O Meu Tex - 2ª Edição

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A Balada do Oeste Civitelli

e

Verger

MYTHOS BOOKS

A Balada do Oeste • Civitelli e Verger

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Índice 9 11 13 15 21 23 199

Querido amigo, eu lhe escrevo... 25 anos com Tex (e com Nino) You may say I’m a dreamer Bate-papo com Nino No Reino do Silêncio Portfólio de Ilustrações Bibliografia Essencial de Tex

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Querido amigo, eu lhe escrevo... por Giovanni Battista Verger

Querido amigo, Esperei tanto tempo por este momento que quase nem me parece verdade. Finalmente eu posso lhe entregar este livro, no qual estou trabalhando há quase duas décadas. As primeiras páginas são de 1993. Não sei se essa é a gestação mais longa da história, mas o importante é que, por fim, O Meu Tex tenha chegado até você. Como poderá ver por uma simples folheada, este volume é caracterizado pela ausência de cores, a começar pela capa. Tudo é rigorosamente em branco e preto. Eu fiz essa escolha estilística, com o apoio do editor, porque considero que a cor no desenho, com as devidas exceções, tende a diminuir a beleza ao invés de aumentá-la. O que mais me fascina é o contraste entre luz e sombra. E, depois, quem diz que o desenho em branco e preto não tem cores? Para mim, é riquíssimo, possui todas aquelas cores que eu coloco nele ao observá-lo. Isso é ainda mais verdadeiro para os gibis bonellianos, e texianos em particular. Mas é ainda mais para os desenhos de Fabio Civitelli, autor de todas as imagens, um toscano que é meu valioso companheiro de viagem e um amigo paciente, o qual já conheço há mais de vinte e cinco anos. Por estas páginas, com dimensões maiores do que as de um gibi, o artista pôde dar vazão ao seu estilo bem pessoal, valorizando-o aqui e ali com técnicas novas. Por isso, tudo salta aos olhos, principalmente sua particular busca pelos detalhes, uma espécie de exaltação dos acabamentos. E tudo isso sem recorrer a inúteis concessões formais: com um estilo quase linear, quase de documentário, e de rara eficácia narrativa. É surpreendente a quantidade de coisas e pessoas que o autor consegue fazer desfilar diante dos nossos olhos no breve espaço de uma página desenhada. Porém, em uma olhada mais cuidadosa, as figuras que mais se destacam são duas: os dois Civitellis. O Civitelli já sólido narrador que eu conheci aos trinta anos, e o Civitelli desses últimos tempos, ainda mais maduro e sensível, que nesta pequena – mas não fácil – saga da aventura que submeti a ele intuiu as emoções nela contidas e conseguiu criar um ponto mágico, no qual o crescendo da ação se encontra e se funde com a melancólica contemplação da paisagem. A ele vai toda a minha estima. Mas um outro amigo me ajudou muito a concluir a obra, também ele toscano: Moreno Burattini. São dele os textos que comentam os vários desenhos: é uma autêntica coletânea

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de pequenas pérolas. Obrigado, Moreno! E ainda um particular agradecimento a Sergio Pignatone e a Santo Alligo por terem sabido transformar meus sonhos num excelente trabalho impresso. Por fim, um obrigado especial a Luciana, a minha esposa, por ter me apoiado com entusiasmo e ter colaborado efetivamente na elaboração do livro. Amigo que me lê, talvez sem querer eu tenha me deixado levar pelas brincadeiras do coração. Mas fazer o quê? Como você sabe, é sempre agradável se abandonar aos louvores do tempo que se foi. Mas não ligue, a minha é uma doença contagiosa, que deixa marcas. Eu fiz este livro com a intenção de compartilhar algumas joias, mas – acredite – isso custou tempo, trabalho e suor. Raios me partam! – diria o nosso Tex. Mas eu nunca deixei de sentir um entusiasmo enorme em me lançar a novos feitos. Inebria-me o desafiar-me, a busca, a experimentação. Apesar disso, os problemas foram muitos, porque cada desenho é fruto de um longo trabalho de elaboração: espero que os resultados sejam visíveis. Já com a Editora Bonelli, nenhum problema. Sergio Bonelli mais uma vez confirmou a grande amizade que nos uniu por tanto tempo, sem a qual jamais seria possível a realização deste projeto. E eu lhe sou muito grato, porque, acredite ou não, ainda gosto de sonhar. E sei que não estou sozinho. Até mais, amigo!

