A Lenda do Pinheirinho Feliz

Page 1

Sergio L. Fleck





Apresentação Então tá combinado. Eu faço a apresentação desse livro, porque o conheci muito antes de ser impresso. Antes de ganhar as belas ilustrações do Murilo. Antes de chegar até vocês, para que se deliciem com essa história de poesia e ecologia. Alguns desconhecem o valor dessa palavra, ecologia, uma das mais importantes que surgiram nos últimos trinta anos. Resume a relação que a raça humana tem que ter com os seres vivos e o meio ambiente que nos cerca. Simplificando: é preocupar-se com os animais, a água, o ar que respiramos, as árvores e as plantas. Confesso que isso só nos dá prazeres e encantos. Moro numa casa de pátio grande. Gosto de colocar restos de pão para ver a festa que os passarinhos fazem. Eles se divertem como se estivessem num banquete. Mólho todos os dias as plantas que estão no meu gabinete. As vezes, até converso com elas. Quando chove, costumo colocá-las na rua, pelo menos por alguns minutos. E pergunto depois: “gostaram do banho?”. O livro do Sérgio fala muito disso, das coisas que nos rodeiam, sem que as vezes nem tenhamos tempo para nos preocupar com elas. Fala também do Natal, a época mágica do ano. Eu gostei muito. Quero que vocês também tenham o prazer que tive nas duas leituras, antes e agora, acompanhada por ilustrações. E, como dizia aquela menininha muito esperta, “de que me serve um livro sem figuras?”.

Goida Jornalista e Pesquisador



Descoberta Ao bosque fui, sim, eu fui lá e tinha vontade de nada encontrar. Uma florzinha avistei então, brilho de estrela na minha mão. Eu quis colhê-la e a ouvi falar: “se tu me quebras eu vou murchar”. Logo a plantei em um canteiro e ela floresce o ano inteiro. Goethe Escritor e poeta alemão

1749-1832

À Patrícia, minha sobrinha, que um dia me escreveu um livro.


EE

6

ra uma vez uma linda vila que ficava no alto da serra, entre montanhas, matas virgens e florestas de pinheiros. Ela se chamava Vila Verde. Durante a época do Natal, a fama de suas lindas paisagens, as lojas de artesanato e fábricas de chocolate, fazia com que muitas pessoas viessem da cidade grande em busca de belos passeios e de encontrar os pinheiros para decorar suas casas. Era uma época alegre e de grande movimentação, agitando o comércio e divertindo os pacatos moradores.


Mas na vila haviam pessoas preocupadas com esta tradição e com o fato de que a cada ano mais e mais pessoas invadiam a floresta. Entre elas estava o Sr. Gustavo, o prefeito da vila. Sendo um homem inteligente e levando a sério o futuro da vila e da floresta, não deixava de reconhecer a grande ligação entre as duas. Precisando pensar e entender melhor a questão, resolveu ir ele mesmo buscar o pinheiro de Natal de sua família. Aproveitaria para dar uma boa olhada na floresta. Desde menino não fazia isso. Como a maioria dos moradores mais ocupados, sempre terminava pedindo aos lenhadores para realizar esta tarefa. E estes faziam este trabalho com muito orgulho, pois eram filhos e netos de outros lenhadores, todos grandes conhecedores dos caminhos e segredos da floresta.

Escolheu um domingo, pois não havendo escola, poderia convidar suas três filhas para o passeio. A mais velha se chamava Ana Cláudia, a do meio Patrícia e a menorzinha Adriana. O dia estava lindo e tranqüilo. E lá foram eles, conversando alegremente.

7


- Papai, porque o senhor não pediu ao lenhador para buscar nosso pinheirinho? - perguntou Ana Cláudia, a mais velha das filhas. - Ora, não é uma tarefa assim tão difícil. Além do mais, queria dar uma olhada nas árvores e respirar o ar puro. Achei que vocês também gostariam do passeio. - Mas o lenhador conhece melhor a floresta. O senhor trabalha no escritório da prefeitura e da loja, só mexe em papéis e não entende nada de árvores.

