Entrevista, Figue Diel, instrutor de yoga

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Balneário Camboriú, 17 de abril de 2010

Entrevista

As mudanças externas são importantes, é inegável, mas a visão interna da vida é que faz a diferença”. Elias Diel (Figue), instrutor de yoga.

n o s s a

g e n t e

Caroline Cezar

carol.jp3@gmail.com Caroline Cezar

E

ssa semana Elias ‘Figue’ Diel esteve na Assembléia Legislativa de Santa Catarina concedendo

entrevista sobre a escola de cães guia, iniciativa que existe há cerca de três anos em Balneário Camboriú, e que só sobrevive por esforços dos voluntários envolvidos, porque a falta de apoio é um problema.

Nome - Elias Diel. Idade - 36 anos. Natural de - Santa Rosa, RS. Em BC há - 21 anos. Estado civil - solteiro, pai de Joana, 6. Profissão - professor de yoga. Lazer - a vida. Música - Bob Marley. Comida - bem temperada. Religião - liberdade. Planos - viver cada dia.

A escola não pode cobrar pelos cães e os custos são altos -desde o treinamento especializado, feito nos melhores centros de referência do mundo- até a mão de obra, e gastos operacionais. Há um ano Elias recebeu Winter, treinada na Austrália, para trabalhar com ele e nessa entrevista conta um pouco dessa experiência, ainda pouco comum no país, entre outros assuntos.


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Fotos Arquivo pessoal

Escalando na Patagônia Argentina.

JP3 - Figue, desde a idéia de ter um cão guia a concretizar isso -e ainda dar início à escola aqui em Balneário- foi um longo tempo. A Winter está contigo há mais ou menos um ano, como foi todo esse processo? Figue – O processo iniciou quando decidi, quatro anos atrás, que podia ser uma boa, gostava de cachorro e queria um guia. Fomos atrás, um amigo, o Fabiano Pereira, que era criador da raça akita, começou a me ajudar, analisar as possibilidades, e chegamos na (escola) Hellen Keller, em Floripa. Mas que estava desativada, sem treinador, sem cães, por falta de apoio. Através do seu Gonzaga, que respondia pela escola, fizemos contato com a Austrália, e conseguimos uma vaga para o Fabiano fazer o curso. Foi bem difícil por vários fatores, não é qualquer um que eles aceitam, precisa preencher requisitos e principalmente a questão financeira, de pagar o curso, que dura um ano, e todas as despesas lá fora… Mesmo assim fomos atrás, de apoios, meu pai (João Nirto, atual presidente da escola Hellen Keller, que hoje está sediada em BC), uma pessoa batalhadora,

Curtindo o surfe e a fillha Joana no Mariscal, paixões da vida.

um verdadeiro pai, porque na verdade ele começou essa história e foi muito atrás por essa questão minha. Nós temos esse amor profundo, essa amizade muito grande, e quando é dessa forma, as pessoas fazem mais do que imaginam que podem fazer. Graças a ele que chegamos até aqui. JP3 - A parte mais difícil podemos dizer que passou. Figue - Sim, antes a gente não tinha nem uma idéia de como fazer, hoje temos o treinador, que é o Fabiano, que transformou a vida e hoje se dedica totalmente a isso; temos pessoas envolvidas que estão abraçando a causa, vendo o quanto é importante e bonito esse trabalho… Claro que não vai adiantar de nada se a gente não der continuidade, porque agora que a coisa vai realmente acontecer, quando as pessoas receberem os primeiros cachorros treinados, é quando a escola acontece na prática.

“Antes eu fiquei vários anos sem sair, mas acho que era mais preconceito comigo mesmo, ou vergonha, sei lá...

