... como Eros... como poeta boêmio... como Alá... como homem-feminino... como Buda... como guerreiro sanguinário... como Cristo... como seu Zé do ferro-velho... como Deus... como menino jogando bila... como Ganhdi... como um cachorro sarnento sem dono... como Madre Tereza... como os Beatles... como o vômito na calçada... como um ro perdido procurando seu alvo: como “Eu”...

57 EU: uma coleção de memórias... Um ponto qualquer na linha de um círculo sem raio definido: infinito, imensurável... Uma solitária mão na estação, suspensa no ar, soluçando gestos de adeus... EU: um simples coágulo do universo em si-mesmo... Um piscar de olho... Um instante... ...Um D E S P E R T A R... -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------


cápsula do tempo ela tem um cheiro bom, a memória talvez isto explique a alegre tristeza na lavoura dos que sofrem há na casa copos novos de vidro de design moderno que me deixam feliz 58

eles me lembram o frasco do perfume que quebrei quando criança e nunca soube superar a bronca – um desses traumas infan s o cheiro cristalino... escorrendo entre os meus dedos para sempre e até hoje


eu hoje sou imperatriz das dores que não têm remédio tão bobas cascas de vidro, que fazer com elas? eu quebrarei os copos todos desta casa para ver se tudo cheira diferente para ver se subs tuo a lembrança da incontornável tragédia ainda o cheiro umas palavras tudo isto que fica marquise linóleo esquálida calopsita grená a chávena o traquejo tem um cheiro esquisito, a memória

59


60

“Presta atenção que é só esta vez que te ensino”


O eremita É que apesar de toda folia apesar de serem alegres os meus passos meu coração caminha nessa estrada onde há sempre pouca luz e muito espaço.

61


Solilóquios do homem fiel Começou num caixa de supermercado. Ela surgiu do nada e tudo mudou à nossa volta. As prateleiras organizadas sob o frio vapor do mercúrio das luzes, as caras amarrotadas dos maridos com cervejas em punho, a inú l musiquinha ambiente, até o caixa, acostumado ao rigor do treinamento, sen u o impacto. Estando tão próximo o inacessível, alguns voltavam o pescoço descuidadamente, outros ensaiavam comê-la com a boca mesmo. Peguei-me aguçando a vista para melhor focar aquele derrière. Era do po que avalizava todos os sacrilégios e heresias! Além do mais educada, a moça.

62

Poderia ter, se muito, 28 anos! Os olhos azuis-lente-de-contato, cabelos marcadamente aloirados e amarrados em caprichoso coque deixavam entrever um pescoço tenro, bronzeado. A pele toda era assim, sedosa e recoberta de um bronze quase furta-cor conseguido provavelmente pela imersão naquelas estranhíssimas cápsulas ultravioletas. Cremes, sais, sabe-se lá o que mais para conseguir-se tanto viço exposto às ebulições da testosterona! Numa disfarçada vista área vi a fenda – delimitada pelo ves do – entre o colo e o volume portentoso dos seios. Observei-os mais atentamente! Talvez uns cento e vinte mililitros de silicone... Em cada! Já para encerrar sua “cesta básica” o caixa colocou, por ledo engano, claro, um item a mais na despesa da dama. O estorno foi aguardado prazerosamente. Pelo menos não encontrei ninguém de calças a reclamar. A vênus pós-moderna, entretanto, precisava ir embora e tudo deveria voltar a ser como antes. O funcionário que a atendera, vendo-a pelas costas desabafou entre dentes: “Um corpo desses e eu teria um apartamento na beira-mar”!


