O Sesimbrense - Edição 1149 - Abril 2011

Page 1

ANO LXXXV • N.º 1149 de 30 de Abril de 2011 • 1,00 € • Taxa Paga • Monte Belo • Setúbal - Portugal (Autorizado a circular em invólucro de plástico Aut. DE00212011GSCLS/SNC)

Uma forte trovoada caíu sobre Sesimbra ao fim do dia 18 de Abril, proporcionando imagens espectaculares, mas provocando igualmente danos em diversos equipamentos informáticos e de telecomunicações.

Hortas Urbanas: À espera que a moda pegue

Efeméride

António Peixoto Correia: Liberdade e Responsabilidade Em Abril de 1909, António Peixoto Correia participou no Congresso Municipalista, onde os republicanos exigiram ampla autonomia para as Câmaras. O presidente da Câmara de Sesimbra concordou, mas acrescentou: a esse aumento de liberdade, terá de corresponder um aumento de responsabilidade. Foi vencido no Congresso, mas o futuro acabaria por dar-lhe razão. Página 16

Naufrágio no Espichel Pescadores de Sesimbra salvaram dois camaradas de Setúbal, havendo a lamentar a morte de um terceiro pescador. São recomendadas por especialistas, são um sucesso em países desenvolvidos, mas em Portugal continuam a ser vistas como “coisas de gente pobre”. Página 8

Congresso sobre Turismo e Ambiente

Página 10

Pedro Pires:

doutoramento em robótica Página 13

João Ferraria

O conhecido dirigente do Tridacna encontra-se nos Bancos da Terra Nova como observador das pescas. Página 5

Associativismo Liga dos Amigos de Sesimbra

Aprovados o Relatório e as Contas de 2010 Página 3

Sociedade Musical Sesimbrense

A SMS celebrou o 97º Aniversário, com estreia de um novo estardante oferecido pela ArtesanalPesca Página 4

25 de Abril O 25 de Abril deste ano foi comemorado em nítido clima de contenção financeira, mas foi assinalado por diversos corcertos e provas desportivas e pela inauguração de dois importantes equipamentos; o Centro de Inovação e Participação Associativa e novas instalações da Junta de Freguesia do Castelo. Página 12

Página 6

A verdadeira história do licor O Pescador Marcos Carvalho criou O Pescador mas, ao contrário do que se tem escrito, não foi ele o inventor da receita desta bebida, pois trata-se de um licor vendido há décadas em todo o país sob diversas designações: Eduardinho, Reizinho, Mulatinha, etc. O que ele criou foi a marca: o que é notável, atendendo aos poucos meios de que dispunha. Actualmente, duas outras marcas - Velho do Mar e Licor de Sesimbra - procuram capitalizar a criação de Marcos Carvalho, embora não possam usar a designação tradicional, registada noutra parte do País.

Empresas ArtesanalPesca

Com a aquisição da Tangerina Peixe, alargou a actividade à pesca de cerco. Página 14

A Toca do Leão

Leitaria, carvoaria, taberna, café, marisqueira e, finalmente, restaurante de referência. Página 12

Política A Assembleia Municipal aprovou dois novos empréstimos: um para reabilitação de 32 fogos municipais no Bairro do Zambujal, e outro para a construção da primeira fase do Bairro Infante D. Henrique. Na mesma sessão foi alterado o Regulamento Municipal de Águas Residuais. Página 10

Página 4

Desporto Hóquei

O Torneio Internacional de Hóquei terminou com uma final entre o Benfica e o Tordera (Espanha).

Ténis

Leonardo Maricato, vence o 1º Torneio do Mar, do Clube E. de Ténis de Sesimbra. Página 15


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

2

Editorial

LAS e ABAS assaltadas Nas últimas semanas ocorreu em Sesimbra uma vaga de assaltos a residências particulares e instituições, normalmente com o objectivo de furtar dinheiro e objectos de venda fácil no mercado negro.

Turismo e Ambiente Durante o Congresso Nacional de Turismo e Ambiente foi repetidamente afirmado que “Turismo e Ambiente não são incompatíveis”. A expressão não é isenta de ambiguidade. O que se pode afirmar sem ambiguidade é que “Turismo e Ambiente não são necessariamente incompatíveis”. Mas “podem ser incompatíveis”: uma lógica empresarial pura, no Turismo, pode prejudicar o Ambiente, assim como uma lógica conservacionista pura pode prejudicar as potencialidades de desenvolvimento daquele sector. Há uma grande diferença entre as duas formulações. No primeiro caso, o absolutismo da afirmação (“não são”) pode fazer-nos baixar as cautelas face a possíveis conflitos entre as duas lógicas. No segundo caso (“podem não ser”) torna-se mais evidente a necessidade de procurar as soluções para possíveis, e prováveis, conflitos entre as duas racionalidades - soluções que exigem diálogo entre os agentes de ambas estas lógicas de valorização da actividade humana: um diálogo difícil, trabalhoso, demorado, feito de paciência e persistência e, sobretudo, com a humildade de reconhecer que ninguém tem a solução óptima para os problemas, e que essa solução, ou soluções, exigem que cada um aceite compreender a lógica dos outros: algo que não é muito vulgar. A classificação de Portugal como o 4º país com maior risco de falência em todo o mundo, no contexto do ataque especulativo dos mercados internacionais, obriga-nos a negociar com o FMI e, consequentemente, a transferir para o exterior, durante alguns anos, as decisões de política sobre a nossa organização económica e social. Tratase de uma perda de soberania que, embora parcial e temporária (alguns anos…), não pode deixar de ser considerada como muito negativa. Mas há uma outra consequência, com impacto difícil de avaliar, que se pode revelar

igualmente grave: a degradação da imagem do País no estrangeiro, com reflexos negativos na procura de Portugal como destino turístico. A ideia que os povos fazem uns dos outros é baseada em muito pouco: podemos fazer uma ideia reflectindo sobre a ideia que cada um de nós faz dos outros povos: espanhóis, franceses, ingleses, americanos, etc. É por isso que nas campanhas de promoção turística de Portugal no estrangeiro se utilizaram as imagens de ícones tais como José Mourinho, Cristiano Ronaldo ou Mariza. Porém, a imagem que agora circula com maior visibilidade, sobre os portugueses, é a de um povo que não se consegue governar, que se endividou, que estende a mão à ajuda externa, etc. É verdade que nem todos os portugueses são assim, tal como nem todos são Mourinhos, CR7s ou Marizas: mas se os clichés funcionam nos casos que nos são mais favoráveis, também funcionam para os outros Os especialistas apontam como um critério muito importante para escolha do destino turístico, a Reputação desse mesmo destino. Ora a Reputação, como sabemos, pode ser boa ou má. Ela nasce, precisamente, da identificação com determinadas generalizações: “o povo que fez os Descobrimentos”, o povo que “gerou” os Mourinhos e as Marizas – exemplos simpáticos. Nós próprios nos encarregamos de valorizar essas narrativas edificantes, sabendo muito bem que os Descobrimentos também tiveram um “lado negro”, e que o País também gera muito oportunismo e incompetência. Como se não bastassem as previsíveis dificuldades empresariais com as medidas de austeridade que se anunciam para corrigir os desequilíbrios financeiros do país, a inevitável deterioração da nossa reputação no estrangeiro pode ter um efeito muito negativo no nosso turismo. Que fazer então? Qual a estratégia a adoptar? João Augusto Aldeia

Pescas - Março

Em plena Primavera, esperávamos mais acentuada produção de pesca. Houve, realmente, melhoria sobretudo no Arrasto e Cerco. A Artesanal equilibrou-se em relação a Fevereiro. Embora houvesse mais 300 mil quilos pescados, no totais gerais, os valores vendidos em lota só excederam 200 mil euros. Isto devido aos peixes miúdos (ainda magros) neste período, terem baixos preços. A crise nas pescas continua e a não se

vislumbrar luz ao fundo do longo tunel desta ancestral actividade. O desinteresse por esta profissão diminui dia a dia sem que “alguém” olhe por “ELA” com olhos de ver e consiga tirá-la deste marasmo que a todos penaliza, mormente Sesimbra e a sua gente, oriunda de um mar, rico e maravilhoso, cuja mais valia é olvidada por quem não a entende como tal; E, antes se obstina em criarem leis adversas ao labor quotidiano dos pescadores da pesca local. Pedro Filipe

com algum dinheiro. Para além do valor material do equipamento roubado, o furto não teve mais consequências pois não havia informação relevante nos equipamentos informáticos furtados. A ABAS, Associação de Beneficência, Amizade e Solidariedade, situada no Largo do Município, foi assaltada na madrugada de dia 11 de Abril. “Levaram-nos um telemóvel, um LCD e pior: dinheiro que tínhamos para Instalações da Liga dos Amigos de Sesimbra após assalto no dia 5 pagar algumas despesas, pagamentos de manhã, pela funcionária da Liga que pessoas, dinheiro de reformas e pense deparou com gavetas abertas, dosões de idosos”, refere a presidente da cumentos espalhados, algum dinheiro Associação, Maria João Vargas, enem falta e material informático roubado. quanto nos mostrava a desordem em A porta não apresentava sinal de arque os ladrões deixaram a Associação. rombamento e, apesar de ali existirem Os assaltantes dirigiram-se, em primais computadores, “não foi levado meiro lugar, ao espaço de convívio da mais nenhum material informático. instituição, de onde levaram a chave Talvez por se tratar de materiais mais da secretaria, que se situa no mesmo antigos do que os que foram roubados”, largo. referiu-nos a funcionária. A GNR, chaNa secretaria os estragos foram mada de imediato ao local, tomou os maiores, “aqui andaram à procura de devidos procedimentos. dinheiro, remexeram em tudo, as gaAs instalações onde funcionam os vetas estão no chão, até uma prenda serviços administrativos datam da embrulhada abriram para verem”. fundação do jornal em 1926, onde Era com tristeza e revolta que as funcionou durante décadas a redacção pessoas que por ali passavam teciam d‘O Sesimbrense. O espaço pertencia comentários, “isto está a ficar perigoso, ao fundador do jornal, Abel Gomes Pólaté já assaltam casas que vivem para vora, que tinha residência no primeiro fazer o bem.” E houve também quem andar. Não é a primeira vez que a Liga dissesse que : “quem fez tal coisa foi assaltada, já tendo sido na década conhecia bem o sítio e sabia onde dos anos 90, onde levaram um cofre procurar”. Andreia Coutinho Na madrugada do dia 5 de Abril foi a vez da Liga dos Amigos de Sesimbra, cuja sede se situa na rua da República. O alarme foi dado às 8:30 horas da


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

ONDULAÇÕES

3

Um monumento ao Padre Carlos Rectificação Na edição 1148 de Março de 2011 do Jornal O Sesimbrense, no artigo com o título acima indicado, escrevemos involuntariamente um erro que queremos rectificar. No referido artigo, onde se lê Câmara Municipal de Peniche deve ler-se Câmara Municipal de Sesimbra. Pelo sucedido, apresentamos as nossas desculpas a todos os leitores do Sesimbrense e de um modo especial à Câmara Municipal de Sesimbra. Joaquim Jorge

