O Sesimbrense - Edição 1185 - Maio 2014

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Fundador: Abel Gomes Pólvora

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Edição Online: www.osesimbrense.com.pt

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Diretor: Félix Rapaz

ANO LXXXVIII • N.º 1186 de 31 de Maio de 2014 • 1,00 € • Taxa Paga • Sesimbra - Portugal (Autorizado a circular em invólucro de plástico Aut. • DE00722014RCMS/RL)

Suplemento Especial:

Pescador Homem de Coragem

Sebastião Patrício em entrevista Página 15

1ª Feira da Saúde Quinta do Conde Página 13

Páginas Centrais

Tiago Ribeiro Pinto ordenado Sacerdote Página 5


O SESIMBRENSE | 31 DE MAIO DE 2014

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Farmácias de Serviço

nBombeiros Voluntários de Sesimbra Piquete de Sesimbra: 21 228 84 50 Piquete da Quinta do Conde: 21 210 61 74 nGNR Sesimbra: 21 228 95 10 Alfarim: 21 268 88 10 Quinta do Conde: 21 210 07 18 nPolícia Marítima 21 228 07 78 nProtecção Civil (CMS) 21 228 05 21 nCentros de Saúde Sesimbra: 21 228 96 00 Santana: 21 268 92 80 Quinta do Conde: 21 211 09 40 nHospital Garcia d’Orta Almada 21 294 02 94 nComissão de Protecção de Crianças e Jovens do Concelho de Sesimbra 21 268 73 45 nPiquete de Águas (CMS) 21 223 23 21 / 93 998 06 24 nEDP (avarias) 800 50 65 06 nSegurança Social (VIA) 808 266 266 nServiço de Finanças de Sesimbra 212 289 300 nNúmero Europeu de Emergência 112 (Grátis) nLinha Nacional de Emergência Social 144 (Grátis) nSaúde 24 808 24 24 24 nIntoxicações - INEM 808 250 143 nAssembleia Municipal 21 228 85 51 nCâmara Municipal de Sesimbra 21 228 85 00 (geral) 800 22 88 50 (reclamações) nJunta de Freguesia do Castelo 21 268 92 10 nJunta de Freguesia de Santiago 21 228 84 10 nJunta de Freguesia da Quinta do Conde 21 210 83 70 nCTT Sesimbra: 21 223 21 69 Santana: 21 268 45 74 nAnulação de cartões SIBS (Sociedade Interbancária de Serviços) 808 201 251 Caixa Geral de Depósitos 707 24 24 24 Santander Totta 707 21 24 24 Millennium BCP 707 50 24 24 BPI 21 720 77 00 Montepio Geral 808 20 26 26 Banif 808 200 200 BES 707 24 73 65 Crédito Agrícola 808 20 60 60 Banco Popular 808 20 16 16 Barclays 707 30 30 30

EDITORIAL

Felix Rapaz

Contatos uteis

Ao assumir o cargo de director do Sesimbrense, vou reforçar e colocar este órgão de informação regional ao serviço do concelho de Sesimbra, numa perspetiva de jornalismo de proximidade. O Sesimbrense vai reflectir o ambiente democrático de argumento e contra-argumento que é absolutamente estruturante para a democracia nos seus vários palcos de representação. Dito isto, vou “arregaçar as mangas” e passar à acção… Há momentos na vida em que, instintivamente, nos damos conta do perigo de alguma coisa. Este é um desses momentos. Foram movimentos políticos imbuídos de um fundamentalismo missionário, apoiados numa razão absoluta

e numa visão de força, que provocaram as maiores catástrofes da história da humanidade. Estou a falar do crescimento das extrema direita europeia. O extremismo, num modo geral, não se fundamenta em prossupostos filosóficos, mas sim, no sentimento popular que recorre às emoções, é um estado de alma, metodicamente encenado com uma retórica inflamada que eleva o amor próprio de uma população que perdeu a sua dignidade. Tenho a noção do tempo histórico que estamos a viver e das dificuldades que se adivinham, mas, podem contar com o Sesimbrense como espaço de liberdade.

O Sesimbrense errou:

Com o apoio:

Farmácia da Cotovia Avenida João Paulo II, 52-C, Cotovia

212 681 685

Farmácia de Santana Estrada Nacional 378, Santana

212 688 370

Farmácia Leão Avenida da Liberdade, 13, Sesimbra

212 288 078

Farmácia Lopes

Rua Cândido dos Reis, 21, Sesimbra

212 233 028

Edição publicada segundo o novo acordo ortográfico

Na passada edição na entrevista ao António Júlio Cruz o Sesimbrense cometeu alguns lapsos e cortes de redação da entrevista. Correção: No título onde se lê Presidente da Confederação – deveria ler-se presidente da Comissão de Pesca Submarina da Confederação Mundial de Actividades Subaquáticas ( CMAS ) Seguindo o texto: O clube Naval está filiado na Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas que por sua vez está filiado na CMAS. António Júlio Cruz é presidente da Comissão de Pesca Submarina desde 2015….Neste momento a Pesca Submarina, é a 2ª modalidade desportiva da CMAS, com 42 Países inscritos. Campeonato chamado Euro Africano devido à maioria de Países serem da Europa e muto poucos do Continente Africano …e o grupo dos Paises do Extremo Oriente chamados” Inter Pacific…. Jogos Bolivarianos

Deveria ler-se “Os países participantes são por onde passou Simon Bolivar….” António Júlio Cruz é o coordenador e representante da CMAS nos desportos Sub Aquáticos No decorrer do Jogos Bolivarianos realizaram-se duas assembleias: A CMAS Américas onde representei o Brasil e a UIFAS (União Ibero-americana de Federações com Atividades Subaquáticas) onde representei Portugal e o Brasil. Carreira No início da sua carreira começou no Benfica com a pesca Submarina e posteriormente jogou Rugby, Luta Greco Romana e Natação com Barbatanas. Parou a atividade desportiva após o 25 de Abril pois fui nomeado presidente do Clube Naval de Sesimbra e em 1978, fui nomeado presidente da Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas e nesta qualidade, organizou em Sesimbra, em 1980, o Campeonato da Europa de Pesca Submarina.


ATUALIDADE

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3 75% dos lares separam os seus resíduos de embalagem

Sesimbra amiga do ambiente

9.ª edição da Semana Gastronómica do Peixe-espada Preto

Sabores de Sesimbra

De 30 de maio a 10 de junho, realiza-se no concelho de Sesimbra Semana dedicada ao Peixe-espada Preto. Peixe-espada Preto recheado com Legumes em Crosta de Broa e Ervas Aromáticas ou Espada Preto Fumado a Quente com Puré de Couve-flor e Molho de uma Caldeirada são algumas das 40 receitas que os visitantes vão poder provar durante a 9.ª edição da Semana Gastronómica do Peixeespada Preto. Para valorizar o peixe-espada preto, capturado de forma artesanal há cerca de 40 anos pelos pescadores de Sesimbra, e dinamizar a restauração local, capitalizando assim as potencialidades da região, a Câmara Municipal decidiu criar, em 2006, este evento gastronómico dedicado unicamente a esta espécie. Mais de 90 por cento do Peixe-espada Preto português é pescado por

embarcações de Sesimbra, número que revela a importância desta espécie para a economia e gastronomia locais. Atualmente, a pesca é feita de forma artesanal por cerca de 260 pescadores, que partem diariamente em 16 barcos, rumo ao largo de Sesimbra. Em todas as edições, os chefes sesimbrenses surpreendem o público com pratos inovadores e bastante variados, como o Espada Preto de Sesimbra em tempura de cerveja preta e sésamo, creme de amêndoas e legumes com aromas asiáticos ou supremos de peixe-espada preto dourados no Leito de legumes salteados guarnecidos de risoto de berbigão. Este ano, a complementar as receitas os restaurantes sugerem também um vinho da região.

A Sociedade Ponto Verde distribuiu, através da Missão Reciclar, mais de 1.340 ecobags no município de Sesimbra para incentivar os lares que ainda não reciclam a iniciar a separação de resíduos em sua casa. A Missão Reciclar, percorreu o município, com o intuito de conhecer os hábitos dos seus habitantes no que diz respeito à reciclagem de embalagens. De acordo com os resultados obtidos através de questionário realizado a 1.350 lares, 75% dos inquiridos faz a reciclagem de embalagens usadas. Durante a ação foram entregues, a quem não tinha o hábito de separação e também a quem já separava mas não tinha um ecoponto doméstico, 1.341 conjuntos de ecobags, constituídos por três sacos das cores dos ecopontos para separação seletiva de embalagens. Quando questionados sobre a razão para a não separação doméstica do lixo produzido, os 25% de não separadores apontaram a falta de recipientes próprios para o efeito (34%), a noção do excessivo trabalho pessoal/familiar implicado (43%) e a distância ao ecoponto (14%). A Missão Reciclar tem como objetivo converter todos os que ainda não reciclam em separadores totais (que separam todos os tipos de embalagens) e clarificar as regras de reciclagem a todos os que reciclam. A ação decorre em parceria com os Municípios e os Sistemas Municipais e pretende continuar a criar condições para que um número cada vez maior

de portugueses cumpra a sua missão cívica de separar os seus resíduos de embalagem e de colocá-los no ecoponto correto, contribuindo para que estes sejam encaminhados para reciclagem. “As embalagens usadas nas nossas casas não são lixo. A grande maioria é feita de materiais recicláveis e, quando devidamente separadas e colocadas no ecoponto, podem ganhar novas utilizações e gerar valor. Por isso, a missão de reciclar deve ser de todos. Estamos muito satisfeitos com os resultados obtidos até agora nos municípios, uma vez em que esta ação está a decorrer em locais dentro dos próprios concelhos onde ainda existe elevado potencial de crescimento, e agradecidos aos munícipes pelo seu contributo para esta tão importante causa ambiental”, salientou Luís Veiga Martins, Diretor-Geral da Sociedade Ponto Verde. No município de Sesimbra foram contactados 8.765 lares, dos quais 1.350 abriram as suas portas à equipa da iniciativa. Recorde-se que em 2013, a Sociedade Ponto Verde encaminhou para reciclagem no total do País mais de 382 mil toneladas de resíduos de embalagem no âmbito do fluxo urbano, um crescimento de 7% em relação ao ano anterior.


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SOCIEDADE

Vencedora vai representar o nosso país na Guatemala

Miss Teenager Universo Portugal 2014

Sesimbrenses pelo Mundo

Realizou-se no passado dia 24 de maio a grande final da Miss Teenager Universo Portugal 2014, no Hotel SPA em Sesimbra. Joana Martins foi a grande vencedora deste concurso e irá representar Portugal na final internacional que se realizará na Guatemala a 9 de Agosto.

Nome: Flávio Paixão Idade: 29 anos Local: Wroclaw, Polonia A fazer o quê? Profissão? A exercer a profissao de jogador de futebol. Há quanto tempo? Há 4 meses.

sempre aquele que parte!

Qual o principal motivo que te levou a partir? Falta de oportunidades no meu pais. Exceptuando a família, claro, do que sente mais saudades? De viver e estar com as pessoas que realmente nos querem. De que forma se mantém atento ao que se passa em Sesimbra? Através dos amigos. Falo todos os dias com amigos que vivem em sesimbra, e estou sempre atento ao que se passa. De que forma olha agora para a sua terra a partir daí? como a terra mais bonita, maravilhosa, e apaixonante do mundo. Como mata as saudades? Estando fora, através do skype com a minha família, ou telefonemas, ou através das redes sociais com os amigos. Quando vou a Sesimbra tento estar sempre com as pessoas que me querem. O projecto é voltar? Há um clube em Portugal que tenho o sonho de repre-

sentar, luto para isso todos os dias e vou lutar para que isso aconteça! Não sei se o projecto é ou não voltar. Onde me sentir melhor é onde eu irei estar. O que o fará voltar? Que condições aqui te fariam voltar? Em Portugal tenho as melhores condições do mundo para viver. Tenho a minha família (gostava de voltar para estar mais tempo junto do meu pai) e tenho grandes amigos. O que diria ou que conselho daria a quem hoje está de partida? Nunca tenham medo de nada. Não tenham medo de arriscar. Se querem conseguir um sonho lutem todos os dias por ele! Aqueles que vivem no medo, nunca sairão de casa, aqueles que se atrevem a arriscar um dia poderão ser muito grandes! E o fundamental é acreditar sempre! A esperança nunca pode morrer! E a quem fica e vê alguém próximo partir? Coragem e muita força. Acreditar que essa pessoa que parte, vai lutar para estar melhor do que estava ontem! Ser positivo todos os dias, e ajudar

O que custa mais? Deixar de estar com as pessoas que mais amas! Essa é a grande batalha, a grande guerra. Ultrupassando esse primeiro impacto, novas batalhas chegarão mas já te sentes mais preparado para ganhares! O que o atrai mais e menos nesse país? É um pais espectacular, que me surpreendeu bastante, a cidade onde estamos ( Wroclaw) é muito bonita, come- -se muito bem , vive-se bem, e tem muitos sítios bonitos para ver e disfrutar! O que custou mais no processo de adaptação? Depois de tantos anos fora de casa e de saltar de país em país, estamos sempre a aprender. A adaptação é rápida! Onde leva quem o vai visitar aí? Aos melhores sítios da cidade para verem que aqui também existem coisas bonitas e que é um país bonito de se ver também! Quando regressa a Sesimbra, o que lhe apetece logo fazer? Ir à praia e comer uns bons caracóis ( que é exatamente o que vou fazer dentro de 3 ou 4 dias)

Joana Martins foi também ela, a vencedora do Miss Top Model, cabendo à manequim Mafalda Sousa o título de Miss Simpatia. Tanto a Diana Santos, como a Mafalda Sousa estiveram a altura deste evento estando entre 12 mais belas jovens de Portugal. Segundo João Vale responsável pela organização do evento este é um momento de alegria e satisfação porque, “ a vencedora será o rosto do nosso país no maior evento do mundo Miss Teenager Universo 2014 que se irá realizar na Guatemala em Agosto. A iniciativa contou com vários parceiros do concelho

que segundo João Vale, “foram os grandes motivadores do sucesso do evento. Deixando aqui o meu agradecimento à Câmara Municipal de Sesimbra que foi o primeiro convidado a responder prontamente ao nosso desafio” As jovens puderam no fimde-semana visitar alguns lugares turísticos do concelho onde fizeram várias sessões fotográficas. Desde uma visita ao Castelo, do contacto com os cavalos da Quinta do Cavalo Branco, jantar no Capítulo, e sessão fotográfica na praia. Momentos que segundo as jovens jamais esquecerão nas suas vidas.

Área Protegida na Lagoa de Albufeira

No dia 24 de maio, no Parque de Campismo O Repouso realizou-se uma iniciativa com o objetivo de criar uma Área Protegida de Âmbito Local da Lagoa de Albufeira, a Câmara Municipal de Sesimbra, o Instituto de Estudos e Literaturas Tradicionais e a Liga dos Amigos da Lagoa de Albufeira vão promover um conjunto de encontros com a população, a fim de recolher memórias e documentos escritos, fotográficos e videográficos associados à vivência deste local. Esta iniciativa faz parte de um estudo sobre a história e antropologia da Lagoa, destinado a recolher e preservar registos que, associados à caraterização do património natural, permitirão ao futuro Centro de Estudos e Interpretação da Lagoa de Albufeira (CEILA) criar instrumentos de gestão que orientem a intervenção na futura reserva natural.


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Tiago Ribeiro Pinto Jovem sesimbrense escuta o apelo da fé No ano em que se comemora os 100 anos da Ordenação do Pe. Fidelino Otelo Cardoso e 70 anos do último Padre oriundo de Sesimbra, Pe. Carlos Veríssimo de Figueiredo, Tiago Ribeiro Pinto é ordenado Sacerdote pelo Senhor Bispo, Dom Gilberto Canavarro dos Reis. Quem é Tiago Ribeiro Pinto? O meu nome é Tiago André Pacheco da Silva Ribeiro Pinto. Nasci no dia 11 de Dezembro de 1987, em Lisboa. Cresci nesta bela vila de Sesimbra e também aqui comecei os meus estudos. Estudei ainda em Vila Viçosa, Almada e Lisboa. Gosto de ler, de cinema e de teatro; gosto imenso do mar (foi das coisas que senti mais saudades quando estudava em Vila Viçosa); gosto de passear pela Arrábida. Gosto de museus, de arte e música. Gosto de andar pela praia e de estar com os meus amigos, de preferência em belos almoços!

Colaborei ainda na Paróquia de N.ª Sr.ª da Anunciada, em Setúbal (de onde é natural o nosso Pe. Manuel Silva), e neste momento ajudo na Paróquia de N.ª Sr.ª da Consolação, em Arrentela. Quando e onde despertou a sua vocação? Bem, aperceber-me que Nosso Senhor me chamava foi um processo de algum tempo. Mas, posso afirmar que disse que queria ser Padre, em Sesimbra, diante da veneranda imagem do Senhor Jesus das Chagas. Quando percebi que a vida só vale a pena quando é vivi-

...disse que queria ser Padre, em Sesimbra, diante da venerada imagem do Senhor Jesus das Chagas.” Qual o percurso da sua formação? Comecei os meus estudos em Sesimbra. Quando percebi que Nosso Senhor me chamava a algo maior e mais radical, segui para o Pré-Seminário e depois, em 2005, para o Seminário Menor de S. José de Vila Viçosa, onde terminei o ensino secundário. Entrei para o Seminário Maior de S. Paulo, em Almada, da nossa Diocese de Setúbal, em 2007. Nesse ano, comecei também o mestrado em Teologia na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. Fui ordenado Diácono no passado dia 8 de Dezembro, na Sé de Setúbal. Durante estes anos no Seminário de Almada, ajudei no Vale de Acór, uma associação pertencente à nossa Diocese que trabalha na recuperação de toxicodependentes. Foram momentos de grande beleza, em que consegui perceber a força de vontade daqueles que foram vítimas da droga e lutam por a deixar! Muitas vezes, neste processo, estas pessoas encontram-se com a Verdade – Jesus Cristo – e com a Sua Igreja! E ao encontrarem Jesus encontram a verdadeira Liberdade.

da à maneira de Jesus e com Jesus, deixei os meus fracos projectos e entreguei-me à vontade de Deus. Nunca poderia dizer não a Jesus. Seria um falhado se negasse seguir Jesus. E, com tudo isto, percebi que o mundo precisa de Deus e esse Deus que é amor chama muitos para este caminho, como chamou ao longo dos séculos, que generosamente oferecem a sua vida pela salvação do mundo. É isto que o Sacerdote é chamado a fazer, dar-se sem medida. Pois a vida não é apenas o que vivemos neste mundo…depois da morte esperanos algo muito maior! E que vocação é essa? Todos nós somos chamados a uma vocação. Todos os baptizados são chamados à santidade. Esta é a grande vocação! E a santidade é ser de Jesus, é ser seu amigo. A vocação ao Sacerdócio implica muita coisa…pois Nosso Senhor diz-nos no seu Evangelho que quem não deixar pai, mãe, terras, para O seguir não é digno d’Ele. Isto pode ser difícil, mas no fim sabemos que fizemos a augusta vontade de Deus e, por isso, encontramos a verdadeira Liberdade e Ale-

gria. A obediência leva à liberdade! Consegue identificar alguém que tenha tido um papel preponderante na sua vocação? Em primeiro lugar, o “grande papel” é de Jesus Cristo, que olhou para mim com misericórdia e no seu infinito amor me chamou ao seu serviço. Mas, identifico a minha mãe, que nunca colocou qualquer entrave à minha decisão e entregou o seu único filho à Mãe Igreja. Na minha vida passaram vários Padres, que me interpelaram com o seu SIM generoso, ao entregarem a sua vida pelos outros. De facto, na Igreja não faltam Padres santos, e pelas falhas de alguns não se deve condenar todos! A Igreja está presente em todo o mundo e é a Igreja que muitas vezes cuida daqueles que sofrem e de quem ninguém quer cuidar…é a Igreja que os ampara e muitos esquecem isto… Agradeço a todos aqueles que rezaram e se sacrificaram pela minha vocação ao longo destes anos, muitos nem os conheço… Tenho gente a rezar por mim em muitos sítios do mundo! Só Deus os poderá recompensar devidamente. Na nossa terra, são muitos os que se sacrificam, rezam e ajudam o nosso querido Seminário de Almada. Onde e quando será Ordenado Sacerdote? Se Deus quiser, serei orde-