8


- Você tem razão. Mas sempre é bom refazer um caminho bonito como esse. Lembro de quando era criança e subia aqui para brincar. - A senhora Strudel, nossa professora, disse que a floresta tem muito mais vida do que em todas as cidades juntas - completou Patrícia. - Que bobagem! - retrucou Ana Cláudia. - Como pode haver mais vida se aqui não mora ninguém? Tem menos gente que em nossa vila. - Mas tem os bichinhos - disse Adriana, a pequenina. - E também as árvores - completou Patrícia. - A professora disse que elas possuem tanta vida como nós. E que até podem ter sentimentos. - Ora que bobagem! - repetiu Ana Cláudia. - Não acredito nisso. Você acha que é verdade pai? - Não sei, minha filha. É uma questão interessante. Tenho pensado muito a respeito do que estaria acontecendo. Sinto que algo está diferente nestas árvores. É como se estivessem tristes. Está faltando alguma coisa. Tudo está estranhamento quieto. Mas, acho que a Sra. Strudel tem razão em dizer que aqui existe muita vida. Talvez nós ainda não estejamos preparados para compreendê-la perfeitamente. Passamos muito tempo cuidando de nossos problemas e de nossas cidades. Terminamos até esquecendo de passeios como este. Antigamente a gente visitava a floresta e conversava com as árvores. - Mas isso é possível? Como se pode conversar com uma árvore? - perguntou Ana Cláudia. - É modo de se expressar, minha filha. Um velho lenhador que trabalhava com seu avô, sempre comentava que quando se passeia pela floresta, pensando na vida, as árvores ouvem tudo o que as vozes de dentro da nossa cabeça dizem. E assim conversamos com elas. - Qualquer pensamento? - perguntou Ana Cláudia. - Sim, qualquer um. Desde que sincero e puro. As árvores não entendem a maldade - respondeu o prefeito. - Será que não é por isso que elas estão assim quietas? - perguntou Patrícia.

9


- Você também sente isso? - E onde estão os bichinhos? - insistia Adriana. - Pois é. Os bichinhos parecem estar todos escondidos. Acho que estão com medo de se aproximar das trilhas. É provável que estejam a cada ano com mais medo das pessoas. - A Sra. Strudel disse que isto é ruim. Que um dia nossa vila não será mais tão bonita e ficaremos parecidos com as pessoas da cidade grande - falou Patrícia. - Mas e o que há de errado com as pessoas da cidade grande? Não são gente como nós? - perguntou Ana Cláudia. - Sim, é claro que também são gente. Mas estão sempre com muita pressa. Fazem tudo correndo. Uma amiga que tem uma prima na cidade me disse que lá as árvores ficam nas casas só mais dois dias após a noite de Natal . Depois são jogadas no lixo e ninguém mais dá bola para elas - comentou Patrícia. - Só dois dias?! - exclamou Ana Cláudia. - Mas aqui na vila nós ficamos admirando o pinheirinho todas as noites por mais de um mês. Que desperdício! Pai, isto está errado. - Sim, minha filha. Concordo com você. Mas não pense que as pessoas da cidade são más. Elas apenas têm um tipo de vida diferente do nosso, pois não tem o convívio com a mata e a floresta de pinheiros. - Só quando vem até aqui. E ainda por cima para levar embora uma árvore, como se ela fosse outro destes enfeites que estão a venda nas lojas - finalizou Ana Cláudia, demonstrando contrariedade.

10


O prefeito Gustavo e suas três filhas seguiram pela floresta procurando seu pinheirinho. Eles não tinham pressa, aproveitando o divertido passeio. Mas lá pelas tantas, na brincadeira de esconde-esconde, as meninas acabaram se perdendo do pai. Confusas, caminharam de um lado para outro ao redor da trilha. Cansadas sentaram-se num velho tronco caído. - Vamos aguardar aqui em cima, perto da trilha. Quando papai passar, nós o chamaremos - disse Ana Cláudia. - Eu nunca fiquei sozinha na floresta. Será perigoso? - perguntou Patrícia. - Eu não tenho medo dos bichinhos. Eles são bonzinhos. É só não lhes fazer nenhum mal - disse Adriana, a menorzinha. - Vamos ficar tranqüilas e quietas. Assim, poderemos ouvir o papai nos chamar - completou Ana Cláudia.

