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a roqueira Pitty rasga o verbo contra a crĂ­tica e mostra seu lado doce


abril 2008 CAPA

SEJA VOCÊ

34 P����:

seja você, mesmo que seja bizarro. em canções dos velhos álbuns e do novo dvd e na entrevista concedida à Origami Mag, a cantora Pitty, capa desta edição, conseguiu condensar para o público do rock (e desta publicação) a idéia básica do existencialismo de Jean Paul sartre, expresso na condição de o homem estar condenado à liberdade. Pitty não quer ser exemplo, mas não consegue fugir muito disso. não quer levar rótulos - como o de ser cantora para o público adolescente - mas às vezes não consegue se desvencilhar deles. É o preço de ser livre. e que nós, por estarmos sempre em busca de desdobrar novos horizontes, muitas vezes temos de pagar. É o preço de até so- nhar com o sucesso na capital, mas preferir a tranqüilidade do interior, como é o caso de fred Jorge. É ter de esconder a timidez atrás de uma prateleira para poder tornar sua arte pública, como fez ary vianna. É despir-se para vestir seu novo jeans e suas novas leituras sobre o mundo, passíveis de crítica. O importante mesmo é ser você, mesmo que seja estranho. O resultado, quando se faz ou se é com a alma, é como as próximas páginas desta revista. Boa leitura!

a roqueira baiana Pitty critica o vazio da crítica má, fala do sucesso do dvd ao vivo e mostra que “os metaleiros também amam”, como diria a canção

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FOOD 20 toque

francês, acesso brazuca

ARTE 46 o talento

silencioso de ary Vianna

Tatiana Fávaro é jornalista. agora, também é mulher de 30. doze só de profissão, e ainda teima com o mundo. Busca paciência milenar para dobrar letrinhas e contar boas histórias.

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08

MODA 22 electroclash fashion

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i love my

Jeans

TRIP 52 Passeie por Florença

Vagner Lima. Como um bom “origamer”, ele não é um cara normal: publicitário, marqueteiro, ator, radialista, produtor cultural, apresentador de tv e empresário. Workholic. no tempo que sobra vai a festa, mas não pra se divertir... esse também é seu trabalho.

JOGO RÁPIDO 08 Cacá Meirelles sob a luz

Fernando Petermann, 35. tem em sua carreira um grande envolvimento com a cena musical undergraund, e grande tendencia no mundo fashion.

EXPEDIENTE Origami Mag ano 2 - nº 2

Projeto Editorial Ale Saraiva, Vagner Lima e Tatiana Fávaro Direção de Arte Ale Saraiva

Direção de Marketing Vagner Lima

Ale Saraiva, hoje 34. se desdobra na fotografia há mais de 10. além de assinar um dos editoriais de moda é responsável pela direção de arte da Origami.

Edição Tatiana Fávaro

Projeto Gráfico / Criação Kátia Igarashi

Colaboradores nesta edição: Alexandra Makówski, Alexandre Barbosa, Alexandre Massoti Rossi, Carla Constantino, Carol Bitencourtt, Fernado Petermann, Rogério Lemos, Tarsila Amaral

da Origami

CULT 58 salve Jorge. fred Jorge

Caroline Bitencourtt fotografa tons e sons por ai ha 5 anos, nascida em Jundiaí mora em são Paulo ha dez e já tem 30. Carol clicou a Pitty para capa da Origami.

Kátia Igarashi, gosta de tudo e não consegue se decidir do que gosta mais. ser designer da Origami é uma delas.

Contato: (11) 4521-0003 Para anunciar: contato@origami.com.br Direitos reservados a Origami Mag


JOGO RÁPIDO

LUZ INTERIOR POR: Tatiana Fávaro

Cacá Meirelles é iluminação. Ivaldo Bertazzo, movimento. Ela registra o detalhe e o transformador. Ele transforma o universo a sua volta. Num papo com a equipe da Origami, a artista paulistana de 23 anos contou um pouco da parceria com o coreógrafo que já fez ao menos 35 espetáculos de dança com bailarinos profissionais e com aqueles que ele chama de “cidadãos dançantes”. O homem que já provocou em Fernanda Montenegro o que ela classificou como “inveja boa”, pela coragem de Bertazzo mexer com o social de uma maneira pragmática e mágica. Filha do cineasta Fernando Meirelles, Carolina Teivelis Meirelles só se esquivou de falar do pai. Amores à parte, prefere seguir seu rumo sozinha, fora de qualquer sombra, ainda que seja uma sombra do bem. Quem já teve a sua sabe. Quem não teve critica. Mas ela já está acostumada. E segue, porque como ela mesma gosta de dizer, “além das influências externas o que conta é o universo interior, obscuro e ao mesmo tempo luminoso”. Aqui nas páginas da Origami você confere uma pontinha do trabalho de Cacá e um pedacinho de quem ela é, em trechos do jogo rápido:

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Influências A linha de Egon Schiele, os gestos de Daniel Senise, a atmosfera nebulosa de Farnese, as fotos pintadas de Gerhard Richter, as esculturas de Medardo Rosso, palavras de Mario de Andrade e Fernando Pessoa, a dor de Ismael Nery. Mas na verdade nada disso tem importância se não houver uma movimentação interior forte. O que me influencia, acima de qualquer coisa, é essa atmosfera, esse universo interior, misterioso, obscuro e luminoso ao mesmo tempo, que somos nós mesmos para nós mesmos. Razão O que exige uma certa ordem linear para ser concretizado. Mas mesmo assim, às vezes, eu troco a ordem.

