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Você nunca está só Além da presença de Deus, o seu "eu" jamais o abandonará.
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Dedico este trabalho às pessoas que se Isolam, pensando ter encontrado a Solução para os seus problemas e as que Pensam que tudo termina quando não Vê solução para os seus anseios
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Estava deprimido. Parecia que tudo de ruim estava lhe acontecendo: a noiva acabou o namoro sem motivo aparente, o pai saiu de casa acabando com um casamento de mais de 26 anos: e como ele trabalhava com o pai, não via como encará-lo; ele continuava vivendo com a mãe e ela estava com forte depressão após o desenlace e para completar, há três dias, havia morrido uma tia que tinha um bom relacionamento com ela, talvez a única pessoa com quem ele matinha um canal aberto de bons relacionamentos, ela o ouvia, aconselhava e lhes dava razão, mesmo que ele não tinha. Com este turbilhão de problemas na cabeça ele pensou: “Preciso conversar com alguém, um amigo, ou uma amiga. Mas quem? Não tenho amigos e os colegas da faculdade há muito tempo não os encontro. Mas se eu não conversar com alguém enlouqueço. Quem, Carlota? Não da última vez, discutimos feio. Pensei também em Sônia, mas ela está noiva. Não tem ninguém”. - E se eu criasse um amigo? Continuo refletindo sobre com quem poderia desabafar. - “Que ideia boa. É isso mesmo vou criar um amigo e escrever para ele. Para qual endereço? Para minha casa. Afinal meu amigo não mora em outra casa, não tem endereço. É apenas meu amigo. Mas ele tem nome? Sim, vai chama-se Renato em homenagem a minha tia falecida (Renata)”.
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Rio de Janeiro, 06 de julho de 2012. Prezado amigo Renato Hoje amanheci com vontade de conversar com alguém. Procurei uma pessoa amiga e não encontrei. Eu queria uma pessoa que entendesse os meus problemas e apresentasse alguma solução. Depois de meditar quem seria esta pessoa, descobri você. Acho que você me compreenderá. Assim gradativamente vou contando a minha história e você me orienta apresentando alguma solução. Vou começar pelo meu nascimento. Sou filho único, mesmo assim fui criada por empregadas que me davam de tudo. Só não podiam dar o amor de mãe, a qual me via pela manhã, saia com o meu pai e só voltava à noite. Houve um dia que adoeci acho que foi de banzo – saudade – a empregada telefonou e ela mandou o motorista me levar ao médico. Só quando eu estava lá foi que ela chegou. Após ser medicado, comprou o remédio e mandou o motorista me levar de volta para casa. Só voltando à noite, quando me deu um beijo (seco) e mandou a empregada colocar-me para dormir. Só vim vê-la dois dias depois. Estou contando estes fatos para você entender que não é o dinheiro que faz as pessoas felizes. Eu mesmo não era. Por hoje eu vou encerrar. Desejo a sorte que não estou tendo, mesmo com muito dinheiro no banco. Atenciosamente
Roberto Cleiton Sales
Neste mesmo dia, escreveu o envelope:
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Remetente Roberto Cleiton Sales Rua XV de novembro, 61 Tijuca - 22070 Rio de Janeiro - RJ
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Para José Renato Alves dos Santos Rua XV de novembro, 61 Tijuca - 22070 Rio de Janeiro - RJ
Em seguida, selou e colou a carta. Depois disso ele sentiu-se mais aliviado. Há dias não sentia-se tão bem. Mais tarde pegou o carro e colocou a carta num correio bem distante de sua casa. Passaram-se três dias, no quarto dia sua ansiedade diminuiu. Passou na Caixa Postal de sua casa e lá estava à carta, resposta, escrita por Renato.
Rio de Janeiro, 08 de julho de 2012. Prezado amigo Roberto Foi com muita alegria e surpresa que recebi tua carta. Jamais eu poderia imaginar que uma pessoa rica como você, que estudou nos melhores colégios do Rio de Janeiro fosse uma pessoa tão só. Se alguém me contasse eu não acreditaria. Como uma pessoa que nasceu num berço de ouro, tendo de tudo e do melhor pode ser infeliz? Com isso você está me fazendo mudar o conceito de felicidade. Pensei que só os ricos pudessem ser felizes, sem a preocupação de ganhar dinheiro. Com isso chego à conclusão que dinheiro não é sinônimo de felicidade. Notei que você está muito amargurado. Não sei o quanto você amava sua noiva, mas o desenlace deixou você muito abalado. Quero lembrar que nada é insubstituível, porém, existem muitas garotas, até no seu bairro, que poderá lhe fazer feliz. Ela está ai, precisa apenas você perceber e se apresentar.
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Antes que esqueça: a única pessoa, neste momento, insubstituível é a sua mãe, apesar dos fatos ocorridos quando você era criança. Bem Roberto, vou encerrar desejando que a maré passe e os bons ventos volte a soprar para você. Lembre-se: todas as vezes que precisar de um amigo, estarei sempre ao seu lado. Atenciosamente
José Renato Alves dos Santos
Roberto só leu a carta à noite, quando estava mais descansado. No outro dia, acordou cedo, tomou banho deu um, beijo na mãe e disse: “vou enfrentar a fera no trabalho e a noite, vou escrever uma carta para Renato”. - “Quem é Renato”? Perguntou a mãe. “Por que não usa o telefone, o computador”? “Não mãe, não se preocupe, o Renato não tem telefone, nem computador”. - E ele é tão pobre assim? - Não mãe, ele não é pobre é rico. Ele só não tem dinheiro. Neste dia Roberto passou mais tranquilo. Esteve na empresa, trabalhou os dois expedientes, mas não falou com o pai. Ainda não era hora. A noite após o jantar ele foi para o seu quarto. Precisava escrever pra Renato, já se passaram cinco dias. A segunda carta foi mais fácil. Parecia que já se conheciam há bastante tempo.
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Rio de janeiro 12 de julho de 2012 Prezado amigo Renato Tem sido para mim momentos e contentamentos quando escrevo ou quando recebo uma carta. Graças a sua amizade estou ficando um pouco mais seguro, mas confiante, hoje quero lhe contar como foram os meus primeiros dias na escola. Quando completei quatro anos, minha mãe matriculou-me numa escola infantil, quase todos com a minha idade. As mães chegavam, deixavam os seus filhos e iam embora. Comigo era diferente. Minha mãe me levava, mas deixava a minha babá tomando conta. Graças a Deus, a professora não permitia que ela ficasse na sala. Porém na hora do intervalo lá vinha ela com aquele lanche chato, sem gosto. Eu queria comer como os outros, batatas fritas, biscoitos e frutas, ela vinha com iogurte, maçã, pêra e outras coisas menos gostosas; Como eu tinha raiva. O tempo foi passando, fomos crescendo, mas a minha babá não me largava. Ganhei até um apelido dos colegas “mimoso”, mas não liguei e eles logo esqueceram. Só quem não esqueceu de mim foi a minha babá, enquanto os colegas que moravam já iam para a escola sozinho, eu continuava com aquele embrulho junto de mim o tempo todo. Três anos depois de ter começado meus estudos, fiz a primeira formatura: Doutor em ABC. Você precisava ver a festa que eles fizeram. Parecia que eu havia conseguido um grande feito. Eu apenas aprendi a escrever meu nome e ler algumas palavras. Bem Renato, amanhã tenho trabalho, vou encerrar desejando um boa dia. Atenciosamente
Roberto Cleiton Sales
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Como fizera da vez anterior, aprontou o envelope e, no outro dia, foi para o correio. Durante o dia (sábado), não foi ao trabalho, à tarde recebeu um telefonema que um colega estava num hospital, havia sofrido um desastre automobilístico, graças a Deus não foi muito grave. Mas para ele a visita foi gravíssima. Estavam lá grande parte dos seus colegas e, entre eles, estava Keila, sua ex-namorada, isto o fez voltar casa, muito deprimido e arrependido de ter ido visitar o amigo. Mas alegrou-se quando viu que chegara carta de Renato.
Rio de Janeiro, 16 de julho de 2012 Prezado Roberto Recebi sua última carta. Notei que você ficou muito triste, mesmo contando a festa de formatura do ABC, com muitos convidados, muita bebida, muita comida e música. Não sei se você não gostou da festa ou se você achou não ser merecedor dela. Voltando a formatura; tudo tem um começo, o estudo é uma longa escada que a pessoa vai galgando degrau a degrau e o topo não tem limite, quanto mais se aprende mais se tem a aprender. Outra coisa que notei foi o apego de sua mãe. Não sei se ela o ama realmente, mas de uma coisa pode ter certeza, ela tem muito cuidado com você. E a empregada, continua com ela? Ela ainda prepara sua refeição? E o banho? Aprendeu a tomar sozinho? Desculpe a brincadeira, fiz para te animar um pouco. Desejo muita sorte
José Renato Alves dos Santos
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Os correios só entregaram a carta na terça feira o que fez Roberto ficar mais impaciente. Havia acontecido o encontro inesperado com Keila que o obrigou a sair quase correndo do hospital. Apesar de tudo que ocorrera entre os dois, ele ainda a amava, ela foi a sua segunda namorada, a primeira namorada, durou apenas uma semana, sendo assim o grande amor de sua vida Keila, que namoraram durante seis anos. E, quando eles se preparavam para casar ela resolveu acabar sem alegar qualquer motivo. Acabou, acabou e pronto. Deixando-o a perguntar: o que eu fiz? Nunca a trai, nunca a tratei mal, sempre demonstrei o meu amor. E ela nunca disse por que tomou esta atitude. Nuca teve coragem de me encarar, dizer pessoalmente ou por telefone – e ainda foi ousada – não me procures nem telefone, a minha decisão não tem volta. Sinto muito, você é uma pessoa maravilhosa, mas o que pesa e muito é o amor e isto nunca senti por você. Perdoe-me. Matutei por alguns dias, a alegação da falta de amor por parte dela, mas não me convenceu, eu a conhecia muito e sabia que ela me amava. Passei o resto do dia apático. “O encontro me abalou profundamente”. Ligou o televisor, procurou um canal que estivesse passando um bom filme e depois de procurar em vários canais, encontrou um filme que lhe chamou atenção: Louca Obsessão. Conta à história de uma jovem de dezoito anos que se apaixonou por um homem casado. No começo foi tudo muito bem. Eles se encontravam uma vez por semana. Fora isso, não se comunicavam, nem ele nem ela o procurava no trabalho. Tinha um encontro (segundo feira) que às vezes começava no restaurante e terminava na casa dela. Tudo ia muito bem até que ela começou a cobrar mais a presença dele. A princípio ele cedeu, disse à mulher que iria fazer mais um serão semanal e passou a encontrá-la mais uma vez na semana. Uma noite ela fez uma proposta: ele devia se divorciar para casar com ela. Sua reação foi a pior possível: - Você está doida? Nunca vou deixar minha família. Nessa noite ele pediu um tempo e foi embora. Ela com raiva, não foi ao próximo encontro nem telefonou. Na quarta feira dia que era costume se encontrar, ele não foi, ela telefonou e ele não atendeu. Na quinta feira ela foi ao escritório dele. Desta vez a coisa engrossou. Ele a expulsou e disse-lhe que não queria mais vê-la. Passaram-se quinze dias. Numa noite ao chegar em casa, ele estranhou e ficou preocupado, pois havia um automóvel parada e
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descobriu que o carro era da antiga namorada. Com cuidado, entrou na casa pelos fundos. Sentados numa poltrona com as mãos amarradas estavam sua mulher e seus dois filhos e a antiga namorada com uma arma apontada para eles. Ele não teve dúvida pegou um martelo que estava na cozinha e com toda força jogou nela. O martelo pegou de cheio em sua cabeça e ela não teve tempo para nada. A pancada foi tão grande que houve afundamento no crânio e ela teve morte imediata. O filme acabou e eu não consegui mais dormir. Será que eu fiquei obsessivo? Segundo eu sei é uma doença nas pessoas loucas. E eu não sou louco. Amanhã cedo, antes de ir para o trabalho vou escreve para Renato. E, assim ele fez:
Rio de Janeiro 19 de julho de 2012 Prezado Renato: Aconteceu ontem um fato que pode modificara minha vida. Encontrei a keila pela primeira vez depois do desenlace. Depois eu conto o resultado deste encontro e a minha reação. Hoje eu queria contar como foi a volta à escola, no ano seguinte a minha formatura. Muitas coisas estavam mudadas. Primeiro apareceu mais uma professora (tia) agora eram três: Tia Sueli, Tia Zilma e Tia Carmem. Dos antigos colegas, três se mudaram e outros três chegaram, passei alguns dias para aprender o nome de todos, colegas e professores. Interessante, dos alunos novos eu logo me agradei de uma Sueli, uma garota de cinco anos. Logo no primeiro dia, ela chegou perto de mim e se identificou disse seu nome e perguntou o meu, logo estávamos conversando como se fossemos velhos amigos e com o passar dos dias fomos nos aproximando cada vez mais quando chegávamos à escola, logo um procurava o outro e passávamos toda a manhã juntos e eu passei a gostar da escola. Logo cedo me aprontava e ficava esperando que a empregada me levasse para a escola. Mas esta felicidade durou pouco.
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No final do ano a família dela teve que se mudar de cidade, levando-a com ela a minha felicidade. Contei a minha aventura para a minha mãe e, pela primeira vez, tomou o meu partido e foi para a escola para se informar sobre o paradeiro de Sueli. Para minha infelicidade ela havia se mudado para outro estado. Como o amigo pode observar, não tenho muita sorte com o amor, Atenciosamente
Roberto Cleiton Sales
Naquele dia, fiquei abatido. Só desci para o almoço quando meu pai chegou. Roberto passou o dia pensativo. Será que ela era igual à Keila, ela poderia ter conversado eu iria entender. Mas não, foi embora sem se despedir. Três dias depois, a empregada trouxe as correspondências. Havia uma carta de Renato:
Rio de Janeiro, 21 de julho de 2012. Prezado Roberto Cada vez que você escreve e fico conhecendo um pouco de sua vida, lhe dou razão por ser uma pessoa deprimida. A perda do seu primeiro amor está refletindo no momento atual, notei pela amargura que você demonstrou quando comparou Keila a Sueli. Mas amigo elas não são iguais, Sueli não tomou a decisão: você sabe quando somos pe-
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quenos, os pais são quem decidem. Sem combinar ou mesmo avisar. O certo é que vocês viveram um grande amor. Pena que durou tão pouco. Espero que você tenha em Sueli uma boa lembrança. O primeiro amor não se esquece, deve ser sempre lembrado, como você fez na carta que me escreveu. Bem vou encerrar desejando um bom fim de semana. Atenciosamente
José Renato Alves dos Santos
A carta de Renato deixou-o mais animado. Se alimentou bem, assistiu a um bom filme, leve, não queria se impressionar como no último filme que assistiu. A tarde convidou a mãe para ir ao teatro, depois de muito insistir ela concordou. Assistiram a peça de Nelson Rodrigues, A Dama de Lotação, era impressionante como tudo na peça lembrava Keila. Em um detalhe diferenciava a Dama de Keila: a Dama do drama tinha mais personalidade, apesar da profissão que exercia, ela não faria o que a Keila fez. Mesmo assim ele conseguiu dormir. Dormiu bem. De manhã, - era sábado - sua o convidou para ir ao mercado e ele concordou. A tarde resolveu escrever para Renato Só colocaria a carta na segunda, mas precisava contar para ele sobre a peça e pedir sua opinião sobre a opinião que tivera da dama do drama e Keila.
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Rio de Janeiro 27 de julho de 2012 Prezado amigo Renato Eu ia de dar uma folga dos meus lamentos. Mas ontem eu fui ao teatro com minha mãe para assistir A Dama de Lotação e meus pensamentos voltaram para a Keila, não que eu queira fazer comparações, mas eram quase iguais no comportamento, sei que devo esquecer a Keila, mas é quase impossível. Hoje eu quero conversar um pouco sobre os acontecimentos que marcaram a 6ª e 7ª séries, onde cursei as duas séries. Nesse período, quase nada aconteceu a não ser a minha liberdade da empregada, meus pais consentiram que o motorista me levasse para a escola e no final na aula me levasse para casa. Porém na 7ª série eu quase perdi esta conquista. Foi num dia de terça feira, dois dos meus professores faltaram e a direção perguntou quem queria para casa. Todos responderam que sim, inclusive eu. Tomei o ônibus e fui para casa. A Tarde, quando o motorista foi me buscar, a diretora explicou o motivo de eu não está mais e a opção que ela ofereceu. Minha mãe não gostou, telefonoume e disse que eu iria mudar de colégio. Foi preciso muito pedido e assumir o compromisso de não repetir o que eu fiz. O ano terminou sem mais novidades. Como sempre passei por média, sai de férias em seguida. Neste ano meus pais revolveram que passaríamos as férias no Brasil e fomos para o Sul do país, não foi grande coisas já que o frio não nos deixou espaço para passeios. Bem, vou encerra desejando um bom final de semana. Atenciosamente
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Desejei um fim de semana para o Renato, mas o meu foi péssimo. Primeiro senti a falta de meu pai. Não sei ainda o motivo da separação nem estou com vontade de perguntar. Vou deixar baixar a poeira e depois a minha mãe vai explicar o porquê do fim de um casamento de tantos anos, com tanto amor e compreensão e, de repente, cada um para o seu lado, como se nunca tivessem conhecidos. Hoje não é o dia, vou convidá-la para almoçar num restaurante muito bom que fica na Tijuca. Trocaram de roupa e foram, quando iam entrando no restaurante Roberto viu um carro idêntico ao do pai, parecia que ele ia para o mesmo restaurante, não disse nada a mãe, procurou um lugar lá no fundo do restaurante e sentaram-se. Mas ela era mais esperta do que ele. Assim que se sentaram, ela falou foi teu pai não foi? Foi. Ela mesma foi quem deu a resposta. Ainda bem que ele está só - Pensei. Mas aconteceu uma coisa desagradável, sentada no fundo do restaurante estava a sua antiga namorada. Sem que a sua mãe visse, ele pegou na sua mão e disse: vamos para outro restaurante. Foi Keila, não foi? Sim mãe. Como eu não quero me aborrecer nem aborrecer a senhora preferir sair. Só que a mãe dele não viu o marido. O pai à noite telefonou para ele: - Alo Roberto, O que aconteceu? Eu vi vocês entrarem no restaurante enquanto eu fui procurar um local para estacionar, vocês desapareceram. - Olhe pai o senhor pode não ter sentimento, mas minha mãe tem. Como é que o Senhor fez aquele papelão, saiu de casa sem nenhum, motivo e quer que minha mãe ocupe o mesmo lugar que o senhor num restaurante? Não pai, eu jamais permitirei que ela passe tamanha humilhação. - Filho você não está entendendo não queria que ela viesse para minha mesa, quero que vocês tenham uma vida normal. Mas se você acha que ela não deve se encontrar comigo eu aceito, mas um dia vai acontecer. Este telefonema fez um grande mal a Renato. Quase não dormiu. A voz do pai ecoava nos seus ouvidos: um dia vai acontecer. Renato achava que estava na hora de pedir uma explicação aos dois. Como um casal, que vivia tão feliz e quando mesmo se espera
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cada um para o seu lado? De manhã, enquanto estava tomado café, Roberto perguntou a sua mãe: -Veja eu namorei a Keila durante quase seis anos, quando eu estava me preparando para casar, havíamos concluídos nossos cursos superiores, tínhamos comprado um apartamento, mobiliado, com tudo para certo, ela simplesmente me disse que gostava muito de mim, mas não me amava, queria acabar e continuamos como amigos. Não aceitei como à senhora sabe. E o que aconteceu com você e meu pai? - Só quem pode dar esta resposta é o seu pai. - O que foi que ele disse quando foi embora? Nada. Pela manhã do dia que ele foi embora, veio tomar café, como sempre fazia e simplesmente, disse que ia embora. Levava uma maleta com algumas roupas e disse que depois mandava pegar o resto. Não. Não disse nada, afinal quem saiu de casa foi ele e espero que não volte nunca mais. - Mãe, neste ponto somos iguais. Mas será que ele tem alguma amante? A senhora desconfia de alguém? - Não. Ele nunca demonstrou ter uma amante ele não teria tempo de se encontrar com amantes, ele sai comigo às 8h e voltamos às 20h, sempre estou com ele. O que ele tem é um gênio muito forte. Deve ter tido algum aborrecimento que eu não saiba e saiu de casa. Esta conversa deixou Roberto mais confuso. A manhã passou rápido, à tarde foi ao banco fazer alguns pagamentos e a noite sentiu vontade de escrever para Renato.