11


E elas ficaram bem quietinhas ouvindo os ruídos da mata. Ouviram os passarinhos, o balançar dos galhos, as folhas com o vento e o zunido da ponta dos pinheiros. Tudo como uma grande sinfonia da natureza. De repente Adriana ouviu um choramingar baixinho e chamou pelas irmãs. - Alguém esta chorando. Vem dali daqueles pinheiros - apontou Adriana. - Mas eu não vi ninguém pela trilha - disse Ana Cláudia. - Eu também não - retrucou Patrícia. - Talvez seja outra criança perdida como nós. Vamos procurá-la. Ergueram-se e caminharam até os pinheiros. Olharam por todos os lados, mas não encontraram ninguém. - Que estranho. Eu também ouvi o choro. Vinha daqui mesmo. Vamos procurar melhor - disse Ana Cláudia. E recomeçaram a busca. Até que Adriana chamou-as para perto de um pinheirinho bem verdinho que estava no meio das outras árvores maiores. - O que foi? Descobriu alguém? - perguntou Ana Cláudia. - Quem está chorando é este pinheirinho - indicou ela, enquanto segurava delicadamente um de seus ramos. As outras duas se aproximaram e ficaram espantadas com o que ouviam. Era mesmo o pinheirinho que estava chorando. - Ele disse que não quer ser cortado - falou Adriana. - E que não quer sair da floresta e ser levado para a cidade, abandonando este lugar e sua família. Neste momento chega o prefeito Gustavo esbaforido. - Ah! Então vocês estão aí. Pensei que estavam perdidas. Mas vejam que sorte, encontrei também um belo pinheirinho para levar. - Não! - gritaram as três juntas. - Este é sim o nosso pinheirinho, mas ele não vai ser cortado - completou Patrícia. - Sim, papai. Descobrimos o motivo da tristeza na floresta. Os pinheiros estão com medo de serem cortados e levados embora da floresta. Querem ficar aqui com sua grande família de árvores - comentou Ana Cláudia. - E como descobriram isso? - perguntou o prefeito Gustavo, intrigado. - Este pinheirinho nos disse. Não pode ouvi-lo chorar? - disse Patrícia.

12


13


Gustavo se abaixou e aproximou a cabeça para perto do pequeno pinheiro. Depois voltou a levantar e por alguns instantes permaneceu pensativo. - Não, não posso. Mas acredito na sinceridade de vocês. - Precisamos impedir que as pessoas os levem embora - reclamou Adriana. - Isso é impossível, minha filha. Daqui a pouco as pessoas da cidade começarão a chegar e não há como impedi-las. Elas têm pressa, vocês sabem bem disso. - Então nós precisamos ter mais pressa ainda e encontrar uma solução para protegê-los. Pense em alguma coisa, o senhor é o prefeito. Impeça-os - disse Patrícia. - Sim, eu sou o prefeito e tenho autoridade, mas nem por isso deixo de ter também a obrigação de justificar meus atos. Não será fácil fazer com que as pessoas acreditem que um pinheirinho simplesmente falou com vocês e pediu isso em nome de todos os outros - argumentou Gustavo. - Nós o ajudaremos. Precisamos salvar a floresta - disse Ana Cláudia. - Então vamos voltar rápido. Preciso reunir o conselho da vila. - Espere um pouco papai interrompeu Adriana, mexendo nos cabelos. Vou amarrar esta fita azul no nosso amigo pinheirinho para depois encontrá-lo e contar-lhe as novidades. E se foram correndo trilha abaixo.

14


Naquela mesma noite acontecia uma grande reunião na casa do prefeito. Lá estavam também o doutor Pedro, o médico, a Sra. Strudel, a professora, o pastor Bruno da igreja e mais algumas pessoas importantes da vila.

15


O prefeito tomou a palavra e surpreendeu a todos com uma frase direta: - Precisamos impedir que as pessoas da cidade grande levem os pinheiros da floresta. Ficaram todos em silencio. Depois de alguns instantes, o homem que representava os comerciantes da vila perguntou: - E o senhor pode nos explicar porque? O prefeito Gustavo estava confuso. Ele não poderia contar que um pinheirinho havia simplesmente conversado com suas filhas. Isso poderia parecer maluquice. Precisava encontrar uma maneira de fazê-los conhecer e entender o problema da floresta. Pior ainda, em se tratando de uma tradição muito antiga e importante para o comércio da cidade, as pessoas não iriam aceitar qualquer desculpa. Enquanto o prefeito pensava numa saída, a discussão na sala foi aumentando. Todos falavam ao mesmo tempo. Até que Patrícia, que ouvia tudo atentamente, interrompeu e pediu a palavra. - Acredito que todos concordam que a mata é muito bonita, que dela vem não só a beleza como muita vida. E somos assim felizes porque vivemos aqui bem perto dela e dos seus encantos. Agora, se os pinheiros continuarem a ser levados, como ela irá sobreviver? É como se desta vila aos poucos fossem sendo levadas as crianças. - Ela tem razão - disse o pastor Bruno. - Concordo que a cada ano a vila está perdendo um pouco da sua juventude e do seu brilho. Como faziam nossos antepassados, tenho andado pela mata para pensar e conversar com as árvores. Posso afirmar que ela não tem a mesma vivacidade de antigamente. O problema não parece estar na madeira que tiramos para nossas casas ou a lenha para o fogo. Ela nos reclama é seu abandono. Mesmo silenciosa, dizendo as coisas a maneira da natureza, ela nos pede proteção. - E não esqueçam do ar puro! - retrucou o doutor Pedro. Agradeçam a ela nossa boa saúde, a terra fértil que plantamos e os bons alimentos que colhemos. Tudo está ligado à mata e a floresta de pinheiros. Até mesmo a chuva que enche nossos lagos. - Mas e a tradição do pinheiro iluminado na noite de Natal? - retrucou o representante do comércio. - Sim, como iremos mudar isso? - perguntou a Sra. Strudel. Isso também faz parte da vida das pessoas.

