Kalango #26 - Ano 11 - Maio de 2020
O dia em que o Corona nos parou O que fazer na quarentena? Filmes, livros, música, arte e poesia no isolamento Kalango#26 • 2020
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Boa viagem!
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Revista Kalango. Edição #26. ANO 10. Maio de 2020. Editor: Osni Tadeu Dias MTb21.511. A Kalango é uma publicação independente, não tem vínculos políticos, econômicos, nem religiosos. A Kalango está no ar desde 2010. Sua equipe é formada por professores, poetas, artistas plásticos, fotógrafos, jornalistas profissionais, ilustradores, publicitários, filósofos, escritores e um extraterrestre. Quer nos apoiar? Ajude uma mídia independente. Anuncie. Quer ser colaborador? Escreva para osni.dias.faat@ gmail.com. Edição concluída em 11 de maio de 2020.
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GPS
Kriança Índia Página 18
(( LOCALIZE-SE ))
10 álbuns para ouvir na quarentena – Delta9 - Página 30
Poesia Dura Marcelino Lima Página 8
A alma não cabe na caixa. Mauricio Andrade Página 20
Flávia Helena Página 33
20 filmes para ver na quarentena
Delta9 - Página 12
Acima do abismo Mauricio Andrade Página 28
Gárgula - Amália
Sérgio Monteiro de Almeida
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10 livros e poemas para ler na quarentena
João Gilberto Página 34
Editorial
H
á alguns dias, antes do fechamento desta edição, a previsão da Universidade de Tecnologia e Design de Singapura era de que o surto da Covid-19 no Brasil poderia acabar daqui a um mês. Na primeira semana de maio, o país batia o recorde de mortes em 24 horas e o prazo para o final da pandemia saltou para 11 de novembro. De acordo com pesquisas, o Brasil vive, neste momento, o pico do vírus, que deve começar a diminuir a partir de julho, segundo especialistas. Porém, o fim do surto do novo coronavírus poderá acontecer apenas após o Natal, de acordo com a projeção do laboratório de inovação de dados da Universidade de Singapura. Então por que estamos fazendo mais uma edição da Kalango? Porque a Terra parou, meu caro leitor. E não podemos fazer absolutamente nada. Mas nem tudo está perdido, ou melhor, seus problemas acabaram! Com a Kalango nas mãos, você agora poderá fazer boas escolhas neste perído de isolamento social. Ouvir um bom disco, assistir a um bom filme, ler um bom livro ou tudo ao mesmo tempo, agora. Palmirinha se atrasou e não mandou as receitas, mas tuuuuudo bem. Aqui você vai encontrar boas receitas do que fazer nesse tempo em que, acima de tudo, será importante se encontrar consigo mesmo. Vamos subir em mais de um espaço na Internet, mas você também poderá baixar a edição e se aproveitar dos links que acompanham as matérias, interagindo com o conteúdo disponibilizado pela Flávia Helena, pelo João Gilberto, pela Alline Nakamura e pelo nosso querido Delta9. Boa leitura!
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O vírus é como um balão e nós somos o suprimento de ar. Como você impede que o vírus cresça e cause mais estragos? Sendo responsável e ficando em casa. Anúncio digital criado por Lemon Tea, na Índia, para Metrosaga, nas categorias: Mídia, Interesse Kalango#26 • 2020 público,•ONG.
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Tiago Cervan
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Poesia dura Marcelino Lima*
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“Poesia Dura, Língua Ferina, Coração Justo” (EMAM / Bas7 Áudio Solution) é o segundo trabalho solo do artista sergipano Déo Miranda, que neste projeto revisita o seu lado mais visceral, apresentando uma sonoridade mais crua e pesada, em relação ao trabalho anterior “Batuque é Batuque Mesmo” (2007), momento de total envolvimento com pesquisas sobre temas regionais e tradicionais. Partindo do meio micro, onde os questionamentos pessoais lançam um olhar mais apurado sobre o que acontece a sua volta, Déo Miranda sai do íntimo de seus conflitos relacionais e propõe a autocrítica diante das posturas e posicionamentos de cada um, tomando como mote o cenário político e social que se apresenta no momento atual, conjunto de elementos que dão o tom duro e ao mesmo tempo poético do álbum, que entrelaça elementos tradicionais, expressões e linguajares peculiares com uma diversidade de simbologias, influências artísticas, sonoras e literárias, indo de Guimarães Rosa e Sebastião Salgado a Arthur Bispo do Rosário; do Samba de Pareia ao rock setentista.
O disco contém dez faixas autorais e foi gravado nos estúdios EMAM – Estúdio Municipal de Áudio e Música – Mogi das Cruzes e Bas7 Áudio Solution em São Paulo, entre os anos de 2017 e 2018. Entre os convidados, o ator pernambucano Dinho Lima Flor (CIA do Tijolo) e o militante negro e, também ator Severo D´acelino, e ainda Dejair Benjamim (Tchandala), Luana D´almeida, o guitarrista Celso Damasceno e o Mestre Silvio Antônio. Na definição do próprio autor, o “Poesia Dura, Língua Ferina, Coração Justo” pode ser entendido como um desabafo, uma forma espontânea de expressar, sem a culpa do equívoco, sentimentos em forma de poesia e som, entoados livremente, sem a responsabilidade da perfeição, nem mesmo a obrigação de nada que possa definir gênero ou rótulos, apenas canção sem o compromisso da uniformidade; uma afirmação direta ao regionalismo, aos saberes tradicionais, aos detentores populares; um zine libertário sem o medo de ser panfletário; um berro, um clamor, um afago, depois outro berro. A arte de uma alma catingueira e de um coração urbano.
