17 de Fevereiro de 2022 O SETUBALENSE 13
As nossas escolas são de uma multiculturalidade incrível. Precisamos de agarrar a oportunidade de termos aqui tanta gente de tantos sítios diferentes do mundo DR
Perfil Mestre que vibra pelo verde do caule da rosa Hélder Guerreiro nasceu em 21 de Outubro de 1970. Aprecia mais o verde do caule da rosa – espécie de símbolo secundário adoptado pelo partido que defende –, já que, admite, o coração pulsa leoninamente pelo... Sporting. Foi vereador, em regime de permanência, desde Novembro de 2005 até Fevereiro de 2017, assumindo a vice-presidência da autarquia desde 2009. E chegou, com naturalidade, à presidência da Câmara nas últimas eleições. Desempenhou as funções de vogal executivo do Programa Operacional Regional - Alentejo 2020 entre Fevereiro de 2017 e Setembro de 2021. E, no currículo profissional, apresenta ainda, entre outras, a participação em grupos de trabalho permanente, com vários especialistas europeus, sobre os regulamentos europeus de Desenvolvimento Rural e Política Agrícola Comum. Frequenta o Doutoramento em “Gestão Interdisciplinar da Paisagem” desenvolvido pelas Universidades de Évora, dos Açores e Técnica de Lisboa, é Mestre em Economia Regional e Desenvolvimento Local pela Universidade de Évora e licenciado em Engenharia Agro-Florestal, Ramo Desenvolvimento Rural, pela Escola Superior Agrária de Beja, onde tirou ainda o bacharelato em Engenharia Técnica de Produção Animal.
euros. Mas o valor será aquele que conseguirmos realizar. Já assinámos o acordo com o IHRU e a nossa proposta agora é tentarmos, até 2026, realizar o máximo que for possível. Estamos a contar que este projecto também nos ajude a
Temos de criar acções que levem a que daqui por 10 anos tenhamos mais água na barragem
resolver esse problema estruturante do concelho, que é a zona a norte de Milfontes. O PRR financiará boa parte do acordo estabelecido entre a Câmara e o IHRU. E não será o IHRU responsável pelos investimentos, mas sim a Câmara Municipal e alguns privados. E a Câmara vai investir quanto? O que pudermos. Tudo aquilo que pudermos realizar. Aqui é uma espécie de corrida contra o tempo. Não perdemos dinheiro nenhum. Até temos estado a fazer algumas parcerias com o Governo para que algum património do Estado que aqui está – seja da Infraestruturas de Portugal, do Ministério da Educação ou do ICNF – passe para o município, de forma a que o possamos disponibilizar para habitação, dos nossos jovens e de quem escolheu aqui viver.
Para fixar ou atrair jovens? Ou ambas? Não gosto do termo fixar. Gosto que seja visto como uma oferta para que os nossos jovens possam ter oportunidade de ter uma habitação própria, sejam os que já aqui residem ou outros jovens que para aqui queiram vir. Fixar é como se lhes quiséssemos colar o território. Queremos é ser um território atractivo para o qual queiram vir ou no qual queiram continuar a viver. Não é nenhuma obrigação. Na verdade, fomos o concelho que mais cresceu demograficamente. A gestão da água foi também assumida como prioridade. Inequivocamente. Já fizemos várias reuniões com todas as partes interessadas, com a Associação de Beneficiários do Mira, a APA, a Águas
do Alentejo, até mesmo com algumas organizações ambientalistas, outras da área do turismo e também da área agrícola. Nas primeiras reuniões fizemos uma avaliação da situação, que este ano é péssima. A albufeira de Santa Clara está com 41% de capacidade, ainda há muita água mas para poder de lá sair é preciso que seja elevada e isso tem custos energéticos enormes. Mas também tem custos ambientais que não conhecemos. Há um conjunto de estudos que ainda precisam de ser feitos. Não sabemos como está o assoreamento da barragem. Já definimos que até final do ano temos de criar um pacto, tendo em conta os cenários que existem de consumo, de perdas e até de insuficiências, para o uso sustentável da água. Um