JP3 - E várias pessoas ligam, perguntam, querem saber como conseguir um cão. A procura é grande não? Figue - Um monte de gente procura, quer, a fila é enorme. Só para ter idéia tem em média no Brasil 250 mil deficientes

visuais aptos a usarem o cão guia porque não é todo cego que pode, tem que ter o perfil. JP3 - E não tem muitos treinadores aqui no país. Figue - Na verdade, certificado pela Federação só o Fabiano está trabalhando (Fabiano Pereira fez a especialização na escola da Austrália e atua em Balneário Camboriú), o outro trabalha lá fora, e o outro traz os cães dos Estados Unidos e faz a entrega para usuários. JP3 - Tudo por doação. Figue - Sim, porque a escola dos Estados Unidos é filiada à Federação. Só que quando eu liguei lá eles nem me atenderam, tipo, ‘cara manda um e-mail aí e falou’. JP3 - No Brasil não existe a cultura do cão guia ainda. Figue - Não existe, são casos isolados. E é louco que quando eu era pequeno em Torres, tinha um senhor que era cego e ele andava pela cidade com a bengala e um cachorro, e era um fox paulistinha desses pequenos, andava na coleira. Não sei quanto, e se, esse senhor enxergava alguma coisa, mas era uma figura que eu lembro, conhecida na cidade, sempre no Farol Hotel tomando um cafézinho, daí passava para praia, eu morava perto... mas como ele usava aquele cão, se tinha treinamento, não tinha, eu não sei. JP3 - Depois do acidente você lembrou disso?

Figue - Sim, eu lembrava do tiozinho com o cachorro e pensava, ‘cara, porque eu vou ficar tanto tempo sem andar, sem sair de casa sozinho pra dar uma banda se aquele tiozinho ia e vinha toda hora’. JP3 - E você começou a dar uma busca.. Figue - É, mas antes eu fiquei vários anos sem sair sozinho, mas acho que era mais preconceito comigo mesmo, ou vergonha, sei lá... JP3 – Você era muito novo, ter 16 anos já é difícil, uma fase chata, e se acidentar nessa transição.... Figue - É, uma fase da construção do teu caráter, tua autoestima, foi bem nesse período. Mas depois, mais para frente quando comecei a fazer as coisas, também me incomodava essa questão da mobilidade, porque eu escalava e treinava jiu jitsu, mas não podia sair sozinho na rua porque era perigoso.

eu saí da minha casa em Balneário lá do lado do boliche, na 2300, e fui até o estúdio que era ali no Santa Inês, sozinho, sem ninguém ter feito o trajeto comigo antes. Não tem ruim, porque na real não estou sozinho, qualquer coisa ligo para alguém ‘ó me perdi aqui’ ou pergunto para alguém na rua. Que nem uma vez que eu saí e me perdi mesmo, ‘caramba, onde eu tô’, não tinha a mínima idéia, daí perguntei né, que rua é tal, onde é tal, e voltei’. JP3 - E você está sempre nas escuras com quem está no outro lado, tem que acreditar na boa fé. Figue - É, só o que faltava o cara me mandar pro outro lado (risos)... mas dinheiro, por exemplo, tem que ter uma percepção de quem está do outro lado, para qualquer coisa na verdade...a energia fala muito também, na verdade eu acho que a gente deixa de ter ela, porque as crianças tem, se sentem bem, se sentem mal com alguma p e s s o a , alguma experiência... sentem muito. Com o tempo vamos perdendo, a gente mesmo corta, ‘ah tô vendo coisa que não existe’, perdemos a conexão com nós mesmos.

“As pessoas querem se distrair o tempo todo, porque é difícil ficar com elas, conviver com as limitações...”

JP3 E a bengala? Figue - Eu aprendi a andar com a bengala em um dia, lá em Itajaí. Foi uma aula e já estava atravessando as avenidas lá em Itaja... tu tem que decorar os caminhos, as esquinas, ou se tem algo perigoso... Um dia


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“O cara ficar cego com 16 anos e todo machucado, não só machucado por fora mas por dentro também, e conseguir simplesmente viver com uma boa qualidade de vida... não é só matéria pra revista, o interessante é o acordar de manhã, o ir dormir de noite satisfeito... Isso eu acho que é o exemplo, ver a vida mais feliz, mais alegre, qualquer que seja a dificuldade... Procurar ver as coisas que você ganha da natureza, e perde, não é só ganho sempre, e ir tentando equilibrar. Eu perdi a visão mas ganhei tanta coisa, tanta coisa… eu seria um cego idiota se eu não visse tudo isso, e fixasse num só ponto...” (Figue)

Caroline Cezar

Figue rindo amarelo antes da prática que ministrou para centenas de pessoas no Yoga Sangam em Mariscal: jeito tranquilo de encarar desafios.

