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João Coelho- Slow J

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Micael Santos

Micael Santos

Artes e Espectáculos

JOÃO COELHO | SLOW J “Temos um tempo limitado nesta vida e coisas que só nós viemos cá fazer”

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Slow J tem Setúbal como ponto de partida da viagem que é a sua vida, com a música sempre presente e o verbo “fazer” como lema para quebrar barreiras na cultura portuguesa

Inês Antunes Malta (Texto) Filipe Feio (Fotografi a)

João Coelho nasceu em Setúbal, fi lho de mãe portuguesa e pai angolano. Enquanto músico, assina como Slow J, uma mistura entre a calma que lhe é característica e a inicial do seu nome.

No tema “Vida boa”, canta “não quero uma boa vida, quero uma vida boa, nada do que a minha sina diz foi escrito à toa”. O interesse em fazer música surge na adolescência. Sempre que conhecia pessoas que tocavam guitarra, pedia-lhes que o ensinassem. No entanto, até ao ensino secundário, que fez no Liceu em Setúbal, acreditava que seria programador.

“A um certo ponto, eu e os meus pais encontrámos um curso de Engenharia de Som, em Londres, que acabou por me encaminhar para uma profi ssão na música”, começa por dizer. “Fazia música todos os dias, desde o 11.º ano e acho que há um lado de dedicação e amor pelo que fazemos que é muito importante para construir qualquer tipo de carreira”, considera.

No seu percurso, destaca os tempos que passou a tirar cafés e a receber pessoas nos estúdios BigBit, em Lisboa, depois de voltar da universidade. “Acho que a disposição para fazer o trabalho mais ‘abaixo’ no estúdio, com um sorriso na cara e orgulho de fazer bem feito, foi das coisas que mais me deu um empurrão inicial para conhecer músicos e produtores, aprender a maneira como trabalhavam e aplicar isso no meu trabalho”, partilha o músico de Setúbal, acrescentando que “foi assim que conheci o Valete e tive oportunidade de substituir o técnico de som

Tem uma canção dedicada ao Sado e veste “a camisola de setubalense como símbolo de trabalho e humildade”

dele durante uns meses quando ele partiu o pé. Foi uma experiência inesquecível”.

Trabalhos editados de forma independente refl ectem vontade de fazer acontecer Produziu, escreveu e interpretou as suas duas primeiras obras: o EP The Free Food Tape, em 2015, e o álbum The Art Of Slowing Down, em 2017. Em 2018, fundou, com amigos, uma editora independente. “Todos os meus trabalhos até agora foram independentes, sendo que a certo ponto criámos a nossa editora, ‘Sente Isto’, para podermos editar outros trabalhos além do meu”, diz. “Ser um artista independente não é uma bandeira que levante, é mais refl exo do sentido prático de não fi car sentado à espera que os outros acreditem em nós”, adianta.

Para o João, “o espírito é fazer, foi para isso que estudei, para conse-

Ser um artista independente é refl exo do sentido prático de não fi car à espera que os outros acreditem em nós

guir fazer um álbum do início ao fi m só com um portátil e um microfone e na prática consigo fazê-lo”.

Nas suas músicas e nas mensagens que através delas pretende passar, fala, com a sua singularidade, sobre a sua vida e sobre aquilo em que acredita, "para me motivar, a mim e aos outros, a seguir o caminho que sabemos que é o nosso, mesmo que às vezes nos tentemos enganar a nós próprios ou vender-nos barato. Temos um tempo limitado nesta vida e coisas que só nós viemos cá fazer, mãos à obra!”.

O segundo projecto “You are forgiven” nasce em 2019 e em 2020, durante a quarentena, Slow J lança sLo-Fi, um projecto de instrumentais. Todos estes elementos colocam o artista “na vanguarda da nova geração de artistas portugueses que estão a quebrar barreiras e preconceitos da música e identidade cultural portuguesa”.

João Coelho | Slow J

à queima-roupa

Idade 29 anos Naturalidade Setúbal Residência Cascais Área Música

Por todos os sítios por onde passou, a música foi sempre “uma íntima companheira de viagens”

Quer que a sua geração deixe à próxima “uma música a desenvolver como um estilo só nosso, que curtimos nas festas, ouvimos em casa e apreciamos independentemente do que as pessoas ouvem fora de Portugal”.

Esta “nossa música” tem, no seu entender, “de nos representar a todos, cores, origens, tamanho de sobrancelha, etc. Na verdade, já anda aí, mesmo que algumas pessoas ainda não se tenham apercebido”. Acrescenta ainda que “a nossa música não pode ser só importar o que se faz lá fora todos os anos”, manifestando o desejo de “voltar a ter capacidade de levar a nossa música para fora, que os nossos jovens músicos sejam incentivados a sonhar mais alto e seja natural querermos ser ouvidos por pessoas de todo o mundo”.

Na ligação às suas origens, diz vestir “a camisola de setubalense como símbolo de trabalho e humildade”. Foi precisamente em Setúbal que “tudo começou, para onde os meus avós foram viver quando chegaram de Angola, onde nasci e vivi alguns dos anos mais importantes de formação pessoal” e é ao rio azul que dedica uma canção.

“Quando escrevi ‘Sado’ tinha a sensação que não ia ter muito mais tempo para passar por Setúbal. A olhar para o rio, veio-me essa ideia de que ele não nos vai julgar, quer estejamos ao lado dele a vida toda, quer vamos embora e só voltemos no fi m. Ele só corre e, tal como canto na música, olha sempre de lado”, refere, com um sorriso, o mesmo que solta quando questionado sobre planos para o futuro: “é tudo segredo”.

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