TFG: O Lobo que Nunca Vem: Centro Ambiental São Félix do Xingu by pablo.mauleon

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PABLO MAULEÓN TONIOLO

O LOBO QUE NUNCA VEM Centro Ambiental São Félix do Xingu

São Paulo – SP 2020

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PABLO MAULEÓN TONIOLO

O LOBO QUE NUNCA VEM Centro Ambiental São Félix do Xingu

Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadores: Prof. Rodrigo Mindlin Loeb Prof. Sami Bussab

São Paulo – SP 2020

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“Devemos andar aqui na Terra, pisando suavemente” Aílton Krenak

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AGRADECIMENTOS

As experiências que tive me fizeram quem eu sou e, portanto, agradeço a todos que participaram em maior ou menor grau e fizeram de tais experiências: memórias. De maneira alguma serei capaz de dimensionar a importância destes momentos e, principalmente, destas pessoas, tanto para a minha formação pessoal quanto para minha formação acadêmica, dada as suas magnitudes, e agradecê-las à altura. Mesmo porque, à medida em que o tempo passa, o espaço destinado aqui, que já é incompatível com a escala e a relevância que estas pessoas e experiências têm em minha vida, se faz cada vez mais desigual e aparenta ser cada vez menor. A desproporcionalidade entre o valor destas e a área aqui dedicada à elas é evidente. Dentre todos os nomes que vêm à minha mente, em primeiro lugar, dedico este trabalho e agradeço imensamente aos meus pais, João Fábio Mariotto Toniolo e Nuria Mauleón Montes, como não poderia ser diferente. Duas grandes referências e exemplos de pessoas, que têm um papel imensurável em minha vida e pelas quais tenho uma admiração e um amor de mesma ordem. Em segundo lugar, à minha família e aos meus amigos – muitas vezes facilmente confundidos como família –, que foram fundamentais ao longo de todo o processo. Devido à impossibilidade de contemplar e agradecer a todas as pessoas que são responsáveis por este trabalho e que participaram de minha formação, evito mencionar qualquer nome, com uma única e justificada exceção. Muito obrigado a todos mais uma vez por todas as experiências, por todas as reflexões, conversas e apoio que tive o imenso prazer de viver até agora.

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RESUMO

O Desmatamento e o Aquecimento Global, apesar de tratados muitas vezes de forma tragicômica por diversos líderes e figuras mundiais, devem ser entendidos e admitidos como eventos autênticos e incorporados em todas as agendas políticas, sociais e econômicas. O trabalho a seguir é uma tentativa de reforçar o reconhecimento do Aquecimento Global como um problema real, o seu caráter antropogênico e político, e de oferecer uma possível leitura e um instrumento de apoio para combater este processo, através do reflorestamento e da assistência a comunidades locais, a fim de reduzir os seus impactos e a sua amplitude. A discussão desenvolvida ao longo deste trabalho tem como resultado um objeto arquitetônico: o Centro Ambiental São Félix do Xingu – localizado entre os municípios de São Félix do Xingu e Novo Progresso, no Estado do Pará –, faz uso de elementos modulares, leves, acessíveis e sustentáveis, e foi pensado de forma a se adaptar ao local e às suas necessidades. Palavras-Chave: Acordo de Paris, aquecimento global, arquitetura, capitalismo, centro ambiental, desmatamento, Instituto Terra, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, política, reflorestamento, sustentabilidade.

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ABSTRACT

Deforestation and Global Warming, despite being often treated in a tragicomic manner by various world leaders and figures, must be understood and admitted as authentic events and incorporated into all political, social and economic agendas. The following work is an attempt to reinforce the recognition of Global Warming as a real problem, its anthropogenic and political character, and to offer a possible reading and a support tool to combat this process, through reforestation and assistance to local communities, in order to reduce its impacts and magnitude. The discussion developed throughout this work results in an architectural object: the Centro Ambiental São Félix do Xingu - located between the municipalities of São Félix do Xingu and Novo Progresso, in the State of Pará - makes use of modular, light, accessible and sustainable elements, and was designed to adapt to the site and its needs. Keywords: architecture, capitalism, deforestation, environmental center, global warming, Instituto Terra, Paris Agreement, politics, reforestation, sustainable development objectives, sustainability.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES E FIGURAS

Capítulo 01 O Capitalismo e o Colapso Ambiental Figura 01 �� O Jardim das Delícias Terrenas, Hieronymus Bosch, 1504 Figura 02 �� Fall of Icarus, Bernard Picart, 1731 Capítulo 02 Atividades e Dinâmicas Globais Figura 03 �� Indêndio em Poço de Petróleo, Sebastião Salgado, 1991 Figura 04 �� 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ONU, 2015 Figura 05 �� Consumo de Eletricidade em Casa, Captain America Report Figura 06 �� Consumo de Eletricidade per Capita, Captain America Report Figura 07 �� Emissões de CO2 por País, Captain America Report Figura 08 �� Comparativo Entre a Eletricidade Consumida por Norte-americanos e por Outros Cidadãos do Mundo, Captain America Report Figura 09 �� Dia da Sobrecarga da Terra, Global Footprint Network Figura 10 �� Dia da Sobrecarga da Terra por País, Global Footprint Network Capítulo 03 Desmatamento no Brasil Figura 11 �� Chega de Lendas, Vamos Faturar! SUDAM Figura 12 �� Serra Pelada, Sebastião Salgado, 1980 Figura 13 �� Desmatamento da Amazônia (1988-2019), INPE Figura 14 �� Doações do Fundo Amazônia, Fundo Amazônia Figura 15 �� Artigo sobre a Eleição de Bolsonaro, The Guardian Figura 16 �� Governança Ambiental no Brasil, Nature Climate Change Figura 17 �� Investimentos FUNAI / Invasões de Terras Indígenas, IS e CIM Capítulo 04 Instituto Terra Figura 18 �� Organograma Funcional, Instituto Terra Figura 19 �� Mapa Estratégico, Instituto Terra Figura 20 �� Produções de Mudas ao Ano, Instituto Terra Figura 21 �� Perfil dos Patrocinadores, Instituto Terra Capítulo 05 Referências Projetuais Figura 22.23 �� Coberturas no Xingu, Pedro Kok, 2018 Figura 24 �� Desenhos Técnicos, Estúdio Gustavo Utrabo Figura 25.26 �� Sede Administrativa Fundação Florestal, Pedro Kok, 2016 Figura 27 �� Planta Baixa Térreo, 23 Sul Figura 28.29 �� Ti kay là, Marco Cappelletti, 2016 Figura 30 �� Desenhos Técnicos, Bonaventura Visconti di Modrone, 2016 Capítulo 06 Arquitetura Figura 31 �� Índio Guajajara, Ueslei Marcelino, 2019 Figura 32 �� Mapa do Desmatamento da Amazônia, 2020

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Figura 33 �� Mapa do Desmatamento da Terra do Meio, 2020 Figura 34 �� Área de Estudo e Implantação, 2020 Figura 35 �� Índio Guajajara, Ueslei Marcelino, 2019 Figura 36 �� Diagrama de Relações Programáticas, 2020 Figura 37 �� Desenhos do Processo Projetual Figura 38 �� Isométrica de Modelo Virtual, 2020 Figura 39.70 �� Desenhos Técnicos do Projeto de Arquitetura, 2020 Figura 71.82 �� Detalhes Construtivos do Projeto de Arquitetura, 2020 Considerações Finais Figura 83 �� Tiger in a Tropical Storm, Henri Rousseau, 1891

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Capítulo 01 O Capitalismo e o Colapso Ambiental FAO �� Food and Agriculture Organization of the United Nations WWI �� Worldwatch Institute IPCC �� (Intergovernmental Panel on Climate Change) Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas GCP �� Global Carbon Project Capítulo 02 Atividades e Dinâmicas Globais ODS �� Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ONU �� Organização das Nações Unidas Capítulo 03 Desmatamento no Brasil Inpa �� Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Sudam �� Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia Incra �� Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Imazon �� Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia FBDS �� Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável INPE �� Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais PPCDAM �� Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia MMA �� Ministério do Meio Ambiente SEEG �� Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa CNA �� Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil PRODES �� Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia SAD �� Sistema de Alerta de Desmatamento SIOP �� Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento IBAMA �� Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ICMBio �� Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade COFA �� Comitê Orientador do Fundo Amazônia Embrapa �� Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Capítulo 04 Instituto Terra RPPN �� Reserva Particular do Patrimônio Natural FHIDRO/MG �� Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais Funbio �� Fundo Brasileiro para a Biodiversidade Capítulo 06 O Projeto Esec �� Estação Ecológica Flona �� Floresta Nacional UC �� Unidade de Conservação TI �� Terra Indígena

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ÍNDICE

Introdução 01. O Capitalismo e o Colapso Ambiental 01.01 O Aquecimento Global �� 24 01.02 Três Mecanismos �� 25 01.03 O Capitalismo �� 26 01. 04 Autonarrativa Tranquilizante �� 28 02. Atividades e Dinâmicas Globais 02.01 Introdução �� 32 02.02 Agendas Globais para o Desenvolvimento Sustentável................................... 32 02.03 Estilo de Vida �� 34 02.04 Impacto �� 25 03. O Desmatamento no Brasil 03.01 Introdução �� 40 03.02 O Desmatamento nos Governos Democráticos................................................ 41 03.03 Os Diferentes Cenários................................................................................................. 44 03.04 O Governo Bolsonaro.................................................................................................... 46 03.05 Terceira Via Amazônica............................................................................................... 47 04. O Instituto Terra 04.01 O Instituto Terra �� 52 04.02 Organização �� 52 04.03 Áreas de Atuação �� 53 04.04 Mudas................................................................................................................................. 53 04.05 Fundos e Capitalização de Recursos �� 54 05. Referências Projetuais

