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Exclusivo Sátira, terror e África aqui tão perto
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Gabriel Abrantes foi a estes encontros apresentar Amelia"s Children, um imaginário de cinema de terror que poderá e deverá ter fortes aspirações internacionais.
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© Rita Chantre / Global Imagens
Coisas novas a acontecerem no cinema português: Carloto Cotta a abraçar Carloto Cotta em Amelia"s Children, de Gabriel Abrantes, o filme português que pode realmente ter mercado lá fora, Paulo Branco a produzir Sérgio Graciano num épico chamado Os Papéis do Inglês, escrito por José Eduardo Agualusa a partir de Rui Duarte Carvalho e duas comédias que querem ser de "grande público", ambas a competirem entre si em agosto: Um Filme do Caraças, de Hugo Diogo, e Pôr-do-Sol: O Mistério do Colar de São Cajó, de Manuel Pureza.
Esta semana, os Encontros de Cinema Português, organizados pela NOS Audiovisuais encheram uma das salas do NOS Vasco da Gama e misturaram distribuidores, exibidores e jornalistas para a apresentação dos próximos projetos do cinema português. Foram 55 novas longas, número recorde nestes encontros e novo atestar de uma diversidade que deveria ser bem mais elogiada...
O muito aguardado Amelia"s Children, de Gabriel Abrantes, foi talvez a grande sensação. Uma história de terror entre Portugal e os EUA com Carloto Cotta a fazer duplo papel de gémeos. Tem efeitos visuais, sangue e aquela distância intelectual de filme de género para filme de galeria. Abrantes diz que ainda vai estrear este ano em Portugal, provavelmente depois de passar num festival internacional de lista A. No trailer pouco se nota, mas Anabela Moreira e Alba Baptista também estão no elenco.
Quanto a Os Papéis do Inglês, Paulo Branco apresentou imagens em bruto, "rushes" das filmagens no deserto do Namibe, em Angola, que estão neste momento em marcha sob a direção de Sérgio Graciano. O produtor português mostrou-se muito orgulhoso destas imagens e confessou ser uma das suas produções mais ambiciosas, estando a apontar a estreia apenas para o ano.
Das tais comédias que podem ajudar a aumentar a muito falada quota de mercado, o presumível campeão de bilheteiras deverá ser a prequela da série da RTP, Pôr-do-Sol.
Chama-se Pôr-do-Sol: O Mistério do Colar de São Cajó e, pelas primeiras imagens, há um humor que tem felizmente o ADN das personagens que conhecíamos e uma respiração que sabe entender os ritmos de cinema. "Não tenho a pressão dos números, mas interessa-me que esta prequela seja vista! Como as coisas andam, o que é importante é que o filme seja honesto e não se arme aos cucos. Só isso", contou ao DN o realizador. O rival dos Bourbon de Linhaça chama-se Um Filme do Caraças, de Hugo Diogo e tem Herman José, Pedro Alves, Eduardo Madeira (em papel duplo), José Pedro Gomes, entre outros para contar uma história de um realizador de cinema porno que é chamado para realizar um filme de "cinema português". Sátira, pois claro, mas pelas imagens vistas humor é coisa que aqui não existe, algo que não tem prejudicado este género de comédias, pensadas para quem não gosta de cinema - sejamos francos, essa é a faixa de público que ironicamente mais vai ao cinema. A Pris lança-o nas salas a 17 de agosto.
Leonor Teles com uma Casa tão prometedora...
A host do evento, a diretora da NOS, Susanna Barbato, realçou o número recorde de projetos apresentados: "quanto mais filmes, mais hipóteses de o cinema português acertar. E destas apresentações senti um tom mais positivo, um tom mais alegre. Em cada edição sinto que os produtores apresentam os seus filmes com maior profissionalismo". E se é de filmes positivos que se querem, os primeiros minutos de Casa, de Leonor Teles, produzido por Filipa Reis, deixam realmente água na boca. A estreia nas longas de ficção da cineasta de Terra Franca leva-nos a uma espécie de viagem aos universos de Wong Kar-wai num conto sobre uma jovem em torno da perda e dor para, mais tarde, encontrar uma reconstrução. Foi parcialmente rodado na Tailândia e caía o carmo e a trindade se não for apanhado por Locarno, Toronto ou Veneza...
Os poucos minutos vistos de Primeira Pessoa do Singular mostram um Sandro Aguilar a poder querer sair da penumbra...
© Rita Chantre / Global Imagens
Outro dos novos filmes apresentados em primeira mão, sem ter ido a festival ou ter estado nos encontros do ano passado, foi Primeira Pessoa do Plural, a terceira longa de Sandro Aguilar, um dos mestres do experimentalismo, aqui a usar um par recorrente: Albano Jerónimo e Isabel Abreu. A cena que o fundador da O Som e a Fúria mostrou mostra um desvio para a luz, para a claridade: "desta vez quis fazer algo mais luminoso, não tão cavernoso como das outras vezes", disse. Este romance psicotrópico está nesta fase em montagem.
Um pedaço de filme
Mas nem todos os filmes nestes encontros estão prontos. Slash Them, de Fernando Alle, realizador da comédia de terror Mutant Blast, tem apenas uma cena pronta e mostrou-a como teaser para angariar parceiros de produção e financiamento. E o que vimos foi um jovem casal a tentar fazer amor num carro no meio de uma floresta antes de se encontrar um demente assassino sanguinário. Foi apenas o momento que proporcionou mais gargalhadas.
Deste desfile importante também a proposta da APM, de Ana Pinhão Moura, Diálogos depois do Fim, de Tiago Guedes, a partir de Cesare Pavese, conjunto de quadros com uma série de grandes atores portugueses em paisagens dos Açores. Outro dos filmes portugueses que deverá encontrar espaço na montra dos grandes festivais, tal como outra das apostas de Paulo Branco, Longe da Estrada, projeto de Hugo Vieira da Silva, que por motivos de saúde teve de partilhar com o crédito com Paulo Milhomens. Rodado na Polinésia, parece ser um épico de grande beleza. A sua data de estreia está para 2024.
Imagens muito prometedoras no teaser de A Pedra Sonha dar Flor, de Rodrigo Areias, a partir de Raúl Brandão. Parece ser um projeto muito pessoal do produtor e realizador de Guimarães, desta vez a explorar a paisagem do conselho de Aveiro. Deverá apenas estrear após O Pior Homem de Londres, encomenda que fez para Paulo Branco, já o ano passado nestes Encontros.
Intrigantes, no mínimo, as primeiras imagens de Noites Claras, de Paulo Filipe Monteiro, no qual se filma uma ideia de pesadelo da depressão pós-parto. O mesmo nível de intriga para o que sairá de Banzo, de Margarida Cardoso, de novo a África colonizada para se repensar os dias de hoje.
Também se assinala o regresso de Luís Filipe Rocha, com O Teu Rosto será o Último, com Vincent Wallenstein como um prodígio do piano. As primeiras imagens parecem apontar para um bom filme a querer contar uma história de família capaz de mapear um estado de espírito de um país. De realçar o grande número de cinema documental e nos quais se destacaram Concentrados, de José Vieira Mendes, crítico de cinema; Verdade ou Consequência, retrato de Luís Miguel Cintra pela atriz Sofia Marques, e Via Norte, Paulo Carneiro a seguir a vocação tuning dos portugueses.
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