Emoção O que não é palpável e inteligível no primeiro contato, mas que quando atinge a consciência, transforma sensações caóticas em sentimentos concretos. Família Calor necessário e único. Sonho Sempre sonhar.

Irritante Falta de respeito. Agradável Diversidade.

Cacá Meirelles Carolina Teivelis Meirelles, 23 anos, brasileira, bacharel em artes plásticas pela faculdade Santa Marcelina, em São Paulo.

Infância Uma pitada de magia sobre o desconhecido causava aquele mistério gostoso, que entre risadas e melancolia, servia de motor para a imaginação. Eu vivi a infância. Ocupação Trabalho nos meus projetos individuais de pintura e fotografia e faço um trabalho de fotografia com o coreógrafo Ivaldo Bertazzo.

Realizações Exposição de still fotográfico do espetáculo de dança Kashmir Bouquet, de Ivaldo Bertazzo, no Teatro Tuca, com início previsto para 11 de abril, junto com o espetáculo. A exposição estará na entrada do teatro. 10 origami

Mudaria no mundo... A consciência das pessoas em relação ao meio ambiente. Na hora de falar sobre, as pessoas verbalizam com milhões de rococós, mas na hora de fazer, nem a água que sai da própria torneira economizam. Absurdo. Música que canta Cacá No momento acho que Tonada de Luna Llena e Pulsar, de Caetano Veloso, e Sonata de Inverno tocada por Lorin Maazel (III. Allegro- Vivaldi). Futuro Terminar algumas “séries” de trabalhos, principalmente fotográficos, que comecei ano passado, que tratam de uma atmosfera interior, e arrumar lugar para expor esse trabalho.


Há uma tradição na Europa e nos EUA de uma comoção sobre a violência que acontece nos chamados países pobres.

roer

osso de EM CENA

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“Tropa de elite, o que é que você faz?” Uma pergunta sobre o filme brasileiro de maior sucesso de bilheteria dos últimos tempos para a qual há muitas respostas. Fora o que diz respeito à pirataria – se o que ocorreu foi manobra de marketing ou reflexo de uma situação de Estado – o “boom” do filme talvez só possa ser entendido daqui algum tempo. E, enquanto o Bope conquista a crítica mundial e se iguala a Central do Brasil, o único brasileiro até então a ganhar o Urso de Ouro (um dos maiores prêmios do cinema no mundo), em Berlim, o psicanalista João Ângelo Fantini, professor do curso de psicologia da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), fez uma análise exclusiva para as páginas da revista Origami sobre o fenômeno dirigido por José Padilha. Professor no curso de especialização em semiótica psicanalítica na Puc (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) de São Paulo, integrante do Centro de Estudos em Semiótica e Psicanálise da mesma universidade e membro da primeira Escola de Crítica cinematográfica do Brasil, Fantini afirma que já se trata de uma tradição política comum filmes produzidos nos países em desenvolvimento ganharem o prêmio. Especialmente quando os roteiristas escolhem temas politicamente carregados e lançam sobre eles um olhar diferente do europeu ou do americano. Longe das festas e elogios, “Tropa de elite” teve de engolir críticas mais pesadas. Como a de que o filme era uma versão neonazista, uma apologia à violência policial ou sensacionalista, no melhor

duro

POR: Alexandre Barbosa

estilo americano, classificado até mesmo de “Rambo brasileiro”. De acordo com Fantini, apesar disso a equipe levou o Urso de Outro porque, embora haja cenas violentas, o filme simula a estética do documentário, atualmente muito bem aceita entre os amantes (e críticos) do cinema. “Existe uma certa ‘sujeira’, com câmeras balançando, borrifos de sangue na lente que, para mim, correspondem a uma espécie nostalgia de um cinema menos técnico. Além disso, há uma tradição na Europa e nos Estados Unidos de uma comoção sobre a violência que acontece nos chamados países pobres”, afirmou o especialista. Para Fantini, a diferença desse para outros filmes brasileiros está no fato de “Tropa de elite” encarar o possível fim do humanismo. “Parece responder ao desejo de uma grande parte da população mundial, que gostaria de ver as coisas resolvidas sem muita conversa sobre direitos humanos, proteção às minorias e aos menos favorecidos social e economicamente”, disse. E como a divisão de opiniões não é privilegio europeu ou americano, Fantini aponta duas razões para o longa de Padilha ser um marco na história do cinema nacional: primeiro, a discussão sobre o “vazamento” de versões piratas da história antes do lançamento ser ou não uma jogada de marketing e, segundo, por estar desalinhado com o que o professor classifica como um círculo cínico que insiste em mostrar um brasileiro sempre cordial, humanista, solidário, que consegue “dar um jeitinho cômico” na sua miséria ou na violência em que vive, deixando o osso duro menos duro de roer.

* Alexandre Barbosa é jornalista e colaborador da revista Origami

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beauty Modernos & Práticos Cabelos curtos estão sempre na moda. E o que poucos sabem é que, além de práticos, eles também podem ser muito versáteis desde que as donas usem a criatividade aliada a algumas dicas que podem ajudar a manter o visual de bagunça ajeitadinha. Espie só:

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1) Aplique um mousse, como o Tecni.Art Full Volume Extra (L’oreal Professional) usado na modelo, somente na raiz do cabelo, para dar mais textura e volume. 2) Separe a parte da frente do cabelo em mechas largas e escove-as bem, com uma escova redonda.