05.01 Coberturas do Xingu �� 58 05.02 Sede Administrativa Fundação Florestal............................................................... 60 05.03 Ti kay là.............................................................................................................................. 62 06. Arquitetura: Centro Ambiental São Félix do Xingu 06.01 Introdução......................................................................................................................... 66 06.02 Área de Estudo................................................................................................................ 67 06.03 O Terreno........................................................................................................................... 68 06.04 O Programa...................................................................................................................... 69 06.05 O Processo....................................................................................................................... 71 06.07 O Projeto............................................................................................................................ 73 Considerações Finais

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INTRODUÇÃO

A imprevisibilidade tem um papel muito importante em relação à possibilidade de concretização de um futuro ou outro. A dificuldade de antever processos e eventos históricos está muito ligada aos próprios acontecimentos, à sua dimensão e ao seu impacto. Se considerarmos que a ideia que se tem acerca deste conceito – história –, que agrupa os “fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade, em geral” (FERREIRA, 1989, p. 901), está muito atrelada aos fatos em si, e que “os mais decisivos processos e eventos históricos dos últimos cem anos não tenham sido previstos” (MARQUES, 2015, p. 13), é natural que entendamos que a imprevisibilidade é, de certa forma, fundamental para a construção da história. A Grande Guerra – ou Primeira Guerra Mundial, como ficou conhecida décadas depois, justamente porque não se previa que iria repetir-se –, a invenção de armas químicas e nucleares, a Grande Depressão, os movimentos nazistas e fascistas, a Segunda Guerra Mundial e mais recentemente o fim da União Soviética, o desenvolvimento de novas tecnologias e ferramentas e a crise financeira de 2008, são alguns dos maiores acontecimentos da história recente da humanidade e não foram antecipados pela grande maioria da população. O Aquecimento Global, no entanto, é amplamente discutido desde meados do século XX, e as suas causas e os seus impactos são cada vez mais conhecidos e estão cada vez mais próximos e cada vez mais palpáveis. Desta forma, é possível dizer que, hoje, este, que já pode ser considerado como um dos maiores e mais catastróficos eventos da história da humanidade, é um evento incrivelmente previsível e esperado. Diferentemente dos exemplos anteriores, estamos diante de um cenário no qual estudos, instrumentos e experiências passadas nos indicam de forma muito clara que passaremos por um grande trauma. Ainda assim, existe uma enorme relutância no investimento de recursos e esforços para minimizar os efeitos deste fenômeno.

Capítulo 01 O Capitalismo e o Colapso Ambiental

“Registros Espaciales” Francisco Medel

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1.1 O Aquecimento Global A discussão acerca do aquecimento global deve ser estimulada e fortalecida. Dados levantados por diversas áreas da ciência indicam que, “se nada for feito, o colapso dos serviços prestados pelos ecossistemas é uma clara possibilidade” (STEINER apud MARQUES, 2015, p. 456). Este fenômeno, de caráter sistêmico, está diretamente relacionado com a degradação e diminuição das florestas, subsistema crucial que abriga de 70% a 80% da biodiversidade terrestre. De acordo com o State of the World’s Forests da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), as florestas, que chegaram a cobrir 45% das terras emersas do planeta, hoje cobrem apenas cerca de 31%. Outras iniciativas apresentam números ainda mais alarmantes acerca do desmatamento, o Worldwatch Insitute (WWI) reporta que a humanidade foi responsável por uma redução de 30%, fazendo com que as florestas, que ocupavam aproximadamente 50% da superfície terrestre, passassem a ocupar menos de 20%.

Figura 01 Hieronymus Bosc (1450-1516) O Jardim das Delícias Terrenas (1504) Óleo sobre madeira

O desmatamento, causado pela combinação de sete fatores – sendo eles: a extração de madeira, o avanço da fronteira agropecuária, os incêndios criminosos ou não, as atividades de mineração, a implantação de hidrelétricas, a expansão das malhas urbanas e a abertura de estradas em áreas florestais –, é uma das atividades humanas que mais contribuem para a mudança climática. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC): 26% das emissões de gases de efeito estufa provêm da produção de energia; 19% da indústria; 17% do desmatamento; 14% do agronegócio (destes, 9% da pecuária); 13% do transporte (rodoviário, ferroviário, aéreo e marítimo, sendo que 95% do transporte mundial é movido a gasolina ou diesel); 8% das atividades comerciais e das residências e 3% do lixo. A liberação de gases de efeito estufa, provocada pelas atividades descritas acima, fez com que as concentrações de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N20) atualmente excedam substancialmente as maiores concentrações registradas no gelo durante os últimos 800 mil anos. Desta forma, tais atividades são vistas, inevitavelmente, como a causa dominante do aquecimento observado desde meados do século XX. De acordo com Luiz Marques (2015), este

01. O Capitalismo e o Colapso Ambiental

consenso científico sobre o caráter preponderantemente antropogênico das mudanças climáticas pode ser considerado como um dos mais monolíticos da história do saber. Em 1995, o segundo relatório de avaliação das mudanças climáticas do IPCC dizia que a probabilidade de que o aquecimento global fosse causado em decorrência das atividades humanas era maior que 50%. Em 2001, no terceiro relatório, o IPCC aumentou esta estimativa para um valor entre 66% e 90%. Em 2007, no quarto relatório, 90%. E em 2013, o IPCC afirmou em seu quinto relatório que, através do monitoramento do aquecimento da atmosfera e dos oceanos, da diminuição da neve e do gelo, da elevação do nível do mar e das crescentes concentrações dos gases de efeito estufa, é possível dizer com 95% de certeza que as atividades humanas são responsáveis por tais fenômenos. A existência deste consenso, tanto da comunidade científica como da opinião pública, e a pressão de todas as camadas da sociedade é fundamental para que as medidas necessárias sejam tomadas por governos e organizações de todo o planeta. No entanto, está claro que, apesar de todas as informações e dados que comprovam a urgência em desacelerar, ou mesmo regredir, o processo de exploração predatória do globo, estados e corporações relutam em diminuir as emissões de gases de efeito estufa. “O Protocolo de Kyoto (1997-2002) fornece um exemplo emblemático de não adesão e de descumprimento dos acordos multilaterais” (MARQUES, 2015, p. 32). Os signatários deste acordo se comprometeram a diminuir até 2012 suas emissões de gases de efeito estufa em 5,2% em relação aos níveis de 1990. Ao invés disso, o Global Carbon Project (GCP) computou um aumento de 61% nas emissões destes gases entre 1990 e 2013. A resistência por parte de grandes empresas e corporações em diminuírem seus impactos ambientais e de não cumprirem com metas estabelecidas a fim de reverter este cenário, apesar de negativa e muito prejudicial para todos a longo prazo, é compreensível dentro do sistema capitalista. Este sistema enxerga o meio físico como matéria-prima, “como um subsistema do sistema econômico” (MARQUES, 2015, p. 478), e, desta forma, os dirigentes, os proprietários, os diretores e os acionistas destas corporações “não podem se permitir subordinar suas metas empresariais ao imperativo ambiental” (MARQUES, 2015, p. 478). Também é importante entender a forma como as sociedades civis lidam com este fenômeno e por quê o fazem dessa maneira. 1.2 Três Mecanismos De acordo com Luiz Cesar Marques Filho (2015), existem três mecanismos psicológicos que agem sobre as sociedades e tendem a dificultar a conscientização acerca da gravidade das crises ambientais e, posteriormente, a tomada de decisões de acordo com a proporção destas crises. O primeiro deles é a “aversão à perda” (MARSHALL, 2015), sendo entendida como “a forte preferência psicológica por evitar perdas, mais que por adquirir ganhos” (MARQUES, 2015, p. 21). Isto significa que, por mais que os custos da inação sejam muito superiores aos da luta contra as mudanças climáticas, “os ganhos prometidos por esses investimentos, renúncias e sacrifícios são abstratos, de longo prazo e inquantificáveis” (MARQUES, 2015, p. 21), e as perdas: reais e imediatas. A