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PALAVRA
Ritos Neide Almeida* Não engomei lençóis de linho branco Não pus a mesa com toalha bordada talheres de prata Não me vesti de seda pura e rubros mistérios de renda Não usei castiçais nem vasos de cristais Quando você chegou Apenas toquei de leve as dobras da cambraia as marcas da pele Na mesa pousei pratos de alumínio e generosas colheres Tomei um banho de ervas me cobri com um pano -da-costa Acendi candeeiros nos cantos da sala Salpiquei a casa com pétalas de flor Quando você chegou. * Escritora, poeta, educadora, pesquisadora, produtora e gestora cultural. Atualmente pela Fio. de.Contas Produções promove cursos, oficinas, ações e eventos. Integra o Conselho Consultivo do Instituto Ruth Guimarães.
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PALAVRA
Essencial Mauricio Polachini* todas as pessoas o que fazem todos esses dias? o que querem de diferente de mim? que bagagem trazem na memória que insiste em cobrar. todas essas almas, de que modo querem se misturar, se tocar, sem tocar. todos esses eufemismos cínicos que cismam em tentar mostrar: a grande ideia, a ponte magnífica que nos fará alcançar a sobriedade. tanta lama. tanta alma. tantas malas de rodas quebradas que carregamos. muito. pouco. vida. tanto sentir, que nos tira do ócio de mais uma noite improdutiva. noite sem vida. noite sem você. tanto pesar por tantos anos que nos equilibram à morte. tanto medo de tudo o que é novo. tanto desgaste por aquilo que é sempre o mesmo. tantos medos. tanta fala que cala. tanta alma que se anula. tanta calma que cessa. não finda, mas para. o toque. o deleite. o torpor. a aniquilação de cada sentido sem que houvesse qualquer forma de voltar à sobrevida. a placa vermelha: “somente serviços essenciais”. um acúmulo de experiências. mas e o essencial? eu não preciso de muito. só não quero tão pouco. Kalango#26 • 2020
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BRISA
GNUT, VOR-INGHA. KLAATU MBARA MORKTHAN!! Delta9* “Minha missão não é resolver seus mesquinhos problemas de política internacional. Não falarei com nenhuma nação ou grupo de nações. Não pretendo trazer minha contribuição aos seus ciúmes ou suspeitas infantis.” “A Burrice me deixa impaciente. Meu povo aprendeu a viver sem ela.” “Em breve uma de suas nações aplicará a energia atômica em foguetes. Até o momento nós não estamos interessados em como vocês tem resolvido suas brigas mesquinhas. Mas se vocês ameaçarem expandir sua violência, esta Terra de vocês será reduzida a cinzas. Sua escolha é simples. Juntem-se a nós e vivam em paz. Ou prossigam seu curso atual e encarem a destruição. Nós estaremos aguardando sua resposta. A decisão está com vocês.” “E então ocorreu a coisa que será para sempre a vergonha da raça humana. Do topo de uma árvore a cem metros de distância veio um piscar de olhos de luz violeta e KLAATU caiu. A multidão reunida ficou por um momento atordoada, não compreendendo o que havia acontecido. GNUT, um pouco atrás do seu mestre e para um lado, lentamente virou o seu corpo um pouco na sua direção, moveu a sua cabeça duas vezes, e ficou parado”. “Depois seguiu-se um pandemónio. A polícia tirou o atirador da árvore. Eles o acharam mentalmente desequilibrado; ele continuou chorando que o diabo tinha vindo para matar todos na Terra. Ele foi levado, e Klaatu, embora obviamente morto, foi levado para o hospital mais próximo para ver se algo poderia ser feito para reanimá-lo. Multidões confusas e amedrontadas se misturaram com os terrenos do Capitólio durante o resto da tarde e boa parte daquela noite. A nave permaneceu tão silenciosa e imóvel como antes.” WE AREN’T OUR FRIENDS. A menor de todas as coisas é a maior de todas as coisas. E a maior de todas as coisas é a menor de todas as coisas. * Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário.
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SĂŠrgio Monteiro de Almeida
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LETRA
O paraíso é aqui mesmo Marino Maradei*
“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria.” Esta frase do escritor Jorge Luís Borges sugere aconchegar-nos, também, em um Olimpo – talvez diante de nossa biblioteca, onde os livros, quem sabe, se entendam ou se desentendam sem derramar sangue ou bílis. Borges amava – uma vez em seu paraíso – abraçar clássicos de fino humor; por exemplo, “Satyricon”, de Petronio, que está – imagine! – bem diante de nossos olhos. Caio Petronio Arbitro (27 d.C.- 66 d.C.) discorre habilmente sobre prazeres e corrupção na Roma Antiga. Repartindose em três iguais porções (literatura,
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política e devassidão), passou de adulado a odiado por Nero. Sendo delatado por um escravo – tudo urdido pela inveja de Tigelino, assecla do imperador (cruel perseguidor de cristãos, segundo os historiadores Tácito e Suetônio). A máxima de Petronio “Mesmo ao jantar é preciso conhecer a literatura” enfureceu sobremaneira Nero. Com verve contemporânea, Borges maximizou: “Creio que com o tempo mereceremos não ter governo”.
* Jornalista, professor e um dos mais respeitados profissionais do rádio e da imprensa paulista.
