8 minute read
Rita Patrício
Jovens com deficiência
RITA PATRÍCIO Professora de História sonha ganhar medalha nos Jogos Paralímpicos
Advertisement
O segredo da jovem de 25 anos, com paralisia cerebral, para conseguir desenvolver as suas duas grandes paixões é simples: dividir bem o tempo
Maria Carolina Coelho
Desde cedo que Rita Patrício, natural do Pragal, soube que o seu futuro seria dividido entre as suas duas grandes paixões: o Boccia e a disciplina de História. A paralisia cerebral nunca foi um impedimento para a jovem de 25 anos, que está empenhada em chegar aos Jogos Paralímpicos. “Só tinha duas opções. Ou fi cava a lamentar-me porque estou numa cadeira de rodas ou trabalhava para aquilo que quero. Optei pela segunda opção”, conta.
O percurso académico “foi sempre no ensino normal, incluindo na faculdade”. “Estive em turmas regulares. Nunca tive qualquer problema nesse aspecto. A única diferença é que escrevia no computador e tinha mais tempo para realizar os testes”.
Já para o ensino superior, optou pela Licenciatura em História na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde também se tornou mestre em Ensino de História. “Acabei a faculdade e parei um ano. O ano lectivo passado foi o meu primeiro a dar aulas, a 7.º e 8.º anos, na Escola Básica e Secundária Santo António da Charneca, no Barreiro”.
A experiência, descreve, “foi boa”, até porque está “a fazer aquilo que sempre quis”. “Não podia ter corrido melhor. Obviamente que encontramos sempre desafi os, mas foi uma questão de encontrarmos a melhor maneira para os ultrapassarmos”.
Sobre a recção dos alunos, a jovem explica que “ao início estranharam um bocado”. “Acredito que tenham pensado ‘o que é que esta está a aqui a fazer’, até porque não é comum terem um professor com paralisia cerebral. Mas disse-lhes como é que iria acontecer o processo e que eles tinham de se habituar a mim. A partir daí foi tranquilo”.
DR
Objectivos de Rita Patrício passam também por dar aulas ao secundário, sem excluir segundo mestrado
Na grande estreia enquanto docente, Rita leccionou a disciplina de História, assim como Oferta Curricular, apesar de não ser da sua área. “É uma disciplina mais artística, na qual os miúdos podem realizar peças de teatro, por exemplo”, esclarece.
Ao longo das duas décadas e meia de vida, a jovem, a morar actualmente na Amora, Seixal, garante ter tido “as mesmas experiências que os outros”. “Aprendi desde cedo que podia fazer as mesmas coisas, ainda que de forma diferente e adaptada”.
Boccia chegou aos oito anos e conquistou para sempre Sem se aperceber, Rita foi traçando o seu futuro até chegar aos dez anos. “Desde o 5.º ano que digo que quero ser professora. Já o Boccia, pratico desde que tenho oito anos. Soube que havia essa modalidade na Escola Básica 2/3 Dr. º Augusto Louro, fui experimentar e gostei”.
Apesar de “demorar um pouco a aprender a jogar”, revela ter gostado tanto que joga “até hoje”. “É complicado fazer a gestão das duas. É cansativo e tem de haver muito jogo de cintura, mas dá perfeitamente para o fazer. O segredo é dividir bem o tempo”.
A jovem, uma das atletas mais experientes da Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal (APCAS), foi em 2016 chamada “pela primeira vez a jogar pela Selecção Nacional”. “Fiquei nervosa, mas orgulhosa por ter a hipótese de representar Portugal. É um sonho tornado realidade, até porque não é qualquer um que tem a oportunidade”.
Desde então, conta já ter ido a Espanha e ao Brasil vestida com as cores portuguesas. “No nosso país já consegui o 2.º lugar no Campeonato Nacional de Boccia, enquanto em termos internacionais ainda não consegui nenhum”.
No entanto, é precisamente para alcançar esse objectivo que a almadense diz treinar quatro dias por semana. “Espero conseguir participar nos Jogos Paralímpicos e, se conseguir de lá trazer uma medalha, tanto melhor. Sei que com trabalho, esforço e dedicação, um dia hei-de conseguir. A prática faz a perfeição. Estou a caminhar para lá”.
Para tal, a preparação física passa também por levantar pesos e sessões de fi sioterapia. “Em casa gosto de levantar pesos, porque me ajuda bastante a ganhar força para as jogadas. Além disso, tenho acompanhamento de uma fi sioterapeuta, em que fazemos planos de treino personalizados”.
Já como passatempo, a jovem es-
Rita Patrício à queima-roupa
Idade 25 anos Naturalidade Almada Residência Seixal Área História e Boccia
Ambiciosa por natureza e teimosa de feitio, próximos objectivos passam por tirar doutoramento e trazer uma medalha olímpica para Portugal
tá igualmente na dança inclusiva. “É também na Augusto Louro, uma vez por semana. Adoro porque acredito que é através da música e da dança que a pessoa consegue-se expressar totalmente”.