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imprevisibilidade desta catástrofe e o entrelaçamento que estabelece com a nossa realidade, ao não poder ser quantificado, apontado como um acontecimento individual e particular e localizado com precisão no tempo e no espaço, representa um problema ao dificultar o seu isolamento, a sua identificação e, consequentemente, a compreensão sobre a sua verdadeira escala e o risco que representa. Devemos entender que, por mais que “as consequências inexoráveis e potencialmente catastróficas de uma não resolução do problema não têm data marcada para bater às nossas portas” (MARQUES, 2015, p. 21), esta ameaça é real e inevitável. O segundo é o processo de habituação, que faz com que a resposta a certo estímulo diminua conforme for repetido e não apresente uma consequência imediata. O lobo que nunca chega é uma fábula que ilustra bem esse processo, daí o título deste trabalho. “A repetição de alertas não seguidos de consequências imediatas leva a uma perda progressiva da noção de perigo ou da energia para reagir a ele. Decênios de convivência com a ameaça de uma guerra nuclear, de catástrofes nas usinas nucleares e em depósitos de seus resíduos tiveram uma função anestésica que explica em parte nossa inércia diante das ameaças contidas nas crises ambientais.” (MARQUES, 2015, p. 22) O terceiro mecanismo apontado por Luiz Marques a reforçar o bloqueio cognitivo é o da dissociação entre causas estruturais e efeitos pontuais. Isso acontece quando não sabemos ou temos dificuldade em identificar e localizar determinados acontecimentos dentro de um cenário mais amplo, sendo porque “tendências evoluem em escalas espaciais e temporais não acessíveis aos radares cotidianos” (MARQUES, 2015, p. 22) ou porque algum fato isolado as contraria. “O aquecimento global antropogênico, por exemplo, só ultrapassou os limites da variabilidade natural do clima nos anos 1970, embora a tendência ao aumento da energia térmica da Terra estivesse em curso havia muito mais tempo. Além disso, mesmo que hoje tenhamos ultrapassado os limites da variabilidade natural, é impossível estabelecer com 100% de certeza uma relação causal entre as mudanças climáticas, que ocorrem na estrutura do clima, e um fato isolado que as expressa. Assim, os sinais de agigantamento das crises ambientais – uma específica onda de calor e de incêndios, um furacão ou uma seca como a que agora coloca o Sudeste do Brasil no limiar do colapso hídrico – atomizam-se em fatos, que a mídia eletrônica multiplica como planos instantâneos e paratáticos de um clipe, alinhando-os no mesmo nível de outros e diluindo-os no noticiário [...]”. (MARQUES, 2015, p. 23) 1.3 Capitalismo A ilusão de que o capitalismo pode se tornar ambientalmente sustentável também contribui de forma negativa com o avanço e o aprofundamento da crise ambiental ao nos afastar de uma real compreensão acerca deste problema e nos manter nessa condição. De acordo com Luiz Marques, esta ilusão é “a mais extraviadora do pensamento político, social e econômico contemporâneo” (MARQUES, 2015, p. 471) e se alimenta de duas ideias: 1. A crença absoluta de que quanto mais excedente material e energético tivermos, mais segura será a nossa existência; 2. A ilusão antropocêntrica.

01. O Capitalismo e o Colapso Ambiental

1. Intrinsecamente expansiva, a atividade econômica no capitalismo faz este sistema mais destrutivo à medida que encontra mais dificuldade em se propagar. Ultrapassada a capacidade de resistência e recuperação dos ecossistemas agredidos pela atividade humana, o aumento da acumulação não será mais possível e a degradação das bases da vida no planeta, inevitável. E, se “ser e crescer são, no metabolismo celular desse sistema, uma única e mesma coisa” (MARQUES, 2015, p. 50) e vivemos em um mundo onde os recursos naturais são finitos, defender que o capitalismo seria capaz de atingir um nível de sustentabilidade é uma grande contradição. 2. O absurdo ideário de que “a biosfera dispõe-se para o homem tal como um meio se dispõe a seu fim” (MARQUES, 2015, p. 52) faz com que a acumulação de excedentes seja vista como um fim em si mesmo e não uma variável em função das possibilidades da biosfera, com direitos e garantias próprias, levando à destruição de ecossistemas por ganância.

Figura 02 Bernardt Picard (1673-1733) Fall of Icarus (1731) Gravura

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1.4 Autonarrativa Tranquilizante A fim de combater a crise ambiental devemos ser capazes de identificar as ilusões e mecanismos apontados acima, compreendê-los e colocar a mudança climática como um dos problemas centrais da humanidade. Pois, por mais que, segundo Marx (1859), a humanidade só se coloque tarefas que ela pode resolver, não seremos capazes de resolver esta crise se não a reconhecermos como tal. Desta forma, o objetivo deste trabalho não é criar uma “autonarrativa tranquilizante” (MARQUES, 2015, p. 45) e sim apresentar o colapso ambiental como um problema real e dar a ele a devida atenção.

Capítulo 02 Atividades e Dinâmicas Globais

“Registros Espaciales” Francisco Medel

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2.1 Introdução Dramáticas transformações relacionadas à queima de combustíveis fósseis, ao desmatamento, à produção de lixo, entre outras atividades, são cada vez mais vistas no planeta. Apesar disso, infelizmente, existem campanhas massivas de desinformação que buscam criar dúvidas acerca deste processo e seu impacto. De acordo com o climatologista e geofísico Michael Mann (BEFORE... 2016), atual diretor do Earth System Center da Universidade da Pennsylvania, grandes corporações do setor de combustíveis fósseis – como a BP, Shell, Exxon Mobil, Chevron e as indústrias Koch – financiam e promovem tais campanhas a fim de proteger os seus interesses e de seus acionários. O aumento populacional e a crescente demanda por alimentos e energia, aliado à relutância de importantes setores da sociedade em reconhecer o aquecimento global como um problema a ser resolvido, estendem este embate, atrasam a tomada de ações imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio na terra e contribuem para que diferentes atividades prejudiciais ao meio ambiente continuem sendo praticadas e desenvolvidas.

Figura 03 Sebastião Salgado (1944) Incêndio em poço de petróleo, Kuwait, 1991 Fotografia analógica

De modo a sustentar o aumento da dependência global em combustíveis fósseis e o estilo de vida que esta e outras fontes de energia proporcionam, novos processos excessivamente arriscados e extremos para a obtenção de carvão, gás natural e petróleo têm sido explorados. A mineração em topo de montanha, o fraturamento hidráulico e a extração de petróleo de areias betuminosas, que, de acordo com Michael Brune (BEFORE... 2016), diretor executivo da Sierra Club – uma das mais importantes associações de ecologistas dos Estados Unidos – é a forma mais devastadora de produzir combustíveis fósseis, são algumas das técnicas de obtenção de energia mais prejudiciais para o planeta e estão sendo praticadas de forma exaustiva. 2.2 Agendas Globais para o Desenvolvimento Sustentável Diversas soluções simplistas e ineficientes foram apresentadas ao grande público como fundamentais para combater o aquecimento global, enquanto as práticas

02. Atividades e Dinâmicas Globais

citadas acima continuaram sendo exploradas e aproximando cada vez mais, e cada vez mais rápido, o planeta do colapso ambiental. Da mesma forma em que a troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas CFL ou de LED já foi apresentada como uma ação essencial para combater o aquecimento global, grandes obras de infraestrutura, levadas adiante por governos e corporações, foram e continuam sendo executadas a fim de retardar os seus impactos de forma insuficiente. Atitudes tais como as citadas acima, por mais que insuficientes quando implementadas de forma isolada, podem se tornar imprescindíveis para enfrentar o aquecimento global desde que estejam inseridas dentro de um plano mais abrangente e que inclua uma série de medidas estruturais e, portanto, mais eficientes. O Acordo de Paris (2015) é um grande exemplo. O Acordo, que “visa fortalecer a resposta global à ameaça das mudanças climáticas” (CONFERÊNCIA DAS PARTES, 2015, p. 25) por reconhecer que “as mudanças climáticas representam uma ameaça urgente e potencialmente irreversível para as sociedades humanas e para o planeta” (CONFERÊNCIA DAS PARTES, 2015, p. 01), busca articular e coordenar a mais ampla cooperação do maior número de atores possíveis, “com vista a acelerar a redução das emissões globais de gases de efeito estufa” (CONFERÊNCIA DAS PARTES, 2015, p. 02). O tratado, que pretende “limitar o aumento da temperatura a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais” (CONFERÊNCIA DAS PARTES, 2015, p. 02), também reconhece que “estilos de vida sustentáveis e padrões sustentáveis de consumo e produção [...] desempenham um papel importante no combate às mudanças climáticas” (CONFERÊNCIA DAS PARTES, 2015, p. 25). Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas e que devem ser implementados por todos os países do mundo até 2030, também se apresentam como uma agenda a ser seguida a fim de “proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2020). Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as 169 metas englobadas por eles “equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2020).

Figura 04 Organização das Nações Unidas Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (2015)

As três dimensões do desenvolvimento sustentável devem ser trabalhadas de forma simultânea e coordenadas por qualquer estratégia ou política que pretenda enfrentar o aquecimento global, contribuir para a erradicação da pobreza, defender os direitos humanos e a igualdade de gênero; todos problemas correlacionados e interdependentes.

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2.3 Estilo de Vida De forma a equilibrar as três dimensões apresentadas pelos ODS, a humanidade, de forma geral, deve se atentar com relação à forma como enxerga o mundo e como o experimenta. O termo “estilo de vida” concentra todos estes aspectos que devem ser observados e reconsiderados: hábitos, rotinas, padrões de consumo, a relação com o meio ambiente, o comportamento diante de outros seres humanos, entre outros. A disparidade da demanda de energia elétrica e das emissões de CO2 per capita entre os diferentes países do planeta ilustra os diferentes padrões de consumo e aponta as formas mais insustentáveis de viver. Os gráficos abaixo registram uma série de valores que indicam tais diferenças.

