Cinema: “O Natal do Bruno Aleixo” chegou às salas expresso.pt/revista/culturas/cinema/2022-12-22-Cinema-O-Natal-do-Bruno-Aleixo-chegou-as-salas-2d835d87
Cinema
As personagens que nos habituámos a ver em séries anteriores apresentam-se no grande ecrã em “O Natal do Bruno Aleixo”
João Moreira e Pedro Santo trazem Bruno Aleixo para a quadra natalícia. O crítico Jorge Leitão Ramos dá três estrelas à comédia portuguesa deste Natal Bruno Aleixo é um personagem que vem da esfera amadora. Começou com o aspeto de ewok, aqueles seres felpudos, parecidos com ursinhos de peluche, nativos da lua do planeta Endor, que ajudaram Luke Skywalker, a Princesa Leia e seus aliados a ganhar a luta contra o Império no derradeiro filme da trilogia original de “Star Wars” — “O Regresso de Jedi”. Era assim que aparecia em brevíssimos apontamentos de menos de um minuto — na realidade, o tempo de uma frase afirmativa — com o título genérico “Os Conselhos que Vos Deixo” divulgados, em 2008, na internet. Eram intervenções de humor ‘parvo’ sem intenção de intervir na realidade, máximas insólitas que faziam sorrir, poucas vezes rir, sempre surpreendentes.
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Dali passou para a SIC Radical, no mesmo ano, sob a forma de um talk show — “O Programa do Aleixo”. Mudou de visual — a Lucasfilm não é para brincadeiras, em matéria de direitos de autor... — passou a ser uma espécie de cão de pelos longos e, ao seu lado, começaram a aparecer outros personagens. O Busto (um busto de Napoleão branco) foi o primeiro, outros depressa se seguiram: Renato, com cabeça de criatura da Lagoa Negra, consumidor de metáfora, Homem do Bussaco, em figura de ação, e um linguajar quase inescrutável que necessita de legendas para se tornar inteligível (não as torrenciais obscenidades que se percebem lindamente e nunca surgem nos subtítulos). Mais uns quantos foram emergindo — sendo estes três os essenciais. Na sua dimensão de nicho, “O Programa do Aleixo” foi um sucesso.
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Seguiram-se outras séries, os personagens transitaram para a rádio, passaram pela RTP, até que O Som e a Fúria, de Luís Urbano e Sandro Aguilar, começou a produzir o conceito com meios um pouco mais robustos. A série “Aleixo PSI” (2017) abriu a porta à interação regular com atores e à sequente introdução de personagens laterais, tendência que se reforça com a chegada ao cinema — “O Filme do Bruno Aleixo” (2019).
2/3
Embora em ambos os casos, haja uma tendência para criar narrativas com continuidade, a atomização em skeches permanece, porventura assente na consciência de que Aleixo e seus comparsas não são verdadeiros personagens, são figuras, ainda por cima sem mobilidade e limitada expressão icónica, cabeças falantes com diminutos detalhes de animação. O cerne do humor está no texto e nas vozes. A prudência conceptual permanece neste “O Natal do Bruno Aleixo” e ancora num facto: o protagonista sofre um acidente e entra em coma. Os médicos sustentam ser uma questão psicológica, coisas irresolvidas, e trazem para a beira do leito hospitalar personagens do passado de Aleixo no fito de narrar memórias natalícias que o façam ter vontade de viver. Mas o Natal é um trauma recorrente... O filme é, outra vez, uma sequência de bemhumoradas pequenas ficções (agora com correalizadores específicos para cada uma delas) no estilo a que nos foram habituando. Não é Lubitsch nem Vasco Santana, já se sabe, vêse com um sorriso continuado.
3/3