nado Sacerdote no dia 13 de Julho, na Sé de Setúbal, pelo nosso Bispo, o Senhor Dom Gilberto Canavarro d o s Reis. Onde será celebrada a sua 1.ª Missa? Celebrarei a 1.ª Missa no Santuário de Fátima, junto da Mãe do Céu. E a «MissaNova» (como tradicionalmente lhe chamam) em Sesimbra, no dia 20 de Julho, na nossa bela Igreja de S. Tiago. Já tem conhecimento em que paróquia poderá ficar? No concelho? No distrito? Compete ao Sr. Bispo, a quem prometi obediência e reverência, escolher para onde irei. A mim resta-me obedecer, mas certamente será pelo nosso distrito. Como pode a Igreja motivar os jovens? Infelizmente a juventude portuguesa está muito influenciada por um pseudo-intelectualismo que tenta pôr Deus de parte… o que é um erro medonho! Ao contrário do que muitos dizem, a fé não está desligada da razão. Muito pelo contrário, a fé instila coragem à razão para não se ficar apenas por questões utilitárias, mas para buscar o que é mais elevado, o sentido da vida. Trabalho numa paróquia com

imensa juventude! Quando a Igreja apresenta aos jovens a sua doutrina com seriedade, se esse jovem for intelectualmente honesto, interroga-se! E procura conhecer e aprofundar a fé! Coisas ocas e vazias oferecem muitos que conseguem captar as luzes e os holofotes da nossa sociedade…a Igreja não! A Igreja apresenta uma pessoa viva e fascinaste: Jesus Cristo! Muitos acham a Igreja antiquada e retrógrada, mas não… A Igreja é fiel ao seu Fundador! O que é uma coisa bem diferente! E vemos, segundo as estatísticas, como a Igreja continua a crescer pelo mundo! A Europa está marcada por ideologias que já deram o que tinham a dar…e não deram nada. Ao contrário da Igreja, que inspirada em Jesus Cristo, fez um mundo melhor! E isto é escondido aos jovens!

Jovita Lopes

Padres naturais de Sesimbra:

vD. Marcos Pinto Soares Vaz Preto Nascido a 1782 vPe. Domingos Carvalho de Mendonça Nogueira Nascido a 20 de Abril de 1834 e Ordenado a 19 de Setembro de 1863 vPe. António Gomes Pólvora Nascido a 24 de Julho de 1882 e Ordenado a 15 de Agosto de 1909 vPe. José António Gonçalves de Carvalho Nascido a 17 de Março de 1884 e Ordenado em 1907 vPe. Fidelino Otelo Cardoso Nascido a 4 de Maio de 1885 e Ordenado a 19 de Março de 1914 vPe. Carlos Veríssimo de Figueiredo Nascido a 14 de Março de 1921 e Ordenado a 29 de Junho de 1944 vDiácono Pedro Gomes Franco, nascido em Sesimbra a 20 de Maio de 1915, morreu às portas da Ordenação Sacerdotal a 21 de Janeiro de 1937 no Seminário dos Olivais, vítima de tuberculose. As pessoas mais antigas de Sesimbra tratam-no carinhosamente por “Padre Pedro” embora não tivesse sido Ordenado Padre, mas só Diácono. Entrevista editada segundo o antigo acordo ortogáfico


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De Igual Modo

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David Sequerra

Sob o signo dos contrastes

Esta rúbrica utiliza como “matéria prima” o contraste entre o elogiável e o indesejável, no âmbito concelhio e nos tempos que correm – cada vez mais rapidamente e com um maior grau de exigências. Aplaudimos o que nos parece certo e favorável e, de igual modo, encontramos idêntica intensidade de alusão mas, de sinal contrário, o que em nada prestigia Sesimbra. Tem sido assim, desde há largos meses, sob o signo dos contrastes. E hoje, também, convictamente, a bem da “Piscosa”. *** O tão popular Toni, da Marisqueira, já é saudade, nesse recanto típico dos Bombaldes onde fez história durante repetidas e bem preenchidas décadas. A lembrança permanece mas vai tomando vulto a promessa de uma boa substituição com a obra em curso, valorizadora do que de meritório há no Largo que dá início à novíssima Califórnia.

Vai surgindo um novo edifício de previsível modernidade cumprida que seja a “maquette” oficialmente aprovada. Ainda não sabemos qual será o nome sonante nem outros pormenores da novidade, prometida mas calculamos, desde já, que em jeito de ajuda toponímica, se há-de falar do “TONI da MARISQUEIRA”, tal qual sucede com a dupla SANA/ESPADARTE, a 50 metros do Bombalde. Dá mais jeito referir “é ao lado do Espadarte”, tal qual se dirá do novo empreendimento, dizendo.se “é ali, no TONI”. A tradição tem muita força! ** Vamos lá ao contraste enunciado , passando da boa espectativa para o que de lamentável ocorre às portas de Santana, em plena rotunda justamente denominada “Duque de Palmela”. À esquerda, após a rotunda, na direcção de Sesimbra, perfila-se um prédio muito antigo e em péssimo estado, triste e abandonado, servindo de parede-cartaz para variada publicidade, constituindo desagradável “cartão de visita” para quantos se encaminham para a tão bela Sesimbra. Faltou-nos apurar a quem pertence o imóvel e que diligências já cumpriu a Câmara Municipal para eliminar um tal aleijão. Mas lá que é uma imagem feia e deplorável – ninguém duvide. Naquela privilegiada situação, de óptima visibilidade, podia e devia apreciar-se algo de elogiável, por interessante para os pergaminhos turísticos de Sesimbra. Quem nos acompanha neste espécie de “cartão amarelo”, embora sem alvo bem definido? Ficamos na expectativa de boas noticias…

Carta aberta a Eduardo Pereira

Foto de arquivo

Meu caro Eduardo Quero confessar, sem qualquer constrangimento, que me emocionei fortemente no momento em que te foi colocada ao peito a Medalha de Ouro do Município da muito tua Sesimbra, naquele final de manhã de 4 de Maio. Ainda a tempo - felizmente! – Fez-se justiça com a qual todos concordaram no vibrante e prolongado aplauso que pudeste escutar. Vão longe os tempos da obrigada recuperação editorial de “O Sesimbrense” e logicamente, da Liga, amigo a teu lado na luta pela “nossa” Sesimbra. Mais longe ainda – bastante mais… - as jogatanas de vólei na praia, os ensaios do triplo- salto na areia molhada da área do “Sôr” Abel e os ensaios de natação na jangada, a pedido expresso do “Zé” Braz. Narraram longos anos e Sesimbra foi acumulando motivos para orgulhar-se de ti, dos méritos, da tua firme personalidade, da tua carreira técnica e política. Tantos foram os motivos que ouso dizer que esta distinção máxima do Município já chegou atrasada. Mas chegou e nesta carta aberta quero que saibas como me sinto satisfeito e feliz na observação próxima do júbilo de teus Filhos e Netos, duas filas à minha frente na plateia do Cine- Teatro. Foram instantes inesquecíveis que não te pertenceram unicamente. Amigos de longa data vibraram e aplaudiram e nos teus olhos consegui redescobrir o brilho intenso de o adolescente há mais de 70 anos, meu magnifico companheiro que tanto admiro. Aqui no teu/ nosso “Sesimbrense” as tuas judiciosas “ONDULAÇÕES” têm estado suspensas , mas nem por isso eu me eximo ……., a fazer ondas, de boa intensão saudando a tua Medalha de ouro. Forte abraço, “Jovem” Eduardo! David Sequerra


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Pescador Homem de coragem

Especial

PESCADOR

A azáfama das mãos que puxam as redes é muita, as rugas vincam os rostos dos homens que cansados olham o mar. As traineiras chegam carregadas de peixe que é a esperança, o pão que alimenta as suas famílias. Histórias de vida e do mar, “ele dá, ele tira”. O mar corre nas veias de quem nasceu e cresceu junto dele, de quem construiu uma vida e os sonhos de um futuro melhor. O pescador sente a tempestade e olha a infinidade da baia na esperança de dias melhores. Fizemos este especial como homenagem e para dar voz às memórias destes Homens que dedicaram uma vida à imensidão que é o mar.

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Especial pescador

Acácio Farinha Carpinteiro das aiolas O último mestre carpinteiro naval de Sesimbra, ainda em atividade, Acácio Vidal Farinha, juntamente com o seu filho Rui, a quem passou o saber e a mestria. Ambos são a voz da memória dos saberes da construção das aiolas em Sesimbra. Aos oito anos acercava-se do pai e aprendia a arte e o oficio da família, a cordoaria, mas o gosto pela construção naval fascinava-o. Todos os dias passava por dois estaleiros no caminho para casa e parava a ver os mestres a construir as embarcações que iam para o mar. Aos dez anos apaixonado pela construção decide construir um barco em miniatura a qual se veio a tornar numa obra emblemática, a sua primeira aiola. Um dia numa taberna um

pescador desafiou-o a construir uma aiola, aceitou o desafio e desde então até hoje nunca mais parou. Iniciou assim a sua vida de carpinteiro, diz o mestre, “nunca mais deixei de construir aiolas”. Aos 23 anos decide abrir o seu próprio negócio o qual mantem até hoje com a ajuda do filho e sob a sua supervisão. Atualmente continua a ser um homem ativo e a ensinar aos mais jovens as técnicas e truques antigos da construção naval.

Uma vida dedicada à mestria e ao amor pelo mar e pelas embarcações faz deste sesimbrense o último mestre carpinteiro naval de Sesimbra. A aiola é um dos barcos mais característicos de Sesimbra. É de sólida construção, mas as suas linhas proporcionam uma excelente navegação. Antigamente era movida a remos ou à vela, hoje quase todas as aiolas estão equipadas com um pequeno motor fora-de-bordo. Acácio Farinha

continua a ser um sonhador, mas refere humilde e sorridente, como sempre foi, “nunca enriqueci à custa de fazer barcos, mas houve muitos que enriqueceram graças às embarcações que fiz e as pessoas nunca deram valor ao meu trabalho”. Trabalhou por paixão à única arte que realmente aprendeu mas sabe que o momento da despedida se aproxima e mostra em si a saudade do mar e da sua profissã, deixando o legado ao seu filho.

