Cinema português procura financiamento em Cannes jn.pt/artes/cinema-portugues-procura-financiamento-em-cannes-13915606.html 7 de julho de 2021
Cinema Sophie Marceau e François Ozon, protagonista e realizador de "Tout s'est bien passé", à chegada para a projeção do filme em Cannes Foto: EPA/Caroline Blumberg
Projeto de David Pinheiro Vicente foi desenvolvido na Cinefondation. Cannes, durante o festival, é também uma terra de oportunidades para realizadores e produtores, em busca de parceiros e de financiamentos para os seus projetos. O jovem cineasta português David Pinheiro Vicente, que vira a sua segunda curta-metragem, "O cordeiro de Deus", receber a chancela de Cannes 2020 - o festival que não se realizou, depois de se ter estreado nos grandes festivais em Berlim com a curta de fim de curso da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, "Onde o verão vai (episódios de juventude)" - apresenta hoje na praia do Gray d"Albion o seu primeiro projeto de longametragem. Selecionado para a residência de escrita da Cinéfondation, que decorreu nos últimos meses em Paris, "Entre o passado e o futuro", produzido por O Som e a Fúria, uma das produtoras portuguesas mais dinâmicas e com mais contactos internacionais, e que assegura regularmente a produção dos filmes de Miguel Gomes, candidata-se a sair assim de Cannes com um prémio de suporte ao desenvolvimento do CNC, o instituto público francês de apoio ao cinema. A história do filme de David Pinheiro Vincente centra-se na personagem de Assunção, que passa o verão confinada ao velho solar da sua grande família, infestado de térmitas. O irmão volta de Angola e traz um misterioso rapaz negro, Manuel. Os dias são húmidos e preguiçosos. Os adultos falam de negócios e os jovens falam de amor. Os homens do controlo de pragas borrifam nuvens pegajosas de inseticida, aumentando as insónias e a paranoia da mãe, que acredita que o rapaz negro trouxe um espírito maligno. Assunção começa a questionar a sua família e sua estranha forma de vida. Quando Manuel se torna objeto do seu desejo, ela tenta um antigo feitiço, para o "amarrar" a ela para sempre. "Rapariga do diabo", diz a avó. A catástrofe aproxima-se. Ozon e Lapid desiludem na competição Depois do festim visual, da liberdade criativa e do delírio musical de "Annette" de Leos Carax, os dois filmes seguintes da competição deixaram quem os viram no geral bastante indiferentes. François Ozon, um dos realizadores franceses mais respeitados e prolíferos, confirma a instabilidade criativa da sua obra. "Tout s"est bien passé" adapta um romance autobiográfico sobre uma mulher de meia-idade que é confrontada, juntamente
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com a irmã, com o ataque cardíaco do pai, que decide, face ao estado em que fica, solicitar que lhe seja garantida a morte assistida. Como tal não é legal em França, é contactada uma clínica suíça. Realizado de forma convencional e económica por Ozon, o filme não estaria em Cannes se não tivesse um elenco de luxo onde, além de Sophie Marceau e André Dussolier, há ainda pequenos apontamentos de duas atrizes enormes, Charlotte Rampling e Hanna Schygulla. Já "O joelho de Ahed", filme israelita, em coprodução também com França, confirma o enorme pretensiosismo e egocentrismo do seu realizador, o israelita Nadav Lapid, que em 2019 dividiu Berlim, apesar do júri oficial lhe ter atribuído o sempre exigente Urso de Ouro. Aqui, a personagem central é um realizador de cinema que pretende fazer um filme sobre a jovem adolescente palestiniana que foi a tribunal por ter esbofeteado um soldado israelita. Bem intencionado é certo, Lapid procura sempre o caminho mais difícil, afastando assim, a cada minuto que passa, o seu público potencial. Mas, apesar destas duas desilusões, há muito cinema ainda para ver em Cannes.
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