Espiei demoradamente aquela mulher, tão distante quanto supomos ser a perfeição, com sua cintura de vespa e bunda esculpidas por Deus... Ou quem sabe pela mão de alguma de Suas criaturas devotadas ao bisturi. Vi-a sumir pela porta do mercado e desbotar nossas vistas. É certo que encheu nossas cabeças de fantasias pantagruélicas. Penso em Augusta, babá de meu filho. Uma jovem do interior, de tão longínquo rincão e logo ali do meu lado, perto. Tão perto! O corpo também escultural em seus vinte e dois anos, com a morenice nata que Deus lhe deu sendo compar lhada com o rapaz da esquina. Desperdício! Eu sei que ela me espreita! O namoro é só passatempo de menina. Para minha pessoa o sorriso volta-se midamente dissimulado. Os olhos negros de cigana, lânguidos e sempre pedintes... aguardam! A boca larga e sensual mal lhe contém as intenções. Percebi sua face descompor de preocupação quando me viu retorcendo sobre a cama, pegado de chofre por uma crise renal. As mãos nervosas querendo cuidar de mim. Isso eu soube! Também adoraria estar entre elas. Acalentado! Menino sortudo, esse meu filho! Pressinto que está pronta para também sa sfazer as minhas básicas necessidades. Basta para isso que eu estale os dedos ou simplesmente acione o olhar! Pois é, fácil e logo ali, no alcance da mão! Enquanto dirijo-me pra casa com a feira do final de semana, penso nela. Augusta! No sinal vermelho minha esposa beija-me carinhosamente. Retribuo-lhe com um beijo ardente! Uau! Que calor é esse, meu amor? Parece que vai chover! Respondi-lhe.

63


64 64

Todos os balões desta HQ são frases soltas dos (alguns célebres, outros nem tanto) seguintes autores, de acordo com seu aparecimento nas páginas, desde o segundo quadro: Henry W. Bellows, Rui Barbosa, Voltaire, Albert Eistein, Jô Soares, Stendhal, Montesquieu, Van Gogh, Dr. House, C.S. Lewis, Nietzsche, Karl Marx, Dalai Lama, Nietzsche, Schopenhauer. www.pensador.uol.com.br - Fortaleza/Ceará - Julho de 2016.


CAATINGA Em redor, indícios. Havia um mar neste chão. Agora, um peixe empedrado (Remota vida lhe perpassa e sussurra). Ao alto de um galho, silente e solene, uma alma-de-gato. Dos homens, todos os antônimos que a natureza dá.

65


66


67


68


ESCALA O Poeta DMT 5

Lia Leite 6

Deribaldo Santos 7

Raymundo Ne o 8

Ralphe Alves 9

Henrique Beltrão/Ellis Mário Pereira 10

Henrique Beltrão/Ellis Mário Pereira 11

Jarbas Oliveira 12

Liciany Rodrigues 13

Rosanni Guerra/ Carlos Vaz 14

Rosanni Guerra/ Carlos Vaz 15

André Dias 16

Webston Moura 17

Suellen Lima 18

Suellen Lima 19

Francisco de Almeida 20

O Poeta DMT/ Cláudio Araripe 21

Lia Leite 22

Deribaldo Santos 23

Raymundo Ne o 24

Ralphe Alves 25

Brennand de Sousa 26

Brennand de Sousa 27

Jarbas Oliveira 28

Liciany Rodrigues 29

Bárbara Costa Ribeiro 30

Bárbara Costa Ribeiro 31

André Dias 32

Webston Moura 33

Luis Marcos 34

Luis Marcos 35

Francisco de Almeida 36

O Poeta DMT 37

Lia Leite 38

Deribaldo Santos 39

Raymundo Ne o 40

Ralphe Alves 41

Henrique Beltrão/Ellis Mário Pereira 42

Henrique Beltrão/Ellis Mário Pereira 43

Jarbas Oliveira 44

Liciany Rodrigues 45

Rosanni Guerra/ Carlos Vaz 46

Rosanni Guerra/ Carlos Vaz 47

André Dias 48

Webston Moura 49

Suellen Lima 50

Suellen Lima 51

Francisco de Almeida 52

O Poeta DMT 53

Lia Leite 54

Deribaldo Santos 55

Raymundo Ne o 56

Ralphe Alves 57

Bárbara Costa Ribeiro 58

Bárbara Costa Ribeiro 59

Jarbas Oliveira 60

Liciany Rodrigues 61

Brennand de Sousa 62

Brennand de Sousa 63

André Dias 64

Webston Moura 65

Luis Marcos 66

Luis Marcos 67

Francisco de Almeida 68

69


ANDRÉ DIAS. Gosta das noites e se amarra em desenhar.

BÁRBARA COSTA RIBEIRO. Nascida em 1994, em Macapá, mudou-se para Fortaleza em 2012, onde cursou Letras. Escreve poemas e prosinhas por aí. Em 2017 lançou o fanzine Arara Azul, junto ao coletivo A Literação. Para trocar uma ideia com ela e falar de coisas bonitas, basta escrever no endereço de e-mail costaribeirobarbara@gmail.com.