Há uns meses, um órgão de comunicação social solicitou a minha opinião sobre as razões que terão imposto a anterior intervenção do FMI em 1983, e sobre a inevitabilidade desta terceira intervenção a que estamos obrigados, tais os caminhos que os sucessivos governos nos impuseram. Este pedido obrigou-me a rever o que se tinha passado em 1983 e a comparar os sentidos de responsabilidade dos dois governos, o governo socialista de Mário Soares em 1983 e o de José Sócrates em 2010 e a comparar a acção serena, técnica, social e política de Hernâni Lopes com a acção confusa e sem rumo de Teixeira dos Santos. No que à primeira intervenção respeita, pedi à minha interlocutora que me acompanhasse a recuar no tempo, para analisarmos a influência da ditadura, vivida em Portugal de 1926 a 1974, na vida política dos primeiros anos de democracia. Após quase meio século de ditadura, deu-se a revolução dos cravos, levantamento popular e militar que nos restituiu a liberdade e que empossou os governos provisórios que puseram em funcionamento os órgãos democráticos que prepararam a realização de eleições democráticas e livres. De Maio de 1974 a Julho de 1976, foram empossados, sucessivamente, seis governos provisórios que governaram durante vinte e seis meses, com uma média de pouco mais de quatro meses, cada um, governos que nem tinham tempo para ler as pastas que recebiam dos governos anteriores. Posteriormente, realizadas as eleições legislativas, foram empossados, sucessivamente, os primeiros governos constitucionais, todos eles sem maioria parlamentar, com uma média de vida inferior a dez meses, cada um. Quer num caso, quer noutro, este tempo médio de governação foi, insuficiente para a normal marcha dos negócios políticos. Só em Junho de 1983, com a tomada de posse do nono governo constitucional, foi possível conseguir um governo de coligação partidária socialista/socialdemocrata, que veio a dispor de maioria absoluta, e que poude governar vinte e nove meses. A democracia fora garantida no primeiro momento possível, antes que pudessem ser abalados os magros alicerces conseguidos. Estes resultados só puderam ser alcançados porque as direcções dos dois maiores partidos, PS e PSD, fortemente amparadas pelos seus militantes, aceitaram a formação de uma coligação, empenharam-se em conseguir uma maioria absoluta parlamentar e apresentaram um governo

sólido e unido. Formado o governo, este foi célere a “solicitar” a intervenção do FMI que, para além de nos ajudar a resolver as dificuldades financeiras herdadas, avalisasse, perante os países europeus, a nossa entrada na grande Comunidade. O FMI, fundo monetário, não faz milagres mas, sem o seu apoio, as dificuldades para que as Comunidades nos aceitassem podiam tornar-se intransponíveis. Eram conhecidos os nossos problemas com a exagerada dimensão da nossa administração pública. Eram conhecidas as nossas dificuldades de poupança interna, familiar e pública. Era conhecida a nossa propensão para gastar muito acima das nossas possibilidades. Era conhecida a baixa produtividade dos nossos meios de produção. O costume. Dificuldades que são do conhecimento dos leitores e que nos acompanham há séculos. Passados cerca de vinte e cinco anos, aqui estamos de novo à procura de uma nova bengala. Como é possível que o governo, que os partidos políticos, que todas as nossas forças democráticas, não se empenhem numa solução política semelhante à que resultou em Junho de 1983? Em 1983, a dimensão humana, social e partidária dos políticos portugueses era considerável. O suporte que os militantes ofereciam a esses políticos e aos directórios dos partidos era diferente e havia sido, forjado no período de luta contra a ditadura. Esta dimensão e este suporte e a familiaridade que ia “abraçando” dirigentes, militantes e simpatizantes mantiveram-se muito altos entre 1976 e 1990. Importa reconhecer que, até os partidos, já não são o que eram antes. Como o afirmei nas minhas últimas Ondulações de fim de Março, tenho sentido muitas dificuldades em compreender as linhas de rumo que Sócrates traçou ao seu governo e as formas de que se têm revestido algumas das posições e decisões por si assumidas, com destaque para as económicas, financeiras e políticas. A sua política tornou inevitável a presença da “troika”. O tempo perdido antes do pedido de intervenção e a “mendigagem” junto das bancas ainda hoje me parecem inaceitáveis e erradas. Nos últimos dois meses, o governo passou do erro para a cambalhota. Sócrates que durante anos não necessitou, nem desejou qualquer tipo de ajuda externa e, muito menos do FMI, demite-se e de seguida solicita a sua intervenção. Sem quaisquer explicações. Vá lá entendê-lo. Eduardo Pereira

Expedição humanitária a Marrocos Carlos Sargedas, fotógrafo sesimbrense, ingressou na expedição humanitária a Marrocos, que durou 12 dias. A expedição visitou a escola de M Habib onde foi montado um parque infantil e entregue material escolar. Estiveram ainda numa escola situada no deserto, onde foram distribuídos igualmente, materiais escolares e brinquedos. Segundo Carlos Sargedas “levar sorrisos a Marrocos foi a nossa missão!”

Festa das Chagas

A procissão do “Senhor para Cima”, que acompanha a imagem do Senhor Jesus das Chagas desde a capela da Misericórdia até à Igreja Matriz, teve lugar no dia 9 de Abril. Com esta procissão dá-se início às Festas do Senhor das Chagas, cujo tema, este ano, é o “grelhador”, procurando, de acordo com o Padre Manuel Martins da Silva, “envolver nele a restauração que nos serve o peixe do nosso mar, tão apreciados por residentes e turistas”. A grelha com peixe aparece igualmente no cartaz da festa e as tradicionais novenas, que decorrem de 24 de Abril a 2 de Maio,

às 21:30, fazem referência, cada uma delas, a uma das letras da palavra “grelhador”. Também têm lugar os habituais peditórios: dia 30 de Abril na freguesia do Castelo e dia 1 de Maio a “tirada”, pelas ruas da vila, acompanhada pela Banda da Sociedade Musical. No dia 3 de Maio, pelas 18:30, será celebrada a Missa das Cinco Chagas do Senhor, culminando com a grande procissão do dia 4 de Maio, a partir das 17h. No final da procissão haverá Sermão na Matriz, com Te Deum, regressando depois a sagrada imagem à Capela da Misericórdia.

Liga dos Amigos de Sesimbra:

Aprovação do Relatório e Contas de 2010 Em Assembleia-Geral da Liga dos Amigos de Sesimbra, no passadod ia 31 de Março, foram aprovados os documentos da gestão do ano transacto, tedo sido igualmente aprovado, por unanimidade, um voto de louvor à Direcção. Entra as actividades realizadas em 2010 mereceu destaque o ciclo de Conferência sobre o Centenário da República, bem como a alteração estatutária. Foi ainda referida a renovação da certificação da Liga como microempresa. No domínio das contas, foi apresentado um resultado positivo de 7.136 euros. Há contudo alguma excepcionalidade neste resultado, pois em parte ficou a dever-se ao não pagamento de salários num período em que o jornal esteve sem jornalista estagiária, e também sem uma das funcionárias administrativas: situação que não deverá Faleceu no passado dia 17 de Abril, Paulo Jorge Horta da Silva Marta, de 42 anos de idade. O falecido era filho de Jorge Marta, o conhecido membro da Liga dos Amigos da Lagoa de Albufeira e

repetir-se, nos mesmos moldes, em anos seguintes. Sem essas “medidas extraordinárias”, o resultado seria ainda positivo, na ordem dos 2.528 euros. Verificou-se uma quebra nas receitas de publicidade, face ao ano anterior, que se explica pela excepcionalidade da publicação, em 2009, de diversas escrituras notariais. A publicidade as montras registou um ligeiro aumento. Ainda assim, a Liga mantém em dia os pagamentos aos Estado e aos seus fornecedores, e conseguiu em 2010 realizar um importante investimento numa fotocopiadora de alta resolução, bem como de 3 novos computadores. No seu relatório a Direcção manifestou uma lembrança de gratidão para com dois associados: a Eduardo Pereira que desde “há vario anos nos tem enriquecido com as suas “Ondulações”, e a Pedro Filipe pela constância na análise das estatísticas das Pescas. que tem desenvolvido bastante actividade de voluntariado no domínio da rede social de apoio às pessoas com carências alimentares. Ao senhor Jorge Mata e restante família, O Sesimbrense e a Liga dos Amigos de Sesimbra apresentam sentidas condolências.


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

4

A verdadeira história do licor O Pescador teoria económica. Criar uma marca e torná-la conhecida do público, pode ser tão importante como criar o produto que essa marca representa. Para além de criar a designação, o empreendedor sesimbrense começou a engarrafar o licor com meios artesanais, em garrafas reutilizadas e com rótulos desenhados à mão: só mais tarde seriam impressos em tipografia. O mesmo licor, produzido em fábricas especializadas e adquirido em garrafões, tanto por Marcos Carvalho como por outros estabelecimentos, era vendido por toda a Sesimbra - mas só Marcos Carvalho é “Velho do Mar” e “Licor de Sesimbra”: que o podia, obviacom mais ou menos açúcar, mais ou mente, vender sob a menos aniz, trata-se da mesma bebida. designação que ele próprio criara. Um momento crucial da propagação A história do licor O Pescador da marca ocorreu aquando da tem sido um pouco mal con- visita a Sesimbra de uma Miss tada: teria sido uma criação de Mundo. Acompanhada da imMarcos Carvalho, em meados prensa e televisão, a “vampe” do século passado, quando era esteve no largo da Marinha, proprietário do estabelecimento assistiu à lota e foi ao café de O Nosso Café, no Largo da Marcos Carvalho, onde provou Marinha. Mas não é bem assim. O Pescador. A divulgação desta Marcos Carvalho criou, sim, a visita trouxe então grande notomarca “O Pescador”, mas não o riedade à marca sesimbrense. licor. Este não é senão um licor Mas os tempos passaram, e muito vulgarizado em Portugal, quando o seu estabelecimento e que teve grande notoriedade - então o Barca Delta, na rua com o nome de “Eduardinho”, Serpa Pinto - passou a restaua conhecida casa lisboeta da rante, deixou de produzir o licor: rua do Coliseu. O sucesso do “A quantidade que se vendia no Eduardinho despoletou uma restaurante não compensava série de cópias, com nomes o engarrafamento”, revela-nos tão sugestivos como Reizinho, o filho, José Augusto, actual Mulatinha, etc., e O Pescador proprietário. foi mais uma dessas criações duma marca. O “renascimento” da marca Esta realidade não tira mérito à iniciativa de Marcos CarvFoi Vasco Alves quem se alho: a criação de uma marca lembrou de voltar a produzir é algo muito valorizado pela o O Pescador. Mandou até

Ond@Jovem2011 Durante os dias 8 e 25 de Abril, decorreram várias actividades organizadas pela Ond@Jovem com o objectivo de fomentar o convívio entre os jovens. Designada Quinzena da Juventude, acolheu vários jovens entre as 80 iniciativas que fizeram parte do programa desta 6ª edição, entre as quais espectáculos de música e teatro, uma mostra de curtas, passeios pedestres, baptismos de voo em parapente e diversos workshops, dinamizadas na grande maioria pelo movimento associativo local. A Ond@Jovem 2011 é uma iniciativa da Câmara Municipal em parceria com as juntas de freguesia e organizações aderentes.

fazer a análise química de uma das garrafas ainda existentes, análise que veio provar que se tratava da mesma receita vendida sob outras tantas designações. Basicamente, para além da água e da base alcoólica (aguardente vínica, no volume de 20%), a bebida leva aniz, caramelo de açúcar e pouco mais. É claro que se pode pedir ao fabricante para colocar um pouco mais, ou menos, de aniz, ou de caramelo, e dessa forma alterar um pouco o sabor da bebida, mas continua a ser o mesmo licor, eventualmente mais doce, eventualmente mais anizado.

