UM POUCO SOBRE OS TUPINAMBÁS...( Mini Série ) – Parte 1
Por Marques, Marcio Renato[1]
Os tupinambás se distribuíam espacialmente desde o Nordeste até São Vicente e durante o século XVI foram desaparecendo gradativamente, após a chegada das epidemias trazidas pelos brancos e após as guerras promovidas pelos portugueses graças à aliança dos nativos com os franceses que culminara nas tentativas de ocupação no Rio de Janeiro e Maranhão. Seu modo de vida mesmo sendo nômade continha complexa organização, devendo e muito a divisão do espaço para as diferentes tarefas realizadas na vida cotidiana. A divisão do espaço da aldeia comportava basicamente as malocas e o terreiro, tendo as moradias uma relação de certa autonomia para todo o grupo social. (Veja mais
paginas 5 e 6) REVIVENDO AS TARDES DE DOMINGO Tardes calmas de verão. Tardes de domingo ensolaradas, de céu irrepreensivelmente azul. A brisa marinha incessante a brincar com as gaivotas sobre o Atlântico e a suavizar o calor dos corpos acomodados sobre a relva na beira da praia do Cruzeiro,
naquele trecho entre a cruz e as imediações defronte o prédio da antiga Câmara Municipal. ( Veja mais na pagina 01)
REVIVENDO AS TARDES DE DOMINGO – Texto de Eduardo Souza Neto
Aqui e ali, grupinhos de jovens ou de adultos a prosearem. Mais afastados, casaizinhos de namorados. Eram tempos de pudor e recato em público. Na sombra das amendoeiras, os que mergulhavam nas páginas de um livro ou de um jornal. Mais adiante, um ou outro que escutava, no radinho de pilha portátil, Mitsubishi, a transmissão, em ondas curtas, de algum jogo do campeonato paulista de futebol. Eram tempos de Pelé e Ademir da Guia. A certa altura, de enormes caixas acústicas, instaladas nas cercanias pelo Gustavinho Skiendzel, o som agradável, de excelente qualidade para aquela época, pervagava a tarde com as músicas que fizeram a trilha sonora daquelas gerações: The Beatles, Sergio Endrigo, Nico Fidenco, Gilbert Becaud, Ray Charles, Wilson Simonal, Rita Pavone, Vanderleia, Roberto e Erasmo Carlos e por aí afora. E nós ali, não sentados à beira de um caminho, mas à beira da praia, naquelas imensas tardes de domingo. Tardes de domingo preguiçosas. O tempo passava lento, planando como as fragatas nas correntes de ar pelo azul do céu. Bem cedinho, à igreja. Depois, à praia. Após o almoço, o Cine Iperoig ou a beira da praia do Cruzeiro. Exceto quando havia algum jogo de futebol importante no campo do Perequê-Açú. Um ASDER versus Diabos Rubros. Aí, então, a cidade baldeava-se àquele bairro para assistir aos nossos
craques da bola. E tínhamo-los em pencas: Nédes, Novato, João Gonzaga, Toninho e Dedé Medeiros, Zé Antonio, Wilson Guimarães, Joanilson, Tuta... Dava gosto vê-los jogar. Eu era torcedor do Diabos Rubros. Um timaço, treinado pelo Ari Cunha e depois pelo saudoso amigo Helio Stefani. Nédes, Wilson Guimarães e Toninho Medeiros, talvez, os três maiores craques do futebol ubatubense. Naquelas tardes, as proximidades das laterais do gramado do campo de futebol ficavam tomadas pelo público. Homens e mulheres, dos mais abastados aos menos favorecidos, pessoas de todas as idades, e todos se conheciam. Carrinhos de pipoca e, circulando entre o povaréu, garotos a vender pirulitos em tabuleiros e, em cestas de taquara, amendoim torrado ou pinhão cozido. Fogos de artifício, rojões, a partida havia terminado, a tarde chegava ao fim, saltava o alambrado da Serra do Mar. As pessoas, então, retornavam para suas casas, alguns de bicicletas, a maioria à pé, em grupos, e riam e tagarelavam, respeitosos e descontraídos. Penso que não lhes passava pela alma a idéia de que aquelas tardes de domingo eram reflexos de uma comunidade coesa na alegria e no sofrimento, de que tinham uma história e uma cultura comum que as identificava e as unia e de que um dia aquelas tardes de domingo em Ubatuba não se repetiriam nunca mais. CORTESIA :..........Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto é caiçara, 57, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba e urbi et orbi. - COLUNISTA DO SITE : http://www.ubaweb.com/
Na foto Seu Filhinho e sua esposa Lucila Passos de Oliveira (Dna Mocinh
GRANDES UBATUBENSES : BATISTA DE OLIVEIRA , o " Homem da Luz "
Baptista de Oliveira, nascido em Ubatuba em 13 de janeiro de 1904, sempre teve grande respeito e consideração pelos conterrâneos caiçaras. Desde tenra idade trabalhou para ajudar sua mãe. Ubatuba tinha poucas ruas. Em cada esquina havia um lampião a querosene que era aceso por ele diariamente, clareando precariamente onde as moças e os rapazes se encontravam para conversar e namorar, os mais velhos para contar "causos" e muitas estórias folclóricas criadas pelo povo, onde entrava também a caça e a pesca. Curioso era o cálculo feito na dosagem de querosene, pois para o Baptista não voltar para apagar os lampiões, colocava-lhe certa quantidade para acabar, coincidentemente, apagando-os. Por volta de 1928, tornou-se responsável pelo fornecimento de energia elétrica no município de Ubatuba, que na época era tocada por uma usina hidrelétrica, movimentada pela cachoeira do Perequê-Açú, hoje Usina Velha. Diariamente se deslocava de bicicleta, seu meio de locomoção, para ligar o gerador às 17:00 horas, abrindo a comporta da represa através de um volante de ferro, para a água movimentar a turbina, espécie de grande ventilador, que ao girar seu eixo acionava-o
gerando energia. Às 22:00 horas retornava fazendo a operação inversa para represar a água, desligando assim, toda a luz que clareava Ubatuba. Essa operação repetiu-se por longo tempo. Em 1938 Baptista foi morar num sobradinho, construído sobre a casa de máquina, onde era gerada a energia elétrica, casado então, com Benedicta Antunes de Oliveira, caiçara da praia do Cedro. Tiveram dois filhos, Batista de Oliveira Filho e Lydia Baptista de Oliveira. Havia aproximadamente 140 residências em condições de receber energia elétrica. Em 1948 mudou-se com a família para uma casa no centro da cidade, esquina das ruas Professor Thomaz Galhardo e Coronel Domiciano, com a inscrição "FORÇA E LUZ DE UBATUBA" - CTI - Companhia Taubaté Industrial, segunda firma de energia elétrica vinda de Taubaté, eliminando a anterior "Bremência". Nessa época a energia funcionava no município o dia todo, contando com aproximadamente 400 residências em condições de recebê-la. Baptista, o Homem da Luz, como era conhecido, colocava a escada feita de bambu de vez, por ser mais leve que a de madeira, aos ombros, saindo para fazer novas ligações e reparos na rede elétrica, cumprimentando a todos que encontrava tirando o chapéu em sinal de respeito, com a mão segurando a escada. Nas suas horas de descanso, atendia aos pedidos dos amigos, que eram muitos, sem cobrar um tostão sequer, consertando aparelhos elétricos, como ebulidores, chuveiros, ferros e fogões elétricos. A honestidade era o que mais prezava, pois, quando não tinha mais condições de recuperar os aparelhos fazendo emendas, comprava as resistências, apresentando aos donos a nota fiscal bem como as queimadas. Em junho de 1962, foi aposentado, mas antes, ou seja em abril do mesmo ano, recebeu um prêmio da empresa, pelo seu bom desempenho, admitindo seu filho Batistinha, ainda menor de idade, que continuou na Empresa até maio de 1969, quando foi encampada pela CESP (Centrais Elétricas de São Paulo), trabalhando até março de 1992, aposentando-se como seu pai. Baptista de Oliveira faleceu no dia 25 de outubro de 1980 na casa em que residia, construída por ele mesmo na rua Cunhambebe, lá deixando os seus filhos e esposa. Tempos saudosos, do Homem da Luz, da primeira casa com energia elétrica e do primeiro rádio de Ubatuba, onde faziam fila para ouvi-lo. Baptista de Oliveira foi um homem íntegro, responsável, educado, honesto, boa índole e personalidade. Sabia dizer sim, sabia dizer não. Um verdadeiro símbolo do homem ubatubense. - João Claro da Rocha FONTE / CORTESIA.......http://www.ubaweb.com/
