ANO III - Nº 9 MAI / JUN 2009
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EDITORIAL
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nossa equipe que, por vinte anos, se dirigiu preferencialmente ao mundo cristãocatólico, sentiu-se chamada a abrir novos horizontes e a abraçar um público mais amplo e diversificado. Não se trata apenas de um efeito da globalização, pois as diversas tradições culturais e religiosas e a maioria delas milenares, saindo de seus tradicionais territórios, vieram apresentando e partilhando ao mundo inteiro suas características e suas riquezas. Isso provocou uma grande revolução na convivência dos diversos povos e dos próprios indivíduos, que sentiram a necessidade de dialogar com o diferente. Surgiu, assim, a necessidade de um maior conhecimento mútuo e de um intercâmbio de experiências e de valores, pois descobriu-se claramente que isso enriquece a todos! A convivência humana precisou quebrar certos paradigmas que pareciam indispensáveis para
manter a unidade e a solidez de um povo. A partir dessa nova realidade, a equipe de O TRANSCENDENTE está agindo para que o amor, no sentido mais aberto e autêntico, consiga superar preconceitos enraizados e construa uma sociedade mais tolerante e pacífica. Embora pareça que se multipliquem as causas que impedem que a caminhada da paz avance mais rapidamente, a construção de uma sociedade mais tolerante e pacífica se tornou a maior aspiração da humanidade. No entanto, há ainda um abismo muito grande entre o que se escreve ou se proclama e o que, de fato, se vive: quanto mais se fala de paz, mais ela foge do horizonte de nossas vidas. Até que persistam o ódio, a inveja e os preconceitos, não germinará a planta delicadíssima da paz. Diversas são as instituições chamadas a contribuir na construção da paz universal, mas, a meu ver, três delas ainda se sobressaem: a família, a escola e as igrejas.
A FAMÍLIA
A ESCOLA
Ela é a célula-mãe da sociedade para a educação e a formação cidadã de seus indivíduos. Pena que certos setores da sociedade, particularmente os poderosos meios de comunicação, não ajudem a família em sua missão.
Sua ação praticamente abrange a todos os jovens cidadãos. Nesse importante trabalho educativo, todas as disciplinas são importantes, mas me permito destacar o Ensino Religioso, que, se bem entendido, pode contribuir muito no diálogo e na tolerância em nossas estruturas sociais e religiosas.
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a África, ainda hoje, as pessoas se comunicam através de tambores, pois o seu som pode ser ouvido há quilômetros. Os tambores também servem para convocar a comunidade para as reuniões. E, sem eles, não há celebração. Nesse continente, os tchreman, “os tambores que falam”, mais do que emitir sons, eles podem “pronunciar” palavras e “contar” histórias. É ao som dos tambores que as pessoas são educadas e as tradições são mantidas. No Brasil, temos o atabaque, que é o objeto sagrado usado em quase todos os rituais afro-brasileiros. Eles são empregados para invocar os Orixás. É o som do couro e da madeira vibrando que trazem os Orixás, que trazem o Axé, que trazem a vida. Para além dos terreiros e barracões, os atabaques, os afoxés, os tambores e os berimbaus animam as festas, as danças, marcam o ritmo e transmitem a alegria. É a voz, é a vibração, é o som que ecoa, afastando os preconceitos e aproximando as pessoas.
Voce pode adquirir o jornal O TRANSCENDENTE através de: cheque nominal, Vale Postal, depósito e boleto, o jornal “O TRANSCENDENTE” dispõe também da opção de compra utilizando os cartões de crédito VISA e MASTERCARD.
As IGREJAS
Seu poder de influência é enorme. As religiões produziram homens excepcionais, mas a elas atribuem-se também as causas de guerras e de graves desentendimentos entre os povos. Daí a grande preocupação atual com o ecumenismo e o diálogo entre as Igrejas. As três realidades são bem diferentes, mas todas elas, embora em níveis diferentes, perseguem o mesmo objetivo. Logicamente, elas nunca devem agir isoladamente ou até com propostas contrapostas que distraiam ou prejudiquem a educação das jovens gerações. Podemos assim acreditar que seria absolutamente impossível realizar uma autêntica educação sem a participação das três e, preferencialmente, de forma integrada. Como pensar uma escola, cujo corpo docente pensasse e decidisse educar sem a participação das famílias e das Igrejas? O seu esforço seria destinado a fracassar! Diferente seria se, unindo as forças, num diálogo franco, sincero e permanente, as três entidades trabalhassem perseguindo o mesmo objetivo: Educar para a vida. Mas como realizar essa colaboração efetiva se cada uma delas, por falta de um maior conheci-
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mento mútuo, não se livrar de certos preconceitos? Destaco isso porque ao lançarmos as diversas edições sobre as diferentes religiões, não faltaram reações e vozes discordantes, mostrando claramente a existência, em pleno século XXI, de preconceitos e de medos que os conteúdos apresentados, em nosso meio tradicionalmente cristão, pudessem prejudicar aquelas convicções que os nossos pais nos deixaram como herança. A equipe de O TRANSCENDENTE conclama a todos os professores, particularmente os de ER, a se preocuparem com a construção de uma cultura de paz, cujo caminho deve passar pelo respeito, pela solidariedade entre todas as raças e religiões, pela aceitação das diferenças, pela escuta e entendimento mútuo, sem assumir um ar de superioridade. A paz não consiste apenas na ausência de guerra, mas no esforço constante para a construção de uma fraternidade universal onde o amor seja o grande vencedor. Bem dizia Antoine de Saint-Exupery: “Se queremos um mundo de paz e de justiça, temos que pôr decididamente a inteligência ao serviço do amor”.
Você que é professor de Ensino Religioso e interessado em conhecer o mundo fantástico das culturas e religiões dos povos, assine o jornal O TRANSCENDENTE! As suas atividades ficarão muito mais interessantes! ASSINATURA COLETIVA: Confira o CUPOM na página 11. Ou através do site:
Jornal bimestral de Ensino Religioso pertencente ao PIME Registrado no Cartório de Registro Civil de Títulos e Documentos de Pessoas Jurídicas de Florianópolis sob o nº 13 Diretor: Pe. Paulo De Coppi - P.I.M.E. Jornalista Resp.: Yriam Fávero - Reg. DRT/SC nº 800 Redator: Sandro Liesch Diagramação: Fábio Furtado Leite
Endereço DO JORNAL “O TRANSCENDENTE”: SEDE: Av. Hercílio Luz, 1079 - Servidão Missão Jovem PARA CORRESPONDÊNCIA: Cx. Postal 3211 / 88010-970 / Florianópolis / SC FONE: (48) 3222-9572 / FAX-automático: (48) 3222-9967
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O ENSINO RELIGIOSO
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o decorrer deste ano, apresentaremos a crítica feita à religião no decorrer da história, até chegar ao ateísmo contemporâneo. Livros de cientistas atuais causaram polêmica por fundamentar o ateísmo. Este assunto merece uma reflexão mais aprofundada. Os assuntos que desenvolvemos integram a Filosofia da Religião. Em todas as épocas e civilizações, a religião foi algo de críticas. Na Idade Antiga, as críticas era mais sobre os abusos e deformações da religião, como o politeísmo e as superstições. Na Idade Moderna, a crítica é feita à religião em si, à sua natureza, às suas funções e ao seu valor. Na História da Filosofia, a Idade Moderna é chamada de “época da crítica”, pois há a prevalência da razão sobre tudo. A razão adquire a sua maturidade e autonomia em relação à fé e à revelação. Nesta época, há três fases distintas na crítica à religião: a iluminista, a positivista e a hermenêutica. Examinemos sinteticamente cada uma destas fases com os seus principais representantes.