POR: Carla Ferreira FOTO: Ale Saraiva 3) Na parte de trás do cabelo aplique um spray forte. Aqui usamos o Fix Anti.Frizz. Com os dedos faça movimentos no cabelo, para cima.

4) Para finalizar, coloque na palma das mãos um pouco de pomada modeladora (a modelo usa Tecni.Art), friccione e espalhe em todo o cabelo para dar acabamento e brilho.


FOOD

SoPA de

LeTRINhaS Por: Tatiana Fávaro

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Jundiaí ganha, em maio, um novo ponto de encontro para os amantes da boa mesa. O Bistrô Teffé, do chef Gustavo Maia, não tem pretensão de ser um restaurante francês segundo informou o proprietário, embora pato e coelho sejam recorrentes freqüentadores do cardápio. A idéia mesmo, explica Maia, é que as 16 mesinhas distribuídas na casa aconchegante e bem decorada da rua Barão de Teffé tornem-se referência para quem gosta da culinária contemporânea. A italianada de Jundiaí pode ficar tranqüila: o risoto terá espaço no menu de Gustavo Maia. Embora tenha desenvolvido uma primeira versão bastante convidativa do cardápio - exemplo delicioso é o magret de pato ao molho de cassis, acompanhado de confit de maçã e batata cocote - o menu será mutante: uma vez ao mês o Bistrô Teffé terá cinco pratos a um preço fechado para degustação e aqueles que forem melhor aceitos terão lugar cativo. O bistrô, mais que um restaurante, é um dos sonhos de Gustavo Maia realizado. O outro concretizouse no último dia 5, quando o chef casou com a empresária Thaysa Furtado. Campineiro de nascença, mas jundiaiense de coração, Maia nasceu numa família de médicos, mas queria mesmo era imitar as avós Lourdes e Catarina e arrasar na cozinha. Cursou jornalismo e chegou a ser assessor de imprensa de Antonio Palocci, quando o petista era prefeito de Ribeirão Preto. Colaborou com a editoria de Gastronomia da IstoÉ Gente. Mas a sopa de letrinhas das redações era menos saborosa do que a das cozinhas que ainda conheceria. E Gustavo Maia arriscou. Teve uma lanchonete e uma pizzaria em Jundiaí. Com o dinheiro que conseguiu juntar, zarpou no primeiro avião após saber que tinha passado na seleção de alunos do Le Cordon Blue, curso superior de gastronomia em Paris. Ficou um ano na cidade-luz, e teve momentos não tão iluminados perto dos chefs com quem aprendeu a cozinhar e administrar. “Eu não falava francês. Mas sabia de administração porque já tinha sido dono, então isso contou. Morei num apartamento de 18 metros quadrados, estudava o dia inteiro e não tinha como trabalhar. Mas valeu a pena.” Como aluno do curso parisiense, Maia integrou a equipe que preparou um dos jantares na embaixada peruana em Paris, um jantar para o curador do Louvre no próprio museu, uma recepção para o Ministério da Agricultura. Ao voltar para Jundiaí, resolveu arriscar. E o resultado estará nos pratos do Bistrô Teffé, a partir de maio. É de dar água na boca, pode acreditar.

Jundiaí já teve ares franceses quando o chef Yves Lepide, 42 anos, abriu sua creperia no Bulevar Beco Fino, em 2003. A máquina de fazer crepes havia sido trazida do fundo do quintal da casa de Yves, na França, em um navio. E foi ali que a história do chefe no Brasil deslanchou. Ele havia visitado o país aos 20 anos e decidido: iria voltar para cá e fazer negócios. Filho único nascido em Marsella, Yves perdeu o pai, Gaston, aos 10 anos e precisou começar a trabalhar muito novo para ajudar a mãe, Muriele. Peiu auxílio a um amigo do pai que tinha um restaurante e seu primeiro emprego foi como faxineiro e ajudante do estabelecimento. De lá para cá, Yves Lepide trabalhou em 25 locais diferentes entre restaurantes e hotéis, como faxineiro, lavador de pratos, ajudante, garçom, cozinheiro e chef, antes de abrir o primeiro restaurante próprio, aos 27 anos, em Marsella. Quase dez anos depois disso Yves viajou para o Brasil. Abriu a creperia em Jundiaí, mas logo se encantou com Parati, onde há quatro anos investiu parte de seu dinheiro e abriu o Le Castellet. “Quando cheguei em Parati, num passeio para descansar, e vi os peixes e camarões frescos chegarem nos barcos dos pescadores fiquei com vontade de ter algo ali”, lembra Yves. O Le Castellet fez tanto sucesso em uma das edições da Festa Literária Internacional da cidade o chef conheceu o casal Maria Fernanda Cândido e Petrit Spahija. A creperia encantou o francês, que convidou Yves para abrir o Le Poème, em São Paulo. Hoje, no restaurante com decoração provençal e aconchegante da rua Joaquim Antunes, Yves abusa da criatividade não só nos crepes. Além de paradas obrigatórias no cardápio como o crepe de filet mignon com molho de mostarda em grão, o cliente também conhece na casa paulistana delícias consagradas em Parati como o tomate à provençal e uma sopa de peixe típica de Marsella, feita com peixe branco, camarões, siri e marisco. Tudo preparado na cozinha onde Yves mesmo fabrica ingredientes como o azeite temperado com caju e canela e a uva ao conhaque servida após o jantar. Sabores pra ninguém botar defeito.

camarão à provençal 21 origami


FOTO: Fernando Petermann





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Neto Mokarzel

Paola e Ricardo Zambroni

Edsá Sampaio

Will Dantas Gisela Luti

LOTUS CAMPINAS POR: Vagner Lima

Fernanda Quércia

Depois do sucesso na capital, a Lotus desabrocha no interior paulista, em pleno bairro Cambuí, em Campinas. Os sócios-proprietários da Lotus São Paulo, Will Dantas e Edsá Sampaio e os sócios da casa campineira, Neto Mokarzel e Gabriela Solimeno receberam os convidados em meio a performances de malabares, drags, mágicos e outros. Os DJs Gui Raffi, Gui Quércia e Diego Moreira (residente da Lotus São Paulo) se revezaram nas pickups nos sets de house e electro music. Você é nosso convidado vip.