Figura 05 Consumo de Eletricidade em Casa Fonte: Captain America Report, 2015 Autoria Própria Figura 06 Consumo de Eletricidade per capita Fonte: Captain America Report, 2015 Autoria Própria

Figura 07 Emissões de C02 por País Fonte: Captain America Report, 2015 Autoria Própria

A revisão destes aspectos é extremamente complexa devido à sua escala, à sua magnitude, mas ainda mais devido ao seu enraizamento na cultura global e na cultura do crescimento econômico desenfreado, próprio do capitalismo e abordado no Capítulo 1. A ideia de que o desempenho e o sucesso de um país dependem de atividades intrinsecamente expansivas e ininterruptas, que não levam em consideração as possibilidades da biosfera e que têm como fim a acumulação de excedentes, é, na verdade, a grande questão. É fundamental que a ideia do crescimento econômico infinito seja substituída pela gestão sustentável dos recursos energéticos e materiais disponíveis. Dentro do contexto em que a humanidade e a terra se encontram, é evidente que a crença absoluta de que quanto mais excedentes tivermos, mais segura será a nossa existência, não se sustenta.

02. Atividades e Dinâmicas Globais

Figura 08 Comparativo Entre a Eletricidade Consumida por Norte-americanos e por Outros Cidadãos do Mundo Fonte: Captain America Report, 2015 Autoria própria

2.4 Impacto A lógica extrativista e exploratória do território, fortemente atrelada a intensos padrões de consumo e à lógica de crescimento econômico infinito, vistos acima e observados na maioria dos países do mundo, tem um grande impacto sobre o desperdício e a disponibilidade de recursos naturais e a produção de lixo. O Dia da Sobrecarga da Terra marca a data em que a demanda da humanidade por recursos naturais excede a capacidade de produção e regeneração da terra em um determinado ano. Este índice ilustra de forma muito didática e alarmante qual é o resultado da manutenção de um estilo de vida insustentável e incompatível com um mundo de recursos limitados. Em 2020, o Dia da Sobrecarga da Terra foi registrado em 22 de agosto, o que significa que a demanda da humanidade irá superar em 70% a capacidade de produção da terra este ano. Para efeitos de comparação, em 1970 a demanda por recursos ainda era de 100% e não de 170%. Desta forma, é possível afirmar que desde a década de 1970 a atividade humana ultrapassa a capacidade de resistência e recuperação da Terra. O gráfico a seguir indica a razão entre a quantidade de recursos naturais e a pegada ecológica da humanidade e evidencia que o desequilíbrio provocado pelas atividades humanas vem crescendo nas últimas décadas.

Figura 09 Dia de Sobrecarga da Terra Fonte: Global Footprint Network, 2019 Autoria Própria

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Por sua vez, a imagem abaixo aponta qual deveria ser o Dia da Sobrecarga da Terra se todo o planeta tivesse um estilo de vida igual ao de cada um dos países assinalados. Esta imagem sintetiza de uma forma muito simples e direta tudo que foi dito acima.

Figura 10 Dia de Sobrecarga da Terra por País Fonte: Global Footprint Network, 2019

Dentro desse cenário exploratório, no qual a ideia de avanço, crescimento e progresso está vinculada ao crescimento econômico infinito, que, por sua vez, depende de processos extremamente devastadores, as florestas se encontram entre os biomas mais atingidos. O desmatamento no Brasil e no mundo, praticado extensivamente para a geração de energia, alimentos, medicamentos e para a expansão dos centros urbanos, representa uma grande ameaça para as florestas – que cobrem um terço da superfície da Terra e abrigam 80% da biodiversidade terrestre – e, consequentemente, para todo o planeta.

Capítulo 03 O Desmatamento no Brasil

“Registros Espaciales” Francisco Medel

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3.1 Introdução O desmatamento no Brasil é uma atividade muito recorrente, principalmente na Amazônia Legal, e praticada com frequência por agropecuaristas e madeireiros que buscam expandir as suas áreas de cultivo, de pecuária ou de extração de madeira, e, assim, obter maiores ganhos. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), até meados do século XX a ocupação humana da Amazônia não havia sido significativa ao ponto de causar alterações consideráveis em suas florestas. Houve uma mudança neste cenário durante o período da ditadura, quando a ideologia expansionista do governo militar, que consistia na ocupação predatória de seu território e na exploração de seus recursos, foi implantada.

Figura 11 Chega de Lendas, Vamos Faturar (1970) Ministério Do Interior do Brasil

A expansão das fronteiras agropecuárias e o assentamento de contingentes populacionais provenientes de outras regiões do país foram empreendidos pelo governo militar através de uma série de incentivos oferecidos pela Superintendência

03. Desmatamento no Brasil

do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), a fim de proteger a floresta contra a sua “internacionalização”. Dentro de um discurso nacionalista, o presidente Castelo Branco, em 1966, fala em “integrar para não entregar”. A instalação de infraestrutura energética e viária, imprescindíveis para o desenvolvimento de atividades agropecuárias e de mineração, e a distribuição de títulos de propriedade pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), foi fundamental para a implementação do programa “Operação Amazônia”. O resultado foi a “desestabilização dos equilíbrios socioambientais da região, impactos nas bacias hidrográficas em consequência de alagamentos e barragens hidrelétricas, mineração, corridas do ouro, poluição por mercúrio, corte raso e fragmentação da manta florestal e perda de biodiversidade.”

Figura 12 Sebastião Salgado (1944) Serra Pelada, Brasil, 1980 Fotografia Analógica

O término da construção da Rodovia Transamazônica, em 1972, representou um grande avanço no processo de degradação da região amazônica. A área desmatada em 1978 alcançava os 14 milhões de hectares, e, segundo um estudo realizado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), cerca de 15% do desmatamento total da Amazônia brasileira decorre de projetos de assentamento desse período. De acordo com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), até 1985 a Sudam aprovara 950 projetos na Amazônia, avaliados em um total de 700 milhões de dólares. Destes 950 projetos, 631 eram voltados para a atividade pecuarista e tinham em média 24 mil hectares cada um. No total, a ditadura financiou durante este período a compra de aproximadamente 8,4 milhões de hectares de terras em toda a Amazônia. 3.2 O Desmatamento nos Governos Democráticos O fim da ditadura, em 1985, acarretou a diminuição do ritmo do desflorestamento da Amazônia e a violência atrelada a este processo. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), até 2019, 70 milhões de hectares tinham sido desmatados, o que representa 17% da cobertura original da floresta

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amazônica. O aumento expressivo da área desmatada da Amazônia Legal – 56 milhões de hectares entre 1978 e 2019 – comprova que a sua destruição, desencadeada a partir do “seu acoplamento ao circuito internacional de commodities” pela ditadura, também foi fortemente estimulada pelos governos democráticos. O intervalo entre os anos de 1994 e 2004 – governos de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva – representou, como pode ser visto acima, um dos períodos de maior aumento nos índices de desmatamento da Amazônia desde a redemocratização. Ironicamente este crescimento ocorreu logo após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento de 1992, que se deu no Rio de Janeiro e tinha como principais objetivos: a conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus componentes e a divisão equitativa e justa dos benefícios gerados com a utilização de recursos genéticos.

Figura 13 Desmatamento da Amazônia (1988-2019) Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2019 Autoria Próprial

A diminuição das taxas de desmatamento, a partir de 2004, ocorreu, de acordo com Luiz Marques, em função da forte pressão internacional daquele momento, do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAM), criado pela gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente (MMA), e pela restrição de “crédito em áreas com ocupação ilegal de terra e em municípios com maior devastação” (Luiz Marques, 2015, p. 85), imposta depois que houve um repique no desmatamento ilegal entre 2007 e 2008. A assinatura de acordos como a Moratória da Soja, em 2006, e a Moratória da Carne, em 2009, juntamente com ajudas econômicas recebidas da Noruega e da Alemanha, a partir de 2009 e 2010, respectivamente, também foram fundamentais para a diminuição destes índices.

Figura 14 Doações Fundo Amazônia Fonte: Fundo Amazônia Autoria Próprial

O declínio visto entre os anos de 2004 e 2012 foi o mais longo desde 1988, quando a área desmatada passou de 27.423 a 4.656 hectares por ano, o que representou