Mas surgiu um problema com esta marca sesimbrense: quando Vasco Alves a quis registar, em 1986, descobriu que já um comerciante de Castelo Branco se tinha antecipado: não podia ser usada. Vasco Alves resolveu então o problema da seguinte forma: deu à bebida a designação ofical de Velho do Mar, e colocou no rótulo, por baixo: Pescador. E quando o promove na sua loja, chamalhe Pescador, e não Velho do Mar - uma marca quase desconhecida. O que é interessante é que um outro comerciante sesimbrense, o sr. Tomé, do café

Marzul - e que durante muitos anos também vendeu o mesmo licor no seu estabelecimento, começou a engarrafá-lo, criando uma outra designação: Licor de Sesimbra, mas colocando também no rótulo, bem visível, a marca O Pescador. Dois licores que, no fundo, são a mesma bebida, com a mesma forma de garrafa, ambas vindas da mesma fábrica (o sr. Tomé não nos quis confirmar este facto, mas é o mais provável), ambas aproveitando-se de uma marca que, afinal, não é propriedade de nenhum deles, nem sequer da família de quem a criou. J. A. Aldeia

A “prova dos nove”

O Sesimbrense resolveu fazer uma prova “cega” dos dois licores. Comprámos as duas garrafas e, à temperatura aconselhada, fomos até à Sociedade Musical Sesimbrense, e pedimos a vários pescadores - quem melhor para testar O Pescador? - que provassem as duas bebidas, em copos que não identificavam qual delas era. Há de facto alguma diferença entre as duas bebidas, detectada por todos os que a provaram, mas que não fazem delas duas bebidas diferentes: trata-se da mesma bebida, com a mesma composição, diferindo apenas na maior ou menor quantidade de açúcar: a maioria considerou que o licor Velho do Mar era mais doce. Esclarecido este “mistério”, deve destacar-se, uma vez mais, o mérito de Marcos Carvalho na criação desta “marca”, com meios tão limitados e numa época em que a importância dos activos imateriais (é essa a natureza duma qualquer marca comercial) não era tão conhecida. Infelizmente, não é uma marca que tenha “pernas para andar” e para se propagar muito para além de Sesimbra, dada a limitação imposta pelo facto do registo estar na posse de outra entidade. A não ser que pudesse ser “comprada” para Sesimbra...

97º Aniversário da Sociedade Musical Sesimbrense Tiveram lugar a 19 de Abril as comemorações do 97º aniversário da Sociedade Musical Sesimbrense, que contou com uma sessão solene onde estiveram presentes o Presidente da Câmara, Augusto Pólvora, o Governador Civil, Manuel Malheiros, a presidente da Freguesia de Santiago, Ana Cruz, além de representantes da Assembleia MUnicipal e outras entidades e associações. Um dos pontos altos das comemorações foi a oferta de um novo estandarte para a Banda, oferta feita pela organização de pescadores ArtesanalPesca, com a presença dos respectivos dirigentes, Manuel José Pólvora

Santos e Manuel José Pinto Alves. O novo estandarte foi abençoado pelo pároco de Santiago, Padre Manuel José

Silva. A sessão contou ainda com um excelente concerto pela Banda da Sociedade.


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

5

João Ferraria nos bancos da Terra Nova

Quais são as suas funções a bordo? Eu sou observador e as minhas funções a bordo são as de reportar as artes de pesca utilizadas a bordo (se cumprem ou não os requisitos), e quantificar o pescado por espécie, processamento e área de pesca. Como estiveram as condições atmosféricas ao longo da missão? Houve momentos difíceis? Apanhámos 40 dias de mau tempo mal chegamos à Terra Nova. As condições climatéricas eram muito incertas: podiamos ter bom tempo de manhã e uma tempestade enorme durante a tarde. Os momentos dificeis estão sempre presentes no nosso dia a dia, nunca vivemos momentos dramáticos, mas sim complicados. Mas tivemos ventos na ordem dos 70 a 80 nós e ondas de 13 a 14 metros. Foi

João Ferraria, o conhecido sesimbrense, dirigente da Tridacna, mudou há alguns meses a sua residência para os Açores, e começou a participar em acções de monitorização a bordo de barcos pesqueiros, nos bancos da Terra Nova. Sesimbra tem podido

acompanhar a actividade deste conterrâneo através da Internet, e nomeadamente do Facebook, onde João Ferraria tem publicado belíssimas fotos da sua aventura marítima. Aproveitámos a sua recente vinda a Sesimbra para lhe fazer uma pequena entrevista.

muito duro. É um trabalho solitário, ou há um ambiente de camaradagem a bordo? Há muitas nacionalidades entre a tripulação? O trabalho é uma mistura de solitário e social, andamos com a tripulação enquanto estão a fazer as manobras, processamento de pescado, reparações, acompanhamos as operações na ponte, etc. E é solitário porque estamos isolados do mundo e a nossa vida quotidiana resume -se ao navio. Existe um espirito de camaradagem e entreajuda muito forte entre a tripulação: afinal dependemos todos uns dos outros. A nossa tripulação era de 29 portugueses, 2 ucranianos e um

espanhol. Há também barcos portugueses naquela zona? E pescam o quê? Existem várias nacionalidade a pescarem naquela

car. Os navios da nossa frota fazem arrasto de fundo com portas a popa. Os outros barcos, depende, arrasto pelágico etc. E os portugueses ainda continuam a ter uma presença

área. Nós contactamos todos os dias com portugueses, desde que estejam lá a pes-

em St. Johns. Eu fiquei com uma boa impressão da cidade, é muito agrádavel, existe lá

Maria Eugénia Braz 90º aniversário

Comemorou-se no dia 13 de Abril, o 90º aniversário de Maria Eugénia Monteiro Caldeira Alvim Pólvora Braz, com um jantar no restaurante Ribamar onde estiveram numerosos familiares e amigos da aniversariante. Maria Eugénia Braz tem na sua linha de ascendência familiar importantes figuras da história sesimbrense, tais como Carlos Caldeira da Costa e António Gomes Pólvora, seus bisavôs materno e paterno, respectivamente, e era filha de Maria Eugénia Monteiro Caldeira e Abel Gomes Pólvora, este último fundador do jornal O Sesimbrense. Maria Eugénia casou com José Pinto Braz, e, juntamente com o seu marido, partilhou a responsabilidade na fundação e gestão do Hotel Espadarte, com relevantes serviços prestados ao turismo sesimbrense. Parece manter-se nos nossos dias o tabu que determinava a

ocultação do papel da Mulher quando colaborava com o marido em qualquer iniciativa de mérito. O papel de Maria Eugénia Braz continua, ainda hoje, a não ser salientado ou sequer referido, mas contribuiu significativamente para o investimento naquela unidade hoteleira e administrou o respectivo pessoal e serviços de alojamento, sendo de assinalar que vários dos antigos funcionários do Hotel Espadarte marcaram ontem presença no seu aniversário. Maria Eugénia acompanhou também o marido na criação da empresa Turipesca, em 1975, na Madeira A filha de ambos, Geny Braz, foi a grande organizadora da festa, e solicitou-nos que agradecessemos a todos os presentes, bem como aos que não puderam estar por motivos diversos, pedindo ainda desculpa a quem não foi possível convidar, dada a limitação da sala onde se realizou a festa.

uma igreja que foi feita por portugueses se não estou em erro, pelo que me disseram a bordo. Também vimos fotos suas com a embarcação no meio de vagas enormes. Consegue-se comer, ou sequer dormir, nessas condições? Quando existem vagas grandes, tudo fica muito mais dificil, as tarefas mais banais, como lavar os dentes, tomar banho, comer, caminhar,escrever, etc., tem tudo que ser feito com muito cuidado e dormir, só mesmo vencidos pelo cansaço, porque o balançar do navio, os ruídos constantes da chapa a ranger e as ondas a baterem no casco é um bocado complicado. Foram muitas noites passadas de olhos abertos. E a próxima missão vai durar até quando? Em relação à minha nova missão só recebo a data de embarque, porque o desembarque é sempre uma incógnita: pode demorar desde poucas semanas até 4 ou 5 meses.

Banco de Equipamentos e Ajudas Técnicas No dia 20 de Abril, após a reunião Ordinária da Câmara Municipal de Sesimbra, foi assinado o protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Sesimbra e o Agrupamento de Centros de Saúde Península de Setúbal II – Seixal e Sesimbra, representado pelo director executivo Luís Amora. Este protocolo visa a constituição do BEAT, Banco de Equipamentos e Ajudas Técnicas, que prestará apoio a pessoas em situação de dependência e/ou dificuldades de mobilidade temporária ou definitiva, a nível de equipamentos, tais como, cadeiras de rodas, camas ortopédicas, bengalas, andarilhos, e ou-

tros instrumentos hospitalares oriundos de clínicas e hospitais escandinavos. Esteve presente como representante do Rotary Internacional, Teresa Mayer, e o presidente da empresa DAGOL, José Manuel Vacas, parceiros importantes para a realização desta ajuda humanitária, tal como a fundação AGAPE, uma organização não governamental sueca, que disponibiliza os equipamentos. O Rotary e DAGOL co-financiaram uma verba de 13 mil euros para o transporte dos equipamentos vindos da Suécia Augusto Pólvora, Presidente da Câmara Municipal de Sesimbra refere a importância de uma entidade individual e

isenta como o Agrupamento de Centros de Saúde de Sesimbra e Seixal, para a atribuição de forma correcta, dos equipamentos a quem mais necessita. À Câmara Municipal compete a armazenagem destes equipamentos e o seu transporte quando necessário. A cerimónia foi aproveitada para a distinção de Augusto Pólvora e José Manuel Vacas, com o título Paul Harris. Esta distinção (uma das mais distintas do movimento rotário), entregue por Teresa Mayer em nome do Rotary Internacional, visa reconhecer a contribuição dos homenageados perante a sociedade. Andreia Coutinho


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

6

“Nosso Ideal” salva náufragos A embarcação sesimbrense “Nosso Ideal” salvou dois dos três tripulantes da embarcação que naufragou na madrugada de 7 de Abril, ao largo do Cabo Espichel. Tratava-se de uma pequena embarcação de Setúbal, “Pérola do Bom Sucesso”, assim se chamava o barco com 9 metros que levava a bordo 3 tripulantes, apenas dois foram salvos com vida. O barco “Nosso Ideal” foi o primeiro a chegar ao local, procedendo de imediato aos primeiros socorros. Francisco José Sanches, mestre desta embarcação, conta-nos que ao sair para o mar nessa madrugada, juntamente com mais quatro companheiros de pesca, Henrique Amigo da Cruz, Sebastião Simões e José Malhado, já se falava num naufrágio, “diziam que 6 pescadores tinham morrido mas ninguém sabia pormenores.” Francisco Sanches e sua tripulação fizeram-se ao mar, “nisto ouvimos uma grande algazarra que ecoava pelas rochas. Acendemos as luzes, voltamos atrás e apontei um projector na direcção do ruído.” Qual o espanto de Francisco e os seus companheiros quando se depararam com uma pessoa agarrada a uma bóia de esferovite, “mandámos de imediato uma bóia de salvamento mas tal era o estado do homem que teve dificuldade em agarrá-la”. Segundo Francisco Sanches, o salvamento do primeiro náufrago deu-se por volta das 05:45 horas, tendo sido, pouco depois, resgatado o segundo tripulante com vida. Os pescadores contam-nos o estado do primeiro tripulante a ser socorrido, de 73 anos: “já não aguentava muito mais tempo, quando entrou no barco estava já a entrar num estado de hipotermia, coloquei rapidamente o meu casaco pelos ombros”, conta um dos presentes

ainda em choque. “O outro pescador de 41 anos não estava perto, tivemos que rumar para leste”, apontam ainda o facto de estar vestido e por ser mais novo não estava tão debilitado. O mestre Francisco conta que na noite anterior cruzou-se com a embarcação agora naufragada. Francisco fez uma pausa, a voz falha-lhe e os olhos brilham quando recorda a trágica noite. “Na noite anterior cruzamo-nos e cumprimentamo-nos, quis o destino que, na noite a seguir, salvássemos dois daqueles três homens.” A polícia marítima acabou por chegar quando a embarcação que os salvara vinha a caminho para terra, de forma a diminuir o tempo de socorro, principalmente, ao homem de 73 anos que se encontrava em estado crítico. Segundo declarações ao Sesimbrense, o Sr. Comandante Duarte Cantiga, Capitão do porto de Setúbal, o socorro foi pedido pelas 4:55 h da manhã, pelas 7:40h, foi encontrado já sem vida, o corpo do terceiro tripulante. A vitima mortal tinha 63 anos de idade. A operação de resgate contou com uma lancha da Polícia Marítima, uma lancha do Instituto de Socorro a Náufragos, uma fragata da Marinha Portuguesa e ainda um helicóptero da Força Aérea. Andreia Coutinho

Mau tempo:

trovoada atingiu concelho de Sesimbra Na noite de 18 e madrugada de 19 de Abril, registaram-se períodos de chuva forte e de trovoada no concelho de Sesimbra. Durante longas horas foram várias as descargas eléctricas admiradas por uns, temidas por outros. Alguns relâmpagos tinham apenas intervalos de

segundos que anteviam ou acompanhavam os fortes trovões. Esta ocorrência agitou muitos populares, que afirmaram nunca terem visto nada assim. Segundo a Protecção Civil Municipal e os Bombeiros Voluntários de Sesimbra, apesar do mau tempo sentido, não foram registados danos materiais. No entanto, O Sesimbrense apurou que se verificaram danos em algumas instalações electricas dos serviços da câmara, tendo ficado danificados alguns computadores. Andreia Coutinho


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

7


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

8

Hortas urbanas: à espera que a moda pegue As vantagens das hortas urbanas têm sido apregoadas há décadas em Portugal: e elas existem, só que são socialmente desvalorizadas. Em países como a França, a Inglaterra ou os Estados Unidos, constituem um importante contributo comunitário para o Ambiente e para o bem-estar de quem as promove. Mas em Portugal o preconceito comum associa-as à pobreza e a uma certa marginalidade.

