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Revolução platônica

Apósumaanabolizadageral,começou a se sentir estranho, aquelas dores esquisitas, o cabelocaindo,osbícepsexplodindo. O amigo já havia lhe dito que músculo à base de química não era uma boa. E ele lá, em frenteaoespelho,seperguntandose realmente valia a pena.

Saradão, fazia sucesso na academia, em especial com a turbinada Marilene, seu mais constante affair.

Preocupado com as últimas reações do corpo, resolveu ir à biblioteca municipal para ler alguma coisa a respeito. A biblioteca era uma enormidade, e ele, perdido, saiu em busca de informações. Era uma época em que internet era novidade para poucos e o Dr. Google sequer existia.

E foi no meio de corredores e estantes altíssimas que topou com ela, uma mirradinha morena, de oclinhos redondos e olhar inteligente, na ponta dos pés, tentando alcançar um livro.

Atabalhoado como sempre e acostumado a movimentosbruscos, quisajudá-la. Claro, deu no que deu.Umaenciclopédiainteirana cabeçada garota, que,emcâmeralenta,tom- to, Marcus Mesquita, cerca de 200 pes- soas são esperadas para o dia de diversão. “O Movi- mento Vem Brincar busca resgatar datas importantes que estão ‘esquecidas’ pelas pessoas. Por isso, essa ação especial do Dia do Circo. Todas as pessoas que participam são voluntárias e buscam promover o encontro entre pais e filhos com o objetivo de brincar e alegrar toda a família”, diz.

Saiba mais

O Movimento bouemseusbraçosbombados.

Vem Brincar é idealizado por uma equipe de cuidadores,produtores culturais, empreendedores e pesquisadores da primeira infância.

Nem sabia o que fazer; desculpar-se com uma semidesmaiada não resolveria. Pegou a menina e sentou-a na cadeira, tomou-lheopulso,dando-lhetapinhaseverificandogalosnacabeça.Efoiassim,daforma mais inusitada possível, que ele se descobriu às voltas com estranhas emoções. Aquela jovem pequenaebonitadespertaranele sentimentos e cuidados nunca antes vividos. Encantado, jamais imaginou que essa coisa de “primeira vista” pudesse ser possível. Envolver-se com alguémnãosomentenaformacarnalestavaemsegundíssimoplano,noentanto,derepente,láestava ele, com o coração em descompasso e a emoção escapulindo pelos poros.

O nome dela era Raquel, doutorandaemfilosofiaeantropologia,tradutoraoficialdegrego e hebraico, aparentando no corpo frágil bem menos que seus 25 anos.

Na cantina da biblioteca, conversaram. Ela, de uma maneirafluida,comocharmedatimidez latente e o domínio dos conhecimentos, deixou-o impressionadíssimo. Ele nem tinha o que dizer; atento, interessou-seporsuahistória,suasvia- genspelomundo,pelotrabalho que ela fazia com prazer e dedicação, pelas diferentes e bizarras culturas que encontrou no planeta, pelos estudos dos hieróglifos nos quais se empenhava no momento. E ele nem sequer sabia o que era isso, pensou com seus botões. Após expor em minúcias e sem afetação suas atividades vocacionais, Raquel quis saber dele, o quefazia,oquelhedavaprazer. Emboranão tivesseconcluído o curso de educação física, trabalhava em academias, clubes, além de fazer alguns bicos, virando-se como podia. E o que lhe dava prazer? Claro, o esporte, a musculação, o halterofilismo, tinha nascido para aquilo, dizia, inchando o peitoral de uma maneira nada discreta. Acostumado a fazer sucesso com a tal musculatura, não entendeu como a garota nem sequermoveu os cílios.

Absorveu-se tanto pela conversadela que, mesmo não tendo compreendido a metade, passou a frequentar assiduamente a biblioteca. Sabia que ali a encontraria e, sentados à mesadacantina,falariamsobre Platão, cabala, existencialismo, entreoutros.Oumelhor,ouviria sobrePlatão,cabala,existencialismo e coisas do tipo.

Desde o primeiro encontro, correuparaoAurélio.“Hieróglifo”eraumapalavrademasiadamente complicada e nova em seuvocabulário,careciadeestudos.Aristótelesrecebeuinfluência de Platão, até aí tudo bem, mas quem foi mesmo esse cara? O tal de Heráclito? Além de filosofar, o que mais faz um filósofo? Questionamentos como esseiamlhemartelandoacabeça. Procurou o amigo professor de história, não queria queimar seu filmecom a garota.Além de escutar, queria participar, dar suas opiniões.

Oamigo riu, disse queera loucura. E ele: –Cara!Loucuraéoqueestou sentindo por ela. Preciso de aulas. Urgente!!!

E em certa academia:

– Hieróglifos? Acredita que ele me perguntou o que era isso? E que achou um absurdo eu não saber direito quemfoi Platão?

– Calma, Marilene, ele só resolveu se instruir um pouco... Saber das coisas... –Quecoisas?Desdequando se interessa por isso? Ah! Aí tem. E quer saber? Vou estudar Platão de cabo a rabo. Tá pensando o quê? Que sou uma inculta?

Edooutrolado da cidade: –Amiga,andomeioenferrujada, meio caidinha... O quevocêachadeeuentrarparaumaginástica,umamusculação,uma...

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