A CRÍTICA DO ILUMINISMO
Estamos no século XVIII. O iluminismo caracteriza-se pela afirmação da razão, capaz de vencer as trevas do desconhecido e do mistério. A razão pode iluminar e instruir os homens. Há um enfrentamento explícito com a Igreja. Tenta-se combater os preconceitos, a coação, a autoridade, os dogmas do cristianismo. Afirma-se uma religião natural, fruto da razão e das instituições humanas. Rejeita-se a religião revelada. Intui-se um ser superior, cuja natureza e atributos se desconhecem. Um ser distante e afastado do mundo, e que não intervém nele. Pertencem à esta época os pensadores e filósofos: Hume, Lessing, Kant, Hegel.
cepção de Deus é deísta. Ele identifica religião com uma seqüência de revelações e subordina todas as religiões à religião natural. A medida da verdade é Deus e sua revelação. Daí que a verdade definitiva pode se tornar também uma verdade histórica. Numa de suas afirmações, podemos entender o seu pensamento: “o que a educação é para os indivíduos, o é a revelação para o gênero humano, pois a educação é uma revelação oferecida ao indivíduo, enquanto que a educação é uma educação que afetou e ainda afeta o gênero humano”.
IMMANUEL KANT (1724-1804)
Alemão, profundamente religioso. Sua família era protestante e lhe passou uma sólida formação religiosa e uma formação moral severa. Foi um pensador e filósofo coerente com os princípios de sua filosofia. O pensamento de Kant pode ser resumido na dupla dicotomia: entre o mundo da razão e da fé (1) e entre a especulação e a prática, no mundo da razão (2). Sobre o mundo da razão e da fé, exclui qualquer tipo de discurso de fé sobre Deus, passando a escolher
a) não existe uma religião comum a todos os povos, há uma história natural das religiões diferente segundo as diversas épocas; B) a pessoa busca uma religião pelo medo da morte e o horror aos castigos; C) o politeísmo é a forma primária e mais genuína da religiosidade humana;
(1729-1781)
Considerado um dos maiores escritores alemães do século XVIII. Em seus escritos exalta o primado da razão sobre a fé e faz uma crítica racional ao estudo do fenômeno religioso. Tem um discurso severo e rígido sobre a natureza e a função da religião. Critica severamente a religião, não Deus. Sua con-
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GEORG W. FRIEDERICH HEGEL (1770-1831)
Outro filósofo alemão que adota a tese iluminista da resolução da revelação na religião e dá uma virada radical na interpretação do fenômeno religioso. Hegel foi um dos mais notáveis estimuladores do pensamento moderno. Deus comparece em sua filosofia, mas curiosamente como um momento quase final da dialética do Espírito. Em seu monismo, Deus ficou sendo ainda um ponto de vista abstrato do desenrolar do pensamento. Para ele a religião é uma manifestação de Deus, mas, o destinatário último não é o homem, e sim o próprio Deus. A religião é a história da autoconsciência de Deus que tem como ponto de chegada o cristianismo. A religião é a auto-revelação de Deus-espírito. É síntese do seu pensamento: Deus e o mundo são uma coisa só – o Espírito Absoluto (no caso do idealismo dialético) ou a matéria (no caso do monismo materialista). No iluminismo, e nos filósofos apresentados acima, cresceram as exigências da razão. E mais: o império da razão estendeu-se para todas as ciências e para todas as atividades. A religião passou a ser devorada pela filosofia e pela ciência. O mundo da razão fez crescer o pensamento científico. Com o iluminismo inverterem-se as verdades e foram colocadas as premissas que acabaram transformando a filosofia em ciência, a teologia em antropologia, a religião em ateísmo. Abre-se a página do ateísmo, sobre o qual daremos continuidade no próximo número.
(1711-1776)
Filósofo inglês que mais refletiu sobre a moral e a religião, especialmente sobre a religião cristã. Para ele:
GOTTHOLD EPHRAIM LESSING
que substituem o nosso entendimento, se há psicólogos que cuidam da nossa consciência, se há médicos que cuidam da nossa dieta, por que nos preocupar em adquirir tais conhecimentos? Ele fala que a imaturidade religiosa é a mais perniciosa de todas. Isso torna o texto bem atual, pois a nossa época é marcada por várias formas de fanatismo religioso, que cega as pessoas. “As religiões podem infundir o medo e cegar os fiéis, que passam a ser usados por alguns, como ferramentas de poder”, diz Kant.
Concluindo
DAVID HUME
D) o monoteísmo é fruto da dominação e prevalência de um deus sobre outro. Em seus “Diálogos” há contradições do seu ateísmo, pois, reconstrói todo o processo lógico para provar a existência de Deus. Assim escreve: “subsiste o fato de que, no mundo da experiência, onde nada é peremptoriamente demonstrável, tampouco o homem pode prescindir da crença, ou seja, de uma fé”.
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apenas o discurso da razão. Sobre a esfera especulativa e a esfera prática, no mundo do razão, acaba excluindo Deus da esfera especulativa, para acolhê-lo estritamente na esfera prática. Kant afirma que o iluminismo é a saída do ser humano, da sua imaturidade (menoridade intelectual). Essa imaturidade, para ele, significa a incapacidade de a pessoa servir-se do próprio entendimento. O esclarecimento acontece quando a pessoa tem a coragem de ser crítica, isto é, de servir-se do próprio entendimento na procura do conhecimento e de sempre examinar o que lhe é transmitido. Segundo Kant, o homem é culpado por sua imaturidade, porque, podendo fazer uso do seu entendimento, deixa-se guiar por outras pessoas, por preguiça ou covardia. O filósofo afirma que os homens muitas vezes preferem pagar para que outros pensem em seu lugar. Para Kant, é muito cômodo ser imaturo, não se servir da crítica, porque existe muita gente que faz isso por você. E ele até ironiza, dizendo que, se há livros
Um livro indispensável para todos os professores de Ensino Religioso. Após meses de pesquisa e muito diálogo com pessoas de diferentes religiosidades, os autores apresentam este estudo sobre as várias manisfestações religiosas tradicionais e as tendências religiosas atuais. Diversas escolas e centros de formação de professores de Ensino Religioso já o adotaram.
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CONVERSANDO COM O EDUCADOR
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esta 10ª edição do Jornal, trazemos algumas apreciações de O TRANSCENDENTE, que recebemos de professores de Ensino Religioso de todo o Brasil. Agradecemos a todos por utilizarem este nosso trabalho e pelo carinho que manifestam por esta equipe que se esforça para apresentar um subsídio cada vez melhor.
OT É DE ALTA QUALIDADE PARA O ER “Cumprimentando-os cordialmente, vimos agradecer os exemplares do Jornal O TRANSCENDENTE enviados a esta Secretaria. Aproveitamos para informar Vossa Senhoria que os exemplares foram distribuídos para as Unidades Educativas que compõem a Rede Municipal de Educação de Florianópolis, como uma forma de incentivar os professores a refletirem sobre o Ensino Religioso nas escolas e municiá-los com material de alta qualidade sobre este tão importante tema. Na oportunidade, parabenizamos o jornal pelo objetivo a que se propõe e pela competência com que os assuntos são tratados, servindo como instrumento pedagógico na área religiosa.”
