O filme “neo-noir subtropical” de Ivo M. Ferreira que vai entrar no circuito chinês de cinema de autor pontofinalmacau.wordpress.com/2018/10/15/o-filme-neo-noir-subtropical-de-ivo-m-ferreira-que-vai-entrar-nocircuito-chines-de-cinema-de-autor 15 de outubro de 2018
FOTO: EDUARDO MARTINS
A mais recente longa-metragem de Ivo M. Ferreira, “Hotel Império”, fez a sua estreia mundial na sexta-feira passada, no Festival Internacional de Cinema de Pingyao, que decorre até 20 de Outubro. “Hotel Império” compete pelos “Roberto Rossellini Awards” e os “People’s Choice Awards”. A longa-metragem, que conta com um co-produtor chinês responsável pela distribuição do filme na República Popular da China, deverá vir a ser distribuída no circuito de cinema de autor, adiantou o realizador ao PONTO FINAL. Texto: Cláudia Aranda com Jan Kot Fotografia: Eduardo Martins A sessão de estreia da longa-metragem mais recente do realizador português Ivo M. Ferreira, “Hotel Império”, “correu bem, as pessoas gostaram, pelo menos as que falaram comigo”, afirmou ao PONTO FINAL, o realizador, desde a cidade muralhada de Pingyao, património mundial da UNESCO desde 1986. Ivo M. Ferreira não avançou, porém, datas para a estreia desta longa-metragem em Macau. “Hotel Império” fez a sua estreia mundial na sexta-feira passada, na segunda edição do Festival Internacional de Cinema de Pingyao, na província de Shanxi.
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O filme conta com um co-produtor chinês, a Titan Films International, responsável pela distribuição do filme na República Popular da China, avançou Ivo M. Ferreira. “Será distribuído, ainda não sei a que escala, mas dentro do circuito do ‘art-house cinema’”, afirmou o realizador. A “narrativa urbana” de 82 minutos foi filmada inteiramente em Macau, em 2017, e conta a história de duas personagens, protagonizadas pela actriz portuguesa Margarida VilaNova e pelo actor britânico e taiwanês Rhydian Vaughan, e a sua ligação com o velho Hotel Império. Grande parte do filme tem como cenário os interiores da histórica pensão San Va, na Rua da Felicidade. O icónico casino flutuante de Macau, foi outro dos locais onde foram filmadas algumas das cenas desta produção conjunta entre Portugal, República Popular da China e Macau. “Hotel Império” surge na categoria “Crouching Tigers”, dedicada à estreia de novos realizadores ou a segundas longas-metragens de novos talentos, e que, este ano, reúne um total de oito produções. A co-produção está na competição, disputando os “Roberto Rossellini Awards”, que premeiam o ”Melhor Filme” e o “Melhor Realizador”, e os “People’s Choice Awards”, que distinguem o “Melhor Filme”.
FOTO: EDUARDO MARTINS
Macau, um hotel onde se faz check-in e check-out Ivo M. Ferreira, desde a província Shanxi, descreveu o filme como “melancólico”. “Um hotel é um lugar onde as pessoas fazem check-in e check-out, Macau é tal qual”, disse o realizador ao PONTO FINAL. O realizador de 43 anos, cuja longa-metragem anterior “Cartas da Guerra” recebeu crítica bastante favorável na sua estreia na competição do Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2016, disse que chegou a Macau “por 2/4
engano” quando tinha apenas 18 anos. “Apaixonei-me pela cidade e nunca realmente saí. Para mim foi como entrar num hotel e nunca mais fazer realmente o check-out; um lugar que parou para mim”, acrescentou Ivo M. Ferreira. O realizador mostra em “Hotel Império” uma cidade à beira da transformação. A iluminação dramática – escura, mas definida, dos ambientes – combina beleza, tristeza, escuridão, luz, paixão e distância, com sentimentos de perda, bem como de esperança. Ivo M. Ferreira chama-lhe a “minha Macau”. “É tão distante e ao mesmo tempo tão perto de mim”, observou o realizador. O actor Rhydian Vaughan, que protagonizou vários sucessos de bilheteira como “Tiny Times”, “Girlfriend”, “Boyfriend” e “Monga”, disse que o argumento do filme foi como “uma dádiva”. “Enquanto jovem actor, você está sempre numa luta contra si mesmo e ‘Hotel Império’ ofereceu-me o papel certo no momento certo. Foi como se tudo o que eu fiz antes tivesse sido para me preparar para esta personagem”. Para o actor trabalhar com Ivo M. Ferreira foi uma “experiência muito natural e inspiradora”. “Ferreira é um grande artista. Ele é rigoroso, sem deixar de ser criativo, exigente e ainda por cima brincalhão. No ‘set’, ele conseguiu um equilíbrio muito bom enquanto realizador”.