03. Desmatamento no Brasil

uma queda de aproximadamente 83%. Esta tendência, observada durante o governo Lula, no entanto, foi invertida durante a segunda metade do primeiro mandato de Dilma Rousseff. A aliança pactuada com a bancada ruralista e a posterior revisão do Código Florestal (2011-2012), por exigência do agronegócio, foram dois dos principais fatores para que as taxas de desmatamento da Amazônia e de todo o país subissem. De acordo com o trabalho “Cracking Brazil’s Forest Code”, coordenado por Britaldo Silveira Soares Filho – professor titular do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais – e publicado na revista Science em 2014, “a aprovação da controversa revisão do Código Florestal pode ter consequências globais” (SOARES-FILHO et al., 2014, p. 363) ao reduzir em 58% o “débito ambiental” do Brasil. O “débito ambiental” pode ser entendido como a soma das áreas pertencentes a Reservas Legais e Entornos de Cursos de Água que foram desmatadas de forma ilegal antes de 2008 e que deveriam, segundo o Código Florestal anterior, ser restauradas pelos seus proprietários. Isto significa que as medidas propostas pelo Código Florestal de 2012 fizeram com que as áreas a serem recuperadas passassem de aproximadamente 50 para 21 milhões de hectares, sendo 78% de Reservas Legais e 22% de Entornos de Cursos de Água. Não é à toa que o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil (SEEG) computou um aumento de 7,8% nas emissões de CO2 em 2013, já que 46% das emissões de CO2 do país estão relacionadas diretamente ao processo de desmatamento, segundo o Observatório do Clima (OC). Segundo Luiz Marques (2015, p. 86), a entrega do Ministério da Agricultura para a atual Senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2015, no segundo mandato de Dilma Rousseff, coroou a aliança entre o agronegócio e o governo. “O alinhamento político, econômico e ideológico do bloco governamental PT-PMDB aos interesses dos protagonistas do desmatamento [...] explica a recusa do governo brasileiro a assinar a ‘Declaração de Nova York sobre Florestas’” (Luiz Marques, 2015, p. 86). Este documento, apresentado na Cúpula do Clima em 23 setembro de 2014 na ONU, previa uma redução de 50% do desmatamento global até 2020 e total até 2030. Desta forma, apesar do desmatamento ter tido o seu maior período de queda em governos petistas, começou a ganhar força a partir de 2012 e foi fortemente reforçado durante o governo Temer. O trabalho “The threat of political bargaining to climate mitigation in Brazil”, publicado na revista Nature em julho de 2018, diz que, a cambio de apoio político e afim de evitar denúncias por corrupção, Temer autorizou donos de terras a aumentarem o desmatamento através de medidas provisórias e decretos que reduziram as exigências para o licenciamento ambiental. Estas ações suspenderam a ratificação de terras indígenas, reduziram o tamanho de áreas protegidas e facilitaram a grilagem de terras desmatadas ilegalmente e as legalizaram. Estas ações “poderiam minar o sucesso das reduções de emissões de CO2 obtidas pelo Brasil através do controle do desmatamento” (ROCHEDO et al., 2018) entre 2005 e 2012 – que foram de 54%, devido, em grande parte, à redução de 78% do desflorestamento – e, assim, colocar ainda mais em risco a contribuição do país para o Acordo de Paris. As taxas de desmatamento da Amazônia Legal em 2018, ao fim do governo Temer, atingiram o maior patamar desde 2008, como informa o jornal The Guardian em uma matéria de novembro de 2018 intitulada “Brazil records worst annual deforestation for a decade”. Dados do Programa de Cálculo de Desflorestamento da Amazônia (PRODES) indicam que 7.536 km² foram desmatados em 2018. Este número representa um aumento de 8,48% em relação ao ano anterior e 64,86% em relação a 2012, ano em que o novo Código Florestal foi assinado.

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De acordo com o trabalho citado acima, três grandes períodos podem ser apontados em função de como o governo brasileiro reagiu diante do desmatamento e do meio ambiente nas últimas décadas: pré-2005, um período com altos índices de desflorestamento e durante o qual medidas de combate não tiveram um grande impacto; 2005-2011, um período com eficientes políticas de combate e resultados a favor do declínio deste processo; e 2012-2017, marcado pela aprovação do novo Código Florestal, que interrompeu a tendência de queda nas taxas de desmatamento e, posteriormente, a partir de 2015, as elevou drasticamente. O governo de Bolsonaro e suas políticas dão continuidade a este último período, como já era previsto desde antes de sua eleição. O seu discurso extremista, a favor de ruralistas, contra indígenas e quilombolas, representa um grande risco para ambientalistas – neste que é, há uma década, o país mais perigoso para defensores da terra, tendo registrado 1.270 assassinatos ligados a conflitos da terra desde 1985 –, para a Amazônia e para o mundo.

Figura 15 Artigo sobre a Eleição de Bolsonaro Fonte: The Guardian, 2018

3.3 Os Diferentes Cenários As taxas de desmatamento e todos os fatores atrelados a este processo dependem diretamente das políticas ambientais estabelecidas, principalmente, pelo Governo Federal. Os índices variam todos os anos, e em todos os mandatos, como visto acima, de acordo com uns ou outros interesses de umas ou outras figuras.

03. Desmatamento no Brasil

A fim de visualizar e compreender qual pode ser o futuro da Amazônia (e do Cerrado), três diferentes cenários foram definidos pela equipe que desenvolveu o trabalho “The threat of political bargaining to climate mitigation in Brazil”, baseados na leitura dos três períodos apontados acima e de acordo com os diferentes níveis de governança ambiental de cada quadro.

Figura 16 Governança Ambiental no Brasil Fonte: Nature Climate Change, 2018 Autoria Própria

Governança Ambiental Baixa: Este cenário pressupõe o abandono das atuais políticas de controle de desmatamento, assim como a garantia de impunidade e respaldo político para que agropecuaristas, madeireiros e garimpeiros ajam de forma predatória nos diferentes biomas brasileiros. Este se caracteriza como o pior cenário, representa a anulação dos ganhos adquiridos desde 2005 e deve ser entendido como a completa destruição das políticas ambientais do Brasil. O impacto nas taxas de desmatamento seria severo e poderia fazer com que estes índices alcançassem os níveis mais altos da última década, acarretando uma perda de mais de 27.000 km² e 18.000 km² por ano dos biomas da Amazônia e do Cerrado, respectivamente, até 2025. As emissões acumuladas de CO2 poderiam alcançar as 23.1 Gt CO2 de 2010 a 2030. Governança Ambiental Média: Este cenário prevê a manutenção das atuais políticas de controle ambiental e, portanto, o aumento das taxas de desmatamento. O apoio de instituições governamentais a agropecuaristas e madeireiros, através do enfraquecimento sistemático das medidas de combate ao desmatamento e, consequentemente, das áreas de proteção ambiental, é um dos grandes responsáveis pelo contínuo acréscimo destes índices. Caso esta tendência seja mantida nos próximos anos, o desmatamento anual pode alcançar cerca de 17.000 km² na Amazônia e 15.000 km² no Cerrado até 2030. Emissões de 16.3 GtCO2 para o período de 2010 a 2030. Governança Ambiental Alta: O terceiro quadro considera a improvável expansão e fortalecimento das atuais políticas de controle ambiental e o apoio total à agenda ambiental no país por parte dos governos municipais, estaduais e federal. A implementação do Código Florestal brasileiro aliado a incentivos econômicos para a conservação das florestas também é prevista. Dentro deste cenário, o desmatamento anual da Amazônia poderia

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passar de 7.989 km² em 2016 para menos de 4.000 km² até 2030. Emissões de 9.6 GtCO2 para o período de 2010 a 2030. 3.4 O Governo Bolsonaro A institucionalização do desmatamento através do apoio e do incentivo desta prática pelo governo Bolsonaro aponta o Brasil em direção ao pior cenário apresentado acima. O índice de desmatamento teve um aumento de 30% no primeiro ano do mandato de Bolsonaro, em relação ao ano anterior, o que fez com que 2019 registrasse uma perda de 9.762 km² de floresta amazônica – o maior valor desde 2008. No ano de 2020, ao que tudo indica, estes valores serão superados. O desmatamento da região amazônica em abril foi o maior dos últimos dez anos, de acordo com o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). A área desmatada alcança os 529 km², o que significa um aumento de 171% em relação a abril de 2019. A exploração da Amazônia de forma predatória e irresponsável é uma das maiores bandeiras do atual governo, do Ministério do Meio Ambiente – chefiado por Ricardo Salles – e do Ministério da Agricultura – comandado pela Deputada Federal Tereza Cristina. Diversas ações e medidas podem comprovar isto, entre elas se destaca o decreto n° 9.741, de 29 de março de 2019, que cortou 187 milhões de reais do orçamento do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Dados do Sistema Integrado de Orçamento e Planejamento (SIOP) detalham o contingenciamento orçamentário proposto para a pasta ambiental e indicam que alguns dos programas mais afetados pelos cortes foram: as Iniciativas para Implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (95% - 11,2 milhões de reais), o Controle e Fiscalização Ambiental do IBAMA (24% - 24,8 milhões de reais), a Fiscalização Ambiental e Prevenção e Combate a Incêndios Florestais do ICMBio (20% - 5,4 milhões de reais) e o Apoio à Criação, Gestão e Implementação das Unidades de Conservação Federais (26% - 46 milhões de reais).

