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A praça de Monção
por Fernando Fernandes
Por estas alturas, estava Portugal em guerra com o Reino de Castela, nomeadamente durante o reinado de Fernando I e Henrique II, soberanos de ambos os países. Mesmo na fronteira mais a norte, um tal de Rodrigo de Sarmento, deslocou-se da Galiza para pôr cerco à vila de Monção pela sua localização estratégica tendo em vista um aumentar de terras para sul. Era, portanto, um excelente ponto de partida. Mas houve alguém, que se sobressaiu, dado o tremendo empenho e afinco demonstrado, na defesa da praça da vila; seu nome Deu-la-Deu Martins, esposa do capitão mor, Vasco Gomes de Abreu. Um autêntico símbolo de coragem e inspiração, correndo desenfreadamente para todos os lados, quer em tarefas de entre ajuda, quer em tarefas ofensivas arremessando pedras, e todo o que pudesse inflamar, contra as hostes Castelhanas. Mesmo quando estes conseguiam aproveitar uma pequena nesga para conseguirem entrar na parte central, lá estava ela de espada em riste, na linha da frente, para colmatar a falha e expulsar aqueles que tentavam investir. Foi um cerco muito duro, e com naturalidade, os bens essenciais começaram a escassear. Isso aliado também à falta de pessoas válidas para ajudar no combate, começou a tomar proporções cuja inevitabilidade passaria pela rendição. Mas, isso era uma palavra que não existia na cabeça de Deu-la-Deu Martins. Mesmo com este cenário a tornar-se cada vez mais evidente, e depois de ter assumido o comando dos homens que bravamente defendiam Monção, envolveu-se em todas as lutas possíveis, foi encorajando aqueles que já mostravam sinais de fraqueza e ainda assistia aqueles que necessitavam de cuidados médicos. Todavia, a fome começou a ser mais forte do que a coragem de todos os que a seguiam. O desespero, a fadiga e subnutrição estavam a começar a fazer baixas. Como tal, era claro que uma decisão, fosse ele qual fosse, tinha de ser tomada. Após subir à muralha e vislumbrar que os Castelhanos também estavam a sofrer do mesmo mal, teve uma ideia brilhante. Mandou cozer no forno a escassa farinha que restava a fim de ser cozinhado pão. Sem nada entender, os habitantes da vila obedeceram cegamente. Após este estar pronto a ser comido, encheu um cesto e subindo à muralha, começou a atirá-lo aos Castelhanos, gritando em boa voz:
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A confusão instalou entre os invasores. Jamais pensavam que as provisões da vila, davam para esbanjar ao ponto de lhes serem oferecidas com um tom de humanismo e altivez ao mesmo tempo. Cansados, e vencidos pela fome, os Castelhanos levantaram o cerco e voltaram para a Galiza. A heroína foi saudada e tornou-se o símbolo maior de Monção; aquela que os salvou da invasão de Castela. No largo do Loreto, em pleno centro histórico de Monção, pode ver-se a estátua de Danaíde. No centro da base dessa estátua envolvida por um chafariz em forma circular, a heroína encontra-se perpetuada no brasão de armas de Monção: “… Em campo branco uma torre, no alto da qual emerge um vulto de mulher, em meio corpo, segurando um pão em cada uma das mãos, em volta a legenda, Deus a deu – Deus o há dado”
— “A vós, que não podendo conquistar-nos pela força das armas, nos haveis querido render pela fome, nós, mais humanos e porque, graças a Deus, nos achamos bem providos, vendo que não estais fartos, vos enviamos esse socorro e vos daremos mais, se pedirdes!”