Rio de Janeiro 01 de agosto de 2012 Caro Renato; Hoje eu tive uma conversa séria com a minha mãe. Tive de aguentar sua revolta e sua decepção com a atitude do meu pai. Sei que ele tem um gênio muito forte, desse tipo de gente que não muda de opinião.
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Por isso eu acho que não haverá reconciliação. Lembro-me que estudava a 8ª série do Colégio Pedro II, um dos melhores do Rio possuía uma disciplina que fazia inveja aos colégios militares. Um dia meu pai dispensou o motorista que estava com a mãe doente e foi me levar no colégio, o trânsito estava muito agitado e quando chegamos à escola já passava 3 minutos do prazo determinado pelo colégio. Meu pai entrou comigo e argumentou com o diretor e ele não cedeu e eu não entre nem neste dia nem nos outros. Na mesma hora meu pai pediu a transferência e matriculou-me em outro educandário. Por uma parte eu achei ótimo eu não gostava do colégio nem dos colegas. No novo colégio Cristo Redentor me senti melhor, era mais perto de casa e muitas vezes fui para casa a pé. Foi lá que tive o primeiro contato com Keila. Éramos da mesma turma e quando cheguei sentei-me perto dela e ela me ofereceu o caderno com as matérias que lês já tinham visto. Interessante do mesmo ano, e os assuntos eram diferentes. Assim, Keila foi de grande utilidade nos meus primeiros dias de aula. Como já estávamos no 4º período, ela convidou-me para ir estudar em sua casa. Depois de muitas recomendações de minha mãe, fui à sua casa. Passamos a estudar sempre juntos e assim foi fácil alcançar a média e passar de ano. Eu quis que você conhecesse o inicio de minha amizade com ela, que transformou totalmente a minha vida. Desejo-te uma boa semana Atenciosamente
Roberto Cleiton Sales
Confesso que depois que escrevi a carta fiquei com medo de enviar, será que Roberto vai entender? Enviou a carta, enquanto isto iria por conta própria descobrir o motivo da saída do seu pai de casa. O interessante é que o pai saiu de casa, mas até agora passados mais de 30 dias, não se falou em divórcio, Será que eles ainda vão se reconciliar-se?
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Renato foi dormir, no dia seguinte, como prometera a sua mãe, foi trabalhar, entrou na sua sala, e como sempre fazia, começou a estudar os documentos e colocar as correspondências em dia. Logo em seguida recebeu um chamado do chefe, seu pai. Cumprimentou, pediu a benção e como sempre fazia, ficou esperando. - Bem Roberto, Deus te abençoe. Espero que, o que está havendo entre eu e sua mãe não afete nossa amizade, sou e continuarei sendo o seu pai. E como você vai ser o chefe da casa, estou lhe dando um aumento para suprir as necessidades suas e de sua mãe. - Por falar em mãe, eu gostaria... (não terminou a frase). - Filho o problema entre nós, será resolvido por nós no tempo certo. - Está bem. Com licença, vou colocar em dia a correspondência. - Almoçamos juntos? Perguntou o pai. - Amanhã. Hoje eu prometi a minha mãe que iria para casa almoçar com ela. A noite, Roberto foi deitar-se cedo. Precisava pensar. O trabalho continuou com uma rotina. Dois dias depois recebeu uma carta de Renato:
Rio de Janeiro 09 de agosto de 2012 Prezado Amigo Roberto Gostei das notícias de sua carta. Achei interessante como vocês foram atraídos pelo destino. Não sei como vocês começaram a namorar o certo é que o namoro de vocês teve início no teu primeiro dia de aula. Outra coisa que gostei foi o respeito que vocês têm um pelo outro e vou torcer para que haja a reconciliação, mesmo assim respeito o teu modo de pensar, pois tem um gênio muito forte ele deve ser respeitado. Fiquei também muito feliz, pelo aumento quer vás receber.
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Quanto aos teus pais, aceite um conselho, deixe os dois se resolverem. Eles são adultos e conhecem a vida melhor, se conhecem há muitos anos. Espero que o vento que tantas vezes soprou contra, agora volte a soprar a teu favor. Atenciosamente
José Renato Alves dos Santos
Fiquei meio confuso será que agi certo ao contar a Renato, sobre Keila? O certo é que não houve namoro nos primeiros momentos, mas ficamos bem agradáveis um com o outro, principalmente no período de avaliação que ia para casa dela e ficava a tarde toda estudando e graças a estas horas de estudos foi que eu passei direto, indo para o Ensino Médio. Só não foi melhor porque tivermos que nos separar. Ela queria área de saúde e eu decidi, por força do trabalho seguir a área técnica, um dia eu teria que substituir o meu pai e também porque eu gostava. Resolvi que Renato deveria saber como eu fiz o Ensino Médio e de como eu me preparei para o vestibular.
Rio de Janeiro 15 de agosto de 2012 Caro Renato Terminei o ensino fundamental graças aos estudos com Keila. No último dia de aula, Carlos um colega que os tinham um chácara, convidou muitos que iriam mudar de colégio para um encontro. Como havia muitos alunos que mudaria de colégio, este encontro serviu também como despedida. A festa foi muito boa eu estava sempre junto a Keila que me deu toda atenção até quer Marcelo, seu paquera apareceu, notei que ela
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mudou e passou e lhes dar mais atenção. Como eu sentir que estava sobrando, telefonei para casa e o motorista veio me buscar, como na o conhecia os familiares de Carlos, despedi-me dele, lamentou eu ter de ir tão cedo, mas ele aceitou as minhas desculpas. No outro dia Keila tentou telefonar por quatro ou cinco vezes, mas eu não atendi – eu pretendia pedi-la em namoro durante a festa Bem Renato, todas as vezes que eu começo a relembrar esse meu passado, fico depressivo, por isso vou encerrar, desejando-te um bom final de semana. Atenciosamente
Roberto Cleiton Sales
Passei o resto do dia triste, pensando em Keila que conheci na escola e na Keila que me traiu na festa quando acenou com a possibilidade de namorar comigo e passou a paquerar o Marcelo, em minha frente. Hoje vejo que ela não mudou. Traiu-me da mesma maneira da primeira vez, mesmo estando com o casamento marcado. Uma semana passou sem Roberto escrever. Recebeu a resposta de sua última carta. Não leu no mesmo momento, esperou chegar à noite para ler com calma. Foi ao trabalho teve uma reunião com o pai sobre a exportação de mercadorias para a Argentina, seu mais novo cliente. Os negócios estavam caminhando muito bem estimava um aumento de mais de 30% relação ao ano anterior. Só quem não estava bem era Roberto, que continuava sem grande motivação para viver. Sua sorte era Renato com quem podia dialogar através da correspondência, no qual aproveitava para desabafar suas mágoas. Seu pai pouco lhe falava e quando chegava em casa encontrava sua mãe triste e sem ânimo. A noite leu a carta.
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Rio de janeiro 21 de agosto de 2012 Amigo Roberto. Li sua carta e tive a sensação que as coisas começam a melhorar. Ainda acho que seu erro foi e é não lutar pelo amor de Keila. Não se perde um amor sem luta. Mas a decisão foi sua, outro erro foi você ter saído cedo da festa. Abriu caminho para o adversário. E perdeu. A sua mudança de colégio contribuiu muito para a separação. Amigo Roberto eu tenho acompanhado sua vida, praticamente desde o seu nascimento, cada vez mais tenho certeza que seu atual comportamento foi determinado pela sua criação; toda criança precisa de outras crianças para brincar, correr, jogar bola e você não teve nada disso, cresceu com adulto, ou melhor, cresceu adulto. Só espero que este coração de criança ainda exista em você e que volte e florir para você viver e despertar esta criança que existe em você. Atenciosamente
José Renato Alves dos Santos A carta de Renato me fez passar por um momento de reflexão, e lembrei-me que ao contrário de minha mãe, meu pai sempre tratou-me com indiferença. Nunca me fez qualquer tipo de carinho. A princípio achei que era machismo, com o correr dos tempos comecei a notar que ele não se interessava muito com a minha vida ou pelo meu crescimento. Só houve um momento que ele se apresentou como pai, foi naquele episódio quando cheguei atrasado ao colégio e ele tomou aquela atitude. Quando formei-me foi minha mãe que me acompanhou em todas as festividades: missa, baile de formatura – dançou comigo a valsa – e a própria formatura ele participou do jantar que a família ofereceu aos amigos – deles – e aos familiares.
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No início do ano, ele convidou-me para trabalhar com ele, foi talvez a mais nobre atitude por ele tomada.Vou tentar esquecer, até porque hoje amanheci alegre. Assistir na noite anterior, a um filme que retrata bem a minha vida e que teve um final feliz. Vou escrever para Renato.
Rio de janeiro 26 de agosto de 2012 Prezado Renato Amanheci muito alegre hoje e como você é hoje, a única pessoa que com quem eu posso me comunicar, para relatar minha alegria, tristeza e preocupações, resolvi escrever. Ontem assistir a um filme que retrata a minha vida de hoje, vazia e sem nenhuma esperança para um futuro. O filme conta a história de um jovem que tinha de tudo, riqueza, muita riqueza e o amor dos pais, eu disse dos pais. Numa das viagens que os pais fizeram seu avião perdeu-se. Deixou de enviar qualquer mensagem. Simplesmente desapareceu ele, agora, milionário, muito milionário e pobre muito pobre de conhecimento, justamente porque os pais não permitiam que ele trabalhasse. De repente, o rico ficou sem saber o que fazer com tanto dinheiro. E ele teve uma idéia, colocou vários diretores e gerentes para administrar as empresas e foi ser um empregado, onde exerceu todas as funções da empresa a começar pela mais humilde até gerenciar uma e, quando sentiu-se pronto, convocou uma reunião para assumir a presidência das empresas. No dia e na hora marcada todos estavam lá, inclusive seus pais que haviam tomado a atitude de “sumir” por um ano para saber se o filho tinha condições de gerir a empresa. O filme terminou com um abraço dos pais com o filho, e aproveitaram para comunicar a todos que realmente era o filho que iria presidir o grupo empresarial. O filme fez-me tomar uma decisão: vou me interessar mais pelos serviços da empresa, vou aprender tudo o que for necessário. Talvez
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meu pai comece a me reconhecer como filho. Amigo, cansei. Vou encerrar. Atenciosamente
Roberto Cleiton Sales
Logo cedo, tomou banho, café e trocou de roupa e saiu muito animado com a proposta que fizera para si: trabalhar e aprender. No primeiro dia visitou a parte das máquinas fazendo perguntas sobre produção e produtividade. À tarde comprou um caderno e passou a fazer anotações descobriu que uma máquina trabalhava com ociosidade. Ela tinha duas funções e estava exercendo apenas uma: ela produzia e embalava e estava fazendo apenas uma – produzia –. Fez um memorando e entregou ao gerente daquele departamento, enviando uma cópia para o diretor, seu pai. Á tarde seu pai chamou-o em seu gabinete. -Recebi o seu memorando muito obrigado pela descoberta. Sua descoberta dará um lucro adicional de 7% à empresa. Se você quiser pode continuar com suas pesquisas, tem toda a liberdade, até porque você é o nosso único herdeiro. Confesso que a partir desse dia comecei a gostar um pouco do meu pai, apesar do seu tratamento continuar seco e sem amor. Quando Roberto chegou em casa deu um beijo na mãe e contou a novidade. Ela aproveitou a oportunidade para dizer que não estava se agradando da aproximação dele com o pai, disse também que havia chegado outra carta de Renato. Mais uma vez ela perguntou: - Filho quando você vai me apresentar o Renato? Porque você não trás ele para conversar aqui em casa assim você me apresenta e ... - Calma mãe, um dia eu lhe contarei a história de Renato, e vai entender porque ele não telefona, nem vem aqui. Com licença vou ler a carta. Quando o jantar estiver pronto mande me chamar. Hoje estou com muita fome.
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Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2012 Caro Roberto Primeiro deve dizer que de todas as cartas, a última foi a mais otimista que você escreveu. Dar para notar que você quer realmente sair da crise. A história do filme que você conta retrata a vida de muitos jovens ricos que não se preocupam em assumir responsabilidade, e pensam que a vida dos pais é eterna e quando ocorre uma tragédia, ficam rumo. No caso do jovem do filme ele tomou uma atitude sensata. Espero que você siga o exemplo desse jovem: não saber, não é defeito. A virtude está em reconhecer o não saber e procurar aprender. Caro Roberto, eu acho que está na hora de você se empenhar mais no trabalho e namorar. Não é uma desilusão que leva uma pessoa a abandonar-se e não querer outro relacionamento. O que passou, passou. Vida nova, amor novo. Espero que você não fique magoado. Eu só estou querendo o seu bem. Quem sabe, um amor novo vai despertá-lo para a vida, ser o Roberto que todos gostariam de te ter como amigo. Atenciosamente
José Renato Alves dos Santos
Achei muito importante o que Renato escreveu. Parece que leu o meu pensamento. Mas ficou uma dúvida: acho muito cedo para namorar, arriscando ter outra decepção. Por enquanto minha namorada é o meu trabalho e a minha querida amante é minha mãe. Perto das oito horas, minha mãe veio chama-me para o jantar. Na sala de jantar há um televisor, que está sempre ligado. Minha mãe não perde uma novela, principalmente depois que deixou de trabalhar na empresa, tornando-se uma dona de casa, hoje ela não perde uma novela, enquanto eu prefiro os noticiários. Neste dia uma notícia chamou-me atenção, o
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Dólar, estava caindo de cotação, num só dia houve uma queda de 6%, com possibilidade da retração chegar a 30% em pouco dias, segundo os economistas. Olhando a contabilidade da empresa ele descobriu, que segundo o último balanço, havia uma disponibilidade no caixa de 20 milhões de reais praticamente parados. Ele teve uma ideia, depois conversaria com o pai. Esperou mais uns dias com o Dólar alcançado a sua menor cotação, pegou parte das disponibilidades e comprou sete milhões de dólares, antes conversei e convenci o meu pai e ele concordou. Pediu a um funcionário, de carreira, de sua filial em São Paulo, para ficar de plantão da Bolsa de Valores. O Dólar chegou à boa notícia, o Dólar começou a reagir, graças a uma intervenção do Banco Central dos Estados Unidos, chegando, em quinze dias a cotação normal. Assim, Roberto transformou os sete milhões em nove milhões e seiscentos mil reais. Desta vez, o elogio não foi apenas verbal, seu pai deu-lhe um abraço. Pela primeira vez ele o abraçou. Assim ele foi ganhando a confiança do pai e no final do mês, comunicou que havia colocado no banco quinhentos mil cruzeiros, segundo ele a comissão dos negócios realizados, Renato a muito não sentia esse pouco de felicidade que estava tomado neste momento. Mesmo assim a “coisa” não saia dos seus pensamentos: - Como é que um casamento tão duradouro, mais de 26 anos, tenha acabado de uma maneia tão triste e sem propósito? Acordou cedo. Tomou banho e antes de ir para a empresa, escreveu para Renato:
Rio de janeiro 05 de setembro de 2012 Prezado amigo Renato Espero que tenhas passado um bom fim de semana. As coisas começam a mudar, os bons ventos começam a soprar. Esta semana minha mãe esquecendo tudo que gira em torno de sua vida, mandou a
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empregada preparar um jantar, dizendo que estava comemorando uma data inesquecível, não sei que data foi esta: convidou nossos parentes mais chegados, vieram suas duas irmãs acompanhadas dos maridos e dos filhos, mesmo sabendo que seria a resposta. Por conta própria, convidei o meu pai, como era de se esperar ele deu-me uma desculpa evasiva, disse que já tinha assumido outro compromisso, para o mesmo horário agradeceu e disse que ficaria para outra ocasião. Será que o meu tem um caso? Mas eu tive uma surpresa, perto das dez horas quando era servido o jantar, telefonou-me agradecendo mais uma vez o convite e que ficou muito alegre, por que apesar de tudo, minha mãe (ele não disse o nome dela) não esqueceu aquela data, mesmo assim insisti: quer falar com ela? Ele simplesmente desligou. Com isso minha esperança de reconciliação desapareceu totalmente. Depois do jantar as visitas foram embora e ficamos sozinhos, eu e minha mãe. Contei o ocorrido e ela sem se tocar disse apenas: um dia ele me dará razão. Foi mais um motivo para me preocupar. Que mistério é esse Bem Renato, vou encerrar. A noite vou me concentrar e tentar descobrir o que realmente aconteceu entre meus pais Atenciosamente
Roberto Cleiton Sales
Preparei-me para ir ao trabalho, mas antes perguntei a minha mãe sobre a atitude do meu pai de não querer falar com ela nem por telefone, e o pior, eu disse a ela que ele desligou o telefone quando fiz a proposta. - Há alguma explicação para este procedimento? Perguntei. -Não sei meu filho. Eu não me lembro de nada que possa ter deixado seu pai com tanta raiva. - A senhora o traiu? -O que é isso Roberto. Eu vivi todo estes anos de minha vida
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dedicada a vocês dois. Nunca olhei para outra pessoa. Seu pai foi o primeiro e único homem de minha vida - Assim fica difícil, Ele não fala, não aceita diálogo quando se trata de separação e não nos dar a menor oportunidade de entrar no seu mundo. Sem revolveu nada. Muito confuso ele foi para o trabalho; Chegando na empresa, procurou o pai cumprimentou e foi para a sua sala. Não quis tocar no assunto, pelo menos neste dia. Fechou algumas pendências, almoço no restaurante da empresa . Sua atitude de almoçar com os funcionários foi bem recebida por todos um dos funcionários no meio do almoço saúdo-o agradecendo sua companhia. Em retribuição Roberto disse que se soubesse que seria tão bem recebido, já teria vindo antes, mas prometeu que sempre que houvesse oportunidade ele estaria almoçando com eles. Esse almoço salvou o seu dia. Nos negócios fechou mais uns bons negócios. A noite jantou com a mãe não tocou no assunto o que foi bom para ela. Durante o jantar ele comunicou a chegada de mais uma carta do seu “misterioso amigo”. Foi para o quanto e leu a carta
Rio de janeiro, 08 de setembro de 2012 Prezado Roberto Tenho acompanhado a sua vida desde a sua infância, e não encontrei nesse percurso nenhuma margem de felicidade. Houve um momento de felicidade, quando seu pai lhe transferiu para outro colégio, houve outro momento que não é bom lembrar, seu namoro com Keila, o resto foi passagem nenhuma alegria, nenhum motivo para viver – você não jogou bola, não fez farras, não foi as baladas nada – Eu disse numa das cartas que você deveria namorar, esquecer o passado e viver o presente. Você é a pessoa mais importante que existe, mas tem uma coisa para concretizar esta felicidade você tem que tomar uma decisão tem que marcar uma reunião com os pais e cada uma abrir o jogo.