BRENNAND DE SOUSA. Brennand de Sousa Bandeira, nascido em Iguatu 04/04/1966, é arquiteto e urbanista (UFC) com Mestrado em Psicologia (UFC). Atualmente leciona na UNIFOR e FA7 (Faculdade 07 de Setembro). É autor do livro Entre Oito Paredes, selecionado pelo I Edital Mecenas em 2008. Colaborou como contista no livro O Cravo Roxo do Diabo, organizado por Pedro Salgueiro. Foi destaque no VI Prêmio Nacional – Prêmio Moreira Campos com o conto "Moinho". Teve sua dissertação publicada em livro: "Centro Histórico de Fortaleza: entre o concreto e o afeto".

70

CARLOS NÓBREGA. Autor de a sono solto, Outros Poemas (Prêmio Osmundo Pontes da Academia Cearense de Letras), Breviário (Prêmio Emílio Moura do Estado de Minas de Cultura), Árvore de Manivelas, O Quanto Sou, 8Verbetes (Menção Honrosa no I Prêmio Nacional Gerardo de Melo Mourão, do Ideal Clube), Lápis Branco, E5pelhos (em parceria com Frederico Régis, Jorge Furtado, Lúcio Cleto e O Poeta de Meia-Tigela), Canto Aceso e acidade (com O Poeta de Meia-Tigela, livro ganhador do I Prêmio Aerolândia de Poesia Periférica). Membro fundador da Academia dos Ausentes, desocupa a cadeira nº. 0. Atleta profissional do pião e do ioiô. CARLOS VAZCONCELOS. Nasceu em Tianguá, Ceará, e mora em Fortaleza. Cursou Letras na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Mestrado em Literatura Comparada na Universidade Federal do Ceará (UFC), onde atualmente cursa Doutorado, também em literatura Comparada. Publicou Mundo dos vivos (2008), Prêmio Clóvis Rolim de Contos (2006) e Prêmio Osmundo Pontes de Literatura (2007), ambos da Academia Cearense de Letras; Os dias roubados (2013), romance contemplado pelo Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará; Parquelândia, bairro com personalidade (2015), da Coleção Pajeú. Atuou na área de Cultura, no SESC, onde produziu e apresentou o projeto Bazar das Letras. Ilustrador de seus livros, deu uma canja como desenhista para este Mutirão (cf. os poemas de Rosanni Guerra). CLÁUDIO ARARIPE. Francisco Cláudio Alencar Araripe Rocha. Nascido em Fortaleza em 31-07-52. Artista plástico. Trabalhos feitos com madeira e material reciclado. Participante como expositor em congressos e feiras internacionais. Diversos prêmios de criatividade e originalidade.


DERIBALDO SANTOS ou ZÉ DA CAMPINA. Paraibano de Campina Grande, mas depois de passar alguns anos no Rio de Janeiro aportou sua morada em terras cearenses (já há três décadas). Portador de um sorriso amarelo, tira seus poemas da cafonice herdada de seus antepassados, da dor de cotovelo revelada nas vitrolas sonoras e dos cabarés espalhados pelas periferias mundanas.

ELLIS MÁRIO PEREIRA. Graduado em música pela Universidade Estadual do Ceará. Saxofonista e flautista com dois CDs gravados: "Quitandas do Brasil" e "You Are The One". Coordenador da Orquestra-Escola do Ceará – Projeto de extensão da Universidade Federal (UFC), exercendo as funções de professor, arranjador, compositor e regente. ellismario@gmail.com FRANCISCO DE ALMEIDA. Nasceu em 1962 em Crateús-CE. Aos 15 anos mudou-se com a família para Fortaleza. Sua trajetória pelas artes plásticas iniciou-se com o interesse pela pintura, mas a partir dos anos 1990, com sua participação em oficinas do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará – MAUC –, destina os experimentos à gravura. E foi como gravador que alcançou êxito internacional. Dentre outras realizações, integra em 1994 a “1° Muestra Internacional Miniprint Rosario”, na Argentina; vence em 2000 o 51º Salão de Abril – Mercado das Artes, Fortaleza, sendo o artista homenageado pela 57ª Francisco e Maria Eugênia edição do Salão, em 2006; em 2007 participa da Bienal de Valencia, Espanha; em 2009 da VII Bienal de Artes Visuais do Mercosul – em Porto Alegre – com um painel de 20 metros de comprimento por 1,5 metro de altura intitulado “Os Quatro Elementos I – O Dia e a Noite”, considerado a maior xilogravura do mundo. Em 2011 expõe na galeria de artes da Funarte MG a mostra “Transfigurações – 20 aos pedaços”, contemplada com o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea Ocupação dos Espaços da Funarte. — “Francisco de Almeida/ E suas Nereidas/ Iemanjás Sereias/ Sóis e Luas Cheias/ Francisco e seus Santos/ Elementos tantos/ De Telas Imensas/ Xiloincelenças/ Umbandogravuras/ Mistas criaturas/ Transfigurações/ Alucinações:/ Um Altar de Luz/ Sobre Crateús” (O Poeta DMT) HENRIQUE BELTRÃO. Henrique Sérgio Beltrão de Castro – Poeta, compositor, radialista e professor da UFC. Produtor e locutor do Todos os Sentidos e do Sem Fronteiras: Plural pela Paz – programas da Rádio Universitária FM, ações de extensão da UFC. Autor do CD Plural e dos livros Vermelho, Simples e No Ar, um Poeta. soundcloud.com/henrique-beltr-o-1e beltraohenrique@gmail.com