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25 anos com Tex (e com Nino) por Fabio Civitelli

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inte e cinco anos! Pensando bem, não é um número pequeno, mas parece que foi ontem que, no dia seguinte à publicação da minha primeira história de Tex, no distante 1985, um senhor muito gentil e muito entusiasmado me ligou para me dar os parabéns. Era Giovanni Battista Verger, que de cara pediu-me para chamá-lo de Nino. Naquele dia eu não podia imaginar, mas ele seria o primeiro de uma longa série de telefonemas, aos quais se juntariam as suas agradáveis visitas, acompanhadas do champanhe francês, o objeto da sua atividade comercial. E o assunto era sempre e invariavelmente Tex! Não vou me estender muito sobre a nossa amizade, que amadureceu entre longos telefonemas, entre caminhadas no belo centro histórico da minha Arezzo, e por madrugadas adentro no meu estúdio, diante das anotações dele e dos meus desenhos. Sim, é isso mesmo: Nino não é um aficionado que se limita a comentar e apreciar histórias e desenhos, ele quer participar ativamente, colecionar desenhos únicos, feitos só para ele e seguindo suas indicações precisas. Eu me perguntava o que ele fazia com as centenas (milhares!) de ilustrações dos melhores desenhistas do nosso ranger, até que na Itália começaram a sair os seus belíssimos livros: aí ficou claro o projeto de longo prazo que, de Tex e o Sonho Continua, passando pelos cinco volumes de Cavalgando Com Tex, chega a esta nova iniciativa editorial, dedicada desta vez a um só desenhista. Eu fico muito lisonjeado e feliz por ter sido escolhido para ilustrar este livro – que contém os mais variados aspectos do mundo de Tex –, e tenho certeza de que o meu irrequieto amigo não vai parar por aqui, tanto que ele já está projetando outro volume com o grande Giovanni Ticci, o mestre de todos nós, desenhistas texianos. Sem dúvida, a qualidade dos volumes editados na Itália pela Little Nemo e a dedicação apaixonada de Nino a este trabalhoso projeto só podiam me incentivar a dar o melhor de mim: como os desenhos aqui reunidos nasceram no arco de quase quinze anos, o próprio leitor poderá perceber a evolução e, espero, o amadurecimento do meu traço.

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O grande formato do volume e a qualidade da impressão e do papel me estimularam a aperfeiçoar o uso dos meios-tons, mais complexos do que os que eu uso nos quadrinhos dos gibis de tamanho menor. Fascinado pelas magníficas cenografias (assim Nino chama as páginas cheias de descrições que ele me entrega para cada desenho), eu busquei trabalhar muito na elaboração dos enquadramentos, na perspectiva, para inserir os personagens nos planos de fundo e, sobretudo, nas diferenças de tons entre os vários componentes da imagem: como se pode ver facilmente, os protagonistas – Tex in primis – foram feitos com fortes tonalidades de meios-tons, enquanto os fundos ficam mais suaves com variação nos tons de cinza e na focagem, com a intenção de fazer com que se destaquem no contexto em que foram inseridos. Porém, no mesmo passo da minha experimentação de técnicas cada vez mais eficazes, também crescia a complexidade e dificuldade dos assuntos encomendados, numa espécie de disputa entre um e outro, pressionado pela paixão inesgotável de Nino, que atingia o ápice quando, depois de uma viagem de muitas centenas de quilômetros, ele se acendia de entusiasmo diante das páginas prontas que eu lhe mostrava estendidas sobre a mesa do meu estúdio. É inacreditável como Tex, um personagem nascido há mais de sessenta anos, ainda consegue suscitar tamanha paixão! Claro que isso tudo é possível graças ao empenho ilimitado que Sergio Bonelli sempre aplicou ao levar em frente a série e ao fazê-la crescer até se alargar em tantas belas iniciativas editoriais como esta, e graças principalmente aos autores que a fizeram e a fazem viver revista após revista, mês após mês: os roteiristas Giovanni Luigi Bonelli e Guido Nolitta primeiro, Claudio Nizzi e Mauro Boselli em seguida, e todos os autores que, nas páginas do nosso ranger, trabalharam com humildade e paixão. Fazer parte dessa equipe prestigiosa me honra e me gratifica. A minha esperança é que, ao folhear este volume, o leitor capte o empenho e a paixão com que ele foi realizado, e por isso devo agradecer aos amigos Sergio Pignatone (na Itália) e Dorival Vitor Lopes (no Brasil), que tornaram tudo possível.