Patricia Castro

Larissa Mokarzel


Pegada brutal... Dudinha Little Horse. E éramos amigos, e tocávamos nos mesmos festivais, e curtíamos as mesmas festas”, lembra. A formação atual da banda, com Joe, Duda e Martin é a mais harmoniosa que Pitty já encontrou para seu trabalho. “Sinto um equilíbrio e entrosamento poderosos”, diz. Fácil para parir sucessos. Difícil escolher os filhos que mais gosta. Até porque uma das coisas que mais emociona a roqueira é ver as pessoas tomando para elas as músicas de sua autoria. Mas entre as canções já feitas, Pitty diz ter um certo apego às quais foram escritas em momentos de conflitos reais, como “Máscara” e “Na sua estante”. A turnê soa para a banda como o encerramento de um ciclo, diz a cantora. Depois disso, aí sim, o negócio vai ser pensar em disco novo e reagrupar inspirações e discursos.

POR: Tatiana Fávaro

fOtO: Caroline Bitencourtt

Pane no sistema. E lá vai ela para mais uma reconfiguração, uma nova fase. Da menina pés-descalços das ruas de Salvador, para a adolescente tatuada e rebelde que se jogou no mundo hardcore, Priscilla Novais Leone, a Pitty, vive hoje a maturidade dos 30 anos, uma doçura descoberta na fase mulher e um ponto muito alto de sua carreira e uma gravidez recém-descoberta – e inesperada. Em turnê do DVD gravado ao vivo em São Paulo com canções dos dois álbuns de estúdio – Admirável Chip Novo (2003) e Anacrônico (2005) – e duas faixas inéditas – “Malditos cromossomos” e “Pulsos” – Pitty e sua banda já foram julgados precipitados por terem lançado o vídeo com “apenas” dois álbuns na estrada, ganharam o rótulo de terem um público basicamente formado por adolescentes e às vezes têm de driblar a maldade da crítica. Embora a mídia insista em dizer que Pitty está no auge da carreira, a cantora prefere distanciar-se dos chavões e trabalhar o desapego. “Eu não sei onde o auge se localiza e talvez só me dê conta disso depois, um dia”, afirmou. “Nessa profissão as coisas são bem transitórias, por isso eu procuro me ater a conquistas mais sólidas e reais. Por exemplo: ganhar prêmios é muito bacana, mas eu sei que é reflexo de um momento e não um ates34 origami

Cada um por si – Taxada muitas vezes como cantora para adolescentes, Pitty diz não pensar em faixa etária quando compõe (ou quando canta). “Tanto faz: eu tenho 5, ou 15, ou 50 anos. Depende do momento”, afirma. Pitty não quer ser exemplo. Não é para isso que trabalha, pelo menos é o que já repetiu em incontáveis entrevistas. Para ela, a idéia do livre-arbítrio é mais honesta, ou seja, as pessoas é que têm de ter consciência dos próprios limites e vontades. E Pitty aprendeu isso praticamente sozinha. Nascida em 1977 em Salvador, tem, além do lado bom da infância na rua, a lembrança de “um lar quebrado como tantos outros”. “Tem tempo que não sei do seo Luiz (pai, com quem não fala há mais de dez anos). Espero que esteja bem.” Por mudar muito de cidade e, portanto, de escola, a magricela de óculos, meio desajeitada, compensava com inteligência a falta da graça e beleza. Lia muito. Gostava de dançar, ouvir música. E, apesar de se sentir sempre a novata na turma e buscar a aceitação dos novos colegas, logo cedo começou a perceber os

garotos. E a ser percebida também. A menina tatuada, roqueira assumida e rebelde, foi viver um paradoxo no curso de Música da Universidade Federal da Bahia, onde transitou num universo acadêmico de música erudita e cantou Carmina BUrana (cantata composta por Carl Orff na década de 1930). Nova reconfiguração registrada e, hoje, a Pitty mulher carrega dentro da carcaça visualmente agressiva um romantismo lúcido, uma doçura consciente. “Sempre quis galinhar, ser a mulher liberada sexualmente, que transa feito homem. É um ideal romântico, cinematográfico. Mas eu descobri que esse é um poder ilusório. E que minha alma é outra. Minha história é de relacionamentos longos e intensos. Busco uma coisa que nem sei se existe, um conhecimento profundo do outro, uma confiança inabalável e um amor incondicional”. A morena de olhos claros cuida do corpo, sim. Roqueira de unhas feitas, Pitty pratica swásthya yoga e caminhadas, desde que seu iPod esteja com o volume no talo. No guarda-roupa, prefere as cores escuras. Critica o consumismo e o “ser pelo ter”. Gosta de criar alguns modelitos, mas às vezes rende-se à falta de frescura da calça jeans e camiseta. Mente e espírito também estão em dia, diz a cantora, embora não tenha uma religião específica. “Simpatizo com alguns princípios de algumas religiões, mas me debato com alguns dogmas, então melhor não. E ninguém precisa de religião pra ser do bem.” A palavra de ordem para o futuro é construir. Que depende de outras, segundo Pitty: criar, aprender, crescer, trabalhar. Sem perder a essência – mesmo que seja estranha, bizarra, como diria a canção.