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Nada de rodeio, conversa franca, sem mentira, sem rodeios. Para o seu bem. Você tem todo o direito de ficar com raiva de mim, mas eu não aguento ver este sofrimento, um rapaz rico, simpático e que tem tudo para viver feliz, viver em tamanha solidão. Mais uma vez insisto que deves arrumar uma namorada e após um pequeno tempo para se conhecerem devem casar-se, Você esta chegando a “idade da razão” e precisa de uma companhia sincera e que te faça feliz. Interessante, eu passei a conhecer tua vida desde que nascestes, o que me passaste durante este período foi uma autêntica autobiografia, porém nunca falastes de tua formatura . Será que aconteceu algo que não queres que eu saiba? Atenciosamente
José Renato Alves dos Santos
Não sei por que Renato quer que eu relembre a aminha formatura. Foi, talvez, um dos dias mais triste da minha vida. Foi na formatura que comecei a perder Keila e foi também neste dia que o relacionamento dos meus pais começou a desmoronar. Sei que as suas intenções são boas, talvez sabendo do ocorrido possa me dar conselhos. Uma coisa eu sei, ele vive me provocando, para eu mudar de comportamento, arrumar novos amigos, namorar, enfim, ter uma vida normal. Sei que ele tem razão, mas eu não consigo emplacar com ninguém e os amigos são os colegas da empresa, que eu comecei a me entrosar, só não sei se eles querem ser meus amigos, há sempre o desnível cultural e financeiro. Voltando à formatura, lembrei-me de uma colega que na final da festa vendo-me triste, falou-me com muito carinho: - Roberto, não quero intervir na sua vida particular, mas está visível a sua tristeza. Não diga nada, porém se você uma dia, quiser conversar, aqui está o número do meu telefone, ligue a qualquer hora.
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Quando lembrei-me deste fato, procurei na carteira o telefone e lá estava: 21467890-Laura. Telefonei e ela atendeu. - Eu tinha certeza que você telefonaria para mim. Hoje acordei com este agradável pressentimento. Enchi-me de coragem e perguntei: - Telefonei para saber se você queria sair, tomar um sorvete, ir ao um cinema, quem sabe. -Claro que eu quero sair com você. Disse ela. -Posso passar aí às quatro horas. Ah! Ia me esquecendo, onde você mora? - Eu moro na Rua Oliva Maia, 32, em Madureira. - Legal, te pegarei as quatro. Começava uma nova história de amor vivida por Roberto. Finalmente a vida de Roberto tomou um novo rumo, diariamente, quando saia da empresa ia para casa de Laura, não media distância, e assim passaram-se mais de quinze dias foi quando ele lembrou-se de Roberto, não havia escrito para ele durante todos estes dias. - Precisava escrever para Roberto, quem sabe sua última carta.
Rio de Janeiro 30 de setembro de 2012 Prezado Renato Ouvi seus conselhos, estou namorando, o nome dela é Laura, é uma criatura maravilhosa, foi este o motivo que me levou a passar mais de quinze sem escrever, peço desculpas. Renato, foi o que o povo chama de amor a primeira vista, nunca que uma pessoa pudesse transformar a vida de outra, como a Laura fez, transformando-me em outra pessoa. Eu realmente estou apaixonado, nós a amamos, eu e minha mãe. Para completar a minha felicidade falta apenas resolver o problema entre meu pai e minha mãe e isto o farei nestes dias. Agora quero aproveitar a oportunidade para te agradecer por ter me ouvido, por me ter ouvido e por ter sido meu confidente além de
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ter sido meu verdadeiro amigo. Muito obrigado por tudo não sei se sem a sua companhia eu teria sobrevivido. Hoje sou outra pessoa, amo minha mãe, amo Laura e o mais importante, amo a vida. Adeus
Roberto Cleiton Sales
Dois dias depois, Roberto convocou uma reunião, pai, mãe e ele. Todos sabiam do assunto a ser tratado. Aproveitou para anunciar que ficaria noivo e que se casariam logo. A noite houve a tão desejada reunião. - Eu quero saber o que realmente aconteceu com vocês, devo dizer que não aceito arrogância, mentira ou qualquer subterfúgio. Eu quero saber realmente o que aconteceu? - Eu começo, disse o pai. No dia 16 de novembro, quando cheguei em casa, vi sua mãe telefonando para uma amiga e ficou bem claro quando ela disse. O Roberto não é seu filho. Fiquei tão transtornado que dei meia volta e fui embora. - Você ficou doido? O que eu estava dizendo no telefone para a minha amiga foi sobre o Roberto de um livro que estávamos lendo eu e Cristina,e comumente nós vínhamos comentando o desenrolar do livro todos as tardes. Está vendo pai o Sr. precipitou-se. Peça desculpa a mamãe volte para casa e sejam felizes. -Ainda não meu filho. Você disse que queria jogo limpo, diante mão peço perdão. - Dias depois daquele telefonema, eu encontrei com a Keila na saída da empresa, parecia que estava me esperando. Com muita raiva de sua mãe e de você, por não ser o meu filho, convidei-a para jantar, e até a sexta feira, quando ela me abandonou, ela foi minha amante.
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Sr. Henrique era um homem que sabia demais. Conhecia a vida de quase todos os habitantes da pequena cidade. Só não conhecia a sua. Desconhecia qualquer fato relacionado com ele ou sua família. Não sabia seu verdadeiro nome, o nome dos pais, onde nascera, nada. Não sabia sequer o seu nome, pois não tinha nenhum documento. Sabe-se que apareceu na cidade e alguém o chamou de Henrique, ele gostou. Por ser já meio idoso, com respeito à idade, passaram a chamá-lo de Sr. Henrique. Não sabia de onde veio nem quando fez a sua última barba ou quando cortou o cabelo pela última vez, só havia uma coisa que ele não dispensava: o banho. Diariamente ele ia até a cachoeira, distante uns dois quilômetros do centro da cidade. Tomava banho e lavava a pouca roupa que tinha. A princípio dormia na praça e as pessoas generosas lhes davam comida. Um dia, o vigário da paróquia o viu dormindo praça e que chovia. Com pena abriu a igreja e colocou-o para dormir. Antes foi em casa. Trouxe lençóis, colchão e travesseiro. No domingo, na hora da missa, ele falou aos fiéis que encontrou o Sr. Henrique todo molhado e o colocou para dormir na igreja, também pediu permissão para que ele continuasse dormindo na Igreja. Todos concordaram, menos um Dr. Natanael, advogado da cidade. Ele disse que não poderia dar abrigo a uma pessoa que não se conhece. Será uma
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pessoa honesta? Ou será um foragido da justiça, que está se fazendo de tolo, para dar um grande golpe? Insistiu Dr. Natanael dizendo: - “Eu não concordo. Acho que devíamos procurar descobrir quem é este cidadão que se faz passar por bonzinho e espera somente a oportunidade para agir”. O padre foi contundente - “Deus não escolhe seus amigos. Sua casa está sempre aberta para todos, principalmente para aqueles que mais precisam o Sr. Henrique hoje está precisando e é a hora Dele abrigá-lo na sua casa. E ele ficará conosco porque assim Deus quer”. - “Neste caso, eu vou embora. Só volto a freqüentar a Igreja, quando não servir de abrigo para desconhecidos”. Disse o Sr. Natanael. Dizendo isto, Dr. Natanael, grande benemérito da Igreja saiu. O padre não se abateu e continuou a missa. Durante a homilia ele foi eloquente; falou da opção de Deus pelos pobres e contou que estava dormindo quando foi acordado com uma voz que pedia – vai até a praça... Você precisa ir até praça, nisto ele acordou. Vestiu a roupa e foi à praça. Chegando lá encontro o Sr. Henrique encharcado de água. E, num impulso, movido por forças superiores, eu abri a Igreja e pedir que o Sr. Henrique entrasse. O resto vocês sabem. Mas acreditem foi Deus que me enviou para socorrer o Sr. Henrique e pela sua bondade, ele ficará aqui até quando ele desejar. Terminada a missa o Sr. Henrique voltou para a praça, antes tomou café com o vigário. Neste dia, não foi tomar banho. Apenas sentou-se no banco da praça e passou a ver o tempo passar. Sentado no banco de sua preferência, chegaram várias pessoas, vieram prestar solidariedade e ao mesmo tempo oferecer ajuda. Um a um foi saindo, ficando apenas um casal que queria conversar sobre sua filha. Segundo eles a filha estava passando por uma crise existencial, a chamada adolescência. Sr Henrique perguntou ao casal: - “E vocês como a estão tratando”? - “Como todos os pais, tentamos corrigir o que achamos o que está errado”. - “Será que o que é errado para vocês não é o certo para ela”?
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“Vejam, façam o seguinte, durante esta semana não façam nenhuma reclamação, não digam nada que venha entristecê-la”. No outro domingo, após a missa, o casal o procurou. - “Sr. Henrique, vimos agradecer, é que a partir do terceiro dia ela mudou de comportamento, hoje, voltamos a ser uma família que estamos vivendo em harmonia. Continue como estão vendo, não foi ela quem mudou, quem mudou foram vocês. Era esse comportamento que fazia os habitantes da pequena cidade, o adotou com carinho. Todos, menos o Dr. Natanael que deixou de passar pela praça para não ver o Sr Henrique e como havia prometido, deixou de ir à missa. “E, quem é esse Sr. Henrique?” Se perguntava alguns. O que se sabe é que ele apareceu. Simplesmente apareceu. Não tinha documentos não sabia o seu nome, nem sabia se tinha família, como se diz, ele veio do nada, mas possuía o dom da bondade. A partir daí, surgiram vários casos. Um dia ele foi procurado por uma senhora, quarenta anos, casada, com o casamento em crise. Eles brigavam constantemente. Nisto, o Sr. Henrique, havia recebido seis limões, depois de ouvir toda a história, deu três a ela e a aconselhou: - “Veja, quando ele começar a falar, a senhora coloque um limão na boca e só retire quando ele parar de falar”. E assim ela fez. Passados três dias, ela voltou para agradecer. Estavam em paz. Já não discutiam e ela perguntou: - Sr. Henrique, por que o limão? É porque ele é ácido? - “Não”. Disse a ela. “É que o limão serviu para a senhora não falar quando ele discutia e assim, não alimentava a discussão”. Em toda a pequena cidade, havia muita gente curiosa que perguntava a história daquele bondoso homem. Entre os que desejavam conhecer a origem do Sr. Henrique havia um que não esquecia a humilhação sofrida na Igreja, quando foi praticamente expulso do templo e ele queria desmascará-lo. - “Quem sabe não é um foragido e está se escondendo na cidade. Ele vai pagar muito caro. Veja, ele não faz cabelo nem barba, isto deve ser para não ser reconhecido e burlar a justiça. Ele vai pagar, nem que seja a última coisa que farei na vida”.
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O interessante dos jovens para dialogar com ele era interessante. Eles o procuravam para se aconselhar, principalmente relacionado a namoro, sexo e drogas. E quando começavam as paqueras, a procura aumentava: - “Sr. Henrique estou querendo namorar, Maria do Carmo. O Sr. a conhece”? - “Não sei meu jovem, sou procurado por muitos de vocês. Como a minha memória, não lembro muito dos nomes. Mas você disse que estava querendo namorar a Maria do Carmo. Diga-me uma coisa, você estuda? Como vão suas notas? Você com a idade que tem, se estudar, se tem boas notas e se obedece aos seus pais, tenho certeza que Maria do Carmo vai querer namorar com você. No outro dia, foi a vez de Maria do Carmo aparecer para agradecer. Mas antes dela sair, ele a aconselhou e a alertou. “Não pode esquecer os estudos, nada de muita intimidade, sexo nem pensar e nada com envolvimento com drogas”. Houve um caso que ele teve dificuldade de resolver. Estava na Semana Santa. Os pais de um jovem procurou o Sr. Henrique. Eles estavam apavorados e contaram o que estava ocorrendo. - “Nosso filho está se envolvendo com drogas”. Sr Henrique perguntou aos pais se eles confiavam nele. - “Claro por isso o procuramos”. Disseram os pais. - “Pois traga o jovem, com algumas roupas, ele vai morar comigo por uns dias”. - “Como se o Sr. Não tem casa” ? Indagaram os pais. - “Os senhores querem casa mais confortável que a praça? Não se preocupem, ele dormirá comigo na Igreja. Eu falo com o padre e tenho certeza que ele concordará”. A contra gosto, os pais trouxeram um jovem de 17 anos. Educado, foi logo conversando. Meia hora depois, já pareciam velhos amigos. Às doze horas, Sr. Henrique convidou o jovem para almoçar. Assim, o dia foi passando, ele também acompanhava as conversas que os visitantes tinham com o velho. Um chegou a perguntar: - “E você jovem o que faz aqui”? - “Eu sou viciado em maconha e ele está cuidando de mim.” - “Muita coragem sua meu jovem, tenho certeza de que ele o curará”.
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A rotina dos dois levou dez dias. A partir do quinto dia o jovem voltou a frequentar a escola, mas não ia para casa, voltava para a praça. No décimo dia o Sr. Henrique chamou os pais do jovem e o entregou: - “Pronto aqui está o seu novo rapaz, temos certeza, que ele não usará qualquer tipo de droga. Ele está curado”. Depois de agradecer os pais levaram o filho de volta para casa. O fato foi muito comentado, e isto fez aumentar a ira do advogado – “Vou destruí-lo. Nem que seja a última coisa que eu faça na vida”. Um domingo, durante a missa, o padre, falou várias vezes no nome de Deus. Falou mais do que o normal. No final da missa o padre disse ao Sr. Henrique: - “O que é que temos para o café? Eu gostaria de tomar café com você na praça”. - “Padre veja o que o Sr. vai fazer? Já se viu um padre comendo no meio de uma praça”? Disse o sr. Henrique preocupado. - “Filho, Deus foi muito pobre e nas suas caminhadas, evangelizando, não escolhia local para comer. Comia pouco e onde lhe oferecia”. - “Oh padre porque o Sr. fala tanto em Deus? Quem é ele? - “Filho você não conhece Deus”? -“Claro que não padre. Conte-me quem é esse”. Nisso o padre lembrou-se da amnésia dele e mudou de assunto. Depois do café os dois procuraram uma sombra na praça, quando foram abordados por várias crianças que num alvoroço, pediam: - “Sr. Henrique conte uma história para nós”. Ele lembrou-se que não conhecia história para criança e disse: - “Hoje não. Hoje quem vai contar a história é o Sr. Vigário”. O padre compreendeu a atitude do Sr. Henrique e contou uma linda história, que depois foram felizes para casa. Quando as crianças saíram o Sr. Henrique falou para o padre: - “Se não fosse o Sr. eu teria passado a maior vergonha da minha vida”. - “Por que”? Indagou o padre. - “Não viu. Eu não sei contar histórias. Por isto eu quero que o Sr. me ensine algumas histórias, para não acontecer o que aconteceu hoje”. - “Está bem, vamos para a Igreja”. Disse o padre a Henrique.
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Lá o padre ensinou várias histórias para o Sr. Henrique. Depois de ouvi-las atentamente ele falou: - “Por que toda história que o Sr. conta tem a presença de Deus? Ele deve ser muito importante”. - “Filho eu vou contar a História de Deus. Quer ouvir”? - “Claro é o que eu mais quero”. Após mais de duas horas da História sobre Deus, o padre cansou e prometeu ao Sr. Henrique, que o resto no outro domingo. - Padre muito obrigado. Depois de conhecer parte da História Dele, eu chego a seguinte conclusão: - “O Sr. é Deus”. - “Não filho, Eu sou muito pequeno para ser comparado a Deus”. - “Então Sr. vigário se Ele é tudo isto que o Sr. contou Ele é bom mesmo. Da história de Deus o que mais emocionou o Sr. Henrique, foi a parte relacionada a Maria, mãe de Deus. Ele chegou a chorar. Conhecendo a história de Deus, o Sr. Henrique passou a reunir as crianças no final de cada missa para contar a história ao seu modo. Num domingo, o advogado ia passando pela praça quando viu aquele Sr. rodeado por crianças. Nunca teve tanta raiva na vida. “Eu vou desmoralizá-lo. Ele vai me pagar”. Pensava o advogado. Neste dia ele teve uma ideia, pagou a um menino para pegar qualquer objeto do Sr. Henrique. De posse de alguns desses objetos, mandou para um laboratório, na capital para ver se havia algumas impressões digitais. Teve sorte. Havia várias. Pediu várias cópias e enviou para todos os departamentos de identificação do Brasil pedindo informações sobre o possuidor daquelas impressões digitais. No pedido, dizia que a pessoa dizia-se chamar-se Henrique e ele achava que o mesmo era um foragido da justiça que estava se escondendo em sua cidade. Enquanto isto a popularidade do Sr. Henrique aumentava. Ele não fazia mais refeições na praça. O Padre o alojou em sua casa. Fazia companhia ao vigário e para compensar ele fazia a limpeza da Igreja. Aos domingos, enquanto os pais assistiam a missa ele ficava na praça contando história para as crianças. Enquanto isto Dr. Natanael aguardava ansioso a resposta de sua investigação. Neste meio tempo, ocorreu um fato muito importante para a vida do Sr. Henrique. Numa manhã de segunda feira, ele foi procurando
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por uma senhora que queria conversar com ele. Depois de quase uma hora de conversas das mais diversas, ele perguntou: - “A senhora está doente”? - “Não eu não tenho nada, apenas uma dor na parte do corpo que pega o fígado”. - “Eu posso verificar”? Disse Sr. Henrique. - “Sim pode. E ele apalpou a parte indicada pela mulher e lhes disse: - procure um médico ainda hoje se for possível. - “Mas porque, o que é que o Sr. Acha”? - “Eu não sou médico, peço apenas que procure um médico”. Ela saiu um pouco aliviada. Procurou um médico e três dias depois estava operada. Um mês depois, na missa, ela pediu para falar, aproveitando que o Sr. Henrique estava na praça com as crianças. E ela foi logo dizendo; - Hoje estou aqui viva, com saúde e feliz deve tudo ao Sr. Henrique. Há quarenta dias, eu me sentia deprimida, muito triste, estava passando pela praça, quando avistei o Sr. Henrique. Me aproximei e começamos a conversar. Em dado momento, ele disse: “a senhora não está só deprimida, há alguma coisa mais. Está sentido alguma dor? Ai lembrei-me que ultimamente vinha sentindo dores nesta parte que fica o fígado. Ele pediu licença e começou a apalpar o local onde eu sentia dores. Depois de uns quinze minutos ele parou e disse: “Procure hoje um médico. Peça para ele examinar o local onde a senhora está sentindo dores. Lembre-se hoje, pois eu acho que não é coisa boa”. De fato, no mesmo momento procurei o Dr. Roberto que depois de me examinar, pediu uma ultrassonografia e três dias depois estava me operando de um pequeno nódulo maligno, que por sorte estava no começo e estou curada, graças a Deus e ao Sr. Henrique que sentiu minha doença a tempo. Peço licença ao Sr. vigário para juntos fazer uma oração para ele. Ele é um homem de Deus. O padre consentiu e rezaram para que Deus desse a ele a sua recuperação mental. Quando o Dr. Natanael tomou conhecimento muito raivoso, foi falar com o padre. - “Quer dizer, Sr. vigário que o Sr. está hospedando em sua casa um charlatão? Já pensou quando as autoridades tomarem conhecimento”?