O TRANSCENDENTE ESTÁ DE PARABÉNS! “O Ensino Religioso é uma das grandes paixões de minha vida. O Jornal O Transcendente é de muita valia para todos que trabalham com esta área de conhecimento, vocês estão de parabéns pela produção do mesmo! Coloco-me totalmente a disposição de vocês para o que necessitarem, inclusive para divulgar este jornal que julgo conter excelente material”.
OT NA CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES (...) “Na formação dos professores da 5ª CRE/RS, em parceria com o CONER/RS, com a UCpel e com as Secretarias Municipais de Educação dos municípios de Jaguarão, Piratini, São Lourenço do Sul, Canguçu e Pelotas, contando com o total apoio da competente e dedicada Reverenda Jussara Rotter – coordenadora do ER junto à Secretaria de Educação/RS, utilizamos O Transcendente e o livro de Dinâmicas para o ER para todos os cursistas, o que possibilitou a realização de projetos criativos na conclusão do curso (...) Nossos agradecimentos à coordenação de OT pelo excelente material.”
OT: UM JORNAL PARA TODO EDUCADOR (...) “Ele é um grande subsídio não só para o professor do Ensino Religioso, mas também a todo educador que deseja transmitir aos seus alunos valores, que os levam a apaixonar-se e a lutar por um mundo fraterno, cheio de amor, justiça e paz”.
OT ESTÁ EM VÁRIAS PARTES DO BRASIL: “Parabéns a todos que estão envolvidos na construção do Jornal. Aqui no Ceará, estamos divulgando aonde vamos, pois é um subsídio valioso para o professor desta área. Temos uma grande escassez de material didático para esta área. Sou um grande divulgador do jornal, com muito prazer.” Jaeferson Rodrigues de Sousa / Ceará “Apaixonei-me pelo jornal. Hoje sou assinante deste suporte pedagógico riquíssimo e aprendi a amar a disciplina de ER. Vocês estão de parabéns por fazer existir este subsídio importantíssimo cujo uso eu recomendo!” Manoel Lúcio Duarte Jacaraú - PB “Sou assinante de OT e estou muito contente. Tenho procurado divulgar o jornal junto a professores de ER e encaminharei um exemplar para a Secretaria de Educação do nosso município, visto que teremos um novo Prefeito.” Wanderlan de Souza Caratinga – MG “Sou coordenadora pedagógica de uma escola municipal. Hoje tive a oportunidade de conhecer esse maravilhoso Jornal, fiquei feliz, pois é muito difícil encontrar material para trabalhar Ensino Religioso, ainda mais nos tempos em que vivemos”. Luciene Vaz do Amaral Cassilândia - MS
“Sou de São Paulo, região da Vila Mariana, e adorei o nível do Jornal, que até então não tinha visto igual, no sentido religioso e educativo. Parabéns e à disposição para contribuir.” Àse Iré !!! Fernando do Ògún São Paulo - SP “O Transcendente é um jornal da maior importância para o Ensino Religioso. O Jornal foi distribuído entre os cursistas de Qualificação Profissional para professores de ER. Outros exemplares encontram-se na biblioteca na 18ª CRE à disposição dos professores para consulta.” Profª Alzira Sobreiro 18ª CRE – Rio Grande/RS
OT: importante apoio didático “A edição de O TRANSCENDENTE (ano III, nº 8 - março/abril 2009), que tratou da presença da cultura afro em nossa história, ofereceu um importante material de apoio didático e de grande valor pedagógico para suporte às atividades escolares, que trabalham especificamente com o ensino religioso e, também, para aqueles que vêm construindo condições para a aplicação da lei 10.639/2003, a qual determina o ensino da história e da cultura afro-brasileira em todas as escolas do Brasil, onde o papel das Religiões de Matrizes Africanas se imbricam, decisivamente, com a História do Brasil.” (...)
O “UNIVERSO RELIGIOSO” COMO LIVRO DIDÁTICO (...) Adotamos o livro “O UNIVERSO RELIGIOSO - As grandes religiões e tendências religiosas atuais” porque apresenta uma excelente síntese das diferentes tradições religiosas numa linguagem clara, simples e moderna, rica em ilustrações e questionamentos, com uma abordagem imparcial e de profundo respeito à diversidade religiosa. Pela riqueza e diversidade dos conteúdos deste livro, estamos utilizando-o em todas as séries do Ensino Médio, a partir de um planejamento que contemple em cada série conteúdos específicos (...)
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Parabenizamos e agradecemos as centenas de Prefeituras Municipais que, conscientes da importância do Ensino Religioso em suas escolas, presentearam com a assinatura do Jornal “O Transcendente” todos os seus professores de ER. O Jornal OT vem se revelando, cada vez mais, um ótimo subsídio para os professores de ER e garante uma prática pedagógica dentro das propostas exigidas pela legislação vigente.
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(Continuação...)
Geninho: Axé, amigos, tudo bem com vocês?! Eu e o meu amigo Zambi estamos novamente aqui para continuar a apresentar-lhes alguns aspectos da história, da cultura, da religiosidade e das lutas por liberdade dos afro-descendentes. O Brasil tem a maior população afro-descendente fora do continente africano. Isso é consequência dos cerca de quatro milhões de escravos, de várias tribos e reinos africanos, que foram trazidos para o Brasil.
Zambi:É, meu amigo Geninho, axé para to-
dos nós! É bom conhecermos nossa História e o que ela significa para todos nós brasileiros. Isso não apaga o nosso passado sombrio de dor e escravidão, mas exige que continuemos a lutar contra qualquer forma de racismo ou de preconceito.
A Religiosidade afro Os africanos não teriam suportado e reagido à escravidão sem o auxílio de seus orixás. De fato, a religiosidade afro-brasileira herdou dos bantos e dos oeste-africanos o culto aos chefes de linhagens, aos heróis fundadores e aos ancestrais. Especialmente dos oeste-africanos chegou-nos, com mais força, o culto aos elementos e forças da natureza, como também às divindades protetoras da atividade humana, os orixás e assemelhados. A base de tudo isso é um único princípio: a vida no Universo se conduz através da interação das forças vitais, tanto no plano material quanto no espiritual, e que humanos, animais, vegetais e minerais são elos de uma só cadeia de forças, interligadas por meio de sua energia vital. O candomblé, de certa forma, é fruto de um diálogo entre as tradições africanas bantu e yorubá. Assim, recriou-se aqui o culto aos orixás, que são forças da natureza e aos ancestrais que, embora sendo de origem terrena, se tornaram habitantes do Orun, do “céu” e partes do próprio Deus. A religiosidade e a cultura afro enriquecem o Brasil e são mundialmente conhecidas. Basta citar, por exemplo, na culinária, o acarajé e o queijo de Minas. Na arte e na música podemos citar os afoxés, mais conhecidos como “Axé”, os vários tipos de samba, as danças dramáticas, as congadas, os maracatus, a capoeira e o maculelê, a feira de Caruaru, a dança do frevo, entre outros. A religiosidade africana influenciou também a evolução do traje feminino no Brasil, pela adoção de turbantes, saias rodadas, batas de renda, colares e pulseiras,
UNIVERSO RELIGIOSO
característicos da indumentária das “baianas de tabuleiro”. As formas religiosas atuaram inicialmente na esfera individual, dedicadas à cura física e psíquica de pessoas necessitadas, através de práticas simples de sua tradição, tais como: adivinhação, limpeza espiritual, rezas, prescrição de medicamentos, entre outras.
