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Mais Argentina, menos metrô

Oatual presidente da República não recebeu nenhum voto de estrangeiro. Prometeu dezenas de obras nos 27 Estados e no Distrito Federal, mas nenhuma fora do país. Surpreendentemente, viajou na segunda semana de governo para Buenos Aires e lá, como se fosse prioridade inadiável, comprometeu-se a financiar US$ 700 milhões, ou R$ 3,9 bilhões, por meio do BNDES, para a construção de um gasoduto. Constrange e humilha a autonomia do banco, de seu conselho e das obrigações com a eficiência e o proveito de suas atividades.

Também, sem apoio explícito ou consulta ao Congresso Nacional, sem um singelo lastro na opinião pública, mostrouse motivado a dar início à criação de uma moeda única aos dois países. E que negócio! Unificar uma economia e um sistema financeiro sadios, como os nossos, com outros, que se revelam como uns dos mais quebrados, endividados e destrambelhados do planeta. Quem vai ganhar e quem vai perder?

A empreitada anunciada tem o gás extraído do processamento do xisto, abundante na Argentina, gerando uma fonte de energia não renovável, que aumentará emissões poluidoras, justamente em um mundo mobilizado para descarbonizar a atmosfera.

O metrô de Belo Horizonte, além de descarbonizar, está sem resposta há duas décadas, enquanto o gasoduto argentino saiu da cartola agora. Tem lógica ir para a Argentina e abandonar Minas?

No primeiro “reinado” de Lula surgiram críticas tóxicas e nunca respondidas por operações de financiamentos de vários bilhões de dólares destinados a países exóticos, ditaduras jurássicas, gover- nos que negam a democracia e que têm entre si um ponto em comum: nunca honraram uma prestação, ao mesmo tempo em que possuem ditadores na lista da “Forbes”.

Se as ações de um governo devem ter a obrigatoriedade do “interesse nacional e social”, o gasoduto argentino não tem a ver com isso, além de tirar de vez os investimentos do Brasil.

O BNDES, banco do povo brasileiro, destinado ao desenvolvimento nacional, passa a fazer papel de filantropo em terras de caloteiros, que maltratam seu povo? Acena-se assim que os diretores do BNDES e seu presidente, que será Aloizio Mercadante, deverão fazer vista grossa às inconsistências e desvios de finalidade?

Metrô, barragens, portos, aeroportos, ferrovias, centrais energéticas verdes e indústrias, tecnologias que o Brasil reclama para gerar oportunidade, emprego e renda, acabam sem vez para priorizar operações que o presidente do Uruguai, Lacalle Pou, identificou como “ações de um clube de amigos ideológicos”.

O gasoduto na Argentina é intragável até para os petistas mineiros, que aguardam mais mobilidade para a região metropolitana de BH. Enquanto isso, a ministra Marina Silva, em Davos, afirma que o compromisso do Brasil é com a descarbonização. A 12 mil quilômetros, Lula a contradiz e se lança em um projeto anacrônico de alta carbonização.

É muita ousadia? Irresponsabilidade? Provocação? Delírio? Para responder, não temos bola de cristal nem formação em psicologia, apenas lógica comum.

Tem quem diga que esta é a coerência de Lula, pois nunca reconheceu erros do seu passado conturbado, nunca pediu perdão nem acenou a fazer diferente daquilo

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