16


- Poderíamos simplesmente proibir o corte e permitir apenas a visitação - respondeu o prefeito. - E de onde as pessoas irão tirar seus pinheiros para a noite de Natal? E os enfeites, os chocolates? É certo que ficarão contrariadas com essa proibição. Não aceitarão isso. Preparem-se para os protestos contra argumentou o representante do comércio. - Mas para que a tradição continue existindo, é nossa obrigação fazê-los compreender que estas pequenas árvores não podem mais ser levadas da floresta e depois simplesmente jogadas no lixo respondeu o prefeito. Elas têm vida como nós. Talvez seja o momento de fazê-los pensar que dentro das casas o certo seja utilizar pinheirinhos artificiais. Tenho certeza que estaremos fazendo o melhor para nossa vila, para o bem comum e, no futuro próximo, até mesmo para as pessoas da grande cidade. - Pensando bem, a idéia de uma fábrica de pinheirinhos artificiais até que não é má. Poderíamos montá-la ao lado da fabriqueta de enfeites. Isso parece interessante falou um dos comerciantes. - Vamos dizer a todos que somos os Guardiões da Floresta e que estamos dispostos a protegê-la. Só assim, ela poderá existir para sempre completou Patrícia. A reunião foi dada como terminada. Combinaram que na manhã seguinte reuniriam o povo de Vila Verde para divulgar as idéias do conselho.

17


Pastor Bruno tocou o sino e a praça na frente da igreja ficou lotada. Então o prefeito Gustavo, o doutor Pedro e a Sra. Strudel falaram sobre o problema da floresta. O povo ouviu atentamente. Eram educados e prestativos, respeitando as autoridades, pois sabiam que eram pessoas honestas e sinceras. Mas depois da idéia ser apresentada, ficaram confusos. Responderam: - Entendemos a aceitamos a preocupação do conselho. A floresta é, sem dúvida, a coisa mais importante que possuímos e é através das árvores e dos pinheiros que ela se renova. Só que agora é tarde para discutir isso, pois muitos de nós partiram muito cedo pela manhã e já cortaram seus pinheirinhos.

18


- Oh! Não é possível! - surpreendeu-se o prefeito. - Mas porque tão cedo assim? O dia mal começou - comentou a Sra. Strudel. - Ora, ficamos com medo de que as pessoas da cidade grande levassem todos e não sobrasse mais nenhum. - Isso é um exagero! - gritou o prefeito. - Vocês estão ficando com mais pressa do que eles - reclamou o doutor Pedro. - Calma, calma. Eles não têm culpa completou o pastor Bruno. - Fizeram isso apenas para garantir a tradição. - E o que faremos agora? - disse aflito o prefeito. - Coitados dos pinheiros. - Eu tenho uma idéia - gritou Patrícia. - Se nós queremos ser os Guardiões da Floresta e mantê-la viva para sempre, então porque não plantamos todos esses pinheirinhos nesta praça? Assim teremos um enorme jardim para nos reunir, montar um grande presépio e cantar os hinos na noite de Natal. - Claro, é uma boa idéia! exclamou a professora. - Poderemos convidar as pessoas da cidade grande para que os apreciem aqui na vila ao invés de levá-los por apenas dois dias e depois jogá-los fora como lixo. - Viva! Vamos plantar nossos pinheirinhos gritaram as pessoas.