Júlio Fitas Último mandador de Sesimbra

Júlio Joaquim Ribeiro, mais conhecido por Júlio “Fitas”, natural de Sesimbra, nasceu a 29 de outubro de 1910, no ano e mês em que findava em Portugal a Monarquia e se instaurava o regime republicano. É considerado por muitos Homens do ofício o último mandador de Sesimbra. Em pequeno foi acolhido por uma família que vendia no mercado de Azeitão em troca de cuidar dos animais, recorda com carinho que nesse dia ganhou o seu primeiro par de sapatos. Aos 17 anos foi parar à antiga União Fabril, no Barreiro, onde executou diversos serviços. Carregava materiais, fazia limpezas, tudo o que fosse

necessário. Porém, acabou por regressar meses depois, trazendo consigo aquela que viria ser a sua esposa. A vontade de vencer na vida e ganhar dinheiro, para constituir família, levou-o a dividirse entre a serra e o mar. De inverno trabalhava no campo e de verão juntava-se às campanhas que partiam da vila. Aos 19 anos chegou a man-

dador das armações, pescador responsável pelos homens e pelas embarcações. Comandou primeiro a armação da Cozinhadouro e depois a da Varanda. Ganhava duas partes e levava para casa peixe fresco. Dedicou-se a esta vida e a esta profissão até aos 55 anos. Com a sua saída dedicou-se de novo ao campo mas, agora

no seu próprio terreno, trabalhou nas pedreiras, onde exerceu diversas funções até aos 80 anos.

Atualmente com 104 anos recorda o mar e a vida, os sonhos e vive acompanhado na companhia da filha Adriana.

António Vieira Moço Chamador António Vieira com 71 anos de idade fala-nos do tempo em que era moço chamador, trabalhava com a armação “Varanda” de Sesimbra.

“O mar é fascina-nos” Nasceu no tempo da guerra no campo e a família dedicava-se à pastorícia. Aos 12 anos de idade diz a sorrir que foi a primeira vez que fugiu de casa para vir para a vila para junto dos pescadores para ver as lides do mar. Como na época o pai andava na armação bem como outros familiares, almoçava nas lojas de campanha e dai começou a sua atividade como moço de armação no Roquete, assumindo mais tarde e por duas épocas a função de moço no Varanda. Mais tarde concorreu à marinha, foi marinheiro, onde ficou até 1971, “fazendo ali o resto da minha mocidade”, diz sorridente António Vieira. Na sua vida como moço

chamador muitas são as memórias e as histórias que guarda na sua vida, andou nas barcas de aparelho, “o pessoal do campo vinha para a praia e trabalhávamos, para ganhar uns trocos e peixe fresco”, foi dai que começou a sua ligação ao mar, “o mar está-me nas veias”. Tinha, 12 anos, recorda, “a maior parte das pessoas não sabia ler nem escrever e eu como tinha a 4ª classe, os homens pediam-me para eu lhe ler as cartas dos familiares”. Na época viviam e trabalhavam em Sesimbra muitos homens vindos de outros locais do país. António Vieira conta que: “chamavam-me para um sítio mais recatado e pediamme para eu lhes ler as cartas,

mas muitas vezes acontecia que não queriam aceitar as noticias e pediam-me para ler de novo e desmentiam até irritados o que lhes transmitia. O moço chamador tinha várias funções, ir buscar água das fontes para as lojas, pois na época não havia água canalizada. “Os homens de fora estavam todo o ano na loja ou a pescar e nós, os moços fazíamos algumas tarefas e recados para lhes facilitar a vida“. Era nas lojas que comiam, dormiam, viviam, “recordome que no verão o percevejo atacava as camaratas e nós, eliminava-mos a praga com panelas de água a ferver. Era uma vida muito complicada mas que no fundo nos deixa muitas saudades”, recorda

com o olhar longínquo. De noite os moços chamadores apesar da sua tenra idade, eram responsáveis por acordar os pescadores para irem para o mar, “quando o Mandador dava o “aviso”, o velho de terra ia chamar o moço e nós corríamos de porta em porta a chamar os homens para ir para o mar. Por vezes quando ainda faltava alguém lá tinha eu de correr de novo por Sesimbra para ir chamar o que tinha ficado para trás”. Quando era de manhãas barcas vinham para a lota, “lá vinha o Gasolina com o peixe e eu ia ao barco buscar uma giga de peixe para mim, que vendia. No final da semana eles faziam as contas e pagavam e quando vinham para trás cada um dos homens dava uma gorjeta ao moço

chamador”. O moço chamador tinha de estar sempre disponível para auxiliar em todo o trabalho. António Vieira foi moço chamador até aos 18 anos, altura em que foi para a marinha, “uma vida dedicada ao mar de que não me arrependo”. Com 12 anos pensava que o mar era uma vida e um fascínio, hoje olha para o mar e diz que este lhe “corre nas veias”. O mar trás sempre episódios tristes, “eramos jovens e para nós tudo era bom, brincávamos, fazíamos a regata das celhas e a andar nas aiolas”. O mar é para António Vieira um fascínio, “todos nós temos uma atração pelo mar, apesar de nos causar medo, é misterioso e deslumbrante, limita as pessoas na sua ação e isso é fascinante”, afirmou sempre a sorrir.


O SESIMBRENSE | 31 DE MAIO DE 2014

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Fernando Manso - Pescador “Tenho muitas saudades do mar” Mestre Fernando Manso tem 80 anos e recorda o mar com saudade e mestria. Aos 14 anos começou a trabalhar na pesca e nunca mais a deixou. Cada vez que via seu pai partir para o mar ficava a chorar na praia, não por medo, mas por não poder ir também. Chegou a Sesimbra por um acaso da vida, o pai trabalhava nas embarcações. Muitas são as suas histórias e o registo de vida que fica ainda por contar, deixamos aqui alguns dos momentos da sua vida de pescador.

Como era a vida de pescador na época? Na altura não existiam radares nem sondas e nós agíamos por instinto. Na época eu era ajudante de motorista, depois passei a motorista e era muito curioso e observador, com muita imaginação. E por vezes dizia ao mestre que o peixe estava em tal sítio, ou que o mar estava com as correntes em determinada direção. Andei num barco que o mestre quando adoecia eu é que tomava a sua posição, eu é que mandava na pesca. Na Providencia, quando adoecia o contramestre, agarrava-se ele ao leme e dizia para ser eu a mandar. Eles tinham fé que eu apanhava bons cardumes. Uma vez apanhei um cardume

Quando veio para esta empresa foi para governar o barco? A empresa estava muito em baixo, mas felizmente hoje apesar dos dias difíceis, temos estabilidade. Cada vez é mais difícil e não temos peixe como tínhamos antigamente. Eu sempre fui uma pessoa humilde e crente nunca gostei de tratar mal ninguém nem de

ser mal-educado, muitas vezes chegava a casa e o meu filho era pequenito e acordava a chorar durante a noite e eu embalava-o e cantava para ele, porque a minha mulher também estava cansada e a vida era difícil para os dois. Aqui trabalho até hoje com o mesmo empenho de sempre e com a mesma paixão que tinha antigamente. Depois tornei-me sócio da empresa compramos um barco maior que é o Luís Adrião. O Pescador de Sesimbra é danado onde houvesse peixe ele não se cansava de trazer para terra. Hoje já não há tanto peixe e as pessoas vivem mais dificuldades. Fui o único pescador presidente da Casa dos Pescadores e tenho orgulho desse cargo. Recorda-se de alguma história marcante? Tenho histórias passadas na minha vida que me levam a acreditar que existe uma força superior. Um dia estava no mar e um colega das Cinco Chagas, tinha as redes presas no fundo e precisava de ajuda, ninguém parava, andavam todos atarefados à procura de peixe e eu parei para o ajudar, com o meu pessoal. Depois do ajudar, fui para cima da proa, e vi um cardume de robalos que nos deu na altura cento e tal contos. È só uma história, mas eu penso sempre que ajudei alguém e que naquela noite tive muita sorte. Outra altura em que ninguém encontrava peixe, ouvi pelo radio rumores de um cardume a sul e rumei a procura e apanhei um cardume de carapau, a carga era tanta que só se via a proa fora quando cheguei a Sesimbra. As pessoas vieram a doca só para me ver e para me darem os parabéns. Muitos diziam que eu era um bom motivador dos homens e na verdade quando me perguntavam onde

vamos amanhã? Eu respondia sempre, então vamos à procura de peixe. Eu costumava dizer aos homens que eu estava ali para ver os cardumes da proa, mas que precisava deles nas redes porque tínhamos as famílias para sustentar. E, sustos teve muitos? Também quer os sustos, tive muitos. Estávamos a sul da barra de Lisboa e estava nortada e nós andávamos a procura de cardumes de cavalas, apareceu-me uma onde de tal forma que se eu não tivesse agarrado ao esticador da proa até ao mastro, era uma vez, não estava aqui a contar-lhe histórias. Eu estava de fato oleado e enchi as botas de água, veja lá a força da onda. Outro foi no Cabo Espichel, na baixa que existe ali, estava mar liso e de repente veio um arreio (ondulação) e tive de dar força ao barco e mesmo assim estalei a quilha do barco. Os homens que estavam a descansar caíram todos do beliche. Eu tive um amigo de coração que morreu no mar o pai do presidente da Câmara Municipal, o Augusto Pólvora, pai. Fizemos a tropa juntos e vínhamos juntos para Sesimbra, fomos muito amigos da juventude. Como se sentia a sua família quando ia para o mar? A minha família estava descansada e os meus filhos só queriam saber o que é que eu apanhava, tinham orgulho do pai apanhar os cardumes. Sou pai de quatro filhos com a minha mulher Maria Rosa com quem estou casado a 58 anos, tenho cinco netos e portanto somos uma família humilde mas feliz. Tenho apenas um filho ligado à pesca. Quando olha para o mar o que é que sente? Tenho sempre saudades,

todos os dias. Muitas vezes vou ao cimo da serra e paro o carro e fico em silêncio a ver o mar, gosto de ver o mar lá de cima é mais calmo do que aqui da baia. Eu costumo dizer que fiquei cá para contar as histórias, dos outros que já partiram e as minhas claro, mas muitas memórias sobre a vida do mar. A minha cédula é o numero 5715 e tenho-a em casa os documentos de mestre, e posso dizer-lhe que gostei muito, mas muito de ter dedicado a minha vida ao mar. Trabalhei muito para hoje deixar de trabalhar, mas o bichinho está cá e vou continuar aqui enquanto tiver saúde. Uma das minhas mágoas foi não ter conhecido a minha mãe, porque todas as pessoas que a conheceram dizem que eu tenho o mesmo espirito dela. Cresci com uma grande paixão pelo mar, sou um homem com muita imaginação e corajoso, arranjava sempre solução que era trazer peixe para terra. O mar é e será sempre a minha vida, e sinto saudades dele todos os dias.