Figura 17 Investimentos FUNAI / Invasões de Terras Indígenas Fonte: Instituto Socioambiental /Conselho Indigenista Missionario, 2019 Autoria Própria

03. Desmatamento no Brasil

As diversas investidas do Governo Bolsonaro por enfraquecer o combate ao desmatamento no Brasil fizeram com que o maior financiador do Fundo Amazônia, o Governo da Noruega, congelasse o repasse de dinheiro destinado a financiar projetos de preservação da floresta. De acordo com matéria da BBC Brasil de agosto de 2019 (SENRA; SHALDERS, 2019): “A atitude do governo da Noruega é uma resposta à decisão do Ministro do Meio Ambiente brasileiro de alterar o funcionamento do fundo e extinguir o Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA) – que definia os critérios para o uso do dinheiro arrecadado.” A revisão das unidades de conservação do país, buscando mudar as suas categorias, tamanhos e flexibilizando as regras para a exploração comercial e turística destas áreas – defendido por Bolsonaro e seus aliados –, o aparelhamento das instituições responsáveis pelo combate ao desmatamento e pelo reflorestamento, juntamente com o corte orçamentário de tais organizações ameaça, portanto, a manutenção das florestas brasileiras, o cumprimento do Acordo de Paris e, por fim, o equilíbrio ambiental global. 3.5 Terceira Via Amazônica O desmatamento na Bacia Amazônica, que já chegou a 17% na parte internacional e a 20% na brasileira, não deveria passar de, no máximo, 25%. De acordo com o artigo “Amazon Tipping Point”, escrito por Thomas E. Lovejoy e Carlos Nobre, a Amazônia poderia entrar em um processo de colapso caso atingisse essa marca. De forma a reduzir o desmatamento, o uso do fogo na agricultura e o avanço da fronteira agrícola, o setor agropecuário deverá se tornar cada vez mais eficiente e cada vez mais neutro. Assim, poderá evitar que o aquecimento na Amazônia, que hoje já é de 1,5ºC, passe de 4ºC. A resistência que grande parte deste setor apresenta, ao estar muito “mais preocupado com a posse da terra do que com uma visão empresarial de produtividade”, representa um atraso para o Brasil por ameaçar tanto o meio ambiente – ao dificultar que as metas de redução do Brasil sejam alcançadas até 2030 – quanto a qualidade e a “atratividade dos produtos brasileiros em mercados ambientalmente rigorosos, como o europeu”. A mentalidade expansionista, marcada pela força da violência, das armas e pela expulsão de indígenas de suas terras é, portanto, prejudicial, entre outras coisas, para a balança comercial brasileira e para os negócios. A defesa da Amazônia deve ser feita, sem dúvida, através da demarcação e fiscalização de áreas de proteção – sejam elas unidades de conservação, terras indígenas, reservas ou florestas nacionais –, mas também através de um uso mais inteligente da terra, dos recursos naturais e dos “ativos biológicos”. A inserção de novas tecnologias na Amazônia e no setor agropecuário e o desenvolvimento de novos modelos de desenvolvimento são fundamentais para que isso aconteça. De acordo com estudos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os sistemas de “integração lavoura-pecuária-floresta” apresentam um enorme aumento de produtividade e, ao mesmo tempo, ajudam a preservar o bioma original, o que, por sua vez, traz benefícios para a produção agrícola e pecuária.

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A adição de valor às cadeias produtivas, à água virtual e a produtos deste bioma é fundamental para a valorização e manutenção da biodiversidade da Amazônia e para evitar que grandes extensões de floresta continuem sendo apropriadas e destinadas para a produção de monoculturas. Este processo, ao contrário da mineração, não tira o valor da Amazônia e o transfere para outro lugar, ele pode produzir ativos de alta tecnologia biológica – baseados no conhecimento tradicional –, gerar renda para a população local e pequenos produtores e proteger toda a região. Através de seus ativos biológicos e de sua imensa biodiversidade, a Amazônia “oferece a possibilidade de implantar um modelo que nenhum país do mundo ainda implantou: uma revolução industrial baseada no aproveitamento da biodiversidade [...]” (NOBRE, ), a chamada Terceira Via. Esta revolução, que seria centrada na diversidade dos recursos biológicos, ofereceria aos países amazônicos, em geral, e ao Brasil, em especial, uma oportunidade única nos 500 anos de história do país: a concretização de um modelo próprio de desenvolvimento, um modelo bioeconômico. 3.5 Iniciativas de Combate O desenvolvimento do Brasil e a proteção da Amazônia a partir de um modelo bioecônomico pode ser uma grande alternativa, no entanto, não é possível apostar e depender totalmente deste sistema. Apesar do cenário extremamente negativo que o Brasil vive, diversas organizações públicas e privadas trabalham a fim de preservar os ecossistemas brasileiros. Através de diferentes tratados, políticas, projetos educacionais, fiscalização, mapeamento e reflorestamento, tais instituições, corporações e pessoas físicas e jurídicas buscam contribuir de forma ativa para a diminuição do desmatamento no país. Estas medidas têm um papel determinante para a manutenção da biodiversidade e devem ser reconhecidas e estimuladas. O Instituto Terra, que trabalha para atender ao menos 3 dos 17 temas humanitários definidos pelos ODS em todos os seus projetos, pode ser considerado como uma grande iniciativa de combate ao desmatamento, à pobreza e à fome por: buscar a disponibilidade e a gestão sustentável da água, promover o crescimento econômico inclusivo e o trabalho para todos e todas.

Capítulo 04 O Instituto Terra

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4.1 O Instituto Terra Responsável por recuperar uma área superior a 2.110 hectares, o Instituto Terra é uma “entidade privada constituída sob a forma de organização civil sem fins lucrativos” localizada no município de Aimorés, Minas Gerais. Fundado em abril de 1998 por Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Salgado, tem como objetivo principal “estimular o desenvolvimento sustentável por meio da recuperação e da conservação das florestas, da educação ambiental e do uso correto dos recursos naturais” (INSTITUTO TERRA, 2017, p. 2) na região do Vale do Rio Doce, entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O Instituto Terra administra a antiga fazenda de gado da família Salgado, a Fazenda Bulcão, que, constituída por uma área total de 709,84 hectares, teve 608,69 hectares – aproximadamente 86% do total – reconhecidos como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Trata-se da primeira RPPN constituída em uma área degradada de Mata Atlântica. De acordo com a própria organização “trata-se de uma região do Brasil que vivencia as consequências do desmatamento e do uso desordenado dos recursos naturais como a seca, a erosão do solo e a falta de condições para o homem do campo viver e prosperar” (SEBASTIÃO... 2015). É importante acrescentar e destacar que, entre todos os acontecimentos e práticas que contribuem e contribuíram deliberadamente para os processos de degradação do solo, do meio ambiente e de seus habitantes, os desastres de Mariana e Brumadinho, em 2015 e 2019, respectivamente, tiveram um grande papel e foram responsáveis por grandes perdas ambientais e humanas. 4.2 Organização O trabalho de restauração ecossistêmica do Instituto Terra gira em torno de três grandes vertentes: reflorestamento, educação e pesquisa – definidos sob orientação do engenheiro florestal Renato de Jesus, na época diretor da Reserva Natural da Vale. De forma a alcançar o objetivo central do instituto, apontado acima, foi definido que a equipe de trabalho do Instituto Terra seria formada por um conselho diretor, um conselho consultivo, um conselho fiscal, por uma equipe executiva e por um secretário geral, que têm um total de cinco equipes subordinadas, sendo elas: a unidade de gestão, a unidade ambiental, a unidade de educação ambiental, a unidade de desenvolvimento de negócios sustentáveis e o escritório de projetos.

Figura 18 Organograma Funcional Instituto Terra Fonte: Insituto Terra, 2017 Autoria Própria

04. Instituto Terra

4.3 Áreas de Atuação O Instituto Terra é referência nacional na restauração ecossistêmica de áreas degradadas do Vale do Rio Doce, na produção de mudas nativas de Mata Atlântica, na educação ambiental de crianças e jovens e na gestão de ONGs e projetos parceiros. Estes campos de atuação foram definidos a partir das três vertentes apontadas por Renato de Jesus no plano inicial do Instituto Terra e se mantiveram ao longo dos anos a fim de cumprir as metas estabelecidas pelo projeto e de reafirmar o seu compromisso com a sustentabilidade do planeta. Abaixo podemos ver um gráfico que permite uma maior compreensão a respeito da ordem de prioridades do Instituto Terra ao quantificar e separar os projetos de acordo com seus principais campos de atuação.

Figura 19 Mapa Estratégico Insituto Terra Fonte: Instituto Terra, 2017

4.4 Mudas Dentre as áreas de atuação está a produção de mudas, essencial para o desenvolvimento do projeto e para a manutenção da restauração ecossistêmica como uma das grandes prioridades do Instituto. Inicialmente, as mudas foram obtidas através de parcerias e de um viveiro doado pela organização SOS Mata Atlântica – com capacidade para produzir 80 mil mudas anuais. Esta situação foi mantida até o ano de 2002, quando o Instituto passou a produzir todas as suas mudas, após o Ministério do Meio Ambiente ter financiado a ampliação da capacidade do viveiro para 400 mil mudas por ano. Em 2008, o Fundo de Recuperação, Proteção e Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais (FHIDRO/MG) proporcionou uma nova ampliação, atingindo a cifra de 1 milhão de mudas ao ano. Atualmente, este número supera 1,2 milhão de mudas de mais de 100 espécies diferentes e é considerado o maior viveiro de plantas nativas da Mata Atlântica do Estado de Minas Gerais. As mudas produzidas no complexo do Instituto Terra são obtidas a partir de sementes recolhidas em um raio de até 200 km. Isto é feito a fim de garantir que sejam geminadas diferentes espécies e diferentes variações destas espécies.