“Isso é se conhecer, saber onde está pisando, o medo é uma ferramenta de manutenção da vida. Tem que ter, mas até onde vai? Isso que te mantém vivo, mas não te impede de viver...” JP3 - ... e quando percebemos tentamos resgatar. Figue - É precisa resgatar, ter liberdade na ação, conseguir essa sintonia fina com a energia e não se deixar arrastar por um pensamento, uma emoção, um desejo, uma vontade, ou medo, ou querer demais... porque acaba abafando esses sinais de energia. A gente busca se distrair. Cego não tem tanto essa distração visual, eu não posso me distrair, porque dou com a cabeça na parede, tropeço... as pessoas querem se distrair porque é difícil ficar com elas, ver as limitações e conviver com elas, com o corpo que tem algum problema, com a mente que tem algum problema, a conta bancária que tem algum problema... a gente acaba treinando a nossa mente pra ficar distraído, enquanto devia fazer o contrário, treinar pra ficar atenta. JP3 - Me chamou atenção na entrevista da Assembléia quando te fizeram a pergunta: ‘o que mudou na tua vida depois do cão guia?’ As pessoas estão sempre depositando, esperando uma grande mudança na vida com coisas que vêm de fora. É assim? Figue - Na verdade a vida é agora né. Nada vai fazer mudar, não tem que esperar acontecer, esperar alguma coisa. Eu continuo sendo a mesma pessoa, com algumas facilidades a mais, e também

alguns deveres a mais que eu não tinha antes -dar comida, levar para fazer xixi, cuidar, dar carinho- mas o cão é só mais uma ferramenta para facilitar e ajudar na vida. Essas mudanças externas são importantes, é inegável, acontecem, mas são externas, a visão interna da vida é que faz a diferença, mudar dentro de você, porque as coisas de fora mudam a toda hora, está tudo acontecendo, são muito vulneráveis. Depende muito de nós, eu posso pegar um cachorro e não mudar nada na minha vida, e posso pegar um cachorro e mudar tudo na minha vida, facilitar tudo, me proporcionar coisas novas, mas se não partir da gente mesmo a mudança...

mais seguro entre um ponto e o outro é o cão guia. Tão importante quanto o treinamento do cão é o condutor ser confiante. JP3 - Sem o cão guia você já surfava, já subia montanha. Então vamos mudar a pergunta, não no sentido transformador de vida, mas no dia a dia, quais as mudanças práticas que a Winter proporcionou? Figue – Ah, a gente pega amor por ela, é um cão legal, muito amoroso, as pessoas gostam, chegam para conversar, ficam mais à vontade para se aproximar. JP3 - Mas isso é ‘culpa’ tua, as pessoas ficam à vontade porque percebem que você encara numa boa. Figue - É, desde o acidente é incrível o quanto mudou o jeito das pessoas falarem comigo, me tratarem, ‘ai coitadinho’... alguns até evitavam de conversar para não ter que comentar o assunto, ou ficavam com pena, ou não sabiam como agir... hoje é muito natural, isso mudou muito, muito, e talvez seja mesmo uma mudança de dentro para fora, de mim para fora, de eu aceitar e poder ser eu mesmo, todo pacote completo, com tudo que eu tenho, coisas boas e não tão boas.

“É uma dupla que trabalha junta, uma parceria, o cão não trabalha sozinho”.