Especial pescador

Como começou a sua vida ligada ao mar? Nasci no campo, em Sampaio, mas infelizmente a minha mãe faleceu quando eu tinha 13 meses, por decisão da família fui criado pela minha avó e acarinhado pela minha tia que me criou, como um filho. Aos catorze anos comecei a minha vida no mar, nas armações, cerca de dois anos, depois como na altura havia muitos barcos de pesca de peixe-espada fui para lá. O meu irmão era mecânico das traineiras do Duque e quando eu regressei da tropa “moço” robusto, o meu irmão desafiou-me para ir trabalhar para as embarcações, o meu primeiro ordenado foi de 40 escudos e com esse dinheiro paguei um almoço a toda a gente. Mas o meu irmão convenceu-me, e fui trabalhar como ajudante de motorista .

de robalo ao largo do cabo Espichel que foi muito famoso. Andei na Providencia como motorista, fiz de mestre e depois o mestre Lourenço, dos Caparicas, convidou-me para ir trabalhar com eles e por lá fiquei. Fui campeão nacional da pesca de cerco, mas poucas pessoas sabem em Sesimbra. A preocupação dos meus filhos era saber se eu apanhava mais que os outros, mas eu dizia sempre que eu apanhava o meu e eles os deles. Andei 44 anos no mar, e esta é uma profissão de gosto, porque se assim não for, não temos sucesso. Eu era muito conhecido chegaram a vir de setúbal e de outros locais do país convidarem-me para ir trabalhar com eles mas nunca aceitei. A minha preocupação com 26 anos, era que era muito novo para mandar nos homens mais velhos e isso fazia-me confusão. Um dia tive de aceitar porque vi que a vida ia melhorar, quando entrei para esta empresa (Luís Adrião e pinhal Lda.) em 1967, a empresa estava muito em baixo, mas eu como tinha muita imaginação comecei a trabalhar empenhadamente. O barco era muito pequeno e eu muitas vezes dizia que um dia o barco se zangava comigo.


O SESIMBRENSE | 31 DE MAIO DE 2014

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Parque Marinho não é um assunto esquecido pelos pescadores

O parque marinho Luiz Saldanha foi implementado em 2005. Foi uma imposição do governo sem ter em conta a comunidade piscatória de Sesimbra. Obviamente que a comunidade reagiu, protestou, argumentou e deu propostas que apelavam para que as regras do parque tivessem o máximo de bom senso e de respeito por quem dependia desta atividade económica. Ainda assim a vontade politica da altura resumiu-se em: “eu quero, posso e mando”, ignorou os protestos e não teve em conta qualquer uma das propostas. siado pequenos para irem mais longe, qual o futuro? O armador pela sua idade vai literalmente Ainda à espera da revolução II “tentando aguentar o barco”, até que chegue a reforma, mas VARAM’ESS’AIOLA quem é que quer agarrar depois nesse barco para pescar? posição do consumidor, o preço Na edição anterior d’O SEa necessidade de evoluir como E mesmo que exista a suficiende transacção do pescado não SIMBRENSE debrucei-me empresário, no sentido de prote coragem para querer investir, tem relação directa com o seu sobre os danos decorrentes curar clientes ou de valorizar o como é que pode investir num custo de produção. A formulada forma desastrosa como seu produto. Pelo que corrobopequeno bote se depois não ção do preço depende unicaas pescas portuguesas não ro com a afirmação, que não é tem autorização para pescar na mente da oferta e da procura foram, nem são defendidas minha, de que a DOCAPESCA área do parque? Sim, porque no leilão. com os tratados da União Eué uma herança do estado-nocom a venda da embarcação No centro desta questão, ropeia, que retiraram aos estavo que se mantém presente. essa licença do parque perdeexiste uma entidade chamada dos-membros o poder de deciPara que não seja mal ense. E se assim já se sentem liDOCAPESCA (empresa de são sobre o sector, passando tendido, esta afirmação não mitados, sem licença do parque capitais públicos responsável esta a assumir competências pretende culpabilizar a DOsó podem ir para mais longe, e pela gestão da 1ªvenda). Esta exclusivas. CAPESCA pelo que de mal se mais longe é mais arriscado, e entidade funciona como um Pretendo agora aprofundar passa na pesca portuguesa. A a atividade é ainda mais difícil garante do pagamento do valor aspectos que em meu entenDOCAPESCA tem um papel de ser sustentável.... da venda ao pescador. Sendo der são de exclusiva responinstitucional que não pode ser Que embarcações teremos essa segurança um benefisabilidade nacional e que tem desprezado, assim como a em Sesimbra daqui a 20 anos? cio ao produtor que não deve contribuído para que, 40 anos segurança que transmite aos Quantos destes “números” vão ser descurado. Seja quem for passados, ainda não tenha pescadores também não pode caindo apenas porque ninguém o comprador (que para o ser ocorrido uma revolução nas ser negligenciada. Não é, no os substitui? Começámos com tem de estar devidamente crepescas portuguesas. entanto (em meu entender), 112 licenças no parque em denciado pela DOCAPESCA) De associações de armadovocação da DOCAPESCA 2005, e este ano estamos com o produtor (pescador/armador) res a sindicatos, de pescadogarantir o melhor preço para a apenas 63. Ficaremos apenas tem a garantia total de receres com barco a pescadores comercialização do pescado. com as grandes embarcações. bimento. Por outro lado, este sem barco, isto é, para todos A DOCAPESCA é um presPerdem-se as típicas aiolas de facto nunca responsabilizou o os agentes envolvidos directador de serviços, que se faz Sesimbra e os botes, e com pescador/armador pela venda tamente no sector existe uma pagar através da cobrança de eles perde-se uma parte daquido seu pescado. Obviamente queixa comum, o preço de couma taxa. Cabe ao pescador/ lo que para nós é Sesimbra. que um pescador que trate memercialização do pescado. armador encontrar a melhor O setor da pesca já é extrelhor do seu pescado, terá em E esse, dentro daquilo que forma de comercializar o seu mamente fustigado por legislaprincipio maior retorno na sua é a competência exclusiva pescado e essa é uma discusção nacional e europeia, que venda. Mas não é a isso que de Portugal, é talvez o maior são que servirá de mote para a condiciona, restringe e limita... me refiro. Com o sistema instidos problemas da pesca. Ao próxima crónica. “e nós ainda temos o parque!”, tuído, personificado na DOCAcontrário da maioria dos bens Carlos Alexandre Macedo oiço esta frase invariavelmente PESCA, o pescador nunca teve produzidos e colocados à disvaramessaiola.blogspot.com quando se fala de pesca em Sesimbra. Serve apenas estas palavras para lembrar que o assunto, não está esquecido por quem trabalha todos os dias “dentro desse assunto”. Continuamos a aguardar a revisão do POPNA

Opinião

Após essa forçada implementação, a esperança dos pescadores, voltou-se para o futuro, visto que ficou prevista uma revisão do parque. Mas já se passaram 9 anos e continuamos sem revisão. Para a governação, e seus representantes nas diferentes instituições, os nossos pescadores são apenas números: “em 2013 tínhamos 63 embarcações com autorização para operar no parque. Destas 23 têm covos, 35 têm arte de redes....” E Cada um desses números está condicionado a regras rígidas. Mas nós, não só não conhecemos números, mas sim pessoas, como sabemos quem são essas pessoas. Sesimbra (ainda) é uma comunidade piscatória. Apesar de a população jovem já estar bastante afastada da pesca, ainda assim, todos temos raízes que nos ligam aos nossos pescadores: ou o avô ou o pai ou um tio, um primo ou um vizinho, ou quanto muito, “o primo do amigo do vizinho”! Uma coisa é inquestionável, seja porque caminhos formos, todos nós sesimbrenses temos uma cultura de pesca. E o parque fez-nos (e faznos) perder uma parte importante dessa cultura. Os pequenos armadores têm uma área limitada de pesca. Se não conseguem obter o rendimento suficiente na área que podem atuar, e se são dema-

Sesimbra terra do peixe

Em maio é tempo de homenagear os pescadores, que na sua árdua luta arriscam as suas vidas na conquista do ganha-pão. Sesimbra como centro piscatório de grande relevo reúne também vários hotéis, restaurantes e similares que promovem o destino turístico a nível interno e externo. Possui uma variedade de restaurantes para diferentes públicos-alvo, seja ele o mais modesto estabelecimento ou o mais requintado e sem esquecer os novos conceitos de restauração que recentemente aportaram a terra, e que contribuem grandemente para a atracção turística. Seguramente um dos pratos mais emblemáticos e conhecidos de Sesimbra, é a famosa “caldeirada”, feita pelos nossos pescadores e confeccionada a bordo será um momento inolvidável, com confraternização e o disfrutar das falésias e do mar. Servida com excelentes vinhos brancos da região de Setúbal e degustada serenamente, proporcionará um revigorar de energias. Ao final do dia não deixem de experimentar uma massinha do caldo de peixe que fará as delícias de muitos apreciadores da gastronomia sesimbrense. João Silva

Pescas – Abril ARTES

QUANTIDADES (kg)

VALORES (€)

Arrasto

138.229,20

154.486,02

Artesanal

748.634,50

2.148.417,83

Cerco

1.161.379,90

425.883,64

Totais

2.048.243,60

2.728.787,49

O Verão a aproximar-se e as pescas a melhorarem de rendimento. Sempre assim foi e, felizmente, continua. A mansidão das águas e a acalmia do mar traz o peixe para mais próximo de terra, junto das rochas, e assim melhor para as redes e anzóis pescarem mais abundância de pescado.Houve diferenças muito sensíveis nos quilos pescados e valores vendidos na lota. Oxalá este aumento se mantenha para benefício dos pescadores, cuja vida dura e arriscada, ainda se mantém na lota pela sua subsistência e para regalo de todos nós, consumidores, deste nosso belo peixe de Sesimbra, por muitos considerado o melhor que existe na nossa costa nacional. Continuamos aguardando que uma melhoria neste sector traga os benefícios de que este está carenciado, trazendo para o mar o emprego de muitos jovens que anteriormente, à pesca se dedicaram e tornaram esta zona como uma das mais piscícolas e produtivas do país, com espécies de qualidade superior muito apreciadas, além Sesimbra. Pedro Filipe


O SESIMBRENSE | 1 DE MAIO DE 2014

11 Eleições Europeias

POLÍTICA

PS foi o vencedor em Sesimbra

Na sua opinião, por que razão se verifica frequentemente elevados níveis de abstenção no país?