tado de competência ou de longevidade.” Até porque crítica, diz Pitty, é “que nem horóscopo”. “Só acredito quando é favorável. Ou, pelo menos, cos trutivo. Descobri que tem muita gente leviana por aí, que critica com birra, protecionismo, preconceito”, afirma. E o que seria dos “malditos” se todos os artistas só se expressassem pelo politicamente correto? “Coitados de Bukowsky, William Blake e Kurt Cobain”, diz a roqueira.

Aprendizado – O Inkoma (banda original) - e a rua foram importantes escolas. Foi na banda pra lá de alternativa (e hardcore) que a cantora compôs as primeiras músicas. “Toquei na garagem pra 15 amigos bêbados”, conta. Amiga de Joe e Duda (com quem anos depois teve um relacionamento) desde os 15 anos, Pitty só foi integrar a mesma banda que os meninos depois que as respectivas formações originais se desfizeram. “Joe tocava baixo numa das bandas mais fodas dos anos 90 em Salvador, os Dead Billies. Shows-catarse. Duda era o melhor baterista de sua época; tocava no Lisergia e era uma explosão de energia, força, criatividade.

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MAKE UP/HAIR STYLE: Fabi

MODELO: Lauri/CHERRY models


jeans carmim jeans cavalera


jeans coca-cola


Agradecimentos Acquiesce Colcci Louisiana Rock2


ARTE

Alémdoespelho

Alémdoespelho POR: Tarsila Amaral*

FOTO: Ale Saraiva

Através de uma pequena porta metálica, em meio ao tráfego barulhento da rua São Bento, em Jundiaí, as obras do artista plástico cearense Ary Vianna saltam aos olhos mais atentos de quem enfrenta o tumultuado centro da cidade. Entusiasta da pop art, gênero imortalizado pelo pintor e cineasta norte-americano Andy Warhol (1928-1987), Ary recria ícones da música, personagens célebres de histórias em quadrinhos, musas, heróis revolucionários, encartes de CDs e outros estandartes da cultura pop ao pintar camisetas de malha à mão e, eventualmente, painéis, discos de vinil e telas, quase sempre com uso de tinta acrílica. O atelier, que funciona há dois anos no número 369, atrai amantes da música, moderninhos, intelectuais, cinéfilos e outras figuras que, como o artista, sabem apreciar o lado urbano da vida. Batizado de Art Müzik, nome dado em referência a uma loja de discos visitada por Ary na Alemanha, o espaço é, propositadamente, de dimensões reduzidas (para promover um ambiente intimista) e 46 origami

reúne um pouco de tudo que influencia o pintor: LPs, gibis, embalagens de produtos já extintos, fotografias, pôsteres de bandas consagradas e cartazes de cinema. Tímido, Ary trabalha sozinho e mantém-se escondido atrás de uma prateleira, onde armazena alguns livros, pastas com recortes de revistas e jornais, e um aparelho de som. Ele não pinta se não estiver ouvindo música, embora o barulho dos motores e o murmúrio dos pedestres sejam para ele uma espécie de ponte que o transporta para alguma metrópole onde goza do anonimato. Ao som de Elvis Presley, Steven Morrissey ou de clássicos do jazz, Ary observa a rua por um espelho estrategicamente posicionado a sua frente. Pelo mesmo espelho, recebe clientes, amigos e outros personagens das imediações. “Não gosto de ser observado enquanto trabalho”, justifica. Ary produz pop art com ênfase naquilo que o seduz. Pinta o que gosta, o que escuta em seu aparelho de MP3, o que assiste nos cinemas. Reproduz capas de LPs e retrata ídolos pessoais como a sexy simbol Marylin Monroe e os músicos ingleses Brett Anderson (do Suede) e Marc Bolan (do T-Rex). Sempre em cores vivas e de forma realista, influências do pintor americano Edward Hopper (18821967) e do paulista Cândido Portinari (1903-1962). Sua arte é acessível, em função do material de utiliza. Esse é um aspecto que ele pretende manter. “Quero ser um divulgador de arte”, diz. E de fato, suas camisetas são pequenas telas que desfilam pela cidade.