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Figura 20 Produções de Mudas ao Ano do Instituto Terra Fonte: Insituto Terra, 2017 Autoria Própria

4.5 Fundos e Capitazação de Recursos A arrecadação de fundos, públicos e particulares, foi e continua sendo fundamental para o Instituto Terra e para o desempenho de seus projetos. A organização “conta com parcerias de empresas, entidades do terceiro setor e governos nacionais e estrangeiros”. O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), na modalidade de financiamento com contrapartida, foi o primeiro a contribuir de forma econômica com esta organização e sua proposta, e a cada dólar investido, oferecia mais um. O total arrecadado entre o Instituto e o Funbio, no início dos anos 2000, foi de aproximadamente 1 milhão de dólares. O último relatório de atividades, disponibilizado pela organização em 2020, indica que, em 2018, foram recebidos R$ 1.027.968,00 em doações, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas, nacionais (28%) ou estrangeiras (72%). O gráfico abaixo foi elaborado a partir de informações disponibilizadas pelo Instituto Terra e ilustra e identifica os perfis dos patrocinadores do projeto entre os anos de 2009 e 2014.

Figura 21 Perfil dos Patrocinadores do Instituto Terra Fonte: Insituto Terra, 2017 Autoria Própria

Capítulo 05 Referências Projetuais

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5.1 Coberturas no Xingu

Figura 22 Pedro Kok (1984) Coberturas no Xingu, 2018

Ficha Técnica Autoria: Estúdio Gustavo Utrabo Local: Parque Nacional do Xingu, MT, Brasil Área: 368,25m² Ano do Projeto / Construção: 2018 Estrutura: ITA Construtora Fotografias: Pedro Kok A obra feita pelo Estudio Gustavo Utrabo, localizada no Parque Nacional do Xingu, Mato Grosso, foi desenvolvida com o objetivo de colaborar com a preservação da cultura indígena brasileira. A construção foi implementada na nova Vila Kisêdjê, já que esta comunidade foi forçada a abandonar a área onde antes habitava, devido ao uso contínuo de pesticídas em plantações de soja nos entornos da tribo. O sistema construtivo foi desenhado de forma a minimizar possíveis erros durante a construção, diminuir os custos, aumentar a vida útil e facilitar o translado do pavilhão, já que mobilidade é um fator muito importanto para esta tribo. As grandes aberturas e o desenho do telhado garantem que o pavilhão mantenha a sua temperatura baixa através da ventilação cruzada, em ambos sentidos, o longitudinal e o transversal. A materialidade do projeto é simples e acertada. Ao usar elementos acessíveis, leves, em parte desmontáveis: a execução do projeto não exige uma mão-de-obra extremamente especializada. Além disso, ao fazer uso de materiais distantes da arquitetura e da realidade indígena, não tenta replicar uma cultura, mas sim se afirmar como um elemento distinto, “que pela própria diferença enfatiza e expõe a riqueza da cultura indígena local.”

05. Referências Projetuais

Figura 23 Pedro Kok (1984) Coberturas no Xingu, 2018

De acordo com o escritório: “A simplicidade do projeto também se deve à impossibilidade de ter contato com o canteiro de obras durante o processo de construção; modelos e desenhos didáticos foram realizados para transmitir rapidamente o processo construtivo, minimizando possíveis dúvidas dos construtores locais.”

Figura 24 Estúdio Gustavo Utrabo Desenhos Técnicos, 2018

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5.2 Sede Administrativa Fundação Florestal

Figura 25 Pedro Kok (1984) Sede Administrativa Fundação Florestal, 2016

Ficha Técnica Autoria: 23 Sul Local: Peruíbe, SP, Brasil Área: 600,00m² Ano do Projeto / Ano de Construção: 2016 Estrutura: ITA Construtora Fotografias: Pedro Kok A sede administrativa da Fundação Florestal de Juréia-Itatins, projetada pelo escritório 23 Sul, acomoda as funções administrativas, operacionais, jurídicas, educativas e de pesquisa científica do Mosaico de Unidades de Conservação da Juréia-Itatins (MUCJI), da Fundação Florestal do Estado de São Paulo. A obra está localizada próximo à praia de Peruíbe e toda a construção e operação do edifício foi concebida de forma a gerar o menor impacto ambiental possível. “A especificação de materiais industriais leves, duráveis e de baixa produção de resíduos permitiu uma obra seca e rápida.” O uso de madeira laminada colada (MLC), um material pré-fabricado leve, durável e de baixa produção de resíduos permitiu reduzir o peso sobre as fundações e garantiu controle e agilidade durante todo o processo construtivo. Em 2019, o escritório recebeu os Prêmios IAB na categoria “Estrutura em Madeira” e “Cultural e Institucional” executados.

05. Referências Projetuais

Figura 26 Pedro Kok (1984) Sede Administrativa Fundação Florestal, 2016

23 Sul: Priorizou-se soluções buscando eficiência energética e conforto ambiental: a autossuficiência elétrica com painéis fotovoltaicos, o reaproveitamento de águas pluviais, tratamento de efluentes e controle de resíduos. Foram previstos grandes beirais de cobertura, fachadas com policarbonato alveolar de grande espessura, ventilação natural cruzada e circulações avarandadas, que melhoram sensivelmente o conforto ambiental.

Figura 27 23 Sul Planta Baixa Térreo, 2016

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5.3 Ti kay là

Figura 28 Conjunto Habitacional Ti kay là Marco Cappelletti, 2015

Ficha Técnica Autoria: Bonaventura Visconti di Modrone Local: Anse-à-Pitres, Haiti Área: 400,00m² Ano do Projeto / Ano de Construção: 2015 Estrutura: mão-de-obra local Fotografias: Marco Cappelletti A arquitetura deste espaço, que abriga um orfanato com capacidade para 30 crianças e jovens, deveria se inserir no contexto local e dialogar com ele. A fim de garantir que isso acontecesse, o espaço foi desenhado de forma a combinar elementos da tipologia rural haitiana e da tipologia do povoado de Lakou: o volume retangular e o pátio central, respectivamente. A intercalação entre os espaços abertos e os espaços fechados permite que diferentes atividades sejam levadas a cabo e que as crianças se apropriem da arquitetura. A decisão de empregar trabalhadores locais é refletida na materialidade e nas soluções estruturais. Isto fez com que houvesse a participação da comunidade local e a criação de um lugar que, de certa forma, pertence à região e ao seu contexto arquitetônico e cultural. A aparência da construção também é resultado direto de um processo participativo que levou em consideração, através da realização de workshops, a opinião dos jovens que iriam habitar este complexo. O destacamento do telhado das casas permite a ventilação natural e constante dos espaços. Isto é fundamental em uma região que tem um clima extremamente quente e úmido.

05. Referências Projetuais

Figura 29 Conjunto Habitacional Ti kay là Marco Cappelletti, 2015

Figura 30 Desenhos Técnicos Bonaventura Visconti di Modrone, 2015

Capítulo 06 Arquitetura: Centro Ambiental São Félix do Xingu

“Registros Espaciales” Francisco Medel

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6.1 Introdução Diferentes técnicas e estratégias, como já foi discutido, devem ser utilizadas para combater o aquecimento global e retardar e minimizar os seus efeitos. Tendo isso em mente, o projeto a seguir trata de ser entendido como mais uma proposta entre todas as discutidas ao longo deste trabalho e de oferecer mais um entre todos os caminhos possíveis.

Figura 31 Índio Guajajara, Amazônia, 2019 Fonte: Reuters Ueslei Marcelino (1979)

A intenção deste projeto – de oferecer uma possível leitura acerca do aquecimento global e do desmatamento no Brasil e de desenvolver um instrumento de resistência ao desflorestamento e de apoio a comunidades atingidas por esse processo – é traduzida pela sua arquitetura, que conta, entre outras coisas, com: 1. Unidade Básica de Saúde; 2. Dormitório (capacidade para 36 pessoas); 3. Horta / Viveiro; 4. Refeitório / Cozinha; 5. Salas de Aula; 6. Torre de Rádio / Vigilância; 7. Residências Unifamiliares. O desenho deste projeto foi pensado de forma a atender não apenas a uma série de necessidades e de responder a uma série de problemáticas previstas e levantadas durante o desenvolvimento do trabalho, mas também de forma a admitir usos e funções, gerais e/ou específicos, não contemplados pelo programa detalhado abaixo – que deve ser visto como uma de suas variações possíveis. Explico, os desenhos apresentados neste capítulo representam uma alternativa arquitetônica e programática específica para este local em particular, porém, a ideia de adaptabilidade do projeto – tanto em termos de uso como do local de implantação – deve ser vista como uma das grandes questões do trabalho, ao se tratar de um projeto: inteiramente modular; que faz uso de materiais locais, leves e sustentáveis; que responde às condições climáticas e à geografia.

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Desta forma, a escolha do tema e a adaptabilidade do projeto são, de certa maneira, mais importantes do que a própria definição do lugar de implantação e o programa, justamente pelo projeto se propor como uma ferramenta que admite diferentes usos, formas e organizações espaciais em diferentes locais. O risco de desenvolver uma plataforma genérica, a fim de se afirmar como um espaço que pode atender diferentes demandas e problemas, existe e trata de ser superado através de uma arquitetura intra e inter-articulada, que responde, ao menos, a algumas das demandas locais. 6.1 Área de Estudo A área de estudo está localizada no Estado do Pará, dentro do perímetro da Estação Ecológica (Esec) Terra do Meio, criada por decreto federal no dia 17 de fevereiro de 2005, entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, o segundo e o quinto com as maiores taxas de desmatamento do Brasil em 2019, respectivamente, de acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Esta Estação Ecológica, antes Floresta Nacional (Flona), situada na parte centro-oeste do Estado do Pará, possui uma área de 3.373.110 hectares, uma grande diversidade de formações vegetais e geológicas e faz limite com uma série de Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs), motivo desta região ser chamada de Mosaico da Terra do Meio.