A senzala
A senzala era uma espécie de habitação rústica, simples, feita de madeira e barro e sem divisórias. Geralmente era construída próxima ao engenho, à mina de ouro ou da fazenda de café. Ali os escravos passavam a noite dormindo no chão duro de terra batida ou sobre palha e muitas vezes acorrentados para evitar as fugas. Na frente das senzalas havia um pelourinho para a aplicação de castigos físicos. Às vezes, aos escravos eram permitidas festas, pois era o único alívio do seu cativeiro. Quanto à alimentação, os escravos alimentavam-se basicamente de farinha de mandioca, aipim, feijão e banana.
Os filhos de escravos quando completavam quatro anos de idade já começavam a fazer certos trabalhos. Tratava-se de uma forma de “treinamento” ao trabalho e à obediência. Aos doze anos, o jovem escravo estava apto para trabalhar “no pesado”. Como se não bastasse a escravidão e os sofrimentos a que eram submetidos, os negros tampouco desfrutavam da infância e da convivência com os pais.
dos de recaptura, defendiam-se, usando essa técnica. A capoeira é hoje patrimônio cultural do Brasil. Foi aqui que a capoeira fincou suas raízes e criou mitos e lendas. A capoeira era praticada às escondidas e, para não levantar suspeitas, os movimentos da luta foram adaptados às cantorias africanas para que parecessem uma dança. A capoeira é um esporte, uma luta, mas também uma reza, um lamento, uma brincadeira, uma dança, um momento de comunhão. Ao som dos berimbaus, nas rodas de capoeira e no bailado dos corpos negros, mostra-se ao mundo, e com dignidade, o saber cultural de um povo forjado na luta.
Ainda há muito por fazer Foi somente por volta do ano 1900 que a escravidão foi mundialmente proibida. No Brasil, a abolição dos escravos se deu em 13 de maio de 1888 com a promulgação da Lei Áurea, feita pela Princesa Isabel. Contudo, a abolição não significou o fim da exploração do negro no Brasil, nem a sua integração em pé de igualdade na sociedade brasileira. Mas, o que é pior, apesar das leis e da consciência da maioria das pessoas, ainda hoje há trabalhadores em alguns lugares do Brasil que se encontram em situação de escravidão. Mas há outra constatação que nos entristece: a pobreza e a exclusão social no Brasil tem cor e raça. Segundo dados do Atlas Racial Brasileiro, divulgados em 2004, de cada 10 indigentes, 7 são afro-descendentes. As antigas senzalas deram lugar às favelas, que são habitadas especialmente pelos afro-descendentes, vítimas da injustiça social. Vamos juntos lutar por uma sociedade livre de preconceitos e de qualquer tipo de discriminação, onde haja oportunidades iguais, onde cada homem e mulher, independentemente de sua cor ou raça, possa exercer sua cidadania e viver com dignidade.
Uma história de lutas
Zumbi é considerado um dos grandes líderes, símbolo da resistência e da luta contra a escravidão. Zumbi não admitia a liberdade apenas para os quilombolas, enquanAssegura a existência dinâmica, que permite o to os negros das fazendas continuariam aprisionados. acontecer e o devir. Sem essa força, a existência A luta dos afro-brasileiros pela igualdade e por estaria paralisada e desprovida de toda possibilidade justiça vem de longe. Desde os quilombos, ocorrede realização. É o princípio que torna possível o procesram muitas revoltas como prova de que os negros so vital. É também usada como uma saudação. nunca se acomodaram, mas sempre lutaram pelos (Coloque a letra que está faltando no diagrama, assim você enseus direitos. Entre as revoltas que tiveram negros contrará o nome da força sobre a qual estamos falando e o nome como protagonistas, podemos citar: a Revolta dos Malês, a Revolta da Balaiada, a Revolta dos Alfaia- de um orixá) Escreva ao lado as palavras tes e a Revolta da Chibata. Não podemos nos esquecer que muitos escravos, atraídos pela promessa de liberdade, lutaram na Guerra dos Farrapos e na guerra do Paraguai.
A capoeira
Trazida pelos negros vindos de Angola, foi cultivada e praticada por escravos fugitivos que, ameaça-
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ESPIRITUALIDADES
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O jornal “O Transcendente” foi até o Barracão, casa onde são realizados os rituais e as celebrações do Candomblé, para conversar com o senhor Alex. Ele é conhecido dentro de sua religião como “Arôlegi”, porque é filho de Oxossi com Iansã. Mas, carinhosamente, as pessoas o chamam de Pai Leko.
O Candomblé O propósito de nossa religião é ajudar espiritualmente as pessoas e rezar aos orixás para que abram os caminhos delas. O objetivo da religião não é enriquecer ninguém, ao contrário, é servir, embora, infelizmente, existam pessoas, não só da nossa religião, como também em outras, que se utilizam da religião em benefício próprio e fazem da religião um negócio. Eu não concordo com isso. O que não podemos é passar a nossa vida aqui na terra à toa.
Os ensinamentos Os nossos ensinamentos são passados oralmente de geração em geração. As orações, os cânticos em Iorubá, os rituais, tudo vem da tradição oral e está na memória de cada um, nada foi esquecido. Para se ter uma idéia, para cada orixá nós temos, no mínimo, 21 orações ou cânticos. Ao todo, 16 são cultuados aqui no Brasil. Além do mais, nós temos orações próprias a serem feitas antes de dormir, antes de levantar pela manhã, antes das refeições, antes de cortar o cabelo, antes de colher as plantas. Tudo o que fazemos dentro do candomblé, o fazemos com orações. Geralmente essas orações são cantadas, algumas acompanhadas pelo atabaque, outras apenas com palmas. Inclusive, em nossos ritos, quando realizamos sacrifícios de animais, por exemplo, uma galinha, nós rezamos. Nós não
Candomblé
tiramos uma pena do animal, se não rezarmos primeiro. Isso é muito importante para nós, pois nós poderíamos ir ao supermercado e comprar uma. Mas, neste caso, nós não estaríamos rezando antes da morte do animal. É importante dizer que aproveitamos do animal sacrificado para nos alimentar e nada é jogado fora.
Os orixás Dos mais de 800 orixás que foram trazidos pelos escravos para o Brasil, hoje, são cultuados apenas 16. Vamos falar um pouco sobre alguns deles. O EXU é a primeira entidade a ser servida, porque o tratamos como o “Senhor das ruas”. É ele quem abre os caminhos e não nega ajuda a ninguém. No entanto, recaem as conseqüências, tanto positivas quanto negativas, sobre quem a ele recorreu. Com o sincretismo religioso, tentou-se confundir, devido à falta de conhecimento, nosso orixá Exu com o demônio, mas não tem nada a ver uma coisa com outra. Exu é o encarregado de cuidar de toda a terra. É o nosso guardião. OGUN também é responsável pelos nossos caminhos. É ele quem nos ajuda a vencer as dificuldades, quem dá forças e saúde para podermos trabalhar. OXOSSI, o dono da mata. Ele é o “pulmão” da terra. Se existe uma religião que se preocupa, de fato, com a ecologia, somos nós do candomblé, porque dependemos das ervas e da natureza para existir. OSSAIN é o orixá que cura através das ervas. É o dono da medicina. OBALUAIÊ é o dono da terra, da vida, da morte e das doenças. É ele quem cuida de todos nós, é o médico dos pobres. XANGÔ é o dono do fogo celestial e da solidez da terra. Quando ele envia um raio à terra, é porque ele está cobrando alguma coisa. Ele simboliza, para nós aqui da terra, a justiça. É, para isso, ele dá a palavra. Ele é um dos ministros de Olorum.
