Música Negra, de LeRoi Jones (Amiri Baraka)

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Música Negra

LeRoi Jones (Amiri Baraka)

T r a d u ç ão J oão B e r h a n

p r e fác i o K a l a f E pa l a n g a

d e s e n h o s f r a n c i s co v i da l

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TÍTULO ORIGINAL

Black Music AUTOR

LeRoi Jones (Amiri Baraka) TRADUÇÃO

João Berhan PREFÁCIO

Kalaf Epalanga REVISÃO

Guilherme Pires | oficinacaixaalta.pt CONCEPÇÃO GRÁFICA

Rui Silva DESENHOS

Francisco Vidal PAGINAÇÃO

Rita Lynce IMPRESSÃO

Guide – Artes Gráficas COPYRIGHT

© 1967 Leroi Jones © 2021 Orfeu Negro Obra publicada por acordo com Akashic Books, Nova Iorque 1.ª EDIÇÃO

Lisboa, Novembro 2021  490238/21  978-989-9071-17-9

DL

ISBN

ORFEU NEGRO

Rua Silva Carvalho, n.º 152 – 2.º 1250‑257 Lisboa | Portugal www.orfeunegro.org

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Í N D ICE

Dar vida Às palavr as e dar palavr as À vida

KAL AF EPA L A N G A

9

Introdução

25

1963 O Ja zz e a Crítica Br anca

31

1962 Minton’s

43

1962 A Sombria Senhor a dos Sonetos

47

1963 O Monk Recent e

49

1963 Três Maneir as de Tocar Saxofone

59

1963 Um Dia com Roy Haynes

67

1964 Sonny Rollins, Our Man in Ja zz

79

1963 John Coltr ane: Um Gr ande do Ja zz

83

1964 Coltr ane ao Vivo no Birdland

91

1961

A Vanguarda do Ja zz

99

1959 Apresentando Wayne Short er

113

1963 Apresentando Dennis Charles

121

1963 Ja zz nos Lofts e Cafés de Nova Iorque

127

1962 Apresentando Bobby Br adford

137

1962 Cecil Taylor: Present e Perfeito

143

1962 Cecil Taylor, The World of Cecil Taylor

151

1964 Apple Cores #1

155

1965 Apple Cores #2

165

1966 Apple Cores #3

171

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1966 Apple Cores #4

179

1966 Apple Cores #5 – O Caso Burton Greene

185

1966 Apple Cores #6

189

1965 Fala Archie Shepp, o Novo Saxofone Tenor

195

1965 Archie Shepp, Four for Tr ane

209

1963 Don Cherry

215

1965 N ew Black Music: Um Concerto em Beneficência

227

da Black Arts Repertory Theatre/School

1967

Sonny Murr ay, Sonny’s Time Now

233

1966 O Mesmo que Muda (O R&B e a Nova Música Negra)

237

279

Uma Breve Discogr afia da Nova Música

2009 G anhar a Lotaria dos Ent endidos: UM A ENT R EVIS TA A A MIR I BA R A KA

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A John Coltrane , o espí rito mais pesado

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I NTRO D UÇÃO

Esta colectânea de ensaios, originalmente publicada em 1967, nasceu de um período de transição brusca, tão desejada quanto inevitável. Aconteceu como acontece qualquer mudança – umas são esperadas, outras ultrapassam as nossas expectativas ou até o nosso reconhecimento. O que começou como uma mudança quantitativa tornou­‑se, com o peso de uma miríade de exemplos de um novo paradigma que emergia, numa mudança qualitativa, ou seja, no reconhecimento geral de que a nova cena tinha efectivamente chegado. Sobretudo tendo em conta que muitos chamavam «nova cena»* ao que eu viria a chamar vanguarda do jazz. O meu ensaio «A Vanguarda do Jazz», escrito em 1961, tentava identificar quem eu achava que fazia parte desse grupo e explicar por que razão aquele nome me parecia apropriado. Na verdade, o ensaio serviu para dividir o livro em duas partes (não cronológicas, porque o havia escrito antes de qualquer um dos textos aqui reunidos): a primeira parte, acerca dos músicos mais conhecidos, mas ainda dinâmicos; a parte seguinte, sobre os músicos que identifiquei com a «nova cena». Acho que foi o Martin Williams o primeiro a dar­‑lhe esse nome, quando estávamos no Five Spot a curtir a primeira aparição de Ornette Coleman.

*

New thing no original, é o nome por que também ficou conhecido o movimento do free jazz na altura em que surgiu, no final dos anos 50, na costa leste dos Estados Unidos. (N.T.)