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- “Isto jamais acontecerá. O que o Sr. Henrique fez foi pedir que a senhora procurasse um médico. Por favor, o Sr. ainda não está preparado para frequentar a casa de Deus. Saia”. Dr. Natanael saiu com todas as raivas e prometeu. Agora vou processá-lo, ele vai pagar por todas estas humilhações que estou passando. O padre falou com o Sr. Henrique sobre a visita do Dr. Natanael e pediu para ele ficar calmo e não respondesse a qualquer provocação.
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A VINGANÇA
Era uma sexta feira quando os correios entregaram ao Dr. Natanael um envelope, tinha como remetente o DOC – Departamento Policial – que cuida de prisioneiros desaparecidos. Seu primeiro impulso foi de abrir o pacote, mas pensou: Vou deixar para abrir no domingo, antes ou depois da missa na frente de todos. Assim ele fez. Pediu ao padre um espaço para lê um relatório que havia recebido. A contra gosto o padre concedeu. E quando a Igreja está repleta de fies, ele começou relatando as humilhações e as vergonhas que vinha passando por ter ficado contra a permanência do Sr. Henrique entre nossas famílias, conversando sobre lá o que com os nossos filhos. - “Hoje recebi um documento vindo da polícia do Rio de Janeiro, que irá desmascarar este Sr. tão endeusado por vocês. Poderia ter aberto o envelope na sexta feira quando recebi, mas deixei para abrir aqui, na presença de todos para provar a minha idoneidade e não dar margem para alguém dizer que eu falsifiquei alguns dados para prejudicar este cidadão que vem transformando a minha vida a ponto do padre, indiretamente pedir a minha expulsão da minha Igreja, da minha religião. Mas Deus provando que é todo poderoso, deu-me a oportunidade de provar que eu tenho razão. Assim eu vou lê o relatório;
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O DOCUMENTO Do DOC – Rio de Janeiro Para Dr. Natanael Alves Florêncio. Prezado Senhor Depois de analisada e comparada às impressões enviadas por V. SD. Constatamos o seguinte: As impressões digitais pertencem a um revolucionário que lutou pela redemocratização do Brasil, contra o regime militar implantado em 1964. Ele foi preso em setembro de 1970, enviado para os porões das prisões militares foi barbaramente torturado e depois desapareceu. Todos pensaram na época, que havia sido executado e enterrado num desses cemitérios clandestinos, do regime que ele combatia. Portanto, pedimos que o Dr. nos envie mais dados sobre o Sr. Henrique para que possamos reparar, em tempo, os estragos feitos pelos militares, onde tantos lutaram e tantos morreram enfrentando, sem armas o terror do regime militar. DADOS Nome – Dr. Antonio Alves Florêncio Filiação Pai – Manoel Alves Florêncio Mãe Cândida Alves Florêncio Local do Nascimento – Rio de Janeiro Data – 21 de junho de 1946 Profissão – Médico Outros dados – Foi diretor do Hospital Estadual do Rio de Janeiro, quando foi preso, torturado e dado como morto em 1971. O Dr. Natanael, quase não terminou de Ler o último parágrafo, saiu correndo e se abraçando com o Sr. Natanael, pedindo perdão ele gritou: “ELE É O MEU PAI”!
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O perigo está muito mais perto de Você do que você possa imaginar.
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João Carlos Soares era um grande proprietário da maior fazenda de gado que ficava na fronteira dos estados de Goiás e Mato Grosso. Suas terras era no dito popular “a perder de vista”, o gado se espalhava por cerca de um milhão de hectares, abastecida por três grandes rios, que no seu curso formavam várias cachoeiras e quedas d’águas. Na maior delas o fazendeiro mandou construir uma pequena usina hidroelétrica que fornecia energia elétrica para toda a fazenda e alimentava várias bombas na irrigação das plantas. Ele aproveitou a parte plana, mandou construir um campo para pouso de aviões pequenos. João era casado com dona Eulália Maria Soares, tinha seis filhos e treze netos, que eram a alegria da casa. Todos moravam por perto, a fazenda estava apenas a seis quilômetros do centro da cidade. Quatro filhos moravam na cidade, mas passavam os fins de semanas na fazenda, os pais fizeram questão de dar todas as condições para os filhos estudarem e escolherem as suas profissões. As mulheres casaram-se com antigos funcionários da fazenda, eram dois pecuaristas: OS FILHOS Pedro Miguel Soares - Advogado Miguel Alves Soares - Médico Pedro Alves Soares - Comerciante
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Manoel Alves Soares - Comerciante Maria Aparecida Soares - Pecuarista Maria Rita Soares - Professora primária Todo final de ano, na cidade de Goiana, é realizada a Feira Nacional do Gado Zebu, onde se reúne todos os grandes pecuaristas da região, não só para fazer negócios, mas também para apresentar os seus reprodutores e concorrer às premiações. É uma festa que tem a duração de três dias (sexta a domingo). Além da exposição, todas as noites há apresentação de cantores sertanejos. Os principais animais recebem prêmios e medalhas, mas isto é o menos importante, por que os animais premiados tinham seus sêmens altamente valorizado. Neste ano, sempre, três dos premiados pertencia à fazenda Santa Helena de propriedade do Sr. João Carlos. Um dos gados pertencia a Maria Aparecida, filha do Sr. João, ela ficara na fazenda administrando a venda de gado. Assim, quase toda a família estava presente à festa. Neste período também eles aproveitavam para fazer uma visita ao túmulo de sua mãe, dona Creusa Soares da Silva, que havia falecido há três anos. O pai não quis casar-se novamente, os filhos desconfiam que ele tenha uma paquera no povoado de Lagoa Cumprida, perto da fazenda. No domingo à tarde depois de fecharem os grandes negócios, a família se preparava para o concurso e as premiações, quando apareceu um dos empregados da fazenda. - O que aconteceu para você está aqui? - Uma tragédia patrão. Hoje de manhã nem a Dra. Aparecida nem o marido apareceram para nos oferecer o cardápio para os animais. Esperando até às dez horas, fomos a sua casa, lá estavam tudo espalhado, era sangue por todos os lados e acho que eles estavam mortos, eu não sei direito, porque vim correndo lhe avisar. O pai pediu a um dos filhos que fosse até a delegacia e chamasse o delegado. Todos rumaram para a fazenda. Lá chegando, o delegado pediu que ninguém entrasse na casa. O que fez bem porque dentro da casa era sangue por todos os lados. O homem estava no quarto do casal e a esposa na cozinha, perto da porta de saída. De imediato, o delegado mandou interditar toda a área, para não
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apagar possíveis pistas, o delegado também achou que o crime não poderia ter sido praticado por uma só pessoa. Quatro horas depois, chegaram os peritos criminais de Goiana, tinha vindo a pedido do delegado já que o crime teria repercussão nacional. No relatório inicial que o delegado enviou para as autoridades do estado, ele informou alguns detalhes. O crime foi perpetrado com requinte de crueldade, ambos estavam com os corpos perfurados de faca, só a autopsia poderia informar a quantidade com segurança, pois os corpos estavam banhados de sangue: o crime deu-se entre meia noite e duas horas da amanhã. A autopsia confirmava o relatório do delegado, ela tinha 12 perfurações e ele 10. O que chamou atenção foi que a autopsia revelou que eles haviam ingerido uma grande quantidade de álcool e foi encontrado vestígio de uso de cocaína. De imediato, a família pediu outro exame, já que conhecia muito bem o casal e tinha certeza que ele não bebia, não fumava e nem usava qualquer tipo de droga. Repetido o exame, confirmou tudo que estava no primeiro. Mesmo assim, a família não concordou e dois dias depois, os corpos foram liberados e aconteceu o enterro que foi acompanhado por uma grande quantidade de pessoas. A polícia não encontrou nenhuma pista, a não ser várias pegadas de uma bota muito usada pelos vaqueiros, mesmo assim, o delegado mandou tirar moldes de todos que se encontravam perto da casa. Na fazenda trabalhavam mais de vinte pessoas e todas estiveram na cena do crime. O delegado começou o interrogatório de todas as pessoas que trabalhavam na fazenda, ninguém ouviu nada, nem ninguém, foi feita uma busca minuciosa em busca da arma do crime, que a polícia já sabia que tratava-se de um facão ou uma peixeira grande, que tinha como característica principal a ser dentada, pois os cadáveres apresentavam, segundo a perícia estes tipos de perfurações. Depois, os técnicos procuraram impressões digitais, mas só encontraram as dos mortos e de membros de sua família. A polícia também visitou os povoados vizinhos e nada, ninguém viu nada. A casa foi entregue à família para fazer limpeza que foi acompanhada pelo delegado. Mais uma vez, nada encontrou. A família estava fora de qualquer suspeita, eram muito unidos e não havia nenhum motivo para o crime: os demais funcionários, tam-
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bém eram insuspeitos, tinham um bom salário, casa para morar, um quadro de terras para plantar lavoura de subsistência, além de que cada um tinha mais de 10 anos trabalhando na fazenda. Mas quem praticara o crime? Não havia qualquer vestígio, parecia que o criminoso ou criminosos eram conhecidos do casal, pois não havia sinal de arrombamento, o que significa que eles foram convidados, mas também não havia copos usados ou bebidas, mas a autopsia revelou o teor de álcool e o mais intrigante era a presença de drogas nos corpos. O caso foi caindo no esquecimento. Só duas pessoas não esqueciam: o delegado e o Sr João Carlos, pai de Aparecida. Ele autorizou a pintura da casa, para esconder as manchas de sangue nas paredes. Porém ele pediu que não ocupasse ainda a casa, sempre que podia o delegado entrava e ficava procurando, às vezes somente com a vista procurava alguma pista que viesse a desvendar tão perverso crime o qual ele não se conformava com morte de duas pessoas tão queridas. Enquanto isso, o delegado lia e relia quase todos os dias os relatórios e notava que não havia falhas, mas havia um detalhe que ele não se conformava: conhecia bem o casal e sabia que ele não bebia fato confirmado por todos que o conhecia, e então o que significava a quantidade de álcool encontrado nos corpos. E como explicar as drogas? Passados dias, anos, veio o esquecimento. Não se falava mais sobre o crime, até que dois meses depois, numa fazenda a mais de 100 quilômetros da fazenda, aconteceu um novo crime, nas mesmas circunstâncias: casal morto com várias perfurações à faca e foram constatados os mesmos indícios, alto teor de bebida alcoólica e uso de drogas (cocaína), desta vez a família dos mortos confirmaram que o homem bebia socialmente mas a mulher tinha verdadeiro pavor a álcool até por que ela era evangélica praticante . Começava a aparecer dados semelhantes ao primeiro crime. E isto veio a confirmar quando o legista fez a autopsia e verificou que a arma do crime era idêntica: havia um defeito na arma que provocava um corte diferente, fato confirmado neste crime e no anterior. A notícia que havia um criminoso em série espalhou-se. Algumas pessoas mais estudiosas lembraram-se de uma criminoso que habitou a Inglaterra no século dezenove e havia matado mais de vinte mulheres
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e nunca foi descoberto: outra coisa que chamou a atenção das autoridades foi o tempo – os crimes ocorriam sempre a cada dois meses e sempre no período de Lua Cheia. O delegado da região indicado pelo Secretário de Segurança de Goiás determinou prioridade para esse assunto. Dr. Fernando começou o seu trabalho ouvindo as pessoas ligadas às vítimas, assim, João Carlos foi o primeiro a se apresentar. Contou a mesma história. Alem do álibi irrefutável no dia do primeiro crime estava a mais de 100 quilômetros do seu local, mesmo assim, respondeu com segurança a todas as perguntas e ao segundo crime nada levava a imputá-lo, porque segundo todos os estudos, os crimes foram praticados pela mesma pessoa ou pessoas, em seguida foram ouvidos todos os membros da família, que se apresentaram com a mesma segurança e o mesmo álibi. Depois desse exaustivo trabalho, quase inútil, o delegado visitou os locais dos crimes. Passando um dia em cada local a procura minuciosa de pista em ambos locais descobriu marca de calcado que comparado com os das vítimas constatou-se que eram diferentes Pediu aos peritos que usassem gesso, tirassem as molduras de todas as marcas de calçados e se havia alguma diferença. Dois dias depois, ele com os peritos fizeram a comparação e descobriram que em todos os locais dos crimes havia a mesma marca. Isto deixou o delegado com a certeza que os crimes foram realmente praticados pela mesma pessoa ou pessoas. Sem perda de tempo, procurou saber que tipo de calçados e o número correspondente. Descobriu que o tipo de sapato, era uma bota usada por vaqueiros e ela media 44/45. De posse destes dados, foi a sapataria especializada e para a sua tristeza, descobriu que este tipo de calçado era vendido em larga escala, devido a região ser de pecuaristas. Voltou à estaca zero. Mas havia um triunfo: os crimes sempre ocorriam a cada dois meses, no período lunar e estava na época. E aconteceu. Enquanto o delegado se concentrava numa área restrita, há 100 quilômetros mais um crime fora praticado, um casal foi encontrado morto, as características foram às mesmas; perfurações a faca, muita bebida e drogas. Como havia chovido havia pegadas por todas as partes. Entre as providências tomadas, o delegado mandou o perito tirar os moldes das pegadas, principalmente os mais legíveis.
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Diante da gravidade da situação, o delegado fixou residência no local dos crimes, ocupando a delegacia. Interrogou as pessoas ligadas as vítimas e mais uma vez, constatou que o casal, às vezes tomava um ou dois copos de cerveja, mas era só, nada de drogas ao contrário do que tinha no relatório do legista. E o delegado se perguntava: como pessoas que não são viciadas aparecem mortas e drogadas? E ainda havia uma outra pergunta sem resposta: os crimes foram praticados por uma ou mais pessoas. Para a segunda pergunta os peritos encontraram a resposta: o crime só podia ter sido praticado por uma pessoa, as pegadas pertenciam à mesma pessoa e não havia outras nos locais dos crimes. Era o mesmo número do calçado, 43/44. Uma coisa intrigava o delegado. Não havia qualquer conecção entre as vítimas. Havia algumas coincidências, todos eram casais, todos haviam bebidos e consumido drogas e a data – os crimes ocorriam sempre nas noites de luar e a casa dois meses. Partindo desses princípios o delegado procurou a ajuda de um psicólogo e obteve a resposta: - Os crimes eram em séries, obedeciam a um padrão, tempo certo, arma certa e como o criminoso sempre planejava o crime ele se sentia seguro. Durante a autopsia dos últimos cadáveres os médicos descobriram que havia em cada corpo, duas picadas de agulha e depois de um melhor estudo descobriram que foram através daquelas perfurações que a droga foi injetada. Agora como foi possível? Não houve violência, nenhuma briga, tudo estava nos seus lugares, se as vítimas não eram viciadas, a conclusão que se tira é que o criminoso injetou as drogas depois que as vítimas estavam mortas, isto para atrapalhar as investigações. O tempo passou. Os casos iam caindo no esquecimento da população. Só o delegado não esquecia. Ele passava dias analisando cada inquérito. Passados cinquenta dias. Começava o período lunar. O delegado convocou todos os policiais disponíveis e deixou-os alertas. Nada tinha acontecido até que no ultimo dia do período lunar aconteceu. À noite na fazenda do Sr Carlos Soares, ouviu-se um barulho estranho, nos currais da fazenda, mas ele não se preocupou, pois quando
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estava neste período os animais ficavam, inquietos, não se preocupou e foi dormir. De manhã, logo cedo, foi acordado por um empregado, batendo à sua porta: - Patrão. Patrão. Um desgraça, cinco animais amanheceram mortos e não foi natural. Eles foram mortos a facadas. O Sr. Carlos Soares não vestiu nem a camisa, correu para o curral e constatou a verdade, cinco reis estavam mortas e verificou que foi à facada, verificou que quem o fez sabia o que estava fazendo, cada animal recebeu apenas duas facadas. Pediu para ninguém chegar perto e mandou um mensageiro trazer o delegado. Duas horas depois, estavam reunidos em torno dos animais mortos. Numa análise superficial chegou-se a conclusão que o crime fora praticado pelo matador. Como havia uma vigilância forte, fez isto para saciar sua vontade de matar. Havia várias pegadas das botas, tão conhecidas pelo delegado e peritos, vários moldes foram tirados e anexado ao processo. Mesmo assim os peritos indagaram para delegado: “para que tantos moldes”? O Sr. já não tem o bastante? Pode tirar. Eu não vou deixar nenhuma pista. Quero ter certeza que foi o nosso homem. Quero também que o legista faça exame para saber se os animais foram dopados. João Carlos mandou enterrar os animais, de acordo com os médicos eles não poderiam ser aproveitados, pois tinha grande teor de cocaína e isto impossibilitava seu aproveitamento. Depois o delegado e seus auxiliares fizeram uma varredura nas imediações e apenas encontraram pegadas de um cavalo que era estranho à fazenda, pois pelas pegadas era de um animal grande e pesado. Duas coisas preocupavam o delegado: primeiro, o período de cada ataque sempre na fase lunar, a segunda, a cocaína. Por que a cocaína? Pediu a ajuda de um psicanalista. A Secretaria de Saúde da Capital enviou Dr. Aécio, um especialista em doenças mentais. Ele passou toda a manhã. Depois de analisar profundamente caso por caso, ele chegou à conclusão: os crimes foram praticados pela mesma pessoa, que possivelmente sofria de um sério transtorno bipolar. A lua cheia tem realmente influência no seu comportamento, quando ele estava possuído do trauma era uma pessoa violenta, astuta e que não
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recuava no que pretendia fazer, passado aquele momento, ele voltava a ser a pessoa normal e não tinha nenhum remoço do alto praticado, por isso, teria que ser interrompido o mais breve possível, pelo seu último ato, ele não escolhe suas vítimas, o importante é a satisfação do seu ego. Ele também explicou o uso da droga: “ele deve ter sido vítima de algum trauma, envolvendo drogas”. O delegado não esquecia as pegadas deixadas pelo criminoso e estudava diariamente cada molde. Neste seu estudo, teve uma idéia: separou todas as pegadas do pé direito e todas as do pé esquerdo e notou que as do pé direito eram mais profundas e achou que o criminoso era uma pessoa que tinha defeitos físicos - peso do lado esquerdo era maior do que a do lado direito - o criminoso portanto era meio coxo. De posse desse importante dado, procurou o dono da fazenda para saber se ele conhecia alguém que tivesse sofrido algum acidente e que tivesse afetado a perna esquerda. Depois de pensar um pouco, o fazendeiro disse que a única pessoa que havia sofrido um acidente foi o capataz o qual há três anos, sofreu um acidente, caiu do cavalo, e depois de operado, ele ficou com dois centímetros e menos na perna esquerda. - É o nosso homem, disse o delegado.•. - Espere ai, investigue melhor. Caetano nasceu aqui. Os pais trabalharam para os meus pais e eu considero a pessoa mais íntegra desta região. Foi criado junto com os meus filhos e não acredito que ele fosse capaz de assassinar um deles. Bem Sr. João, em consideração ao Sr. vou prorrogar minhas investigações até o período lunar. Mas lembre-se neste período ele se transforma. Os dias passaram, finalmente chegou o mês lunar. O delegado a pretexto de investigar começou a pernoitar na fazenda, juntamente com um grupo de soldados. No terceiro dia eles viram o vaqueiro sair de casa, ás dez horas da noite. Não havia andado trezentos metros quando foi abordado pelo delegado: O senhor está preso - O que foi que eu fiz? - Não converse. Dê suas explicações ao delegado.
