CINEMA PORTUGUÊS TRIUNFA EM LOCARNO [PT]

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Cinema português triunfa em Locarno media.rtp.pt/antena3/ler/cinema-portugues-triunfa-em-locarno 22 Ago 2019

Um lago que se estende até ao limite do horizonte, composto por montanhas, por vales entrelaçados, pelas nuvens que circundam pelos seus cumes. Esta era a paisagem que se impunha, que se desenhava como num quadro só possível de ser vislumbrado num dos cantos mais belos da Suíça: Locarno. Uma paisagem que acompanha todos aqueles que visitam um dos festivais de cinema mais importantes do mundo do cinema: o festival de Locarno. Setenta e duas edições da mostra de cinema, que se compuseram — e, de certa forma, celebraram — este ano com uma das presenças mais fortes de cinema português na programação.

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Fora de Competição, José Filipe Costa apresentou Prazer, Camaradas!, um documentário que cruza as linhas da ficção para ilustrar a história das cooperativas no Ribatejo após o 25 de Abril. Um filme sobre “o outro lado” da revolução: o lado da aprendizagem social e, em particular, da sexualidade. Um jogo constante de passado e presente, um olhar criado dentro de um quadro ficcional e encenado, que nos mostra, de uma forma orgânica e natural, as questões que ressaltaram após o 25 de Abril. Questões sociais que, ainda nos nossos dias, são de extrema pertinência e de crescente urgência. Um espelho do passado, sobre o presente, mas também um apelo à reflexão do nosso futuro, enquanto indivíduos e enquanto país. Na Competição Internacional, três nomes portugueses: João Nicolau, Basil da Cunha e Pedro Costa.

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João Nicolau apresentou Technoboss, um filme conduzido por Miguel Lobo Antunes, que interpreta o papel de Luís Rovisco, um agente comercial divorciado, na idade da reforma e que é levado até ao sul de Portugal, onde se reencontra com uma antiga paixão. Depois de John From, um filme que nos mostra as paixões e inseguranças da adolescência, João Nicolau apresenta-nos, em Technoboss, um olhar doce, inocente, cómico (e musical) sobre as (pequenas) tragédias da vida, em que a realidade e o imaginário ficcionais se cruzam exponencialmente.

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O Fim do Mundo é a primeira longa-metragem de Basil da Cunha, realizador luso-suíço que vive na Reboleira e que retira desse bairro as histórias, as personagens, os atores e a inspiração para a sua criação cinematográfica. O Fim do Mundo retrata o regresso de Spira ao bairro. Um regresso que dá mote ao desenrolar de inúmeras situações: incêndios e violência, mas também novas descobertas, novas paixões, novas (e antigas) amizades. Acima da linha narrativa ficcional, este filme problematiza e questiona os olhares e as conceções sobre os subúrbios — o eterno desconhecido, o eterno alvo de visões exteriores — e, acima de tudo, questiona e problematiza a contemporaneidade: a sociedade atual e a (passividade d’) a nova geração.

O grande vencedor da edição deste ano foi Pedro Costa, que apresentou Vitalina Varela: o filme, a história, a personagem, a atriz, a mulher. Um filme que se esboça a partir da história da chegada de Vitalina a Portugal, depois do falecimento do seu marido. Uma história rodeada de escuridão, de sombras, de onde ressalta (de forma inevitável) o olhar, o corpo, o ser de Vitalina. Uma história de amargura, de ódio, de luto, conjugado com pequenos relances de esperança, com o potencial de criação de um lugar numa casa estranha, num país estranho, graças ao contacto, ao apoio de uma comunidade. Um último olhar sobre o antigo protagonista dos mais recentes filmes de Pedro Costa, Ventura, com momentos subtis de toque e de cruzar de corpos que denotam aquele que foi — e é — um momento de passagem de testemunho. Vitalina Varela é um passo em frente na cinematografia de Pedro Costa, mas, acima de tudo, é um novo espaço para o poder, para a mística que rodeia Vitalina Varela poder prevalecer (e reinar).

4/5


Texto: Teresa Vieira

5/5


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