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PALAVRA
Acima do abismo Mauricio Andrade
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que o ser humano só muda quando se vê no precipício, no abismo, e que não nos tirasse essa oportunidade, pois, assim como nós, sua civilização, a de Klaatu, também teve de passar por seu abismo para evoluir. Isso nos parece familiar? Bem, estamos vivendo nosso abismo, embora, aparentemente não existam, seres de outro planeta tentando salvar a
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Qual seria a melhor habilidade do ser humano? Superar-se, adaptar-se sempre que algo novo ocorre para alterar aquilo que se impõe como realidade? Ou essas seriam apenas sub-rotinas de algo maior, e que ainda não conseguimos identificar, mesmo e embora esteja constantemente agindo em nós? É certo que existe uma informação que estamos ignorando, em vista das necessidades, justamente de adaptação e superação de situações, algo tão impressionante, que vai além dos motivos comuns, que a ciência que nós mesmos organizamos, não consegue compreender. Na versão recente do filme “O Dia em que a Terra Parou”, de 2008, com Keanu Reeves, como o alienígena Klaatu, tentando salvar a Terra do ser humano, em um diálogo com o cientista, que tenta lhe convencer do contrário, lhe é dito
Parece até fácil dizer, mas, estamos vivendo o momento em que a única coisa que faz sentido é o amor.
Terra do ser humano, quer dizer, não que a gente saiba ou a olhos vistos. Mas se pensarmos sobre o assunto, todas as coisas que estão ocorrendo hoje, de uma forma ou de outra nos foram ditas, e que era necessário nos voltarmos para dentro de nós, e para o próximo, e fazer do amor, nossa ferramenta
de transformação, mudança e despertar. Parece até fácil dizer dessa forma, parece que é só a reprise de um filme, mas, estamos vivendo o momento em que a única coisa que faz sentido, é o amor. Em meio a centenas de milhares de opiniões, verdades, posturas políticas, críticas sociais, a boa e velha borboleta pousada na janela, faz mais sentido do que tudo. Ah, nos perdoem, não é uma velha e boa borboleta, e sim uma maravilhosa e significativa borboleta, a metáfora de nossa própria transformação. Voltamos a olhar com mais atenção a natureza, os pássaros, os animais que ressurgem, invadindo as cidades, quando deveriam se esconder na florestas, que nós queimamos, mas eles não são rancorosos, estão se mostrando, curiosos sobre nosso silêncio, sem medo de nossa violência, mas certos de que um tanto do silêncio é necessário
para que consigamos escutar a nossa própria natureza, transformados por encararmos nosso próprio abismo. Indiana Jones, também atravessa um abismo ilusório para chegar ao Santo Graal, para descobrir, que o poder do amor e da fé tem de ser uma entrega sem garantias, mas que chegando ao fim, traz uma valiosa lição, de que é a vida, acima de tudo, que é o verdadeiro Graal, nós somos o cálice no qual deve transbordar a verdade do sangue sacramental. Vivemos um momento único, maravilhoso, onde nossos olhos precisam focar além das imagens esculpidas do mundo, o além que é dentro de nós. Todas essas simbologias nos conduzem àquilo que não percebemos somente com a ciência, tampouco nosso instinto de sobrevivência e superação. Nos faz sentir que não estamos a sós, e de que há uma sensação poderosa de que somos
observados de perto, em um aguardo paciente para que despertemos, ou que nos faça despertar no momento certo, através de nossas boas escolhas, quando realmente escolhemos a vida, e não a nossa vida pessoal, mas a vida maior que é nossa identidade como Humanidade, como deuses embrionários. Aí está, é o tempo em que somos convidados a percebermos bem de perto, por dentro, de que não estamos sozinhos, nunca estivemos, sempre fomos instigados a usar dos atributos do conhecimento
e da alma, nos foi soprada a intuição da dos meios, da tecnologia ao alimento, e somando ao nosso próprio esforço, a percepção de que devemos seguir em frente e evoluir a alma, não a tecnologia, mas a alma, que é o nosso verdadeiro ser que sai do abismo e se torna parte desperta na grande jornada da existência.