Vida - O franzino libriano de 37 anos é filho de evangélicos. Apesar da criação religiosa, se considera ateu. Ele conta que descobriu sua habilidade para desenhar na infância, quando roubava a cena nas aulas de educação artística no primário. Mais tarde, na adolescência, teve seu primeiro contato com a música e passou a pintar camisetas de temática rock. “Pintava camisetas com logos de bandas para a moçada do rock’n roll. Até hoje faço muitos trabalhos para essa galera jovem e antenada em música. Conviver com essas pessoas me estimula e me mantém ativo”, classifica. Quando chegou a Jundiaí, há 20 anos, vendia camisetas na antiga feira de artesanato da Praça Governador Pedro de Toledo e na loja Guiza, do Centro das Artes. Após passar dez anos trabalhando em uma multinacional japonesa, Ary concebeu o Art Müzik e viu seu projeto dar certo. Já ampliou o estúdio uma vez e se prepara para a próxima reforma. Além da pintura e do desenho, Ary aprecia cinema, um bom vinho e discussões vespertinas entre amigos que o visitam com freqüência no atelier. Coleciona latas e morre de ciúmes de suas obras, embora não deixe de vendê-las. Vive da arte e faz qualquer negócio desde que possa exercitar a criação com o máximo de liberdade. “Muitos amigos e clientes me pedem para pintar figuras que eu, normalmente, não retrataria, como casais de namorados, por exemplo. Faço muito isso em junho, para o Dia dos Namorados. Apesar de não ter tido a idéia, acabei gostando do resultado”, confessa. Quando não está trabalhando, recolhe-se em sua casa no bairro de Jundiaí Mirim, em meio a muito verde e gente querida. Em um futuro próximo, Ary planeja produzir uma mostra que reunirá personagens que compõem o cenário do que ele chama de “elegante decadência”. “Quero pintar figuras que admiro. Esse estado de beleza decadente, loucura e suas próprias formas de arte. Um exemplo é a britânica Amy Whinehouse que, na minha opinião, é genial. Ela autêntica e tem a alma das cantoras negras. Me lembra a Nina Simone.”

*Tarsila Amaral é jornalista e colaborou para esta edição revista Origami 47 origami


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FIRENZE ou FLORENÇA

TRIP

POR: Alexandre Massoti Rossi

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Foi essa a dúvida que surgiu quando eu estava tomando uma taça de prosecco com o senhor Reynaldo, agradável companhia durante a minha passagem pela Itália e com a qual dividi uma cesta com vários tipos de queijos para beliscar (mais italiano impossível!), em frente à Piazza della Signoria. Chegamos à conclusão que a primeira forma dita e escrita tem mesmo de ser em italiano e a segunda, sim, em português. Isso lá. Cá, nestas páginas, é outra história. Então vamos a ela... Na encantadora praça, cenário da minha conversa, fica uma cópia da famosa estátua de Davi, de Michelângelo.

FOTO: Ale Saraiva

A original, por motivo de conservação e segurança, está guardada na Galeria Accademia desde 1873. Algum turista desavisado pode queimar um rolo de filme (ou um cartão de memória, se preferem os modernos) numa das várias outras cópias do Davi de Michelangelo espalhadas por Florença, como ao lado do Palazzo Vecchio, de 1299, sede da prefeitura. As mais lindas fotos que tirei da cidade foram do pôr-do-sol sobre o rio Arno, da Ponte Vecchio. Realmente é de encher os olhos e, cinco minutos depois, esvaziar os bolsos. Isso mesmo... em alguma das barraquinhas e joalherias que 53 origami


ficam na ponte. A vista é tão linda que foi a única ponte intacta da cidade, depois da passagem dos nazistas na Segunda Guerra. O Campanário de 446 degraus, projetado por Giotto é outro ponto obrigatório de visita. Fica em frente ao Duomo, Catedral de Santa Maria del Fiore, a quarta maior da Europa, e de onde se tem uma vista espetacular da cidade. Não é nenhum exagero dizer que Florença é um museu a céu aberto. E como até hoje eu nunca fui a um museu no qual andasse de carro, Florença deve ser explorada a pé. De fio a pavio, como dizia meu avô Adolpho. Segundo a Unesco, 60% das mais importantes obras de arte do mundo estão na Itália, e metade delas, em Florença. No malabarismo de tentar colocar aqui todos os principais lugares para se ver na cidade, não deixe de ir ao Mercado de Palha (mulheres com o cartão de crédito a postos), Galleria degli Uffizi, com obras de Rafael, Botticelli e Caravaggio, e a Basílica de San Lorenzo. Nesta igreja há sepulturas de 276 notáveis como Michelângelo, Galileu e Dante (pode parecer uma dica sinistra, mas vale a pena).

Florença é realmente encantadora. E por mais incrível que possa parecer, por todo esse perfil cultural, é uma cidade incrivelmente jovem. Turistas, mochileiros, aventureiros de várias partes do mundo vão para lá, e fazem da cidade, com jeitão de senhora, um pátio de faculdade. Para o viajante que quer conhecer mais a cultura local por meio da culinária (e existe jeito mais gostoso?), deixe as latas de feijoada em casa e experimente um risoto. Qualquer um, em qualquer restaurante. Pode parecer ate uma dica estranha, mas você entenderá em cada garfada. São simplesmente divinos. Palmas de pé para o Risoto al Mare, de frutos do mar. E para as taças de prosecco também! * Alexandre Massoti Rossi é empresário do ramo de turismo e colaborador da revista Origami

COMES E BEBES Não deixem de experimetar a típica comida toscana: bruschetta , ribollita e a famosa bistecca alla Fiorentina Trattoria ZA-ZA (Piazza del mercato Centrale), 26r Trattoria Mario´s (Via Rosina 2r)

ONDE FICAR

Ostello Villa Cameratta (albergue HI). Viale Augusto Righi Diária: 18 euros

Hotel Aldobrandini (simples e familiar) Piazza Madonna degli D´Aldobrandini 8 Diária (2 pessoas): 50 a 80 euros

Hotel Hermitage (www.hermitagehotel. com) Piazza del Pesce, ao lado da Ponte Vecchio Diária (2 pessoas): 120 ou 245 euros Dica : se você for um viajante que queira facilidade de locomoção, procure hotéis nos arredores da estação de trem.

