Elenco de "A Flor do Buriti" premiado em Cannes

Page 1

Elenco de "A Flor do Buriti" premiado em Cannes

rtp.pt/cinemax

O filme "A Flor do Buriti", da realizadora brasileira Renée Nader Messora e do cineasta português João Salaviza recebeu o prémio de melhor elenco na secção

Un Certain Regard do Festival de Cannes, foi anunciado ao final da tarde de sextafeira.

Rodado ao longo de durante quinze meses na Terra Indígena Kraholândia, "A Flor do Buriti" foi produzido, tal como o filme anterior da dupla, "Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos", usando uma equipa reduzida e composta em grande parte por indígenas.

João Salaviza salientou esse lado quase familiar e íntimo da rodagem ao explicar ao CINEMAX o que representa esta distinção: "Tem um significado enorme e recebemos um prémio que nos deixou a todos muito felizes porque o prémio 'ensemble' identifica e premeia um trabalho coletivo. Como se viu, nós subimos todos ao palco, é uma equipa muito pequena e basicamente constituída por um grupo de amigos indígenas e não indígenas."

"Eu acho que o filme carrega o espírito de todos os povos indígenas do Brasil que estão a manter a terra sem que ela caia. O filme procura inscrever estas narrativas e estas vozes num lugar com muita visibilidade e estamos muitos honrados por termos o previlégio de acompanhar os Krahô nesta aventura," concluiu o realizador português.

1/2
CINEMAX RTP c/ Tiago Alves e Lara Marques Pereira (em Cannes) actualizado às 21:47 - 26 maio '23 publicado 19:19 - 26 maio '23

Já Renée Nader Messora disse: "É um prémio que pensa uma forma colectiva de olhar para o mundo. Os Krahô ensinam isso todos os dias. Qualquer comunidade indígena mantém viva uma ideia de comunidade, que nós perdemos. Este prémio é o reconhecimento de que devemos voltar a pensar no colectivo."

Construída a partir de relatos históricos e da tradição oral dos Krahô, a narrativa de "A Flor do Buruti" continua a mostrar a luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade situada na região Tocantins, no Brasil.

O filme atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, desde um massacre perpetrado por fazendeiros da região, até à época da ditadura militar, culminando no presente quando, diante de velhas e novas ameaças, o povo da Aldeia de Pedra Branca reinventa novas formas de resistência.

Um desses momentos ocorreu em pleno festival quando a equipa e o elenco do filme aproveitou a passagem pela passadeira vermelha para mostrar a oposição à tese jurídica do Marco Temporal, sobre a demarcação de terras indígenas, defendida pela direita brasileira e em discussão no Supremo Tribunal Federal daquele país.

Apoiada pelos grandes fazendeiros e líderes do agronegócio, a proposta quer que o direito à terra dos povos nativos seja limitado às áreas sob o seu controlo em 5 de outubro de 1988, quando a atual Constituição brasileira foi promulgada, o que segundo os Krahô "legaliza e legitima a violência a que os povos foram submetidos".

Em Cannes, a equipa de "A Flor do Buruti" ergueu os punhos e desfraldou uma faixa onde se lia "O futuro das terras indígenas está ameaçado. Não ao Marco Temporal!".

2/2

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.