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Chegaram à delegacia e ele foi encaminhado para uma cela. No outro dia depois de submeter uma sessão de fotos, foi feita sua ficha cadastral e ficou aguardando o delegado. FICHA CADASTRAL Nome – Caetano Olavo dos Santos Filiação pai – Pedro Henrique dos Santos Mãe – Maria Severina dos Santo Local/data do nascimento: Guina no dia 22 de setembro de 1983. Estado Civil – casado Nome do cônjuge – Maria da Glória Santos Grau de instrução – Ensino Médio, completo. Folha corrida – nada consta - Bem Sr Caetano, o senhor é suspeito dos crimes ocorrido na região nos últimos tempo. - Desculpe Sr. Delegado mas o senhor está enganado. Naquela hora eu ouvi uns mugidos estranhos no curral norte, e fui verificar o que estava acorrendo quando fui preso. Olha, delegado mais uma vez eu afirmo, prendeu o homem errado. Eu sou inocente. - Não acredito em você, amanhã mesmo vamos para a capital. O delegado apreendeu as botas e perguntou; - E a arma? - Que arma Sr. delegado? Eu só ando com esta peixeira quando eu vou trabalhar, para cortar a palma para o gado, e o soldado que me prendeu está com ela. E Você tem outra Não senhor eu só tenho ela, o Sr Carlos tem conhecimento dela, pois foi ele que meu deu. - Pois está ruim. Amanhã mesmo vou transferi-lo para a capital, para sua segurança, pois a população está muito revoltada e infelizmente eu tenho que preservar sua vida, mesmo sabendo que você é um criminoso à sangue frio, que não teve pena de suas vítimas De manhã bem cedo, viajaram para Cuiabá, Caetano ficou separado dos demais presos, o delegado temia que ele pudesse ser linchado pelos outros detentos. O Sr. Carlos constatou na capital um advogado para acompanhar o
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inquérito, mesmo sabendo que o criminoso matou um dos seus filhos e a sua nora, o outro advogado veio da defensoria pública, ele não tinha dinheiro pra pagar os honorários de um advogado. Seis meses depois, Caetano foi a julgamento. Ao ser interrogado ele disse apenas: - Sou inocente e vocês vão se lamentar muito pelo erro que estão cometendo. No mesmo dia saiu à sentença pelos crimes, com as penas acumuladas, ele recebeu 137 anos de prisão. Finalmente o caso foi desvendado e o criminoso punido. A população não precisava ter mais medo da Lua Cheia.
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O ENGANO des.
Passado mais de um ano, aconteceu outro crime, nos mesmos mol-
Um casal foi encontrado morto há dez quilômetros da fazenda. O delegado ao tomar conhecimento telefonou para o presídio procurando saber se havia ocorrido alguma fuga e se Caetano continuava preso. A resposta foi que ele continuava preso e era um presidiário exemplar, não fala com ninguém e só responde o que lhe pergunta. E AGORA? O delegado começou a investigar, o crime era idêntico. A arma a mesma as marcas das botas as mesmas. Desta feita a perícia descobriu que a droga foi injetada após a morte das vítimas. O QUE FAZER? Inicialmente procurou o Sr Carlos e contou tudo, inclusive a sua certeza de que Caetano era inocente. Em seguida, foi até a capital conversou com o Procurador Geral do Estado, o qual relatou os fatos dos crimes e que agora tinha certeza da inocência de Caetano e pediu orientação. - Primeiro você não pode dizer que o Caetano é inocente. Pode ser que tenha alguém querendo atrapalhar a ação da justiça. Assim, an-
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tes de tomamos qualquer iniciativa, temos que descobrir o verdadeiro criminoso. Volte para suas investigações. Enquanto isto eu vou providenciar para que o réu seja colocado numa cela especial até que o caso seja devidamente esclarecido. Mas Sr. Procurador o Sr Carlos estava certo que eu lavaria Caetano comigo, preparou até uma festa para recebê-lo. Mas eu não posso assinar um alvará de soltura baseado em presunção. Diga a Carlos, ele irá compreender que eu já dei ordem para colocar Caetano numa cela especial onde ninguém vai incomodá-lo. Quando o delegado chegou à fazenda, foi informado de uma tragédia. O Dr. Pedro Soares, advogado, residente na capital, havia cometido suicídio e deixara uma carta para ele. Sr. Delegado O Sr. Conhece a história do matador . Ela é verdadeira. Todos os crimes foram praticados por mim. Era uma situação incontrolável. Quando chegava o período lunar, uma força estranha se apoderava de mim. Eu não podia me controlar. Desconhecia tudo e todos. Ainda ontem duas pessoas inocentes morreram. Eu vinha me segurando, passei quase um ano, mas ontem foi impossível tive que matar. Eu devia ter confessado antes. Por conta do meu problema uma pessoa está pagando pelos meus crimes. Por favor Caetano é inocente, Como eu disse todos os crimes foram praticados pela minha loucura, que aflorava no período lunar quanto a cocaína, eu não sei explicar, mas me dava uma sensação de alívio quando injetava nos cadáveres. Por isso perdão para Caetano que está pagando pelos crimes que eu pratiquei, peço a meu pai que o indenize: peço perdão aos familiares dos que eu matei, se dependesse de mim eu não os teria feito, e peço perdão aos meus pais e meus irmãos que me amaram tanto e eu não soube retribuir. Rezem por mim. Pedro Em tempo, Pedro Soares, advogado era filho do Sr. Carlos Soares e dona Eulália Maria Soares, donos da fazenda.
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É doloroso para qualquer pessoa É perder sua mãe. E mais constrangedor é saber Que ela está viva.
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Fernando e Ana Maria formavam um casal tipo classe média. Trabalhavam em repartições publicas, servindo a diferentes setores. Do casamento nasceram três filhos; Ana Elizabete, dois anos; Ana Beatriz, três anos e Carlos Augusto quatro anos. Viviam em relativa harmonia e a vida só não era perfeita porque Fernando era possuidor de um ciúme doentio. Por conta desse seu temperamento, começou a ter ciúmes dos colegas de Ana Maria. Até que um dia ele pediu para ela deixar o emprego. Ana Maria reagiu indignada: - Deixar como Fernando? O que a gente ganha quase não dar para as despesas? - Da maneira com as coisas estão, não é possível continuar / Você vai ao trabalho e eu não sei quem são e não confio nos seus colegas. Disse Fernando. - Pois, Fernando eu não pretendo pedir demissão. Você tem que confiar em mim, como eu confio em você. E lembre, sou e serei uma pessoa casada e que lhe respeita. A vida de Ana Maria começou a sofrer uma grande mutação, e mais depois que ela passou num concurso e passou a ser chefe, com um bom salário, chegando a ganhar mais de três vezes o salário do marido. Orientada pelos familiares ela não respondia as provocações e isto
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o irritava cada vez mais o Fernando. Às vezes eles passavam até três dias sem trocar uma só palavra. Mas ele mesmo assim insistia que ela deveria deixar o emprego. Desta vez ele alegou a necessidade de sua permanência em casa para o cuidado com a escola das crianças, pois elas precisavam de uma pessoa para fazer o devido acompanhamento. Porém ela estava irredutível, até porque ela trabalhava um só expediente e teria tempo suficiente para acompanhar os estudos dos filhos. Como ele não tinha mais argumento começou a ameaçar ir embora com as crianças, mas ele não conseguir a fazer mudar de ideia, ai passou a agressão, primeiro com palavras e, pela primeira vez, Fernando bateu em Ana Maria, a sorte é que as crianças estavam na escola. Mesmo assim, ela ficou com alguns hematomas e, por amor a família ela não o denunciou a polícia, mas o avisou que se houvesse uma segunda vez, ela iria à polícia fazer uma denuncia contra ele. No mês de abril, Fernando recebeu a triste notícia, o seu pai falecera, sua mãe já havia morrido há alguns anos. Disse a Ana o corrido e ela para ser gentil viajou com o marido e os filhos para o enterro. La Fernando foi informado que o pai além da fazenda onde morava tinha vários imóveis, era uma pequena fortuna. Animado com esta notícia, procurou Ana para explicar que não havia mais necessidade dela trabalhar com a herança era suficiente para eles viverem bem. Mas ela não aceitou, disse que o trabalho lhe dava liberdade. Fernando não entendeu o significado da palavra liberdade e, só não agrediu Ana novamente, com medo das ameaças que ela fizera, mas arquitetou um plano: Fez as pazes com a esposa, passou a tratá-la bem e não falou mais em ela pedir demissão. Em casa eles já conversavam e numa dessas conversas ele falou: - Olhe precisamos trazer os nossos bens para aqui, perto da gente. Eu pensei se você concordar, vender tudo que temos em Minas Gerais, e aplicar aqui no Rio de Janeiro, podemos comprar outros imóveis e alugar, assim, teremos uma boa renda . Como ele não falou que ela deveria pedir demissão, ela concordou. Assim Fernando começou a vender todos os seus imóveis, cerca de quinze casas, uma fazenda e dois apartamentos em Belo Horizonte. Ela ainda desconfiou, quando o dinheiro das vendas dos imóveis ia chegando e ele só fazia depositar. Ela chegou até a perguntar, mas ele
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alegou que gostaria de ter todo o dinheiro junto para aplicar melhor e para lhe dar tranquilidade mostrou a Caderneta de Poupança onde se lia; Conta 33444 – Caixa Econômica Federal. Clientes – Fernando Alves dos Santos e/ou Ana Maria dos Santos -“Pode guardar, junto com as nossas economias”- disse Fernando. Ela vendo a caderneta, acreditou nas boas intenções do marido, mas não voltou atrás, continuou a trabalhar. Não houve mais discussões e tudo parecia ter voltado ao normal. Na segunda feira, dia 03 de abril, Ana acordou-se se aprontou tomou chá, como de costume e saiu para o trabalho. Fernando se comprometeu de levar as crianças para a escola. À tarde Ana Maria voltou do trabalho, não estranhou a ausência dos filhos porque Fernando, quando podia, saia para a praça que ficava perto do prédio onde moravam e só voltava a tardinha. O tempo foi passando e era quase sete horas, quando ela começou a ficar preocupada: as oito, foi ao armário das crianças, as roupas estavam nas gavetas. Isto há acalmou um pouco. As nove, sua preocupação aumentou, as dez desceu do prédio e foi à delegacia. Lá conversou com o escrivão que lhe disse nada poder fazer no momento, pois qualquer providência, nestes casos a ser tomada, só poderia ser feito após 48 horas do ocorrido. Ainda para acalmá-la ele falou: - Já aconteceu antes? -Não. Ele nunca ficou tanto tempo com as crianças. - Quem sabe ele levou as crianças para o cinema? - Moço, minhas crianças tem 2, 3 e 4 anos e, diariamente, eles dormem antes das oito e já são quase onze. - Mesmo assim, eu não posso fazer nada. A lei determina quarenta e oito horas, mas vamos fazer o seguinte: venha amanhã de manhã que o delegado está aqui e pode lhe orientar melhor. Para o seu desespero, as crianças nem o Fernando apareceram. Logo cedo ela comunicou que faltaria ao trabalho e foi à delegacia onde narrou toda a história para o delegado. Ele a aconselhou a telefonar para os familiares dele e dela também. Mas ela desanimada disse ao delegado que da parte dele existiam
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apenas duas tias e alguns parentes muito distantes e se ele fosse com as crianças para a casa de algum parente dela, eles já teriam telefonado. Mesmo assim, ela telefonou para as tias e elas disseram que ele estivera lá no enterro e quando foi receber o dinheiro das vendas os imóveis. Nisto ele lembrou-se do banco. Chegando lá, foi informada que Fernando vinha sacando vultosa quantia a cerca de um mês e meio e há dois dias ele fez a última retirada, levou tudo e encerrou a conta. - E esta conta não era conjunta? - Sim senhora, mas há dois tipos de contas conjuntas: - Quando ela vem anunciando Fulano e Beltrano, só há saque se houver a assinatura dos dois: ou então Fulano e ou Beltrano, neste caso qualquer um poderia sacar e foi o que ele fez. O desespero tomou conta de Ana Maria. Ela estava totalmente transtornada, não sabia que rumo tomar. Foi à delegacia, o delegado perguntou se ela tinha fotos dos filhos e do marido ela disse que sim e foi em casa. Seu desespero aumentou quando procurou e verificou que não havia nenhuma fotografia do marido e dos filhos. Ele havia pensado em tudo. Levara as fotos, a certidão de casamento e registros de nascimento dos filhos. Voltou à delegacia e foi aconselhada a ir ao Cartório de Registro de Nascimento e tirar uma segunda via. Mesmo assim, não a acalmou, o delegado lhes disse que havia enviado para as delegacias de cada Estado, um pedido de captura do seu marido. Era o que ele podia fazer no momento. Ele também disse, nestes casos o melhor é ter calma e esperar. E foi o que ela fez. Passados quinze dias ela recebeu uma carta de Fernando. Nela ele pedia desculpa pelo seu ato. Mas disse também que seu ato era irrevogável. Os meninos estavam muito bem de saude, tem perguntado por ela, mas ele tem conversado com as crianças, que ela estava viajando e que estava indo ao seu encontro. Disse também que não estava arrependido, pois dera a ela inúmeras oportunidade de viverem como família, quando ele não podia aceitava a ajuda dela, mas depois de ter conseguindo a herança, não havia nenhum motivo para ela continuar trabalhando. Disse ainda, que esta era a última comunicação e, que ela não se preocupasse que ele tomaria conta das crianças, até porque com o di-
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nheiro da herança ele poderia viver de renda por muitos anos educando os meninos. Ela leu e releu a carta, chorou e chorou muito, em seguida, pegou a carta e levou para o delegado que depois de lê a carta perguntou: - E o envelope a senhora está com ele? - Meu Deus, eu fiquei tão desnorteada que não lembrei-me do envelope. Foi para casa e encontrou. Voltando a delegacia entregou ao delegado que viu que a carta tinha sido como remetente, Fernando Alves de Almeida, rua das Palmeiras, 461, centro – Porto Alegre RS. Imediatamente, o delegado telefonou para um colega e meia hora depois a confirmação. Não havia esta rua nem este número em Porto Alegre. Analisando o carimbo dos correios, descobriu que a carta foi colocada em Pouso de Caldas – Minas Gerais, justamente onde moravam suas tias. Neste dia Ana Maria tomou uma decisão. Não vou ficar esperando. Foi à repartição onde trabalhava conversou com os seus superiores e tirou trinta dias de férias. No outro dia, pegou um avião para Minas Gerais e de lá foi de ônibus para Pouso de Caldas onde entrou em contato com as tias de Fernando e elas contaram uma história digna de novela. - Há de quinze dias elas receberam uma carta, com pouca coisa escrita, dizia apenas que dentro do envelope havia uma carta e pediu que dez dias após o recebimento desta carta ela fosse colocada nos correios – “ela estava endereçada a você”. Disse a senhora. - E de onde veio esta carta? Perguntou Ana Maria. - Deixe-me ver, nos temos o envelope. Neste estava escrito: De um lado nosso endereço e no anverso, o nome dele e um endereço: Rua Souto Filho, 177 – Moca- São Paulo. Descrente mais esperançosa, ela voltou para o Rio de Janeiro. No mesmo dia, procurou o delegado. Depois de contar de sua viagem, mostrou o envelope. Ele leu e pegou o telefone, ligou para seu colega da delegacia de Moca. Meia hora depois recebeu a resposta. Mais uma decepção. Não existia esta Rua no Bairro, nem na cidade de São Paulo. O delegado disse a Ana que ele estava querendo confundir e que há esta hora ele
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deve está longe. Com o dinheiro que ele tem poderia ir para qualquer parte do país ou para fora dele. Aconselhou Ana ir para casa e acessar o computador e pedir ajuda. E foi o que ela fez. Os dias foram passando, havia recebido algumas informações, mas nenhuma foi confirmada. O seu período de férias terminou e ela teve que voltar ao trabalho Todos os colegas ficaram solidários a ela. Dias depois ela teve uma ideia, falou com o seu chefe e ele vendo suas necessidades concedeu uma licença especial de seis meses. Os colegas se juntaram e fizeram uma cota e deram a ela que por bondade do chefe, ela teria seu salário integral. Com esse dinheiro, mais suas economias, Ana Maria passou a ser frequentadora assídua do computador. Mas as notícias foram se escasseando, na medida em que aumentava o desespero. Mas ela tinha uma ideia fixa; encontrar os seus filhos. Por isso seis meses depois voltou ao trabalho e passou a junta todo o seu dinheiro. Também contratou um advogado ele entrou na justiça pedindo autorização para ela vender a casa. Depois de analisar todo o processo e ouvir várias pessoas inclusive o delegado, ele concedeu a autorização. O processo foi mais fácil porque o imóvel estava em seu nome, havia recebido por herança dos pais. Ana vendeu a casa por um bom dinheiro e instalou-se provisoriamente em um apartamento alugado e saiu à procura de trabalho, não queria começar gastando o dinheiro, que estava destinado a procurar os filhos. Antes colocou toda a sua economia e o dinheiro da venda do imóvel numa caderneta de poupança. Esta feita com um só nome, o seu. Por onde começar? Seguindo os conselhos do delegado, ela procurou a rede de televisão para fazer um apelo. Teve sorte uma emissora de TV de circulação nacional atendeu o seu pedido. Ela usou o vídeo e com poucas palavras fez seu apelo: “quem tivesse visto o marido com os seus três filhos telefonasse” e , em seguida, ela deu no ar o número do seu telefone. Muitas pessoas telefonaram, muitos eram trotes, mas teve um que chamou sua atenção: uma senhora lhe disse que havia viajado pela VA-
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RING junto a um senhor com três crianças, sendo duas meninas e um menino e eles haviam saltado também em Goiana. Ana Maria telefonou para a VARING pedindo informações, mas eles lamentaram não poder informar o nome de passageiros, somente através das autoridades. Mais uma vez ela voltou ao delegado. Este telefonou para o seu colega em São Paulo fornecendo os dados necessários para um pedido. A VARING informou, dando o Nome de Fernando e os das crianças como passageiros da viagem de São Paulo para Guiana. Animada ela viajou para Goiás, levava uma carta de recomendação para o delegado daquele estado. Quando ela chegou, procurou o delegado que imediatamente registrou o ocorrido. A primeira providência de Ana foi procurar nas escolas se Fernando havia matriculado os filhos, nenhuma pista. Depois ela foi às revendedoras de veículos. Desta vez ela teve sorte. Um vendedor lembrou que havia vendido um veiculo tipo Van, para o Sr. Fernando, que na ocasião estava com três crianças. Ela pediu as características do carro e também sua placa. De lá foi para a delegacia. O delegado Romero, pediu a um funcionário que expedisse um alerta para o estado. Ela não tendo o que fazer voltou para a pousada, onde estava hospedada. No dia seguinte foi para as ruas fazer o mesmo roteiro de antes, primeiro procurou as escolas e depois, os bancos e casas comerciais, sempre perguntando se havia visto um senhor com três crianças. Três dias depois uma revenda de automóveis de Ponta Grossa, informou que comprou um veiculo de um senhor com as mesmas características de Fernando. Para onde foi? Ele pediu uma carona para o aeroporto onde tomaria um avião. Não disse para onde ia. O delegado telefonou para o aeroporto e foi informado que o passageiro e seus três filhos foram para São Paulo. - E agora? Meu Deus. Vou recomeçar. Só Não sei por onde. Mesmo assim, ela foi para São Paulo, onde fez a mesma peregrinação. Foi a Secretaria de Educação listou o nome de todas as escolas de ensino secundário e começou sua odisseia. Comprou um mapa da cidade de São Paulo, separou as escolas por bairro e começou a procurar. Já se passara mais de três meses quando ela sentiu que não havia mais escola para ser visitada. Chegou a fazer parte daquelas famílias
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que tinham familiares desaparecidos, sem nenhum resultado, até porque as famílias que frequentavam a escadaria da igreja, tinham fotografias dos seus parentes e ela nem isto tinha. Dois anos e as pistas desapareceram totalmente, e com ela parte de suas esperanças e quem a visse e a conhecia notaria que ela estava com o aspecto de uma pessoa dez anos mais velha, durante o período de busca, não teve nenhuma felicidade e ela estava vivendo apenas em função da busca. No mês abril, arrumou um, emprego, não poderia está só gastando. Estava trabalhando há mais de um ano, era secretaria em uma indústria, quando recebeu uma ligação: uma pessoa dizia que havia visto seus filhos num orfanato. Com raiva por ele ter abandonado os filhos e ao mesmo tempo feliz pelo encontro, na sua ânsia, não perguntou a informante qual era o orfanato. Preparou-se, pediu demissão e voou para Manaus. Informou-se na Prefeitura sobre os orfanatos. Visitou a todos e nada, era mais um trote. Voltou para São Paulo. Seu coração dizia que o foco estava lá. Procurou o seu antigo emprego, mas infelizmente sua vaga fora ocupada. Desta vez não foi fácil encontrar trabalho. Teve que encontrar trabalho na cidade de Americana. Foi, mas seu pensamento estava voltado para São Paulo por isto ela não mudou-se, ia e voltava todos os dias. Este sacrifício durou mais seis anos de sua triste vida.