DIVERSÃO

Teatro Comunale , casa cultural, Corso Italia 16 , wwwmaggiofiorentino.com

Piazzale Michelangelo, melhor vista da cidade, jovens à noite.

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Piazza San Spirito, animada à noite, quando os bares têm as mesas nas calçadas


CULT

Whorkaholic

na rede

Fred Jorge Vicente dos Santos tem uma história de sucesso bem diferente de parte, para não dizer da maioria, dos músicos que deram certo na profissão. Ao contrário de diversos colegas de estrada, ídolos e influências, o pequeno Fred não podia ouvir música em casa. Ele tinha 3 anos – e faz questão de esconder quanto tempo isso faz exatamente, porque não fala a idade – quando os pais Thalia e Deolindo o levavam à igreja evangélica. Ali, e só ali, todo mundo cantava. E foi possível aprender a tocar um instrumento, de sopro, cujo nome foge à memória do músico. Pela descrição, poderia ser um saxhorn baixo, talvez. Mas a música passou quase despercebida naquele momento. E as influências de Fred Jorge só viriam anos mais tarde, já que em casa só tocava silêncio. Garotos podres – Do rompimento com a religião imposta, aos 14 anos, à rebeldia comum à adolescência até 19, Fred escolheu a companhia de Sex Pistols, Ratos de Porão e Garotos Podres para seus ouvidos. O irmão, Billy, já tocava guitarra. E Fred foi arriscar-se na bateria. Cansados da pauleira do punk, Fred, Billy e amigos montaram já moços a “Traveling 58 origami

Por: Tatiana Fávaro

blues”, banda de blues que mais tarde se desfez e jogou parte dos integrantes para “The travelers”, transformada em “Big Muff” posteriormente. “Ali eu cresci como músico. Foi toda a minha escola, junto com a passagem pela rádio Cultura, onde entrei em 1994 e fiquei seis anos, de locutor reserva a coordenador artístico”, conta Fred. Na Cultura FM o músico captou informações valiosíssimas para a carreira como DJ, já que tratava-se de uma rádio de pesquisa. O horizonte de Fred foi ampliado e gêneros como MPB, jazz, reggae e sobretudo o funk e soul ganharam força em seu repertório pessoal. Chama o síndico – Foi assim que Fredevangélico-punk-blue-reggae-soul-funkJorge conheceu e entrevistou gente como

Max de Castro, Wilson Simoninha, Jair Rodrigues, Luciana Mello, Ed Motta. “Uma vez João de Deus falou da volta do samba-rock. Aí me liguei nisso e comecei a tocar um sambinha. O público masculino, do rock, odiou. Perdi esse público e ganhei o público feminino. Os caras que me conheciam falavam: o Fred tá tocando pagode, enquanto eu tocava Tim Maia Racionais, Jorge Ben. Eu só falava: pagode nada, minha gente. Isso vai bombar.” E bombou. Com o fim da Big Muff em 1998 e a incorporação da rádio Cultura pela rede CBN em 2000, Fred mudou o foco do seu trabalho e levou sua pesquisa para a rua, ao aplicar o que aprendeu com o trabalho assalariado à banda que levaria mais tarde o nome Fred Jorge e os Maiorais, inspirado em histórias em quadrinhos. Nessa bagagem estavam as informações levantadas na empreitada black-funk que Fred dividiu com os jornalistas Sérgio Carvalho e Alexandre Matias. “A gente sacou que as gravadoras iam relançar tudo o que havia sido gravado e não virou hit, até pela mão da ditadura. Os ingleses descobriram esses sons e, com a pressão para comprar o material, as gravadoras tiveram de relançar”, conta Fred.

O músico e o DJ – Uma promoção na antiga Cultura FM fez Fred esbarrar em Paulão. Paulo Sakae Dahira, referência na revitalização da música negra com o movimento de ressurreição do samba-rock nas noitadas primeiramente paulistas, e hoje em dia, no mundo, acertou a resposta sobre quem era o pai de Max de Castro. O contato foi o start para a brincadeira de mesclar disco, funk, soul e música brasileira. Em 2003, Fred e Paulão tocaram juntos. “Foi quando captei a pegada do DJ. O músico vai muito pelos arranjos, pelo gosto dele, pela cultura musical.

O DJ toca o que a pista dança. Como músico, você pode achar a música a mais legal do mundo e não agradar. Quem manda é o público. E isso me fez mudar um pouco a visão pra banda.” Hoje Fred é casado, mas o único filho que pensa em ter por enquanto é seu primeiro CD com os Maiorais. Whorkaholic assumido, Fred trabalha há dois anos nesse projeto e atualmente também empresaria a banda. “Já tive quem fizesse por mim, mas eu não consigo deixar a coisa correr sem estar perto”, diz. Paulista de nascimento, campineiro de criação, Fred e banda já chegaram à capital paulista. Mas o filho de baiano com mineira percebeu que, embora se dê bem no agito e seja muito mais urbano que rural, ele ainda prefere morar onde pode chamar o garçom pelo nome e receber “o de sempre” na mesa. E de vez em quando ouvir aquele mesmo “som do silêncio” de quando era moleque, talvez na tranqüilidade de uma rede.