A Câmara do Seixal promoveu, no início de Abril, um Congresso Internacional de Agricultura Urbana e Sustentabilidade, onde vários especialistas apresentaram comunicações sobre as inúmeras vantagens das hortas urbanas: são ecológicas, contribuem positivamente para a economia familiar, tal como podem contribuir para melhorar a balança alimentar do nosso País (que importa a maior parte da comida), podem ter objectivos solidários, podem diminuir o impacto poluente do transporte de alimentos, ajudam a aliviar o stress da vida urbana, promovem a matriz identitária – pois Portugal foi um país agrícola durante a maior parte da sua existência. De todas as nossas “tradições” que podem ser objecto de valorização, a agricultura caseira, tal como a pesca artesanal, são certamente das mais antigas – e, no entanto, são ignoradas, enquanto se destacam outras “tradições”, por vezes meras superficialidades com ar “antigo” mas que nem cem anos têm. Em muitos paises europeus e da América do Norte, são os municípios que promovem a instalação de pequenas courelas, alugadas normalmente a um preço simbólico. Nalguns casos os “hortelãos urbanos” nem sequer consomem os produtos que cultivam: oferecemnos para fins sociais. O arquitecto Ribeiro Teles foi pioneiro – e tem sido insistente – na promoção das hortas urbanas. Há várias décadas que muitos Planos Directores Municipais apontam a necessidade de se promover este tipo de uso da terra, utilizando embora designações diferentes: hortas sociais, hortas comunitárias, etc. O PDM pioneiro de Setúbal, de 1978, já as previa, localizadas numa determinada zona da Várzea de cidade, mas nunca viram a luz do dia. No entanto, as hortas urbanas existem em Portugal: desprezadas pelo “português médio”, são realizadas por emigrantes de baixos rendi-

mentos e outras franjas da sociedade, ou então por (escassos) cidadãos que ainda mantêm uma forte ligação com a Terra e a Agricultura. Porém, em geral, são encaradas de modo preconceituoso: parece haver vergonha em começar uma pequena horta nas próximidades de casa, por se associar à pobreza. Será que o País se considera rico e acima dessas necessidades ? Mas, quem sabe, talvez o País não seja tão rico como pensa...

*** Em Sesimbra, também há hortas urbanas: meio escondidas, tentam passar despercebidas, pois há a conciência de que não são projectos valorizados pela sociedade. Não há muito tempo que o conhecido Touguia foi “expulso” da hortinha que tinha começado no morro do Alcatraz, sobre a Prainha. Nos terrenos a seguir ao edifício do Tribunal, ´sobranceiros à praia da Califórnia, onde há décadas existiu uma mina de gesso, fomos encontrar António Moura Glórias, com uma pequena horta onde se destaca uma pequena plantação de favas, mas onde também tem alfaces e cebolas, que ele próprio semeou e depois transplantou. Tem também uma pequena construção de apoio à horta, e desde que ficou desempregado da construção civil – há cerca de ano e meio – viu-se na contigência de ter de residir ali. Os adubos outros materiais, compra-os em Santana: “Esta altura de calor não é muito favorável para produtos hortículas, mas ao longo do ano planto um pouco de tudo: cebolas, alfaces, couves, uns tomateiros, batatas, hortelã, aipo, e até uma erva boa para fazer chá.” Também José da Costa Ribeiro, funcionário, público reformado, tem horta nos terrenos sobre a praia da Califórnia. Apresenta como principal razão o facto de “sempre ter lidado com a agricultura”, pois é da Serra da Azoia, onde o

pai era agricultor, e também pescador. Chegou a trabalhar com o pai, mas vive há mais de 20 anos em Sesimbra. O objectivo é “arranjar mais qualquer coisinha para a barriga”. Mas não é o único destino da produção: “Ainda há pouco tempo apanhei umas favas: foi para o mealheiro da neta. Tem de ser assim!” José da Costa Ribeiro lamenta que tenha havido queixas por causa da lixo existente junto ao edifício do Tribunal, mas afirma que não são as hortas as responsáveis: “Isso foi alguém que foi deitar para ali. Nós, pelo contrário, até limpamos o terreno de arbustos secos”. Na Rua do Moço Chamador (Boiças da Alfarrobeira) encontra-se uma das zonas mais bonitas do Vale de Sesimbra: nesta altura, luxuriante de verdura, que ainda se apresenta mais bela quando as várias árvores, dispersas pela encosta, dão flor. Há ali, mesmo junto à estrada, uma pequena horta, que foi durante anos tratada pelo sr. Jorge, ali residente, mas que por motivos de saúde não tem podido cuidar dela, apresentando-se algo abandonada; mas ainda ali tem umas favas, umas alfaces e o que parecem ser rebentos de cebola. Frente a esta horta chamanos a tenção um pequeno arranjo floral feito na beira da estrada. Com aspecto artesanal, mas bem arranjado e com grande diversidade de plantas, é obra do sr. João Domingos, ali residente, e já reformado. Tudo resultou da obra de asfaltamento da rua, feita pela Câmara – uma luta antiga dos moradores, que só no ano passado se concretizou. Existia ali um volumoso canavial, que começaram logo a rebentar junto à estrada pouco depois da obra concluída. Foi isso que motivou João Domingos: começou por cortar os rebentos de canas e colocar uns cactos, mas foi alargando a outras plantas: “O mal foi começar”, diz a sorrir, acrescentando que tem tido ajuda de vizinhos, nomeadamente na rega. Com as flores, seixos e conchas da praia, delineou diversos desenhos e palavras: “Sorrir com flor alivia a dor“, “Nosso jardim” (“Não é propriedade minha”, esclarece) são algumas das mensagens desenhadas, bem como o nome da rua.

José da Costa Ribeiro vive e trabalha há muitos anos em Sesimbra, mas continua a sentir o apelo da Terra, que conhece desde a infância, na Serra da Azóia.

Por causa do desemprego, António Moura Glórias teve de passara viver na construção precária de apoio à horta: mas tem esperança de arranjar novo emprego em breve.

João Domingos começou por cortar os rebentos das canas que ameaçavam destruir a berma, depois colocou uns cactos, mas a diversidade de plantas foi crescendo: “O mal é começar!”

Altamente valorizadas noutras culturas urbanas, as hortas urbanas sofrem, em Portugal, do estigma de estarem associadas à pobreza.

© Paulo Alexandrino

Elvira Fortunato - Quais os motivos porque, em Portugal, há um número crescente de notícias sobre investigações científicas realizadas por mulheres? Penso que é coincidência na investigação científica não há essa descriminação. Talvez no passado esta área estivesse mais reservada aos homens face a terem nessa altura algum domínio. Hoje em dia com ambos os sexos no activo em termos profissionais isso não se coloca. Mais uma vez acho que é coincidência. - Há uma “marca” de género na investigação científica? (isto é, algo diferencia

o trabalho científico feito por homens ou mulheres?) Penso que não. Um bom

Curriculum Vitae

investigador ou cientista pelo facto de ser bom não tem nada a ver com o género.

Elvira Fortunato nasceu em Almada em 1964, é casada e tem uma filha de 13 anos. Actualmente é Professora da FCT-UNL e Directora do Centro de Investigação de Materiais da mesma universidade. Licenciou-se em 1985 em Engenharia Física e dos Materiais, tendose doutorado e agregado em Microelectrónica e Optoelectrónica em 1995 e 2005, respectivamente. É pioneira a nível Europeu na área da electrónica transparente, nomeadamente Transístores de Filme Fino (TFTs) e co-inventora do primeiro transístor e memória de papel. Estes trabalhos estão mencionados na Wikipedia. Nos últimos 10 anos submeteu em autoria e co-autoria 16 patentes, das quais 5 Internacionais (uma em parceria com a SAMSUNG).


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

9

Fotógrafos de Sesimbra (I)

Idaleciano Cabecinha Idaleciano Cabecinha foi um dos mais profícuos fotógrafos de Sesimbra, tendo acumulado uma impressionante colecção de fotografias que retratam a evolução de Sesimbra ao longo da segunda metade do século XX. Muitos dos negativos dessas fotografias encontram-se actualmente no Arquivo Municipal de Sesimbra, doados pelo fotógrafo Valdemar Capítulo, que os “herdou” quando adquiriu a casa fotográfica que a família Cabecinha manteve na rua Dr. Peixoto Correia, já com vista para o Largo da Marinha.

A “Foto Cabecinha” instalou-se em Sesimbra no início de 1945, nessa altura apenas como sucursal da casa homónima que existia em Setúbal desde 1893. O novo estabelecimento fotográfico de Sesimbra foi uma iniciativa do pai de Idaleciano, o sr. Apolónio Cabecinha, que revelou ser essa uma aspiração já com uns 20 anos, que declarou venerar Sesimbra, “por ter sido berço de seus avós”. A casa entretanto autonomizou-se e, sob a direcção de Idaleciano, tornou-se numa referência da vila piscatória, fotografando gerações de sesimbrenses, quer para as simples “fotos de passe”, quer para fotos de família. Mas

são as imagens de rua, testemunhos da vibrante Sesimbra dedicada ao labor da pesca e do comércio de peixe, que mais profundamente marcam o legado do fotógrafo. A família Cabecinha era uma família de artistas, tendo igualmente alguns músicos de grande qualidade. Idaleciano Cabecinha também tocava violino, como alguns dos seus familiares. Chegou a ser dirigente do Grupo Desportivo de Sesimbra. Cabe também referir aqui a sua esposa, Alda Cabecinha, com a profissão de parteira, que desempenhou durante algum tempo essa função na Casa dos Pescadores, e depois em termos particulares.

Anúncio de Janeiro de 1945, assinalando a abertura da nova casa fotográfica. Vários elementos da família Cabecinha desenvolveram em Setúbal actividades de natureza artística, nomeadamente no domínio da música e da fotografia. Idaleciano Cabecinha, para além de fotógrafo, era também músico, como se pode ver na foto de cima. O estabelecimento manteve-se sempre na mesma localização, até que foi trespassado para o fotógrafo Valdemar Capítulo.

Apesar de ter retratado temas comuns a outros fotógrafos de Sesimbra, as imagens de Idaleciano Cabecinha são inconfundíveis, reflectindo os seus dotes criativos e a sua sensibilidade artística. Quer o seu espólio fotográfico,

quer o de Américo Ribeiro (de quem falaremos na próxima edição) têm sido divulgados sem o cuidado, por vezes, de referir o respectivo autor; por uma questão de justiça e de cultura, julgamos que essa identificação deverá ser

feita sempre que possível. As obras fotográficas destes autores sobre Sesimbra foram doados por Valdemar Capítulo – a quem agradecemos as cedência das imagens que hoje publicamos – ao Arquivo Municipal de Sesimbra.


