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22 de maio

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27 de maio

27 de maio

Covid-19 aumentou

carência de migrantes

CRISTIANE MATTOS

Yoleida veio para Belo Horizonte com o marido e os sete filhos

Haitianos. “Está muito difícil”, afirma Marie Nerline, 38, que vive em Contagem com o marido, cinco filhos, uma irmã e uma cunhada

Comunidade em Contagem ajudou grupos com cestas básicas e máscaras

¬LUCAS MORAIS ¬ Entre os becos estreitos da Vila Padre Dionísio, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, uma casa de apenas dois cômodos se tornou símbolo de uma nova vida para nove haitianos. Diante da miséria e da falta de infraestrutura no país da América Central, a única alternativa foi recomeçar longe de amigos e parentes queridos. Há dois anos no Brasil, Marie Nerline Augustin, 38, e a família lutam agora contra outro desafio, também grande: a pandemia de Covid-19. “Está muito difícil, são cinco filhos (três crianças e dois adolescentes), que comem muito”, brinca.

Além de cuidar dos filhos, a dona de casa ainda passou a abrigar a irmã, que chegou há um ano e quase não fala português, e a irmã do marido, que tem um filho recém-nascido. “Fico preocupada, porque todo dia meu esposo sai para trabalhar. Mas é só ele que tem um emprego, e com nove pessoas dentro de casa fica muito difícil”, complementa.

O alento veio com a ajuda da comunidade da vila, que distribuiu cestas básicas para as famílias mais carentes que moram no local.

MORADIA PRECÁRIA. Nos pequenos cômodos muito bem cuidados da casa, a cozinha divide espaço com um quarto-sala. Nas panelas, apenas arroz, feijão e macarrão garantiram o almoço do dia. No entanto, mesmo com a simplicidade e as muitas dificuldades, Marie ofereceu o alimento para a reportagem.

“São pessoas muito inteligentes e esforçadas. Mesmo com tantos problemas, conseguem oferecer o pouco que têm. Os meninos mesmo

CRISTIANE MATTOS

Maria Ana elogia esforço dos haitianos refugiados em Contagem

chegaram aqui e rapidinho estavam falando igual à gente”, conta a líder comunitária Maria Ana, 65, referência para os haitianos na Vila Padre Dionísio.

Filho de Nerline, Nicolson Augustin, 17, fez questão de mostrar à reportagem de O TEMPO a bandeira do Haiti que ele guarda com carinho no quarto que divide com os irmãos e as tias. “Foi a única coisa que eu consegui trazer. Como viajamos ilegalmente, tivemos que deixar tudo para trás e vender o que conseguimos para pagar as nossas passagens”, comenta o adolescente.

É urgente que os refugiados sejam interiorizados Organização humanitária

7Responsável por cuidar de três abrigos para venezuelanos em Boa Vista (RR), a organização humanitária Refúgio 343 pede ajuda à população para que a interiorização desses refugiados continue pelo Brasil. “Apenas na capital de Roraima, são 40 mil pessoas que vivem em situação de emergência, a maior parte nas ruas ou em precárias ocupações. Com a pandemia do novo coronavírus, se tornou ainda mais primordial interiorizar essas famílias”, avalia Pedro Figueira, líder da Refúgio 343 em Minas Gerais.

A entidade já abrigou 57 famílias de venezuelanos em todo o Estado. A última delas chegou no mês de abril, com as severas medidas de isolamento social para evitar a propagação da Covid-19. O casal Darwin e Yoleida veio para Belo Horizonte com os sete filhos, que têm idades entre 3 e 21 anos. Todos foram recebidos pela gestora pública Lilian Bernardes, 39, que integra a organização.

“Foi muito importante ver como eles ficaram felizes por estar em segurança. Todos ficaram de quarentena, sem poder ir nem até o elevador, e permanecem em distanciamento social. Já conseguimos emprego para o pai, que começou na sexta-feira, e o filho, que vai trabalhar como assistente de manutenção”, comemora Lilian.

Agora, a entidade tenta matricular as crianças na rede pública de educação. E Yoleida já comemora a nova realidade. "É tudo diferente, mas queremos muito progredir, o que não é fácil. Estamos nos adaptando e muito felizes pela nossa família”, conclui. (LM)

Como ajudar

Internet. Acesse www. refugio343.org e sabia como ajudar a organização humanitária Refúgio 343. Doe no https: //refugio343.org/ doe-agora.

Garoto tem medo que pai, único da família que trabalha, adoeça

¬ Mais que os problemas da rotina diária, a principal preocupação do haitiano Nicolson Augustin, 17, é com o pai, carregador na Ceasa de Contagem. “Lá não é possível fazer o distanciamento nem nada. Se ele pegar essa doença, é muito difícil se isolar, já que moramos nove pessoas em casa, com dois cômodos apenas. E não vai receber pelo trabalho”, relata.

Ele conta que um dos momentos mais tristes desde o início da pandemia foi após a ligação de um amigo que vive no Haiti. “Ele me disse que estava com muita fome e não tinha nada para comer”, diz, emocionado o jovem.

Mesmo com poucos recursos, Nicolson mandou dinheiro ao amigo, para as compras no mercado. Ele também pensa em realizar um projeto social para amenizar o sofrimento de famílias haitianas, agravado pela pandemia.

Apesar de terem largado tudo para arriscar a vida em outro país, a família não reclama. “Temos um teto, muitas pessoas vêm e ajudam com comida. O Brasil é muito melhor, é tão bom”, elogia Maria Nerline, mãe do garoto. (LM)

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