"A minha cara está em todas as estações de metro!" dn.pt/algo.html March 1, 2018
António Mortágua, protagonista de "Ramiro" | Diana Quintela/Global Imagens A descoberta gloriosa do realizador Manuel Mozos é um ator dos Primeiros Sintomas, a companhia teatral de Bruno Bravo. António Mortágua, fulgurante na estreia em cinema, como protagonista de "Ramiro", que hoje se estreia nos cinemas de todo o país. É um ator tardio. Entrou para o curso de ator tarde, tem feito teatro e, agora, de forma súbita, consegue ser protagonista de um filme de Manuel Mozos... O que está a sentir? O Ramiro mudou a minha vida! Apenas tinha feito uma curta de escola. Estava muito bem em casa e, um dia, disseram-me que o Manuel Mozos queria falar comigo. Foi mesmo assim inusitado, um mês e meio depois a rodagem começou. Foi tudo muito intenso, foram meses que abalaram a minha vida. O cinema foi uma grande novidade. Mas ainda bem que entrei no Conservatório aos 27 anos. Primeiro comecei por estudar Direito, depois Estudos Artísticos, ao mesmo tempo que descobri a RUC, em Coimbra, e, logo a seguir, o teatro académico. As coisas acabaram por seguir um caminho. Quando cheguei a Lisboa, ao Conservatório, o curso já tinha para mim uma componente de profissão. Nunca é tarde para ser ator. 1/2
A sorte é sempre uma componente de todas estas equações. Não deixa de ser significativo o Manuel Mozos tê-lo descoberto no teatro, coisa rara no cinema português... Se atentarmos no resto do elenco, isso é muito flagrante. Se virmos bem, nesta cerca de uma dúzia de atores do elenco estão sintetizadas muitas companhias de teatro, passando pelos Primeiros Sintomas, Cornucópia, Artistas Unidos, etc. São atores que maioritariamente fazem teatro. Isso é tão reconfortante. Um ator sente que não precisa de ser uma cara que os portugueses conheçam para eventualmente protagonizar um filme. É bonito, não é? Sente que é fácil simpatizar com a personagem? Do que tenho percebido em festivais é que as pessoas simpatizam mesmo com ele. De uma forma geral, a ternura está sempre presente nele. Foi a partir desse registo que trabalhei a personagem. Haverá muita gente que vai identificar-se com ele? Será uma coisa geracional? Por outro lado, não será também um pouco figurinha "cromo"? Tem as duas coisas. E até acho que vai para além dos trintões, enfim, é alguém que já tem um passado. Mas sim, as pessoas vão identificar-se com o Ramiro. Estamos numa altura em que os números do cinema de autor português são miseráveis. Os poucos que antes viam deixaram de ir ao cinema. Com tudo isso, está otimista? Sim, é verdade, tenho acompanhado os números, mas espero que as pessoas venham ver o Ramiro. Digo já que pessimista não sou! Por outro lado, não sei se esta fase vai continuar... Como, de repente, alguém lida com esta pressão: festivais internacionais de cinema, o rosto e o nome em posters por todo o país? Está a dar-se bem? Bate-me um bocadinho, sim, sim... Está a bater-me porque sou um tipo resguardado e agora a minha cara está em todas as estações de metro! Seja como for, também tem sido muito sereno, tenho encarado tudo isto de forma serena, como um desafio diário. Sabe, sou muito obsessivo em tudo o que faço. Andei com o Ramiro de forma muito intensa durante três meses e, para não enlouquecer, procurei criar uma metodologia diária. É o que estou a tentar fazer agora. É que isso dos desafios cerceia-nos... O melhor é tentar usufruir, sobretudo porque Ramiro é uma oportunidade incrível para mim. Tudo isto é novidade, inclusive estar aqui a dar uma entrevista ou ter estado em festivais internacionais a apresentar o filme.
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