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

10

Assembleia Municipal aprova novos empréstimos A Assembleia Municipal reuniu no dia 1 de Abril tendo como principal ponto da Ordem de Trabalhos a aprovação de dois novos empréstimos: um para reabilitação de 32 fogos municipais no Bairro do Zambujal, e outro para a construção da primeira fase do Bairro Infante D. Henrique. Qualquer dos empréstimos foi aprovado por unanimidade.

a sua discussão foi bastante acalorada, porque na origem da alteração estavam queixas feitas pelo Provedor de Justiça, que por sua vez quase intimou a Câmara a proceder à referida alteração. A questão cuja discussão foi mais acesa reportava-se a uma resposta dada pela Câmara ao Provedor, em que se afirmava que a alteração seria

Na mesma sessão foi aprovada uma alteração ao Regulamento Municipal de Águas Residuais, para que o pagamento da tarifa de saneamento seja exigida apenas a partir do mês seguinte ao da ligação, e não com base no valor anual, como estava regulado. Também esta votação recolheu unanimidade dos deputados municipais, mas

apresentada “na próxima sessão da Assembleia Municipal”; no entanto, esta só tomaria conhecimento do assunto muitos meses depois. O deputado Henrique Guerreiro, do Bloco de Esquerda, considerou ter sido “negada à Assembleia informação a que ela tinha direito” e pediu ao presidente da Câmara “que não volte a ter este comportamento para

com a Assembleia Municipal”. Augusto Pólvora recusou estas acusações, referindo que a carta ao Provedor tinha um erro, pois o que deveria estar escrito era que o assunto seria apresentado “numa próxima sessão da AM”. Outra divergência, sobre o mesmo assunto, nasceu do facto da oposição PS, BE, CDS e deputado independente, considerar como inconstitucional a cobrança desta taxa feita em anos anteriores, propondo à Câmara que “realize com a urgência possível o estudo necessário para restituição das quantias cobradas em excesso”. A Câmara - e a bancada da CDU - embora aceitando alterar o regulamento, não consideram que tenha havido inconstitucionalidade na cobrança, não encontrando por isso fundamento para tal restituição. Esta proposta foi recusada pela Assembleia.

Governo desbloqueia empréstimos A Câmara Municipal já conseguiu do Governo o desbloqueamento parcial de alguns dos empréstimos que estavam pendentes da autorização do ministro das Finanças, autorização que se arrastava há meses, conforme o nosso jornal noticiou em anos anteriores. O condicionamento destes empréstimos continua, no entanto, muito apertado, havendo mesmo outas Câmaras que, apesar de não se terem endividado grandemente, ficam agora sem capacidade de contrair novos empréstimos. Já as Câmaras que mais recorreram a empréstimos, e que os estão a pagar - como é o caso de Sesimbra - conseguem alguma folga no “rateio” feito pelo governo, o qual leva em conta as amortizações realizadas para desbloquear novos empréstimos.

Congresso Nacional Turismo e Ambiente Sesimbra recebeu, ao longo de 3 dias, entre Março e Abril, os trabalhos do Congresso Internacional de Turismo e Ambiente, uma organização do Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências de Lisboa. Recheada de comunicações de muito interesse, não nos é possível fazer eco de todas elas: referimos, pela sua relevância para Sesimbra uma sobre os problemas que Albufeira enfrenta, semelhantes aos nossos, de compatibilizar o Turismo e uma vida urbana equilibrada, e uma outra sobre o processo de erosão das zonas costeiras, que torna inevitável quem um dia, também a praia de Sesimbra tenha de desaparecer: não por erros humanos, mas porque a erosão costeira é uma constante ao longo dos séculos. Particularmente interessante foi o painel sobre a Mata de Sesimbra, com uma exposição do arquitecto Paulo Silva, do empreendimento turístico para ali previsto, que apresentou as opções de desenvolvimento e localização dos edifícios, e outra do engenheiro Diogo Caupers, que demonstrou a espectacular criação de flora e fauna na zona dos areeiros desactivados, dentro do projecto que a Herdade da Mesquita tem para rentabilização turística dos seus terrenos, vocacionando-os para o lazer e a fruição da Natureza. O que a Casa Mesquita tem vindo a realizar metodicamente, ao longo dos últimos anos, mesmo sem que se tenha dado início ainda a qualquer construção, é digno de referência, pelo risco do referido investimento, mas sobretudo pela novidade de se estar a valorizar o Ambiente natural, com uma visão perfeitamente integrada num Turismo Sustentável: um conceito muito referido, mas poucas vezes aplicado com a determinação e a dimensão que a Casa Mesquita está a fazer. Já a referida apresentação do arquitecto Paulo Silva despertou alguma contestação,

com referência, da parte da assistência - particularmente do geólogo Paulo Caetano de que o Estudo de Impacto Ambiental feito para o empreendimento fora aprovado, mas sujeito a “fortes condicionamentos”, nomeadamente no caso dos campos de golfe e em toda a parte construtiva, pelo que “terá de haver nova Avaliação de Impacto Ambiental”. Paulo Silva contestou estas afirmações, dizendo que o que foi submetido a avaliação foram os estudos prévios de todas as infraestruturas, e que “tudo isso foi aprovado”; as fases subsequentes, nomeadamente os projectos de arquitectura das vivendas e dos hotéis, isso é que terá de ser também submetido a avaliação, segundo o arquitecto do promotor do empreendimento. O problema dos areeiros e pedreiras também gerou algum debate, tendo Diogo Caupers afirmado que até há um ano atrás, os limites impostos à exploração coincidiam com a respectiva capacidade, mas com o desacelerar da actividade económica, “possivelmente poderá ficar lá alguma massa mineral”, e apelou para algum bom-senso numa futura avaliação desta realidade. Augusto Pólvora salientou que enquanto o PDM de Sesimbra proibia expressamente o alargamento da exploração de areias, e que por isso estava, em algumas situações, a ser feita de forma ilegal, já fora das áreas licenciadas, e foi o plano de pormenor da Mata que veio alargar esses limites, impondo ao mesmo tempo regras mais claras, que incluiram planos de recuperação, solução que está a ter resultados muito positivos e de acordo com os objectivos do Plano de Gestão Ambiental - e isto apesar de não haver ainda nenhuma construção no terreno. Ainda durante o Congresso foi feita a apresentação, pela vice-presidente da Câmara e vereadora do Turismo, Felícia Costa, do Plano Estratégico do Turismo de Sesimbra.

CIPA: Centro de Inovação e Participação Associativa Foi inaugurado na Quinta do Conde, no passado dia 23 de Abril, o Centro de Inovação e Participação Associativa, um conceito inovador que tem como objectivo funcionar como uma incubadora do associativismo: um conceito mais conhecido no domínio do apoio a novas empresas. O novo espaço dispõe de numerosas salas e de uma zona exterior bastante ampla, com um pequeno auditório ao ar livre. Em declarações a’O Sesimbrense, o presidente da Câmara, Augusto Pólvora, admitiu que estas instalações podem vir a ter um papel importante na renovação do associativismo e na ultrapassagem de alguns problemas actuais: “as necessidades que os jovens têm são muito diferentes daquilo que as associações tradicionais oferecem, e por vezes há quase um choque de gerações naquelas associações mais antigas, onde os sócios originais têm dificuldade em conviver com aquilo que são as pretensões dos jovens.” Augusto Pólvora destacou ai-

nda um aspecto importante: o baixo custo deste investimento: “Inicialmente isto tinha um investimento superior a 200 mil euros, mas acabou por se fazer com cerca de 10 mil euros: havia muita coisa prevista, como substituição de telhado, remodelar todos os interiores, melhorar o conforto técnico, etc, e seria uma obra a adjudicar, enquanto que agora foi feita só a conservação mínima, e tudo com a “prata da casa”. Quanto ao funcionamento do espaço, o vereador do pelouro da Juventude, José Polido, referiu-nos que a gestão será feita pela Câmara e pelas associações ANIME e MGBOOS: “A Câmara vai ter aqui um funcionário, vai garantir a limpeza e manutenção do espaço”. José Polido espera que o CIPA funcione como uma base de lançamento de novas associações: “Cada associação ficará aqui por um período que será de 4 anos, que pensamos ser o adequado para que dêem o salto para crescerem, ou então para se extinguirem. Aqui terão um

espaço, pequenino como sendo a sua sede, e podem usar os espaços partilhados e os serviços comuns”. Paulo Rato, que é o “pai” deste conceito e o grande impulsionador desta iniciativa detacou que, para além da simples ajuda ao nascimento de associações, esta iniciativa poderá fomentar um novo tipo de associativismo: “Esse é verdadeiramente o grande desafio. Mesmo o modo como tudo está organizado é para que haja um constante contacto e intersecções entre as diferentes organizações, para que possam surgir novos projectos”. Também está prevista formação específica sobre associativismo: “Já a partir de Maio vão-se iniciar acções de formação nesse sentido, nomeadamente sobre os novos modelos de gestão associativa, e vamos também tentar fomentar projectos internacionais: o desafio é que antes de 2003, duas ou três associações do nosso concelho tenham intercâmbios com outras organizações de outros países europeus.”


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

11

Guerra Colonial: 50 Anos Manuel Garrau

Comissão: Moçambique 1972 a 1974 Força: Força Aérea - Polícia Aérea Idade: 59 anos

Manuel Garrau assentou praça em Viseu a 8 de Maio de 1972, acabando por embarcar a 12 de Novembro deste mesmo ano, com rumo a Moçambique. Manuel foi praça na Força Aérea, mais precisamente na Polícia Aérea e esteve em duas zonas distintas de Moçambique, Moeda e Nacala. Era o fotógrafo da unidade e por isso “era dos praças mais conhecidos, não só por estar na secção de material de guerra e por onde tinham todos que passar para levantar armamento, mas também por todos querem tirar fotografias e iam à minha procura”. Acrescenta ainda que “nunca tinha utilizado uma máquina fotográfica mas gostava muito do que fazia”. Muitos eram os soldados que em tempo de guerra procuravam Manuel para serem fotografados e “matarem, as saudades das namoradas, dos pais, das madrinhas de

guerra, …”, conta-nos o excombatente orgulhoso do seu papel que desempenhava na sua base. Manuel não foi mobilizado para o mato, não passou fome, o seu serviço era guardar a unidade e os aviões, contudo, “éramos atacados, principalmente em Moeda”.

Negativo O ex-combatente, aquando da nossa pergunta sobre o lado menos bom da sua experiência, não quis dar pormenores, referindo apenas que “marcou-me o dia que a unidade recebeu os militares da FRELIMO quando a região foi entregue depois do 25 de Abril”. Quando regressou a 4 de Novembro de 1974, depois de “vários convites para seguir fotografia, não aceitei e voltei para o mar, a ser pescador como já era antes da tropa”.

Positivo

volta aqui a ter relevância. Refere ainda o convívio que mantêm os ex-combatentes e os almoços organizados anualmente, “no primeiro almoço quando nos reencontrámos até chorámos, não dá para descrever os laços criados”.

traumáticos, há falta de apoio por parte do Estado e o não reconhecimento em relação a estas pessoas”.

o que esta experiência lhe conferiu de mais positivo, “beneficiei sem dúvida a nível intelectual, moral, força mental. Aprendi a ver o lado humano das pessoas inclusivé a ter a percepção das dificuldades das populações que me ensinaram e transformaram numa pessoa melhor.”