JP3 - Até porque no caso do cachorro, ele não leva simplesmente, ele dialoga com o cego né? Figue - Sim, o trabalho do cão guia é todo baseado no diálogo, eu pergunto a ele se podemos atravessar a rua, e ele vai se for seguro, tudo através de comandos. Mas ele não vai escolher o que tem que fazer no dia, as responsabilidades… É uma dupla que trabalha junta, uma parceria, o condutor, no caso o cego, tem que saber onde está indo, e qual o caminho, e quem vai escolher o caminho

JP3 - E dentro da água, você sente a mesma coisa? Figue - Sim, é muito legal, porque sou muito bem recebido, muito mais que isso, parece que todo mundo vibra junto

com aquilo, aquela superação... porque podia nunca mais tentar surfar, mas eu amo estar na água, amo estar ali, e eu estou ali para estar comigo, me sinto muito próximo de mim, com a natureza, sinto isso em mim de verdade. Pra botar um tempero na vida. JP3 - E você sente medo né? Muito medo? Porque às vezes as pessoas te tiram tanto para exemplo que esquecem que você é uma pessoa como as outras, que tem medo, tem aflição...o que muda é a forma de lidar com isso? Figue - Isso é se conhecer, saber onde está pisando, o medo é uma ferramenta de manutenção da vida. Tem que ter medo, agora até onde vai isso? Isso que te mantém vivo, mas que não te impede de viver. Eu sinto medo...de viver, de dar uma palestra, uma aula para muita gente que eu não conheço, de estar na água, na montanha, mas se a vida não tivesse esse desafio de manter a tranquilidade nesses momentos e conseguir fazer aquilo que eu conheço... É um treino, uma prática, um jeito de ir se conhecendo, e quem sabe isso são ferramentas que a gente tem na vida para superar esse medo de viver, ou esse medo de mudar, ou de tentar alguma coisa nova, ousar um pouco, sair daquele congelamento do medo. Com pé no chão, e sem ter que dar muita explicação.

vistas em rede nacional, saiu no Fantástico, no SportTV, no Patrola, toda hora tem alguém interessado em contar tua história. O que você acha disso? Figue - Eu nunca quis mostrar nada da minha história, eu simplesmente desde o dia que me acidentei só queria viver... e viver para mim, não para os outros. Talvez essa seja a melhor forma de compartilhar a vida com os outros, quando tu consegue viver a tua vida. Mas na verdade não tem nada de extraordinário, só viver a vida com uma dificuldade, que poderia ser qualquer uma. Com medo, ou sem medo, ou com um certo medo, um certo cuidado, mas ao mesmo tempo não tendo medo de viver, não tendo vergonha de ser quem eu sou, não ter problema de aceitar uma limitação ou outra, não deixar se envolver por uma virtude ou outra também. Mas qual a proporção que se dá para isso? Às vezes é maior do que acho que é, outras vezes falo ‘menos, menos’... não é nada de mais, mas não me importo de conversar sobre isso, e se servir de forma positiva para alguém que bom, porque é do bem.

“Porque se eu sei que minha calçada é difícil de passar, vou lá e conserto, isso é fazer a sua parte, contribuir para o todo”.

JP3 - De um tempo para cá você concedeu várias entre-

JP3 - Isso é mais importante que os ‘papos de deficiência’ que você falou uma vez. Que você estava curtindo contar tuas experiências, mas quando o assunto enveredou para leis e carterinha de estacionamento você desencanou da conversa...


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“A roubada, o perrengue, é isso que vai ficar marcado, a superação daquela dificuldade...” Figue - É, são coisas que as pessoas precisam resolver ainda dentro delas, todas as pessoas... É claro que precisamos que todos entendam que é necessário um ônibus adaptado para entrar com cadeira de rodas, precisa guardar uma vaga especial para facilitar a vida, e não fazer calçadas tortas... São tantas coisas, porque não existe um padrão para que todos possam seguir universalmente e se sentir mais seguros nas ruas, idosos, crianças, cadeirantes, cegos, mães com carrinhos de bebês, tudo isso que se torna difícil no dia a dia. E não é só exigir do governo, mas também partir de nós, de cada um, como cidadão fazer nossa parte. Porque se eu sei que minha calçada é difícil de passar, vou lá e conserto, isso é fazer a sua parte, contribuir para o todo, e não esperar uma lei, uma determinação, uma briga para resolver. JP3 - É outra realidade também né? Vocês estavam discutindo isso num grande centro... como é aqui em Balneário ou pior ainda, na Brava, que nem calçada tem? Figue – Estamos muito longe na questão da acessibilidade, aqui na Brava não tem cal-

