2 minute read

Clínica é fechada por maus-tratos e sessões de tortura

Lisley Alvarenga lisley.alvarenga@otempo.com.br

Momentos de terror e sessões de tortura. É isso o que 91 pessoas – muitas delas idosas, com necessidades especiais e dependentes químicos –, internadas de forma compulsória, na Clínica Reability Center, afirmam ter vivido durante meses na unidade, localizada na rua Roberto Magalhães, no bairro Quintas do Godoy.

Nessa quarta (1º), o espaço de “reabilitação” particular foi fechado pela Guarda Municipal e pela Vigilância Sanitária. A medida ocorreu após o Ministério Público solicitar a fiscalização do local, que confirmou as denúncias de maus-tratos, superlotação, condições insalubres das acomodações, cárcere privado, além de sinais de violência física e psicológica. Dois funcionários, entre eles o gerente da clínica, foram detidos na ação e autuados em flagrante por cárcere privado.

A Vigilância Sanitária também constatou condições estruturais e de higiene precárias; situações trabalhistas irregulares e medicamentos controlados sem receita ou data de vencimento. “A clínica realizava internação compulsória, ou seja, sem a devida indicação médica e qualquer notificação ao Ministério Público”, informou a prefeitura.

Levado para a clínica após ter sido diagnosticado com esquizofrenia e retardamento e ter agredido os pais, Alysson Barroso Franzotti de Souza, de 44 anos, perdeu 20 kg durante o período em que ficou sob os cuidados da clínica e afirma ter sido ameaçado por funcionários até com cães. Ele revelou ainda que foi agredido, inclusive, com golpes de toalha molhada.

“Teve um coordenador que me deu uma coronhada na cabeça, um soco e me mandou pra dentro da água fria. Depois, me deram um arrastão e chutaram a minha canela. Ficou um mês doendo. A Milene (que ele diz ser dona da clínica) me dava tapa na cara. E eles soltavam o pit-bull pra me morder na perna. Eu só não contava pra minha irmã porque tinha medo do coordenador me dar uma surra depois”, revelou Alysson.

Outro abrigado que con- tou ter sofrido maus-tratos e humilhações é o motorista de aplicativos Reginaldo de Oliveira. Ele relata que, após a fuga de um interno, os funcionários chegaram a aplicar “sessões de choque” nesse abrigado. “A gente sempre foi oprimido aqui. Eles disseram que não tem mais agressão depois da denúncia de maus-tratos sobre a casa. Mas isso aconteceu porque eles estavam com medo de aqui ser fechado. Quando um interno fugiu, ele foi recapturado, e eles usaram o choque pra punir, como se a gente fosse bandido. Eles davam ducha gelada, choque, agressão física, psicológica, até nos senhores de idade. A gente usa álcool e drogas ilícitas, mas a gente é trabalhador e mantém os nossos vícios”, defendeu-se.

Todos os internos da clínica particular foram liberados.

“A disciplina era lavar a louça. Aí eu não quis, eles então começaram a me agredir. Me deram um murro no peito. Faz duas semanas que está doendo.”

“Era ducha gelada, choque, agressão física, psicológica, moral, até contra os senhores de idade. A gente usa álcool e drogas ilícitas, mas é trabalhador.”

Reginaldo de Oliveira Interno

Dono tem passagem na Polícia Federal

A Secretaria Adjunta de Segurança Pública declarou que a unidade possui alvará provisório de funcionamento. Já a Vigilância Sanitária informou que a clínica não possui alvará sanitário. A pasta revelou também que o proprietário da clínica foi identificado e possui passa- gem pela Polícia Federal. “(Ele) foi condenado a cinco anos de prisão no Estado de Goiás, pelo mesmo crime”, informou. “Soubemos que um veículo em nome do proprietário foi encontrado em Goiás”, revelou o comandante da Guarda Municipal de Betim, Anderson Reis. (LA)

Polêmica. Caso ocorreu no jogo entre Atlético e Carabobo-VEN, na quarta (1º); um boletim de ocorrência foi registrado

This article is from: