O Transcendente - No.13

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ANO IV - Nº13 MAI / JUN 2010

O Transcendente • Av. Hercílio Luz, 1079 • Florianópolis • SC • 88020-001 • Fone: (48) 3222.9572 • www.otranscendente.com.br

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rezados leitores de O Transcendente Muita paz! Na segunda edição deste nosso jornal, orientado para o Ensino Religioso, já falamos, de maneira geral, da matriz religiosa indígena. O fizemos muito brevemente, já que era nossa intenção apresentar primeiramente as quatro áreas que caracterizam a expressões religiosas do mundo. Nesta 14ª edição voltamos a falar do mundo indígena e, particularmente, de suas religiosidades, dos seus valores, as problemáticas e as conquistas dos povos indígenas do Brasil. O antropólogo paraense Márcio Augusto Freitas de Meira, há três anos no comando da FUNAI, afirmou: “A condução da política indigenista brasileira mais se assemelha a um barril de pólvora sem-

EDITORIAL

pre prestes a explodir. Contudo, apesar das muitas problemáticas, é interessante saber que a população indígena está crescendo rapidamente. Se o Censo de 2000 apontava uma população de 750 mil pessoas que se autoidentificavam como indígenas, o Censo Demográfico do IBGE, a ser realizado neste ano, com toda probabilidade, apontará uma população indígena superior a um milhão”. Segundo Meira, “o crescimento entre os índios brasileiros é cinco vezes maior que na população geral do país. Estamos em um período de queda da mortalidade e aumento da população. A maioria das tribos indígenas encontra-se na Amazônia onde existem ainda tribos de povos isolados que não têm contato com outras pessoas fora da tribo e que, portanto, não aparecem nos números do Censo”.

O INDÍGENA NÃO SE DESCARACTERIZA A imagem, que aprendemos na escola, nos remete a uma imagem romântica dos indígenas. Carregamos muito a ideia de que eles têm que viver caçando na mata. Se o indígena não estiver com arco e flecha, mas com uma caneta, estudando na universidade, nossa tendência é achar que estaria perdendo a sua identidade indígena. Isso não é absolutamente verdade, pois, como afirma o antropólogo Márcio Augusto Freitas de Meira “O que define a identidade do indígena é a

sua maneira de encontrar soluções ou caminhos para firmar sua cultura, sua língua e suas tradições”. É óbvio que um povo indígena que, há pouco, vem experimentando um contato com o mundo exterior, e que quase não fala o português, é diferente de um povo indígena que, há muito tempo, vive em contato com o ocidente, que fala Português, quase que esquecendo sua língua. Contudo, também esse povo, sempre conservará algum elemento de sua identidade e de suas tradições.

O QUE FRAGILIZA OS INDÍGENAS Um processo de desmatamento e ocupação ilegal das terras põe as populações indígenas em situação de grande vulnerabilidade. Diante disso, entende-se facilmente a urgência de o governo demarcar as terras indígenas e protegê-las, garantindo o respeito à diversidade étnica e cultural. Até que isso não aconteça, os índios continuarão sofrendo ameaças, haverá violências, assassinatos, suicídios, desnutrição, mortalidade infantil, epidemias den-

tro das comunidades indígenas, confinamentos em pequenas reservas ou em acampamentos à beira das estradas. Não é de estranhar se, nessas situações, a população indígena seja uma das mais vulneráveis. A construção da usina hidroelétrica de Belo Monte vem a confirmar a problemática que atinge dezenas de povos indígenas daquela região, apesar das tão faladas políticas ambientais destinadas a proteger o ambiente e os povos que nele vivem.

a segunda edição que dedicamos aos indígenas e, desta vez, aos indígenas brasileiros. Isto nada mais é que uma dívida que temos para com esses povos que, por milênios, antes que chegassem os europeus, eram os donos da terra em que moramos. É nossa preocupação ajudá-los para que possam desfrutar dos direitos de todo cidadão brasileiro. Os nossos indígenas anseiam e lutam por uma vida digna e pela valorização de suas culturas.

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PROTAGONISMO INDÍGENA

Será que o empreendimento de Belo Monte/PA e seu real impacto ambiental foi apresentado aos índios, a ponto de eles, moradores da região afetada, serem protagonistas nas eventuais mudanças que irão acontecer? É um fato que questiona e que nos ajuda a verificar se, realmente, a política indigenista vem

assegurando aos mais de 215 povos indígenas a possibilidade de uma vida futura digna, não permitindo que interesses de terceiros: políticos, mineradoras, madeireiros, fazendeiros e outros ocupem e comercializem as terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas e necessárias ao seu bem-estar.

EDUCAÇÃO INDÍGENA

Em 2005 o Censo Escolar Indígena indicava um grande crescimento do número de professores indígenas atuando em suas comunidades. No entanto, o Censo aponta que ainda faltam escolas nas aldeias, recursos para produção de material didático apropriado e qualificação profissional. São essas as principais reivindicações. Diga-se também que, atualmente, professores de aproximadamente 90 etnias

cursam, em Universidades, a Licenciatura Específica para Indígenas, como há também universidades que vêm reservando vagas aos indígenas em diversos cursos como: medicina, enfermagem etc. Que bom, amigos e amigas que torcem pela causa indígena! Finalmente esses nossos irmãos, há séculos inferiorizados em nossa sociedade, enxergam sinais concretos que apontam para um futuro melhor.

OS INDIGENISTAS

Seria por demais grave se, nessa edição dedicada ao mundo indígena brasileiro, não agradecêssemos as pessoas que, esquecendo a si mesmas, doaram sua vida para defender e promover os indígenas deixados à margem da sociedade. São eles milhares de antropólogos, missionários e voluntários, muitos vindos de outros países, que gastaram sua existência e até, não raramente, chegaram a morrer

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prematuramente por doenças tropicais. Se nem sempre e todos souberam se inculturar suficientemente entre aqueles povos, a paixão que colocaram nesse trabalho é suficiente para merecer o reconhecimento dos indígenas e de todos os brasileiros. Um grande abraço

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Jornal bimestral de Ensino Religioso pertencente ao PIME Registrado no Cartório de Registro Civil de Títulos e Documentos de Pessoas Jurídicas de Florianópolis sob o nº 13 Diretor: Pe. Paulo De Coppi - P.I.M.E. Jornalista Resp.: Yriam Fávero - Reg. DRT/SC nº 800 Redator: Sandro Liesch / Roseli Cassias Diagramação: Fábio Furtado Leite

Endereço DO JORNAL “O TRANSCENDENTE”: SEDE: Av. Hercílio Luz, 1079 - Servidão Missão Jovem PARA CORRESPONDÊNCIA: Cx. Postal 3211 / 88010-970 / Florianópolis / SC FONE: (48) 3222-9572 / FAX-automático: (48) 3222-9967

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O ENSINO RELIGIOSO

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omecemos, então. Se soubermos invocar Deus, este é o momento de fazê-lo. Invoquemos, pois, os deuses com todo fervor, para que nos ajudem a provar que existem de fato. Agarrados a esta invocação como a uma âncora segura, embarquemos pois e iniciemos a discussão”.