çada, tem muitos cães na rua, nao cuidam, é complicado andar com um cão-guia. Porque não adianta só o cão, ou só a bengala, é uma adaptação coletiva, toda uma questão desde a escola, da educação, oportunidade de estudo e trabalho… Vejo a cidade tão rica, tão bonita, construtoras milionárias, não entendo como as pessoas não pensam nisso, e se pensam por que não fazem, porque é um um lugar tão interessante de viver, tão turístico, podia se tornar uma referência. Afinal se fala tanto em qualidade de vida, tinha que buscar essa integração. Falta uma vontade, ou inteligência, bom senso, amor, sei lá o que falta, na verdade as condições estão aí. Mas a gente vê criança na rua, essa questão da droga, do crack, até parece utopia pensar em calçada organizada. JP3 – A sua escola de yoga está completando 4 anos esse ano e segue firme. Figue - Vai fazer 4 anos em setembro, e está numa fase legal, poder ter isso como meu trabalho me deixa muito feliz, porque desperta essa vontade de viver melhor, em harmonia, a saúde fisica e mental… e poder compartilhar isso com

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as pessoas… estamos com planos de unir com passeios para montanha, praia, integrar o yoga com a natureza que tem tudo a ver. JP3 - Você encara as roubadas com muita tranquilidade ou só disfarça? Porque depois quando você conta, além de ser muito engraçado, você descreve a paisagem e parece que adora esse frio na barriga. Figue - Na hora não tem nem o que falar, mas depois tu só ri da roubada, tem muita graça. Agora a roubada, o perrengue, é isso que vai ficar marcado, a superação daquela dificuldade... o resto a gente esquece. JP3 - Aquela da última escalada antes do Rogemiro (principal parceiro de montanha) ir embora? Figue - Meu Deus eu escutava aquele barulho do Rio de Janeiro lá embaixo, muito longe, e aquele Rogemiro lá pra cima e eu só ouvia, no final do silêncio, um pedaço do grito dele, da palavra ‘aaa’… cara eu pensava o que ele quer dizer??? Foi f..., foi...porque um dia antes nós fomos lá e estava tudo certo, a corda chegava, tudo nos conformes. E aí tu tem uma coisa programada e de repente não acontece... ‘e agora, como eu vou sair dessa situação?’ Mas é muito difícil, risco de vida, e daí você con-

Surfe nas Três Pedras, Estaleiro. À vontade.

segue sair dali, chegar lá em cima. Tomamos uma decisão de acordo com o que a gente conhecia, fomos pra cima, e deu certo. Mas fiquei um bom tempo sem querer saber de escalada (risos). Agora semana passada de novo, no Marumbi (Serra Paranaense), estava tudo encharcado, com cachoeira, e pô, trilha de oito horas... olha não aconselho nenhum cego a ir caminhar lá (risos). Oito horas errando passo, galho, buraco, sumidouro, um atrás do outro...(pausa) Mas é isso aí, eu gosto, estou ali com meus irmãos, meu lado criança, na natureza, uma energia muito boa. Nós ali como umas formigas no meio do todo, e ao mesmo tempo todo o Todo em nós, como se fossemos ali uns micro-universos. Absoluto.