MSU

CDU

BE

PS

Adelino Fortunato

Alain Monteiro

Nuno Miguel Ribeiro

Pedro Mesquita

Os últimos atos eleitorais revelaram uma tendência crescente para a abstenção. As causas deste fenómeno são óbvias. Vivemos em crise estrutural do sistema capitalista mundial, na sequência da Grande Recessão de 2007/9, e a austeridade que se lhe seguiu introduziu uma descoincidência entre aquilo que foi prometido pelos responsáveis governamentais e o que acabou por ser imposto como facto consumado. Acresce que a possibilidade de construir alternativas a estas orientações, dessa forma regenerando o sistema político, para muitos ficou limitada quando os partidos socialistas e trabalhistas de todo o mundo se renderam às orientações neoliberais dominantes integrando coligações com a direita (Alemanha, Holanda, Finlândia) ou comportando-se no governo como essa mesma direita, caso de Hollande em França. Finalmente, o escrutínio democrático escapa cada vez mais aos cidadãos, atingidos por instituições não eleitas como a Troyka, por tratados não referendados ou por mecanismos não regulados do tipo das offshores. Perante isto, os cidadãos questionam-se: valerá a pena votar? Infelizmente, muitos respondem negativamente a esta pergunta.

Nas últimas eleições legislativas bateu-se um infeliz record. Nunca, desde 1976, se registou um tão elevado nível de abstenção, atingindo 41,93%. Este record é válido apenas para eleições legislativas, pois as eleições para o parlamento europeu têm historicamente níveis de abstenção superiores. O máximo tinha acontecido em 1994, quando esta atingiu os 64,5%. Porém, no passado dia 25 de maio, assistimos a uma abstenção ainda maior que atingiu 66,1%. Mas o que leva a estes resultados? O laxismo ou o desinteresse? Na verdade, julgo que a explicação para tal fenómeno assenta na generalização da crença de que as eleições nada mudam. Contudo, estes valores de abstencionismo beneficiam sempre e apenas dois partidos, PS e PSD que há quase 40 anos bipolarizam a governação numa alternância pendular e que de certa forma se confundem no global, diferenciando-se apenas na específica e temporária fulanização do líder e na sua suposta “competência”. Então, votar, de facto, muda muito pouco e continuará a mudar muito pouco enquanto não ser der oportunidade de governação a outras forças política, enquanto não se perder o preconceito face a outras forças politicas.

Os elevados níveis de abstenção do país prendem-se com o descrédito dos cidadãos na classe política e no sistema político, e na ausência de alternativas credíveis em termos de governação, não se esgotando o fenómeno abstencionista nas eleições europeias, onde é mais vincado, sendo uma realidade incontornável nas eleições autárquicas e legislativas. Contudo, os cidadãos que decidem não ir votar, não estão a castigar o sistema político cuja democraticidade questionam, nem tão pouco a punir os políticos em que deixaram de confiar. Estão sim a beneficiar a classe política instalada que, mantendo um eleitorado fiel, tem sempre a eleição assegurada, se bem que os partidos do chamado arco da governação (PS, PSD e CDS-PP), pela posição que ocupam, estão sujeitos a maiores variações nos resultados eleitorais pelo facto de sobre eles recair a responsabilidade das decisões governativas, sempre na mira dos cidadãos. Face à crescente abstenção, o sistema político está cada vez mais refém da necessidade de uma maior legitimação dos cidadãos, que passa, também, por uma maior abertura dos partidos à perspetiva da participação dos movimentos de cidadãos, quer nas eleições autárquicas, quer nas eleições legislativas nacionais.

De acordo com os resultados das últimas eleições europeias e considerando a mais elevada taxa de abstenção de sempre, os últimos resultados, leva-nos necessariamente a uma séria reflexão sobre a qualidade da democracia que temos, como também, saber se existe necessidade de uma revisão do sistema político atual no sentido de minimizar a elevada tendência abstencionista. Poderíamos admitir, que esta reforma teria como principal objetivo, incentivar e/ou reforçar o protagonismo dos cidadãos na vida pública, levá-los à participação ativa na vida social e política, procurando sublinhar a credibilização da atividade política. Quando nos propomos avaliar a sensibilidade dos portugueses, relativamente ao nosso sistema político, podemos constatar a existência de um amplo consenso no que diz respeito à solidez de um regime democrático, pluralista e partidário. Embora este consenso seja representativo da demonstração saudável da prática democrática em Portugal, não deixando de existir uma enorme desconfiança por parte da população relativamente a esta classe, nomeadamente ao facto de que depois de eleitos, os representantes atendem pouco às expectativas e interesses dos eleitores. Neste sentido, caminhamos cada vez mais para a ampliação do fosso na relação eleitores vs eleitos. Chamar-se-ia talvez, o “tique” do partidarismo, tendo como preocupação central, a esfera do poder e a ocupação de cargos públicos, esquecendo as causas que defendem e pelas quais foram eleitos, preocupando-se apenas em garantir a sua própria estabilidade.

O Partido Socialista foi o vencedor das eleições aoSocialista ParlamenO Partido foi to Europeu em Sesimo vencedor das eleições bra, resultado refletido ao Parlamento Europeu pelos resultados apreem Sesimbra, resultado sentados em todas as refletido pelos resultafreguesias do concedos apresentados em lho. as freguesias do todas concelho. Com uma abstenção comum nível bastante elevado de cerca de 63% dos eleitores a não exercer o seu direito de voto, os resultados do PS foram expressivos com 34,61% dos votos, seguido da CDU que reforçou a votação, relativamente a 2009, mas não superou os socialistas, tendo terminado a noite eleitoral com 29,58% dos votos. Quanto à coligação PSD/CDS-PP também perdeu votos, no concelho de Sesimbra, tendo conseguido, apenas, cativar 19,02% dos sesimbrenses em condições de votar para eleger os representantes europeus. Por freguesias a vitória reflete o resultado global com o PS a liderar em Santiago com 35,38% contra 31,42% da CDU, 18,40% da “Aliança Portugal” (PSD/CDS-PP) e 6,88% do BE. Na freguesia do Castelo o BE alcançou 7,90% dos 4329 votos contabilizados, a Aliança Portugal não foi além dos 21,02%, enquanto que a CDU obteve 27,56%. A maior fatia dos votos coube, também aqui, ao PS com 34,65% da votação a ser atribuída aos socialistas. Na Quinta do Conde, 1682 (34,35%) seguiram a tendência e votaram no PS, 1509 (30,81%) optaram pelos comunistas, 854 (17,44) mostraram acreditar na coligação governativa e 375 (7,66%) depositaram a sua confiança no BE, votação resultante Dos 4897 eleitores inscritos. Já o Partido da Terra, teve, tal como a nível nacional, uma votação superior ao BE em todas as freguesias do concelho de Sesimbra com percentagens de voto na ordem dos 8%.


O SESIMBRENSE | 31 DE MAIO DE 2014

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CULTURA

Crónicas da Terra e do Mar

Sandra Carvalho escolheu a descoberta dos Açores, e todo o mistério e aventura que a envolveu, como tema escolhido para mais uma obra em dois volumes. É uma narrativa fascinante, que entretece com mestria verdade histórica e ficção, a realidade da sociedade portuguesa do século XV e a fantasia das personagens e dos cenários concebidos

pela autora. Este primeiro volume, centra-se nas histórias de vida dos fidalgos que o protagonizam, principalmente Constance, uma nobre inglesa enviada para Portugal para se casar com Gonçalves Vaz, conselheiro d’el-rei D. João I e senhor da valiosa herdade de Águas Santas; Nuno Garcia, um corsário implacável que integrou a expedição que

Dia da Criança

descobriu as ilhas dos Açores e salvou Constance de um ataque de piratas na viagem para Portugal. Leonor, é o fruto ilegítimo da paixão de Constance e de Diogo, um jovem corajoso e enigmático, protegido de Nuno Garcia e que Constance conhece durante a viagem. Outra das figuras de destaque é Guida, a escrava negra que cresceu com Leonor e que ela tem em grande estima, e Tomás Rebelo, o fidalgo malévolo que deseja a todo o custo assenhorear-se de Águas Santas para extrair daquele solo abençoado o poder que o tornará invencível. Intriga, ganância, amor, paixão e uma aura de misticismo, num romance absolutamente extraordinário. Uma obra apaixonante e que nos leva a viver um momento histórico de forma romântica, repleta de fascínio e segredos.

Poesia

Ao Pôr-do-Sol Quando a tarde cai, sobre a baía O mar, espelho dourado, fascinante E o céu envolve a terra de magia No sol descendo, em cada instante… Compasso lento, há paz, há melodia As gaivotas fazem pausa repousante… Na brisa, odor suave de maresia; A praia abraça o mar, o seu amante. E o morro, altivo, verdejante Recebe o sol, avermelhado em agonia Embarco no sonho, vou ser navegante Neste mar, ao sol pôr, no fim do dia, Tento parar o tempo, um só instante, Fica no espírito o êxtase da poesia. 1997

Álvaro Bizarro

Restauro de quadro quinhentista aberto ao público No decorrer deste mês, o público vai poder assistir aos trabalhos de conservação e restauro do quadro de Nossa Senhora da Misericórdia, uma obra ímpar da pintura portuguesa. A intervenção faz parte do programa comemorativo dos 10 anos da abertura ao público do Núcleo Museológico da Capela do Espírito Santo dos Mareantes. Em 2014, assinala-se uma década desde a reabertura ao público da Capela e do Hospital do Espírito Santo dos Mareantes, erigidos por mareantes sesimbrenses em finais do século XV. Para assinalar a data, vão decorrer diversas iniciativas para conservar e valorizar o espólio patente no edifício e que guarda um dos mais bem preservados hospitais medievais e uma valiosa coleção de arte sacra.