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Texto do filósofo grego Platão (Atenas, século IV A.C.), in Leis 893b)

do ateísmo. Vimos o ano passado dedicamo-nos ao estudo e a forma mais ria as diversas fases do ateísmo na histó no final do século XX aguerrida do ateísmo e do agnosticismo de Deus pela ciência. e início do século XXI, que é a negação m ao estudo mais duze Vale a pena reler esses artigos que intro como se Deus não exisaprofundado dos que preferem viver tisse. da existência de Deus Neste ano, vamos estudar as provas rsos períodos da história. apresentadas por pensadores nos dive simplesmente se negam Assim, como alguns negam pela razão ou como outros procuraram a crer na existência de Deus, veremos natureza, ou, seja pela rademonstrar seja pela religião, seja pela zão, a realidade inconteste de Deus.

QUESTÃO PERMANENTE Provar a existência de Deus é uma tarefa simples para quem crê e impossível para um ateu. O crente não encontra problemas em provar, pois não tem problemas de chegar a Deus. O ateu, por sua vez, pode até cultivar suas dúvidas, contudo, não encontra provas. Com este artigo, não pretendo converter os incrédulos, mas submetê-los à razão aquilo que já é reconhecido pela religião. A Bíblia afirma que o tolo pensa em seu coração: “Deus não existe!” (Salmo 14,1). Afinal, não há provas nem certezas! Essa dúvida ainda hoje persiste. As ciências modernas derrubam os dogmas religiosos porque não apresentam provas. Cientistas renomados, filósofos deístas, ateus convictos e práticos formam o coro dos céticos modernos. Estes, após tantas catástrofes naturais e guerras fratricidas, retomam o grito da pergunta incômoda do salmo 42, 4: “Onde está o teu Deus?”. Num mundo cada vez mais tecnológico e pragmático, a questão da existência de Deus continua tendo uma inegável importância. É uma questão com a qual todos nós, em algum momento de nossas vidas, nos deparamos e que exige de nós uma resposta bem fundamentada. Mesmo aqueles que não se preocupam com o assunto, por falta de interesse, tempo ou convicção, veem-se obrigados a dedicar-lhe alguma atenção e justificar-se diante dos demais. Essa questão, que preocupou e preocupa muitas pessoas, não poderia deixar de ser uma questão também para os filósofos. Provar a existência de Deus tornou-se, para a filosofia, uma questão permanente, que atravessou mais de dois mil anos de história. Desde o início da filosofia, na Grécia antiga, até os nossos dias, os pensadores tem se preocupado com a questão da existência de Deus. Textos profundos foram escritos para responder, de modo definitivo, à pergunta “Deus existe?”. Daí a necessidade de conhecermos as várias provas da existência de Deus que se tornaram fundamentais para a filosofia da religião, escritas desde a Grécia antiga até a Modernidade, para termos uma visão ampla do assunto, contextualizando o momento histórico e filosófico de cada um dos autores que

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produziram estas provas, desde Platão e Aristóteles aos cientistas da pós-modernidade.

POR QUE BUSCAR PROVAS?

Para provar a existência de Deus, os autores quase sempre partem da confirmação de uma verdade que eles já têm. Não são abstrações de Deus, mas testemunhos recolhidos na natureza e na história que confirmam a sua existência. As provas não têm a finalidade de demonstrar Deus para quem ainda o ignora ou não o aceita, mas verificar a validade do reconhecimento de Deus já feito pela religião. A humanidade sempre foi religiosa. Todos os povos e em todos os tempos tiveram sua religião. Mas, religião é essencialmente fé em Deus e culto a Ele. Neste particular, a razão quer certificar-se da realidade desse objeto. G.W. Hegel dizia que “as provas nascem da necessidade de satisfazer o pensamento, a razão”. Mesmo sabendo que “Deus mora numa luz inacessível” e que “ninguém viu ou conheceu a face de Deus”, como dizia Santo Anselmo, a existência de Deus que não é uma realidade óbvia, precisa ser comprovada pela razão.

A ESTRUTURA DAS PROVAS Batista Mondin dedicou-se ao estudo da Teodiceia, ciência que estuda a existência de Deus. É ele quem nos apresenta a estrutura básica de todas as provas da existência de Deus. Ele a divide em quatro fases: a) percepção do fenômeno da contingência, isto é, de que o mundo não é tudo; B) necessidade de uma causa que explique a realidade da contingência; C) impossibilidade de outras causas infinitas segundas; D) existência de uma causa transcendente. Para encontrar Deus, é preciso dirigir o olhar para a direção certa, tirando-o das coisas deste mundo, endereçandoo para além do mundo e de nós mesmos. É preciso sair da imanência para tomar a via da transcendência.

PARA REFLETIR

1. Quais as suas dúvidas sobre a existência de Deus? 2. O que mais lhe faz acreditar na existência de um ser superior que as diversas religiões chamam de Deus, Yaveh, Alá...?

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ão há um filósofo, desde a época mais antiga, que tenha se ocupado apenas deste assunto. Mas, quase todos os filósofos se preocuparam com a questão. O pensamento filosófico criou alguns argumentos para responder à questão. O mais antigo é o argumento religioso, organizado nas diferentes e milenares culturas e tradições religiosas, particularmente nas grandes denominações, tais como o judaísmo, o cristianismo e o hinduísmo. As religiões afirmam a existência de Deus, pois mulheres e homens dizem ter conversado com ele e ouvido sua voz. São os interlocutores que pelejam e amam a Deus, que sustentam na história dos povos que ele existe e que se comunica com a humanidade. É o que chamamos de prova por tradição. A prova está no testemunho dos interlocutores e não no personagem Deus. Santo Agostinho, no século IV, serve-se de um argumento que se tornou a célebre via da verdade. Ele concluiu que temos verdades imutáveis e eternas na nossa mente e que estas verdades não podem ser fruto de uma inteligência mutável e sujeita ao tempo como é a nossa mente. O argumento ontológico, sustentado por Anselmo de Cantuária, doutor da Igreja no século XI, afirma que Deus é o mais grandioso ser concebível; e como existir na realidade é superior ao existir apenas no pensamento, logo, Deus existe. Tomás de Aquino ficou conhecido pelas suas 5 vias, baseadas no movimento, na causalidade segunda, na contingência, nos graus de perfeição e no finalismo. Santo Tomás criou uma filosofia do ser e assim abriu uma nova via para se chegar a Deus. Deus é o ser mesmo e tudo o que existe participa do seu ser. Duns Scoto é autor de uma outra via, a da efetividade. Ele diz que o que pode ser produzido não pode ser produzido por si mesmo ou do nada; deve ser produzido por outro e deve chegar a uma causa primeira. Esta causa infinita e suprema só pode ser Deus. Pascal usa o argumento chamado de “aposta”. Diz o filósofo que ganhamos muito e perdemos pouco crendo em sua existência, enquanto perdemos tudo e pouco ganhamos ao não crer em Deus, deduzindo que vale a pena apostar na sua existência.

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Vida na Escola

Povos Indígenas atual do Brae ad id al re a e escola d iante amente ad m xi ro ap m Benedito Maria assim fala sobre a escola: sil, país co as, não é somen en íg d in A Aldeia Tekeruwa é povoada por índios que il m 0 40 ser trabalhae ev d e qu ainda cultivam seus costumes, porém, com ceria n e a et templar a n te o estudo sobr co , ém b m ta influência do mundo moderno. Os povos ta aula, mas, os, reov p es do em sala de st E s. la Terena são originários do Mato Grosso do Sul nas esco róprios índios cupam todas o o, ad st do tronco linguístico Aruak. Na região, exisE presença dos p o el p olítica de eas demarcadas p ár ta es em m s te co tem ainda outras três aldeias, que são: Kopeen ar d h si al cola. l, portanto, trab es si a ra d B o co d gi ó es õ ag noty, Nimuendaju e Teregua, onde moram os gi ed as re jeto político e p sou ro er p nv o a co m E ti T gi N le E índios Guarani. inclusão SCEND tão, O TRAN que nos fal si ra B o Atualmente, na Aln o Sobre esta ques çã ca as ligadas à Edu deia onde mora Benedicom duas pesso desta realidade: lam um pouco to, há um total de 180 integrantes mas, ao todo, contando as outras aldeias, existem aproximadamente 500 indígenas. A vida social comunitária • Benedito Maria destes povos não descarta a vivência dos tradicionais costumes Terena: Índio Terena do como a dança do bate-pau, a fala estado de São Paulo, assessor para assuntos da comunidade indígefluente do idioma indígena e a frena da Prefeitura Municipal de Avaí/ quência dos índios nas escolas da SP que conta um pouco sobre a realiregião. A escola próxima dade, valores e preservação da Aldeia de Benedito cultural de uma escola situMaria se chama E. EIKada em área de demarcação EEIE-EEIN-EEIT-E indígena, frequentada por EM AVAI ANIS DAalunos indígenas e, cujos BUS e tem como direprofessores, também são íntor o índio Alício Lipú. dios. Neste ambiente escolar • Tony Vilhena: É é realizado um projeto especial de informácientista social, coordenador tica para que, segundo relata Benedito, as do Conselho Amazônico de crianças da aldeia possam estar sintonizaIgrejas Cristãs/UFPA; Secredas com o mundo moderno. tário do Comitê Inter-religioO ensino da religiosidade indígena so do Pará e especializando em Ciências também é garantido no ambiente escolar que conta da Religião. Ele faz considerações sobre com a presença frequente do Pajé nas salas de aula, cotas para indígenas na UFPA - Univerassim como a preservação dos idiomas terena, guasidade Federal do Paraná. rani e kaigang, pois cada etnia tem seu próprio professor. As celebrações e os ritos recebem atenção especial na vivência da aldeia, como por exemplo, a festa funeral e os casamentos. A aldeia Tekeruwa cultiva milho e mandioca, alimentos tradicionais dos povos indígenas dos quais derivam iguarias especiais, dentre elas o pirão e o beju. De modo simples, porém objetivo, Benedito Terena deixa para os educadores do Brasil a seguinte orientação: “Ensinem as crianças a valorizar as questões indígenas”.

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Povos indígenas e universidade

A Universidade Federal do Pará garantiu, a partir deste ano, que todos os cursos de graduação terão reservadas duas vagas para estudantes indígenas. Num dos estados com maior população indígena do Brasil, em plena Amazônia, a UFPA prioriza, enfim, a trilha de diálogo sincero entre os conhecimentos que produz e as suas fontes. Pois, até então, o que se via era o caminho único da academia rumo às sociedades indígenas para “sugar” ao máximo das experiências dos saberes milenares, convívio societário, relações com o sagrado e expressões de comunicação e cultura. Depois da pesquisa pronta, qual é o retorno para os povos pesquisados? Esta é uma pergunta que a Universidade e seus acadêmicos ainda não respondem satisfatoriamente. Em busca desta resposta e construção de novas questões, partem os 63 índios aprovados neste vestibular nos mais diversos cursos como medicina, direito, engenharia civil, fisioterapia, pedagogia, entre outros, colhendo o fruto das lutas por ampliação de sua participação nos mais diversos setores da sociedade e desconcertando aqueles que não os consideram índios por não estarem limitados ao cotidiano de suas aldeias. A política de ações afirmativas que buscam a garantia de acesso e permanência na Universidade a grupos excluídos do ensino superior brasileiro é um trabalho de mudança do perfil tecnocrata e elitista das universidades públicas brasileiras. A entrada dos povos indígenas na academia contribuirá para a formulação de subsídios para o fortalecimento da autodefesa de seus direitos e denúncia de própria-voz do genocídio a que são submetidos, além de propiciar a oportunidade de exposição de sua realidade testemunhal dentro do processo de concepção do conhecimento científico, ou seja, as ciências que se acostumaram a se pronunciar sobre os povos indígenas a partir do “vi” e “ouvi dizer” dos pesquisadores, agora serão confrontadas pelo “vivemos assim” dos próprios protagonistas da história.

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ste livro apresenta, de forma clara e completa, as várias manifestações religiosas tradicionais e as tendências atuais. É indicado para escolas e para todo aquele que busca conhecer melhor as religiões, tendo como horizonte um diálogo sincero e aberto ao Ecumenismo e à realidade inter-religiosa. São inúmeras as escolas que o adotaram para trabalhar o Ensino Religioso com seus alunos.

256 pág. - em cores

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lá, amigos, tudo bem com vocês?! Nesta edição, apresentaremos um pouco da imensa riqueza cultural e religiosa dos indígenas que habitam o território brasileiro. Para isso, não existe ninguém melhor que o cacique Jaborá. Primeiramente, gostaria de dizer que meu nome é de origem Tupi-Guarani e significa “aquele que faz”. Meus pais me deram esse nome em homenagem a todos os índios que lutaram e morreram pelo nosso povo. É sobre essa história que irei falar.

NO PRINCÍPIO, TUDO ERA BOM

Há milhares de anos, muito antes de chegarem os colonizadores, os povos indígenas já ocupavam o território que hoje chamamos de Brasil. Nessa maravilhosa terra repleta de florestas, de animais, de águas límpidas e refrescantes, nossos ancestrais viviam felizes, em paz e em harmonia. As crianças corriam livres e saudáveis pelas aldeias, brincavam e aprendiam de seus pais a serem bons caçadores e a realizar as demais atividades desenvolvidas na aldeia, isto é, aprendiam a pescar, a confeccionar suas armas de caça, cestos e roupas, a dançar, a rezar a Deus e aos espíritos da floresta. Tudo andava na mais perfeita ordem. Nós éramos muitos. Somando todos os povos, no Brasil éramos mais de 5 milhões! Certa vez, há mais de 500 anos, e isso os povos indígenas não esquecem, chegaram algumas pessoas estranhas. Eram diferentes de nós. Eram brancos,

UNIVERSO RELIGIOSO

vestiam roupas esquisitas e falavam uma língua que não entendíamos. Nós os recebemos muito bem. Inclusive, alguns dos nossos pensaram que eram deuses. Nós lhes demos presentes, comida, água e recebemos em troca coisas que nunca havíamos visto antes. Algum tempo depois, alguns dos nossos começaram a morrer de forma estranha. Foram as doenças trazidas por eles que causaram a morte de milhares de indígenas.

POR CAUSA DA RIQUEZA... Com o passar do tempo, nossos “visitantes” perceberam que tínhamos, em nossos enfeites e adornos, algo muito precioso para eles. Tratava-se de pequenas pedras amarelas, que eles chamavam de “ouro”. A partir desse momento, as coisas começaram a piorar. Os homens brancos começaram a ser mais agressivos, a fazer-nos ameaças. Queriam cada vez mais aquelas pedras douradas. Queriam também que nós rezássemos para o Deus deles e não mais para os nossos deuses. Começaram a nos tratar como animais, éramos caçados e mortos sem razão alguma. Enfim, em algumas regiões, eles aprisionavam e faziam dos indígenas escravos para trabalhar em suas terras. Assim, começaram as desgraças. Atualmente, até os povos indígenas mais isolados, que pouco conhecem o homem branco, presenciam a chegada de máquinas e homens que destroem a natureza, poluem os rios, derrubam árvores, obrigando os índios a saírem de sua terra. Isso é realmente muito triste.

OS GUARDIÕES DA FLORESTA Nós, indígenas, somos os guardiões das florestas. Se as florestas desaparecerem, não apenas os índios, mas toda a humanidade pagará por isso. Há tempo estamos alertando, mas o homem branco não nos ouve. É uma pena! Mas nós não desistiremos de lutar. A cada dia que passa, vemos as florestas dimi-

nuírem, enormes buracos sendo feitos na terra para a extração de minérios sendo feitos, terras alagadas para a construção de hidrelétricas, barragens etc. Tudo isso em nome da “riqueza”. Mas que “riqueza” é essa que destrói povos, culturas, vidas? Será que uma manada de gado, plantações de soja, de milho, são mais importante que a vida do índio? É importante refletirmos, pois parece que o homem branco e inclusive os indígenas que se curvaram ao dinheiro, quanto mais buscam essas falsas riquezas, tanto mais caminham em direção ao abismo e tornam-se menos humanos. É urgente nos conscientizarmos, pois ainda há tempo para a mudança.

A LUTA POR SOBREVIVÊNCIA

Outro fato que me entristece muito é ver os índios sendo expulsos de suas terras e obrigados a saírem de seu ambiente, dirigindo-se à cidade. Ali, nesse ambiente que lhes é estranho, o índio padece, sofre. Não são poucos os casos de suicídio e de alcoolismo. Outros se sujeitam a trabalhar na cidade, a viver o modo de vida do homem branco e acabam por perder grande parte de sua identidade e, em sua maioria, são infelizes com essa situação. Há também aqueles que vendem artesanato pelas ruas das cidades, numa tentativa de garantir seu sustento e de manter viva sua cultura. Infelizmente, muitos deles são tratados como mendigos, recebendo esmolas e não o reconhecimento pelos belos trabalhos artesanais realizados.

DA ALDEIA PARA O MUNDO

Contudo, os povos indígenas são guerreiros, batalhadores, lutam pela sua sobrevivência e conseguiram e conseguem vitórias significativas. Hoje, felizmente, temos em inúmeras aldeias escolas, nas quais nossas crianças estudam a sua própria língua e aprendem mais sobre sua cultura e os conteúdos da “cultura moderna”. Há também muitos indígenas, que mundialmente se destacam por levar a todo o mundo a voz dos povos indígenas. Esses valorosos homens, juntos a tantos outros, de tantas outras culturas, fazem com que nós não percamos a esperança e que lutemos pela causa dos povos das florestas.

• Quais são os preconceitos que ainda existem em relação ao índio em nossa sociedade?

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• Como podemos colaborar com a causa indígena?

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ESPIRITUALIDADES

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ara os povos indígenas, a terra é fonte e mãe da vida, o espaço vital, a garantia da existência e reprodução enquanto coletividades específicas e diferenciadas. Não é possível imaginar um povo indígena sem terra. Por isso, a defesa do território equivale à defesa da sobrevivência material e espiritual.

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uando Nhanderuvuçu (nosso grande Pai) resolveu acabar com a terra, devido à maldade dos homens, avisou antecipadamente Guiraypoty, o grande pajé, e mandou que dançasse. Este lhe obedeceu, passando toda a noite em danças rituais. E quando Guiraypoty terminou de dançar, Nhanderuvuçu retirou um dos esteios que sustentam a terra, provocando um incêndio devastador. Guiraypoty, para fugir do perigo, partiu com sua família, para o Leste, em direção ao mar. Tão rápida foi a fuga, que não teve tempo de plantar e nem de colher a mandioca. Todos teriam morrido de fome se não fosse seu grande poder que fez com que o alimento surgisse durante a viagem.

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A cada dia uma luta A cada luta uma vitória A cada vitória uma conquista E a cada conquista sentimos a fortaleza de nos tornarmos invencíveis. Por isso que sempre falamos na nossa língua mãe

A-SÉ O-IKOBÊ A-SÉ O-MANÕ IANDÉ ANAMA-TE T-O-IKOBÉ IKÕ YBY-PE I-EPY-NE! A gente vive A gente morre Mas o nosso povo viverá Nesta terra para sempre. Sandro e Isaías Potiguara

A terra não é só a base do sustento, mas também o lugar onde jazem os ancestrais, onde se reproduzem a cultura, a identidade e a organização social. Essa base territorial abrange o solo e o subsolo, a flora e a fauna, a água e o ar, os lugares sagrados. A terra/território, não é apenas importante na sua dimensão material, mas na sua dimensão simbólica e cosmológica.

Quando alcançaram o litoral, seu primeiro cuidado foi construir uma casa de tábuas, para que, quando viessem as águas, ela pudesse resistir. Terminada a construção, retomaram a dança e o canto. O perigo tornava-se cada vez mais iminente, pois o mar, como que para apagar o grande incêndio, ia engolindo toda a terra. Quanto mais subiam as águas, mas Guirapoty e sua família dançavam. E para não serem tragados pela água, subiram no telhado da casa. Guiraypoty chorou, pois teve medo. Mas sua mulher lhe falou: - Se tens medo, meu pai, abre teus braços para que os pássaros que estão passando possam pousar. Se eles sentarem no teu corpo, pede-lhes para nos le-