JP3 - No mar na mesma proporção. Figue - Eu vou né, eu sei quando posso, dá para fazer, peguei ondas grandes no Chile, esse parcel do último mês aqui... Eu sabia que dava...dá para sentir o mar, se eu não for arremessado para cima de umas pedras, que pode acontecer com qualquer um, está tudo bem. E conhecer a geografia da praia, dá para saber o que está acontecendo, sem perder a racionalidade, sem trocar os pés pelas mãos. Presta atenção ao que tu tá fazendo, o surfe, o yoga, os esportes radicais, são excelentes exercícios para isso, para se manter atento, focado, aprender a tomar decisão, porque um erro ali pode ser fatal. Na vida também, mas não fica tão visível, tão exposto.

O Página3 apóia a iniciativa da escola Hellen Keller e fará uma série de reportagens sobre otema nas próximas semanas em função do Dia do Cão Guia (29 de abril). Diversas atividades estão sendo programadas na cidade. Acompanhe.

Falando nisso... Em alta

Se o ex-secretário Raimundo Malta não tivesse partido tão cedo (na segunda-feira faz 4 anos), com certeza, ficaria bem feliz com uma de suas crias, o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Camboriú, hoje sob o comando do seu amigo (e seu vizinho na praia de Taquaras) Ênio Faqueti. O Comitê do Rio Camboriú está em alta, servindo de modelo no Estado e com Ibope nas nuvens nos fóruns nacionais. Tudo isso tem um custo, dedicação plena e agenda super comprometida. Nunca esquecendo que é um trabalho voluntário. Por isso, quem tiver disposição e vontade de planejar – o futuro vai nos cobrar – pode (e deve) participar do comitê.

Em alta 2 Também estão em alta os escritores Enéas Athanázio, Jamil Albuquerque e Enzo Potel, por felicidade nossa, todos colunistas do Página 3 (impresso e/ou on-line). Enéas Athanázio lançou seu 41º livro ‘Ensaios Escoteiros’ essa semana, Jamil Albuquerque fez Noite de Autógrafos

para seu ‘A Lei do Triunfo – para o século 21’ e Enzo Potel que lançou seu ‘Conto de Facas’, domingo passado, no Mercado Público de Itajaí. Três cabeças, três estilos e três oportunidades no mercado da literatura.

Alvoroço Entusiasmo nos ninhos tucanos final de semana depois do discurso inflamado de Aécio Neves na convenção que lançou a candidatura de José Serra, deixando nas entrelinhas uma ‘luz’ de que o mineiro topa ser o vice do governador paulista. “Uma dobradinha que vai tirar o fôlego da Dilma e do Lula”, arriscou-se um tucano otimista.

No Palácio A família Pavan inaugurou o salão social do Palácio que habita há algumas semanas, com um jantar que comemorou o aniversário da Primeira Dama. Reuniu familiares e alguns amigos mais chegados. O clima por lá anda bem animado. Até a família que queria ver Pavan fora da próxima campanha parece que está mudando de idéia.

Marlise S. Cezar

lisi@pagina3.com.br

Do álbum

Álbum de Família

Nove décadas – Semana de festa na família, a matriarca completa 90 anos na próxima terça-feira. Nasceu em 20 de abril de 1920, há quase um século...tinha dois lemas na vida, trabalhar e educar e até hoje reservo grande respeito e admiração por isso. Na década de 40, quando as mulheres eram preparadas para ser donas de casa, ela foi pioneira, trabalhava ‘ fora’, no comando de uma loja de calçados, junto com meu pai. Era costureira também, quase sempre madrugada adentro. Hoje é comum escutar as mulheres reclamando das triplas funções, mas ela já fazia isso naquela época. E acompanhava o desenvolvimento dos três filhos na escola, e engomava os uniformes super brancos (não tinha máquina de lavar)e ensinava frações cortando uma maçã em partes, ‘metade’, ‘terça parte’, ‘quarta parte’....nunca foi tão fácil aprender frações. E fazia pão. E cuidava da horta. E do jardim. E participava de reuniões. De todas as horas cívicas aos sábados na escola. De todas as atividades na igreja. E do clube também. Nem sei como conseguia, mas hoje pode dizer: consegui. Obrigado por tudo! Parabéns Winilda Schneider.


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