UM POUCO SOBRE OS TUPINAMBÁS...( Mini Série ) – Parte 1 - A Organização da maloca As malocas eram para a vida social e cultural dos tupinambás do Rio de Janeiro e São Vicente quinhentista um sistema de organização complexo, obedecendo às relações de parentesco entre os líderes locais e delimitando o espaço a ser ocupado pela população de determinado grupo. Como definiu Florestan Fernandes as malocas (1963) eram unidades vicinais que obedeciam à lógica das "atividades econômicas", sendo responsáveis pela divisão do trabalho, sistematizando as atividades entre os pais de família, mulheres e agregados. (e por vezes cativos de guerra esperando sua execução) Os cronistas do século XVI preocuparam-se com sua descrição física, reservando as relações sociais a Importância mínima, passando às vezes despercebida. Com base na primeira análise descritiva, a habitação dos tupinambás quanto ao tamanho é observada por Staden (1930) como uma construção com 14 pés de largura e 150 de comprimento; o calvinista Léry (1960) apenas afirma que possuem mais de 60 pés de comprimento, sendo de grande praticidade e mobilidade obedecendo à característica nômade dos grupos locais. Aldeia de Ubatuba (grafada originalmente Uwatibi) (imagem digitalizada da pagina 130 da crônica de Staden: Viagem ao Brasil – Versão do texto de Marpurgo, de 1557. Rio de Janeiro: Officina Industrial Graphica, 1930) O nomadismo observado por Léry aparece pela constatação de que vivem no máximo cinco meses no mesmo local, migrando em busca de "ares melhores", mostra de que a tradição parece ser muito mais presente do que os fatores ligados a subsistência do grupo. Levando em conta o conteúdo da crônica é possível analisar a passagem a seguir da fonte: (e depois observar o diálogo por um dos elementos definidos por Certeau (2000) como fundamentais a etnologia) E se lhes perguntarmos por que mudam tão freqüentemente, respondem apenas que passam melhor trocando de ares e que se fizessem o contrário de seus avôs morriam depressa (Léry, 1960, p 208) O elemento da inconsciência apontado por Certeau se enquadra na referida situação. Seria ela uma série de fenômenos coletivos cuja explicação não é clara, embasada no tempo da sociedade "selvagem", pois este é imemorial. Outro elemento do quadrilátero complementar da etnologia do século XVII é presente na passagem acima: a oralidade. O autor francês se apóia em Lévi-Stráuss: onde a linguagem da crônica é
de cunho histórico, não etnográfico; tenta explicar por uma linguagem que está acostumada a abordar o consciente falando de relações do inconsciente; ou seja, a comunicação feita pela sociedade primitiva (a oralidade) é presente apenas dentro de sua própria cultura, reservando ao outro uma resposta bastante subjetiva, principalmente se tratando de um diálogo despretensioso do cotidiano. A necessidade de tal nomadismo se aplicava, tanto com base em necessidade de subsistência quanto à tradição, exemplificada nos hábitos de coleta de penas de aves para utilizá-las em adornos durante os rituais. O aspecto relacionado à subsistência apontado por Fernandes (1963) segue a lógica de uma busca por boas áreas agrícolas, próximas a cursos de água doce e a bosques para coleta de frutas e caça. Staden no início do nono capítulo de sua crônica exemplifica a busca pelas penas utilizadas nos rituais: Ao pé da ilha, na qual fui aprisionado, há uma outra ilha pequena, onde se aninham uns pássaros marítimos de nome Uwara (guará - mirim).Perguntaram-me os índios se os seus inimigos Tuppin Ikins tinham estado lá este anno,para apanharem os pássaros e os filhotes [...]estimam muito as pennas daquelles pássaros, porque todos os seus enfeites são geralmente de pennas. ( Staden , 1930 . p 62) A busca por penas de pássaros juntamente com áreas de pesca estimulava o contato entre povos inimigos, criando áreas de litígio. Tais áreas tinham por característica peculiar tendo em vista a construção das aldeias, a utilização de caiçaras duplas, ausentes em áreas tidas como seguras. A aldeia de Ubatuba onde Staden esteve cativo serve como exemplo de grupo social encravado no limite com aldeias e povoações inimigas, tendo nas malocas populações predominantemente guerreiras em constante migração, ainda conservando o costume de depositar em suas paliçadas as cabeças dos inimigos decapitados. Apesar do nomadismo e das diferenças com relação as áreas próximas ou não dos inimigos, as aldeias tupinambás procuravam se fixar em áreas amplas, com a distribuição das terras férteis acontecendo de maneira autônoma, onde cada pai de família recebia um pedaço de terra que variava para plantar principalmente mandioca. (FERNANDES,1963) Confira na nossa próxima edição a Parte 3
ASSIM ERA UBATUBA _ AVENIDA IPEROIG 1950