ocês, brancos, dizem que nós, os Yanomami, não queremos o desenvolvimento. Dizem isso porque não queremos as mineradoras em nossas terras, mas vocês não entendem o que nós dizemos. Nós não somos contra o desenvolvimento, nós somos apenas contra o desenvolvimento que vocês brancos querem nos impor de “cima para baixo”. O desenvolvimento que vocês dizem nos dar, nós o conhecemos: falam de devastar a nossa terra-floresta para nos dar dinheiro, dizem que somos “atrasados”, mas isso não é o desenvolvimento que queremos. Para nós, o desenvolvimento é viver com saúde em nossa terra, permitindo aos nossos filhos de viverem saudáveis num lugar pleno de vida. Nós, Yanomami, conhecemos muito bem o problema e estamos apenas preocupados com vocês que dizem representar todo o nosso povo, pedindo-nos as jazidas de minérios. São pessoas que pensam apenas no funcionamento da mineração, pensam eles que não devastam a floresta, mas não compreendem aquilo que realmente virá. As mineradoras precisam de estradas para transportar os minérios, precisam de grandes áreas para depositar a produção, precisam de lugares para alojar os funcioná-

var para o alto. E, mesmo em cima da casa, a mulher continuou batendo a taquara ritmadamente contra o esteio da casa, enquanto as águas subiam. Guiraypoty entoou, então, o nheengaraí, o canto solene guarani. Quando iam ser tragados pela água, a casa se moveu, girou, flutuou, subiu... subiu até chegar à porta do céu, onde ficaram morando. Esse lugar para onde foram chama-se Yvy marã ei (a “terra sem males”). Aí as plantas nascem por si próprias, a mandioca já vem transformada em farinha e a caça chega morta aos pés dos caçadores. Nesse lugar, as pessoas não envelhecem e nem morrem: aí não há sofrimento!

rios, farão grandes buracos na terra, que não permitirão à nossa floresta de voltar ao que era antes e reproduzir-se. Vocês dizem que somos pobres e que a nossa vida irá melhorar. Mas o que vocês conhecem de nós, para nos dizer que a nossa vida irá melhorar? Só porque somos diferentes de vocês, vivemos de modo diferente, damos valor a coisas diferentes, não quer dizer que somos pobres. Nós, Yanomami, temos outras riquezas deixadas pelos nossos antepassados, que vocês, brancos, não conseguem entender: a terra que nos dá a vida, a água limpa que bebemos, as nossas crianças felizes. Pensam que somos pássaros ou esquilos, para nos dar apenas o direito de comer os frutos que nascem em nossas terras? Nós não pensamos as coisas de maneira isolada, mas concebemos a nossa terra-floresta como um todo. Se vocês destruírem aquilo que está no subsolo, tudo o que está acima também sofrerá. Não estamos preocupados apenas por aquilo que acontecerá aos povos indígenas. Pensam que os brancos não serão atingidos? Não aprendem do que está acontecendo no mundo? Não somos apenas nós, povos indígenas, que vivem em nossa terra. Querem perguntar a todos os habitantes da floresta o que pensam das mineradoras? Perguntem também aos animais, às árvores, ao trovão, ao vento, aos espíritos Xapiri, porque todos vivem na floresta. A floresta também pode vingar-se de nós quando é ferida. Nós sabemos que existem muitos interesses, mais fortes que os políticos, para continuar a extração de minérios em nossa terra. São interesses que produzem muito dinheiro, sempre mais dinheiro! Sabemos que não querem nos ajudar, embora digam que querem nos ajudar, que farão escolas, garantirão assistência sanitária, darão luz. Dentro dessas palavras falsas há, na realidade, o desejo de fazer crescer o dinheiro deles. Podem enganar outras pessoas, mas não nos enganam. Vocês brancos estão realmente escutando as nossas palavras? As palavras do povo da floresta?

Após ler o artigo, divide-se a turma em dois grupos. Um defenderá a bandeira indígena, enquanto o outro grupo argumenta a favor da exploração das riquezas. Pode-se também levantar a questão das construções de hidrelétricas na região amazônica.

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RITOS E VIDA

vida na aldeia é repleta de celebrações, de festas e de rituais. Esses eventos são extremamente significativos para toda a comunidade. Eles são muito importantes, pois estão diretamente ligados à socialização, à formação e à manutenção da identidade do povo indígena. Dentre tantos, destacamos três:

Ritual da Tucandeira

O ritual das trocas no xingu

Dentre os rituais dos sateré-mawé, o que mais se destaca é o ritual da Tucandeira. Este evento é realizado como forma de iniciação masculina. O índio sateré-mawé, para provar sua força, coragem e resistência à dor, deve se deixar picar pelo menos 20 vezes pela formiga tucandeira, colocando as mãos dentro da luva (saaripé). Os meninos levantam cedo para terem seus braços pintados de preto, cor elaborada a partir do jenipapo, feita por suas mães. Em seguida, com um dente de paca, risca-se a pele dos meninos até sangrar. A saaripé é feita de palha pelos padrinhos, que são os tios maternos. As tucandeiras são formigas grandes com ferrão muito dolorido que, na véspera do ritual, são capturadas vivas e conservadas num bambu. No dia da cerimônia, pela manhã, são colocadas em uma bacia com tintura de folha de cajueiro, que tem efeito anestesiante e, meio adormecidas, as tucandeiras são postas na luva, com a cabeça para fora e o ferrão para dentro, na parte interna da saaripé. Não há um período certo para a realização do ritual. O ritual é organizado conforme a vontade de quem deseja ser iniciado. O evento envolve cantos e danças e as mulheres, sobretudo as solteiras, que buscam maridos fortes e corajosos, podem entrar na dança junto com os homens.

No Alto Xingu, cada povo é reconhecido por ser especialista na produção de algo. Por exemplo, os arcos de madeira dura e preta são feitos pelos Kamaiurá, enquanto as grandes panelas de cerâmica são uma especialidade dos Wauja. A troca desses e outros produtos ocorrem durante um evento chamado moitará, que acontece entre as casas de uma mesma aldeia ou entre aldeias diferentes. No primeiro caso, os visitantes, homens e mulheres, fazem a visita em momentos diferentes. Mas o procedimento é o mesmo: um grupo leva os objetos que quer trocar até a outra casa. Os produtos passam pela mão dos interessados até que um deles coloca no chão aquilo que deseja dar em troca. Se a troca for aceita, o visitante recolhe do chão o que foi ofertado. Os visitantes são recebidos com castanha de pequi e mingau de mandioca. Depois das trocas, eles se retiram e aguardam a retribuição da visita. O moitará entre aldeias costuma ocorrer na estação seca. Homens e mulheres participam juntos. A aldeia visitante parte em expedição, conduzida por seu chefe, para outra aldeia, carregando os objetos que deseja trocar. Os objetos são de propriedade individual, mas as trocas são intermediadas pelos chefes das aldeias. Os produtos trocados são: cerâmica, enfeites, armas, canoas, flautas, redes, cestas, sal, alimentos e animais, além de utensílios dos brancos. Antes das trocas, os homens lutam huka-kuka, tradicional luta corporal dos povos da região.

Muitas palavras indígenas são usadas cotidianamente por milhares de pessoas que desconhecem sua origem e o seu significado. Encontre no diagrama algumas dessas palavras indígenas. Há mais de 30 palavras. Essa atividade pode ser realizada em forma de competição. Lembrem-se de pesquisar o significado dessas palavras.