71


JARBAS OLIVEIRA. Nascido em Pasárgada, não sendo amigo do rei, veio morar em Fortaleza. Foi plebeu em vidas passadas e é pêagádê em produção de montagem em photoshop para facebook. Ávido leitor de best-seller lançado em livraria de aeroporto e membro oculto convidado especialmente pelo membro fundador da Academia dos Ausentes, ocupando a cadeira ainda a se criar. Gosta de baião de dois com ovo.

LICIANY RODRIGUES. Nascida em Sobral-CE, em agosto de 1982. Originalmente a mãe a queria Alice, mas seu pai lhe tirou algumas coisas e cedeu outras, até que nascesse Liciany. Com o tempo, se tornou Licy. Ficou nisso mesmo: nem uma coisa nem outra e assim será até quando for possível, em busca do que possa ser o tal Coelho Branco.

LIA LEITE. Escreve narrativas longas e miúdas. Edita as revistas literárias Propulsão e Entrelaces. Pesquisadora do CELAR (Centro de Estudos Literários e Laboratoriais do Ácido Ribonucleico). Tem interesse pelo Surrealismo. Desde 1987 a porta sobrevoa o labirinto em Londrina (Paraná).

72

www.revistapropulsao.com www.facebook.com/revistapropulsao LUIS MARCOS. “Não existe diferença alguma entre os sonhos de um açougueiro e os sonhos de um poeta” (CIORAN). “Eu já devia ter me derramado na borra úmida do asfalto e escorrido noite afora na boca de lobo da minha insônia de que também fazem parte nuvens de chuva e vento assobiando em ângulos de concreto” (LUIS MARCOS) O POETA DE MEIA-TIGELA. Nasceu Francisco José ALVES DE AQUINO em 1970. Concluiu o curso técnico em telecomunicações pela Escola Técnica Federal do Ceará (atual IFCE) em 1988. Graduado pela Universidade Federal do Ceará em 1992, Mestre em 1998 (Lab. Linse) e Doutor (Lab. GPqCom) em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Santa Catarina em 2008. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará desde 1994, com experiência nas áreas de Telemática, Engenharia Elétrica e de Computação, com ênfase em filtros digitais, métodos numéricos, sistemas de telecomunicações e processamento digital de sinais. alfanumericus.blogspot.com.br RALPHE ALVES. Professor de filosofia. Quando o encharcam sentimentos e emoções, finge-se poeta.


RAYMUNDO NETTO. Jornalista, escritor, editor, quadrinista e produtor cultural. Autor de Um conto no passado: cadeiras na calçada, romance ganhador do I Edital de Incentivo às Artes da Secretaria de Cultura do estado do Ceará; de Os Acangapebas, contos, ganhador do Prêmio Osmundo Pontes da Academia Cearense de Letras; de Crônicas absurdas de segunda, finalista do Prêmio Jabuti 2016; entre outros. Cronista convidado do caderno “Vida & Arte” do jornal O POVO desde 2007. Mantém o Blog AlmanaCULTURA: raymundo-netto.blogspot.com.br

ROSANNI GUERRA. Nasceu em Fortaleza, mas foi criada em Caucaia – Ceará, e por isso se considera caucaiense. É graduada em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em Ciências da Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Pósgraduada em MBA – Jornalismo Político, Marketing e Comunicação Midiática pela Universidade do Parlamento Cearense – UNIPACE. Jornalista e comunicadora. Produtora e apresentadora do CABECEIRA, programa sobre literatura, que entrevista escritores cearenses. É ainda produtora do SIGA-ME, sobre artes plásticas, e do EM CENA, programa sobre teatro, todos da TV Assembleia do Estado do Ceará. SUELLEN LIMA. Suellen Carneiro de Lima nasceu em Fortaleza, cidade onde atualmente reside. É formada em Letras/Português pela Universidade Federal do Ceará (UFC), escritora amadora, poetisa e resenhista no blog pessoal leituresca.com.