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You may say I’m a dreamer por Moreno Burattini

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ocê poderia dizer que eu sou um sonhador”, canta John Lennon em Imagine: “you may say I’m a dreamer”. E acrescenta: “mas não sou o único”: “but I’m not the only one”. Às vezes acontece de eu também me sentir o último dos sonhadores. Isso acontece quando vejo um filme que me comove, quando assisto a um programa perdendo a noção do tempo, ou quando me pego a fantasiar depois da última página de um livro ou de um gibi, continuando por conta própria a história que acabei de ler. Pensando bem, não sou o último, I’m not the only one. Estou em companhia de pelo menos dois outros amigos, talvez mais românticos do que eu, se com o termo romântico pode-se definir quem tem um jeito particular de ver o mundo também com os olhos da imaginação e quem tem uma disponibilidade natural para se emocionar diante das coisas. O primeiro é Giovanni Battista Verger, o segundo é Fabio Civitelli. É quase impossível conseguir apresentar Nino Verger a quem não o conhece. Deve-se imaginar um menino de outros tempos, que lê quadrinhos de faroeste à luz poeirenta da janela de um sótão e, depois, através da claraboia, galopa com a fantasia até as nuvens brancas que se vê além do vidro. Esse menino é hoje um senhor de certa idade (isto é, de uma idade incerta, como dizia Marcello Marchesi), que finalmente curte a cidade de Torino depois de uma vida passada em viagens pelo mundo por razões profissionais. Ele tem o mesmo nome de um famoso tenor do Século 19 e, provavelmente, também a mesma aparência, ao mesmo tempo austera e elegante. Mas ele se veste de modo esportivo e está sempre bronzeado, porque é um caubói na alma e nunca parou de cavalgar nas nuvens. Nino galopa junto com Tex Willer desde 1948, e ambos não têm qualquer intenção de descer da sela. A Verger não bastam as centenas de aventuras escritas e desenhadas pelos autores de Águia da Noite e, desde o dia em que teve em suas mãos o primeiro gibizinho em tiras do herói, ele fantasia outras, que ninguém ainda escreveu. Para não perder a recordação de seus sonhos, Nino os escreve. Depois, como está sempre em contato com todos os autores do time texiano, pede aos desenhistas, todos seus amigos, para fixar no papel o que ele anotou. Ele vai encontrá-los em casa, um a um, e explica a eles exatamente o que quer. Deixa folhas escritas à mão com uma caligrafia elegante, típica de quem jamais tocou o teclado de