Deuses: Orixás de origem africana. Nenhum santo é superior ou inferior a outro. Não existe o Bem e o Mal, isoladamente. Culto: Louvação aos orixás que se “incorporam” nos fiéis, para fortalecer o axé (energia vital) que protege o terreiro e seus membros. Iniciação: Condição essencial para participar do culto. O recolhimento dura de sete a 21 dias. O ritual envolve o sacrifício de animais, a oferenda de alimentos e a obediência a rígidos preceitos. Música: Cânticos em língua africana, acompanhados por três atabaques tocados por iniciados do sexo masculino.
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TEMPO é outro orixá. Todos nós dependemos do tempo. Nós devemos valorizar o tempo em que estamos na terra. Ele é útil para ajudar de alguma forma as pessoas. Nós temos horários para tudo e o orixá responsável para que tudo dê certo, para que as coisas aconteçam no momento certo, é o orixá tempo, ele é também chamado de Irôco. Ele é cultuado em árvores que tenham mais de 50 anos. OXUMARÊ é a dona dos rios, mais especificamente das nascentes de água. Ela cuida para que a água seja aproveitável. Ela é simbolizada por uma serpente, pois, ao rastejar-se pelo chão, ela ajunta toda a negatividade da terra e, através do arco-íris, leva a mensagem e os nossos pedidos para Olorum. IANSÃ é a dona dos ventos e das tempestades. Ela também é responsável pelos eguns, os espíritos das pessoas falecidas. OXUM é a dona dos rios. É a dona da vida, do amor, da beleza, do ouro, da riqueza. Tudo o que for bom pertence a Oxum. IEMANJÁ é a mãe dos orixás, pois a maior parte do planeta é composta por água, isto é, por mares e oceanos. E todas as águas correm para o mar! Não importa se a água for poluída ou não, Iemanjá sempre recebe de braços abertos. Iemanjá é a mãe de todos.
Umbanda
Deuses: As entidades são agrupadas em hierarquia, que vai dos espíritos mais “baixos” (maus) aos mais “evoluídos” (bons). Culto: Desenvolvimento espiritual dos médiuns que, quando “incorporam”, dão passes e consultas. Iniciação: Não é necessária. O recolhimento é de apenas um ou dois dias. O sacrifício de animais não é obrigatório. O batismo é feito com água do mar ou de cachoeira. Música: Cânticos em português, acompanhados por palmas e atabaques, tocados por fiéis de qualquer sexo.
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os primeiros tempos da humanidade, não havia muitos homens e mulheres. Naquela época, eles viviam divididos. Os homens caçavam animais e as mulheres recolhiam as sementes das plantas. Os homens viviam nas cavernas das montanhas e as mulheres viviam próximas ao rio, em cabanas feitas de barro e folhas. Eles não se visitavam. Um dia, os homens foram caçar com suas flechas e mataram um antílope, mas deixaram o fogo apagar e não puderam cozinhar o animal. Os homens eram como as mulheres: eles sabiam fazer muito bem as suas coisas e sempre conseguiam manter o fogo aceso. No entanto, os homens tinham tanta fome que mandaram um deles buscar fogo emprestado das mulheres. Nesta época havia apenas cinco homens. Um dos homens desceu até o rio, o atravessou e, do outro lado, encontrou uma mulher que recolhia algumas sementes de uma planta. Ele lhe pediu um pouco de fogo. Então ela lhe disse: “Venha comigo até a aldeia. Eu darei a você um pouco de fogo.” E o homem foi junto com a mulher. Quando chegaram à cabana da mulher, ela disse: “Você está com muita fome, espere um pouco que eu
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m uma tarde de calor, no interior moçambicano, sentadas no chão, à sombra de um cajueiro, um grupo de mulheres, talvez mais de trinta, com naturalidade e simplicidade, amamentam seus filhos. Desde menina, toda mulher do povo makua sonha em ter filhos, um homem que lhe construa uma casa, dê roupas, derrube a mata, prepare o terreno para plantar e arranje um pilão... Ela prepara-se para o primeiro filho, mas reza para não morrer no parto. Deseja ainda que o filho ou a filha venha sem defeitos e que não sejam gêmeos, pois caso isso aconteça terá que torcer para que um deles morra. Sonha em ter vários, mas um de cada vez, para que a família a valorize como uma mulher abençoada por Deus. Não há “Dia das Mães”, nem presentes, nem abraços, somente a luta do dia a dia para conseguir água, um pouco de alimento e leite em seu peito para a criança não chorar e assim vê-la engatinhar e crescer. Possui uma enxada para trabalhar, algumas panelas de barro para cozinhar e umas poucas roupas para cobrir seus filhos. Espera que o marido seja responsável e não ande muito longe a procurar outras parcerias, pois ele pode não voltar. Se ficar só, com mais de três fi-
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RITOS E VIDA
vou cozinhar essas sementes”! O homem sentou e esperou. A mulher moeu as sementes com um pilão, e da farinha fez uma polenta. Quando a polenta ficou cozida, deu-a ao homem e pegou um pouco para si. E o homem disse: “Bem, eu ficarei aqui com você porque isso é agradável”! E ele não retornou aos seus companheiros para levar-lhes o fogo. Os outros homens ficaram esperando, mas como a fome aumentava, decidiram encarregar outro deles para buscar o fogo. O homem partiu e encontrou também ele uma mulher, que o convidou para a sua cabana, deu-lhe polenta e ele também não retornou com o fogo. Da mesma maneira que aconteceu com o primeiro e o segundo homem, saíram para buscar o fogo o terceiro e o quarto. Igualmente encontraram cada um deles uma mulher e não voltaram mais, ficando somente o quinto. A essa altura, o antílope começava a apodrecer. Esse último homem, não conseguindo comer a carne do animal, pegou seu arco e suas flechas e fugiu, perdendo-se pelo mundo. Foi assim que se originou o matrimônio entre o homem e a mulher. Mito do povo Bosquímanos, da região Kalahari, África
lhos, terá dificuldade de encontrar outro parceiro que queira morar com ela. Esta mulher comum, do interior, não tem os grandes sonhos das mulheres de outros continentes. Elas não sabem ler, nem escrever. É difícil saber sua idade, nem o dia em que nasceu. Nunca foi à cidade. Gosta de dançar ao som dos batuques, caminhar no mercado popular, onde tem algumas barracas que vendem roupas, objetos diversos, quinquilharias, alguns peixes secos. Não tem dinheiro para comprar nada, mas olha. Dá umas risadas quando encontra uma amiga. Levanta cedo pela manhã, antes de raiar o dia. Se for tempo de seca, pega um grande pote de barro ou uma lata e vai buscar água, o precioso líquido. Procura algumas lenhas para fazer fogo. Se a roça estiver precisando de limpeza, lá vai ela com a pequena enxada, uma criança suspensa nas costas com mais uma ou duas lhe acompanhando. No calor de quarenta graus, volta para casa suando. À tarde, tira uma boa soneca na sombra próxima da habitação. Ao anoitecer, pila um pouco de mandioca seca para fazer “caracata”, sua comida típica. Se tiver a sorte de o marido trazer uns peixinhos secos, então fica feliz, pois vão saciar a fome com prazer. Lá pelas oito da noite, sossega, vai descansar para levantar cedo no dia seguinte, quando tudo recomeça. Essa mulher deve ser forte, embora suas condições sejam tão precárias. É a mulher, é a mãe na África. Do livro: Partilhas da África Camillo Pauletti e Fabiano Dalcim