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HQ Osni Dias
Em abril a Kalango entrou em contato com Rafa Campos, criador do gibi Kriança Índia, para conhecer melhor seu trabalho. Parte da conversa você lê abaixo: “Kriança Índia nasceu de um interesse antigo como artista plástico, que reapareceu quando fui chamado, em 2016, para ser roteirista chefe do seriado ‘Tainá e os Guardiões da Amazônia’ no Netflix. Tainá é uma indiazinha fofa, com animaizinhos queridos, e eu resolvi fazer sua versão noturna, hiper-violenta e de luta armada anti-branco. Cheguei a ser censurado pela Nickelodeon e só voltei a desenhar quando terminou meu contrato. Ela tem o cabelo Kaiapó, mas a saia de palha eu vi em alguns Kadiwéu, um colar de dente de animal que vi em outras nações e a pintura... acho que é Kalapalo. Eu quis fazer um personagem sem gênero, etnia ou mesmo idade definida. O gibi vendeu bem, esgotou todos os 700 exemplares que fiz, ele é um sucesso. Vendo 150 gibis em um dia feira de gibis. Kriança Índia tem um vídeo. Gabriel Pieri fez a animação e Juliana Frontin, música e som (página anterior) Rafa Campos está procurando um investidor. Se curtiu, dá uma força. Rafael Campos Rocha é o tipo de artista com trabalhos que seguem uma mesma linha, mas são bastante diversos entre si, como Deus, Essa Gostosa, O Poder do Pensamento Negativo, Magda e As Aventuras do Artista Contemporâneo. E, Kriança Índia, o quadrinho mais recente do cara não foge do esquema. Leia crítica aqui https://balburdia.net/2019/09/16/vem-comigo-krianca-india-1/ https://balburdia.net/2019/09/16/vem-comigo-krianca-india-1/ Kalango#26 • 2020
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LETRA
Som ao redor Paulo Salvador* Roteiro para um áudio comprimido em uns 25 minutos. Seriam os sons de 24 horas de uma casa de classe média nessa quarentena. Faria inveja a Phlilip Glass e Hermeto Pascoal. Descansado, bem dormido, sem relógio despertador, o dia começa madrugada com o zum, chi, plac da água da rua indo para a caixa d’água. Na cama vozes sonolentas conversam (hum, hum, hum). A cachorra entra errada na percussão: auuummm, eiemmm, aú, aú. Uma torneira escorre. Sandálias fazem um lap, lap, lap, toque, toque. Uma pausa e logo vem um radio falastrão com uma voz de qualquer coisa, um trilinom avisa mensagem no celular. Plac, plic, tram são louças e talheres que se chocam, mais portas de armários que se abrem e fecham sem dó. Locutores de tv, músicas de bluetooth, discussões animadas, ligações em viva voz fazem o som de fundo. Tim, chuá, chuá, xiuuu, toc, tom tom tom tom, tom são os sons ao redor da máquina de lavar roupa que lembram a mulher fumando um beque na hora que a máquina bate... O dia vai alto, entram vozes de discussão tipo BBB, infinito, sem pausa Trec, tram, plac, turim, shiuum e lá vã louças, talheres e traquete no som da gaveta. A bacia de Hermeto faz a estridente base rítmica. Uma pausa e Philip Glass solta Koyaanisqatsi em dobro. Depois vem Days and Nights na Rocinha. Um murmúrio prolongado da fonte de água e o silêncio do sino dos ventos. Um aum, aum, ardido teima lá longe. A noite entra, tvs ligadas, vozes desconectadas. Segue o noticiário de tv, depois acirradas e desconectadas discussões de BBB. Ou seria O glorioso filme The Rock? Com pernas cruzadas, ouço a respiração. * Paulo Salvador é jornalista. * A arte é de Ana Gebara. Kalango#26 • 2020
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IMAGEM Alline Nakamura*
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ATITUDE
Juventude
solidária Samuel Siriani / Robson Helton A solidariedade ainda está em alta também em outras partes do país, com jovens colando cartazes colados nas portas dos elevadores – com o número de contato – oferecendo companhia para os idosos e se colocando à disposição caso precisem de ajuda.
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Moradores de rua muitas vezes não têm nem acesso a água limpa. Cabe a nós contribuir como podemos. Robson Helton
moradores de rua muitas vezes não tem nem acesso a água limpa. Cabe a nós contribuir como podemos”, comenta o artista. Ele avisa que, se algém quiser ajudar, a ação é super simples: encha uma garrafa pet com água e outra com sabão líquido, fure a tampa, junte com algum cordão, faça uma placa de orientação e coloque próximo a lugares com concentração de moradores de rua. “É algo de custo zero que já ajuda uma galera menos favorecida”, diz ele. – Essa é uma iniciativa do artista @mundano_sp, o grande amigo @covobox está fazendo em Jundiaí e eu abracei pra fazer aqui em Bragança! Vamos ajudar? Cuidem-se, fiquem em casa, se precisarem sair protejam-se e bora cuidar uns dos outros que o bem comum é o mesmo, pede o artista bragantino.
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Nos momentos em que tudo está nas trevas, a luz aparece na rede social que, no início da crise, foi usada para disseminar mais desespero. O futuro depende só da gente, de nos colocarmos à disposição para ajudar as pessoas mais idosas que precisam ficar em casa por conta do Coronavírus. Em razão da idade, idosos estão mais propensos a contrair o Covid-19 e nesse momento os mais jovens estão surpreendendo, ajudando aqueles que precisam ficar em casa. Vários estão se solidarizando na região Bragantina, na tentativa de ajudar outras pessoas nessa quarentena, com uma atitude bonita, como por exemplo indo ao supermercado para comprar mantimentos. O simples ato de estar conversando com seu avô ou avó por telefone, para diminuir um pouco a solidão desses tempos, já faz a diferença. Assim como os artistas fazem na Itália, cantando ou tocando um instrumento, uma atitude solidária pode ajudar nesses tempos de crise.
Solidariedade O publicitário e cartunista Robson Helton é um desses jovens solidários. Ele tem oferecido auxílio a quem mora em situação de rua na cidade de Bragança Paulista. “Esse é um dos kits de higienização para moradores de rua que estou colocando em pontos estratégicos da cidade. Estamos em nossas casas com acesso a álcool em gel enquanto muitos
#kitsabadão #mundano #covid19 #coronavirus #help #laveasmãos #fiqueemcasa #stayhome
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IMAGEM IMAGEM Ana Ana Procopiak Procopiak
Percursos, trajetos, poéticas travessias... transmutantes encontros
Foto da série Poéticos Percursos Ana Procopiak Artes Visuais | Design | Aprendizagem anaprocopiak.wordpress.com
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Acima do abismo Mauricio Andrade
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que o ser humano só muda quando se vê no precipício, no abismo, e que não nos tirasse essa oportunidade, pois, assim como nós, sua civilização, a de Klaatu, também teve de passar por seu abismo para evoluir. Isso nos parece familiar? Bem, estamos vivendo nosso abismo, embora, aparentemente não existam, seres de outro planeta tentando salvar a
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Qual seria a melhor habilidade do ser humano? Superar-se, adaptar-se sempre que algo novo ocorre para alterar aquilo que se impõe como realidade? Ou essas seriam apenas sub-rotinas de algo maior, e que ainda não conseguimos identificar, mesmo e embora esteja constantemente agindo em nós? É certo que existe uma informação que estamos ignorando, em vista das necessidades, justamente de adaptação e superação de situações, algo tão impressionante, que vai além dos motivos comuns, que a ciência que nós mesmos organizamos, não consegue compreender. Na versão recente do filme “O Dia em que a Terra Parou”, de 2008, com Keanu Reeves, como o alienígena Klaatu, tentando salvar a Terra do ser humano, em um diálogo com o cientista, que tenta lhe convencer do contrário, lhe é dito
Parece até fácil dizer, mas, estamos vivendo o momento em que a única coisa que faz sentido é o amor.