Família tem “papel central” na vida da pessoa com defi ciência Sobre a importância da família na vida da pessoa com defi ciência, Rita é directa: “tem o papel central”. No caso da jovem, os dois irmãos gémeos e os pais “sempre fomentaram tudo o que fosse independência e ajudaram a alcançar os sonhos que tinha”. “Sempre me disseram que se não conseguia da forma A, para fazer da B ou C, mas que ia conseguir fazer. A família tem muita infl uência”.
Além disso, Rita faz questão de agradecer aos pais a ajuda que lhe deram. “Se não fossem eles, não teria ido para o ensino superior. Os transportes em Lisboa não são adaptados, assim como a cidade universitária não o é. Eles levavam-me todos os dias às seis da manhã e iam-me buscar ao fi nal do dia, muitas vezes por volta das 20 horas”.
Hoje, conta também com o apoio de uma assistente pessoal, no âmbito do projecto CAVI. “Tenho assistente há cerca de quatro anos. Basicamente ajuda-me nas tarefas que não consigo fazer sozinha, como tomar banho e levar-me para a escola, onde fi ca comigo para me ajudar a ir à casa-de-banho”.
Futuro passa pelo doutoramento, com segundo mestrado na mente Ambiciosa e trabalhadora por natureza, “em todas as áreas” da sua vida, e teimosa de feitio, Rita explica ter uma “vontade constante” de estar a aprender. Para o futuro, são já vários os objectivos que tem traçados. “No Boccia é chegar aos Paralímpicos. No ensino, é tirar o doutoramento, ou em História Antiga ou Contemporânea, e ter a experiência de dar aulas ao secundário”.
Antes, não exclui a hipótese de tirar um segundo mestrado em História Antiga. “Ainda não tenho bem defi nido como vai ser, mas tenho a certeza de que quero voltar para a faculdade. Sempre fui extremamente estudiosa. Adoro aprofundar temas sobre os quais ainda não sei muito”.
Saúde
ANA LUÍSA PEREIRA Médica concilia profi ssão, empreendedorismo e família na vila que lhe corre nas veias
Escolheu Grândola para tudo. Constituir família, trabalhar como dentista e investir numa clínica polivalente
Humberto Lameiras
Para Ana Luísa Pereira, seguir profissão no sector da Saúde nunca foi uma dúvida. “Sempre soube que queria esta área”, afirma. O que não tinha certeza era sobre a via médica que iria exercer, e acabou por ser na República Checa que começou a decidir-se depois de fazer testes para tirar medicina.
“Percebi, rapidamente, que uma vida a fazer turnos não seria para mim. Então a segunda opção foi a medicina dentária”, conta. O passo seguinte, e por opção pessoal, e também conselho do seu próprio dentista, acabou por se inscrever-se e formar-se na CESPU – Cooperativa de Ensino Superior, Politécnico e Universitário, na zona norte de Portugal.
E foi na mesma faculdade que estagiou durante o 5.º ano do curso. “Quando terminamos o estágio estamos aptos para trabalhar”, comenta. Entretanto, tirou a especialidade de ortodontia e harmonização orofacial.
Natural de Grândola, esta terra alentejana nunca lhe saiu do coração, por isso diz que “sempre quis trabalhar e viver em Grândola”, e decidiu abrir ali uma clínica dentária que fosse “polivalente: saúde e bem-estar e que não transmitisse os receios que tantas pessoas sentem a entrar numa clínica”. E assim nasceu a “bonita” Clínica da Vila de Grândola.
Um espaço de Saúde, que comemorou um ano em Maio deste ano, constituído por várias especialidades, como medicina dentária, osteopatia, medicina geral, psicologia, medicina tradicional chinesa, coaching, hipnose e nutrição. “Tencio-
DR
Ana Luísa Pereira
à queima-roupa
Idade 28 anos Naturalidade Grândola Residência Grândola Área Médica Dentista
Tem por objectivo fazer com que a saúde dentária entre no hábito regular da população
no que cresçamos mais e ter mais especialidades”, ambiciona.
Na escolha pela ‘Vila Morena’ importavam ainda outras razões para o estilo de vida que Ana Luísa Pereira pretendia para si mesma; “constituir família, ter tempo, conseguir manter uma vida profissional e, ao mesmo tempo, conseguir aproveitar as avós presentes”. E isso sublinha, “sem elas não seria possível trabalhar e viver no mesmo local”.
Há ainda outros motivos, a sua filha Maria Carminda, o namorado Nuno, uma relação de três anos, e, ainda, como diz: “três filhas caninas”. E também pelo apoio que recebe das avós. “São elas que me ajudam quando saio mais tarde da clínica ou se tenho formações fora de Grândola”.
Apesar de notar que, “ao longo dos anos, tem havido melhorias visíveis nos cuidados que as pessoas têm quanto aos cuidados de saúde oral”, lamenta que ainda “exista alguma desinformação” nesta área. “Ainda se desvaloriza muito os cuidados de higiene, as consultas de rotina e a relação do médico dentista continua a ser questionada por parte de alguns pacientes”.
Com actividade intensa na clínica, Ana Luísa Pereira encontra na praia um meio para carregar energias. “Assim que começa o bom tempo, e até ao Inverno, vou regularmente à praia”. Mas também diz que, actualmente, “não tem tempo para muito mais”.