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A SAGA DE FERNANDO Fernando quando notou que Ana Maria não ia deixar o emprego, arquitetou um plano para vingar-se. Levou quinze dias projetando e preparando o roteiro, nele havia uma parte que ele deveria deixar algumas pistas para confundir a procura. Preparou uma pasta onde colocou os documentos das crianças, não se esquecendo de levar todas as fotos dele e das crianças para dificultar a identificação. Com a alegação que estava comprando imóveis, passou a sacar todo o dinheiro, não foi difícil convencer o gerente do banco. No dia aprazado, colocou na mala algumas roupas para ele e para as crianças. Inicialmente foi para Pouso de Caldas onde passou três dias, de lá escreveu a carta. Depois saiu visitando alguns estados e deixando pistas para confundis a polícia. Num desses estados ouviu o apelo que Ana Maria fizera na televisão. Por sorte as crianças estavam dormindo. Na primeira revendedora vendeu o carro e tomou o avião, sempre com as crianças e foram para São Paulo, onde tomou uma decisão: não poderia continuar no Brasil, precisava atravessar a fronteira e foi para o Rio de janeiro, onde tomaram um ônibus e foram para cidade de Livramento, depois atravessou a fronteira e fixou residência na cidade. Passou três meses antes de colocar os filhos na escola, no Paraguai onde terminaram o ano. O ano seguinte matriculou-os na cidade de Livramento, não queria que os filhos perdessem suas raízes. Neste mesmo período
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colocou uma empregada brasileira para ajudar na criação dos filhos, pois notara que estava seguro e ninguém iria procurá-los naquele fim de mundo. Com o passar do tempo foi se engraçando da jovem e passaram a viver maritalmente. Enquanto isto, Ana Maria foi perdendo o contato e a esperança restava muito pouco, mas continuou em seu trabalho até que foi demitida. Comprou um jornal e começou a procurar emprego. Não estava fácil, o único que lhe agradou foi o de babá: eram duas crianças, uma de seis e outra de oito anos de idade. Apresentou-se, contou toda a sua história e foi aceita. Procurou tratar as crianças como se fossem as suas. Levava-as para a escola, ajudava nos exercícios escolares e nos fins de semana, se a família não tivesse programa, ela inventava pic-nic, cinema, teatro, sorveteria. Com isso ela foi cativando as crianças e seus pais e fazia bem para ela mesma, que esquecia um pouco seu drama. No dia do aniversário de Carlos Augusto, o menor, ele teve uma crise de choro em plena festa. Foi notado por todos os presentes, os quais queriam saber o motivo. Os pais do menino tomou uma atitude: quanto mais gente conhecer a história de Ana Maria, melhor seria, pois poderia ajudá-la. E foi o que aconteceu, todos prometeram esta ajuda. Enquanto isto, nas horas vagas, Ana Maria lia os jornais que chegavam à casa do patrão, na esperança de encontrar alguma coisa. O tempo passou e rápido. As crianças estavam cursando os últimos anos do curso médio e se preparavam para o vestibular. A garota já estava com quatorze anos e começou a sentir atração pelo masculino, e tudo o que acontecia a ela, conversava e se aconselhava com Ana Maria. E os dela? Carlos Augusto estava terminando o Ensino Médio; Ana Elizabete fazia o segundo série e Ana Beatriz estava terminando o secundário. O pai vivia feliz, com sua nova esposa, que tinha uma verdadeira adoração por ela e, para completar, os negócios iam cada vez melhores. Quando faltava um mês para Carlos Augusto concluir o ensino médio, ele falou para o pai que queria fazer o curso superior, numa cidade grande, que pudesse oferecer melhores ensinos.
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- Concordo. Disse o pai. - Vou comprar um apartamento em Brasília que servirá inicialmente para você e, depois, para as suas irmãs, se elas quiserem estudar fora. Não meu pai, estou pensando no Rio de Janeiro ou São Paulo, pois eu quero fazer medicina e nestas cidades não só há maiores número de vagas mas também o curso é bem melhor e campo de atuação mais amplo. - Meu filho qualquer faculdade ensina bem, depende muito do aluno e pelo que sei, as faculdades de Brasília estão entre as melhores. - Eu tenho obedecido a todas as suas ordens, nunca desobedeci a nada, mas desta vez eu quero que o senhor me dê esta oportunidade e eu prometo, quando eu me formar eu vou clinicar aonde o senhor determinar. - Está bem vou pensar. - Fernando mandou um empregado de sua confiança a São Paulo fazer uma sondagem sobre preço de imóveis. E que aproveitasse para saber alguma coisa sobre sua esposa. Não havia sinal de sua esposa e nem processo contra ele em São Paulo. Duas semanas depois o empregado voltou para são Paulo, onde comprou um apartamento perto das faculdades. Ele colocou os imóveis em nome do filho. No dia que o filho concluiu o ensino médio, recebeu do pai dois presentes o apartamento e o consentimento para estudar em São Paulo. Na outra semana ele viajou com o empregado e a esposa dele, que iam fazer companhia enquanto ele estivesse estudando. Dedicou-se nos últimos dias somente ao estudo e fez vestibular para medicina obtendo uma ótima nota. No mesmo dia viajou para casa para comemorar com os pais e suas irmãs. Passou toda a festa natalina, onde recebeu muitos presentes. Entre eles estava um presente futuro: o pai orientou para que ele se matriculasse numa autoescola e quando ele estivesse com a carteira, receberia um automóvel. Nos primeiros dias de janeiro Carlos viajou para São Paulo, antes ouviu uma série de conselhos dados pelo pai. Finalmente, iria realizar o grande sonho de sua vida. Mas ele viu a dureza que era. Não tinha tempo para nada. O pai por duas vezes reclamou porque ele não estava telefonando, como fora
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combinado. Durante o primeiro semestre foi apenas uma vez em casa. No mês de outubro começou o período chuvoso. Sua empregada, acostumada ao clima úmido de sua região, começou a sentir-se mal, foi ao médico e ele recomendou a mudança de clima, ou seja, pediu para ela voltar para a sua região. Como estava chegando o fim do ano, ela resolveu ficar. Suportou até o final do ano, quando todos foram para casa. No final de janeiro todos voltaram, mas a empregada veio para ficar enquanto se arrumava outra para substituí-la. Enquanto isto Carlos perguntava como se conseguia uma empregada em São Paulo. - Aqui, nós colocamos um anúncio nos jornais. - Gostei da ideia. Escreveu para o pai contando que a empregada continuava doente e que ele ia colocar um anuncio no jornal procurando à substituta. A princípio, ele não gostou , mas analisando que passados quase 20 anos nada ocorrera, concordou, mas pediu para que ele tivesse muito cuidado. Pedisse referência e conferisse os dados. - Não se preocupe pai, escreveu Carlos, vou pedir cartas de referências dos últimos empregos e ainda vou verificar se os dados fornecidos são reais. No início de fevereiro a empregada não aguentou mais e foi embora, muito doente e Carlos redigiu o anúncio e mandou publicar nos três principais jornais de São Paulo. Jovem, estudante de medicina, Precisa contratar uma pessoa Que possua os seguintes requisitos: idade entre 35 e 45 anos. Saber ler e escrever. Dormir no emprego. Cartas de recomendação dos últimos empregos. Endereço - Rua Cristo Rei, 485 Edifício Monalisa 4º andar Apto 103 Falar com Carlos Augusto.
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Ana Maria não perdeu o vício de ler os jornais que chegavam à casa dos patrões. E aconteceu... Quando ela leu o anúncio, teve certeza: É ele. É o meu filho. No outro dia, depois de fazer suas obrigações, foi procurar o emprego. Ficou em frente ao prédio. Lá para as nove horas, desceu um jovem que ela imediatamente reconheceu. Mas a vontade de correr e abraçá-lo foi interrompida por uma mensagem enviada pelo celebro: se ele não me reconhecer? Não sei o que seu pai falou para eles. E se ele me odiar? Chorando de felicidade, Ana Maria foi para casa (de sua patroa) e ficou ansiosamente esperando pela noite. Quando os patrões chegaram para jantar ela pediu para conversar com eles. - Bem Dr. Roberto e Dra. Carmem, hoje eu sou a pessoa mais feliz desse mundo: encontrei o meu filho. - Como, Onde ele está? Ela pediu paciência e contou toda a história a partir do anuncio. - E o que você vai fazer? Perguntaram os patrões. Eu trabalho para vocês há mais de dez anos, nunca pedi férias, até porque eu não tinha para onde ir e eu moro aqui. Então eu queria um período de férias. Não vou me identificar para meu filho. Primeiro eu vou me apresentar para o emprego e com o passar dos dias eu vou me aproximando. - “Você sabe que é parte de nossa família e jamais passou pela nossa cabeça atrapalhar seus planos, principalmente por que sabemos toda a sua história assim, nós não vamos lhes dar férias, vá ao encontro de sua felicidade e use quantos dias precisar”. Tirando o talão de cheque o patrão preencheu um de bom valor e lhe deu, dizendo: “Esta é a sua casa. Você ajudou a criar nossos filhos. E quando quiser, não digo nem se não der certo, mas quando quiser a nossa casa sempre estará aberta para você”. Jantaram e ela foi dormir e sonhar. Só que ela não sonhou porque não conseguiu dormir. No outro dia, por volta das oito horas, ela bateu na porta do apartamento 103 do 4º andar. - Bom dia
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- Bom dia - Vim por conta desse anuncio. - Vamos entrar. Depois de lê as cartas de recomendações ele perguntou: - Pode me dizer por que deixou o último emprego? Sim. Eu trabalhei nesta casa por mais de dez anos. Ajudei a criar os dois filhos do casal. Hoje já são quase adultos. Um está terminando o curso de medicina e a outra faz engenharia nuclear, passam todo o semestre fora e só vem passar alguns dias nas férias. Com a saída deles, pois os criei como se fossem meus filhos, fui perdendo o entusiasmo, até porque não tinha o que fazer em casa. Os patrões, médicos, só vem para casa dormir. Ai eu comecei a ler os jornais procurando um emprego que me tornasse viva, que me desse a alegria de viver e deparei com esse, jovem estudante começando a sua vida universitária.
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Dedico este trabalho a todas As pessoas que foram adotadas E souberam amar seus pais adotivos
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Era uma família harmoniosa, pequena, pai Sr. Francisco de Assis, Carla Anne, sua mãe e Jeniffer, filha de 17 anos. Eram naturais de Belém-Pará e estavam no Rio de janeiro há exatamente 17 anos, vieram três dias depois do nascimento de Jeniffer, alto comerciante no ramo de importação e exportação. Era por assim dizer uma família de classe média alta, moravam no Bairro da Tijuca, numa casa grande com piscina, três empregadas e um jardineiro, que também fazia o papel de porteiro. Havia um mistério oriundo de Belém, onde moravam quase todos os seus familiares, haviam saído de Belém há 17 anos e nunca mais haviam voltado à sua terra natal. Alguma coisa muito grave havia acontecido. Eles recebiam constantemente membros das duas famílias, mas nunca voltaram a sua cidade natal. Jeniffer estava cursando o terceiro do curso de medicina, seu sonho e dos seus pais. Ela tinha três amigas que se conheciam desde quando elas faziam o curso de alfabetização Kátia, Nicole e Maria Eduarda, das três a mais ligada a Jeniffer era Kátia que era sua confidente e fazia o mesmo curso, na mesma sala. As outras faziam cursos diferentes, Nicole fazia engenharia e Maria Eduarda, cursava o quarto período de medicina. Mas iam juntas e voltavam juntas da faculdade. Na quinta feira, Anne tinha recebido a visita da mãe e da irmã mais nova. Jeniffer tinha ido à faculdade e tinha voltado mais cedo. Entrou
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em casa e ia se dirigir para o quarto, como sempre fazia, quando passou pela cozinha ouviu algo que lhe interessou: - “Anne eu acho a coisa mais errada do mundo ter que trazer mãe para ela lhe ver. Você sabe que o processo não prescreveu, ainda falta dois anos e meio, vocês erraram ao adotar esta menina”. - “Joana você nunca mais diga isto por que se o fizer eu esqueço que é minha irmã e ponho você para fora de minha casa. Lembre-se nunca mais. Jeniffer é minha filha e ninguém, nem mesmo você pode dizer ou insinuar o contrário. Ela é a coisa mais importante da minha vida e não sei se conseguirei viver sem ela. Portanto, seja compreensiva. Gosto de todos vocês, mas se for para escolher entre um e o outro, eu ficarei com a minha filha. Eu disse minha filha”. Mas o estrago já estava feito, Jeniffer ouvira e ouvira muito bem, fora adotada. Sem fazer barulho, Jeniffer subiu para o seu quarto. Ligou o computador e começou a pesquisar sobre um trabalho. Mas não se concentrou: como pode eu não ser filha da minha mãe, temos o mesmo gosto pela leitura, pela roupa, sapatos e até programa de televisão? Não pensarei mais no que ouvi. Vou me comportar como se nada tivesse acontecido. Passou o resto da manhã fazendo pesquisa, as treze hora, desceu, e foi para a faculdade, onde assistiu às aulas normalmente. Como prometera, não ia se importar se era filha legítima ou adotada, o certo era que estava registrada como filha, e consequentemente, única herdeira. Só uma coisa estava lhe encucando, a tia falou em processo, e a mãe alegou que faltavam dois anos e meio para o processo se extinguir. Por isso ela estava sem entender, pelo que ela sabia, um processo de adoção era rápido e encerrava quando ocorria assinatura do registro civil. Mesmo assim, decidiu esquecer, até por que Jeniffer não era curiosa e pensava que ia constranger seus pais. O amor que eles lhes devotavam era tão grande que não pairava qualquer dúvida sobre os seus verdadeiros pais O tempo passou; uma semana, um mês, dois meses, Jeniffer, como havia desejado, esqueceu. Quando completou dezoito anos, já no quarto período seus pais fizeram uma grande festa. Além da festa, recebeu muitos presentes e como estava alcançando a maioridade, recebeu um lindo automóvel,
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e uma viagem para a Europa. Ela havia convidado todos os colegas e seus pais os amigos deles. No meio da festa ela notou a falta de Kátia, ela não poderia faltar a não ser que estivesse doente. Por isso ela foi para o seu quarto, evitando o barulho e ligou para a amiga. Encontro-a deprimida e chorando muito. -“Kátia por que está chorando, por que não está aqui comigo, sabe que eu não perdoo a sua ausência”? “Amiga, você não sabe o que está acontecendo, meu mundo desabou. Não sei o que fazer. Pensei em telefonar, mas pensei: hoje não. Hoje você estaria alegre com os seus convidados e não seria justo envolver você com os meus problemas”. Disse Kátia. “Você disse-me um dia que a nossa amizade estava acima de qualquer problema. Portanto, troque de roupa, vista o seu melhor vestido. Estou enviando o motorista para lhe trazer. Não aceito desculpas. Amanhã nós nos encontraremos e resolveremos juntas o seu problema. Você sabe que é minha irmã e entre irmãs, não deve haver segredos”. -Mas Jeniffer, eu não estou para festa, o meu problema é muito série. - Kátia, responda com sinceridade, você está grávida? - Estar louca? Meu namorado é a faculdade e meus filhos são os meus livros. - Então procure se vestir que eu já mandei o carro para lhe trazer. Jeniffer desligou o telefone e voltou para a festa. A festa estava animada. Os pais haviam contratado um conjunto que tocou a noite inteira. O salão estava repleto, quase todos os colegas de Jeniffer estavam presentes. Lá para as três horas da madrugada, os convidados foram saindo e uma hora depois, só restaram às três amigas, que ficaram conversando até às cinco horas, quando elas manifestaram a vontade de ir para casa. Pediu que Kátia ficasse para dormir na casa dela, pois notara que mesmo com toda aquela animação, ela continuava triste e preocupada. Kátia aceitou, mas presenciou que sua amiga não dormiu quase nada. De manhã. Por volta das 10 horas, elas acordaram. Jeniffer não tocou no assunto, esperou que a amiga falasse. Como era domingo, tomaram o café e às onze horas, Jeniffer convidou a amiga para ir para a piscina. Antes, Kátia tomou coragem e falou.