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DABATSA

(Rito matrimonial xavante) Os Ritei´wa (rapazes iniciados, jovens guerreiros) quando se casam, devem fazer uma caçada. Com ele vão também seu pai, tios, irmãos, primos e amigos. Fazem a caçada juntos, para que o casamento seja bom para o noivo e para a noiva. Após a caçada, o ritei´wa carrega a cesta de carne e a deixa em frente à casa do futuro sogro. Depois, ele vai para casa de seu pai. O danhõ´rebdzu´wa (padrinho da noiva), muitas vezes escolhido quando ela era criança, desamarra a cesta e distribui a carne para a comunidade, principalmente para os mais velhos.

Após a oferenda da caça, os enfeites da noiva são retirados por uma moça do outro clã. À tarde, o danhõ´rebdzu´wa vai para a casa da noiva para prepará-la e pintá-la. Se acontecer de o noivo chegar muito tarde, o danhõ´rebdzu´wa deixa para ir à casa da noiva no dia seguinte bem cedo. Depois que a noiva está preparada, o danhõ´rebdzu´wa é o primeiro a sair da casa. Em seguida, a mãe da noiva sai com a ´renhãmri (esteira bandeja), deixando-a na frente da casa. Na sequência, a noiva sai e se ajoelha sobre a ´renhãmri. A partir deste momento, paulatinamente, o rapaz vai se mudando para a casa da moça. Então, ele começará a fazer a roça, a pescar e a caçar para o seu sogro. É assim o casamento dos A´uwéXavante desde antigamente até hoje.

Go-noêno-hôdi tinha a intenção de criar um mundo bom, uma vida fácil para os homens e assim fez: o algodoeiro já dava novelos prontos; o mel crescia em cabaças nas árvores, ao alcance da mão; as roupas, quando velhas, podiam ser renovadas com uma sacudida; as mandiocas e as bananas produziam dois dias depois de plantadas. Mas Caracará não se agradou dessa ordem, fez ver a Go-noêno-hôdi que não estava certo, porque, assim, não se poderia saber qual era a mulher trabalhadeira, qual o bom caçador...Tudo estava feito!

Go-noêno-hodi concordou com os argumentos do Caracará e transformou aquela ordem idílica na atual. Naquele tempo, a morte também não era definitiva. As pessoas morriam e voltavam a viver dias depois. O Caracará se insurge também contra essa disposição, convence Go-noêno-hôdi dos seus inconvenientes, mostrando que o mundo estava cheio de gente e não cabia mais, que a morte devia ser definitiva. Assim fez o criador. Porém, logo depois morre a mãe do Caracará, que debalde se lamenta, pedindo sua ressurreição.

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Educação e Sexualidade

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o Brasil, de acordo com a legislação em vigor, as pessoas com idade entre 12 e 18 anos são consideradas adolescentes. A escolha dos doze anos como idade que marca o fim da infância e inaugura o período de transição para a idade adulta, baseia-se em critérios de ordem biológica. É por volta dessa idade que a criança começa a sofrer “transformações” determinadas pelo início da produção dos hormônios sexuais. A adolescência não é uma etapa fácil, aliás, é a época em que ocorrem muitas mudanças, de forma muito rápida e em todas as dimensões do ser humano. É uma das fases mais complexas e dinâmicas do ponto de vista físico e emocional, por isso, não se pode conceber o adolescente de forma

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linear, como se ele pensasse e agisse da mesma maneira que o adulto. O adolescente atravessa um momento peculiar de seu desenvolvimento físico e psíquico, marcado por dúvidas e inseguranças. Como num redemoinho, seu corpo e seu comportamento mudam dia-a-dia, sem que ele possa ter controle sobre isso. Dá para imaginar, se é que não nos lembramos mais, a amplitude de emoções que esses processos, “turbinados” pela explosão hormonal, proporcionam. Quem vivencia a adolescência quer se conhecer, conquistar o mundo e parece não ter tempo para esperar. É uma ansiedade para se tornar independente, para andar com os próprios pés e experienciar as próprias emoções o mais rápido possível. Ser adolescente é ser “inconstante”, é fazer uma busca contínua para tentar encontrar a verdadeira identidade e descobrir quem de fato se é ao mesmo tempo em que se vive intensamente as novas experiências.

Muito se discute sobre namoro na adolescência

O mundo moderno, e principalmente o pós-moderno, configura-se como um quadro de rápidas transformações sociais, culturais e comportamentais paras os diversos grupos humanos. Dentre esses agrupamentos, o dos adolescentes é o que mais sofre as conseqüências dessas transformações, seja devido à vulnerabilidade quanto à abertura ao novo, seja em razão da necessidade de romper barreiras e padrões estabelecidos. Muito se discute em torno dos namoros na adolescência, uns acreditam que é muito cedo para todo e qualquer tipo de relacionamento, outros, porém, defendem que é uma experiência necessária para aprender a conviver com as diferenças e se relacionar.

“O ficar é o namoro corporal sem compromisso social” Içami Tiba

O namoro é também resultante desta série de modificações biológicas e intrapsíquicas, constituindo-se em uma etapa importante e necessária ao desenvolvimento humano. Iniciando na adolescência, através da atração pelo sexo oposto, o namoro é acompanhado, por toda a vida, pelas mudanças físicas, psicológicas e sociais. Namorar de forma saudável é algo muito bom, uma vez que a paixão experimentada pelos enamorados produz energia e entusiasmo pela vida, contribuindo, inclusive, para a formação da personalidade. É um momento de experimentação e treino que o adolescente vivencia entre a fase da infância, quando recebe passivamente o afeto e a fase adulta, onde há o envolvimento afetivo sexual.

”Ficar” não é namorar, não envolve compromisso O grande problema é que os adolescentes dão o primeiro beijo por volta dos 12 anos de idade e é aí que começa a nova geração que se relaciona sem criar vínculos afetivos, onde tudo é feito na base do prazer e da curiosidade. É o tão famoso e moderno “ficar”, que longe de possibilitar conhecimento mútuo, autoafirmação, elevar a autoestima, o diálogo e a amizade, remete-se ao que escreve o experiente psiquiatra Içami Tiba (1994, p. 90): “O ficar é o namoro corporal sem compromisso social”. A falta de compromisso é a marca registrada do “ficar”. Diferentemente do “ficar”, o namoro é visto, em nossa cultura, como uma relação afetiva constante e duradoura, tendo o compromisso como elo de ligação e a afetividade sempre presente. O namoro é algo comum para os adolescentes, porém, tem perdido o valor na “Era do Ficar”. Um exemplo dessa situação é a “variedade” e a

Confeccionar um caminho (com material e da forma que for possível, exemplo: em sala de aula, no pátio ou ginásio de esportes - com papel kraft, com giz ou tintas coloridas.

• Cada participante desenhará seus pés

no caminho. Em pequenos pedaços de papel, o participante escreverá o que pensa da fase que está vivenciando: o que sente, com quem conversa a respeito, entre outras questões.

• Os papeizinhos serão colocados sobre os pés desenhados.

• Em plenário, cada aluno (a) terá seu momento para comentar sobre “seus passos” – sentimentos e opiniões.