“Oi, bom dia. Aqui é a Kika. Deixe seu recado. A vida é linda!” A saudação na secretária eletrônica do telefone celular de Francisca Makówski é o retrato de sua personalidade. Bem-humorada e otimista, Kika não faz o tipo feliz apenas. Ela acha mesmo a vida uma grande festa. Não teve problemas, por exemplo, em desistir da carreira de advogada – tradição na família da juíza Inês Makówski, mãe de Kika, Alexandra e Pedro Paulo. Em junho, a loja de moda feminina aberta em Jundiaí em parceria com a irmã, e batizada de Maria Makówski, faz dois anos. E já ganhou clientela cativa com as peças exclusivas garimpadas em São Paulo (La Tigresse) e Rio de Janeiro (Jolie Jolie e Lia Rabello), além daquelas desenhadas pelas irmãs. “Minha mãe sempre gostou de coisa diferente, e sempre valorizou muito o uso de saias, vestidos. Hoje em dia, com essa coisa do jeans, não é toda mulher que gosta de sair de saia. Eu valorizo muito, acho superfeminino, e a gente escolheu esse caminho”, conta Kika. Ao abrir a Maria Makówski, Kika e Alexandra, 25 e 26 anos, pensaram em fazer uma festa para comemorar. O que elas não imaginavam, porém, era que da festinha de lançamento da loja nasceria um outro negócio: a organização de eventos. Atualmente, as festas das Makówski são esperadas e concorridas. Realizadas também em Jundiaí, mas com público de São Paulo, Jundiaí, Vinhedo, Campinas, as edições da Samba Assim – organizadas quatro vezes ao ano – resgataram o melhor do samba-rock e da música brasileira e já contaram com presenças ilustres desse cenário como as dos DJs Paulão (mais na cena sambarock, impossível!), Barata e da banda Fred Jorge e Os Maiorais. Carente de festas fechadas bem organizadas e moda exclusiva, Jundiaí ganhou em animação e bom gosto com as irmãs Makówski. “Tudo começou com o intuito de reunir os amigos. Depois, a também divulgar a cultura soul, o samba-rock”, a�irma Kika. Para isso, as meninas tiveram o apoio dos respectivos namorados, Cristian e Marcelo. E o know-how de Alexandra em comunicação. Jornalista, Xan – como é chamada entre os amigos – trabalhou na divulgação da loja e da festa. E casou os negócios sem deixar de ter tempo para a �ilhota Maria Eduarda, de 5 anos. “Os almoços de domingo estão preservados”, dizem as irmãs. Desse jeito, com amores, amigos, negócios indo bem e tempo para estar perto de quem se ama �ica fácil concordar com Kika sobre o quanto a vida é bela.

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ÇÃ A E R

POR: Tatiana Fávaro

FOTO: Ale Saraiva

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A TRADIÇÃO

NASCE de um REPENTE POR: Alexandra Makówski*

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A idéia de fazer a festa Samba Assim surgiu da vontade de realizar um encontro onde só houvesse amigos e amigos dos amigos e assim por diante, com música alternativa de muita qualidade em um lugar lindo e mágico, como é de fato o sítio de meu namorado, onde fazemos tudo acontecer. Nos unimos, então, para organizar a balada. Das cinco edições que �izemos nenhuma acabou antes das 6 da manhã. Já é um ritual os amigos assistirem ao nascer do sol juntos antes de se despedirem. Todo mundo quer mais. Pede mais. Na Samba Assim, todos sabem, ninguém �ica parado. A música é dançante, tem samba-rock do melhor, soul, funk anos 70 e até samba-raiz para relembrar a origem do ritmo fantástico que é marca do Brasil no mundo. E foi assim... de uma idéia simples, surgida de repente, nasceu algo que vem virando tradição na cidade, pra quem é da cidade e pra quem vem de fora. A próxima será em abril. Até lá! *Alexandra Makówski é jornalista e colaborou para esta edição da Origami

o caçador e o colosso. ilustração digital por erick Pasqua, designer gáfico. erickpasqua@gmail.com


dobraduras SONORas DJ Mitsu the Beats’s

MUSIC

POR: Fabiano Alcântara*

O Japão de�initivamente é o arquipélago hype quando se fala em jazz. A começar pelos catálogos completos das gravadoras, coisa de deixar qualquer colecionador louco. Quem nunca teve um play japonês de estimação? Meu “Waterbabies” do Miles Davis de tanto que foi ouvido e manuseado virou um caco e foi promovido a peça de museu. Está todo com referências incríveis, tipo os selos riscado, mas eu o guardo com carinho. Impulse!, Verve, ECM, Pablo e Blue Note. E qual seria o efeito que todo esse jazz provo- O selo Jazzy Sport, por onde Mitsu lança caria em um povo como o japonês, expert em seus álbuns no Japão, também funciona assimilação cultural? comoprodutora, coletivo de arte e loja de Quando os samplers Akai entraram em ação, discos. Uma curiosidade do cast é o Stax não teve para ninguém. E atualmente pistas Groove, grupo de dançarinos e coreógracomo a Plastic People, no Oeste de Londres, fos que dedicou o espetáculo “Jazz Cats” território da fabulosa distribuidora Goya, está inteiramente ao nu jazz. sempre bombando o som dos japoneses do nu Outros nomes japoneses a serem conferjazz. Uma senha de entrada para esta seara é idos: Kyoto Jazz Massive (house), Jazzo DJ Mitsu The Beats. Ele é autor da coletânea tronic (nu-jazz, broken beats), Yukihiro “Blue Impressions” e de “Re: New Awaken- Fukutomi (progressivo) e Soil & Pimp ing”, partes 1 e 2, em que esbanja categoria Sessions (hard bop, free jazz). Oriente-se!

*Fabiano Alcântara é jornalista, estudioso do universo da música e colaborou para esta edição da Origami 66 origami


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