Terra do ser humano, quer dizer, não que a gente saiba ou a olhos vistos. Mas se pensarmos sobre o assunto, todas as coisas que estão ocorrendo hoje, de uma forma ou de outra nos foram ditas, e que era necessário nos voltarmos para dentro de nós, e para o próximo, e fazer do amor, nossa ferramenta
de transformação, mudança e despertar. Parece até fácil dizer dessa forma, parece que é só a reprise de um filme, mas, estamos vivendo o momento em que a única coisa que faz sentido, é o amor. Em meio a centenas de milhares de opiniões, verdades, posturas políticas, críticas sociais, a boa e velha borboleta pousada na janela, faz mais sentido do que tudo. Ah, nos perdoem, não é uma velha e boa borboleta, e sim uma maravilhosa e significativa borboleta, a metáfora de nossa própria transformação. Voltamos a olhar com mais atenção a natureza, os pássaros, os animais que ressurgem, invadindo as cidades, quando deveriam se esconder na florestas, que nós queimamos, mas eles não são rancorosos, estão se mostrando, curiosos sobre nosso silêncio, sem medo de nossa violência, mas certos de que um tanto do silêncio é necessário
para que consigamos escutar a nossa própria natureza, transformados por encararmos nosso próprio abismo. Indiana Jones, também atravessa um abismo ilusório para chegar ao Santo Graal, para descobrir, que o poder do amor e da fé tem de ser uma entrega sem garantias, mas que chegando ao fim, traz uma valiosa lição, de que é a vida, acima de tudo, que é o verdadeiro Graal, nós somos o cálice no qual deve transbordar a verdade do sangue sacramental. Vivemos um momento único, maravilhoso, onde nossos olhos precisam focar além das imagens esculpidas do mundo, o além que é dentro de nós. Todas essas simbologias nos conduzem àquilo que não percebemos somente com a ciência, tampouco nosso instinto de sobrevivência e superação. Nos faz sentir que não estamos a sós, e de que há uma sensação poderosa de que somos
observados de perto, em um aguardo paciente para que despertemos, ou que nos faça despertar no momento certo, através de nossas boas escolhas, quando realmente escolhemos a vida, e não a nossa vida pessoal, mas a vida maior que é nossa identidade como Humanidade, como deuses embrionários. Aí está, é o tempo em que somos convidados a percebermos bem de perto, por dentro, de que não estamos sozinhos, nunca estivemos, sempre fomos instigados a usar dos atributos do conhecimento
e da alma, nos foi soprada a intuição da dos meios, da tecnologia ao alimento, e somando ao nosso próprio esforço, a percepção de que devemos seguir em frente e evoluir a alma, não a tecnologia, mas a alma, que é o nosso verdadeiro ser que sai do abismo e se torna parte desperta na grande jornada da existência.
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DISCOS
10 álbuns para ouvir na quarentena Delta9*
01. Trio Mocotó - Muita Zorra! (1971) https://bit.ly/3duNZN5 02. Eumir Deodato - Prelude (1973) https://bit.ly/2LeJrhU Link para baixar: https://bit.ly/2LdjWNV 03. Sidney Miller - Brasil Do Guarani ao Guaraná (1968) https://bit.ly/2LdkkvR Link para baixar: https://bit.ly/2xMoXKb 04. Adoniram Barbosa - Adoniram Barbosa (1975) https://bit.ly/2AgSZH7 05. Lô Borges e Milton Nascimento - Clube da Esquina (1972) https://bit.ly/2SPmI 06. Elis Regina - Falso Brilhante (1976) https://bit.ly/3bj2FNK 07. Toninho Horta e Orquestra Fantasma - Terra dos Pássaros (1980) https://spo Baixar: https://bit.ly/2WIZsll 08. Chico Science e Nação Zumbi - Da Lama ao Caos (1995) https://bit.ly/3fynxE6 • Confira 6 covers deste clássico do Nação Zumbi https://bit.ly/2WDIDsh 09. Egberto Gismonti - Academia de Danças (1992) https://bit.ly/3fAQf7B 10. Marcelo D2 - À Procura da Batida Perfeita (2003) https://bit.ly/2LkiZ6l • Bônus: VALE A PENA VER Marcelo D2 e o álbum “À Procura da Batida Perfeita” | O Som do Vinil https://bit.ly/35JoZyY
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INA
oti.fi/2yF1hYA
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DISCOS
10 músicas para ouvir na quarentena Delta9* 01. Saúde - Rita Lee. Rita Lee https://bit.ly/3dzuKlt 02. Te quiero - Opus Cuatro https://bit.ly/2WSqXJE 03. Gracias A La Vida - Violeta Parra https://bit.ly/3dsdQW7 04. O Amor é o Meu País - Ivan Lins https://bit.ly/2Ae0QFe 05. Meu Caro Amigo - Chico Buarque https://bit.ly/2xOfGBn 06. Debaixo do Caracóis Roberto Carlos https://bit.ly/3bmN13X 07. Preta Pretinha - Novos Baianos https://bit.ly/35IST6u 08. A Banda dos Contentes - Erasmo Carlos https://bit.ly/2zobTeu 09. Chega de Saudade - Elizete Cardoso https://bit.ly/2WMqhWa 10. Volver a Los Diecisiete Mercedes Soza https://bit.ly/3fz6vpt
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Saúde (2020) - Rita Lee e Roberto de Carvalho
LIVROS