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Marco Müller: filme “neo-noir subtropical absorvente” O Festival Internacional de Cinema de Pingyao (PYIFF) foi lançado pelo realizador chinês Jia Zhangke em 2017. O director é Marco Müller, realizador, actor e crítico de cinema nascido em Roma, conhecido por lançar e internacionalizar diversos festivais de cinema, incluindo o festival internacional de cinema de Macau. Jia Zhangke , natural da província de Shanxi, foi o anfitrião desta segunda edição do PYIFF, que começou a 11 e prolonga-se até 20 de Outubro na cidade muralhada descrita pela UNESCO como “um exemplo 3/4
excepcionalmente bem preservado de uma cidade tradicional chinesa Han, fundada no século XIV”. Marco Müller descreve, na informação distribuída à imprensa, o filme “Hotel Império” como um “neo-noir subtropical absorvente e envolvente, no qual a política, o crime e o sexo caminham de mãos dadas pelo caminho da tragédia, tal como como nos velhos tempos do film-noir”. O director do festival prossegue afirmando que, “por mais familiares que sejam os elementos – conflitos familiares, corrupção no ambiente obscuro do submundo -, Ivo trouxe à tona o drama, submergindo-o numa atmosfera húmida. O calor de Macau é palpavelmente evidente, tanto no clima quanto na atracção irresistível entre os dois sensuais protagonistas”. O PYIFF inclui diversas secções incluindo Crouching Tigers, Hidden Dragons, secção das Galas, “New Generation China”, “Made in Shanxi”, “Best of Fest”, com alguns dos melhores filmes de outros festivais, e uma Retrospectiva/Homenagem, que este ano é prestada ao cinema soviético ‘New Wave’ dos anos 1960/70. O evento abriu na quinta-feira com o filme “Half The Sky”, composto por curtas-metragens de cinco realizadoras do sexo feminino, que exploram o tema da feminilidade contando histórias de mulheres diferentes. As cinco realizadoras são Daniela Thomas, Elizaveta Stishova, Ashwiny Iyer Tiwari, Liu Yulin e Sara Blecher, de países como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O festival mostra filmes de 25 países. Cerca de 13 dos filmes em exibição, incluindo “Hotel Império” são estreias mundiais. A primeira edição deste festival, que inaugurou em 2017, incluiu na sua selecção o filme português “A Fábrica do Nada”, de Pedro Pinho. O PYIFF acontece no espaço de uma antiga refinaria convertido num centro de mostra de cinema independente. Também denominado por Festival Internacional de Cinema ‘Crouching Tiger Hidden Dragon”, a iniciativa é considerada pela edição online da revista norte-americana “Variety” “como um dos poucos grandes eventos de cinema na China que não são controlados directamente por um departamento do Governo”, colocando-se na liderança dos festivais de cinema independente da China. A iniciativa, que se apresenta na sua página electrónica como um “festival de cinema ‘boutique’ para o povo”, não inclui, porém, “filmes underground” na sua selecção, descreve a Variety.
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