Área desmatada Arco do Desmatamento Figura 32 Mapa do Desmatamento da Amazônia Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Dados de 2019 Autoria Própria

De acordo com o artigo “Bacia do Xingu é campeã de desmatamento na Amazônia” da Folha de São Paulo, escrito por Monica Prestes, apesar de incluir 28 Terras Indígenas (TIs) e 18 Unidades de Conservação (UCs), a bacia do Xingu registra as maiores taxas de desmatamento da Amazônia. Em 2019, o Estado do Pará foi responsável por mais de 39% de todo o desmatamento registrado na Amazônia Legal, com 3.862 km² desmatados de um total de 9.762 km². A escolha desta área, situada no “arco do desmatamento”, como objeto de estudo e local de implantação se justifica pelos altos índices de desmatamento que a região apresenta, por ser uma das principais barreiras que dificultam e retardam

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o avanço do agronegócio pela floresta e pela importância de sua biodiversidade e conservação – que deveria ser garantida pelo poder público.

Área desmatada Arco do Desmatamento Unidades de Conservação Terras Indígenas Figura 33 Mapa do Desmatamento da Terra do Meio Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Dados de 2019 Autoria Própria

A imagem acima ilustra como as áreas atingidas por este processo se concentram de forma mais intensa na região do arco do desmatamento, e que a partir daí se infiltram pelo território e se dispersam ao longo do eixo de rodovias, ferrovias e hidrovias . 6.2 O Terreno Dentro deste cenário, um território em particular foi definido para inserir a proposta projetual. Os seguintes motivos justificam a escolha do terreno indicado no mapa abaixo:

Área desmatada Arco do Desmatamento Unidades de Conservação Figura 34 Área de Estudo e Implantação Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Dados de 2019 Autoria Própria

1. Estar no extremo leste de uma das áreas mais atingidas pelo desmatamento no Pará nos últimos anos e por haver fortes indícios de que esta região continuará sendo explorada de forma ilegal;

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2. Estar à beira da estrada denominada regionalmente de Transiriri, aberta de forma ilegal para o escoamento de madeira, que pode ser usada como acesso principal; 3. Estar próximo ao rio Iriri, que, apesar de apresentar baixa navegabilidade, pode proporcionar alimentos e certa mobilidade; 4. Ser uma área já desmatada para a extração de madeira ilegal, e, que, portanto, poderia ser utilizada a fim de evitar o desmatamento de novas áreas para a implantação do projeto; 5. Apresentar uma topografia pouco acidentada, o que facilita a inserção do projeto e a eventual construção de uma pista de pouso e decolagem. 6.3 O Programa Uma vez que a temática e o local de implantação do projeto haviam sido definidos, o programa de necessidades foi elaborado de forma a transformar em arquitetura e em espacialidades a intenção deste trabalho de oferecer e de se afirmar como um espaço de apoio ao reflorestamento e à população local.

Figura 35 Índio Guajajara, Amazônia, 2019 Fonte: The Atlantic Photo Ueslei Marcelino (1979)

Desta forma, a arquitetura apresentada à seguir e as soluções adotadas por ela são o resultado direto de um problema e da concretização de um programa que leva em consideração o local no qual está inserido e suas condicionantes. Afim de propor um espaço que fosse coerente e que tivesse a capacidade de atingir as suas metas, todos os ambientes foram meticulosamente pensados e, no caso da Unidade Básica de Saúde, elaborados de acordo com documentos oficiais do Ministério da Saúde. Todos os diferentes usos e suas respectivas áreas estão detalhados em um quadro à seguir. Estes espaços foram distribuídos em três setores diferentes, o Setor A – uso controlado –, o Setor B – uso público – e o Setor C – exclusivamente residencial e privativo.

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Horta 01 mudas............................................................................300,00 01 área de ferramentas................................................... 27,00 01 área de sementes........................................................ 13,50 01 área de limpeza �� 27,00 Refeitório 01 área de serviço ��3,00 01 cozinha............................................................................ 36,00 01 comedor.......................................................................131,50 01 banheiros........................................................................ 15,50 Alojamento 36 dormitório.....................................................................250,00 02 banheiros........................................................................ 54,00 Ensino 02 salas de aula ��106,00 01 administração �� 53,00 Torre 01 terraço............................................................................. 16,00 01 rádio.................................................................................. 16,00 01 banheiros........................................................................ 12,65 Residências 16 studios............................................................................. 36,00 08 apartamentos (02 dorm.) �� 67,50 Unidade Básica de Saúde 04 sala de espera �� 22,50 01 recepção............................................................................5,00 01 arquivos de prontuários ��3,00 01 remédios / farmácia �� 15,00 01 banheiros ��6,00 03 consultório com banheiro �� 22,00 03 consultório..................................................................... 27,00 01 sala de vacina ��9,00 01 sala de curativos ��3,00 01 sala de nebulização ��5,00 01 sala de procedimentos �� 18,00 01 consultório odontológico �� 16,00 01 área para compressores e bombas ��2,50 01 escovário...........................................................................7,50 01 depósito de material de limpeza ��3,00 01 estoque de material limpo...........................................7,50 01 administração............................................................... 10,00 01 almoxarifado....................................................................4,00 01 copa / cozinha.............................................................. 13,00 01 sala de reuniões........................................................... 14,00 01 áreas técnicas............................................................... 34,50 Área Total (m²) 2.424,65

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Figura 36 Diagrama de Relações Programáticas Autoria Própria

6.3 O Processo O desenho participou de todas as etapas do desenvolvimento do projeto e foi fundamental durante todo o processo. A implantação e, portanto, a organização espacial de todos os blocos que compõem o programa, tiveram uma série de variações ao longo do projeto. Durante a fase inicial foram consideradas diferentes formas de implatação – em cruz, retangular e fechada em torno de um centro, linear e, finalmente, radial e circular. Uma vez que este desenho havia sido definido, a arquitetura, os detalhes e os encaixes de cada um dos itens do programa começaram a ser lapidados, incorporando sistemas estruturais modulares, leves, acessíveis e sustentáveis. Alguns destes desenhos estão expostos à seguir e, de certa maneira, ilustram a linha de raciocínio adotada e algumas das fases do processo projetual.

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Os desenhos acima podem ser vistos como recortes temporais de um processo de tradução e de consolidação de ideias. Eles foram distribuídos de forma a organizar, transmitir e destacar uma série de preocupações próprias deste projeto em particular. Algumas destas preocupações naturalmente foram sendo deixadas de lado e são vistas apenas em um ou outro recorte, enquanto outras foram se afirmando e moldando o desenho arquitetônico. À medida em que o projeto avançava as atenções se deslocavam de forma a manter o máximo de coerência possível, uma escala adequada e de dedicar esforços compatíveis com seus respectivos momentos.

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Figura 37 Desenhos do Processo Projetual Autoria Própria

6.4 O Projeto A arquitetura à seguir deve ser vista como um dos resultados de todo este processo, de todas as discussões levantadas acima e de todas as reflexões que as acompanharam. Assim como no subcapítulo anterior, os desenhos finais foram organizados de forma a seguirem uma linha de raciocínio, indo do macro ao micro, da implantação geral aos detalhes construtivos de cada um dos sistemas (piso, parede e cobertura). De forma a ilustrar de forma adequada o projeto, cada um dos espaços é representado por, ao menos, um render, uma planta, duas elevações e dois cortes.

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Considerações Finais

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A destruição insistente e acelerada do meio ambiente se confunde com a própria história da humanidade. De modo geral, este processo está totalmente atrelado à forma como a nossa espécie se relaciona com a Terra e os seus recursos.

Figura 83 Henri Rousseau (1844-1910) Tiger in a Tropical Storm, 1891 Óleo sobre tela

Resgatando o que foi dito ao início deste trabalho, segundo Marx, a humanidade só se coloca tarefas que pode resolver, e, considerando que apenas seremos capazes de resolver esta crise se a reconhecermos como tal: é compreensível que a humanidade relute em reconhecê-la a fim de proteger o seu estilo de vida, agressivo e violento, fortemente consolidado. A história da humanidade, que, de acordo com Sebastião Salgado, é uma história de guerras, depende da reestruturação das relações humanas e de seus hábitos. No entanto, deve-se atentar ao risco dessa reestruturação resultar em um aumento ainda maior das desigualdades no planeta, ao prejudicar e sancionar países em desenvolvimento. Por este motivo, deve haver uma pressão maior e medidas mais rigorosas para países mais desenvolvidos, que, em muitos casos, como foi demonstrado no capítulo “Atividades e Dinâmicas Globais”, apresentam algumas das maiores taxas de emissão de carbono e de poluentes do mundo. O desconhecimento e a ignorância, por fim, não podem ser mais fatores que retardem e justifiquem o atraso da ação. A existência de tecnologia e o conhecimento efetivo acerca do aquecimento global não permitem que isso aconteça. A discussão e o desenvolvimento de alternativas e propostas são fundamentais para combater este processo ou, ao menos, para documentar e registrar que este evento era amplamente previsto, desta forma, dificultando a criação futura de autonarrativas tranquilizantes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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