“Foi uma experiência muito bonita”, disse Manuel repetidas vezes, “ainda hoje tenho amigos de Norte a Sul do país, um deles é padrinho do meu filho mais velho.” A amizade

Florindo Paliotes

Comissão: Guiné 1966 a 1968 Força: Marinha Portuguesa Idade: 68 anos

Em 1966 chegou a vez de Florindo Paliotes embarcar rumo à Guiné, ingressando num entre outras tantos destacamentos militares portugueses que representavam a sua Pátria no teatro de operações na Guerra Colonial. Florindo pertence à Marinha Portuguesa desde 1963, estando reformado desde 2003, e portanto, habituado a navegar, “já conheci meio mundo”. Permaneceu dois anos na região da Guiné, no navio denominado por Hidra. A sua missão era de apoio às tropas terrestres, aos fuzileiros, aos pára-quedistas, e de combate, se assim fosse necessário. Recorda esta experiência como sendo “um ensinamento para toda a vida apesar de estarmos num meio de conflito”, salientando o ponto de vista das relações pessoais, “éramos 30 pessoas a conviver diariamente num navio com 30 metros de comprimento, 10 de largura, com espaços restritos, sob pressão

psicológica permanente.” Explica que o facto de viverem nestas condições, durante dois anos, enriqueceu-o a nível de força mental e a nível de valores humanitários.

Negativo “Não valorizo a parte negativa, o aspecto positivo supera todos factos menos bons, como estar longe da família.” Florindo aproveita para contar que em 1967 veio a Portugal casar e regressou passado um mês para a Guiné, “recém-casado, tive que deixar a minha esposa, não foi fácil, mas quando estamos predispostos a cumprir uma missão e não um serviço, tudo se torna mais fácil.” Conseguimos deslindar talvez o mais negativo desta experiência, mesmo que não o afectando directamente, “preocupa-me a situação dos meus camaradas de armas que sofrem de stress de guerra e de problemas pós-

Positivo É difícil sintetizar todos os adjectivos que Florindo Paliotes apresentou para descrever

João Russo Baeta

Comissão: Guiné 1965 a 1966 Força: Companhia de Cavalaria 787 Batalhão: Cavalaria 790 Idade: 68 anos

João Baeta, em 1963, fez a sua recruta na Escola Prática de Cavalaria em Santarém, quando terminou foi para Tavira onde tirou o curso de Atirador de Infantaria, que por motivos de saúde teve que interromper a especialidade, ficando a aguardar nova chamada. Em 1964 foi chamado afim de frequentar um estágio em Santarém, passando ainda pela Póvoa de Varzim onde se especializou em alimentação. Por fim foi mobilizado para a Guerra Colonial com destino à Guiné. O ex-combatente foi destacado para diversos locais onde a Companhia estava sediada, entre a zona de Teixeira Pinto e Cacheu. Primeiro as suas funções passavam por deslocações com frequência ao mato para comprar géneros alimentícios, como vacas, galinhas, porcos, entre outros. Quando passou a desempenhar as funções de atirador, João Baeta teve

alguns problemas, “numa noite sofremos um ataque do inimigo e por sorte não morremos todos, tendo ficado na parede do meu quarto a cabeça de uma granada de morteiro.” No dia a seguir, 4 de Maio, sofreram uma emboscada de onde resultou 1 morto e vários feridos, “era dia da festa das Chagas e quis o destino que nada me acontecesse, a não ser ter ficado com o corpo coberto de formigas Baga Baga e ter que me despir durante o tiroteio, tornando-me um alvo fácil pois estava de pé e bem visível”.

Negativo Para João Baeta o mais negativo desta experiência é “o problema de reumatismo que contraí na Guiné e agora o Estado trata-nos como portugueses de segunda, pois nem me consideram deficiente das Forças Armadas, para me conferirem uma pensão.”

Positivo Este ex-combatente retira da experiência de guerra como mais positivo “a amizade que existia entre todos nós, pois tínhamos que ser como irmãos, pois a nossa família estava a km de distância.” Refere ainda que “o contacto com novas

culturas, novas gentes, novas paisagens e sons,” tornam esta experiência inesquecível. Acrescenta que “ter-me salvo com vida durante o tempo em que lá estive, pois tive de ser evacuado para a Metrópole, por causa do reumatismo que lá contraí devido ao clima.” Andreia Coutinho


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

12

Nasceu, com sede no Concelho, mais uma empresa de dinamização turística. Este aparecimento fez com que se criasse a oportunidade do Sesimbrense falar com a sua gerente, Fátima Paiva, sobre a origem e os planos de mais uma unidade de divulgação da região no pais e no mundo. Como nasceu a ideia da criação desta empresa? A Get Around Tours que é uma marca da empresa ENGIMAD, consultadoria na Industria da Madeira Lda, nasceu da vontade dos sócios e de uma amiga (Ana Rasteiro) em desenvolver uma actividade ligada ao turismo em Sesimbra. De muitas conversas desenvolvidas chegámos à conclusão de que a terra necessitava de ter uma oferta de actividades para que os turistas que a visitam pudessem ter uma escolha mais diversificada e muito para além do sol e mar. Em que áreas então, a GET AROUND TOURS se pretende implantar?

na Península de Setúbal, no Algarve e em Espanha. Parece-nos ser uma actividade muito interessante e francamente bem adaptada a cidadãos com este tipo de limitação. Estamos a trabalhar noutras vertentes mas não tem sido fácil. Faltam equipamentos e a oferta de quartos adaptados. Uma unidade com 50 quartos raramente tem mais do que dois com as características necesárias. Para além dessas dificuldades quais são os principais entraves à vossa actividade neste momento conturbado? No início enfrentámos o problema da legalização, o que nos atrasou muito o arranque da actividade, isto porque nem sequer equacionamos a possibilidade de estar no mercado de forma ilegal. Não consideramos socialmente justo e promove uma concorrência desleal com que não pactuamos. No que diz respeito aos custos, o valor dos combustíveis pode ser eleito como o aumento de custo mais difícil de absorver, sobretudo em percursos feitos de automóvel, e mais quando não se consegue fazer reflectir no cliente esse aumento. O facto de contarmos com guias devidamente encartados também onera um pouco os nossos custos podendo

Temos essencialmente três vectores de oferta: Turismo cultural, com um conjunto de Percursos, neste momento são sete, abarcando a Península de Setúbal, Lisboa, Sintra e Região Oeste. De salientar que estes percursos têm como objectivo não só o património construído como o património gastronómico, não descurando ainda o artesanato das áreas visitadas; Turismo de contacto com a natureza disponibilizando cinco percursos, dentro da Península de Setúbal, com uma oferta de percursos pedestres; Temos ainda uma oferta de Birdwatching na região, no pais e na Península Ibérica que tem como propósito servir aficionados e promover esta actividade junto das várias camadas etárias. Consideramos este hobby como uma óptima oportunidade de fazer exercício dentro da natureza, ao mesmo tempo que se fica a conhecer a fauna e flora, criando um espírito de protecção ambiental muito profundo. Para além destas actividades têm alguma outra que estejam a desenvolver? Sim, na verdade e apesar de sermos uma empresa muito recente estamos interessados em dar à luz projectos novos e mais do que isso, inovadores. Estamos neste momento a desenvolver uma área de Turismo Acessível. É nossa intenção promover percursos e actividades para pessoas com algumas limitações, essencialmente físicas. No nosso site (www.getaroundtours.com) , e desde já, disponibilizamos saídas de Birdwatching para pessoas com limitações de mobilidade,

levar a um preço final um pouco mais elevado, mas com outra garantia de qualidade. A promoção e divulgação, da empresa e da sua oferta, a velocidade não são aquelas que desejávamos, contamos, no entanto, com algumas parcerias que, acreditamos, alavancarão estas tarefas. Têm alguma sugestão a apresentar no âmbito da vossa actividade? Podemos dizer que consideramos essenciais serem criadas duas estruturas no centro de Sesimbra que ajudariam em muito as empresas ligadas ao turismo: A criação de dois ou três lugares de estacionamento para viaturas de até 9 lugares devidamente credenciadas para o efeito e onde se pudesse fazer promoção dos produtos e horários; e a existência de um quiosque, com custos reduzidos, onde se vendessem todos os produtos turísticos do concelho. É normal em cidades (nomeadamente de Espanha) podermos num mesmo local, e ao mesmo tempo, comprar percursos, espectáculos, bilhetes de transportes e mesmo fazer marcações para eventos de entrada livre. Verdade seja dita que esta ideia já foi lançada à terra pelo Carlos Sargedas, no entanto parece-nos que a sua boa ideia devia ser um pouco mais amadurecida e provavelmente mais emagrecida. A GET AROUND TOURS está disponível para ajudar a construir um projecto deste tipo, que nos parece ser uma forma de “vendermos” turismo em Sesimbra com mais facilidade, sobretudo em tempos difíceis como os que se aproximam.

Restaurante

A Toca do Leão Leitaria, carvoaria, taberna, café e, finalmente, restaurante: João Paulo Leão fala-nos da “A Toca do Leão”, uma casa centenária.

João Duarte Leão, Mª de Lurdes Leão e João Paulo Leão

Desde quando existe a casa? É uma casa com muita história, já existe há mais de cem anos. Começou por ser dos meus bisavós, depois dos meus avós, passou para os meus pais e finalmente hoje com 37 anos, estou à frente do negócio. Eu e os meus pais já estamos a exercer este tipo de actividade há cerca de 25 anos. Tratou-se sempre de um restaurante ou estava aberto noutras áreas? Começou por ser uma leitaria, carvoaria e taberna, depois passou a ser um café/ marisqueira e por fim, como é hoje, um restaurante. O espaço sempre teve como nome “A Toca do Leão”? O nome existe desde que os meus pais ficaram com o estabelecimento, sempre foi da família mas antigamente não tinha qualquer nome, era chamado simplesmente pela casa da “Ti Estrudes e do João d’Arroz”. Ao longo dos anos foram feitos investimentos? Sim, vários, até porque no início era só uma casa, hoje “A Toca do Leão” ocupa 3 casas. No r/c era a leitaria, carvoaria e taberna e o 1º andar servia de habitação dos meus avós,

quando o meu pai em jovem pegou no negócio, comprou as duas casas do lado e na altura alargou o r/c, onde se encontra e encontrava-se na altura o estabelecimento. Há 12 ou 13 anos voltamos a alargar o espaço para a tal 3º casa que meu pai tinha comprado. A casa foi sempre crescendo e a par deste crescimento fomos fazendo vários investimentos. Sente diferença em termos de negócio comparativamente com anos anteriores? Na altura épica dos pescadores de Sesimbra no peixe de espada branco na faina de Marrocos e Mauritânia trabalhávamos muito bem, tínhamos bastante clientela. Era uma das casas que mais trabalhava na altura. Acontece que acabou esse tipo de pesca, fomos para a Comunidade Europeia, acabaram as licenças. Hoje em dia todos sabemos que estamos em crise. Como vê o futuro do seu negócio? O negócio tem vindo a decair e vamos ver onde vai parar… há muita casa que vai fechar, nós temos muita dificuldade como todos os outros, porque dependemos do dia-a-dia para honrar as nossas responsabilidades e compromissos e sem clientes não há “ganha-pão”.