19


E o povo partiu em direção a suas casas para buscar ferramentas. Num instante a praça se tornou um grande campo de trabalho comunitário. Estavam todos adorando cultivar o Natal. Um dos lenhadores também apareceu com seu pinheirinho no ombro. O prefeito Gustavo foi recebê-lo. - Ora, ora. Eu não sabia que os lenhadores também buscavam um pinheirinho de Natal. - Oh, não. O senhor prefeito está enganado. Este não é para mim. É uma surpresa para suas filhas. Fui pela manhã muito cedo, ainda meio noite. Mas agora vou replantá-lo como todo mundo. E tenho certeza: será o mais bonito de todos. O prefeito olhou bem para aquela pequena árvore e ficou triste. Reconheceu a fita azul amarrada no pequeno tronco. Imaginou o quanto as filhas, principalmente Adriana, iriam ficar tristes ao vê-la ali cortada. Achou melhor não falar nada. No fim da tarde a praça estava cheia de pinheiros replantados e lindamente decorados com bolinhas, estrelinhas, fitas e cordéis coloridos. O prefeito e o conselho mandaram uma carta às autoridades da cidade grande, explicando a proibição do corte dos pinheiros. Convidavam também para passarem o dia e a noite de Natal na praça. Seria uma grande festa. Fizeram mistério a respeito de uma surpresa que provavelmente os encantaria. Passaram-se os dias da semana e chegou a véspera de Natal. Novamente todos se reuniram diante da praça. As conversas tinham tom de grande preocupação, pois os pinheiros já estavam replantados há alguns dias e não davam sinais de reflorescer. Ao contrário, estavam murchos, meio tortos e com os ramos vergados para baixo, como braços cansados. Não havia vida naquele jardim.

20


Alguém teve uma idéia. - Vamos chamar o mais experiente dos lenhadores! Ele nos dirá o que fazer. Após alguns minutos, um velho lenhador apareceu diante da pequena multidão. Depois de andar pelo jardim ele falou: - Não há raízes. Os pinheiros precisam delas para se alimentar. - Então irão murchar até morrer? - Provavelmente - respondeu o lenhador, cabisbaixo. - Mas amanhã é Natal. As pessoas da cidade grande virão visitar-nos. Cantaremos hinos e tudo mais. Deveria ser uma festa alegre. Os pinheiros precisam estar vivos, verdes e brilhantes - exclamou o prefeito. - Meu velho avô - disse o lenhador - provavelmente diria que somente o anjo verde poderia salvá-los. - Anjo verde? Que anjo é este? - perguntou o prefeito. - É um anjo que anda pela floresta e ajuda as plantas e árvores doentes. - E como podemos encontrá-lo? - Ah, isso eu não sei, senhor prefeito. Nunca o vi e nem mesmo sei se existe. O povo permaneceu triste e pensativo. - Já sei! - exclamou o prefeito. - Vou chamar minhas filhas e pedir para que elas conversem com seu pinheirinho. Ele nos dirá como encontrar este anjo. Ana Cláudia, Patrícia e Adriana entraram na praça, assustadas com toda aquela multidão olhado-as atentamente. Seguiram por entre os canteiros procurando por algum pinheirinho que quisesse falar.

21


E quando encontraram seu amiguinho com a fita azul amarrada no tronco, levaram um susto enorme, pois não sabiam que ele também estava ali. O coitado estava murchinho, fraquinho, choramingando bem baixinho. Elas mal conseguiram entender seus murmúrios. Voltaram e contaram tudo ao pai. Seria um Natal muito triste. Pastor Bruno pediu que não perdessem a esperança e que ao voltarem as casas continuassem rezando. Chegou a noite e a hora da festa. Apesar de tudo, o povo se reuniu na praça. Já havia por lá muitas pessoas da cidade grande. Pastor Bruno deu início ao cerimonial com preces e orações. Aos poucos e muito timidamente, começaram a cantar alguns hinos. Suas almas estavam cheias de emoção. Cantaram de forma tão pura, que suas vozes ecoaram por todo o vale, penetrando na floresta, subindo pelas encostas das montanhas. Era um clamor sincero e triste. De repente Patrícia gritou para que olhassem para a praça porque lá estava acontecendo alguma coisa estranha. Uma luz esverdeada brilhava magicamente sobre ela, crescendo, crescendo, até se transformar na imagem de um anjo com grandes asas balançando suavemente. Ele flutuava pela praça e parecia sorrir para todos. Sobre ele, bem acima da cabeça, surgiram pontos de luz que como pequenos flocos de neve começaram a cair lentamente. O povo vibrou de contentamento. A felicidade retomou seus corações. Ficaram alegres e empolgados pela emoção, cantaram “Ó Pinheiro”.