Desenho realizado por Diogo Lopes

No dia 1 de Junho celebramos o Dia Mundial da criança. Este dia celebra-se em todo o mundo desde 1950! Mas foi em 1990 que os direitos das crianças se tornaram lei. Depois da 2ª Guerra Mundial, em 1945 muitos países da Europa, do Médio Oriente e a China entraram em crise, ou seja, as crianças desses países viviam sem condições nenhumas porque não havia comida e os seus pais estavam mais preocupados em voltar à sua vida normal do que com a educação dos filhos. Algumas dessas crianças nem pais tinham. Como não havia dinheiro, a maior parte dos pais tiravam os seus filhos da escola e obrigavam-nos a trabalhar várias horas seguidas e a fazer trabalhos duros.

Em 1946, um grupo de países da ONU (Organização das Nações Unidas) tentou resolver o problema mas mesmo assim era difícil trabalhar para as crianças, uma vez que nem todos os países do mundo estavam interessados nos direitos das mesmas. Foi então que, em 1950, a Federação Democrática Internacional das Mulheres propôs às Nações Unidas que se criasse um dia dedicado às crianças de todo o mundo. Este dia foi comemorado pela primeira vez logo a 1 de Junho desse ano! Em Sesimbra, várias foram as iniciativas que marcaram este dia, uma forma de assinalar, educar e alegrar as crianças do concelho. Sofia Polido (Estagiária)

Até dia 1 de junho, cerca de vinte portas da vila de Sesimbra irão ser transformadas em verdadeiras obras de arte, no âmbito do concurso Sesimbra é Peixe e Arte na Rua, que conta com a participação de 11 artistas. A realização dos trabalhos

Portas viram obras de arte

está a ser feita “ao vivo”, o que permite a quem passa nas ruas apreciar e observar o trabalho de cada dos artistas. No dia, 31 de maio, Dia do Pescador, serão conhecidos os projetos finalizados. A iniciativa faz parte da campanha de promoção Sesimbra

é Peixe, que pretende ser um dos maiores atrativos do concelho, o seu excelente peixe. O concurso procura também enobrecer todos os fatores históricos, culturais, étnicos, paisagísticos e ambientais ligados a este produto e ao concelho


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Coluna da Liga: À Altura da História e do Futuro

nista,” sempre corajoso e empenhado nos projetos onde se envolve. Oriundo de pexitos humildes, frequentou, a Universidade de Lisboa, formou-se em Filosofia e História. A sua cultura, carisma e paixão por Sesimbra, fazem dele o diretor ideal. Félix Rapaz! Está bem acompanhado pela editora, Fátima Rodrigues, jornalista responsável por mudanças refrescantes e a funcionária Jovita Lopes, dedicada de corpo e alma. Praticamos a abertura à comunidade: Temos um naipe diverso de excelentes colaboradores, que honram antigos colaboradores como Reis Marques, incluindo

a recente “aquisição,” Carina Reis, dos Armadores de Pesca. O Sesimbrense tem, assim, as condições para honrar a história e contribuir para o futuro. O objetivo mais importante é que seja o elo de coesão entre as três freguesias do concelho, onde todos se revejam nas notícias e no debate plural. Nunca esquecemos que, estando sediada na freguesia de Santiago, a Liga já se chamou do Castelo. Além disso, esta direção sempre sugeriu no jornal, mais Quinta do Conde! Pedro Caetano, Presidente da Liga dos Amigos de Sesimbra

Sesimbra recebeu Conferencia de preservação da zona costeira

“Concelho tem fortíssimas tradições associadas ao mar” Decorreu entre os dias 12 a 16 de maio, em Sesimbra a conferência internacional sobre alterações globais dos sistemas costeiros (ECSA54 que reuniu mais de 250 investigadores de 40 países.

A problemática das alterações globais nos sistemas costeiros e a implementação de estratégias de conservação e gestão inovadoras e mais eficientes foi o tema da conferência. A sessão de abertura contou com a presença do presidente da Câmara Municipal, Augusto Pólvora, e do diretor do Centro de Oceanografia da Universidade de Lisboa, Henrique Cabral. Augusto Pólvora na sua intervenção, não deixou de

11.ª Assembleia Municipal de Jovens A sessão da 11.ª Assembleia Municipal de Jovens realizou-se no dia 10 de maio, na Escola Básica n.º 3 da Quinta do Conde.

LOCAIS A Liga dos Amigos de Sesimbra, proprietária de O Sesimbrense, a “mãe (1951) mais nova que o filho (1926),” está empenhada no sucesso duradouro do Jornal. O Sesimbrense tem tido ilustres diretores. Depois de cinco anos de dedicação, o diretor João Aldeia, competentíssimo, saiu por sua iniciativa. Após processo desafiante, conduzido com empenho por toda a direção e órgãos associativos, encontrámos e persuadimos, para o cargo voluntário, um dos filhos mais brilhantes e queridos da terra. Três vezes presidente de junta; questionador e anti “precaucio-

Alunos Quinta condense com cidadania ativa

saliente e agradecer a, “a escolha de Sesimbra para um acontecimento desta relevância para a preservação da zona costeira, ainda mais, porque este concelho e a comunidade têm fortíssimas tradições associadas ao mar”. O autarca referiu ainda o facto de Sesimbra continuar a ser um dos principais portos de pesca do país e ao crescimento das atividades ligadas à economia do mar, não apenas as que dependem diretamente da pesca, mas também

as de lazer que aqui encontram condições excecionais para o desenvolvimento ao longo de todo o ano. Henrique Cabral destacou a importância deste congresso na procura de soluções conjuntas para o assunto em debate, e agradeceu a colaboração de todas as entidades envolvidas nesta conferência que, para além de um vasto conjunto de sessões temáticas, incluiu um programa social que dá a conhecer a cultura, gastronomia e tradições locais. A ECSA54 é promovida pela Associação das Ciências Costeiras e Estuarinas, organização internacional fundada em 1971, que se dedica à promoção e avanço da investigação multidisciplinar sobre estuários e zonas costeiras, e é organizada pelo Centro de Oceanografia, da Universidade de Lisboa em parceria com a Câmara Municipal de Sesimbra.

Afonso Carvalho, líder de bancada da Escola Secundária de Sampaio, foi eleito presidente, e a acompanhá-lo na mesa vão estar a aluna Joana Faria, da Escola Básica Integrada da Quinta do Conde, como 1.º secretário, e João Correia, da Escola Básica 2, 3 Navegador Rodrigues Soromenho, como 2.º secretário. A eleição da mesa teve lugar no Cineteatro Municipal, no dia 23 de abril, e foi coordenada por Odete Graça, presidente da Assembleia Municipal de Sesimbra e mentora deste projeto de promoção da cidadania, que ao longo de 11 anos envolveu mais de 700 alunos e dezenas de professores. Importa referir que antes da eleição, os jovens tiveram oportunidade de visitar o Hotel do Mar, a ArtesanalPesca e a Escola Profissional Agostinho Roseta, que lhes deu a

conhecer um pouco melhor a pesca e o turismo, duas valências importantes no concelho, e ajudou-os a elaborar as propostas que vão apresentar amanhã. No âmbito da 11.ª Assembleia de Jovens, está ainda patente no Auditório Conde de Ferreira, até 24 de maio, a exposição dos trabalhos participantes na 7ª edição do concurso As Cores da Cidadania. Sensibilizar as novas gerações para a importância de uma cidadania ativa e para questões relacionadas com as funções e funcionamento dos órgãos autárquicos do concelho são os objetivos deste projeto que se iniciou em 2003 e desde então já envolveu cerca de 500 jovens e conquistou um lugar de destaque no programa das escolas, que reconhecem a sua importância na formação dos alunos.

Alertar a população para a prevenção

Feira da Saúde na Quinta do Conde Realizou-se entre os dias 17 e 18 de Maio a 1ª edição da Feira da Saúde da Quinta do Conde, no Parque da Vila que reuniu um simpático conjunto de espaços de divulgação de serviços, empresas e entidades ligadas ao sector da saúde que exercem a atividade na região. A iniciativa foi promovida pela Junta de Freguesia, em colaboração com a Câmara Municipal de Sesimbra, o evento incluiu ainda sessões de rastreios a várias especialidades junto da população quintacondense e colóquios sobre diversas patologias clínicas, com o intuito de chamar a atenção da comunidade mais idosa, para a importância da adopção de alguns comportamentos preventivos em matéria de saúde. Actividades culturais e des-

portivas; jogos tradicionais portugueses; demonstrações de yoga; tai-chi, pilates e terapia do riso, foram outras das actividades que completaram a ampla programação concebida para o mesmo espaço nos referidos dias, em resultado da realização simultânea de mais uma edição da Festa da Família e das Tradições, acontecimento anual que marca o calendário festivo da Quinta do Conde nesta época do ano, reunindo a participação de várias agentes associativos locais.


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DESPORTO

HORÓSCOPO

Ténis

Fábio Rocha sagra-se campeão Regional Absoluto

Concluiu-se ao final da tarde do dia 18 de Maio, a final do Campeonato Regional Absoluto da Associação de Ténis de Setúbal. Esta prova, que na sequência da candidatura do CETS, teve como cenário o aprazível Centro Municipal de Ténis, sito na Maçã, consagrou como campeão o jovem do Clube Escola de Ténis de Sesimbra, Fábio Rocha, nº 54 do ranking nacional. Após duas finais anteriormente perdidas em duras batalhas, o sesimbrense alcançou finalmente o almejado título, que há tanto tempo perseguia e merecia. Apesar de perder o primeiro set por 7/6, num parcial em que sempre tomou a iniciativa de atacar, o tenista da casa continuou a impôr um ritmo agressivo e avassalador, que culminou com espectacular vitória sobre Ivo Lapão, nº 23 do ranking nacional, que representa a Academia de Ténis João Marques(Almada), num encontro que se estendeu por duas horas e trinta minutos. O CETSesimbra, que foi o clube com mais jogadores inscritos, esteve ainda dignamente representado neste campeonato, pelos jogadores Marco Pires, André Aldeia, Jorge Ponte e o ainda júnior Leonardo Maricato. João P. Aldeia

Frio não desmotivou participantes

Meco Recebeu Légua Nudista Decorreu no passado dia 24 de maio a 2ª edição da Légua Nudista do Meco que contou com cerca de 60 participantes vindos de todo o país. Joaquim Fernandes, da apropriada equipa Os Afoitos, foi o vencedor.