Nós temos um ritual de limpeza que chamamos de “sacudimento”. Nesse ritual, são preparados, a partir de ervas, raízes e grãos, diversos pratos de comida. Ao todo, são 16. Um para cada orixá, pois cada orixá tem o seu alimento específico. Esses alimentos são passados no corpo das pessoas para que os orixás recebam a essência dos alimentos (canjica, feijão, arroz etc) e, em contrapartida, retiram as cargas negativas que estão sobre a pessoa. Na seqüência, enquanto são recitadas algumas orações, algumas ervas são colhidas pelos filhos-de-santo no próprio terreno do barracão. Com essas ervas, é preparado um banho, que se toma “da cabeça aos pés”. A isso chamamos de “abô”. Antes, porém, a pessoa toma um banho normal, para que, em seguida, possa tomar o banho de ervas. Para secar-se, a toalha deve apenas “abafar” o molhado, sem esfregar. Depois desse ritual, a pessoa vai para casa e deve passar por um pequeno resguardo: não pode ir a certos locais como supermercado, hospital, velório, cemitério, onde possa haver pessoas “carregadas”. Os alimentos e as ervas são jogados no mar, pois é lá que moram os orixás. A pessoa deve permanecer com a sua roupa branca até o dia seguinte e evitar brigas, discussões, o ato sexual, beber bebidas alcoólicas, café e alimentar-se de pratos calóricos ou carregados de temperos. No caso de alergia às ervas, outro banho, somente com água, pode ser tomado. Esse ritual tem como objetivo retirar da pessoa as cargas e energias negativas que estão sobre ela.
• Individualmente ou em pequenos grupos, os alunos, pesquisarão os ritos matrimoniais existentes nas diversas religiões e como eles são realizados. • Pesquisar quais outros rituais há no Candomblé.
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ATUALIDADES
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o ponto de vista da cultura brasileira, a afro-descendência vai muito além do âmbito religioso. Ela pode ser percebida nas artes e na política. Exemplo emblemático: A cantora Clara Nunes (12/08/1943 – †02/04/1983) usou a música para afirmar a ancestralidade africana e para denunciar a discriminação contra os negros no Brasil. A historiadora Sílvia Brügger (2008) apresenta-a como “a cantora brasileira que deixou nome, na história da música popular brasileira, por destacar a profunda relação existente entre o samba e as religiões afro-brasileiras”. A letra da música “Misticismo da África ao Brasil”, de autoria de Mário Pereira, Vilmar Costa e João Galvão, gravadora Odeon, 1971 (BRÜGGER), expressam muito bem esse sentimento:
Eu venho de Angola
Sou rei da magia Minha terra é muito longe Meu gongá é na Bahia Agô ô ô ô...
Lua alta som constante
Ressoam os atabaques Lembrando a África distante E o rufar dos tambores Lá no alto da serra Personificando o misticismo Que aqui se encerra Saravá pai Oxalá que meu samba inspirou Saravá todo povo de Angola agô Agô ô ô ô...
Lá na mata tem mironga Eu quero ver Lá na mata tem um coco Nesse coco tem dendê
Das planícies as cochilhas O misticismo se alastrou No torvelinho de magia Que preto velho ditou E o fetiche e o quebranto Ele nos legou
BAHIA - ÁFRICA Brügger lembra que “a evocação à vinda da África, a construção do gongá (altar) na Bahia, a vinculação com a magia e com as entidades do candomblé e de umbanda, tudo contribui para afirmar a relação da cultura brasileira com a África, destacando particularmente a relação direta entre Angola e Bahia, que sempre aparece na música e no imaginário brasileiro, como lugar da herança africana, evidenciada nas práticas e nos símbolos das religiões dos orixás, na culinária, com as comidas de santo, no uso do azeite de dendê, e na música de percussão”. Clara Nunes não foi a única artista brasileira a evocar a ancestralidade africana na sociedade brasileira. Também não foi a primeira nem a última a fazer da música uma plataforma política contra o racismo. Vários outros artistas brasileiros, antes e depois dela, evocaram a influência religiosa e cultural da África na sociedade brasileira. Dentre eles, podemos destacar músicos como Vinícius de Moraes, Elis Regina, Nara Leão, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Daniela Mercury, Margareth Menezes.
UMBANDA E CANDOMBLÉ A valorização da relação com a África teve implicações sociais, ao ajudar a suavizar a percepção negativa que setores radicais da sociedade brasileira tinham das religiões como o candomblé e a umbanda. Para Prandi, uma das razões está no fato de que até os anos de 1950, as religiões afro-brasileiras teriam passado por um processo de apagamento de suas raízes africanas em favor de sistemático ajustamento à cultura nacional de preponderância européia e branca. Stefania Capone aponta a diferenciação de status entre umbanda e candomblé: “...até os anos 1970 a umbanda ‘branca’ era valorizada perante o candomblé, que continuava a ser fundamentalmente ‘coisa de negros’. A partir dessa década, o candomblé vê seu prestígio social aumentar com a participação crescente de brancos e, sobretudo, de intelectuais que lhe dão visibilidade social e peso cultural renovado. A umbanda é considerada por muitos médiuns uma via de acesso ao candomblé, uma espécie de preparação para atingir um nível superior. Iniciar-se no candomblé significa um retorno às origens, uma maneira de tornar-se “africano”!
AUTORREJEIÇÃO Tornar-se africano significa, nesse caso, voltar-se às raízes africanas como ferramentas de resistência às exclusões na sociedade brasileira. Frei David Raimundo
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dos Santos, OFM, no artigo “Êxodo e a Afrodescendência” (2004), constata que os mais de cinco séculos de escravidão e exploração dos negros na América Latina e no Caribe, além da miséria, deixaram outra conseqüência grave: a auto-rejeição por parte de muitos negros. Segundo o articulista, até há pouco tempo, de cada dez negros da região oito, em diferentes níveis, negavam a sua identidade racial. Yvie Fávero, em “A Religião e as religiões africanas no Brasil” (2007), traz uma explicação de Frei David: “A fisionomia dos habitantes nativos, a postura do corpo e principalmente a relação entre os dois mundos, levam o leitor a concluir que um modelo de tipo humano é superior ao outro. Há de se compreender as relações de poder entre instituições por todo esse período de formação da sociedade. No aspecto religioso, ser europeu, católico, recebia um status diferente de qualquer matriz africana. As representações simbólicas do cristianismo, os valores morais eram mais aceitos, constituíam a oficialidade e eram associados à nacionalidade que também se firmava”. Portanto, era compreensível a auto-rejeição por parte de negros latino-americanos e caribenhos não assumidamente engajados na militância pela causa da identidade negro-africana. A religião e as artes, para os engajados, eram duas formas poderosas de resistência contra a aculturação forçada.