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um computador, e retorna depois de algum tempo para retirar os desenhos encomendados. E isso tudo não aconteceu somente algumas vezes, mas de forma incessante, durante anos. Porque Nino Verger é animado por um fogo difícil de apagar e seus olhos brilham quando ele admira as mil ilustrações que, com o passar do tempo, acumularam-se na sua interminável coleção. A certa altura, tornou-se inevitável para ele colocar seus desenhos à disposição de todos: quem vinha a saber de seu tesouro pedia para ver. Assim nasceram os cinco volumes de Cavalgando Com Tex, publicados na Itália pela Little Nemo. Ali, todos, ou quase todos, os ilustradores de Águia da Noite comparecem com suas obras numa incrível galeria de locais e personagens que repassam, uma a uma, as aventuras da saga texiana, evocando arrepios e outras sensações. Mas aquela inacreditável coleção, que seria um sonho para qualquer aficionado, não era suficiente. Assim, como eu havia sido seu companheiro de aventura na publicação daqueles volumes (dando voz, com meus textos, às suas emoções), Nino convenceu-me a me juntar a ele em um novo desafio, o de reunir em um novo livro uma centena de ilustrações de um só autor, um entre os seus preferidos e, sobretudo, um entre os mais prontos a ouvi-lo quando ele lhe pedia para visualizar seus sonhos: Fabio Civitelli. Falo de um novo desafio porque, dessa vez, não se tratava de comentar as aventuras de Águia da Noite já bem conhecidas dos leitores, como no caso de Cavalgando Com Tex, mas de se colocar diante de dezenas e dezenas de desenhos esplêndidos, cada um em condições de contar uma história que jamais havia sido escrita. Um dos meus preferidos é aquele em que o herói conduz um trenó puxado por cães numa paisagem nevada. Quanta poesia, quanto mistério, quanta magia, quanto sonho naquele desenho. Basta fechar os olhos para ter a sensação da neve trazida pelo vento, quase podendo encher os pulmões de ar puro. Certamente, isso foi o que Verger pediu para que Civitelli o fizesse sentir. Mas como comentar uma ilustração dessas no curto espaço de poucas linhas, aquelas que deveriam ser suficientes para funcionar como um recordatório a cada imagem, sem tirar espaço de sua beleza? Aí eu pensei em criar noventa histórias inéditas a serem contadas com o menor número possível de palavras, de modo a acrescentar as minhas emoções às dos outros dois autores, o que encomendou e o que desenhou. O desenhista que defini acima como alguém que, como eu e Nino, é outro sócio (provavelmente honorário) do nosso mesmo clube de incuráveis e românicos sonhadores. Se alguém tem dúvida, poderá confirmar nas páginas adiante. Por mais que Giovanni Battista Verger lhe pedisse desenhos, Fabio Civitelli jamais recusou. Aliás, ele acrescentou outros por conta própria. Sobre o valor de Fabio como ilustrador não há necessidade de se alongar. Este livro fala por si. Então, se eu, Nino e Fabio não somos os únicos a sonhar, podemos esperar que quem nos lê possa um dia se juntar a nós. Como concluía John Lennon: I hope someday you’ll join us, and the world will be as one.

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Bate-papo com Nino por Sergio Pignatone

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u conheci Nino há uns trinta anos e de cara fiquei impressionado com a pessoa: um cavalheiro italiano da Romagna com sangue francês nas veias, que encantava com o seu falar afável e, sobretudo, com a força contagiosa de suas paixões – não só pelos quadrinhos mas também pelo cinema dos anos de ouro, pela literatura, pela poesia, pela música, além de sua instintiva fome de vida. Sua coleção era realmente singular – isso que eu já havia visto e veria muitas outras ainda. Ordenados em pastas, Nino guardava centenas e centenas de originais dos melhores desenhistas de Tex Willer e também de Walter Molino, Antonio Canale, Leone Cimpellin, e a lista poderia continuar. Eu tenho uma memória visual bastante acentuada e lhe perguntei onde aqueles desenhos haviam sido publicados, pois parecia que eu nunca os tinha visto. Esta foi a surpreendente resposta: eram todos desenhos inéditos, feitos especialmente para ele, muitas vezes com base em suas ideias ou cenografias, como Nino gosta de dizer. Ele os havia recebido dos maiores nomes dos quadrinhos italianos, graças a um longo convívio no qual todos foram extorquidos na base da simpatia e champanhe (por muitos anos Nino trabalhou com transporte de gêneros alimentícios de luxo). Do nosso relacionamento nasceu o desejo de catalogar, editar e tornar disponíveis para os muitos aficionados os desenhos de sua espantosa coleção. Assim, em 1994, nós preparamos para a editora Lo Scarabeo um dos primeiros livros sobre Tex (Tex e o Sonho Continua). O desafio se repetiu, tomando dimensões dignas do Guinness Book, com os cinco volumes de Cavalgando Com Tex, nos quais repassamos, passo a passo, cinquenta anos de aventuras texianas, graças aos textos precisos e cativantes de Moreno Burattini e Francesco Manetti, aos emocionantes recordatórios de Nino Verger e aos mais de mil desenhos inéditos. Mas como Nino nunca está satisfeito, aqui estamos mais uma vez em uma nova aventura, com a cumplicidade do extraordinário traço de Fabio Civitelli e o apoio indispensável da Sergio Bonelli Editore. O que se segue é um amplo bate-papo com Nino Verger, gravado em um dia de julho na bela cidadezinha de Crissolo, aos pés do monte Moviso e ao lado de um bosque.