10 livros para ler na quarentena Flávia Helena Enquanto alimento pássaros, de Sônia Morel – Editora Patuá A ossatura do rinoceronte, de Divanize Carbonieri – Editora Patuá Almar, de Sílvia Camossa – Editora Reformatório Triz, de Débora Dornelas – Editora In House Exercício de leitura de mulheres loucas, de Cinthia Kriemler – Editora Patuá Poemas escolhidos, de Gregório de Matos – Companhia das Letras https://bit.ly/35MaP0j Primeiros cantos, de Gonçalves Dias – Domínio Público http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000115.pdf Eu, de Augusto dos Anjos – Domínio Público http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn00054a.pdf A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade – Companhia das Letras Trecho: https://www.companhiadasletras.com.br/trechos/13222.pdf Toda poesia, Paulo Leminski – Companhia das Letras
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FILMES
20 filmes para ver na quarentena João Gilberto* Vivemos um período de isolamento social, que pede um relacionamento diferenciado com coisas até então essenciais à nossa, rotina, sobretudo a questão da produtividade. Muitos usam esse período para colocar em dia livros, filmes e músicas a se ouvir. A seguir, uma lista de possíveis filmes para se assistir durante esse período. Contrariando os especialistas de saúde, há governos que já propõe uma flexibilização do isolamento social. Tendo em vista essa (péssima) medida, os filmes estão listados em grupos, caso algum tema o interesse mais que outro. Começamos com os clássicos. Bom divertimento. Nesse primeiro grupo, se encontram filmes com temáticas universais: a solidão, os jogos da política, o universo das artes e a busca pelo renascimento. A partir desses clássicos, o leitor pode se encaminhar aos temas que mais lhe agradam. 1. A Felicidade Não Se Compra (Frank Capra - 1946) Esse filme trata de um tema muito utilizado posteriormente: “como seria um mundo aonde você não exista?” Trazendo essa discussão para os dias atuais, a sua postura
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pode fazer muita diferença em relação ao próximo. Trata-se de uma narrativa muito bem construída e um final emocionante. Passa longe do discurso emocional vazio, e faz despertar em nós um mínimo de fé na humanidade. Disponível em: https:// sonatapremieres.blogspot.com/2013/12/afelicidade-nao-se-compra.html 2. Procurando Sugar Man (Malik Bendjelloul - 2012) “Procurando Sugar Man” conta a história de Sixto Rodriguez, um cantor de folk do
inicio dos anos 70 que passou praticamente despercebido em sua época, mas por uma ironia do destino teve suas musicas descobertas pela juventude sul-africana branca e antiapartheid. Após duas décadas de sucesso no país africano, dois repórteres se questionam sobre o que houve com Rodriguez, e dá-se início a uma busca surpreendente com um fim inimaginável. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2013/02/searching-for-sugarman_2251.html 3. Central do Brasil (Walter Salles - 1998) Em “Central do Brasil”, filme dirigido por Walter Salles, nos deparamos com Josué que quer encontrar o seu pai, e o fará com ajuda da personagem Dora. É a partir desse auxílio que a personagem de Fernanda Montenegro acaba se redescobrindo. Um Brasil com tantas desigualdades e sua luta por sobrevivência incita a personagem a ser conhecer, e se reconhecer. Talvez o isolamento social (SE OBEDECIDO) possa promover o mesmo em seus expectadores. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/search?q=Central+do+Brasil
4. O sal da Terra (Herbert Biberman – 1953) Trabalhadores na divisa do México com os EUA lutam constantemente por melhorias das condições profissionais. Ao mesmo tempo em que lutam por igualdade em relação aos mineradores americanos, eles sustentam a relação patriarcal com suas esposas, até o momento em que precisam delas para dar continuidade às suas próprias lutas. É impressionante as discussões como violência policial, igualdades de gênero nessa época, em pleno Macarthismo. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=pWVaM1S3nc4 5. O garoto (1921) / O Circo (1928) / Tempos Modernos (1936). Selecionei esses três filmes do Charlie pelo fato deles terem como protagonista central “Carlitos, o vagabundo”: Citando os Novos Baianos, Carlitos é alguém que “pede e dá esmola”. Esse personagem nos aponta à luta e à esperança, pensando que até os dias ruins passam. Filmes que nos ajudam a sermos pessoas melhores. Todos estão disponíveis no Youtube. Kalango#26 • 2020
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6. Trilogia “O Poderoso Chefão” (Francis Ford Coppola - 1972/1990) Um grande clássico do Cinema. Aproximadamente 10 horas de filme contando a ascensão e declínio da família Corleone, personificada no personagem Michael. O conluio entre mafiosos (milicianos), políticos, setores religiosos na América do séc. XX se torna atualíssimo. Definitivamente, um grande épico em forma e conteúdo, colocando o nome do diretor e dos atores no bastião das personalidades influentes do séc. XX. Disponível em https://filmescult.net/tag/ trilogia-o-poderoso-chefao/ Grupo 2. Solidão O Isolamento Social escancarou a problemática da solidão em muitos de nós. Alguns afirmam que, pior do que ficar em casa, é ficar sozinho, privado da vida social (ainda que provisoriamente). Os filmes a seguir tentam apontar algumas ressignificações para a solidão do ser humano, em quarentena ou não. 7. Paris, Texas (Win Wenders – 1984)