ASSUMIR A PRÓPRIA IDENTIDADE Frei David observa que, hoje em dia, no Brasil e em todo o continente americano, o grande êxodo, a grande libertação que a comunidade afro-descendente está processando nesta atual fase é esta: Assumir a própria identidade como dom de Deus e condição básica para acelerar o processo de autolibertação, ajudando a sociedade a perceber e libertar-se de seus preconceitos, a partir da nova postura de autoconsciência dos afro-descendentes. Também não basta que os negros no Brasil e em toda a América Latina e no Caribe tenham consciência de suas particularidades étnicas e raciais ou tentem se isolar em redomas culturais e religiosas em nome da manutenção da sua identidade cultural e religiosa. No mundo globalizado de hoje, os localismos e os etnocentrismos, mesmo que política e historicamente justificados, sucumbem ante os benefícios do multiculturalismo integrador.
Eu venho de Angola
Sou rei da magia Minha terra é muito longe Meu gongá é na Bahia
Tem areia ô, tem areia
Tem areia no fundo do mar, tem areia. Letra da Música: Mário Pereira
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NOSSO COMPROMISSO
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O que caracterizava o quilombo, portanto, não era o Não repitamos os isolamento e a fuga, mas a resistência e a autonomia. Ou mesmos erros seja, para além de um passado de rebelião e isolamento, a Quem, hoje, é contrário aos direitos dos quiclassificação de comunidade como quilombola dependeria lombolas, de certa forma, defende os interesses de como aquele grupo se compreende e se define. A primeira comunidade a receber o título de terra na de latifundiários, de multinacionais, de especucondição de remanescenladores de terras etc. te de quilombola no Brasil Podemos dizer, com foi a comunidade de Boa certas ressalvas, que Vista, no município de são os mesmos que Oriximina-PA, em 1995. lucraram no período Na ocasião, 112 famílias da escravidão. Este conceito de Quilombo vigorou por quase receberam 1.125 hectares três séculos, e ainda hoje se encontra cristalizado A abolição forde terra. no senso comum e nos livros didáticos. Por isso mal da escravidão, Normalmente os encontramos tanta resistência da sociedade atual, oficializada pela Lei quilombolas são associaprincipalmente da classe dominante, em aceitar a re- dos a núcleos de resisÁurea, em 13 de significação do conceito de Quilombo. maio de 1888, não tência de negros fugidos, É preciso entender que o conceito carrega mas, graças a estudos recentes, as comunidades de qui- representou o fim da segregação e da falta de outro significado. Com a promulgação lombo se constituíram a partir de uma grande acesso aos direitos para negros e isso se refleO sistema da Constituição Federal de 1988, fotiu fortemente nas comunidades quilombolas. diversidade de processos. escravista ram incorporadas as reivindicações da A resistência quilombola, durante o período da Dentre esses processos, destacam-se: nas Américas sociedade civil, organizada o Art. 68, escravidão, exigiu estratégias organizativas basdo Ato das disposições constitucionais contabilizou cerca 1. a ocupação de terras livres e geralmente tante intensas. Transitórias que diz: “aos Remanescentes de 15 milhões de isoladas; Os negros foram sistematicamente expulsos das Comunidades dos Quilombos que estejam africanos, homens 2. terras adquiridas por heranças, doações, ou removidos dos lugares que escolheram para como pagamento de serviços ocupando suas terras é reconhecida a proprieviver, mesmo quando a terra chee mulheres, prestados ao Estado; “O que define dade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes gou a ser comprada ou herdada dos arrancados de os respectivos títulos”. 3. simples permanência nas antigos senhores, através de teso quilombo é o suas terras. Com a contribuição do Parecer da terras que os escravos ocupatamento lavrado em cartório. São movimento de vam e cultivavam no interior de granAssociação Brasileira de Antropologia, em 1994, o vários os casos de comunidades transição da des propriedades, bem como a compra novo conceito de Quilombo, reivindicado pelo Moquilombolas que, durante o século condição de de terras, tanto durante a vigência do vimento Negro Brasileiro, passa a ser incorporado XX, perderam suas terras, mesmo escravo para a de tendo documentos comprobatórios sistema escravocrata quanto após sua para fins econômicos, jurídicos e culturais. camponês livre”. de sua posse. abolição. O Decreto Nº 4887/03, de 20 de novembro de Segundo dados da Comissão Pró2003, incorpora o novo conceito e o garante defiAs terras das comunidades qui(Texto da Comissão nindo as Comunidades Remanescentes de Quilom- Índio de São Paulo, Balanço 2008, os ter- Pró-Índio de São Paulo) lombolas são herdadas e cumprem ritórios quilombo e os grupos étnicos sua função social essencial, pois tem raciais, com trajetória bolas regularizados no Brasil como base o uso dos recursos territoriais para a histórica própria de relaestão chegando à marca de um manutenção social, cultural e física do grupo, fora ções territoriais especída dimensão comercial. milhão de hectares. ficas, com presunção de A área está distribuída em 96 só a terra não basta! ancestralidade negra reterritórios quilombolas e 185 Embora a sociedade brasileira insistentemenlacionada com resistêncomunidades. Embora os núte negue a existência do racismo e do preconceito cia à opressão histórica meros pareçam significativos, racial, as pesquisas têm mostrado aquilo que cosofrida. Sendo assim, ainda são considerados pequetidianamente é retificado e reforçado, e que a Lei estima-se a existência de nos em relação à quantidade Áurea não foi capaz de romper: a imensa exclusão duas mil comunidades de comunidades quilombolas da população negra das universidades, da educação remanescentes de quiexistentes no país, estimada em básica, do mercado de trabalho, da terra e de outros lombo no Brasil. três mil. setores da sociedade. O Brasil foi o país que mais importou escravos e Apesar de tudo, a luta pelo direito de a presença quilombola aquele que por último aboliu legalmente a escravidão. existir e de ter assegurado os demais direitos, Uma das maiores conquistas na luta por demo- A profunda participação brasileira está marcada na es- garantidos na Constituição, continua. cracia agrária e combate ao racismo é a regulamen- timativa de que cerca de 40% dos africanos escravizatação dos territórios quilombolas. dos tiveram como destino o Brasil.
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s Quilombos eram considerados pelo rei de Portugal, em resposta à consulta do Conselho Ultramarino, em 1740, como “toda a habitação de negros fugidos que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles”.
RS: 2137 SC: 785 PR: 2137 PE: 2137 PI: 2137
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RN: 105 RO: 34 AC: 29 AL: 90 AM: 62
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TEMAS TRANSVERSAIS
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quando isto acontecer, quando nós permitirmos o sino da liberdade soar, quando nós o deixarmos soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir as mãos e cantar nas palavras do velho “spiritual negro: [...] nós somos livres, afinal”! Martin Luther King Jr.
sonho faz parte dos anseios que habitam os seres humanos, afinal, enquanto há sonhos, há transformações! Talvez o sonho mais conhecido do mundo seja o sonho de Martin Luther King, que, na sua totalidade, ainda não aconteceu. King sonhava com a igualdade de direitos entre os povos de todas as raças. Sua grande bandeira se deu através da campanha da “não violência e de (do) amor para com o próximo”. Jovem de coragem com forte ímpeto humanitário, pastor protestante da Igreja Batista e ativista político, King tornou-se um dos mais importantes líderes do ativismo pelos direitos civis nos Estados Unidos. Em 1964, pouco antes de ser assassinado, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Passados mais de quarenta anos, no Brasil, para os jovens, o sonho de Martin Luther King transformouse num direito, o direito de sonhar com uma boa educação e um trabalho digno. Educação e Trabalho são ações associadas e se justificam pelo fato de uma estar vinculada à outra. Não há educação que se justifique se não se tiver em vista sua utilização para o trabalho, para a sociali-
zação, para o desenvolvimento de uma nação. Também o trabalho, para ser de qualidade, requer um estudo ordenado, um domínio do conhecimento, uma organização sistemática de idéias em prol de uma construção social. Para a conquista da Educação e do Trabalho dignos, a juventude brasileira atual, especialmente para os afro-descendentes, é preciso antes vencer a cultura da discriminação racial. Esta é, com certeza, a mais extensa luta do povo brasileiro que atravessa os séculos desde o período da escravatura.