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O livro Tex e o Sonho Continua e os cinco volumes de Cavalgando Com Tex não lhe pareciam suficientes para celebrar a epopeia texiana? Por que este livro? Não foram suficientes porque aqueles tinham um caráter histórico e eu queria mesmo era o meu Tex. É um Tex que cavalga, anda de jangada, escala montanhas, mas é um Tex que, depois, se fecha em seus pensamentos. Ele tem suas recordações, tem o seu modo de sentir o clima, de saborear o silêncio de uma cidade desaparecida, de uma estação ferroviária abandonada, de repensar em sua vida e em seus companheiros de aventura. Por que escolheu Civitelli? Inicialmente, eu havia pensado em um livro com Fabio Civitelli e Giovanni Ticci, dois autênticos gigantes. Depois, eu me dei conta de que, justamente pelo peso artístico de ambos, seria mais oportuno dividi-los. Os meus livros precisam de uma gestação longa. Alguns desenhos de Civitelli apresentados neste volume foram feitos há mais de dezessete anos. Eu queria dar ao leitor algo que desse uma ideia do Oeste em seus arquétipos: os panoramas, os cenários, a variedade dos ambientes naturais, as cavalgadas, os tiroteios, o mundo dos índios. Além disso, eu queria me deter em algo romântico e poético: o Tex pensativo, que fica sozinho na noite, que escolhe como companhia um tronco retorcido no deserto, o Tex que parte para uma aventura, mas tem no coração as recordações dos tempos distantes, da esposa que o destino levou embora. Assim, eu pensei que Civitelli estaria mais alinhado comigo, levado, com seu estilo bem particular, a abordar os ambientes mais diversos, seja um sol que se põe luminoso num deserto de pedras e areia, seja uma bruma que desce lenta e leve sobre um bosque de coníferas. Como os leitores poderão captar isso tudo? Só com as ilustrações? Não só, porque cada imagem foi comentada por mim e por Moreno Burattini, que partiu das minhas primeiras indicações ao desenhista, transformando-as em várias historietas. O comentário conta as emoções, mesmo aquelas que não são vistas. É um pouco como o recordatório numa revista. É como um mágico álbum de fotografias: você folheia e cada imagem toma vida. Por que O Meu Tex? O título O Meu Tex não faz referência ao meu autoral: o pronome se liga a todos os que terão o livro em mãos e o lerão. O leitor encontrará Tex em momentos de solidão e em outros de tiroteios frenéticos e de cavalgadas. Mas o encontrará também em momentos de recolhimento e poesia – não adocicada, mas viril –, poesia esta cheia de respeito pela natureza e por tudo aquilo com o que o Oeste nos presenteou e também carregada com nossas recordações: Emilio Salgari, Júlio Verne, as nossas leituras, o nosso cinema. Há várias referências com as quais o leitor se divertirá quando encontrar. E, por fim, belos crepúsculos vespertinos e matutinos. Um Tex que suscita emoções.