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- Jeniffer, antes eu gostaria de conversar com você sobre o meu problema. - Se você acha que pode dividir seu problema comigo, vamos para o meu quarto lá estaremos mais a vontade. Chegando ao quarto, ela fechou a porta para não serem interrompidas e, para quebrar o gelo, Kátia falou: - E ai amiga que grande problema é este que você não dormiu nada? -Bem, eu não sei nem como começar. Ontem, depois de ter ouvido a conversa de minha mãe no telefone com minha tia, eu recebi um telefonema de uma pessoa que não quis se identificar e disse que era adotada. Meus pais adotivos pegaram-me no orfanato quando eu tinha poucos meses de vida. Há amiga, isto é um trote. Deve ser uma pessoa invejosa, dessas que não pode ver ninguém feliz. Pode ser até uma das nossas colegas. Não se preocupe. Eles são seus pais verdadeiros, que a criaram, por sinal, com muito amor. - Veja, você ver alguma diferença entre você e seus dois irmãos? - Não, pelo contrário, eles me tratam até melhor. - E ai amiga, esquece este assunto. Vamos descer e aproveitar o sol, nossos amigos já estão chegando. Vamos terminar a comemoração do meu aniversário. Olha, não quero vê-la nem por um minuto triste. Marcos prometeu vir e você sabe que ele é louco por você. - Louco, e por que ele não se declara? Disse Jeniffer. - Quem sabe se não é hoje? - Mesmo assim Kátia, eu não quero compromisso sério. Eu fiz uma promessa de enquanto não terminar a faculdade não quero compromisso sério com ninguém. Se ele quiser, será namoro de adolescente. No máximo um beijo nas despedidas. Alegres, de mãos dadas, e rindo muito, as duas desceram e foram imediatamente, para a piscina. Lá, já estavam todos os convidados. Jeniffer mudou de fisionomia quando avistou Marcos, que logo se aproximou e ficaram na mesmo mesa. O dia transcorreu dentro da normalidade. À tardinha, Jeniffer perguntou a Kátia se ela queria que o motorista a levasse para casa, mas Marcos disse que estava de carro e a levaria. Muito felizes, saíram de mãos dadas. Jeniffer olhou e ficou também feliz. É o processo, ela pensou, tudo faz para da vida.
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À noite seus pais convidaram-na para jantar num restaurante, dizendo que noite era deles. Pois ela já tinha comemorado bastante com os amigos. Durante o jantar os pais deram-lhe mais um presente: um anel de brilhante, dando prova de seu grande amor. E ela mais uma vez teve certeza teria que esquecer o “processo”. A semana seguinte foi de paz e de muito estudo. As avaliações da quarta unidade começariam na semana seguinte. Assim ninguém se encontrou. Na quarta feira Kátia telefonou. - Kátia, recebi outro telefonema. A pessoa disse ter certeza que sou filha adotiva. -Calma Jeniffer, vamos conversar. Depois das aulas nós nos encontraremos ou na sua casa ou na minha. -Jeniffer eu prefiro em sua casa. Após as aulas as duas se encontraram e foram para casa de Jeniffer. - Primeiro vamos almoçar, depois conversaremos. Após o almoço elas foram para o quarto de Jeniffer e foram logo conversando. - Jeniffer a pessoa que telefonou era um homem ou uma mulher? -A voz era de mulher. Disse Jeniffer. - E o que você pretende fazer? Vai conversar com a sua mãe? -Não. De maneira nenhuma. Ela é a minha verdadeira mãe. Foi ela quem me criou e esse telefonema não representa nada em relação com os pais. Eu os amo e ponto final. -E o que vamos fazer? Você quer saber quem é a sua mãe, se isto for verdade? Perguntou Kátia. - Querer eu não quero, mas eu estou sendo obrigada a descobrir. Porém eu quero deixar bem claro que eu não quero que a minha mãe saiba de nada. - Então vamos devagar. Se ela telefonar novamente, você agradece e diz que não tem nenhum interesse em conhecer esta senhora que se diz ser a sua mãe. - E depois? Indagou Jeniffer. - Vamos pesquisar e descobrir a veracidade dessa história, mas para isto temos que arrumar um “aliado”. Pensou Kátia. -Mas quem? -O Marcos. Você acha que ele merece a nossa confiança? Até agora sim. Eu o conheço e eu sou sua confidente. Conheço toda sua vida.
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Sem pedir nada ele me conta tudo. -E qual seria a sua reação? Lembre-se que estamos começando a namorar? - Melhor ainda. Porque você demonstra total confiança nele e sua ajuda será de grande valor. -Vamos procurar ele. Como temos ainda duas provas, vamos deixar para o fim de semana. No sábado, eles se encontraram na piscina da casa de Jeniffer. Desta vez eles não convidaram nenhum outro colega. Queriam ficar a sós. O problema, como começar? Jeniffer tomou a iniciativa. -Marcos, estamos com um problema grande e só eu, Kátia e você tomaremos conhecimento. Confiamos plenamente em você. Queremos que você prometa, que aconteça o que acontecer, mesmo que haja o rompimento das nossas relações, este segredo será mantido. - Meu Deus, a coisa deve ser muito séria, claro que prometo e quanto ao nosso relacionamento, não vejo há a menor possibilidade de ser rompido. Mas de qualquer forma, continuem. - Marcos uma pessoa que não quer se identificar, vem telefonando para Jeniffer, dizendo que ela foi adotada, mesmo que isso não afete em nada na relação com os seus pais, ela quer saber a verdade, até porque esta pessoa vai continuar telefonando. -Não é muito difícil, Veja você tem o seu Registro Civil. Com o número e o nome do Cartório, podemos ter a primeira pista. - O registro eu não tenho. Mas na próxima semana teremos que atualizar nossos dados na faculdade e entre os documentos exigidos, está a cópia do Registro de Nascimento. - Bem, quando estiver de posse desse documento começaremos nossa investigação. Passados três dias, Kátia telefonou para Marcos e Jeniffer marcando uma reunião. À tarde se reuniram na sorveteria do bairro. Jeniffer levou a cópia do registro. - Para não chamar muito a atenção, eu vou sozinho, ao Cartório disse Marcos. A noite foi para casa de Kátia, estava desanimado. - A visita não foi muito proveitosa. O Cartório apenas informou que o registro foi feito pelos seus pais e que não tinha nada de anormal.
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Mesmo assim, Marcos conseguiu algumas informações, como por exemplo, o Noé dos três orfanatos que recebiam crianças para adoção. Acertou com Kátia e Jeniffer que no dia seguinte iria procurar nos orfanatos. Elas queriam ir, mas foram desaconselhadas. Como havia acertado, no dia seguinte, Marcos visitou os três orfanatos. As informações eram vagas e raras e além de tudo imprevistas. Entretanto no último surgiu uma tênue esperança. “Na semana em que houve o registro civil de Jeniffer, um orfanato recebeu três recém-nascidos, duas meninas que foram entregues na mesma semana”. E quem eram os doadores e os receptores? Isto a direção do orfanato disse que é proibido revelar. Já ia embora, quando avistou no portão um funcionário que tinha uma idade avançada e Marcos se dirigiu para ele: -O senhor faz muito tempo que trabalha aqui? - Sim moço, faz mais de trinta anos. Disse o funcionário que já era um senhor. - É que eu estou com um problema, e contou toda a história. - Moço. Sei que o que vou fazer é errado. Posso até perder o emprego. Mas eu vou ajudar. Até porque eu, como essa moça, também fui adotado e nunca descobri quem eram os meus pais. -Venha daqui a três dias que eu vou tentar descobrir algumas coisas. Animado, foi para casa de Jeniffer contar a novidade. Telefonaram para Kátia e ficaram aguardando os acontecimentos. No dia combinado Marcos foi ao orfanato, dispensou Kátia e Jeniffer que queriam ir, mas ele teve medo de assustar o seu informante e foi sozinho. Não entrou, ficou por perto. Nisto apareceu o empregado, sempre olhando para os lados, aproximou-se de Marcos e conversou: - Tome este envelope. Tudo o que você quer está escrito. Só peço um favor: Você nunca me viu. Não me conhece e nem prestei este favor. Falta menos de um ano para me aposentar e eu não posso perder este emprego. -Pode deixar nada será revelado. Eu não quero nem saber o seu nome. Mesmo assim muito obrigado. Mário não abriu o envelope, foi para a casa de Jeniffer como haviam combinado.
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A CARTA Ao abrir o envelope havia uma carta. Não tinha remetente nem destinatários, nessa estava escrito: No dia 12 de março de 1990, Maria Clara da Silva, veio para o orfanato porque estava grávida e vivia perambulando pela cidade, vivendo de esmola, contou na ocasião uma história triste. Ela namorava um rapaz (não quis dizer o nome) e descobriu que estava grávida. Quando o namorado soube acabou o namoro e desapareceu. Sua família só descobriu três meses depois, era filha de pais tradicionais, que não aceitavam nenhum deslize, expulsou-a de casa. Ela procurou ajuda com as tias, mas elas alegando que não queria confusão com os pais dela, não a ajudaram. E ela passou a perambular pelas ruas, pedindo esmolas e dormindo nos bancos das praças. Quando estava prestes a dar a luz procurou um orfanato e ficou lá por alguns dias depois, deu a luz a uma linda menina, já que a mãe era uma garota muito bonita. Infelizmente, ela estava muita fraca, e passado três dias do parto, ela faleceu. Como não apareceu ninguém da família para reclamar o corpo, ela foi enterrada como indigente, além disso, não apareceu nenhuma pessoa para tomar conta da criança. A direção do orfanato procurou na lesta de pessoas escritas para receber crianças recém nascida, ela foi doada a uma família que não deixou o seu nome. Quando Jeniffer terminou de lê a carta estavam todos chorando.
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Pegou a carta e disse que ia para casa. Chegando correu e aos prantos abraçando a mãe, pediu perdão e contou toda a história. Quando acabou, ainda abraçada à mãe falou: - Você sabe por que eu nunca falei e nem iria falar? Porque você é minha filha e porque sua mãe antes de morrer pediu as irmãs do orfanato para não dizer nada, a ninguém, sobre sua vida. Ela estava muito revoltada com a família e em homenagem a sua mãe, eu queria que isto fosse um segredo só nosso. - De acordo mamãe. Dias depois Jeniffer recebeu outro telefonema. Desta vez ela reagiu: - Sei que sou adotada. Minha mãe conversou comigo e contou toda a história. Peço por favor, que não volte a telefonar. O que queria conseguiu, eu tenho duas mães que me amam e que as amo. Muito obrigado pelos telefonemas. Parecia que tudo voltava ao normal, principalmente para Jeniffer. Mas havia o processo, que não saia da cabeça dela. No domingo, estavam todos na piscina quando Jeniffer teve uma ideia. Após o almoço foram para o seu quarto. - E por onde quer começar? - Eu peço apenas que vocês preservem o nosso segredo, pois prefiro morrer a ter que magoar meus pais. - Olhe. Falou Marcos: existe um processo, não é? Como eu tenho que ir à Belém, resolver problemas da filial da empresa do meu pai, posso fazer uma investigação. - E por onde você vai começar? Perguntou Jeniffer. - Primeiro vou procurar nos principais jornais, se foi publicado alguma coisa, nos meses que precederam o seu nascimento. Depois eu determinarei o rumo a tomar. Assim Marcos viajou para Belém do Pará. A família sabia de sua viagem, Aos amigos e colegas da Faculdade, disse que iria a Região Norte, conhecer esta região do Brasil. Assim para não causar suspeita, já que havia prometido que o sigilo seria total, mandou fotografias da região para os colegas e seus familiares. Em Belém, procurou a redação do Jornal do Para, que era o mais lido e o mais vendido, falou com o diretor, alegando que estava fazendo uma pesquisa sobre o crescimento do Estado nos últimos 25 anos, apresentou sua carteira de estudante,
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comprovando que era universitário. Mesmo assim, o diretor queria saber se a pesquisa seria publicada em algum órgão da imprensa. - O objetivo da pesquisa é incluir na monografia do meu curso de graduação. Estou visitando este, que é o maior jornal do estado, depois completarei visitando outros jornais menores. Só poderei dar esta resposta, depois de concluir o curso. E por que os últimos vinte cinco anos? Perguntou curioso o diretor do jornal. É porque em todas as pesquisas tem que ter uma data, que servirá como paramento, além de tudo eu tenho até o dia vinte de dezembro para apresentar o trabalho. - Estou gostando. Acho que o seu trabalho vai ser muito bom. Vou autorizar a sua pesquisa. Amanhã procure o Sr. Arlindo. No outro dia Marcos começou a procurar: Começou com o ano 1988, sabia que era proforma, pois ele queria mesmo era os anos 1993 e 1994, ano de nascimento e o que precedeu o nascimento de Jeniffer. Assim, dois primeiros dias foram só enganação. No ano de 1993, ele procurou com detalhes e no dia 22 de julho de 1992, havia uma pequena reportagem sobre o assunto:
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SEQUESTRO NA MATERNIDADE Carlos Antônio Rodrigues compareceu no dia de ontem a Delegacia de Polícia do 3º Distrito, para dar queixa que sua filha de apenas dois dias de vida, foi sequestrada de dentro da Maternidade Santa Joana, localizada na Av. Nossa Senhora de Nazaré, nesta cidade. Segundo o delegado, Dr. Emmanuel Torres, não há nenhuma pista, mas que as investigações vão continuar. No dia de hoje, ele vai ouvir as três enfermeiras que estavam de Platão. Ouvida pelo Delegado, Ana Clara, sua mãe, informou que a sua filha passava o dia com ela, mas a noite ela dormia no berçário com as outras crianças. Como pela manhã a enfermeira não havia trazida a filha para a amamentação, ela procurou uma enfermeira e foi informado que a criança havia desaparecido. Inconformada com o descaso do corpo administrativo do Hospital Maternidade assinou um Boletim de Ocorrência. Marcos copiou toda a reportagem. Só não pode tirar cópia, o diretor não permite saída de jornais do arquivo, mesmo assim, pediu permissão para continuar com a pesquisa no dia seguinte, no que foi atendido. A noite telefonou para Kátia e contou a sua missão do dia. Pediu para ela não dizer que a garota raptada era a Jeniffer. No outro dia Marcos chegou cedo a redação do jornal. Procurou os jornais dos dias 26, 27, 28, 29,30 de dezembro. Todos faziam refe-
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rência ao sequestro. O do dia 26 relatava que apesar dos esforços da polícia, não havia nenhuma pista. Todos os funcionários que estavam no plantão daquele dia, foram interrogados e nada. Ninguém viu nem ouviu nada. Nos dias seguintes as notícias foram diminuindo até desaparecer completamente do noticiário. Marcos ainda passou dois dias frequentando o jornal em busca de notícias, mas nada foi publicado. Conversando com um funcionário antigo do jornal, sobre o sequestro, ele deu mais algumas informações, mas pediu para não revelar o seu nome. Pelo que o informante falou, o sequestro foi coisa de gente grande, gente rica. Pois a imprensa quase não notificou, só o fez por que a mãe lesada assinou um Boletim de Ocorrência, mesmo assim, ela procurou a imprensa mais nunca foi ouvida. A direção do hospital pediu desculpas pelo ocorrido e pediu aos funcionários para não falar mais sobre o assunto, ele não queria que o hospital perdesse a credibilidade, já havia desaparecido outra criança meses atrás. E a mãe da criança? Perguntou Marcos. A mãe ainda passou alguns dias interna para se restabelecer. Agora, quem vinha sempre aqui era o pai. Nunca perguntava pela mãe. Parece que ele só queria a criança. Segundo comentários, para que ela não levasse o caso adiante, a direção do hospital deu-lhe algum dinheiro e ela desapareceu . Amigo, você despertou a minha curiosidade, vim aqui fazer uma pesquisa sobre o desenvolvimento da região, sem querer encontrei a reportagem sobre o roubo de uma criança, e como eu sei que não houve fim, estou para descobrir onde estar esta garota, sua mãe e também o seu pai. Você tem notícia do paradeiro deles? - Não pelo que sei a garota desapareceu nunca se soube para onde ela foi. A mãe que não se sabe o seu nome real, já que ela no hospital deu um nome, na delegacia o pai da criança deu outro nome, como também, não se sabe o nome dele. Assim fica muito difícil. - E é verdade que houve sequestro? Perguntou Marcos. - Olhe, são passados 20 anos. No início, falou-se em sequestro, mas também falou-se em venda, foram fatos comentados naquela época. Porém este assunto esgotou-se muito rapidamente, uma ou duas semanas ninguém falava mais a respeito, até a mãe, uma garota de pouco mais de 17 anos, desapareceu. É tudo o que eu sei meu jovem.