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L ER O I J O N ES

Eu escrevia notas para discos e artigos para a Down Beat, a Metronome, a Jazz Review (a mais nova, a mais progressista, a de vida mais curta), bem como para algumas revistas da vanguarda como a Wild Dog, de Ed Dorn, ou a Kulchur, de que fui editor de música. A certa altura, cheguei a ter uma coluna regular na Down Beat, chamada «Apple Cores»*. Durante uma grande parte desse tempo fui o principal promotor dos músicos consagrados que achava mais entusiasmantes, como Sonny Rollins, Miles Davis, Roy Haynes, Billie Holiday, mas em especial da música arrebatadora de Thelonious Monk e John Coltrane. A dado momento, vivia praticamente em cima do Five Spot, de modo que podia testemunhar todas as noites a histórica combinação alucinante de Coltrane e Monk pós­ ‑Miles Davis. «É daqui que vem a nova vaga», escrevia, «eis as fontes do dilúvio da novidade; como disse Mao acerca da Revolução, consigo vê­‑la como a um navio aproxi­mando­‑se no horizonte.» A segunda secção de Música Negra começa por descrever os jovens rebeldes da vanguarda que, na minha opinião, já tinham começado a mudar a música. O que é interessante é que, nesta altura, o tumulto da revolução propriamente dita já se espalhava pelo mundo. Depois do êxito do boicote aos autocarros em Montgomery, no final de 1956, Fidel Castro marchava sobre Havana no primeiro dia do ano de 1959, Malcolm X passava na televisão em 1960 – ano em que eu próprio partia para Cuba –, começava o movimento estudantil de Greensboro, na Carolina do Norte… Obviamente que este espírito mundial afectava os músicos, a sua música e o público que os ouvia. *

Ver pp. 155-193. Literalmente «caroços de maçã», pode também querer designar o núcleo, o âmago, o coração da «Big Apple» (Nova Iorque). (N.T.)

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Queríamos mudança. Inspiravam­‑nos as vidas das pessoas que lutavam por progressos reais em todo o mundo, bem como a luta que se agudizava nos Estados Unidos contra o racismo e a opressão estatal após o assassinato de Malcolm X. Uma das razões que me fizeram, de repente, deixar de escrever para a publicação de jazz mais mainstream foi a pergunta que a Down Beat lançou, em 1969 – «LeRoi Jones é racista?» –, referindo­‑se, suponho que exageradamente, ao nacionalismo negro sem cerimónias com que envolvi as minhas palavras depois do episódio de Malcolm. Um dos últimos artigos desta colectânea, «Nova Música Negra», consistia originalmente nas notas que havia escrito para um concerto de beneficência que organizei para a Black Arts Repertory Theatre/School, que inaugurei sensivelmente um mês após o assassinato de Malcolm, em 1965, quando fugi de Greenwich Village, literalmente, e me instalei no Harlem. O álbum do concerto, The New Wave in Jazz, gravado pela Impulse! (de Bob Thiele), marcou o fim de uma era e o princípio de outra. (Depois da morte de Thiele, a Impulse! acrescentou música que não tinha publicado na primeira versão, apagou as minhas notas e tornou o álbum pouco acessível ao público para não ter de me pagar direitos como produtor.) Mas a música e os músicos que ouvi neste período eram, para mim, os portadores da nova era. Os mensageiros da revolução e do que ainda estava para vir. O título do livro expressa o nacionalismo que então me indicava o caminho quanto ao que deveria ser feito: o povo afro­‑americano deveria reclamar esta música como seu legado e tesouro, estimar estas canções como hinos históricos das nossas vidas e da nossa luta. A revolução concreta que estes músicos faziam era contra a prisão da mediocridade comercial americana da Tin Pan Alley.

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Abaixo a canção popular! Abaixo as mudanças de acorde regulares! Abaixo a escala temperada! A ênfase microtonal e modal afro­ ‑asiática estava por todo o lado. Tocariam livres!* Livres? Podem crer que sim. Tem sido a nossa filosofia, a nossa ideologia, a nossa estética desde a escravatura. E neste momento da nossa história gritávamo­‑lo uma vez mais: Free Jazz! Freedom Suite! Freedom Now!** Música Negra identifica os jovens guerreiros do nosso exército de música livre. As fontes: Monk, Trane. Primeiro veio a apresentação a Wayne Shorter, porque crescemos juntos em Newark. Mas Ornette Coleman, Cecil Taylor, Dennis Charles, Archie Shepp, Albert Ayler, Sonny Murray, Bobby Bradford, Don Cherry, Pharoah Sanders, Eric Dolphy, Oliver Nelson, Ed Blackwell, Scott LaFaro, Charlie Haden, Wilbur Ware, Billy Higgins, Buell Neidlinger, Freddie Hubbard, Grachan Moncur III e Earl Griffith eram a vanguarda, além de outros não mencionados, alguns dos quais já partidos. No momento em que escrevo esta introdução a Música Negra, em 2009, Ornette, Cecil, Archie, Pharoah, Wayne, Charlie Haden, Sonny Murray e Bobby Bradford ainda não saíram de cena, ainda tocam. Apesar da matriz cultural reaccionária que ocultou grande parte desta música durante os anos de Reagan e Bush, altura em que vimos tornar­‑se dominante o retrocesso cultural e artístico do jazz de fusão, da música de elevador à Kenny G, do rock ligeiro,

*

They would play free no original. Literalmente «tocariam livres», pode também querer significar «tocariam free [jazz]». (N.T.)

**

Três álbuns da altura com a palavra «livre» ou «liberdade» no título: Free Jazz: A Collective Improvisation (1961), do saxofonista Ornette Coleman, Freedom Suite (1958), do saxofonista Sonny Rollins, e We Insist! Max Roach’s Freedom Now Suite (1960), do baterista Max Roach. (N.T.)

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do rap vazio – e tantas vezes, mesmo em Nova Iorque, semanas havia sem sombra de vida, sem uma cara conhecida, e escasseavam afro­‑americanos minimamente conhecidos –, há, nos dias que correm, sinais de que uma nova vaga possa estar a caminho. A M I R I BA R A K A

28 de Agosto de 2009

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