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Você não dá a Tex um valor excessivo, muito superior ao que ele realmente tem? Eu acho que sim, de forma inconsciente, mas eu busco ficar bem atento e o vejo acompanhado de todas as recordações que trago desde a infância. Sim, mas eu creio que as suas recordações são as mesmas de muitos leitores, as mesmas que também tinham os autores. Se, depois de sessenta anos, ainda estamos aqui lendo Tex Willer, talvez seja porque Tex tem realmente essa sensibilidade e essa riqueza de referências. Também acho. Isso é mérito daquele monstro de talento que foi Giovanni Luigi Bonelli – que eu tive o grande prazer de conhecer. Ele teve uma intuição enorme: só fez escrever o que sentia. Nas entrevistas, ele dizia: “Claro que Tex é meu, eu o faço falar como eu falo!”. Todos os livros que fizemos juntos tiveram a sua revisão final em um lugar com natureza: a Taverna da Pianca, em Gaveno, para Tex e o Sonho Continua e Cavalgando Com Tex, e agora este belo oásis de Crissolo. A natureza em Tex é assim tão importante? Sim, é totalmente importante. É uma sorte ter um espírito, uma semente que lhe permita saborear esses ambientes. É preciso sair da cidade. Tex nos coloca em contato com a natureza porque ele tem a semente dentro de si. Aqueles que não conseguem criar o Oeste é porque não têm dentro de si esse espírito, essa substância. Peguemos, por exemplo, alguém como Fritz Lang, que me arrepia só de pronunciar o nome: por que um diretor qualquer não me causa o mesmo efeito? Porque lhe falta algo, porque não tem aquela paixão, aquele jeito de contar que o faz entrar nas histórias. Peguemos um guitarrista. Dê uma guitarra a um e ele o arrepia. Outro, que tecnicamente pode ser muito bom, pode no máximo suscitar um comentário do tipo “boa apresentação”. Eu revi Espelhos D’Alma, de Robert Siodmak, com as duas gêmeas interpretadas por uma intensa Olivia de Havilland. Todos os filmes policiais que vi recentemente são notáveis, mas lhes falta aquele aroma, aquele enquadramento, aquela escada, aquelas luzes estranhas. Falta a substância. Todos os novos desenhos impressos neste livro nasceram de suas cenografias. Eu sei que você não se contenta com um relacionamento à distância com seus desenhistas e que, quando uma ilustração está pronta, vai pessoalmente buscá-la. Não é exagero? Quando me vem uma ideia, eu a escrevo no ímpeto, parece até uma inspiração. Talvez eu tenha herdado essa paixão do meu pai: ele amava as montanhas, e até escreveu um livro, As Minhas Montanhas. Ele lia muito, não gibis, mas tinha um grande dom: sempre achava as palavras certas, o adjetivo mais adequa-

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do, os sons. Eu sempre busco um jogo de assonância nos nomes dos personagens para que, no caso de serem escritos juntos, possam ter um belo som. Tudo é funcional, as palavras escritas de modo confuso não produzem poesia. Depois, quando o desenho está pronto, confesso que não me aguento. Aí eu pego o carro e vou buscar. Realmente é um certo exagero, mas é como você diz: para visitar o amigo Fabio, eu devoro uns mil e cem quilômetros, ida e volta. Mas é belo ver um amigo e partilhar com ele as pequenas e grandes notícias da vida. Eu envolvo pessoalmente os artistas que aceitam as minhas cenografias, às vezes detalhadas até demais. Depois, é óbvio, também aceito as solicitações e sugestões técnicas que me fazem. Em todos os casos, eu respeito totalmente a autonomia artística dos desenhistas com quem trabalhei. Fale da capa: como ela nasceu e por que em branco e preto? Se fosse em cores, eu creio que ela seria infiel ao conteúdo. Eu sonhava com este livro totalmente em branco e preto. As cores serão colocadas pelo leitor. Um pouco como nos sonhos. Então, como poderia ser melhor? Eu pedi que Tex fosse desenhado com um belo winchester no ombro, num plano americano, olhando para o infinito, o fundo neutro. E um belo cavaleiro sozinho. Eu gosto muito da solidão, porque você pode cantar como quiser. Mas se pode partilhar com a pessoa amada ou com um amigo, melhor ainda. A sua escolha por branco e preto no livro é um pouco uma escolha filosófica? Claro. A minha escolha denota um sereno distanciamento da realidade, mas respeitando o ambiente, que é um eterno protagonista de Tex. Voltando à capa, eu queria uma que desse ao leitor o aroma de algo que ele ainda não tivesse folheado. Eu queria esse convite. Quando dei o esboço a Civitelli, ele me disse “uau, que bonito!”, e a sentiu de imediato. Dentro do livro há de tudo, inclusive os parceiros e o mundo do Oeste, mas na capa só há ele. O Tex, que se torna meu, seu, dele, de cada um. Então as suas cenografias texianas nascem de momentos de particular concentração emotiva? Exatamente. Por exemplo, em uma noite, eu me levantei, ventava um pouco em casa e eu fiz uma reflexão sobre o vento. Ele me recordava uma noite espanhola em que o vento soprava lúgubre, lamentoso, parecia que chorava. Comecei a escrever e, de uma vez só, surgiu uma cenografia bem detalhada que passei ao Fabio e à qual dei o título De Noite, Há um Vento Selvagem no Deserto. E Mete Medo. Espero que nas páginas deste livro consiga emergir essa minha busca pelas emoções e pelos detalhes. Chegamos a um momento tópico de Tex: o acampamento noturno. Por que você se fascina tanto com ele? A noite tem um aroma que tudo fecha e tudo abre. Porque a noite é mais rica de imagens que o dia. A noite tem tudo o que se viu durante o dia e também tudo aquilo que se consegue imaginar.