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- Veja, se eu descubro o paradeiro dessa jovem mãe, do pai da garota e da própria garota, mudarei o tema da minha pesquisa, e se eu promovo o encontro dos três seria a coisa mais maravilhosa que eu poderia fazer. - É difícil meu jovem. Quase impossível, já se passaram todos estes anos. Além disso, o tempo que ela passou no hospital, não apareceu um só parente e, como eu disse, ela desapareceu e nuca mais voltou. O tempo havia esgotado ele teria que voltar. Não havia conseguido equacionar o problema, mas tinhas notícias para serem discutidas. Quando chegou telefonou para Kátia, marcando uma reunião com as duas, no final da aula de amanhã. À noite foi para casa de Kátia, mas não tocou no assunto, assistiram a um filme e depois ele foi para casa. No outro dia, encontraram-se na sorveteria, onde sempre se encontravam. Marcos contou tudo que havia conseguido, lamentou ter voltado sem conseguir desvendar todo o mistério, mas o que descobriu era suficiente para aconselhar Jeniffer a esquecer do passado, não era bom ele ser desvendado. Ela tinha uma família maravilhosa, que poderia está vivendo muito bem na sua cidade natal e, talvez para protegê-la, tinha abandonado tudo, tendo que recomeçar uma nova vida longe dos seus familiares e amigos. Marcos esperou que Jeniffer lesse um relatório que ele preparou, e quando ela terminou ele falou: - Como é minha amiga? Vamos formar um pacto e não falar mais nesse assunto. Vamos esquecer tudo? Kátia que também era adotada completou: Nós tivemos sorte termos sido adotadas por familiares que tinham amor e nos deram um tratamento às vezes melhor que se fossemos filhas legítimos. - Acho que vocês têm razão. Se houver um fato novo e importante é que se deve voltar ao assunto. Concordo com Jeniffer, que este segredo permaneça inviolável e que fique somente para as pessoas envolvidas. Realmente aconteceu. Nenhum dos três tocou mais no assunto. Dois anos se passaram Marcos continuava seu namoro firme, esperavam apenas o fim dos estudos para se casarem. No último ano de faculdade Jeniffer surpreendeu os pais, quando pediu para falar com eles. É que havia se enamorando de um colega de turma e pediu permissão para namorar. Ela havia se dedicado unica-
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mente aos estudos e já estava com 20 anos e achava que estava na hora de namorar, tivera algumas paqueras, mas nada sério. Os pais imediatamente concordaram. Pediram apenas para conhecer o namorado e acordaram de fazer juntos uma jantar para as apresentações. Jeniffer para não contrariá-los concordou, mas pediu permissão para convidar Maria, Karla, Nicole e Marcos. No dia seguinte, Jeniffer convidou Kleiton, seu namorado e suas colegas e não poderia faltar à presença de Marcos, todos concordaram menos Nicole que alegou está passando por um problema sério: os pais depois de 23 anos de casados, estavam se separando. Como sempre acontecia, Jeniffer, convidou Nicole para uma reunião, deveriam comparecer também as duas amigas e Marcos. Mais tarde se encontraram na casa de Jeniffer, sempre lá porque era um local sossegado e ninguém iria incomodá-los e as empregadas guardavam discrição. Jeniffer começou a falar: -Nicole, não sei até que ponto podemos ajudar, mas pode contar com o nosso apoio e se você quiser contar o que está acontecendo, pode fazê-lo. Seja o que for o segredo guardaremos como se fosse nosso. - Eu não sei como começar. Só sei que a minha mãe está desconfiada que meu pai está tendo um caso. Não sei com quem, nem o tempo que faz. Tudo começou quando papai começou a chegar tarde para o jantar. Se antes chegava às dezenove horas passou a chegar entre vinte e vinte e uma horas. E quando mamãe pergunta onde ele estava, vem com evasivas às vezes alega que foi o trânsito outras, o trabalho ela sempre vai a empresa e é informada que ele já saiu ou saiu mais cedo. Na verdade no começo era um ou dos dias por semana. Agora são todos os dias da semana. Como meu pai não gosta de falar nem de discutir, sobe para o seu quarto e vai dormir mesmo sem jantar. Estou vendo a separação e não posso fazer nada. Marcos adiantou-se e falou: vamos tentar descobrir. - Eu tenho uma ideia. Vamos esperar o pai de Nicole na saída da loja e o seguiremos. Eu concordo. Disse Nicole, mas acontece que papai conhece todos nós e se descobre que está sendo seguido, criará um problema bem pior do que o que já existe.
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Temos uma solução, mas teremos que envolver outra pessoa. - Quem? Perguntou Jeniffer. - Kleiton disse Kátia. Como o namoro de vocês é recente o pai de Nicolas ainda não conhece Kleiton. - Resta saber se ele topa. Jeniffer se encarregaria de fazer o convite. Jeniffer conversou à noite com Kleiton que depois de ouvir toda a história concordou em participar, mesmo porque era um pedido dela. No outro dia se encontraram desta feita com a presença de Kleiton. E ficou acertado que no outro dia Mario levaria Kleiton para perto da empresa para que ele conhecesse o pai de Nicole. E assim foi feito logo combinaram que no outro dia Kleiton iria sozinho e o seguiria para descobrir para onde Sr. Emmanuel ia. Perto das seis horas Kleiton encostou seu carro perto da empresa e ficou esperando. Logo em seguida, Sr. Emmanuel saiu de carro. Kleiton começou a segui-lo. Andaram por algumas ruas SR. Emmanuel estacionou o carro em frente a um grande hospital. Uma hora depois, ele saiu. Kleiton foi para a casa de Jeniffer contou o que viu. Animado disse que no outro dia ia adotar o mesmo sistema. Mesmo assim, ficaram duas perguntas: ele está doente? Ou seu caso é alguma enfermeira? Ou ainda alguma médica? Jeniffer telefonou para Nicolas, depois de contar da missão de Kleiton, perguntou se havia alguém doente na família. A resposta foi negativa. No dia seguinte Kleiton vez o mesmo percurso, seguindo Sr. Emmanuel. O resultado foi o mesmo. No terceiro dia, Kleiton tomou uma decisão; seguiu o Sr. Emmanuel até dentro do hospital, e viu que ele entrou no apartamento 101, passou sessenta minutos e foi para casa, de lá telefonou para a casa de Jeniffer e contou a novidade, ela falou por telefone com Nicolas. No outro dia se reuniram na sorveteria e ficou acertado que a missão de saber quem era a paciente, cabia a Marcos. Neste mesmo dia ele foi ao hospital, perambulou pelos corredores até encontrar uma pessoa que lhes desse umas informações e não foi muito difícil, inventou uma boa história de conseguiu. Era uma moça de 23 anos, chamava-se Carmem Alves Coimbra e estava para ter alta. Havia submetido à delicada cirurgia e receberia
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altas nestes dias. Mário usou o celular e comunicou a Kátia novidade e pediu para ela marcar uma reunião, na sorveteria. Quando todos chegaram, Mário contou a novidade: - A jovem que está interna ter 23 anos, foi operada há cerca de 15 dias recebeu duas pontes de safenas e deve receber alta nos próximos três dias. - Seu nome? Perguntou Nicole. - Não é possível, disse Nicole, tem o meu sobrenome. Será, meu Deus o que estou pensando? - Não sei Nicole. Mas é muita coincidência. - Bem meus amigos. Muito obrigado pelo que fizeram, mas se é o que estou pensando, à noite vou ter uma conversa com papai. À noite quando o pai chegou, tomou banho e o seu escritório onde deveria trabalhar por duas ou três horas, como fazia duas vezes por semana. Mas foi interrompido por Nicole: - Pai, por favor, eu quero com o senhor. - Fale - Não é fácil o que eu tenho para falar - Comece então, filho. - Eu já sei da moça do hospital - Eu sabia que isto iria acontecer. Por isto me deixe falar. Apenas escute. Antes de me casar com a sua mãe eu tive uma namorada, que teria me casado com ela se ela não tivesse desaparecido. Simplesmente, mudou-se. Deixou o emprego em não deixou endereço. Eu só sabia que ela morava só. - Por favor, pai, eu vou chamar minha mãe. Ela precisa conhecer esta história, para acabar de uma vez por toda com esse drama. - E se ela não aceitar? - Bem, de todo jeito você estão se separando. Nicole demorou para convencer sua mãe, mas ela veio. Sr. Emmanuel começou a falar e não parou mais: - Como havia dito, antes de namorar e casar com a sua mãe, eu tive outra namorada que como disse, desapareceu, procurei esquecê-la, casei com poucos dias de namoro com a sua mãe e fui feliz, até que há pouco mais de três meses, apareceu na empresa uma jovem de sua idade e contou-me sua história. Era filha de Anita, minha antiga namo-
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rada e ela disse-me que era minha filha e que sua mãe havia morrido, mas antes de morreu contou a sua história, pediu também que ela se me procurasse se houvesse uma necessidade extrema. Não sei por que, mas acreditei na garota, porque havia passados quatro anos da morte da mãe e só agora ela me procurou. E só o fez porque ela estava precisando. Ela estava sofrendo de uma doença cardíaca e precisava implantar duas pontes de safenas e no seu emprego não tinha carteira assinada e pediu-me uma ajuda, com a promessa de repor todo dinheiro que eu gastasse. Disse-me também que se eu quisesse, faria o teste de DNA, como também reafirmou que não estava atrás de bens, herança, nada, só queria ter o direito de viver. No outro dia, marquei um encontro com ela e fomos ao hospital onde ela fez todos os exames e constatou a necessidade de operar. Ela passou alguns dias em observação, após este período, ela foi operada, como haviam dito, os médicos disseram-me que a cirurgia foi de alto risco e ela precisava ficar interna por um longo período e deve receber alta esta semana. Foi este motivo pelo qual eu chegava tarde todos os dias, era o único momento que eu tinha de visitá-la e ela como não tem parentes eu ficava mais tempo com ela. E para não perder minha família eu preferi esconder. - Se você tivesse me contado tudo isso, garanto que eu iria compreender e ajudar no que fosse possível, disse a mãe. - Você ajudaria mãe? E se eu pedisse para que a gente a acolhesse em nossa casa, já que é sozinha você concordaria? - Claro minha filha, o amor que tenho por seu pai é insuperável. Se ele concordar eu aceito. Agora sai que eu preciso conversar com o seu pai. O certo é que passaram mais de duas horas conversando Quando ela saiu, procurou conversar com Nicolas. - Eu e seu pai concordamos em trazer sua irmã para casa. Ela vai inicialmente passar os dias conosco. Depois ela vai decidir se quer ficar. Peço apenas que você não fosse. A decisão deve ser dela. - Eu posso visitá-la amanhã? - Não primeiro seu pai vai conversa com ela depois você pode visitá-la. Pela manhã Sr. Emmanuel , antes de ir para a empresa foi ao hospital e conversou com Carmem. E quando ia saindo estavam na porta
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do hospital: Kátia, Jeniffer, Marcos e Kleiton. - Como é podemos conhecer minha irmã? - Vamos vou levar vocês. E é preciso vir todo mundo? - Sim pai foram eles que me ajudaram a encontrar minha irmã. - Todos entraram o pai fez a apresentação e quando viu que estava demais, resolver ir, sem antes recomendar a Nicolas que Carmem ainda não podia fazer muito esforço. Nicole apresentou-se e apresentou os amigos. Como eram quase todos da mesma idade, foi fácil o diálogo. Carmem queria saber como foi a descoberta. Nicole não escondeu nada, inclusive a suspeita de sua mãe, pensando que o pai tinha uma amante. Graças a Deus, tudo foi resolvido e quatro dias depois Carmem foi para a sua nova casa. Por sugestão de Nicolas elas ficaram no mesmo quarto No sábado houve a festa de Jeniffer todos os convidados estavam presentes, faltou por motivo obvio Carmem, assim estavam reunidos, Kátia, Jeniffer, Maria Eduarda, Nicole, Marcos e Kleiton e como novidade, Felipe, médico do hospital, agora namorado de Nicole, que de tanto se encontrarem nas alas do hospital, terminaram se declarando, e estavam muito felizes. Duas três horas depois Felipe despediu-se, ia assumir o plantão no hospital, deixando Nicole com os amigos. No finalzinho da festa, ficou além dos familiares, Jeniffer e suas três amigas, um dos tios de Jeniffer que havia bebido um pouco mais, em dado momento, pediu para fazer um brinde, não para Nicole e sim para seus pais, dizendo que aquele momento representava o fim de uma agonia, de um pesadelo vivido por toda a família por mais de vinte anos, dizendo ele que o crime prescrevera e eles podiam visitar seus familiares e seus amigos, na sua cidade. Os pais de Jeniffer ficaram atônitos, esperando o pior, mas não aconteceu. Logo em seguida levou a taça aos lábios e sorveu o líquido seguido por todos. Mas ficou o MAL estar. Que crime praticara o casal? Por que eles foram obrigados a passar mais de vinte anos sem visitar sua terra natal? E por que o tio aproveitou a oportunidade para fazer esta revelação? Francisco e sua esposa, ainda transtornados conversaram em particular: - Chegou o dia. Não podemos mais esconder de Jeniffer.
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- O que vai acontecer? Perguntou a esposa. - Aconteça o que acontecer. Nós temos a consciência tranquila. Não cometemos nenhum crime. O que fizemos foi defender a nossa filha. A festa terminou. Todos se dirigiram para os seus quarto, as amigas sentindo o clima, resolveram ir para casa. Carlos e Francisco pediram a Jeniffer que não fosse dormir ainda, pois queriam conversar com ela. Foram para o quarto do casal e antes que os pais começassem a falar Jeniffer pediu para começar: - Antes que vocês digam qualquer coisa, quero que vocês saibam que eu sei que fui adotada e depois desta descoberta eu passei a amá -los muito mais, e mais ainda se querem saber, nada mudou meus sentimentos em relação a vocês que os amo e continuarei a amá-los seja qual for a revelação desta conversa. Os pais respiraram aliviados e ficou fácil contar o segredo guardado por mais de vinte anos. O pai de Jeniffer começou a contar o tal segredo: - Todo casal quando se casa que ter filhos. Conosco não foi diferente, projetamos ter dois filhos. Mas o tempo foi passando e Carla Anne não engravidava, procuramos um ginecologista e depois de muitos exames, o médico nos deu a triste notícia: por motivo hormonal sua mãe não poderia engravidar. Houve uma verdadeira reviravolta em nossas vidas, sua mãe se culpava e entrou numa grande crise depressiva. - Passaram alguns meses e ela aos pouco foi voltando ao normal. Nisto eu tive uma ideia. - E se adotássemos uma criança? Ela a principio relutou, mas a ideia foi amadurecendo e finalmente ela concordou. - Dias depois procuramos uma casa de adoção. Lá fomos bem recebidos Havia várias crianças, mas a nossa não estava lá ainda. É que queríamos uma criança recém-nascida, para criá-la sem vício, na nossa religião a nossa imagem. Fomos informados que não era fácil, mas assim, pediram os nossos nomes, endereço e telefone, para contato. Muitos tristes, começamos a sair, quando fomos abordados por um dos funcionários: - Senhor eu gostaria de conversar com o senhor e a senhora. - Bem pode falar.
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- Não. Aqui não. Se o senhor puder pode me pegar às dezoito horas, neste mesmo local. Concordamos e neste horário, pegamos o Alfredo, este foi o nome que ele nos deu, e fomos conversar num banco de uma praça afastado da casa de adoção. Alfredo contou a história de uma jovem que teve um relacionamento com um com um jovem na mesma idade dela engravidou. Os pais ao tomarem conhecimento, ficaram irritados, movidos pelo preconceito de ter uma filha, mãe solteira, expulsou-a de casa. Ela passou a perambular pelas ruas dormindo nos bancos das praças e se alimentando do que conseguia, como esmola, até que uma instituição filantrópica a acolheu e ela está hospedada. Eu a conheço, pois tenho ajudado no que me é possível. Ela não quer a criança porque não pode criar, mal arranja o que comer. Se os senhores se comprometerem de ajudar a esta jovem, eu consigo o bebe para vocês. Eu tenho uma ideia, não sei se os senhores vão concordar, mas para evitar futuros aborrecimentos, seria bom que vocês não a conhecesse, nem tivesse contato com ela. Se vocês quiserem conhecê-la de longe, eu os levares até lá, mas não se aproximem. E assim foi. Olhamos a distância e vimos uma jovem muito bonita. Imediatamente, sua mãe concordou. - Eu disse para o Alfredo, veja quanto é preciso a contribuição mensal e aproveito para fazer uma promessa: no dia que a criança nascer, eu darei a ela cinquenta mil cruzeiros para ela recomeçar uma vida nova e para você darei vinte mil cruzeiros. Muito animado, Alfredo concordou com tudo e para provar a minha confiança, dei ao Alfredo dez mil cruzeiros e para a entidade cinco mil. Os meses passaram rapidamente e grande era nosso anseio. Finalmente Alfredo veio comunicar que a criança nascera, era uma linda e saudável menina. Alegre com a notícia, passei dois cheques nos valores combinados para ela e para o Alfredo. Três dias depois, Alfredo chegou lá em casa com uma linda criança anos braços, mas veio com uma péssima notícia: - Pronto Sr. Francisco, como eu prometi, aqui está à criança, também os documentos de adoção. Só tem uma coisa, o Sr. tem que passar alguns dias fora da cidade, pois eu descobri a tempo, que o pai da
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criança, havia vendido a mesma para um casal de alemães que estavam prestes a viajar com ela para a Alemanha, por isto eu não quis esperar mais. Selma, a mãe da criança, entregou-me pedindo que vocês saíssem da cidade, pois Pedro o pai da criança já havia recebido o dinheiro da venda e queria que eu a entregasse ainda hoje. Neste mesmo dia, fiz uma reunião com a família, entreguei a Gilson, meu irmão a gerência da empresa e nos mudamos para o Rio de Janeiro, onde pretendíamos passar alguns meses, mas Gilson telefonou e nos avisou que Pedro havia ido à polícia e fez uma denúncia alegando no Boletim de ocorrência, que a filha havia sido sequestrada do hospital. Esse assunto foi notícia em todos os jornais da capital. Foi por isto que resolvemos abrir uma empresa aqui e nos estabelecemos. Como ontem completou 20 anos do ocorrido, e segundo as leis brasileiras prescreveu-se, estamos te contando esperando que você nos perdoe e ao mesmo tempo damos todos os direitos para você tomar qualquer decisão. - E minha mãe tem notícia? Perguntou Jeniffer. - Sim. Sua mãe morreu quatro anos depois que você nasceu. Ela está enterrada num cemitério de Belém, onde compramos um túmulo e a colocamos. - Agora eu posso falar? Disse Jeniffer. - Parte desta história eu conheço. Descobrir há mais de dois anos, quando tia Eulália perguntou a minha mãe por mim, chamando-me de adotada. Pedi a um colega que fosse à Belém fazer uma pesquisa sobre o meu passado. Ele descobriu muitas coisas, só faltaram os detalhes inclusive “a minha importância” fui vendida duas vezes, não descobriu o paradeiro de minha mãe, pai pelo que fiquei sabendo, eu não o tive e nem quero saber dele, pois sempre considerei vocês os meus verdadeiros pais e, se antes os amava, agora sabendo do sacrifício que vocês fizeram, deixando seus familiares para preservar minha vida num lar onde só tive amor e compreensão agora eu os adoro. Venham aqui e me deem um forte abraço! Pai é aquele que cria. Amo vocês.
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