ACESSO ÀS UNIVERSIDADES
O acesso às Universidades, pelo sistema de cotas, é uma conquista recente dos afro-descendentes, no Brasil. Esta decisão está sendo muito válida, pois tem permitido que muitos jovens, tanto por questão racial quanto por déficit de renda, possam ingressar em um curso superior. Porém, ainda há muito o que se fazer nesse sentido, afinal, o sistema educacional público deve ter excelência desde a educação básica para todas as crianças e adolescentes de qualquer raça ou nível social. Somente assim o acesso ao nível superior se dará por méritos efetivo do próprio aluno.
SAIBA QUE:
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O Brasil é o maior país do mundo em população afro-descendente, fora do continente africano. Nosso país tem a segunda maior população negra do mundo, atrás apenas da Nigéria. A população negra representa 45% dos brasileiros.
ACESSO AO TRABALHO E PODER AQUISITIVO:
Ainda perdura, no Brasil, uma triste realidade de desigualdade social experimentada pela população negra e parda. A renda per capita média mensal (em salários mínimos) é assim distribuída:
Apesar destes indicativos, há que se reconhecer o muito que já caminhamos. A vinda dos africanos para o Brasil diversificou o povo brasileiro e enriqueceu o patrimônio cultural nacional. Quando falamos em povo brasileiro, imediatamente nos lembramos do jeito maravilhoso de ser deste povo com seu gingado de fazer gosto, da sua criatividade, das delícias da culinária, do embalo dos ritmos, das danças maravilhosas, da multiplicidade de tons, da sua expressiva cultura religiosa, tudo isso construído com a contribuição do povo africano... é samba, é feijoada, é batuque, é devoção!
Vamos conversar sobre o assunto:
Após ler e refletir sobre o texto, reúna-se com seus amigos e discutam as seguintes questões:
1. De que forma a educação contribui para o trabalho? 2. De que maneira o trabalho está vinculado á educação? 3. Quais os obstáculos que ainda precisamos superar em relação à desigualdade racial no Brasil? 4. Você concorda com o sistema de cotas para a população afro-descendente e para estudantes de escolas públicas? Por quê? 5. No seu entender, qual a razão da implementação do sistema de cotas para estudantes, no Brasil?
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ASSINATURAS
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Brasil, terra de todos os povos
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ão podemos dizer que não existe o preconceito e nem que normalmente as pessoas tratam os negros iguais aos brancos, e vice-versa. Num dia desses, eu presenciei o seguinte fato: uma menina negra estava esperando para atravessar a rua, quando um homem branco estava passando e mandou a menina sair da frente, para ele poder passar. Mas o pior é que ele poderia passar ao lado, ter desviado. Ele preferiu humilhar a menina. Em que mundo estamos? Que achamos o homem um ser inteligente, que nos achamos melhores que os animais, mas na verdade é que somos incapazes de amar e respeitar os outros, independentemente da raça ou da religião. O que custaria ao homem dar um passo ao lado e passar tranquilamente, sem humilhar a menina? Mas o orgulho e o preconceito falou mais alto que a consciência. As pessoas não têm o direito de humilhar o próximo. Ninguém é dono do mundo e ninguém o será. As pessoas devem amar uma as outras sem preconceitos.
Aluna: Eluiza Stella Escola Joaquim D’Agostini – Florianópolis - SC
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entenas de escolas já enriqueceram suas bibliotecas com esta coleção que auxilia os professores do Ensino Religioso como também os de outras disciplinas afins. Em sua maioria coloridos, os volumes se distiguem pelos seus conteúdos e pela forma com que são abordados. Além das demais modalidades de compra, você também pode parcelar em até 2 vezes o seu pedido através dos cartões VISA E MASTERCARD!
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SABEDORIA E VIDA
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ra uma vez um rei que tinha uma filha. Ela era admirada por todos pela sua beleza e bondade. Muitos vinham lhe oferecer jóias, tecidos finos, nozes de cola, esperando em tê-la como esposa. Mas a jovem não sabia como decidir-se. - A quem me concederá? Pediu a seu pai. - Não sei! Disse o pai. Deixo você escolher. Estou seguro que você, por ser inteligente, fará a melhor escolha. - Façamos assim – disse a jovem. O senhor anunciará a todos que fui picada por uma serpente venenosa e que estou morta. Os membros da família real farão o luto, soarão o tambor e o funeral começará com as danças fúnebres. Vamos ver o que acontecerá. O rei, surpreso e contra a sua vontade, aceitou. A triste notícia correu veloz como um raio. Nas vilas do interior não se falava em outra coisa e disparos de armas ecoavam por todos os lados em sinal de dor. Enquanto isso, uma velha senhora, na porta da casa mortuária, rezava os cânticos fúnebres. Então chegaram os pretendentes da jovem princesa. Eles se apresentaram ao rei e solicitaram a devolução dos presentes que foram doados à princesa. - Já que sua filha está morta, dê-nos as jóias, os tecidos finos, as nozes de cola.
O rei, aborrecido pelo triste comportamento dos pretendentes, satisfez o pedido deles e compreendeu o quanto sua filha foi prudente. Por último, se apresentou um jovem pobre e, pela roupa que vestia, parecia ser realmente muito pobre. Com lágrimas nos olhos, disse ao rei: - Oh, rei, eu escutei a dolorosa notícia e não sei como me conformar. Trago este tecido àquela que tanto amei secretamente. Eu não me considerava digno dela. Desejo, agora, que também em sua tumba, ela continue sendo a mais bela de todas as mulheres. Coloque ao lado dela também estas nozes de cola, para que lhe deem forças para a grande viagem. O rei ficou profundamente comovido, se apresentou à multidão, fez calar qualquer barulho e anunciou em alta voz: - Dou-vos uma grande notícia: minha filha não está morta! Ela desejou colocar à prova o amor de seus pretendentes. Agora sei quem ama verdadeira e profundamente minha filha. É este jovem. É pobre, mas sincero! Depois de algum tempo, celebrou-se o casamento com a mais bela festa jamais vista por um homem. Prova d’Amore I conti dell’Africa Tradução e adaptação: Sandro Liesch
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migos professores. As paredes também podem falar! Esta coleção de banners apresenta a cultura, os costumes do passado e do presente dos afro-brasileiros e, em parte, da mãe África. Adquira estes banners e exponha-os nas paredes da escola. Os alunos se lembrarão, durante o ano inteiro das problemáticas à respeito dos afro-brasileiros.
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