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Nos comentários do livro, você fala de uma sensação de “doce-amargo”. Mas um livro sobre quadrinhos não deveria dar só sensações positivas? Pergunta de um milhão de dólares. Eu sempre tive a ideia de que a emoção, a vida, tudo existe em função do seu contrário. A alegria existe porque existe a dor. O choro existe porque existe o riso. O sol existe porque existe a noite. O nevoeiro, porque existe o sereno. Existe o amargor justamente porque existe a doçura. Tex me acompanha em tiroteios e trocas de socos, mas o que mais importa é que ele mostra que também tem um coração e uma alma. Como você conheceu Giovanni Luigi Bonelli? Do ano eu não me recordo, foi há uns vinte e cinco ou trinta, talvez antes: lá pelos anos Setenta. Eu gosto de recordar Giovanni Luigi Bonelli assim: com seu belo colete e o chapéu Stetson na cabeça. Ele me contou uma miríade de causos e aventuras do seu passado de pugilista. Ele tinha realmente uma vida aventurosa. Em certos momentos, mais aventurosa ainda que as que eu lia nos gibis. Era um homem extraordinário, fecundo de ideias. Há um elemento comum entre Bonelli e Nino Verger: o tesouro. Sim, os tesouros sempre me fascinaram. Quando garoto, eu via um velho baú ou as moedas nos gibis e ficava fascinado. Os tesouros inacessíveis, escondidos numa garganta selvagem... Quantas aventuras! A Ilha do Tesouro, de Stevenson, que para Ticci ainda hoje é o romance mais bonito. E, como eu, ele também lê muito, de Verne a Salgari e Conrad, mas não esquece A Ilha do Tesouro. Na sua primeira aventura de Tex, Giovanni Luigi Bonelli falou de um tesouro, e quis o destino que, na sua última aventura publicada, também escrevesse sobre um tesouro. Tirando Civitelli, de quem se fala neste livro, quais são os desenhistas de Tex que você mais aprecia? À parte o grande Galep, os que considero mais próximos do meu modo de sentir são Ticci, Fusco, Villa e os mais jovens Venturi e Frisenda. Diga uns adjetivos para cada um deles. Galleppini, ótimo em tudo. Traço fluido, sugestivo. Memoráveis os seus patifes: feios, sujos e malvados. Ticci: genial, gigante! Ele deu a Tex uma nova vitalidade. Nas paisagens, é um mestre do céu aberto. São memoráveis as suas rochas e os troncos contorcidos nos desertos ardentes do Arizona. Fusco: no seu traço, força e dinamismo. A sua assinatura: o voo de pássaros que se abre em leque. Villa: extremamente atento na montagem da cena e na busca do detalhe. São magníficos os efeitos de seus meios-tons. Venturi: elegância e frescor no traço. Andrea é muito bom, para mim é o mais galleppiniano de todos.