As despesas mantêm-se: autárquicas, electricidade, há muita inflação em quase tudo, a existência de esplanadas na via pública é um exemplo, tudo o que se trata de impostos foram inflacionados. Estou a vender mais barato hoje do que há 10 anos. Uma vez que fala deste negócio como sendo da família gostaria que os seus descendentes continuassem com ele? Sim claro, quem sabe um dia a minha filha que tem agora 18 meses poderá ficar à frente do negócio, isto se ainda for possível, por até aqui com menos ou mais dificuldade sempre conseguimos sobreviver, mas começa a ser muito complicado. Há muitas casas deste género e cada vez menos clientes que não têm o dinheiro que tinham noutras alturas. E os clientes mais fixos deixaram de vir com tanta frequência? Quem está bem localizado, frente ao mar, dentro da zona turística, digamos assim, algum negócio vai tendo, agora quem está mais para cima como é o meu caso só os clientes que já conhecem a casa é que continuam a vir se bem que vêm com menos frequência e com pouco dinheiro. Os clientes regulares continuam a vir mas o bolso é que não tem a mesma “força”. Como encara a situação económica do país? Muito difícil, apesar de não querermos ser pessimistas e baixar os braços não se vê nada de positivo, a realidade é difícil de enfrentar. Todos os dias vamos sorrindo mas a verdade é que não se avistam melhorias. Antigamente sempre se amealhava no verão com a vinda dos turistas. A realidade é esta: deixo aqui o meu património e o que eu vou fazer para sustentar a minha família? Para onde vou trabalhar? Andreia Coutinho

25 de Abril e condecorações Este ano as comemorações do 25 de Abril realizam-se com evidente economia de meios, justificada pela apertada situação financeira do País, das famílias, e da Autarquia. A inauguração da CIPA - que noticiamos noutra página terá sido uma das iniciativas de maior simbolismo desta efeméride. Tiveram igualmente lugar espectáculos e concertos, como os da Banda da SMS e o grupo Realejo, além de diversas iniciativas culturais. Integrada nas comemorações, realizou-se a inauguração das renovadas instalações da Junta de Freguesia do Castelo, em Santana: trata-se de uma segunda fase, que complementa a zona inaugurada há um ano. Instalada no piso inferior do mesmo edifício, as instalações agora inauguradas incluem um pequeno auditório

e sala polivalente, uma sala de reuniões, gabinetes do Executivo da Junta e gabinete de contabilidade, para além de uma zona de arquivo. Contando também com acesso para o público, as novas instalações constituem uma melhoraria significativa das condições de trabalho e contacto com a população

Condecorações

No dia 4 de Maio serão atribuídas, como é usual, as condecorações municipais, quer a funcionários municipais, quer a diversas individualidades e entidades. Os “irmãos Filipe” (José, Pedro, Hermenegildo e Alfredo, os dois últimos já falecidos) serão agraciados pela sua actividade na natação, mas também pela sua participação no associativismo local e actividades profissionais. A firma Ramada Crespo &

Irmãos será agraciada como “uma das mais antigas do Concelho” (fundada em 1926) e atendendo ao profissionalismo da gerência familiar. A ArtesanalPesca será des-tacada pela importância do seu valor comercial, bem como pelo seu dinamismo económico. Outra cooperativa medalhada será a Castelo-Zimbra pelo seu trabalho de promoção das explorações agrícolas dos seus associados. A Dagol, outra empresa de Sesimbra, no ramo dos acrílicos e similares, é agraciada pela sua capacidade empresarial, mas igualmente pelo seu apoio ao movimento associativo e causas solidárias. No domínio do associativismo, será o Grupo Coral Voz do Alentejo, da Quinta do Conde, a receber a medalha municipal, pela sua actividade cultural e associativa.


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

13

Pedro Pires “Eu gostaria de permanecer em Portugal” Pedro Pires é natural de Sesimbra e tem 27 anos. Estudou no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, licenciando-se em Engenharia Mecânica, acabou o mestrado integrado em 2007, iniciando de seguida o doutoramento do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico com uma bolsa financiada pela FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia). Como parte do seu plano de trabalhos de doutoramento, Pedro está envolvido em dois projectos financiados pela FCT, o HipRob e o SurgRob, e num projecto europeu no âmbito do programa ECHORD (European Clearing House for Open Robotics Development direccionado para a área de cirurgia, mais especificamente em ortopedia, no ramo da robótica e automação. Como começou o seu caminho na área da robótica? Foi natural, descobri a automação e robótica, entretanto surgiu a oportunidade para ir trabalhar para uma área que eu nem sabia que estava tão desenvolvida, a área da robótica médica e acabei por fazer a minha tese de mestrado na área da robótica flexível. Pode explicar-nos de que se trata? A robótica flexível veio da era espacial, mais precisamente tendo origem no Canadá, aquele braço robótico que aparece no Space Shuttle, e tentou-se transportar para a medicina, por ter dimensões mais reduzidas, e ser mais “user-friendly” para o cirurgião. A crise actual também afecta este tipo de inovações? Agora com esta recessão a indústria em si está pouco receptiva em implementar novas tecnologias, contudo o mercado nessa área é muito maior. Se nós pensarmos num mercado de serviços, passamos de várias centenas de clientes para muitos milhares de clientes. O caso das farmácias é o caso mais “próximo” de nós como tal, com os armazéns automatizados e aqueles braços mecânicos que vemos a irem buscar os medicamentos. É neste tipo de robótica

Mariscada de Sesimbra a um passo das 7 Maravilhas da Gastronomia

A especialidade de mariscada de Sesimbra está entre os 70 Pré-finalistas das 7 Maravilhas da Gastronomia. Este prato - que não é um prato tradicional de Sesimbra - foi apresentado a concurso pela Câmara Municipal, tendo sido um dos 10 pratos seleccionados na área do marisco, passando à fase seguinte, dia 7 de Maio, onde se conhecerá os 21 finalistas. A candidatura sesimbrense contou ainda com a especialidade de Espadarte de Cebolada, a Farinha Torrada e o tão apreciado pão caseiro confeccionado em forno a lenha. O site das 7 Maravilhas dispõe de mais pormenores acerca do concurso e dos pré-finalistas http:// www.7maravilhas.sapo.pt/ Andreia Coutinho

que está a trabalhar? Sim, estou a trabalhar nos braços robóticos. Para dar uma ideia do que é este tipo de braços, posso dizer que é idêntico ao braço que aparece no anúncio publicitário do carro Xsara Picasso. Na vida real o que fazem estes equipamentos? Quando falamos em robots temos tendência em pensar em humanóides, como os que vemos no filme Guerra das Estrelas, mas isso é ficção, o que eu uso são os tais braços robóticos que ajudam um cirurgião a fazer uma cirurgia, por exemplo, quando se perfura o osso para introduzir uma prótese. Com a ajuda deste braço queremos

O que fazemos cá é tão bom como o que se faz na América

que este robot guie o cirurgião para o sítio exacto mas, ao mesmo tempo, que o cirurgião sinta e que tenha as mãos no dispositivo. Estamos ainda nos primórdios: em Agosto do ano passado foi introduzido pela primeira vez em Portugal um robot para cirurgia. Onde pretende trabalhar no futuro? Portugal ou estrangeiro? Eu gostaria muito de trabalhar cá. A tecnologia pode sair mas a criação ser nossa, ou seja, vender a tecnologia. Apesar de ser muito difícil em Portugal, pois nós produzimos muito pouco em termos de materiais e além disso a indústria não investe muito na investigação, as empresas fazem aquilo que o vizinho faz. E temos capacidade? Temos muita capacidade. O que fazemos cá é tão bom como o que se faz na América, a diferença é os meios que têm e a nível de mentalidade que estão muitos anos á nossa frente em termos de investimentos em investigação. Penso e quero acreditar que sim, que é uma questão de geração; na minha, penso que irá ser diferente. Muitas empresas a nível mundial saíram de projectos de universidades, portanto quem sabe se não tenho essa sorte também...

No fim deste seu projecto irá ser concebido um robot funcional? O objectivo é fazer um protótipo, um robot cirúrgico mas que não servirá para fazer cirurgia, apenas para comprovar o conceito de que se conseguiria fazer, pois qualquer material deste género necessita de certificação médica, certificação esta que demora anos. Qual a diferença destes robots para os já existentes nas salas de cirurgia? Os que já existem são rígidos, pesam 200 quilos para uma carga útil de 5 quilos, o que até é perigoso para o próprio doente e cirurgião. Hospitais privados ou Hospitais Públicos? É uma batalha quase perdida, embora se contabilizarmos a estadia de uma pessoa num hospital, e se for utilizado um robot, a estadia é de menos dois dias, acabando por compensar o investimento. Daqui a 20 anos o que estará Pedro a desenvolver? Na área de investigação é difícil responder a essa questão e cá as expectativas são renovadas de 4 em 4 anos, que é a duração de cada Bolsa. Mas gostaria de ficar em Portugal e dar continuidade a este projecto. Andreia Coutinho

A primeira sequência de imagens (à esquerda) representa a aquisição de imagens de ultra-sons durante a fase de pré-cirurgia, para a reconstrução tridimensional do fémur. A segunda sequência de imagens (em cima) é o uso do Robô HipRob como objecto de auxilio ao cirurgião na realização de um furo para a correcta colocação da prótese de “Hip Resurfacing”. Está disponível, em video, no nosso site.

Passos Coelho em Sesimbra:

À procura de ideias para o programa eleitorial Pedro Passos Coelho, líder do partido Social Democrata, esteve na manhã de dia 20 de Abril, no porto Sesimbra, numa visita à ArtesanalPesca e Docapesca, onde salientou a importância da pesca e da agricultura a nível nacional, “estes sectores são fundamentais para diminuir o desemprego e as importações”. Esteve reunido com a direcção da ArtesanalPesca que se queixou das regras impostas ao sector da pesca, ao que Passos Coelho defendeu que é preciso mais “bom senso” na legislação em geral. Quando se preparava para visitar as instalações, cumprindo as regras de higiene e segurança, referiu-se à touca como sendo “a primeira touca de campanha”, contudo quando confrontado com os motivos da sua visita, respondeu que

esta não fazia parte de uma campanha eleitoral para as próximas eleições legislativas a 5 de Junho, mas sim de uma

espécie de “trabalho de casa, que o PSD anda a fazer há já algum tempo, para apresentar um programa ao país que esteja de acordo com a realidade nacional. Sesimbra temos o exemplo desta cooperativa que pode ser difundido e utilizado como uma forma muito eficiente de resolver problemas desta natureza noutros

locais em Portugal e, portanto, quis inteirar-me de uma forma mais directa e perceber como conseguiram fazer este investimento e quais as principais dificuldades de maneira a convencer outras pessoas a investirem nesta área tão crítica para o país nos próximos anos”. Acrescentou ainda que esta visita se insere no espírito de trazer alguns conselhos que sejam relevantes para a feitura do programa do PSD. Questionado sobre se já sabe a quem vai entregar a pasta das Pescas, Passos Coelho respondeu: “Já tenho o Governo na minha cabeça, sim.” Não querendo, contudo, adiantar nomes respondeu que “não ficaria bem; quando for o tempo próprio conhecerão o Governo.”

Apesar das más condições atmosféricas, Passos Coelho teve ainda tempo para cumprimentar e conversar com alguns pescadores que chegavam da faina, dirigindo-lhes algumas palavras de respeito para com as gentes do mar, “tenho muita admiração por estas pessoas, é uma vida difícil e têm que fazer disto a sua vida porque não têm outro tipo de apoios.” Andreia Coutinho

Em Sesimbra temos o exemplo desta cooperativa que pode ser difundido e utilizado


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

14

ArtesanalPesca: Lutas dinamismo e novo investimento Campeonato da A ArtesanalPesca continua a revelar grande dinamismo: acaba de adquirir a empresa TangerinaPeixe, para deste modo entrar também na comercialização da sardinha e da cavala, de modo

a aproveitar a oportunidade de congelação em que a empresa fez recentemente um importante investimento. Ao mesmo tempo a empresa absorve os trabalhadores da TangerinaPeixe. De momento a Artesanal emprega já 42 pessoas. Este dinamismo ainda é mais surpreendente por estarmos numa altura de crise, e num sector económico como o da Pesca, tão sujeito a flutuações de produção. As capturas de peixeespada preto, bem como as de polvo, têm estado algo fracas neste início de ano, e por isso a ArtesanalPesca decidiu “devolver” aos seus associados 10 cêntimos por cada quilo de peixe-espada capturado no último trimestre; mais um sinal revelador da capacidade financeira da ArtesanalPesca, e uma acção coerente com a sua natureza de empresa cooperativa. Recentemente tiveram

lugar eleições para os corpos sociais, logicamente com continuidade de dirigentes. Segundo Manuel José Pólvora, a empresa mantém a sua estratégia de valorizar os produtos oriundos do mar de forma artesanal, diminuindo igualmente o número de intermediários, beneficiando assim tanto o consumidor final como o produtor. Uma das máximas da cooperativa é garantir uma total frescura e qualidade do peixe comercializado e para isto todos os produtos são controlados pela Direcção-Geral de Veterinária que atribuiu, inclusive, um número referente a este mesmo controlo de qualidade alimentar. Em dias de crise, a ArtesanalPesca pode dizer que não se sente ressentida, pois continua a apostar na qualidade dos seus produtos oferecidos, nunca descuidando este ponto tão importante para o sucesso ou insucesso das mais variadas áreas de comercialização, reafirmando que o grande objectivo da empresa é a valorização das pescarias realizadas pelos pescadores de Sesimbra. Manuel José Pólvora aproveitou a conversa com o nosso jornal para referir alguns dos problemas que se mantêm e que ameçam o sector das pescas,

Europa de Séniores Luta Feminina

Liliana Santos

Liliana Santos, atleta da Casa do Benfica na Quinta do Conde, obteve o 10º lugar no Campeonato da Europa de Séniores em Luta Feminina, em Dortmund, na Alemanha. Nos Oitavos de Final defrontou a francesa Melanie Lesaffre e após empate a 0, dominou a adversária e coloca-a fora do tapete. O árbitro dá a vitória a Liliana Santos, mas após protesto do treinador francês e após visionamento do vídeo, dão razão aos franceses e a derrota por 0-1 para a Portuguesa. O seu desempenho permitiu-lhe também aumentar o nível de apoios para a tentativa de apuramento para os Jogos Olímpicos de 2012 em Londres. Em termos colectivos e com o ponto ganho por Liliana Santos por ter ficado em 10º Lugar, Portugal classifica-se em 27º Lugar num total de 51 Países. As atletas portuguesas foram dirigidas pelo Professor Luís Fontes - Seleccionador Nacional da Equipa de Luta Feminina.