pacto com todos: agricultura, consumo humano, consumo industrial, todos. Construir as acções que levem a que daqui por 10 anos tenhamos mais água na barragem do que a que temos hoje. A participação cívica, a proximidade, é outra das apostas para este mandato? Sim. Já iniciámos o Fórum do Território, no qual participam cerca de cem munícipes que querem mudar o paradigma da governação do território, criando uma oportunidade para uma democracia participativa e directa, muito mais efectiva... … Dito dessa forma, até deixa transparecer a ideia de que quem estava anteriormente na governação não era o PS. Era, era. Só que estes são projectos novos. Odemira tem crescido e tem feito um trabalho muito significativo no âmbito da democracia participativa. É um dos municípios que tem orçamentos participativos consecutivos há mais anos no País e que tem apostado muito nesta lógica. Ainda assim, considera que a proximidade necessita de ser mais aprofundada. Até porque avançou para um ciclo de visitas abertas às freguesias. Também faz parte dessa lógica. Além do fórum, uma das ideias que tivemos foi realizar uma semana aberta, que começou por Luzianes, Saboia e Santa Clara. É um modelo que aprofunda aquilo que o anterior executivo já fazia, que eram os dias abertos nas freguesias. Agora, instituímos as semanas abertas e não é só numa freguesia, mas sim num conjunto de freguesias. Farei os meus atendimentos semanais nessas freguesias, haverá uma reunião de câmara descentralizada, reuniões com todas as associações do território e os nossos dirigentes também vão poder sair dos gabinetes
para irem ao terreno. Nesses dias estamos com a população, as associações locais, discutindo um pouco do território, ouvindo as pessoas. Na tomada de posse disse que não se podia deixar ninguém para trás e que não podem existir pessoas invisíveis. As comunidades migrantes também contam? Como é que a Câmara olha para essa situação? Todas as comunidades, todas as pessoas, contam. O concelho de Odemira tem um conjunto muito diverso de comunidades residentes, de muitas nacionalidades. As nossas escolas são espaços de uma multiculturalidade incrível. É uma riqueza muito grande que o concelho tem e precisamos de agarrar essa oportunidade de termos tanta gente de tantos sítios diferentes do mundo. Precisamos de dar um impulso forte a esta lógica de inovação social que nos permita oferecer condições para que boa parte desta população aqui fique, aqui tenha os seus filhos e desenvolva a sua actividade económica, social, cultural, num território que nunca foi de uma só proveniência. Para nós é ponto de honra que todas as pessoas que escolham viver no concelho de Odemira encontrem qualidade de vida. Estamos muito focados nisso. Todos contam. Em que sector pode Odemira capitalizar mais a atracção de investimento? O concelho tem no turismo uma área onde tem capitalizado investimento e temos tido uma oferta diferenciada da maior parte dos territórios do litoral alentejano: o Cristianismo, o turismo ciclável, as pequenas praias são áreas de aposta, do ponto de vista de investimento e de criação de riqueza. A agricultura tem sido uma área de investimento externo muito forte, com grupos empresariais internacionais, mas também com muitas empresas nacionais e até locais, com uma criação de emprego muito significativa. Além destas duas actividades económicas, queremos nos próximos anos afirmar-nos como um território de indústrias culturais e criativas. Neste âmbito vamos criar todas as condições físicas e promocionais para que os jovens ou menos jovens, na área da informática e em todas as dimensões do que possa ser a criatividade, inclusive a cultura, as artes, tenham aqui um espaço de criação, de produção e afirmação. Para afirmar um concelho que, além da enorme riqueza paisagística e de biodiversidade, é também capaz de oferecer um espaço para montar ecossistemas criativos muito fortes.