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Frisenda: formidável! Ele trouxe oxigênio aos quadrinhos com aqueles jogos mágicos de luzes e sombras. As faixas que desenha no céu entram na alma. Em uma ilustração, encontramos a estação de La Calahorra, na Espanha, onde Sergio Leone gravava os faroestes. Pode falar alguma coisa sobre aquele lugar? Claro. Quando os diretores do Oeste queriam uma estação e uma abertura visual para as montanhas, iam a La Calahorra. Eu não sairia mais daquele lugar! Uma pequena estação onde, de vez em quando, passa um trem, e onde um dia Sergio Leone fez passar o dele. Das minhas emoções, Fabio Civitelli extraiu uma ilustração de grande fascínio. O ambiente natural do deserto, tão penoso e árido, é muito importante em Tex. Por quê? Em Tex há de tudo: rios, montanhas, pradarias, lagos. O deserto contém o fascínio de todos os outros ambientes. Mas só no deserto a luta pela sobrevivência assume as dimensões de uma batalha épica. Outro local de que você gosta muito é o pântano. Sim, o pântano, as águas mortas que são tão extraordinariamente vivas. Eu me lembro de um filme de Walter Hill, Confronto Final, o qual eu vi junto com os grandes Gino D’Antonio e Sergio Toppi. Sou atraído pela ideia do pântano, que parece morto, mas que está muito vivo: os sons dos animais, o agito de águas lamacentas, as várias ameaças ocultas. Disso Civitelli extraiu ilustrações maravilhosas. Muitas imagens deste livro evocam o silêncio. Quanto é importante o silêncio? Para mim, é fundamental. É no silêncio do meu quarto que saboreio o meu livro preferido. É no silêncio das horas noturnas que sinto o prazer da noite, a descoberta do escuro. No silêncio, eu me sinto bem. Na montanha, quando vejo um pico rochoso envolvido por uma atmosfera silenciosa, eu me sinto como vendo o universo inteiro. O silêncio agiganta as emoções. Quais são os projetos da mente fértil de Nino para o futuro? Eu já pensei no próximo livro: com Ticci, um grande poeta de ambientes. Ainda veremos muita coisa boa! A aventura continua.

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Nesta página, um exemplo das cenografias de Giovanni Battista Verger, a partir da qual Fabio Civitelli fez a ilustração A Voz do Silêncio (pág. 184).

NO REINO DO SILÊNCIO Ou melhor: A VOZ DO SILÊNCIO (Estamos no Norte. Tex está sentado, descansa.) É o entardecer, um belo fim de tarde de outubro. Tex parou para descansar um pouco. Por que nós também não paramos para curtir com ele o esplendor com o qual o outono nos presenteia? Lá no alto, iluminadas pelos últimos raios do sol, aquelas nuvens parecem se juntar às montanhas para, depois, sumir na imensidão do céu. E aquela fileira de abetos que o branco do nevoeiro faz parecer fantasmas. Num canto úmido do bosque, uma folha enorme se encheu de água e, agora, gota a gota – com um tique-taque lento e monótono –, passa o líquido à folha de baixo que, por sua vez, deixa-o cair no chão. O outono sempre me fascinou, com as suas cores, o odor tênue do musgo, aquele ar um pouco frio percorrido por repentinos sopros de calor. Depois, ao cair da noite, outra coisa chegará para acrescentar emoções às emoções. É o silêncio, a magia do silêncio. Quando se mergulha numa atmosfera silenciosa, tudo o que nos circunda deveria se calar. Mas não. Justo naquele ambiente de silêncio e de paz, pode-se ouvir o leve farfalhar das árvores, o rodopio de uma folha no ar, uma batida de asas, um piado contido, o murmúrio de um rio distante. E não é tudo. No silêncio, ainda se recolhe a música de nós mesmos, da nossa mente, do nosso coração. Para mim, é como ouvir uma melodia, uma voz amiga, ou sentir uma mão que busca a minha mão. É um estado de espírito que me faz companhia em todas as minhas viagens, físicas e mentais. É o canto daquele momento e daquela emoção; sempre bonito, sempre diferente. Uma magnífica obsessão.

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