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facilidade que esse grupo possui para se relacionar afetiva e socialmente, bem como, os intercâmbios que estabelecem entre essas duas modalidades de relacionamento. Por ser uma fase de passagem, o adolescente não sabe quando vai se transformar em um adulto. Assim, ele precisa de respostas objetivas e concretas que lhe orientem e lhe estimulem em sua busca. Essa é a oportunidade que os pais têm para se aproximarem dos filhos adolescentes, porém, isso só acontecerá se os pais demonstrarem confiança nessa “empreitada”. Apesar de ser difícil, os pais devem procurar ouvir mais do que falar; estarem sempre atentos para um papo casual. Exercer o diálogo, sem julgamento, mas com responsabilidade; ser receptivo, sem ser invasivo, é um dos caminhos apontados para se lidar com serenidade e seriedade com todos os desafios que esta nova fase traz.

Semear e colher: Com a atividade acima, o (a) professor (a) mediador (a) colherá subsídios para conversar com a turma sobre os sentimentos de todos, que, certamente, não deverão ser muito diferentes uns dos outros. Será uma forma de todos saberem como os colegas vivenciam esse desafio, nessa fase comum para todos. É importante que sejam respeitadas as opiniões dos alunos, porém, que o(a) professor(a) não se omita em plantar as sementes dos valores universais do respeito e da responsabilidade.

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Vivência

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aká Werá Jecupé é um índio brasileiro, de origem tapuia – termo que significa inúmeras etnias. Ele se destaca por ensinar sabedorias dos povos indígenas à sociedade dos homens brancos – dentre eles os valores sagrados e a medicina da cultura indígena no Brasil. Kaká Werá é escritor, terapeuta, ambientalista e fundador do Instituto Arapoty, uma organização voltada para a difusão dos valores sagrados e éticos da cultura indígena. Kaká Werá é conferencista e, devido a validade de sua proposta, viaja o mundo participando de congressos e seminários, levando os ensinamentos dos índios a instituições escolares, universidades, organizações não governamentais, empresas e apresentando seus livros e vivências realizadas em várias comunidades.

A oca-escola de Kaká Weká “O escritor Kaká Werá resolveu testar uma nova forma de ensinar a cultura indígena nas escolas: afastar os professores dos livros e fazê-los vivenciar mitos, cantos e danças dos índios num espaço que reproduz uma oca”. O espaço foi construído em Itapecerica da Serra. Neste local, os professores foram convidados a fazer uma imersão durante um final de semana. ‘Foi um dos jeitos que imaginamos de fazer com que os professores ensinem melhor, em sala de aula, os encantos da cultura indígena.’ Kaká Werá nasceu em Parelheiros, na periferia de São Paulo, (...) e se transformou num educador para difundir valores universais da cultura indígena, como o respeito ao próximo, à natureza e ao conhecimento. O que o motivou a abrir a oca-escola foram os livros didáticos, diz ele. ‘Percebi que tudo sobre o índio, nos livros, aparecia no passado. O índio fazia aquilo, gostava daquilo, usava aquele adereço’. Era, para ele, como se já tivessem, com esse tempo verbal, colocado toda uma cultura no passado, como se ela não fizesse mais parte do país. ‘Sem contar a maneira como fomos folclorizados, condenados ao exotismo.’ Ao se aproximar dos professores, e não apenas em rápidas palestras, mas em imersões, ele imagina que, pela experimentação, os significados dos

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Numa de suas viagens, Kaká Werá teve a oportunidade de se encontrar com o líder tibetano Dalai Lama. Nesta ocasião, os dois trocaram conhecimentos sobre a origem do povo tibetano e do povo tupy, estabeleceram parcerias e compartilharam saberes. Kaká Werá também se destaca na realização de projetos sociais com outros povos nativos, mais especificamente das nações Guarani e Krahô. Além desse vasto currículo e expressivas contribuições, Kaká Werá Jecupé leciona a disciplina “Cultura da Paz”, na Universidade da Paz, em Brasília. Na Educação, a experiência de Kaká Werá se destaca por meio do seu projeto Oca-Escola, que serve como modelo para todas as escolas do Brasil. Sobre esse projeto, assim falou o jornalista paulistano, Gilberto Dimenstein.

mitos farão sentido no cotidiano dos professores. ‘É através dos mitos que se registra a sabedoria.’ Essa sabedoria se mescla às danças e aos cantos. A própria estrutura da educação indígena é o que há de mais contemporâneo em ensino. Afinal, é preciso propalá-la, por todos os cantos,

O conceito de aprendizagem permanente, tão difundido em todas as palestras de educadores, segundo o qual o professor é um orientador, um mestre de vivência e não de decoreba, sempre foi o princípio das tribos — onde as crianças aprendem fazendo.

Como atua o INSTituTO ARAPOTY O Instituto Arapoty, criado por Kaká Werá em 1994, atua com populações indígenas e não indígenas, visando à educação do ser humano para um aperfeiçoamento em valores e para um relacionamento mais harmônico com a natureza. Para isso, resgata e dissemina o modo de vida, valores e conhecimento ancestrais da cultura indígena.

O que é a oca-escola

mostrando que o ensino deve ser feito à base de observação e experimentação, mesclando o que se aprende na escola com o que se pratica no cotidiano, a partir de eixos multidisciplinares e interdisciplinares.

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riar, na escola, ao ar livre ou dentro da sala de aula, um espaço que lembre uma oca. Podem ser pequenas turmas reunidas em pequenos círculos, demarcados com giz ou, até mesmo fitas coloridas. Cada grupo receberá do (a) professor (a) um texto sobre mitos indígenas, apresentados na página 7 desta edição.

O projeto oca-escola tem por finalidade oferecer aos educadores e estudantes uma experiência vivencial e uma visão mais profunda da cultura indígena brasileira. Ao invés de tratar os povos originários do Brasil como exóticos e destituídos de saber, neste projeto os participantes são convidados a absorver os valores sagrados, éticos e sabedorias que foram produzidas ao longo de milênios de existência no território atualmente chamado de Brasil.

Após ler e conversar sobre o mito, cada “tribo” deverá apresentar o que compreendeu do ensinamento indígena, através de encenação, poesia, cartazes ou explanação gestual e falada. Ao final das apresentações, o (a) professor (a) fará a avaliação de acordo com a capacidade de cada grupo em criar, inovar e compreender, com respeito e dignidade, a sabedoria indígena apresentada.

Fontes:

• Gilberto Dimenstein: A oca-escola de Kaká Werá: http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u696.shtml • Instituto Arapoty : http://institutoarapoty.blogspot.com/ • Livros de Kaká Werá (entre outros) - Editora Peirópolis: As fabulosas fábulas de Iauaretê; A terra dos mil povos; TupãTenondé

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TEMAS TRANSVERSAIS

istoriadores relatam que, antes da chegada do homem branco à América, havia, aproximadamente, 100 milhões de índios no continente. O grande território brasileiro acomodava aproximadamente 5 milhões de nativos. Muitas destas nações e suas tribos atravessam fronteiras territoriais adentrando em países vizinhos do Brasil, sobretudo na região amazônica. Infelizmente, durante a colonização do Brasil, muitas tribos foram dizimadas pela violência. Inúmeras nações foram massacradas

ou escravizadas, quer seja de forma explícita ou disfarçadamente. Muitos índios morreram em razão de doenças contagiosas e fome, após suas terras terem sido tomadas e suas ferramentas de produção destruídas. Atualmente, os povos indígenas do Brasil somam cerca de 400 mil índios, que formam 210 nações indígenas, dispostas em várias regiões do país. A origem desses povos antecede a chegada dos europeus no continente americano.