WEBSTON MOURA. Natural de Morada Nova, mora em Russas, municípios do interior do Ceará. Autor de “Encontros Imprecisos – insinuações poéticas” (Imprece, 2006). Mantém o blog Arcanos Grávidos - arcanosgravidos.blogspot.com.br/.

73


CD MUTIRÃO 1. Curumins (Música e letra: Ellis Mário Pereira) Henrique Beltrão de Castro - Ellis Mário Pereira: música e letra, direção musical, arranjo e flauta - Henrique Beltrão de Castro: voz - Rogério Franco: direção musical e violão nylon - Michel Barros: violão de 7 cordas - Marcelo Kaczan: baixolão - Rodrigo BZ: percussão e gaita - Lucas Jackson: percussão

74

2. Mudança (Música: Ellis Mário Pereira - Letra: Henrique Beltrão) Henrique Beltrão de Castro - Ellis Mário Pereira: música, direção musical, arranjo e flauta - Henrique Beltrão: letra e voz - Rogério Franco: direção musical e violão nylon - Marcelo Kaczan: baixolão - Rodrigo BZ: percussão e gaita - Lucas Jackson: percussão 3. Súbita Elegia (Música de Henrique Beltrão de Castro sobre poema de Artur Eduardo Benevides) Henrique Beltrão de Castro - Ellis Mário Pereira: música, direção musical, arranjo e flauta - Henrique Beltrão de Castro: letra e voz - Rogério Franco: direção musical e violão nylon - Michel Barros: violão de 7 cordas - Marcelo Kaczan: baixolão - Rodrigo BZ: percussão e gaita - Lucas Jackson: percussão 4. Dainah (Música: Ellis Mário Pereira - Letra: Henrique Beltrão) Henrique Beltrão de Castro - Ellis Mário Pereira: música, direção musical, arranjo e flauta - Henrique Beltrão de Castro: letra e voz - Flora MarƟns Beltrão: voz (parƟcipação especial) - Rogério Franco: direção musical e violão nylon - Michel Barros: violão de 7 cordas - Marcelo Kaczan: baixolão - Rodrigo BZ: percussão e gaita - Lucas Jackson: percussão


Pelo MUTIRÃO, estou com o coração em serena festa e de corp’alma cheio de gra dão: a Deus; ao Poeta de Meia-Tigela; ao maestro Ellis Mário Pereira; a todo o pessoal da Orquestra-Escola do Ceará e da Rádio Universitária FM 107,9; aos amigos músicos Rogério Franco, Marcelo Kaczan, Rodrigo BZ, Lucas Jackson e Michel Barros; ao Anfrísio Rocha, músico e técnico de gravação, proprietário do Estúdio Som do Mar (onde gravamos e mixamos o CD Mu rão); a Dirlene Marly Beltrão de Castro e José Franácio de Castro, meus pais; a Karla Patrícia Mar ns Ferreira, Ravi Moreira Lima de Castro e Flora Mar ns Beltrão, minha Amada, minha Amadinha e meu Amado filho. Henrique Beltrão de Castro

75 Anfrísio Rocha

Flora Beltrão, Lalai e Henrique

No ar o poeta Henrique Beltrão

Maestro Ellis Mário Pereira


Ellis Mário, Rogério Franco, Henrique Beltrão, Rodrigo BZ e Anfrísio Rocha

76

Lucas Jackson e a banda Rogério Franco Ellis Mário

Marcelo Kaczan

Michel Barros e Ellis Mário

Poeta DMT

Obra em fonte Calibri, impressa nas Oficinas da Expressão Gráfica e Editora em papel offset 75g, em junho de 2017 para MarcadáguaÉdicções, uma empresa do Grupo Alves & Cia. Botagem de 500 e uns exemplares.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.