Este ano a iniciativa incluiu a vertente de caminhada permitindo uma participação familiar. Com o apoio da FPN - Federação Portuguesa de Naturismo, CNC - Clube Naturista do Centro e Associação Lebres do Sado, a prova idealizada e organizada pelo atleta amador José Sousa conjuga o desporto amador com a vertente do nudismo. Na sua primeira edição cerca de 90% dos participantes fizeram a sua estreia em ambiente nudista ultrapassando o desafio lançado pelo organizador de correrem a nu. O pódio ficou completo com o individual Fernando Santiago, o 2º a cortar a meta e Fábio Prates (Asas do Millenium/ O Praticante), Isabel Pereira (GORL), 12ª da geral, foi a primeira senhora a chegar, à frente da individual Carla Graça e de Lisandra Oliveira (AA Banco Brasil). Segundo Júlio Esteves, presidente do Clube Naturista do Centro mostrou-se muito satisfeito com a adesão apesar do frio que se fazia sentir, “estamos satisfeitos pelo facto do número de participantes ter aumentado e destacamos aqui o aumento da participação feminina”. O responsável pelo clube referiu ainda que esta é uma forma de “promover o naturismo e em simultâneo a prática de atletismo e desportos ao ar livre”. Apesar de o sol não ter participado da iniciativa a alegria e o convívio entre os participantes deu a esta iniciativa o calor necessário para que Júlio Esteves aspire a que, “no próximo ano gostaríamos de ter mais pessoas a participar e a conviver nestas iniciativas que promovem a saúde e o bem-estar”.

“Choi Kwang Do na Música” Decorreu entre os dias 24 e 25 de maio, na Sociedade Musical Sesimbrense o Seminário de Choi Kwang Do que é uma variante do Taekwondo, que contou com a presença de mestres do Reino Unido. Com 25 anos de experiência nesta arte, o Mestre Keith Banfield 6º dan, o mestre Hugh Harper 5ºDan entre muitos outros, participaram nesta iniciativa que visava dar a conhecer esta arte que é nova em Portugal e na 1ª escola do país, Várias foram as pessoas que quiseram experimentar esta arte de defesa. No decorrer desta experiência inovadora decorreu ainda uma palestra dada pelo mestre Banfield para mestres e instrutores, sobre a arte, para ficarem a conhece-la melhor, Para todas as idades, não precisam ser praticantes de artes marciais.

Tiago Lopes


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Um Clube pensado para os sesimbrenses

“Queremos criar um clube de futuro”

O Grupo Desportivo de Sesimbra (GDS) foi criado em 10 de Agosto de 1947, atualmente encontra-se numa fase de restruturação e de novos desafios. O SESIMBRENSE falou com Sebastião Patrício que explicou como se encontra o clube e quais os desafios. Em que fase se encontra o Grupo desportivo? O grupo encontra-se neste momento numa fase de restruturação, como é do conhecimento público recentemente assinamos com a Câmara Municipal de Sesimbra, um protocolo de cedência pelo prazo de dois anos do complexo desportivo, um protocolo de gestão continuando o clube a ser proprietário do equipamento. As valências existentes continuam a ser asseguradas pelo clube pelo que este processo foi no fundo um balão de ar, que teve origem na sensibilidade do presidente da câmara para o momento que estávamos a viver. Neste momento o pavilhão está com obras de requalificação para que nos possamos instalar condignamente a partir de agosto, pois, na próxima época queremos já estar preparados para avançar e desenvolver as nossas áreas desportivas de vanguarda. Conseguimos assegurar a permanência da nossa equipa de futebol sénior na primeira divisão distrital o que para nós é um orgulho, e que foi um prémio para o treinador e para os atletas. Tal como a nossa equipa de hóquei que se manteve na nacional da segunda divisão com um excelente campeonato, premiando também todos os elementos da equipa. Uma das áreas que queremos restruturar já em setembro é a área da formação de competição em que queremos apostar e descobrir novos talentos em Sesimbra. Queremos agora desenvolver a formação no voleibol, no hóquei em patins do futebol, na natação e no

badminton. Áreas que são importantes e nas quais queremos apostar no futuro. Para além destas áreas temos ainda outras modalidades como a zumba, pilatos, hidroginástica, etc. Queremos criar um clube de futuro A cedência da piscina é na opinião do grupo desportivo uma forma de o salvar? Na verdade este protocolo veio salvaguardar um conjunto de situações que são de extrema importância. É de conhecimento público que a piscina não tinha o número de utilizadores necessários para se manter. Temos aqui um conjunto de pessoas ,funcionários do clube que viram desta forma assegurada a manutenção do seu posto de trabalho e esta foi uma das condições “sine qua non”, entre outras que foram consideradas neste contrato de cedência, esta foi uma questão de honra para nós e uma vitória importante. A autarquia percebeu e quero até nesta entrevista destacar a sensibilidade que o executivo camarário teve, para este problema que não é de agora e que já se vinha arrastando. Sinto-me triste porque o Sesimbra tinha necessidade de um equipamento assim. Nunca pensamos que esta obra era a salvação do clube, mas pensamos que era uma infraestrutura que se suportava a ela própria. A partir de determinada altura percebemos que isso não era possível a manutenção do equipamento é muito dispendiosa (gás, eletricidade, plano de água, funcionários e formadores). Esta situação desanimou-nos porque sentimos que

15 o nosso trabalho foi um pouco inglório e as pessoas por vezes têm alguma dificuldade em perceber. A esta situação associa-se o problema da vila com uma população deficitária, as pessoas deslocaram-se para outras freguesias a pesca está na situação que todos sabemos e o Sesimbra foi das instituições do concelho que mais se ressentiu com a crise económica e o fraco desenvolvimento do tecido empresarial. O numero de sócios diminuiu, as cotas e os apoios também. Neste momento temos dois importantes patrocinadores a DAGOL e a ARTESANAL Pesca, os restantes atravessam as mesmas dificuldades que todos nós. Sentimos que tínhamos de restruturar e aceitar que a mudança era fundamental. Toda a receita do clube era direcionada para a manutenção deste equipamento sendo uma situação insuportável. A par deste contrato renegociámos ainda os empréstimos que tínhamos, o que nos permitiu mensalmente poupar cerca de quatro mil euros. Para além deste compromisso temos outros que a câmara vai assegurar com a sua gestão a partir da próxima época. Asseguramos que algumas das valências continuassem a ser da nossa responsabilidade garantindo assim o mesmo serviço. Uma das questões que a população coloca é a garantia da qualidade dos serviços, vão continuar a apostar na qualidade? A qualidade vai ser assegurada a única diferença é que não vai ser necessário ser sócio, mas é evidente que nós apelamos ao associativismo e a que nos continuem a apoiar. Os protocolos com a autarquia, com as juntas e com as empresas vão ter continuidade. A qualidade do plano de água e dos técnicos é a mesma a gestão é que muda. Nas nossas valências teremos as mesmas atividades e com a mesma qualidade assegurada, pelo que conta-

mos com o apoio de todos os nossos utentes. Este é um equipamento que vai continuar a ser um orgulho para o clube e para a câmara, iremos trabalhar em conjunto para o sucesso. Considera esta cedência, dado ter sido um dos mentores do projeto, uma derrota pessoal? Sinto-me triste e tenho alguma dificuldade em falar disso. Eu fui um dos grandes pensadores desta infraestrutura, tenho-me sentido um pouco triste e desiludido, pois esta foi uma obra que pensamos no tempo. Tenho recebido o apoio de muitos amigos e entidades que me confortam. Sinto que foi uma derrota, porque eu gostava que o projeto que idealizamos se tivesse concretizado. Se fosse hoje não teria sido idealizado da mesma forma nem o volume infraestrutural, também o processo de construção e de apoios financeiros por parte do Governo, sofreu alguns contratempos que nos obrigou a um endividamento que não estávamos à espera. Não gostava que tivesse terminado neste tempo assim, acreditava que o concelho e a própria vila de Sesimbra tivessem outra capacidade financeira para nos ajudar, mas compreendo que as famílias têm muitas dificuldades e que o desporto aquático acaba por ser secundário nas suas necessidades. Não foi fácil, mas assumo com alguma tristeza este desenlace. Por outro lado sinto-me feliz por termos conseguido assegurar os postos de trabalho e o facto de não termos perdido este património. Acredito que neste momento podemos dar ao Sesimbra um impulso e qualidade nas outras áreas. Podemos sem subcarregar o clube dar-lhes mais qualidade. Nós estávamos a ficar sem discernimento e portanto este processo veio dar-nos alguma esperança, e veio dar-nos uma forma diferente de pensar o clube. Estou triste porque acreditava que era possível.

Alfarim destaca-se na acrobática No passado dia 3 e 4 de maio os ginastas de Acrobática do Grupo Desportivo de Alfarim, participaram no ACROMIX CUP 2014, trata-se de um Torneio particular desta área, organizado pelo Acromix Camarate Clube, cuja realização decorreu no Pavilhão Desportivo do Alto do Moinho – Catujal – Unhos. Os ginastas do clube participaram nos escalões de Nível II, Nível II, Nível IV e Open 1 (Iniciados). O grupo apresentou-se forte, tal como no Campeonato Distrital, com um leque de ginastas experientes, já habituadas às lides competitivas. Os resultados acabaram por revelar o enorme trabalho desenvolvido ao longo dos treinos, o que acabou por deixar Treinadoras e Ginastas bastante satisfeitas.

Foto de arquivo

Classificação: 14º - Xenia Marques / Ana Patrícia Rodrigues / Alice Santos 17º - Inês Garrau / Maria Cabeça / Cristina Cabeça 6º - Cátia Duarte / Ana Catarina Vicente / Margarida Azevedo 9º - Alexandra Oliveira / Marta Barão / Beatriz Saraiva


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