Campeonato Nacional Individual de Luta Greco-Romana e de Luta Feminina

nomeadamente a subida do preço do gasóleo, e falta de mão-de-obra no sector, pois cada vez há menos incentivos e, por isso, as pessoas, principalmente os jovens, não querem ir para esta área da pesca, mesmo estando desempregados; Outra limitação são as quotas de pescado, não no caso do peixe-espada preto, onde as quotas se mantiveram, mas sim as referentes aos tubarões de profundidade, cujas quotas são zero. Este peixe está a cerca de 1 km de profundidade, é pescado por anzol e não por arrasto (ao contrário da maior parte das zonas de pesca no país), e portanto não se pode escolher o peixe que é pescado, e quando chega cá acima já ele está quase morto para que seja largado novamente ao mar. Segundo Manuel Pólvora, “Há uma má orientação política quanto às pescas, visto que não podemos ter a mesma lei para a pesca de anzol e para a pesca do arrasto. As medidas da UE são para a Europa inteira e não para determinadas zonas consoante as suas características, como deveriam ser.” As multas da Segurança Social e as novas regras do Código Contributivo foram outro aspecto referido pelo responsável da ArtesanalPesca.

Realizou-se no dia 17 de Abril de 2011, no Pavilhão Municipal da Quinta do Conde, o Campeonato Nacional Individual de Luta Greco-Romana e de Luta Feminina. Prova organizada por esta colectividade em conjunto com a Federação Portuguesa de Lutas Amadoras e com os apoios da Câmara Municipal de Sesimbra, Junta de Freguesia da Quinta do Conde e vários comerciantes da Quinta do Conde. A Casa do Benfica na Quinta do Conde participou com nove atletas e obteve seis campeões nacionais e três vicecampeões nacionais.

António Luz


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

15

Ténis

Skimboard

Futebol

Leonardo Maricato alcança primeiro título

Victoria Skimboards Pro

4ª Edição do Dia do GuardaRedes

Realizou-se no fim de semana de 16 e 17 de Abril no Centro Municipal de Ténis de

Sesimbra o 1º Torneio do Mar organizado pelo Clube Escola de Ténis de Sesimbra. Esta prova que integra o calendário oficial da Federação da Portuguesa de Ténis disputou-se nos escalões de Sub-12 e Sub-16, nas variantes de singulares e pares, nos géneros masculino e feminino. Leonardo Maricato do CETS, ainda com catorze anos, alcançou o título no escalão de Sub-16, vencendo na final Luís Graça do C. T. da Amadora por 6/2 - 4/6 e 7/5 num encontro dramático que se prolongou por três horas. O jovem sesimbrense que se iniciou na modalidade aos sete anos, tornou-se no primeiro atleta juvenil do CETS a vencer um torneio a contar para o ranking nacional. No sector feminino ainda nos Sub-16, Beatriz Gaspar a representar o CETSesimbra alcançou o 2º lugar do pódio e Leonor Duarte também do CETS, quedou-se pela 5ª posição.

Simão Pinto, do Surf Clube de Sesimbra, foi o vencedor do “Victoria Skimboards Pro”, 1ª etapa do Circuito Nacional de skimboard, que decorreu na praia da Lagoa de Albufeira,

sub-16 e o jovem Luís Ferreira venceu a prova no grupo dos sub-14. Na competição feminina, a vencedora foi Sofia Lopes, do Clube Recreativo Quinta

nos dias 9 e 10 de Abril. Prova esta, organizada pelo Surf Clube de Sesimbra em parceria com a Federação Portuguesa de Surf que contou com 50 inscritos. Simão ganhou, ainda, o troféu dos sub-18. Diogo Abrantes distinguiu-se como vencedor no escalão de

dos Lombos, batendo Maria Pinto (SC Sesimbra), Maria Inês Fontain (SC Sesimbra) e Sara Curado (CR Quinta dos Lombos). O Circuito Nacional de Skimboard continua nos próximos dias 16 e 17 de Julho em Espinho, numa prova organizada pelo Clube Skim Norte.

O Complexo Desportivo Municipal da Maçã foi palco durante a manhã do dia 8 de Abril, da 4.ª edição do Dia do Guarda-Redes. O evento destinou-se aos alunos do 2.º e 3.º Ciclo da Escola Básica Navegador Rodrigues Soromenho e da Escola Básica 2,3 de Santana. Uma acção promovida pelo Desporto Escolar e Federação Portuguesa de Futebol com o apoio da Câmara Municipal de Sesimbra, que visou sensibilizar os jovens para a prática regular de desporto, e neste caso, cativar os jovens praticantes para a posição específica de futebol, a posição de Guarda-redes.

Como já é hábito a presença de figuras conhecidas do mundo do futebol em anteriores edições, Tiago, Guarda-Redes do Sporting Clube de Portugal, marcou presença nesta actividade.

Hóquei em Patins

Torneio Internacional

O Grupo Desportivo de Sesimbra organizou entre 21 e 23 de Abril o XXVI Torneio Internacional de Hóquei, o qual terminou com uma final muito disputada entre a equipa de juniores do Benfica e os espanhóis do C. P. Tordera. A equipa espanhola era a única a justificar o título internacional da prova, na qual participaram ainda equipas do GDS, da Juventude Azeitonense e do C. N. Setubalense, equipas de Sintra, Beja, Parede, Oliveira do Hospital, e ainda selecções da Associações de Patinagem de Setúbal e do Alentejo. Os jogos, que abrangeram escalões de Iniciados, Escolares, Infantis, Juvenis e Juniores. As outras equipas vencedoras foram, respectivamente: Paço de Arcos (Juvenis), Sintra (Iniciados), Sesimbra (Infantis), Benfica “A” (Escolares).


O SESIMBRENSE | 30 DE ABRIL DE 2011

16

O SESIMBRENSE Efeméride

António Peixoto Correia: Uma administração municipal “larga, empreendedora e fora da rotina” Em Abril de 1909 realizou-se em Lisboa um Congresso Municipalista, convocado pela vereação republicana da Câmara lisboeta. Aderiu ao Congresso grande número de municípios, embora variasse o número de delegados por cada um. Sesimbra fazia-se representar pelo seu presidente, António Peixoto Correia, e ainda por Alberto Torres e Emílio Fragoso. O Congresso veio a revelar-se uma poderosa manobra partidária dos republicanos, procurando capitalizar o descontentamento dos municípios face à apertada tutela do Governo, de quem dependia a aprovação prévia de praticamente todos os actos das Câmaras. As teses apresentadas pelos republicanos visavam, afinal e apenas, abalar o regime monárquico, pois quando chegaram ao poder, ano e meio depois, não aplicaram nenhuma delas. Um exemplo: partindo do princípio, que diziam “científico”, de que “A Pátria deve ser a Federação dos Municípios livres e autónomos”, e estes uma “Federação de Paróquias”, colocavam os municípios no centro da política nacional, relegando o Governo para um papel secundário: “o Estado apenas exercerá as funções de regularizador e concatenador da obra comum municipal.” De acordo com as suas teses, qualquer deliberação dos municípios entraria imediatamente em vigor, independentemente de qualquer tutela, e apenas as deliberações relativas a empréstimos e aumentos de impostos

careciam de ser aprovadas em referendo popular. Apesar de dominarem a grande maioria dos municípios, os monárquicos não se prepararam devidamente para o Congresso. As teses foram entregues sempre à última hora, sem possibilidade de estudo prévio e concertação política. O número de delegados por município era algo arbitrário, e muitos municípios monárquicos faziam-se

O meu nome e a minha dignidade pessoal exigem, para mostrar a boa-fé com que reinvidico a máxima autonomia local, que a este aumento de liberdade corresponda um aumento de responsabilidade. representar por delegados lisboetas - e republicanos! António Peixoto Correia teve um papel de relevo no Congresso, intervindo amiúde. Argumentou abundantemente

no sentido do Congresso não possuir competência para aprovar a maioria das teses propostas. Contudo, a mais importante e inovadora intervenção de Peixoto Correia deu-se na defesa da municipalização dos serviços, ou seja, de que os serviços públicos pudessem ser prestados directamente pela Câmara: uma ideia que acabaria, muitos anos depois, por se mostrar visionária, mas que, na altura, era vista com desconfiança por muitos republicanos, e também por monárquicos, que viam nessa solução a influência das ideias socialistas e comunistas. Já nessa altura estava em adiantado estado de execução, em Sesimbra, o investimento de abastecimento de água como um serviço municipal, um exemplo concreto daquilo a que o presidente sesimbrense classificava como uma administração municipal “larga, empreendedora e fora da rotina”. Mas Peixoto Correia afirmaria ainda outro importante princípio: o de “uma maior sanção penal e civil para os membros dos corpos administrativos locais, correspondente ao maior alargamento de funções, que o pedido da autonomia local necessariamente importa”. Esta proposta foi ruidosamente contestada pelos republicanos, que conseguiram a sua rejeição, embora por poucos votos. As propostas de Peixoto Correia respondiam perfeitamente ao dilema que se colocava então à sociedade Portuguesa: a autonomia local instituída pelos liberais no século XIX fora

um fracasso, pois muitas Câmaras se tinham endividado para além do razoável e, em consequência disso, essa autonomia fora sendo gradualmente reduzida. Dê-se então de novo essa autonomia - propunha Peixoto Correia - e aumente-se até o campo de intervenção das Câmaras, mas responsabilizando ao mesmo tempo os titulares de cargos políticos nas Câmaras pelos seus actos! Solução a que o futuro veio dar razão, pois é esse o modelo que vigora no regime da actual autonomia local. João Augusto Aldeia

Bombeiros reeditam boletim

Os Bombeiros Voluntários de Sesimbra deram início à publicação de um boletim mensal, destinado a divulgar as actividades daquela Associação. Da responsabilidade de Joaquim Diogo (membro dos corpos sociais dos BVS) e do sub-chefe Pedro Santos, o novo periódico ostenta o título de “Presente!”, exactamente a mesma designação do quinzenário dos BVS cuja publicação teve início em 1946, nessa altura realizado por Zé Preto e Manuel José Pereira. O Sesimbrense saúda a nova publicação, a quem dirige votos de sucesso e longa vida.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.