A população indígena brasileira está crescendo

Os índios tiram da natureza somente o que é necessário para sobreviver

Apesar de tudo, ainda existem no Brasil várias tribos indígenas habitando áreas demarcadas pelo Estado e há também muitos descendentes de índios vivendo nas cidades, os chamados índios urbanos. Segundo dados do IBGE, no último senso (2000), 734 mil pessoas (0,4% dos brasileiros) se autoidentificaram como indígenas. Isso significa dizer que esta população urbana está em ascendência, fato que se deve às políticas públicas de proteção aos povos indígenas e a inclusão do índio como cidadão brasileiro. Atualmente, embora em número reduzido em relação ao tempo do descobrimento, os índios brasileiros ainda falam centenas de línguas diferentes, cujas origens, por não serem muitas delas totalmente conhecidas, continuam sendo objeto de estudos para muitos pesquisadores. No período do descobrimento eles estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região litoral), macro-jê ou tapuias (região do planalto central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia). Os nativos brasileiros vivem em mais de 565 áreas situadas em todos os estados do Brasil. A maior população indígena se encontra no Amazonas. Pesquisas apontam para 53 grupos de indígenas que ainda vivem totalmente isolados da “civilização”, vivendo, de certo modo, como nos tempos pré-históricos como é o caso dos yanomâmis.

Diante de tanta diversidade em meio aos povos indígenas, pois existe uma incrível variedade de tradições, idiomas e manifestações artísticas de vida, as nações indígenas têm em comum um profundo respeito e cuidado para com a natureza, o meio ambiente.

Para os índios, a terra tem um sentido especial. Eles são conscientes de que é a mãe natureza quem os nutre, quem lhes dá a terra e seus frutos, a caça, a matéria-prima para a construção de suas moradias e roupas, o bom tempo, e os elementos naturais e suas manifestações fenomenais que fundamentam a sua fé. Os índios entendem que a terra é para todos e a natureza está sempre presente na vida das pessoas. E o curioso é que eles não precisaram, a exemplo do homem branco, desenvolver uma consciência

ecológica, de preservação ou manutenção do meio ambiente. Para os povos indígenas, esse entendimento é algo que faz parte de suas vidas, é inato. Eles nascem e crescem praticando a extração de recursos naturais de maneira branda e equilibrada. Eles sabem que não há necessidade de estocar nada. Basta recolher da natureza o que é necessário para viver o dia. Na verdade, os indígenas se compreendem como parte da natureza e consideram-se membros efetivos da família dos elementos naturais. Sua sobrevivência e sentido de vida em sociedade depende dessa relação com a natureza. É através do seu relacionamento com os espíritos da floresta, por exemplo, que advém a proteção e a cura em caso de doenças. Eles sempre respeitaram o meio ambiente de maneira instintiva e muito natural. Os índios sabem também que sua vida depende da natureza não somente em sua dimensão física e objetiva, mas, também, na sua dimensão cósmica, ou seja, eles são místicos, dialogam, interagem e devotam toda a força ativa que estabelece e conserva a ordem natural e tudo o que existe. Fauna, flora, terra, água, fogo e ar são seres e elementos incorporados à sua própria vida.

Diante dessa linda lição de cuidado e preservação da natureza que aprendemos com os povos indígenas, vale questionar e refletir: com sua turma sobre estas questões e, com a • Converse • De que maneira você se relaciona com a natureza? ajuda do(a) seu(sua) educador(a) elaborem atividades O que você faz para preservar o meio ambiente? relacionadas ao tema, com o objetivo de tomarem • consciência sobre a importância da preservação sua comunidade civil (prefeitura e outras entidades) se pre• Aocupam da natureza para a qualidade de vida do homem com o meio ambiente? e de todas as criaturas.

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SABEDORIA E VIDA / Cupom

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m índio da tribo Kamaiurá iniciou a construção de uma canoa com a casca do jatobá. Ao terminá-la, retornou para junto de sua mulher, que há pouco dera à luz, lá permanecendo por alguns dias. Algum tempo depois, voltando à mata onde havia deixado a canoa, não mais a encontrou. Entristeceu-se e, pensativo, tentou imaginar o que ocorrera. Talvez a tivessem roubado, ou algum animal a tivesse destruído. Como poderia pescar agora? Absorto, despertou-se com um ruído. Foi grande o seu espanto ao perceber que em sua direção movimentava-se lentamente, por si mesma, uma canoa, a mesma que ele construíra, agora com vida e olhos na proa. Talvez houvesse se transformado em um animal, pensou. Dar-lhe-ia então um nome: Igaranhã, o crocodilo.

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Entrou na canoa, ordenando-lhe que seguisse em direção ao lago. Assim que Igaranhã tocou a água, cobriu-se com muitos peixes, dos mais variados tipos, cores e tamanhos saltavam sem cessar da água para dentro da embarcação. Os primeiros, a própria canoa devorou, ficando, no entanto, a maior parte para o índio. À sua mulher, maravilhada, falou apenas que havia encontrado um lugar ideal para a pesca. Dias depois, retornando ao mesmo local, nada encontrou sob a frondosa árvore. Como por encanto, a canoa surgiu novamente da mata e, dirigindo-se ao lago, o fenômeno se repetiu. O índio ambicioso recolheu rapidamente os peixes, sem deixar à Igaranhã sua parcela do alimento. Esta então, muito contrariada, acabou por devorar seu próprio dono.

Fonte: www.terrasemmal.com.br/vozes/f_jacare.htm

Dica

Discutir sobre o ensinamento que essa lenda indígena nos traz. Nós também conhecemos a história da “galinha que botava ovos de ouro”. Que paralelo entre as duas histórias podemos traçar?

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SABEDORIA E VIDA

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Copa do Mundo é uma ocasião extraordinária para os apaixonados pelo futebol. No entanto, aproveitando o fato da Copa realizar-se na África, a equipe do jornal O TRANSCENDENTE quer ajudar a todos a mergulhar, através de quinze banners, nas culturas, riquezas e problemáticas da África e dos afro-descendentes que vivem no Brasil. Sua aquisição será um grande investimento! A Copa do Mundo 2010 será, assim, uma grande oportunidade para uma ação educativa, sobretudo nas escolas. Sugestão: Seria interessante que a própria Secretaria de Educação adquirisse coleções itinerantes para exposição e apresentação, em suas escolas, durante o período da Copa do Mundo. Naturalmente cada escola poderá adquirir a sua coleção.

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