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Um andarilho é encontrado andando solitariamente e, ao passar mal, é resgatado pelo irmão que há tempos não via. De uma situação de isolamento e silencia absoluto, o solitário andarilho recorda seu nome, e sua família. Trata-se agora de encontra-los e de reencontrá-los. Esse reencontro não conseguirá ignorar o passado, e ambos terão que transformar suas vidas para esse momento. Um filme Muito importante para nossos tempos. Disponível em https:// sonatapremieres.blogspot.com/2012/11/ paris-texas_5895.html 8. Muito além do jardim (Hal Ashby – 1979) (Infelizmente não achei disponível on line) Após o falecimento do seu patrão milionário, o jardineiro Chance acaba tendo que deixar a propriedade, sendo que ele nunca o fez. Conhecendo o mundo apenas pela televisão, o simpático jardineiro acaba, ao ser atropelado pelo magnata Benjamin Rand, sendo elevado ao nível de sábio e guru do próprio presidente. A ingenuidade de quem conhece apenas o mundo pela TV e passa a aconselhar políticos e empresários podem dar outro olhar à
realidade. https://topflix.pro/movies/ muito-alem-do-jardim/ https://baby-youbel0ngs-2m3.blogspot. com/2018/04/assistir-muito-alem-dojardim-hd.html 9. Edward mãos de tesoura (Tim Burton – 1990) (Infelizmente não achei disponível on line) “Edward mãos de tesoura” é visto por muitos como um filme infanto-juvenil, mas pode ser encarada também como uma ode à solidão, como um lamento de uma criatura extraordinária por seus dons, mas que assusta pelo seu visual excêntrico e sofre por não poder se aproximar das pessoas que ama. A cena do personagem impossibilitado de abraçar a amada desperta emoções em todos os expectadores, e tem sido uma fala que ouvimos recentemente. Um filme para se pensar. https://cinefilmes.org/edward-maos-detesoura-dublado.html https://netcinehd.com/edward-maos-detesoura/
Grupo 3. Feminismo e Política É sempre bom lembrar que crises de saúde pública (como a que estamos passando) acabam sendo causas ou consequências de crises políticas. O papel omisso das Autoridades, da Imprensa e daqueles que deveriam zelar pelo nosso bem estar faz alto numero de vítimas. E é sabido que certos tipos de crise afetam, sobretudo, minorias. Os filmes a seguir se debruçam em tais questões. 10. O invasor americano (Michael Moore – 2015) O documentário de Michael Moore trata de uma maneira ácida e divertida, do “roubo” que o diretor faz de práticas que deram certo em outros países: leis trabalhistas na Itália, Educação Básica na Finlândia, Educação Superior gratuita na Estônia, preservação da memória na Alemanha etc. Diversas práticas “roubadas” desses países podem ser roubadas por nós, brasileiras. Porque não? Em tempo: O diretor “rouba do Brasil” o voto obrigatório que tantos de nós condenamos. Disponível na Netflix Kalango#26 • 2020
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11. Rede de intrigas (Sidney Lumet – 1976) Esse filme é um clássico dos anos 70, e conta algumas histórias em paralelo. Num primeiro momento, o âncora de uma importante emissora de TV tem uma reviravolta em sua carreira, misturando entretenimento com um surto; uma diretora jornalística que tem como meta aumentar a audiência da emissora, e faz isso sem escrúpulos e a rede de intrigas que se faz em torno desses personagens. Uma importante crítica à Imprensa, Ao Sensacionalismo e às grandes corporações. Imperdível. Disponível em https://sonatapremieres. blogspot.com/2016/07/rede-de-intrigas. html 12. Chi-raq (Spike Lee – 2015) Inspirada na peça Lisístrata, do comediante grego Aristófanes, e ambientada na Detroit do séc. XXI, o filme trata da luta das mulheres pela paz e pelo fim da guerra entre gangues locais, tendo o sexo como instrumento de negociação: “Sem paz, sem B*****”; com uma linguagem agressiva e
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um posicionamento firmemente antirracista, o filme destaca a importância da organização social, e o compromisso por parte daqueles que requererem algum direito. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2018/10/chi-raq.html 13. Você não estava aqui (Ken Loach - 2019) /Parasita (Bong Joon-ho - 2019) Há pontos em comum entre “Parasita” e “Você não estava aqui”, apesar da temática não ser exatamente a mesma. Ambos têm como pano de fundo uma realidade desigual, aonde alguns precisam fazer o que for preciso para sobreviver. Enquanto os protagonistas do filme coreano optam pelo caminho considerado “não recomendado”, o diretor inglês nos entrega personagens que obedecem as regras do jogo, ainda que plenamente injustas. Os dois filmes nos fazem questionar quem é exatamente o vilão da História. Tal como nos dias de hoje. https://sonatapremieres.blogspot. com/2020/03/voce-nao-estava-aqui.html https://sonatapremieres.blogspot. com/2019/09/parasita.html
Grupo 4. Arte Apesar de tudo o que esta ocorrendo no mundo, não podemos esquecer as maravilhas que a Arte tem a nos oferecer, há na nossa lista algumas obras que celebram a própria Arte. Podemos encarar todo esse tributo como uma espécie de acalanto nesses momentos.