22


Então o anjo abriu bem as asas e o imenso brilho das estrelas fez reluzir as gotas de orvalho sobre os ramos dos pinheiros da praça, da mata virgem e da floresta ao fundo. Agora eles pareciam possuir luz própria, iluminando de dentro para fora, reerguendo pouco a pouco os ramos, ganhando vida e felicidade. Os pinheirinhos estavam renascendo. A vida, ao mesmo tempo que reaparecia, devolvia beleza a tudo e a todos. Estavam iluminados e felizes. O povo também se sentia iluminado. Então, em uma só voz, cantaram ”Na Árvore de Natal” e “Noite Feliz”.

A Vila Verde ficou conhecida para sempre por sua Praça de Natal. E até hoje o pinheirinho das três irmãs, que cresceu grande, forte, alto e bonito, existe para a alegria de todos.

23


Ó Pinheiro (O Tannenbaum)

Na Árvore de Natal (Am Weihnachtsbaum)

Noite Feliz (Stille Nacht, Heilige Nacht)

Ó pinheiro, ó pinheiro,

Na árvore de Natal as luzes brilham. Como ela reluz festiva, querida e suave. Como se ela dissesse: “reconheçam em mim uma imagem de fé e esperança”.

Noite silenciosa, noite santa.

Nas crianças, com olhares risonhos e corações felizes, quanta alegria e espiritualidade emocionantes! Os mais velhos olham em direção ao céu.

encaracolados, dorme

quão constantes são teus ramos! Tu não ficas verde só no verão, mas também no inverno quando neva. Ó pinheiro, ó pinheiro, quão constantes são teus ramos! Ó pinheiro, ó pinheiro,

Dois anjos aparecem, ninguém os viu entrar. Eles vão até a mesa de Natal, rezam e se preparam para partir.

tu podes muito me encantar! Quantas vezes, na época de Natal, uma árvore como tu me deu alegria! Ó pinheiro, ó pinheiro,

“Abençoados sejam vocês os mais velhos, abençoadas sejam as crianças. Nós trazemos as dádivas de Deus; trazemos hoje a todos os humanos”.

tu podes muito me encantar. Ó pinheiro, ó pinheiro, tua imagem quer me ensinar algo: a esperança e a constância nos dão coragem e força em qualquer momento! Ó pinheiro, ó pinheiro, tua imagem quer algo me ensinar!

Tudo dorme, somente acordado está o santo casal. Lindo menino de cabelos um sono celestial, dorme um sono celestial. Noite silenciosa, noite santa. Dos pastores, primeiros avisados pelo anjo, Aleluia, ecoa alto, longe e perto: Cristo, o Salvador, chegou!

“Para as pessoas de bem e que O amam, nos envia o Senhor como mensagem. Se vocês permanecem fiéis, Nós retornaremos a esta casa”.

Noite silenciosa, noite santa.

Sem se perceber, eles se foram, assim como chegaram. Mas a benção permaneceu em todos.

nos anuncia a hora da salvação,

Filho de Deus, ó como sorri. Essa alegria divina, Cristo, com teu nascimento.

Fonte: Brochura da Federação dos Centros Culturais 25 de julho. Compilação de Theo Kleine, 1968. Tradução e livre adaptação de Miki Finkenwerder.



O autor com seus filhos Lauren e Conrad

Sergio L. Fleck, nascido no Rio Grande do Sul, é profissional de gestão, atuando há muitos anos nos segmentos de transporte e serviços logísticos. É formado e pós-graduado em Administração de Empresas pela UFRGS e em Eng. de Operações, habilitação Mecânica, pela PUCRS. Palestrante, facilitador e professor em cursos na área de logística e transporte, recebeu o Troféu Mérito do Transportador Gaúcho em 1999. Adora escrever e pesquisar como as coisas funcionam. Apesar de ter organizadas inúmeras coletâneas de contos, crônicas e poesias, até hoje não teve coragem de publicar. É um velho apaixonado pelo surg e se desliga do mundo ao olhar para o mar. Bem perto da casa dos 50 anos, sorri ao dizer que não quer jamais perder a adolescência: “É a época mais linda de todas as existências”.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.