histórias por trás dos cantores e das musicas dotas “bregas”. Nesse período de Isolamento Social, esse é um ótimo filme para nos ajudar a se desfazer de certos preconceitos. Esse filme é um ótimo auxiliador. Disponível em: https:// sonatapremieres.blogspot.com/2014/06/ vou-rifar-meu-coracao.html
14. Close up (Abbas Kiarostami - 1990) Esse filme é um tributo ao Cinema e ao talento do cineasta. Um jovem iraniano se passa por um cineasta famoso, Mohsen Makhmalbaf, para conseguir um financiamento para um possível filme. O farsante é um grande admirador do cinema, porém pobre; e ao encontrar uma pessoa que não conhecia Mohsen Makhmalbaf, acaba por se passar por ele, e é julgado por fraude. Um tributo ao cinema. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2012/03/close-up_6261.html
16. Cinema Paradiso (Giuseppe Tornatore 1988) / Cine Holliudi (Halder Gomes - 2012) “Cinema Paradiso” é a obra prima do diretor Giuseppe Tornatore, e novamente é um relato do amor pelo cinema. Não há como não se encantar e emocionar diante das aventuras de Toto e Alfredo. O filme é contado de uma forma doce, porém envolvente. Emociona sem ser piegas. E o brasileiro “Cine Holliudi” tem uma discussão parecida, aonde o amor à sétima arte é o mesmo. Se dá no interior do Ceará, com personagens caricaturais; genial, como só o cinema brasileiro consegue ser. Disponível em https://sonatapremieres. blogspot.com/2015/04/cinema-paradiso. html . Cine Holliudi não encontramos on line.
15. Vou rifar meu coração (Ana Rieper - 2012) “Vou rifar meu coração” é um documentário brasileiro que conta as
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Grupo 5. Viver/Reviver Por fim, há a lista de alguns filmes que nos serão imprescindíveis para quando o isolamento social acabar. Nesse momento, teremos que reaprender a viver. E essa é a temática dos filmes abaixo. Vale dizer que esses filmes devem ser vistos e revistos ao longo da vida. 17. Estamos todos Bem (Giuseppe Tornatore - 1990) Mais um filme do Giuseppe Tornattore, mas com o mesmo toque de beleza de “Cinema Paradiso”. Um pai faz o possível e o impossível pra rever os seus filhos e almoçarem em conjunto, tal como sempre fizeram. Contudo, reencontrá-los não é tão fácil, visto que a vida de todos mudou. E será essa uma das dificuldades que enfrentaremos no pós-quarentena: como reencontrar as pessoas que amamos? Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2015/06/estamos-todosbem.html
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18. Capitão Fantástico (Matt Ross – 2016) Um filme de 2016, aonde o pai e seus seis filhos vivem de uma forma alternativa, com outros aprendizados, outras rotinas, se preparando para a vida sob outras perspectivas. Bem, o pai, é uma mistura de Don Quixote com Wilhelm Meister, personagem do romance homônimo de Goethe. Num primeiro momento, ele é maior que o mundo, mas acaba se readequando a ele. Um filme que nos faz repensar daqui pra frente. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2016/10/capitao-fantastico. html 19. Deus da carnificina (Roman Polanski – 2011) “Deus da Carnificina” é um filme claustrofóbico de Roman Polanski. Dois casais se encontram para resolver um conflito entre os filhos. Mas o conflito entre as crianças perde espaço para o conflito dos pais, nas idas e vindas. O filme remete ao texto “Entre Quatro Paredes”, de Jean
Paul Sartre, e relata o quão complexo é o convívio entre pessoas tão diferentes. Um filme que incomoda, mas necessário. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2012/03/o-deus-dacarnificina_5893.html 20. Ensina-me a viver (Hal Ashby - 1971) Um dos filmes mais bonitos que há para esses tempos; o personagem Harold é um jovem obcecado pela morte, enquanto Maude é uma mulher de 80 anos obcecada pela vida. Ambos se conhecem e acabam criando um vínculo extraordinário. Com trilha sonora do Cat Stevens, esse filme nos faz repensar nossa própria vida. É um filme perfeito para todas as épocas da nossa vida. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2018/11/ensina-me-viver. html 21. A vida é bela Roberto Benigni – 1997) / Trem da vida (Radu Mihaileanu - 1998) / Jojo Rabbit (Taika Waititi / Mark Taylor 2019)
Por fim, esses três filmes, cada um a seu modo, mostram adultos escondendo a realidade das crianças. “A Vida é Bela” tem uma temática parecida: adultos (um pai e uma mãe) escondendo uma realidade cruel das crianças. E “Jojo Rabbit” tem um ponto a mais, remetendo a Anne Frank. Por outro lado, “Trem da Vida” trata deum grupo de judeus que criam uma linha de trem fictícia para escapar de um pelotão nazista. Esses dois perigos (O Neonazismo e o Isolamento Social) nos fazem pensar e repensar a realidade, ver e rever nossas posturas. Mais do que isso: ambos os filmes nos dão esperança de um futuro melhor, de que mesmo as maiores adversidades passam. Disponível em: https://sonatapremieres. blogspot.com/2014/03/a-vida-e-bela.html https://sonatapremieres.blogspot. com/2012/05/trem-da-vida_6854.html https://filmescult.net/jojo-rabbit-2019/
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